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Estudos da Restinga da APA de Maricá (RJ) para um Enfoque Interdisciplinar no Ensino Médio

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Academic year: 2021

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Estudos da Restinga da APA de Maricá (RJ) para um Enfoque Interdisciplinar no Ensino Médio

Clarisse Paranhos de Faria Geógrafa formada pela Universidade Federal Fluminense clarisseparanhos@gmail.com INTRODUÇÃO

Esta pesquisa busca avaliar aspectos socioambientais na APA de Maricá (RJ) em sua complexidade e de forma interdisciplinar para aplicação no ensino médio e em educação ambiental.

A interdisciplinaridade expõe um esforço de correlacionar disciplinas, esforço esse que resulta em muitas vezes em conflitos, pois as disciplinas possuem a tendência em fechar-se sob seus métodos e teorias, dificultando trocas (ROCHA, 2002). No entanto, para o desenvolvimento da concepção de mundo dos alunos, faz-se necessário o debate e a aplicação de projetos interdisciplinares, permitindo ao aluno a percepção multifacetada da realidade. Tais projetos não são realizados com a figura do “professor polivalente”, mas pressupõe a colaboração de diversos professores e suas áreas (física, química, geografia, biologia, história etc.) na análise de determinado tema (PONTUSCHKA, 1993). Objetivos e métodos precisam ser discutidos em grupo, possibilitando o surgimento do diferente, do semelhante, do divergente entre as disciplinas (PONTUSCHKA, 1999). Isso gera um “processo dinâmico, integrador e, sobretudo, dialógico, intensificando as trocas entre os especialistas e a integração dos conhecimentos” (HAMMES, 2007). O resultado não deve ser a justaposição de áreas ou pontos de vistas, mas a interação entre as diferentes disciplinas. Ao mesmo tempo, esta não dilui as disciplinas, mantêm sua individualidade.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNs) orientam para o desenvolvimento de um currículo que contemple a interdisciplinaridade (BRASIL, 2000). Segundo este PCN, a interdisciplinaridade, assim como a contextualização dos

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conteúdos, seguem princípios pedagógicos como vincular a educação ao mundo do trabalho e à prática social; capacidade de continuar aprendendo; preparação para o trabalho e o exercício da cidadania; desenvolvimento da autonomia intelectual e pensamento crítico; flexibilidade para adaptar-se a novas condições de ocupação; entre outros.

Antes de haver a interdisciplinaridade entre áreas específicas do conhecimento faz-se necessário pensar na interdisciplinaridade na própria disciplina Geografia. Esta fundamentalmente articula inúmeras disciplinas, como as ligadas à natureza (Biologia, Geologia, Pedologia, Hidrologia, entre outras) e as ligadas à sociedade (Economia, Sociologia, entre outras). A relação entre sociedade e natureza é ponto de análise fundamental nesta disciplina. Desde seus primórdios como ciência, os geógrafos buscam obter uma síntese capaz de interpretar fenômenos que ocorrem sobre a Terra a partir de uma multiplicidade de ramos do saber científico (SANTOS, 1978, p.97). A própria formação universitária do geógrafo carece de uma interdisciplinaridade. Essa meta muito desejada nem sempre é alcançada. Ao invés da compreensão interdisciplinar, temos uma compreensão multidisciplinar, que supõe a colaboração multilateral de diversas disciplinas, mas sem a necessária integração entre elas (SANTOS, 1978, p. 104).

Tendo em vista a sua própria natureza, “a Geografia se justifica como eixo articulador de uma prática pedagógica interdisciplinar na medida em que é capaz, por sua natureza, de favorecer a promoção de diálogo entre diferentes áreas do conhecimento. Ela é um ramo do conhecimento científico profundamente ligado aos demais” (HAMMES, 2007).

A disciplina de Geografia contará com a paisagem como categoria de análise. Muitos geógrafos “ao definirem a paisagem vinculam-na, em primeira análise, ao campo do visível, ou seja, a percepção de tudo o que se encontra ao alcance visual do observador” (FARIA, 2005). Bertrand (1971) destacava na paisagem a combinação de seus elementos, podendo estes serem divididos em elementos abióticos, bióticos e antrópicos. Segundo o autor, os efeitos das interações entre os elementos e da sua dinâmica individual são igualmente importantes para a análise da paisagem e resulta em

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um conjunto único e indissociável, não podendo tratá-la como apenas uma combinação de elementos. Segundo Dias (1998) a análise da paisagem deve ocorrer de forma integral, incluindo os componentes naturais e os de origem antrópica. A natureza reage às alterações humanas e estabelece uma nova dinâmica, enquanto que as formas de relação entre homem e natureza se distinguem para cada grupo humano.

Vale ressaltar a importância do conhecimento dos biomas e ecossistemas e da dinâmica da ocupação humana nessas áreas, objeto de análise desta proposta de estudo interdisciplinar. A restinga de Maricá permanece com características naturais razoavelmente conservadas, podendo a partir dela observar a dinâmica de formação desse ecossistema, sua biodiversidade, e desenvolver no aluno a compreensão da importância de sua preservação.

Será realizado trabalho de campo com os alunos. Segundo Yeimmy Leguizamón (Lache et al., 2011, p.26), neste tipo de experiência a dimensão interdisciplinar é naturalmente enfatizada, o que está de acordo com a proposta deste trabalho. A autora ressalta que nas saídas de campo diferentes abordagens podem ser realizadas, resultando em valiosas contribuições para a construção do conhecimento. Libia Marcela Cuevas Farfán (Lache et al., 2011, p.33) defende as saídas de campo como estratégia de aprendizagem. Nestas, os sentidos são aguçados e outras habilidades são desenvolvidas, a observação resulta em uma interpretação do mundo, em um pensamento crítico e na apropriação do aprendizado. Contribuem para o desenvolvimento pessoal do aluno de várias formas, entre elas pelas mudanças na percepção de sua inserção de mundo e conhecimento de realidades distintas.

OBJETIVOS

Como objetivo geral, visamos compreender a relevância do enfoque interdisciplinar no processo de aprendizagem e compreender aspectos socioambientais da APA de Maricá para este enfoque no ensino médio.

Como objetivos específicos, buscamos a identificação dos fatores bióticos (fitofisionomia vegetal e composição florística, fauna), abióticos (geologia,

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geomorfologia, solos e hidrologia) e antropogênicos (uso do solo e impactos ambientais). Verificaremos, sobretudo, aspectos relevantes da interação entre os fatores bióticos, abióticos e antropogênicos na APA de Maricá (RJ), direcionando-os aos conteúdos das diferentes disciplinas do ensino médio.

METODOLOGIA

A delimitação da área de estudo foi a Área de Proteção Ambiental (APA) de Maricá. criada pelo decreto Estadual nº 7230, de 23 de janeiro de 1984. Situa-se no município de Maricá, Estado do Rio de Janeiro, nas coordenadas aproximadas de 22° 57’ 42” de latitude sul e 42° 51’ 54” de longitude oeste. Possui uma área total de cerca de 800 ha, delimitada pelo mar ao sul, pela Lagoa de Maricá ao norte, pelo canal de São Bento a oeste e pela Ilha Cardosa ao leste.

Para entender os aspectos socioambientais na APA de Maricá na disciplina de Geografia teremos como base estudo realizado que resultou no mapeamento das diferentes feições da paisagem da restinga (FARIA, 2005). Estes mapas servirão como um modelo para identificar os diferentes elementos na paisagem local. As Unidades de Paisagens são delimitadas pelo relevo, clima, vegetação, solos ou mesmo pela topografia e a litologia ou exclusivamente por um desses elementos, assim como a presença humana (ROSS, 1992, apud Amorim & Oliveira, 2008). Vale ressaltar que as unidades de paisagem são uma forma de estruturar e compreender a paisagem e que esta deve ser vista como um todo. “Cada coisa nada mais é que parte da unidade, do todo, mas a totalidade não é uma simples soma das partes. As partes que formam a totalidade não bastam para explicá-la”. (SANTOS, 2004, p. 115).

Em cada unidade de paisagem foram identificados os fatores bióticos (fitofisionomia vegetal e composição florística, fauna), abióticos (aspectos geológico- geomorfológicos, solos e hidrologia) e antropogênicos (uso do solo e impactos ambientais). Serão verificados alguns aspectos da interação entre os fatores supracitados na APA de Maricá, relacionando-os com o conteúdo das diferentes disciplinas do ensino médio, sobretudo a Biologia e a Geografia.

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Para as demais disciplinas serão apontados conteúdos relevantes e a possibilidade de ampliação do estudo no ambiente escolar, através de entrevistas e diálogo com os professores, para um trabalho em conjunto com a equipe docente. O diálogo faz-se fundamental para um conhecimento mínimo sobre as disciplinas dos demais colegas e obtenção de êxito na prática interdisciplinar. O resultado deste trabalho servirá como base para a presentação do conteúdo da Geografia.

Por último, será realizado trabalho de campo com os alunos, como um meio de explicitar as teorias e conceitos divulgados em sala de aula e in loco, resultando em uma melhor compreensão do objeto de estudo.

RESULTADOS PRELIMINARES

Foram delimitadas ao todo oito Unidades de Paisagem na APA de Maricá, sendo estas: Morro do Mololô, Cordão Externo, Depressão Intercordões, Cordão Interno, Zacarias, Morrote próximo à Zacarias, Entorno da Lagoa e Ilha Cardosa (Figura 1).

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Foram identificados até o momento a geologia, solos, comunidades vegetais, composição florística e uso do solo, e aspectos de sua interação (Tabela 1).

Importante frisar que para a compreensão interdisciplinar é necessária essa interação. A apresentação dos elementos socioambientais, comum em pesquisas geográficas, sem o entendimento de sua integração, caracteriza em uma visão multidisciplinar, com colaboração multilateral, como já foi mencionado em Santos (1978).

Para a compreensão do todo antes de compreendermos as partes, faz-se necessário o entendimento do que caracteriza um ambiente de restinga e o estudo de como este é formado. A inserção da sociedade local dentro da dinâmica de seu município e do mundo, assim como sua relação com o ambiente físico também foram investigados.

Esta pesquisa encontra-se nesta etapa de integração dos elementos e tópicos relevantes serão apresentados oralmente para o debate.

Tabela 1 - Unidades de Paisagem de Maricá e as características do ambiente

Ambiente Unidades

Geologia Solos Comunidades

Vegetais Composição Florística Uso do Solo I - Morro do Mololô Embasamento Cristalino Argissolo Amarelo Distrófico Típico Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico Típico Comunidade Arbórea Área bastante antropizada, com abertura de caminhos e ruas e intensa colonização de plantas invasoras. II - Morrote próximo à Zacarias

Área menor e menos antropizada que a Unidade 1.

III - Ilha

Cardosa Argissolo Amarelo Distrófico Típico Argissolo Vermelho-Amarelo Epécies do gênero Eryhroxylum (Erythoxylaceae), Eugenia (Myrtaceae) e Capparis

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Distr. Típico Neossolo

Quartzarênico Órtico Típico

(Capparaceae). Destacam-se algumas espécies raras ou pouco comuns como

Capparis frondosa, Eugenia janeirensis, E. repanda e Leucaster

caniflorus. IV – Cordão

Interno Quaternário Pleistocênico Neossolo Quartzarênico Órtico Típico

Comunidade Arbustiva Aberta (entre moitas)

Cada moita possui espécies dominantes:

Byrsonima sericea, Rapanea parvifolia, Clusia fluminense, Clusia lanceolata, Tapirira guianensis e espécies da família Myrtaceae Trechos com caminhos e picadas abertas. Comunidade

Arbustiva-Arbórea Leucothoes revoluta, Aspidosperma pyricollum, Anacardium occidentale, Byrsonima sericea, Anabaenella tamnoides, Tapirira guianensis, Cupania emarginata e Swartzia apétala. V- Zacarias Quaternário Pleistocênico Neossolo Quartzarênico Órtico Típico Comunidade herbácea. Espécies da família de Gramineae são dominantes .Presença marcante de Plantas invasoras. Presença de moradias (colônia de pescadores Zacarias). Depósitos Lagunares VI - Depressão

intercordões Depósitos Holocênicos Espodossolo Cárbico Hidromórfico Arênico Espodossolo Ferrocárbico Hidromórfico Arênico Comunidade Campo Inundável (porte herbáceo) Sobretudo Gramíneas e Ciperáceas. Xyris jupicai,

Nymphoides indica e Ludwigia octovalvis,

Nymphae ampla, Cladium jamaicense, Leersia hexandra, Eleocharis subarticulata. Trechos mais secos com presença de Tibouchina

gaudichaudiana

Trechos com caminhos e picadas abertas, com alguma colonização por plantas invasoras.

VII - Entorno

da Lagoa Depósitos lagunares. Espodossolo Cárbico ou Ferrocárbico Hidromórfico Arênico

Comunidade Campo Inundável (porte herbáceo)

Presença dominante de

Typha domingensis. Uso para lazer pesca. Presença de resíduos sólidos. Desmatamento e colonização de plantas invasoras. VIII - Cordão Externo Quaternário Holocênico Neossolo Quartzarênico Órtico Típico Comunidade

Herbácea Ipomea pes-caprae, Blutaparon portulacoides Althernanthera marítima, Ipomea littoralis, Sporobolus virginicus, Mariscus pedunculatus, Stenotaphrum secundatum Mollugo verticillata. Presença de Área Militar (Aeronáutica) no trecho próximo ao Morro do Mololô. Balneário. Comunidade Herbáceo-arbustiv o Hybanthus calceolaria, Stachytarpheta schottiana e Acycarpha spathulata

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INDICAÇÃO DO ESTÁGIO DA PESQUISA Intermediário

PALAVRAS-CHAVE:

Interdisciplinaridade, Restinga, Ensino médio BIBLIOGRAFIA:

AMORIM, R.R.; OLIVEIRA, R.C. As unidades de paisagem como uma categoria de análise geográfica: o exemplo do município de São Vicente-SP. Revista Sociedade &

Natureza, Uberlândia: n. 20 (2). p. 177-198, dez. 2008.

BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global. Esboço Metodológico. Caderno

de Ciências da Terra. São Paulo: n. 13, p. 1-27, 1971.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica.

Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio). Brasília: MEC, 2000.

DIAS, J. As potencialidades paisagísticas de uma região cárstica: o exemplo de

Bonito - MS. 1998. Dissertação (Mestrado em Geografia). FCT-UNESP, São Paulo:

Presidente Prudente.

FARIA, C.P. As Unidades de Paisagem da APA Estadual de Maricá/RJ. 2005. Monografia (Bacharel em Geografia). Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, Niterói. Disponivel em:

http://geografiaeeducacao.files.wordpress.com/2013/01/tcc_geografia_uff_clarisse-faria 1.pdf

HAMMES, C. C. O desafio de uma perspectiva interdisciplinar na construção pedagógica do conhecimento geográfico. La Salle - Revista Educação, Ciência e

Cultura. Canoas: v. 12, n. 1. p. 7 – 20, jan. - jun. 2007.

LACHE, N. M.; PIZINATO, L. A. R.; Sánchez, J. D. A. La salida de campo… se hace

escuela al andar. Bogotá: Grupo Interinstitucional de Investigación Geopaideia, 2011.

ROCHA, C. H. B. Geoprocessamento: tecnologia transdisciplinar. Juiz de Fora: Ed. do autor, 2002.

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SANTOS, M. Por uma Geografia Nova. São Paulo: Hucitec, Edusp, 1978.

SANTOS, M.. A natureza do Espaço – Técnica e Tempo – Razão e Emoção. 4. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.

PONTUSCHKA, N.N. (org.). Ousadia no diálogo - interdisciplinaridade na escola

pública. São Paulo: Edições Loyola, 1993 (série Práticas Pedagógicas).

PONTUSCHKA, N. N. Interdisciplinaridade, Aproximações e Fazeres. Terra Livre –

AGB, As Transformações no Mundo da Educação: Geografia, Ensino e Responsabilidade Social. São Paulo: n. 14, p. 90–110, 1999.

Referências

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