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I ENCONTRO INTERNACIONAL TRABALHO E PERSPECTIVAS DE FORMAÇÃO DOS TRABALHADORES - LABOR/UFC 07 a 09 de Setembro de 2006 Fortaleza Ceará Brasil

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PROPOSTAS PARA EDUCAÇÃO DO BANCO MUNDIAL: FRAGILIDADE TEÓRICO-METODOLÓGICA E UNIFORMIZAÇÃO

Maurício Reis Sousa do Nascimento1

mreissn@yahoo.com.br

RESUMO

O Banco Mundial influencia de maneira decisiva os parâmetros e políticas de desenvolvimento no mundo. Sua intervenção ou “cooperação” vai além do caráter financeiro, projetando-se para o campo das estratégias e assessoramento aos países nos mais diversos setores, inclusive a educação. Neste último aspecto, e sem intenção de esgotar esta questão, fazemos alguns apontamentos a cerca da visível inconsistência metodológica e teórica expostas nas propostas do Banco Mundial e ainda a evidente visão de padronização presente nestas propostas.

Palavras-Chaves: Banco Mundial; uniformização; fragilidade teórica.

Na educação a influência do Banco Mundial se manifesta não somente pelo quantitativo de recursos empreendidos, que comparativamente ao destinado para outras áreas, representa cerca de meio por cento do que se aplica em educação nos países em desenvolvimento, mas principalmente se expressa nas tendências atuais das políticas educacionais mundialmente.

Um fator determinante do ponto de vista hegemônico e até que ponto pode ir as influências no Banco Mundial nos países onde emprega seu capital, sob qualquer forma, é a própria composição do capital votante do Banco que expressa a vontade dos países ricos, visto que 38,2% do poder de decisão é controlado por EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido, deste percentual os EUA detém 17,1% o que tem lhe garantido a presidência do Banco desde sua fundação, configurando também uma posição privilegiada e de grande poder de interferência.

Ao longo da história, as políticas sociais do Banco Mundial não apresentam um saldo inteiramente positivo, dado ao fato do aumento da pobreza no mundo, da extrema concentração de renda e acentuação das desigualdades econômicas e sociais e de forma evidente na América Latina. A despeito deste cenário, é a cada vez mais significativa e ascendente a participação do Banco Mundial nas políticas sociais e educacionais no mundo, particularmente nos países em desenvolvimento e América Latina.

Essa crescente participação e importância do Banco Mundial no mundo

1 Professor da Rede Público no Estado do Tocantins e mestrando em educação pela UFU – Universidade

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decorre de dois fatores que se articulam mutuamente. De um lado, pelo destaque como principal organismo de financiamento de projetos de desenvolvimento no cenário internacional (...) De outro, pelo seu papel estratégico no reordenamento da ordem mundial através do incentivo às políticas de ajuste estrutural nos países em desenvolvimento. (VIEIRA, p.75).

Criado em 1944, o Banco Mundial não tinha a priori suas propostas focadas para a educação, as áreas de infra-estrutura e agricultura eram suas principais prioridades. Sua atenção se voltou para a educação recentemente. Nesta perspectiva, do ponto de vista estrutural e objetivo, o Banco Mundial difere em muito de sua concepção inicial, quando sua função se restringia ao auxílio na reestruturação econômica dos países no pós Segunda Guerra Mundial.

1 UNIFORMIZAÇÃO NAS PROPOSTAS EDUCACIONAIS DO BANCO MUNDIAL

Discutir políticas e reformas na educação, especialmente a partir da década de 80, implica considerar alguns fatores, como a perspectiva da mundialização da economia e reestruturação do trabalho, materializada na flexibilização das relações trabalhistas como forma de dar conta das demandas impostas pelo capitalismo. Em comorbidade com este processo a redução dos gastos públicos e do próprio papel do Estado.

Na visão do Banco Mundial, a educação se apresenta como fator redutor da pobreza no mundo e possibilidade de emprego. Neste sentido suas propostas para o setor tomam formas padronizadas de maneira a responder à lógica das políticas globalizantes, que orientam também as condições para os financiamentos dos projetos educacionais e sociais. Assim se evidencia o caráter impositivo das políticas do Banco, expresso também pela similaridade dos discursos que defendem suas propostas nos diversos países onde atua.

Dessa forma “embora se reconheça que cada país e cada situação concreta requerem especificidade, trata-se de fato de um ‘pacote’ de reformas proposto aos países em desenvolvimento que abrange um amplo conjunto de aspectos vinculados à educação, das macropolíticas até a sala de aula” (TORRES, p.126)

As propostas ou “pacotes” de políticas educacionais do Banco Mundial não são novas e refletem o padrão de onde foram geradas. Muitas delas, tiveram como matriz

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países pobres da África e a projeção para outras realidades redunda na produção de resultados contraditórios.

A esta contradição se pode adir ainda o fato dessas políticas serem elaboradas por autores do chamado “primeiro mundo” para execução no “terceiro mundo”, desconsiderando inclusive os estudos e produções dos pesquisados desta região. Assim

(...) tanto os problemas como as soluções, e o próprio modelo de desenvolvimento educativo, foram pensados sobre tudo a partir dos enfoques e modelos dos países desenvolvidos, embora as propostas sejam ilustradas geralmente através de experiências dos países em desenvolvimento. (TORRES, p. 145).

Isto reforça o sentido da uniformização das políticas de educação do Banco Mundial, desconsiderando os fatores sócio-econômicos e as especificidades educativas e culturais destes países.

Contraditoriamente aos resultados produzidos por estas políticas, especialmente na América Latina, a estratégia de análise econômica para delimitação de políticas educacionais adotada pelo Banco Mundial, na verdade leva em conta o custo benefício e a taxa de retorno das propostas. A este respeito CORAGGIO expõe várias objeções teórico-filosóficas2 a serem consideradas quanto ao método economicista do Banco. Aqui trazemos duas destas objeções bem pertinente a nosso propósito:

1. embora se declare que essa análise é apenas um ponto de partida e que os governos têm motivações outras para estabelecer suas prioridades educativas, de fato, por razões que devemos determinar, as recomendações específicas e gerais estabelecidas nos documentos do Banco Mundial parecem estar sendo assumidas sem críticas por muitos governos da região e do mundo. (...) Isto transforma os governos, os intelectuais e os técnicos nacionais em co-responsáveis pelas conseqüências dessas políticas;

2. apesar do enfoque cientificista das propostas oficiais do Banco Mundial, não se assume o princípio científico de que estão baseadas em hipótese sujeitas a refutação; pelo contrário parece haver antes um afã em continuar construindo exemplos para torna-los plausíveis que em atender as evidências que as rejeitam.

2 TOMMASI, L.,WARDE, M. J. E HADDAD, S. (Orgs.). O banco mundial e as políticas educacionais.

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Convém não desconsiderar a intencionalidade dos projetos prontos do Banco Mundial. Lembremos que um Banco tem suas políticas de empréstimo e é oportuno para ele fomentar estas políticas uma vez que os recursos vêm do mercado de capitais, assim o que na realidade vai interessar são as taxas de retorno e os juros. E isto é que se torna prioritário, sendo que os objetivos ou resultados dos projetos de educação são menos interessantes que os lucros, ficando em segundo plano.

2 FRAGILIDADE TEÓRICO-METODOLÓGICA NAS PROPOSTAS EDUCACIONAIS DO BANCO MUNDIAL

São cada vez mais evidentes os resultados de experiências e políticas errôneas implementadas pelo Banco Mundial, o que tem suscitado críticas dos mais variados segmentos da sociedade e dos próprios governos. Em razão disto o BM vem tentando assumir novas posturas e promover mudanças em suas políticas.

De fato há uma grande disparidade em relação aos discursos e uma tomada de posição efetiva. Na realidade

o Banco Mundial continua a resistir às transformações substanciais em sua estrutura e em suas políticas. As novas políticas e procedimentos são constantemente violados, e o Banco Mundial continua a não assumir qualquer responsabilidade pelos projetos e programas fracassados. Mas grave ainda, o Banco permanece estrutural e operacionalmente uma organização antidemocrática, não transparente e avessa à participação popular. (SOARES, p.26).

A inércia destas propostas pode ser mais claramente percebida quando o próprio Banco Mundial reconhece que na América Latina houve avanços consideráveis, assim como são avaliadas positivamente ações específicas e regionalizadas, no entanto a pobreza e as desigualdades na realidade aumentaram na região. Mesmo diante destas constatações o Banco propõe mudanças políticas para a América Latina, claramente fundadas na desregulamentação e abertura econômica, como:

• abertura comercial;

• privatizações;

• flexibilização das relações de trabalho;

• reforma do Estado e da educação;

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As políticas do Banco Mundial que se alicerçam na sociedade atual apontam para a globalização como única via possível de resolução dos problemas sócio-econômicos contemporâneos e a educação com política social não deve ser vista fora dessa conjuntura, até porque na concepção do Banco ela é pensada sob a égide mercadológica e o ensino é produto dessa relação, disponível nas escolas.

A visão de educação expressa nos documentos do Banco Mundial evidencia de maneira consistente a sua fragilidade teórica do seja o processo educativo e o caráter científico dessas propostas na verdade denota desconhecimento, sendo freqüente observar nos documentos do Banco imprecisão e falta de diferenciação entre conceitos básicos em educação. Esta insuficiência de conhecimento é reforçada também na medida em os técnicos e economistas do Banco possuem um visão reduzida do aspecto pedagógico e curricular, não sendo raros os equívocos no uso de conceitos como

educação e capacitação, ensino e aprendizagem, educação e aprendizagem, educação e ensino, educação e instrução, rendimento escolar e aprendizagem, currículos e conteúdos, conhecimento e habilidades, pedagogia e métodos, métodos e técnicas, métodos de ensino e estilo de ensino, textos escolares e materiais de leitura, educação inicial e educação pré-escolar, educação formal, não-forma e informal, educação de adultos, educação não-formal e alfabetização, e inclusive entre educação de primeiro grau e educação básica. (TORRES, p. 140).

Diante desta visão, posta nos próprios documentos do Banco não há como negar que apesar do discurso existe evidentemente grande desconhecimento acerca do processo educacional e seus desdobramentos. Neste sentido o Banco possui um conjunto de boas idéias, mas que não devem ser tomadas como definitivas do ponto de vista do interesse educativo e das sociedades futuras.

Postas estas questões, entende-se que as propostas do Banco Mundial para a educação são no mínimo questionáveis. Inclusive deve-se considerar o fato de que “dentro do próprio Banco Mundial foram realizadas avaliações sobre as evidências que sustentam suas propostas e seu grau de validade geral; o resultado está longe de constituir uma confirmação satisfatória”.(CORAGGIO, p. 110)

Em última análise, a forma de “cooperação” do Banco Mundial com países pobres ou em desenvolvimento, através de créditos, segue os critérios do mercado. E no tocante aos projetos em educação isto não é diferente, estes créditos passam a compor a dívidas externas dos países. E apesar do Banco disponibilizar assistência técnica e

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definir pré-condições, isto não representa nenhum atenuante nas regras de empréstimo para o setor.

Outra questão que parece direcionar a centralidade das preocupações do Banco, são as desigualdades e a densidade demográfica destes países “podres”, sendo que este último, na visão do BM implicará na demanda por víveres. Este fator tem sido posto como determinante nas políticas de educação do BM e direcionado as prioridades de investimento na educação primária como forma de amenizar o problema, assim evidenciando decididamente o caráter eqüitativo e a generalização das necessidades, presentes nas políticas de educação do Banco, embora os projetos sejam para execução em regiões com diversidades econômicas, educacionais e sócio-culturais bastante acentuadas. É possível perceber também que o BM reconhece a necessidade de políticas que atendam as especificidades dos países, mas por outro lado fica claro a orientação quanto ao que os governos devem fazer expressa nos “pacote de medidas prontos para aplicar”.

Entre o que o BM coloca como intenção e o que ideologicamente está implícito em suas políticas educacionais existe uma enorme disparidade, a conseqüência disto é que o os sistemas educativos estão em maior grau à “mercê do mercado e da concorrência”. No que se refere a políticas educacionais, fica evidente seu viés superficial e sem fundamentação que denota também a falta de conhecimento acerca da educação, seus processos e necessidades numa perspectiva de futuro. Dessa forma convém ressalta também a necessidade de uma análise com maior cuidado por parte do BM dos seus procedimentos antes da tentativa de universalização dos resultados.

Contudo, os apontamentos feitos, em que pese à fragilidade e a política uniforme do Banco Mundial não invalidam suas propostas como um todo. Levando-se em conta a forma e o contexto para aplicabilidade se traduzem em resultados satisfatórios, desde que observados as demandas regionais. O que se questiona é o aceite acrítico e condicionado aos interesses do Banco, fundado apenas em hipóteses sem observar os pressupostos que asseguram a validade de tais políticas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARCE, Alessandra. Compre o kit neoliberal para a educação infantil e ganhe grátis os dez passos para se tornar um professor reflexivo. Revista Educação e Sociedade (CEDES), [S.l.s.n], n. 74, 2001.

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CORAGGIO, José Luis. Propostas do banco mundial para a educação: sentido oculto ou problemas de concepção? In. DE TOMMASI, Lívia; WARDE, M. Jorge; HADDAD, S. (Orgs.). O banco mundial e as políticas educacionais. São Paulo: Cortez, 1996. SOARES, Maria Clara Couto. Banco mundial: políticas e reforma. In: DE TOMMASI, Lívia; WARDE, M. Jorge; HADDAD, S. (Orgs.). O Banco mundial e as políticas

educacionais. São Paulo: Cortez, 1996.

TORRES, Rosa Maria. Melhorar a qualidade da educação básica? As estratégias do Banco Mundial. In: DE TOMMASI, Lívia; WARDE, M. Jorge; HADDAD, S. (Orgs.).

O banco mundial e as políticas educacionais. São Paulo: Cortez, 1996.

VIEIRA, Sofia Lerche. Políticas internacionais e educação: cooperação ou intervenção. In: DOURADO, Luis Fernandes, PARO, Vitor Henrique (Orgs.). Políticas públicas e

Referências

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