• Nenhum resultado encontrado

UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE O ENSINO DE PORCENTAGEM NO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE O ENSINO DE PORCENTAGEM NO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE O ENSINO DE PORCENTAGEM NO 6º

ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Keller Tadeu Lopes Amarildo Melchíades da Silva 1

IEscola Municipal Juscelino Kubitscheck, kellerlopes@ig.com.br

2Universidade Federal de Juiz de fora/ Departamento de Matemática, xancoelho@yahoo.com.br

Resumo

O presente artigo apresenta os principais pontos de uma pesquisa qualitativa desenvolvida dentro de um programa de Mestrado Profissional em Educação Matemática que investigou alunos resolvendo tarefas sobre porcentagem e que foi orientada com a seguinte questão de investigação: como elaborar um conjunto de tarefas que envolva o tema porcentagem, para uso em salas de aula do 6º ano do Ensino Fundamental, que estimulem a produção de significados dos alunos e qual é a produção de significados dos estudantes para as tarefas propostas?Os principais objetivos da pesquisa foram observar os diversos significados sendo produzidos pelos alunos, ampliar as possibilidades de estratégias de resolução dos alunos e estimular a produção de significados dos alunos quando se dispuseram a resolver as tarefas propostas. O referencial teórico usado para realizar a leitura da produção de significados dos alunos foi o Modelo dos Campos Semânticos. Os resultados evidenciaram que as tarefas permitiram aos alunos produzirem significados e que alcançássemos os nossos objetivos. Palavras-chave: Porcentagem, Significados, Produção de Significados, Ensino Fundamental

INTRODUÇÃO

O presente texto tem a finalidade de apresentar os detalhes de uma pesquisa concluída, de cunho qualitativo, cujo título é “Uma investigação sobre o ensino de porcentagem no 6º ano do Ensino Fundamental”. Como o trabalho fez parte de um programa de mestrado profissional em Educação Matemática, tivemos a preocupação em desenvolver um projeto de pesquisa voltado para professores que estivessem buscando alternativas para melhorar suas atuações como docentes em suas aulas de matemática.

A importância de abordar o tema porcentagem numa pesquisa deveu-se ao fato de que esse conteúdo está presente em diversas situações do cotidiano dos alunos. Para exemplificarmos algumas dessas situações, citamos a tomada de decisão da compra de um produto mais econômico, a viabilidade ou não de se fazer um empréstimo, a decisão de efetuar uma compra parcelada ou à vista e a melhor maneira de investir o seu dinheiro. Também, os futuros concursos que os estudantes possam se submeter, onde o tema porcentagem está presente, como é o caso do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), hoje a principal porta de entrada para as universidades.

A proposta da pesquisa foi desenvolver um produto educacional constituído por tarefas sobre porcentagem que pudesse ser usado por professores em suas aulas e que permitisse aos alunos produzirem significados para as mesmas.

(2)

Os objetivos da pesquisa foram observar os diversos significados sendo produzido pelos alunos, ampliar as possibilidades de estratégias de resolução dos alunos e estimular a produção de significados dos alunos quando se dispuseram a resolver as tarefas propostas.

O REFERENCIAL TEÓRICO

Escolhemos por um referencial teórico que permitisse olhar, não apenas, para a sala de aula em geral, mas, principalmente, para os problemas de aprendizagem e as diferenças que existem neste ambiente.

O referencial teórico que serviu como base de toda a postura assumida no trabalho foi o Modelo dos Campos Semânticos (MCS). A escolha desse referencial é devida ao fato de que as suas perspectivas permitiram fazermos uma leitura da produção de significados dos nossos sujeitos de pesquisa.

O MCS foi desenvolvido pelo educador matemático Romulo Campos Lins (1999, 2001, 2004, 2005) e compartilha ideias com as teorias desenvolvidas por Vygotsky (1993, 1994), Leontiev (1984) e Nelson Goodman (1984).

As diferenças que existem dentro de uma sala de aula e que devem ser consideradas, quando o foco é a aprendizagem, muitas das vezes não são as diferenças que facilmente qualquer um pode observar, mas sim, aquelas que, na maioria das vezes nos escapam diante de nossos olhos.

Nossa pesquisa teve um olhar voltado para essas diferenças que, muitas das vezes, podem emergir de um diálogo. Segundo Lins, 2008, p.351, “É a diferença que motiva a interação, que dá a esta o sentido que me parece mais próprio”. E mais

No compartilhamento da diferença está, eu penso, a mais intensa oportunidade de aprendizagem (para ambos): é apenas no momento em que posso dizer “eu acho que entendo como você está pensando” que se torna legítimo e simétrico dizer, à continuação, “pois eu estou pensando diferente, e gostaria que você tentasse entender como eu estou pensando” (LINS, 2008, p.543).

Dentre vários aspectos abordados pelo MCS, destacaremos nesse artigo as ideias de conhecimento, significado e produção de significados, as principais ideias que serviram de suportes para as nossas análises.

O MCS é um modelo epistemológico que afirma que o conhecimento é dado pela crença-afirmação e justificação. Não basta que o sujeito creia e afirme sobre uma dada enunciação, é preciso que ele justifique o que foi afirmado. Ou seja, a crença-afirmação é aquilo que o sujeito enuncia algo em que acredita e a justificação é o que o sujeito entende como aquilo que ele está autorizado a dizer.

Um conhecimento não é nem mais, nem menos, que isto. Existe em sua enunciação e deixa de existir quando ela termina. A justificação é parte constitutiva de um conhecimento, assim como aquilo que é afirmado e a crença no que é afirmado; isto quer dizer o que constitui um conhecimento são estes três elementos. Nisto o MCS se diferencia de outras teorizações. (grifos do autor). (LINS, 2012, p.12)

(3)

E como para uma mesma enunciação podem ser feitas diferentes justificações; há produção de conhecimentos diferentes.

Para ilustrar tal fato, podemos recorrer ao seguinte exemplo: imagine que desejamos que alguém explique como procedemos para calcular 25% de certa quantia. Uma criança, que tenha tido o seu primeiro contato com o tema porcentagem recentemente, poderia fazer um desenho, dividi-lo em quatro partes iguais e dizer que 25% seria a quarta parte dessa quantia e dividi-la por 4. Por outro lado, um matemático, ou um aluno de séries mais avançadas e que possui certo conhecimento sobre o assunto, poderia responder que bastaria multiplicar essa quantia por 0,25, visto que se essa quantia fosse x, teríamos 25% de x, ou seja, 25

100 de x é o

mesmo que 0,25.x. O que implicaria que os dois acertaram, mas como as justificações foram diferentes, eles produziram conhecimentos diferentes.

Portanto, conhecimento é algo do domínio da enunciação, e não do enunciado, assim, todo conhecimento tem um sujeito e não faz parte do domínio do enunciado. Ou seja, conhecimento é do domínio da fala, e não do texto. Diante de tal fato, Lins, 2008, p.541 afirma: “não há conhecimento nos livros” (grifo do autor).

Outro aspecto relevante dentro do MCS é a noção de significado e de produção de significado.

Segundo Lins, 1994, p.30, significado “... é a relação que se estabelece entre uma crença-afirmação e uma justificação para ela no momento da enunciação”. E ainda, “... para mim o significado de algo é aquilo que digo deste algo. Grosso modo, significado, para mim, é o que a coisa é” (Lins, 1999, p.86).

A importância de se investigar a produção de significados é evidenciada por Lins quando este afirma que: “Para mim, o aspecto central de toda a aprendizagem – em verdade o aspecto central de toda a cognição humana – é a produção de significado” (Lins, 1999, p.86).

Durante o processo de produção de significados é que os objetos vão se constituindo; eles não estão prontos. E são as enunciações que permitem a construção desses objetos. E mais: ”... quando falo de significados não estou me referindo a tudo que numa dada situação eu poderia dizer de um objeto, e sim ao que efetivamente digo a respeito de um objeto dentro daquela atividade” (Lins, 1999, p.86).

A teoria mostra, e já citamos, que a produção de significados implica a produção de conhecimentos e que o objeto no qual Lins, 2012, p.28 se refere seria “aquilo para que se produz significado”.

Para Lins (2008), ensinar é sugerir modos de produção de significados, ou seja, permitir que os alunos produzam seus próprios significados e que estes se transformem em objetos de discussões de todos. Por outro lado, aprender é internalizar modos legítimos de produção de significados. A legitimidade está do lado do outro (o sujeito) e não temos poder sobre isso, pois é o que o aluno dá conta; ele decide o que é legítimo. E se o aluno não achar legítimo, ele não produz significado.

A teoria mostra que se há produção de significado haverá produção de conhecimento e vice-versa, mas é importante ficar claro que “conhecimento e significado são coisas de naturezas diferentes” (Lins, 2012, p.28).

(4)

A REVISÃO DE LITERATURA

A revisão de literatura que realizamos e que contribuiu para que tivéssemos um norte para a nossa questão de investigação, foi desenvolvida em três etapas.

Na primeira etapa, revisamos trabalhos publicados em artigos e livros com o objetivo de identificar as pesquisas que já foram desenvolvidas sobre o tema porcentagem. Neste momento, nossa busca foi por trabalhos que pudessem contribuir com a nossa pesquisa ou mesmo por trabalhos que, embora não tenham explorado o nosso tema de investigação - porcentagem - fizeram colocações que mereceram a nossa apreciação, a fim de ampliar ainda mais as nossas discussões.

Num segundo momento, fizemos uma análise dos livros didáticos mais adotados pelas escolas da rede pública de ensino do Brasil. O motivo que nos levou a esta decisão foi o fato do livro didático ser um dos principais recursos utilizados pelos professores em suas aulas, logo queríamos ver como o tema porcentagem era abordado nestes livros.

Por fim, na terceira etapa, analisamos algumas propostas sobre porcentagem apresentadas em materias de Programas de Capacitação de Professores de Matemática. O objetivo dessa análise foi verificar o que estes materiais apresentavam quando falavam de porcentagem e o que poderíamos aproveitar dessas informações.

A revisão de literatura nos evidenciou a ausência de pesquisas que abordassem o tema porcentagem voltada para alunos de séries iniciais e cujo foco fosse a aprendizagem desse conteúdo. Quanto aos livros didáticos do sexto ano, vimos que eles estão preocupados em apresentar exercícios embutidos de ideias distintas para o cálculo de porcentagens. Porém essas propostas envolvem cálculos mecânicos e são apresentadas aos alunos de forma desencadeada de ideias descontínuas, ou seja, ao mesmo tempo em que trazem em gráficos dados em porcentagens, falam em seguida de descontos e acréscimos, depois de porcentagem em relação a um total; não abrem discussões para cada caso.

A grande diversidade de maneiras mecânicas e distintas em resolver uma grande sequência de exercícios sobre porcentagem esconde a aprendizagem desse conteúdo, porque resolver um exercício de forma mecânica não garante que o mesmo foi compreendido e abre uma questão: será que passado um tempo que o aluno resolveu exercícios utilizando esses cálculos, eles conseguiriam resolvê-los novamente?

O motivo da colocação anterior, é que acreditamos que os livros didáticos do 5º e do 6º ano, onde o tema porcentagem aparece pela primeira vez, deveriam apresentar, segundo a nossa concepção, tarefas que associassem porcentagens as suas respectivas frações, explorar mais as porcentagens triviais e utilizar o uso da decomposição de uma porcentagem para calcular outras porcentagens, porém, sempre abrindo discussões para que os alunos entendam o motivo daquilo que estão descobrindo.

Não afirmamos que o que há nos livros didáticos e a maneira como o tema porcentagem é apresentado não possa dar conta da aprendizagem dos alunos, o que enfatizamos é que isso pode confundir e atrapalhar a aprendizagem desse assunto para boa parte dos alunos.

As análises de alguns materiais utilizados em cursos de capacitação de professores nos evidenciaram que a maioria traz propostas interessantes de tarefas sobre porcentagem para serem abordadas em salas de aula. Como exemplos dessas propostas, citamos o cálculo

(5)

mental, o raciocínio proporcional na decomposição de uma fração em outras e a associação de frações aos seus respectivos números decimais e suas porcentagens.

A QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO

A nossa proposta de investigação ocorreu a partir da nossa constatação, enquanto professor, das dificuldades que os estudantes possuem nas séries posteriores ao 6º ano em lidar com tarefas sobre porcentagem e ao que observamos na revisão de literatura.

O projeto de pesquisa buscou desenvolver um material didático para o Ensino de Porcentagem no 6º ano do Ensino Fundamental, referenciado teoricamente e orientado por objetivos e pressupostos teóricos que estimulassem a produção de significados de estudantes dessa série na aprendizagem da Porcentagem.

Como durante o processo de produção de significados, os objetos vão se constituindo, ou seja, eles vão se transformando, a questão de investigação foi orientada por duas questões diretrizesintimamente relacionadas:

 Como elaborar um conjunto de tarefas que envolvam o tema porcentagem, para uso em salas de aula do 6º ano do Ensino Fundamental, que estimulem a produção de significados dos alunos?

 Qual é a produção de significados dos estudantes para as tarefas propostas? Os dados produzidos a partir dessasquestões geraram um produto educacional que foi disponibilizado a professores para uso em sala de aula.

OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa ocorreu em três etapas: planejamento, aplicação do material e avaliação. Considerando que a nossa investigação foi desenvolvida no Ensino Fundamental II e como o tema porcentagem é introduzido no final do Ensino Fundamental I, entrevistamos, utilizando um questionário com 16 perguntas, algumas professoras das séries iniciais. O que buscávamos era levantar algumas informações sobre o que os estudantes aprendem sobre porcentagens nessas séries. O motivo que orientou essa conduta foi o de considerarmos relevante ter em mente que no 6º ano do Ensino Fundamental não seria a primeira vez que os estudantes teriam contato com o assunto.

Com as informações que coletamos na entrevista citada e o que observamos nos livros didáticos sobre o ensino de porcentagem, durante a revisão da literatura, tivemos um ponto de partida para as nossas reflexões.

Ainda na primeira etapa e a partir do nosso ponto de partida para essas reflexões, concebemos e produzimos o material didático (o conjunto de tarefas) no Laboratório de Ensino e Aprendizagem do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da UFJF.

Na segunda etapa, tivemos a fase de aplicação do material produzido. Foi o momento em que submetemos o produto a situações práticas.

Esta fase foi desenvolvida numa escola municipal no município de Santana do Deserto (MG) com uma dupla de alunos do 6º ano do Ensino Fundamental que, durante dois dias,

(6)

resolveram as tarefas que lhe foram propostas. Nessa fase, descobrimos estratégias diferentes que os sujeitos de pesquisa utilizavam para resolverem tarefas sobre porcentagem.

No decorrer desse processo, filmamos as atitudes dos alunos e intervirmos em seus questionamentos sempre com a intenção de descobrir os significados produzidos e nunca com a intenção de corrigir e mudar a maneira do aluno pensar.

A avaliação foi a última etapa do processo e o momento em que fizemos as alterações devidas, as quais foram necessárias, no produto educacional.

Para fazermos essa avaliação, analisamos os 19 vídeos, totalizando cerca de 5 horas de gravação dos alunos resolvendo e registrando as tarefas, bem como as análises desses registros feitos por eles.

Transcrevemos todas as falas dos alunos e destacamos no trabalho as partes que continham elementos importantes do MCS que fossem relevantes para as nossas análises, como, por exemplo, partes onde os alunos mostraram produzir e compartilhar significados, constituir objetos, dentre outros.

Ainda como parte da etapa da avaliação, submetemos as tarefas em nossa sala de aula real a fim de monitorarmos o tempo que o professor gastaria para aplicá-las aos seus alunos. Esses procedimentos ajudaram indicar a potencialidade do material didático para uso em sala de aula.

Finalmente, o material produzido foi apresentado em forma de uma revista ilustrada, impressa e na versão online, contendo as tarefas produzidas, as orientações para o seu uso e um encarte para que o professor possa reproduzi-las para os alunos. Abaixo, apresentamos a tarefa “disparadora” do processo investigativo.

Figura 1: Associando porcentagem à fração.

(7)

O seu objetivo foi avaliar se os alunos sabiam associar uma fração à porcentagem. Para tanto, procuramos colocar figuras que chamassem atenção dos alunos para as frações que fizessem associações às porcentagens triviais, 100%, 50%, 75% e 25%, visto que essas porcentagens são as que fazem parte das matrizes das principais avaliações em larga escala do país, como, por exemplo, a Prova Brasil.

Em seguida, apresentamos a tarefa onde os sujeitos de pesquisa produziram significados bem diferentes um dos outros e que, durante a nossa percepção em campo, podemos notar certa dificuldade em concluir a tal tarefa.

Figura 2: Calculando porcentagem de um número

Fonte – KELLER TADEU LOPES, 2014, p 74.

O objetivo dessa tarefa foi investigar se os sujeitos de pesquisa conseguiriam completar a tabela a partir de uma porcentagem conhecida, usando, por exemplo, o método de decompor uma porcentagem em outra, como, por exemplo, 30% = 15% + 15% ou qual método eles usariam para concluir a tarefa.

É importante destacar que essas tarefas e as outras que fizeram parte do produto educacional, não são para serem aplicadas em sala de aula e corrigidas pelo professor como um mero exercício de fixação; é preciso ir mais além, ou seja, abrir um diálogo entre os

(8)

alunos, sendo o professor o mediador do mesmo, afim de que novos significados possam ser descobertos e compartilhados entre os estudantes.

AS CONSIDERAÇÕES FINAIS

Recordamos que durante a pesquisa elaboramos um conjunto de tarefas sobre o tema porcentagem, orientado por pressupostos teóricos – o Modelo dos Campos Semânticos – e que permitisse com que os estudantes investigados produzissem significados para ele.

As tarefas que aplicamos, permitiram alcançarmos os nossos objetivos e também que fizéssemos pautados nas noções-categorias do modelo, uma leitura da produção de significados dos nossos sujeitos de pesquisa para elas.

A validação positiva de nossas tarefas se deu não só por termos atingidos os nossos objetivos, mas, também, pelo fato dessas tarefas terem sido elaboradas de tal forma que permitissem aos envolvidos no processo investigativo (professores e alunos) conversar e negociar significados. Para tanto, sugerimos que as tarefas sejam conduzidas de um modo diferente do que vemos ocorrer no ensino tradicional vigente.

Nesse ensino, em que o professor é o detentor do conhecimento, os alunos, na maioria das vezes, acabam sendo impossibilitados de, efetivamente, dizerem o que pensam sobre as tarefas que lhe são apresentadas através de listas de exercícios que surgem no final de uma teoria, impedindo-os de produzirem seus próprios significados. O professor, normalmente, corrige no quadro e o aluno copia.

A aplicação das nossas tarefas na sala de aula, na qual atuamos como professor de matemática nos revelou um processo de aprendizagem rico de discussões e interações, onde os alunos, compartilhando as suas diferenças, fizeram descobertas sobre o conteúdo de porcentagem que, certamente, ao longo do processo de aprendizagem em suas vidas escolar, contribuirá para que novas descobertas ocorram.

Dentre as análises que realizamos, um fato nos chamou bastante atenção; a insistência dos sujeitos de pesquisa em tentar resolver as tarefas sempre utilizando regras mecânicas, em que eles não demonstravam entender as operações que as envolviam, mas sempre mantinham as lógicas das operações.

Uma justificativa para essa atitude é que em salas de aulas, os professores, na maioria das vezes, não se preocupam com situações particulares que podem estar envolvidas numa determinada tarefa, o que esses docentes se preocupam é com regras gerais e práticas para eles passarem aos seus alunos; o que não deixa de ser confortável tanto para os alunos quanto para os professores.

A leitura que fizemos da produção de significados dos sujeitos de pesquisa nos evidenciou que em muitos momentos o que eles enunciaram não se transformou em texto e, portanto, não deixou de ser apenas um resíduo de enunciação, logo, impediu de haver uma comunicação naquele ambiente de aprendizagem.

Concluímos que dar voz aos alunos, no sentido de permiti-los produzirem significados dentro de uma atividade, permite-nos negociarmos esses significados com os alunos e, assim, considerando e compartilhando as diferenças que existem dentro de uma sala de aula, aquilo

(9)

que é apenas um resíduo de enunciação se transforma em texto, promovendo comunicação dentro daquele ambiente de aprendizagem.

Sugerimos que a aprendizagem da porcentagem ocorra através de um processo ao longo das séries, porém com ideias encadeadas e contínuas de raciocínios e não de maneira fragmentada conforme apresentadas por alguns livros didáticos; o que indica que é preciso promover uma mudança nesse tipo de material de apoio em salas de aula de matemática.

A finalização do trabalho de investigação confirmou que ensinar nada mais é que sugerir modos de produção de significados e que para os alunos, a aprendizagem ocorre quando eles internalizam modos legítimos de produção de significados, assim como o MCS defende.

REFERÊNCIAS

LEONTIEV, A. N. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. In: L. S. Vigotsky (Dir.), Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem (pp. 59-83). São Paulo: Ícone, 2006.

LINS, R. C. O Modelo dos Campos Semânticos: estabelecimento e notas de teorizações. In: ANGELO, C. L.; BARBOSA, E. P.; SANTOS, J. R. V.; DANTAS, S. C.; OLIVEIRA, V. C. A. (orgs). Modelo dos Campos Semânticos e Educação matemática – 20 anos de história. São Paulo, Midiograf, 2012, p. 11 a 30.

LINS, R. C. A diferença como oportunidade para aprender. In: XIV ENDIPE, 2008, Porto Alegre. Trajetórias e processos de ensinar e aprender: sujeitos, currículos e culturas. Porto Alegre: EdiPUCRS, v. 3. p. 530-550, 2008.

LINS, R. C. Matemática, monstros, significados e educação matemática. In M.A.V. Bicudo (Ed.). Pesquisa em Educação Matemática: concepções e perspectivas. São Paulo, Brasil: EDUNESP, 2004.

LINS, R. C. Por que discutir teoria do conhecimento é relevante para a Educação Matemática. In: Bicudo, M. A. V. (Org.) Pesquisa em Educação Matemática:concepções e perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1999.

LINS, R. C. O Modelo Teórico dos Campos Semânticos: Uma análise espistemológica da álgebra e do pensamento algébrico. Dynamis. Blumenau, V.1, n.7, p. 29-39, abr/jun 1994

(10)

LOPES, K. T. Uma investigação sobre o ensino de porcentagem no 6º ano do Ensino Fundamental. 161 .f . Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2013.

Referências

Documentos relacionados

No final, os EUA viram a maioria das questões que tinham de ser resolvidas no sentido da criação de um tribunal que lhe fosse aceitável serem estabelecidas em sentido oposto, pelo

Para finalizar, o terceiro e último capítulo apresenta detalhadamente o Plano de Ação Educacional (PAE), propondo a criação de um curso técnico profissional de uso da biblioteca

da equipe gestora com os PDT e os professores dos cursos técnicos. Planejamento da área Linguagens e Códigos. Planejamento da área Ciências Humanas. Planejamento da área

O desafio de implantar uma política educacional, cuja missão consiste em “integrar a formação escolar de nível médio com uma habilitação profissional técnica

O Fórum de Integração Estadual: Repensando o Ensino Médio se efetiva como ação inovadora para o debate entre os atores internos e externos da escola quanto às

O Documento Orientador de 2013, dispondo sobre as atribuições do (a) professor (a) articulador (a) de projetos, determina que ele (a) deverá estar lotado (a) na unidade escolar,

As práticas de gestão passaram a ter mais dinamicidade por meio da GIDE. A partir dessa mudança se projetaram todos os esforços da gestão escolar para que fossem

O caso de gestão estudado discutiu as dificuldades de implementação do Projeto Ensino Médio com Mediação Tecnológica (EMMT) nas escolas jurisdicionadas à Coordenadoria