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PARTICIPAÇÃO POPULAR NO JORNAL DA ALTEROSA EDIÇÃO REGIONAL: Um Exercício de Cidadania 1

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PARTICIPAÇÃO POPULAR NO JORNAL DA ALTEROSA

EDIÇÃO REGIONAL:

Um Exercício de Cidadania

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Simone Martins2

Resumo: A proposta deste artigo é a de refletir acerca da participação popular no processo de

construção das notícias do Jornal da Alterosa Edição Regional, veiculado pela TV Alterosa Juiz de Fora. Analisaremos a relação existente entre público e emissora regional de televisão, com enfoque para a efetiva participação dos telespectadores por meio de um canal de interatividade existente na emissora afiliada ao SBT em Juiz de Fora. A partir da utilização de pesquisa bibliográfica com autores como Wolton, Manzini-Covre e Bazi, dentre outros, e de entrevistas com funcionários da emissora, buscaremos verificar o exercício da cidadania e a identificação do público com o material televisivo produzido pela TV Alterosa Juiz de Fora.

Palavras-Chave: Cidadania. Participação Popular. Interação.

Desde a exibição das primeiras imagens, por volta de 1940, a TV teve seu percurso marcado por diversas transformações e evoluções tecnológicas. A televisão, em sua trajetória, vem mostrando a sua importância como poderoso veículo de comunicação e tornou-se uma das principais fontes de informação e entretenimento para a sociedade. Através dela o público se informa, cria opinião, toma conhecimento do mundo em que está inserido e certifica-se dos problemas e acontecimentos que o rodeia. O sociólogo francês Dominique Wolton (2006) acredita que a televisão seja o espelho da sociedade. Isso porque ela (a sociedade) se vê refletida através da TV.

Algumas das transformações pelas quais passaram fizeram com que, na década de 90, as redes de televisão buscassem um fazer televisivo mais regionalizado. Rogério Bazi (2001) argumenta que este seja o novo caminho para as emissoras de televisão, já que a TV Regional retransmite seu sinal a uma determinada região, abordando assuntos locais e resgatando os valores culturais das comunidades, fazendo com que estas se vejam retratadas pela televisão, aumentando sua participação no contexto da sociedade. Verifica-se, assim, uma aproximação ainda maior quando trabalhamos com o fazer jornalístico nas TV’s regionais, já que as

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Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho “Comunicação e Sociedade”, do I Ecomig, PUC-Minas, Belo Horizonte, julho de 2008.

2 Mestranda do PPGCom/UFJF e professora da Faculdade Estácio de Sá-JF e da Universidade Presidente

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relações de proximidade existentes entre comunidade e emissora produzem um jornalismo mais participativo, com maior exercício de cidadania. Isso porque a população passa a influenciar – e a participar – (mesmo que limitada e discretamente) do processo de produção das notícias.

Nosso objetivo, neste artigo, é o de refletir acerca da participação popular na construção de um noticiário de TV regional através do estudo de caso do Jornal da Alterosa Edição Regional, veiculado pela TV Alterosa Juiz de Fora, emissora afiliada ao SBT na cidade de Juiz de Fora, interior de Minas Gerais. Analisaremos como os telespectadores participam do único telejornal produzido pela emissora na cidade, e principalmente de que forma ele atua na sua produção. Atualmente o que acreditamos existir na grade de programação de todas as emissoras de televisão seja uma aparente interação, onde o público apenas participa do que é veiculado pela TV ao opinar, sugerir e criticar os programas exibidos. Pretendemos, então, verificar como acontece a interação entre público e emissora na TV Alterosa, em Juiz de Fora. Nosso recorte se dará a partir da análise do canal de interatividade – participação dos telespectadores na programação da emissora através de um número de telefone disponibilizado pela TV durante a programação –, o Canal da Alterosa. Em tese, é através dele que os telespectadores, além de participarem de enquetes e promoções, também atuam na construção do telejornal, sugerindo pautas e fazendo denúncias.

Nossa proposta aqui é a de verificar a criação de vínculos entre o telejornalismo local da cidade de Juiz de Fora – a partir da análise das notícias veiculadas pelo Jornal da Alterosa Edição Regional – e o público a que ele se destina, tendo como base a participação popular feita através do Canal da Alterosa, na produção do telejornal. Pretendemos refletir acerca da presença – e da influência – do telejornalismo local na realidade objetiva do público enquanto espectador, e deste enquanto produtor do jornal.

Sobre o Exercício da Cidadania

Ao longo deste artigo, a palavra ‘cidadania’ será amplamente utilizada já que está intrinsecamente ligada quando estudamos a participação popular na produção televisiva. Acreditamos, assim, ser necessário conceituá-la.

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Segundo Allan Johnson (1997), no Dicionário de Sociologia, cidadania “é uma forma social que inclui três tipos distintos de direitos, especialmente em relação ao estado” (JOHNSON, 1997, p.34), que são os direitos civis, os direitos políticos e os direitos socioeconômicos. Os direitos civis podem ser descritos como sendo aqueles que incluem o direito de livre expressão, de ser informado sobre o que está acontecendo, “de reunir-se, organizar-se, locomover-se sem restrição indevida e receber igual tratamento perante a lei” (JOHNSON, 1997, p.34). Os direitos políticos são o direito de votar e disputar cargos em eleições. Já os direitos socioeconômicos incluem o direito “ao bem-estar e à segurança social, a sindicalizar-se e participar de negociações coletivas com empregadores e mesmo o de ter um emprego” (JOHNSON, 1997, p.34).

Em uma sociedade cada vez mais mediada, a participação popular como exercício de cidadania acontece, também, em torno da relação desenvolvida entre os telespectadores e a programação veiculada pela TV. Isso porque a informação jornalística deve ser pensada sob a perspectiva da cidadania, e a sua prática (a da cidadania) pode vir a se tornar uma circunstância potencializadora do exercício dos direitos dos cidadãos. Compartilhamos da abordagem de Gentilli (1995) ao argumentar que os veículos de comunicação devam produzir informação para a cidadania, e ainda que a necessidade social de informação ocasione a necessidade do jornalismo. Isso porque, segundo o autor, “o direito à informação constitui-se num direito “em si” e ao mesmo tempo é a porta de acesso a outros direitos” (GENTILLI, 1995, p. 25).

A socióloga Maria de Lourdes Manzini-Covre acredita que a cidadania deva ser vista como um processo, e que ser cidadão significa ter direitos e deveres. A autora pondera, ainda, que cidadania requer prática e conhecimento, uma vez que “só existe cidadania se houver a prática da reivindicação, da apropriação de espaços, da pugna para valer os direitos do cidadão. Nesse sentido, a prática da cidadania pode ser a estratégia, por excelência, para a construção de uma sociedade melhor” (MANZINI-COVRE, 2001, p.10).

Os telespectadores, ao assistirem TV, comparam as notícias veiculadas pelo telejornal ao seu cotidiano, à sua realidade. E o jornalismo de TV que tenha um caráter realmente local – e principalmente no qual a população possa de fato participar de sua produção – pode influenciar o sentimento de pertencimento do cidadão, de reconhecimento por ele do que seria o seu espaço público; o telespectador que assiste ao telejornal local se identifica com o

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que está vendo porque a notícia da cidade apresentada na tela efetivamente faz parte da sua vida cotidiana. Acreditamos, portanto, que o entusiasmo pela participação popular cada vez maior nos telejornais regionais, como apontado por Bazi (2001) venha das contribuições positivas que ela tem a oferecer. A relação existente entre os telespectadores e as emissoras regionalizadas é de troca, porque a produção conjunta faz com que ambos tenham retorno garantido.

Sobre televisão e identidade

Criada há menos de um século, a TV rapidamente se transformou no principal veículo de difusão de informações e entretenimento do mundo, consolidando-se dentro das casas, criando hábitos de consumo e formando padrões a serem seguidos.

Para Wolton “a televisão é atualmente um dos principais laços sociais da sociedade individual de massa. Aliás, ela é também uma figura desse laço social” (WOLTON, 2004, p. 135). A visão de laço social está, contemporaneamente, mudando o foco das pesquisas que anteriormente viam no telespectador um ser passivo diante da TV, entregando-se ao que o produto pronto e acabado lhe oferecia. O conceito de laço social diz respeito a um discurso televisivo que pressupõe um telespectador ativo, não mais passivo. Ganham cada vez mais força os argumentos que apresentam o espectador como aquele que encontra na programação uma fonte de informações para conversas sociais. Wolton (2004) argumenta, ainda, que a televisão é a única atividade compartilhada por todas as classes sociais e por todas as faixas etárias, estabelecendo um laço entre todos os meios. Assim, a TV funciona hoje como instrumento de cidadania. Sabemos que o papel da televisão é o de promover a identificação e sua projeção com os telespectadores. E o público não vê a programação veiculada de forma maniqueística. Os telespectadores assistem TV e adquirem conhecimento a partir do que foi veiculado, somado à sua análise crítica (juízos de valor, costumes, crenças etc). Cada um deriva a mensagem que recebe da televisão da sua forma, porque as vontades são diferentes e a forma de assimilação também.

Os atuais estudos sobre TV apostam ser ela um sinônimo de cultura, visto que possui papel de identidade individual e coletiva. Wolton (2006) argumenta que pelo que é veiculado através da TV um indivíduo torna-se membro de uma sociedade na medida em que ela é

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considerada o espelho de sua identidade, e um fator – em potencial – de transformação social. A televisão, portanto, utiliza a imagem veiculada por ela para criar sua identidade e faz com que, através dela, as pessoas se identifiquem com o que é transmitido e retornem em audiência. E a imagem é o ponto que identifica, que caracteriza o processo de identificação.

Breve histórico sobre a TV Alterosa

Criada em 1962, a TV Alterosa foi incorporada, já em 64, ao grupo dos Diários Associados3. No início, a emissora transmitia a programação da REI (Rede de Emissoras Independentes), além da Rede Tupi e da TV Itacolomi. Já em 1980, com a cassação da concessão da Rede Tupi, em São Paulo, a sua retransmissora em Belo Horizonte, a TV Itacolomi, também saiu do ar. Em pouco tempo a TV Alterosa passou a retransmitir o sinal da TVS, que posteriormente se tornaria SBT.

Atualmente o sinal da Alterosa está presente em 834 cidades mineiras, cobrindo 98% do estado de Minas Gerais. Somente na grande BH atinge 1,9 milhões de pessoas4, mas também possui emissoras em Juiz de Fora (objeto de estudo deste artigo), Varginha e Divinópolis. Em 1996, além de instalar um sistema digital de transmissão, a emissora passou a enviar seu sinal até o satélite Brasilsat B1 e, a partir daí, para qualquer município de Minas. É o Minas Integrado, através do qual a programação local e os assuntos de interesse regional podem ser transmitidos diariamente às cidades mineiras. O slogan, “TV Alterosa: a TV que o mineiro vê”, foi escolhido pelos próprios telespectadores através de uma campanha interativa, ressaltando a importância da participação do telespectador para a construção da identidade da emissora junto ao público.

A história da emissora que é foco das relações de que trata esse artigo na pesquisa em curso começa em 1990, quando a TV Tiradentes foi inaugurada em Juiz de Fora, com o objetivo de produzir programas locais. No começo, a TV veiculava apenas telejornais e programas de auditório, e agradou o público ao inserir na programação matérias policiais,

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Os Diários Associados foram uma das maiores corporações da história da imprensa no Brasil, de propriedade do empresário Assis Chateaubriand. As duas empresas mais célebres foram a TV Tupi e a revista O Cruzeiro, já extintas. Hoje, fora as várias outras empresas de comunicação, é também formado pelo Sistema Estaminas de Comunicação, do qual fazem parte, além da TV Alterosa, os jornais Estado de Minas e Diário da Tarde, a Rádio Guarani FM, o Teatro da Alterosa, o Provedor Uai e a produtora de comerciais Alterosa Cinevídeo.

4 Disponível em

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esportivas, telejornais, programas de calouros e mesas de debate retratando a realidade local. Mas brigas internas causaram o fim de vários programas, e a sua afiliação à Rede Record. Já em 1999 a emissora passa a pertencer ao Grupo Associados Minas, com sede em Belo Horizonte, e afilia-se ao SBT. Passa a se chamar TV Alterosa Juiz de Fora e atualmente apresenta uma programação voltada para as classes C, D e E5. Inicialmente a emissora gerava

sinal para 118 cidades da Zona da Mata e Vertentes. Atualmente chega a 128 cidades da região, com sinal digital via satélite atingindo uma população de mais de dois milhões de pessoas.

No início, sua programação local limitava-se ao Jornal da Alterosa Edição Regional, veiculado de segunda a sábado, no horário de almoço. A identidade impressa pelo telejornalismo da TV Alterosa na sociedade juizforana foi a de uma TV local, com matérias voltadas para a segurança pública e a exibição de VT’s ágeis com imagens em plano seqüência6

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A retransmissão de programas do SBT imprimiu características populares nas produções locais da TV Alterosa, inclusive no próprio telejornal. Atualmente a emissora produz três programas, mas apenas um jornalístico, o Jornal da Alterosa Edição Regional, objeto de nosso trabalho.

O Jornal da Alterosa Edição Regional

Com uma equipe formada por uma editora chefe, duas produtoras, um editor de reportagem e duas equipes de rua (com um repórter e um cinegrafista cada uma), o Jornal da Alterosa Edição Regional possui as características típicas do formato dos telejornais regionais, com a apresentadora fazendo a cabeça das matérias7, chamando os VT8’s e as entrevistas. O Jornal, que tem duração média de 20 minutos, é transmitido antes dos dois

5 A definição do público da emissora foi informada pela editora regional, Gilze Bara. 6

O plano seqüência é um plano cinematográfico, utilizado inicialmente pelo programa Aqui e Agora e que se difundiu nas produções jornalísticas do SBT e suas afiliadas. Segundo a editora regional do Jornal da Alterosa, ele é utilizado no telejornal para narrar uma história, sem muitos cortes na hora da edição da matéria, com o repórter no local do acontecimento contando como o fato aconteceu.

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Trata-se do lead da matéria. É sempre lida pelo apresentador e dá o gancho da notícia.

8 VT ou videoteipe é um equipamento eletrônico que grava o sinal de áudio e vídeo. Mas o termo também é

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programas de maior audiência da emissora em Minas, o Alterosa Esporte e do Jornal da Alterosa 1a Edição, com notícias de todo o Estado.

A produção do Jornal da Alterosa Edição Regional é voltada para os fatos mais importantes do dia, priorizando matérias com enfoque para os problemas da cidade e das comunidades, mostrando, através de flashes nas ruas, em entrevistas e reportagens, o cotidiano de Juiz de Fora e região, além de debater alguns problemas com as autoridades competentes. Segundo a editora-chefe do telejornal, Gilze Bara, a linguagem utilizada nas notícias é a mais direta possível, para que o público compreenda os assuntos discutidos9. A estrutura das matérias produzidas, com exibição de VT’s ágeis com imagens em plano seqüência, segue a linha popular utilizada pela programação do SBT. A editora pondera que a fórmula usada “de pegar o microfone e sair contando o que aconteceu” traz um bom retorno do público, que diz entender a notícia depois que a matéria acaba. Gilze Bara acredita que, assim, o telejornal siga a missão da TV Alterosa Juiz de Fora, que é a de informar a população auxiliando no bem-estar da comunidade, e compartilha da premissa de Curado (2006), que acredita ser a notícia a informação a serviço do público.

O Jornal da Alterosa Edição Regional segue o modelo clássico dos telejornais locais, com notícias da cidade sede (Juiz de Fora) e das cidades da área de cobertura, pois as notícias precisam ter alcance e interesse não só para a população de Juiz de Fora, mas também para os telespectadores das 127 cidades da região que recebem o sinal da emissora. Entretanto, ao estudar a identidade local do Jornal da Alterosa Edição Regional, verificamos que embora a emissora seja caracterizada como uma emissora regional, ela não produz necessariamente telejornalismo regional, pois o que se vê são produções locais. A editora regional argumenta que, na maioria das vezes, o problema na produção de matérias com maior visibilidade regional está na dificuldade estrutural de deslocar equipes de jornalismo para a cobertura de fatos nestas cidades. Por isso os telejornais regionais, como o da Alterosa, optam por dar notas secas10 sobre os fatos da região, dando assim visibilidade à ela e ao seu telespectador. Acreditamos ser função da notícia orientar o homem e a sociedade num mundo real, porque quanto mais informado o indivíduo estiver, maior será a sua consciência do mundo para

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De acordo com a editora-chefe do Jornal da Alterosa Edição Regional, a audiência da emissora é formada principalmente pelas classes C, D e E, apesar de a emissora produzir programas que contemplem todas as classes sociais.

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tomar decisões. Sabemos que a informação, em muitos casos, se dá a partir do que é veiculado pelos telejornais. Compartilhamos da abordagem de Alfredo Vizeu (2005) que acredita que a informação televisiva deva ser vista como bem público, por ser o meio mais cômodo, econômico e fácil de informação para a sociedade atual. O telejornal é, portanto, o produto de informação de maior impacto na atualidade.

Boa parte das matérias que vai ao ar no Jornal da Alterosa Edição Regional é de cunho assistencialista. Isso porque o telejornal é visto pelos telespectadores como mediador entre os cidadãos e o poder público; uma forma para o público ver os problemas das comunidades sendo mostrados e muitas vezes resolvidos. A visibilidade dada aos problemas dos cidadãos através da televisão faz com que soluções sejam tomadas. E os telespectadores utilizam-se da sua via de comunicação com a emissora, o Canal da Alterosa, para mostrar o que de fato precisa ser feito para a sua comunidade. Através de telefonemas, e-mails e cartas, os telespectadores abordam os seus problemas e oferecem muitas vezes sugestões de pauta para a produção do jornal.

A participação popular no Canal da Alterosa

Atualmente a televisão aberta utiliza artifícios de outros meios (como o telefone, internet e fax, entre outros) para que o telespectador participe, mesmo que indiretamente, da programação. Isso confere aos programas – e também às TV’s – maior credibilidade junto a seus telespectadores, porque estes passam a participar efetivamente de suas produções.

Na TV Alterosa Juiz de Fora a interação com o telespectador surgiu de forma simples e casual, a partir de uma idéia de um de seus funcionários, o responsável técnico João Baptista Gonçalves, que identificou a necessidade de a TV criar um canal em que o telespectador pudesse interagir de fato com a emissora, participando de algumas promoções produzidas por ela com o objetivo de aproximar a comunidade da TV, e fidelizar o telespectador na programação da emissora. Surge, então, o Canal da Alterosa.

Além das participações em enquetes e promoções, o público, através do canal interativo da emissora, ainda contribui na construção do Jornal da Alterosa Edição Regional. Segundo a editora chefe, o telespectador participa efetivamente da produção do telejornal através do envio de pautas, da discussão de alguns temas e da sugestão de matérias. A editora

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acredita que esta participação faz com que o público crie laços de pertencimento com a emissora, e se identifique com o material veiculado, além de exercer a cidadania juizforana.

Várias matérias apresentadas no Jornal da Alterosa Edição Regional são produzidas a partir de sugestões enviadas por telespectadores. Gilze Bara ressalta que muitas e boas matérias sejam exibidas graças à interação proporcionada pelo Canal da Alterosa. O telespectador entra em contato com a emissora sugerindo o tratamento de alguma questão, ou seja, fala o que está ocorrendo no seu bairro, na sua comunidade ou simplesmente propõe algum assunto e este é encaminhado para a equipe de reportagem, que decide se o fato rende matéria e já faz a análise de como esta pode ser abordada. A pauta é, então, produzida, e a matéria é veiculada. “Nesse sentido, buscam uma sincronia máxima com o seu público, uma interação que, estrategicamente, valoriza e respeita os comunicadores, para tornar eficaz e eficiente os resultados de suas produções”.(BECKER, 2004, p.13).

Compartilhamos da premissa de Juan Bordenave (1992) ao ressaltar que a participação de todos os setores da população na democracia do futuro depende da adequada utilização da comunicação tanto no nível dos pequenos grupos como no nível das massas espalhadas em todo o território do país. No caso do telejornal produzido pela TV Alterosa em Juiz de Fora, a cidade torna-se um denominador comum que faz com que telespectador e jornalista se articulem; a produção ‘conjunta’ da notícia seria capaz de caracterizar a inserção desses dois atores sociais em um processo de comunicação e conseqüente exercício da cidadania.

A interação existente entre emissora e público não beneficia apenas a TV Alterosa, mas também o seu telespectador, que consegue se ver – e à sua realidade – nas transmissões, ao participar da programação e ganhar visibilidade, mesmo que limitada. A relação de identificação do telespectador com a emissora é intensificada através do Canal da Alterosa, já que o que o público espera ver o seu cotidiano e os seus problemas retratados na programação televisiva.

Além das edições de telejornais produzidos de acordo com o que a produção acredita ser de interesse público a partir da utilização de critérios de noticiabilidade, há ainda outras estratégias utilizadas para a constituição da relação de proximidade entre a TV e a comunidade, como as campanhas e apoios da emissora (e que sempre são transformados em notícia nos telejornais locais), e também a interação promovida pelo Canal da Alterosa,

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refletindo a necessidade que o cidadão tem de ser (e de se ver) representado. A interatividade promovida pelo canal é facilmente identificada no Jornal da Alterosa Edição Regional, já que o telespectador é sempre convidado a opinar sobre um assunto relevante da semana. Outro convite feito ao receptor é o de concorrer a prêmios, em sua maioria ingressos de eventos promovidos ou apoiados pela emissora.

Ao longo deste artigo analisamos a relação dos cidadãos (e da cidade) com o Jornal da Alterosa Edição Regional, através das matérias veiculadas por ele, a partir da identificação do público-alvo da emissora11. Segundo Gilze Bara, a produção do telejornal tem como foco problemas da cidade, além de segurança e justiça. Mas está voltada principalmente para o factual, isto é, para os fatos mais importantes do dia. Além disso, busca sempre atender demandas de interesse público.

As leituras que se podem fazer das notícias veiculadas nos telejornais se dão a partir de uma construção, ou seja, de uma seleção, recorte e constituição do fato. Vale lembrar que a realidade cotidiana seria organizada exatamente a partir dos enquadramentos das notícias; assim, o telejornal local contribuiria para a construção da realidade social. (COUTINHO, 2007, p.9)

Vale ressaltar, no âmbito deste artigo, que o jornalismo deve ser visto como forma social de conhecimento, porque deve tornar os conteúdos e as práticas aceitas e utilitárias para os receptores, ou seja, ser um bem social. Torna-se importante, então, fortalecer os vínculos estabelecidos entre as pessoas da comunidade com os veículos de informação regionais. Acreditamos que a participação popular na construção do Jornal da Alterosa Edição Regional constitui-se em uma das formas de o juizforano exercitar sua cidadania.

Ao analisar o telejornal em questão, percebemos que existe em sua produção a preocupação em retratar os problemas da região, principalmente da cidade sede, o município de Juiz de Fora. Para que as notícias sejam mais facilmente compreendidas por seu público, o telejornal adota em larga escala a ferramenta lingüística da narração em terceira pessoa, transformando cada matéria jornalística em uma pequena história, contada pelo repórter de maneira objetiva e muitas vezes didática. Parte dessa narração muitas vezes é feita pelo próprio personagem da matéria, não só para torná-la ainda mais clara, mas também de modo a humanizá-la para os telespectadores (e fazer com que estes participem do jornal). A

11 Segundo a editora regional do Jornal da Alterosa Edição Regional, Gilze Bara, o público da TV Alterosa é

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participação do telespectador em todo o processo de construção da notícia se mostra, portanto, fundamental na produção do Jornal da Alterosa Edição Regional.

Ao longo de nossa reflexão acerca da produção do referido telejornal, foi nítida a preocupação da emissora em retratar os problemas e acontecimentos da cidade e região, principalmente os que atingem diretamente o seu público-alvo, e que se faz presente nas matérias não só simbolicamente, mas também efetivamente, opinando, sendo personagem, entrevistado e principalmente o maior interessado em assistir o telejornal.

Corroboramos com Coutinho (2006) ao afirmar que o Jornal da Alterosa Edição Regional desempenha, assim, uma intermediação entre os indivíduos, tornando-se “espelho da sociedade”. Isso porque proporciona um olhar de fora do indivíduo para o seu cotidiano, porque a pessoa se vê na televisão. Conseqüentemente, a TV Alterosa cria a sua identidade junto ao público, que se vê na programação e se identifica com ela. Podemos afirmar, ainda, que quanto maior for a identificação pelo público em relação à emissora, mais interesse este terá em acompanhar a sua programação, revertendo em aumento de audiência para a mesma. Isso porque, assim como Bordenave (1992), acreditamos que o futuro ideal do homem só acontecerá em uma sociedade participativa.

Considerações finais

A análise que acabamos de discorrer não deixa dúvidas acerca da forte influência que os meios de comunicação de massa exercem sobre a formação do indivíduo enquanto ser social, principalmente no que concerne à programação regionalizada das emissoras de TV. Isso porque, além de ampliar as possibilidades em termos de captação de verbas publicitárias, visa atender uma demanda da população por informações de sua realidade local.

Estabelece-se, nesse sentido, uma maior interatividade entre emissoras regionais e seu público-alvo, provocando alterações positivas no que diz respeito ao fortalecimento da identidade das comunidades regionais e à participação da população na programação. Outro avanço dessa regionalização é o entendimento de que a TV deve servir de meio para a solução de problemas de caráter público, ou seja, deve servir de elo entre o cidadão e as autoridades, cumprindo um de seus vários papéis sociais.

Percebemos, ao longo dessa pesquisa, que no telejornal foco de nossa pesquisa o telespectador participa mais ativamente do processo de comunicação. Ao analisar essa

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participação, consideramos que as notícias veiculadas pelo telejornal tratavam de assuntos regionais, ou seja, telespectador e emissora pertencendo ao mesmo local e compartilhando dos mesmos acontecimentos.

Confirma-se a hipótese aqui defendida de que a participação popular na construção do telejornal intensifique o vínculo entre telespectador e emissora, e seja uma forma do telejornal criar sua identidade com o público e destes se identificarem com a TV. Reforça-se, nesse sentido, o conceito de Wolton, de que a TV é o espelho da sociedade. As análises fizeram com que somássemos a essa idéia a criação de um sentimento de pertencimento local por parte dos telespectadores do Jornal da Alterosa Edição Regional. Outra hipótese, também confirmada, é a de que a participação do telespectador – através do Canal da Alterosa – seja uma forma da comunidade exercitar a cidadania, de ser ouvida e ter seus problemas mostrados e muitas vezes resolvidos.

Tendo como base uma análise da produção do telejornalismo da TV Alterosa Juiz de Fora, bem como o referencial bibliográfico utilizado, consideramos que essa contribui de maneira relevante para a formação da identidade do telespectador de Juiz de Fora e da região, principalmente quando abre espaço para a efetiva participação popular. Isso porque o processo de produção da notícia em um telejornal é responsável pela criação de sua identidade, como produto mediático. É essa identidade, construída ao longo do processo de fazer telejornalístico, que faz com que a população se identifique com a emissora de televisão, local, como no caso TV Alterosa em Juiz de Fora.

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Referências

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Referências

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