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Autor(es):

Nobre-Correia, J. M.

Publicado por:

Imprensa da Universidade de Coimbra

URL

persistente:

URI:http://hdl.handle.net/10316.2/41990

DOI:

DOI:https://doi.org/10.14195/2183-8925_16_18

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2-Jun-2021 02:47:05

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A PAISAGEM MEDIÁTICA EUROPEIA DEPOIS DA DESREGULAMENTAÇÃO* **

"De há vinte anos a esta parte, sob a pressão da evolução técnica e dos interesses privados, a imprensa, a rádio e a televisão foram objecto de um formidável processo de diversificação. No entanto, este pluralismo de fachada não deixa de oferecer perigos para a democracia..."

Ao longo dos anos setenta e oitenta, os médias europeus conheceram uma mutação profunda que levou alguns autores a falar em "revolução dos médias'^1). Os especialistas, ao evocarem esse

período de mudanças, falam antes em "desregulamentação". Todavia a desregulamentação é uma das palavras cujo significado semântico foi ganhando novas extensões. Segundo o Petit Robert,

desregulamentação é "deixar (um sector) sem regulamentação ou alijar uma regulamentação existente". Digamos que, no que respeita aos médias, a desregulamentação consiste na "modificação das regras de organização de uma actividade com vista a aumentar a própria concorrência"(2).

* Observatoire des Médias en Europe. Université Libre de Bruxelles. ** Tradução do francês revista pelo autor.

O Título de um número especial de Le Monde. Dossiers et Documents, Paris, Outubro de 1984.

(2) Thierry de Montbrial (dir.), Ramses 89, Paris, 1988, p. 320. Ver também

Serge Regourd, La télévision des Européens, Paris, 1992, p. 109 e Henri Pigeat, "Régulation et déréglementation", in Lucien Sfez (dir), Dictionnaire critique de

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O termo é muitas vezes usado para evocar a libertação do sector audiovisual da alçada administrativa pública. Ou mais exactamente: a desregulamentação significou inicialmente a desmonopolização da rádio e da televisão no quadro do Estado nacional e depois da União europeia. Todavia, o mesmo se pode afirmar da desregulamentação no que se refere à imprensa escrita. Porque, na origem desta desregulamentação dos médias, existe uma mutação técnica importante caracterizada pela convergência da informática, das telecomunicações e da videocomunicação que também invadiram as oficinas gráficas e as redacções dos jornais.

Antes da grande subversão

A que se assemelhava a paisagem mediática europeia antes da

desregulamentação? Nos anos sessenta, face a uma rádio — que passara a ser o meio de informação imediata por excelência — e a uma televisão — cuja sedução da imagem lhe permitira invadir a maior parte das lares da União —, a imprensa escrita diária confirmava a sua entrada em crise. Os leitores afastavam-se de um média que envelhecia mal: o grafismo pecava muitas vezes por falta de elegância, as fotografias apresentavam pouca nitidez, a escolha dos temas obedecia a uma hierarquização que datava — na melhor das hipóteses — da Segunda Guerra Mundial, o conteúdo não primava particularmente pela frescura, uma vez que as edições tinham sido "fechadas" cedo, na véspera. Em breve, os diários tomaram-se "produtos" pouco aliciantes, porque cinzentos, sendo pouco um sinal do seu tempo e mostrando-se deslocados em relação às novas sensibilidades dos leitores.

Os diários eram tanto menos atractivos, quanto é certo que os magazines entravam numa nova etapa da sua história, graças ao offset, à fotocomposição e à evolução da quadricromia. Os magazines tomavam consciência da dimensão estética do grafismo, dos títulos, da ilustração e até mesmo dos brancos. E elas tomavam igualmente consciência do factor sedução na relação entre o leitor e o jornal, do seu peso decisivo no acto de compra.

Os anos sessenta são os da afirmação dos "newsmagazines", da proliferação de magazines dedicadas à televisão e da eclosão de maga­ zines para jovens e adolescentes. E estes magazines interessavam-se por temas que, tradicionalmente, não chamavam a atenção da imprensa diária.

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Durante esse tempo, enquanto os diários entravam nitidamente em crise e os periódicos conheciam uma fase de expansão e de diversificação importante, a rádio entrava em fase de expectativa. A paisagem radiofónica caracterizava-se então por uma situação em que a maior parte dos países da futura União dos Doze vivia em regime de monopólio. Monopólio público na maior parte dos casos. Monopólio privado num único caso — o do Luxemburgo(3). De um pluralismo

legal de estações limitado por um monopólio de informação fornecida às diferentes estações pela rádio estatal (casos de Portugal e de Espanha). De um monopólio teórico que se traduzia, na realidade, por um pluralismo de estações e de informação, devido ao facto de existirem rádios ditas "periféricas" (casos de França e de Itália).

Paralelamente, a maior parte dos países em regime de monopólio conhecia uma situação de diversificação segundo três linhas de orientação: em todos os casos importantes, uma estação nacional generalista para o grande público, por vezes uma estação nacional cul­ tural e por outras vezes ainda uma rede de estações regionais ou uma cadeia nacional com desdobramentos regionais. Desde os anos sessenta, esta situação de monopólio e de pluralismo restrito era todavia perturbada pelas "rádios piratas", sobretudo no Mar do Norte...

Quando a Grécia esperou por 1966 para poder dispor de uma estação de televisão emitindo regularmente(4), no resto da União

Europeia, a televisão passava da emissão a preto e branco à cor nos anos sessenta, enquanto que certos países se dotavam de uma segunda estação, frequentemente cultural, e por vezes, de vocação regional. Por outro lado, as emissões não duravam senão algumas horas por dia iniciando-se, a maior parte das vezes, só à tarde. Enquanto isso a publicidade estava muitas vezes ausente das televisões públicas: ela só entrará nas televisões neerlandesa (NOS) e francesa (ORTF) em 1968 e na belga (RTBF) em 1989. Só um país possuía simultaneamente um sector público e um privado de televisão, desde 1955: a Grã-Bretanha(5).

(3) J.- M. Nobre-Correia, "Une grande-ducale pas très belge", in Trends Tendances, Bruxelas, 15 de Setembro de 1988, pp. 67-74.

(4) Hervé Michel e Anne-Laure Angoulvent, Les tâévisions en Europe, Paris,

1992, p. 64.

(5) Colin Seymour-Ure, The Brithish Press and Broadcasting since 1945, Ox­

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Uma profunda mutação técnica

Ao longo dos anos setenta, devido ao melhoramento da qualidade da fotocomposição e do offset assim como à diminuição dos custos, graças também ao desenvolvimento da transmissão à distância e, enfim, à introdução da informática nas empresas, a produção redaccional e industrial da imprensa, assim como a sua comercialização e gestão, serão profundamente alteradas(6). Depois da descoberta da

imprensa no século XV e da introdução das rotativas e dos linotipos no século XIX, a informação escrita conhecia nos anos setenta/oitenta o seu terceiro grande momento histórico.

Os intervenientes na cadeia de produção colocados entre os jornalistas e os rotativistas desaparecerão das empresas de imprensa. Os jornalistas ocupar-se-ão doravante em dactilografar e paginar os próprios textos, quer se encontrem na sede do jornal ou em reportagem em qualquer parte do mundo. Antes, os seus computadores possibilitaram-lhes o acesso a bancos de dados e o enriquecimento dos seus próprios textos. Directores artísticos e grafistas farão a sua entrada nos jornais para mudar profundamente o aspecto visual dos diários e dos periódicos. Para evitar transportes pesados e onerosos, e eliminar atrasos de venda prejudiciais, a impressão será descentralizada em vários pontos do país e do mundo, com o recurso a uma transmissão à distância das páginas do jornal por um processo defac simile.

Também a entrada dos computadores nas empresas de imprensa tomará igualmente possível uma gestão mais eficaz e uma melhor comercialização. A informática permitirá especialmente gerir melhor as campanhas de promoção das assinaturas assim como as renovações de assinaturas e até mesmo conhecer o número de exemplares depositados em cada posto de venda.

Este alijamento considerável das condições de produção favorecerá o lançamento de novos diários e periódicos. Tal movimento foi particularmente visível no sul da União, por razões simultaneamente políticas, socioculturais e económicas. A queda das ditaduras portuguesa, grega e espanhola em 1974-1975(7), abriu evidentemente o

caminho à liberdade de imprensa e, por isso mesmo, suscitou a criação

(6) Jean-Marie Charon, "Modernisation et diversification des quotidiens",

in Lucien Sfez (dir.) ob. cit., pp. 1003-1064.

(7)

de novos títulos. Assim como os desafios em tomo do "compromisso histórico", em Itália, ou da "união de esquerda", em França, foram favoráveis ao lançamento de diários com uma sensibilidade diferente à actualidade, e particularmente à cultura e aquilo a que se chamará a vida quotidiana, os problemas de sociedade. O aumento tardio do nível de escolarização nos países do Sul da União(8), começou então a dar os

seus frutos em matéria de leitura de imprensa. Um maior número de cidadãos encontrava-se agora em condições de 1er jornais e tornar-se consumidor de imprensa. O desenvolvimento acelerado do nível de vida nestes países, decorrente nomeadamente da sua entrada na União, conduziu, por sua vez, a um aumento do poder de compra por parte dos leitores e a um crescimento dos investimentos publicitários, tendo tido esses dois movimentos, como consequência, a alta das receitas dos jornais. Vimos assim surgir diários como II Manifesto, Il Giomale, La

Repubblica (o primeiro diário italiano e o primeiro europeu em receitas

publicitárias(9)) e, mais tarde, Italia Oggi, Quigiovani e L'Indipendente, El

Pais, EI Periodico, El Mundo e Diario 16 (o primeiro, o segundo, o terceiro

e o sexto diários espanhóis(10)), Libération (o quotidiano dos jovens

franceses na moda), Le Quotidien de Paris e Infomatin, Correio da Manhã e

Público (o primeiro diário popular e o primeiro diário de qualidade

português respectivamente), que constituíram, cada um a seu modo, novidades marcantes na imprensa dos seus países. Encontramos igualmente este movimento nos países do Norte, se bem que com menor amplitude: cite-se, por exemplo, Today e The Independent, em Londres, e Die Tageszeitung, em Berlim.

Diários concebidos de outra maneira

Viu-se igualmente alguns diários multiplicarem o número de edições regionais ou locais de modo a aproximarem-se mais dos leitores. Em França, um jornal como Ouest France, em Rennes, que é o maior diário francês, possui trinta e oito edições locais diferentes. Por seu lado, La Voix du Nord em Lille, tem vinte e oito edições locais, com quatro a seis páginas diferentes umas das outras. E encontramos esta mesma tendência em multiplicar as edições regionais ou locais

(8) Emmanuel Todd, U invention de l'Europe, Paris, 1990, pp. 131-133.

(9) Carat, European Newspaper Minibook, 1990, p. 11.

(8)

diferentes em Itália (com La Repubblica(n)) em Espanha (com ABC, Diario

16, El Mundo, El Pais e El Periodico(12)) e em Portugal (corn o Público).

O alijamento das condições de fabrico assim como a redução

dos investimentos necessários ao lançamento de um diário, favoreceram o nascimento de novos jornais regionais e locais. Uma tal situação verificou-se fundamentalmente nos países em que a "província" vivia muito à margem da capital ou das grandes cidades. Encontramos este mesmo fenómeno em Itália, Espanha e Portugal (neste último caso com o Diário Regional e As Beiras, por exemplo).

Viram-se também nascer autênticos quotidianos transnacionais. O International Herald Tribune(u) foi pioneiro ao inaugurar a

descentralização da sua impressão desde 1974. Hoje, é redigido e paginado em Paris, impresso em onze cidades de vários pontos do mundo e posto à venda em cento e oitenta e um países(14). Outros jornais

seguiram este exemplo, tais como The Financial Times(15), The Wall Street

]ournal(16), La Repubblica, El País, Corriere della Sera, El Mundo. A

descentralização da impressão permitiu-lhes alcançar os pontos de venda ao mesmo tempo que os diários locais, com o mesmo grau de frescura. O que constitui evidentemente um importante trunfo em termos de potencial de concorrência. Mas esta descentralização permite criar edições diferentes, com conteúdos publicitários diferentes, capazes de corresponder melhor às necessidades dos anunciantes.

Vimos, por fim, nascer pequenos diários dirigidos a grupos socioprofissionais específicos, tais como médicos, agências de viagens, empresários de construção civil e tantos outros...

Esta "desregulamentação" da imprensa teve consequências que, por vezes, foram socialmente trágicas, com o quase desaparecimento de uma categoria social afastada pela introdução dos computadores: linotipistas, dactilógrafos, paginadores,... Ficará para sempre na memória a longa batalha em tomo do Parisien Libéré na segunda metade

(n) Mario Grandinetti, 1 quotidiani in Italia, 1943-1991, Milão, 1992, p. 84.

(12) Fundesco, Los medios en la construcción de la unidad europea, Madrid,

1993, p. 17.

(13) IHT, Our Century our World, Paris, 1987, pp. 12-18.

(14) Le Monde, Paris, 4-5 lulho, 1993, p. 9.

(15) David Kynaston, The Financial Times: a centenary history, Londres, 1988,

p. 441.

(9)

dos anos setental(17). E também o confronto entre os tipógrafos e o grupo

de Rupert Murdoch, dez anos depois, em Londres(18). Conflitos que

enfraqueceram, e até destruíram, a tradicional posição de força, e por vezes de monopólio, dos sindicatos de tipógrafos no seio das empresas de imprensa.

Outro aspecto importante nestes decénios é o do reposiciona- mento de um significativo número de diários que então se mostraram mais sensíveis à informação de proximidade e à vida quotidiana na sociedade contemporânea. A este respeito, alguns célebres títulos centenários sofreram mutações profundas tais como The Guardian, La

Stampa, La Vanguardia, Diário de Notícias (de Lisboa), Diário de Notícias

(do Funchal).

Tradições diversas

A paisagem da imprensa diária europeia foi também objecto de uma recomposição. Com efeito, pode dizer-se que, na Europa do Norte, ela conheceu uma certa erosão nas vendas ou, na melhor das hipóteses, uma estagnação das vendas. No Sul pelo contrário, a tendência é para a alta, porque o Sul vinha de mais longe. Em 1990, existia um número elevado de consumidores de diários no Reino Unido (393 exemplares por 1000 habitantes), na Dinamarca (355), na Alemanha (343), no Luxemburgo (320), nos Países Baixos (313); verificava-se um consumo moderado na Irlanda (189), na Bélgica (175), na França (127), na Grécia e na Itália (118); e existiam outros casos em que o consumo era irrelevante tais como a Espanha (77) e Portugal (39)(19). É um facto que

a alfabetização surgiu no Sul quase com dois séculos de atraso em relação à Europa do Norte. E se a leitura era um hábito bem enraizado no Norte, tal fenómeno não acontecia no Sul onde o que predominava nas relações sociais era muito mais a oralidade.

Esta relação historicamente diferente entre os leitores e os diários teve, por consequência, sistemas de comercialização diferentes. No Norte da União, os diários são fundamentalmente entregues em casa

(17) Ver a propósito Serge Grafteux, Le Conflit du Parisien libéré, Paris, 1975

e Le putsch d'Amaury, Paris, 1976.

(18) William Shawcross, Le village planétaire, Paris, 1993, pp. 197-217.

(10)

do leitor. No Sul, são sobretudo adquiridos, avulso, num posto de venda. Na Grã-Bretanha, 50% dos diários vendidos por dia são entregues no domicilio antes do pequeno-almoço. E o mesmo sucede em 63% dos casos na Alemanha e em 88% nos Países Baixos. Pelo contrário, o porta-a-porta não atinge senão 20% dos diários vendidos em França. E tal prática é pura e simplesmente inexistente em Itália(20).

A evolução dos investimentos publicitários também favoreceu significativamente a imprensa diária. Enquanto que numa parte da União se viu estes investimentos aumentarem na imprensa diária de 1,4 a 4,2 vezes entre 1980 e 1991, os mesmos investimentos aumentaram no mesmo período, 12,6 em Espanha, 14,3 na Grécia e 18,4 em Portu- gal(21).

Após dois decénios de "revolução", de "desregulamentação", a imprensa diária parece, enfim, ter encontrado novas marcas: ela não procurará mais concorrer com a rádio e a televisão no plano da função do anúncio da actualidade; procurará sim, em contrapartida, levar ao seu leitor uma informação factual rica e uma perspectivação dos acontecimentos da actualidade; procurará também dirigir-se a públicos cada vez mais exigentes de molde a satisfazer melhor as necessidades específicas de informação.

A europeização dos magazines

Enquanto que a imprensa diária operava a sua "revolução", os magazines eram objecto de um notável movimento de diversificação. Se os embaraços de tempo e de dimensão do mercado proíbem uma diversificação muito desenvolvida da imprensa diária, que se verificava ser financeiramente insustentável, a imprensa periódica conseguia, em trinta anos, adaptar-se às necessidades pontuais e específicas dos seus leitores. A revolução técnica que se operou nas oficinas de composição e de impressão tornou os magazines "produtos" de uma grande qualidade estética. A profusão da quadricromia fez com que as revistas se tomassem hipóteses importantes de escolha para os anunciantes. E esta abundância do maná publicitário provocou uma importante

i20) Jean-François Lemoine (dir.), L'Europe de la presse quotidienne régionale,

Paris, 1992, p. 34.

(21) Carat, European Newspaper and Magazine Minibook 1992, Oxon, 1992,

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diversificação, que permitiu aos editores atingir os mais variados públicos segundo a sua actividade ou centro de interesse e/ou segundo o seu nível cultural, nível de rendimentos, grupo etário ou sexo.

O homem de negócios, o engenheiro, o jogador de xadrez ou o pescador, encontrará sempre um magazine especializado sobre os assuntos que mais o interessam. O que não impede que os títulos dominantes na União sejam fundamentalmente os magazines de televisão, femininos ou generalistas. Entre os vinte e cinco primeiros títulos europeus, no que se refere à difusão, encontramos catorze maga­ zines de televisão com difusões que variam entre 1,2 e 3,3 milhões de exemplares, seis femininos, que variam entre 1,2 e 2,6 milhões de exemplares, e cinco generalistas, com 1,3 a 1,8 milhões de exemplaresí22).

Se existem hoje 982 diários nos países da União europeia(23),

contam-se, em contrapartida, cerca de 19.681 magazines(24). Sem

entrarmos em linha de conta com todos aqueles periódicos que adoptaram a forma de jornal em vez do de magazine (semanários dominicais ingleses e semanários de informação geral alemães, luxemburgueses ou portugueses). E também sem contar com os cerca de 3.750 jornais gratuitos que invadiram a Europa do Norte, mas que quase não existem na Grécia, na Itália, na Espanha e em Portugal.

Este dinamismo verificado nos magazines é igualmente evidenciado pela evolução dos investimentos publicitários, o que se traduziu por um movimento de alta de 4,331 a 10,441 mil milhões de dólares entre 1980 e 1991(25). Em comparação com a taxa de penetração

dos diários, a dos magazines é enorme: em França consomem-se 1.354 exemplares por cada 1000 habitantes, na Bélgica 1.183, nos Países Baixos 1.055, na Alemanha 1.018, na Itália 711, na Inglaterra 656 e em Espanha 218(26).

Todavia a grande novidade da "desregulamentação" no domínio dos magazines foi a sua europeização. Se a imprensa diária permanece essencialmente nacional ou regional, os magazines ultrapassam facilmente as fronteiras e dirigem-se deliberadamente a um público de

i22) Idem, ibidem, p. 16.

í23) Idem, ibidem, p. 11. Acrescentamos aí os quotidianos luxemburgueses.

(24) Idem, ibidem, p. 12. Todavia convirá acrescentar os quotidianos

luxemburgueses.

i25) Idem, ibidem, p. 9.

(26) Valérie Ganne e Isabelle Mandraud, "Le marché de la presse périodique

(12)

toda uma bacía linguística. A explicação é simples: o seu conteúdo é relativamente intemporal e pouco sensível aos factos estritamente nacionais. Hoje, certos magazines como por exemplo, os alemães Auto

Bild, Burda Moden, Capital, Geo e Prima, o inglês Essentials, o espanhol Hola, os franceses Elle, E/Ze Décoration, Aterá CZará e Notre temps, o

italiano Max, são editados na União europeia, em várias línguas e com conteúdos adaptados às especificidades socioculturais dos diferentes públicos.

Da raridade à abundância

Tanto em matéria de estações de rádio como de televisão, o Estado justificava as situações dê monopólio pela raridade que caracterizava o espaço hertziano. A expansão da modulação de frequência abrirá novas perspectivas neste domínio. A partir dos meados dos anos setenta, milhares de "rádios livres" assaltaram as velhas fortalezas da paisagem radiofónica europeiaí27). À via hertziana

virá juntar-se, desde os anos sessenta e setenta, uma segunda via: o cabo. Uma terceira, associar-se-á nos anos oitenta: os satélites. Terminava a situação de liberdade restrita da rádio e sobretudo da televisão.

O controle político dos Estados sobre os médias audiovisuais será assim posto em causa. No entanto a desmonopolização do sector operar-se-á de maneira diferente em cada país. Na Europa do Sul, as situações de facto precederam largamente as iniciativas do legislador nessa matéria. Em contrapartida, a desmonopolização operou-se pacífica e legalmente no Norte.

A Itália iniciou a corrida à desmonopolização da rádio desde 1975. A partir de 1977, o movimento atingiu a França, depois a Bélgica em 1978, a Espanha e Portugal em 1979(28). Quinze anos depois, a União

Europeia conta com cerca de oito mil estações de rádio: depois da penúria, a abundância... Os países do Norte possuem um número muito razoável de estações: 22 na Irlanda, 80 na Dinamarca, 109 na Inglaterra

C7) François Cazenave, Les radios libres, Paris, 1980, pp. 33-35.

í28) Mário Mesquita, "Os meios de comunicação social", in António Reis

(dir), Portugal, 20 anos de Democracia, Lisboa, 1994, p. 390. Ver também Adelino Gomes, "As danças da rádio", in Público, Lisboa, 8 de Abril de 1994, p. 11

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e 157 na Alemanha. Ao contrário, a Espanha possui 840, a França 1397 e a Itália perto de 4000(29).

Uma tal abundância levou os novos operadores de rádio a adoptar posicionamentos de modo a poder alcançar públicos específicos e a suscitar o interesse dos anunciantes. A maior diversificação verificar-se-á ao nível musical. Com programações centradas sobre os sucessos antigos ou os actuáis, mas também sobre determinados tipos de música: jazz, rock:, blues, música africana, música de dança, bandas sonoras de filmes, música de câmara, ópera... Outra novidade foi a do aparecimento de estações de rádio que praticam a informação contínua, e cujo primeiro e melhor exemplo é o de France-Info. Mas também se encontram igualmente outras estações radiofónicas que apenas se dedicam à informação sobre o mundo dos negócios, como, por exemplo,

BFM, em Paris. A outra particularidade da diversificação foi o

aparecimento de estações de rádio orientadas para públicos específicos: segundo os grupos etários ou as especificidades confessionais, éticas ou linguísticas do público. Assim encontramos hoje, um pouco por toda a União, estações de rádio dirigidas às crianças, aos adultos, aos idosos. Assim como se encontram aquelas que se dirigem a católicos, a judeus, a negros, a asiáticos, a hispanófonos e a tantos outros...

Todavia, a nota dominante das novas rádios é a da proximidade. Devido ao facto de que uma estação supõe a existência de poucos meios financeiros, pouco pessoal e poucos conhecimentos técnicos, muitas cidades pequenas, vilas, e mesmo bairros, possuem hoje uma estação de rádio enquanto que nunca tiveram um jornal próprio ou que este já não existe desde há muito tempo.

A dimensão económica

Esta proliferação de estações de rádio deu rapidamente lugar à formação de redes nacionais. E isso por razões publicitárias: era necessário propor ao anunciante uma cobertura nacional para as suas campanhas. E também por razões económicas: tornava-se necessário desenvolver as economias de escala de modo a que se pudesse investir na qualidade dos programas e na gestão das estações.

(14)

Algumas dessas redes passaram então a integrar grupos de médias já existentes: é o caso das francesas Fun e M 40, que pertencem, tal como a RTL, à CLT (Compagnie Luxembourgeoise de Télédiffusion(30)); Nostalgie e Montmartre FM, propriedade da Rádio

Monte Carlo (propriedade ela mesmo da Sofirad, uma empresa hol­

ding do Estado francês(31)); Europe 2 e Skyrock, que corn Europe 1 fazem

parte do grupo Matra-Hachette. Outras — saídas do nada ou de muito pouco — deram lugar à criação de verdadeiros grupos radiofónicos (é o exemplo de Radio Contact, na Bélgica, ou do grupo Baudecroux —

NRJ, Chérie FM, R ire et Chansons em França).

Verificamos que, há vinte anos, o sector da rádio na União era largamente dominado por estações de serviço público dependentes da taxa paga pelos detentores de receptores. Vinte anos depois, as rádios privadas, vivendo sobretudo das receitas publicitárias, são dominantes e apenas as rádios públicas belga flamenga, britânica, dinamarquesa e francesa recusam ainda a publicidade(32). Largamente voltadas para o

divertimento, as rádios privadas dão pouca importância à informação política, económica e cultural.

Uma recente iniciativa poderá constituir uma mudança importante na história da rádio europeia. Com efeito, desde Julho de 1993, a Multiradio, em Paris, comercializa "um ramalhete de cinco programas musicais, sem publicidade, nem animadores'^33), difundidos

por cabo. A rádio deixará assim de ser paga pela taxa (isto é: pelos possuidores de receptores) ou pela publicidade (isto é: pelos anunciantes), para passar a ser paga por aqueles que escolheram ouvi-la ou, pelo menos, ter a possibilidade de ouvi-la.

Entretanto a audiência das antigas rádios diminuiu, até porque o consumo global se manteve relativamente estável. E certos países viram mesmo a audiência das novas rádios ultrapassar a das que dominavam a paisagem radiofónica desde há dezenas de anos.

í30) J. - M. Nobre-Correia, "La CLT: querelle franco-belge autour d'une

luxembourgeoise", in Médiaspouvoirs, Paris, n° 27, Julho-Setembro de 1992, pp. 60-70.

(31) O grupo RMC encontra-se em vésperas de uma privatização...

anunciada há muitos anos!

(32) Stem, Europe 1993: Media, Hamburgo, 1993, p. 31.

(®) Le Monde, Paris, 13-14 Fevereiro de 1994, p. 22 (Le Monde Radio- Télévision).

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Em 1991, e em média, os Belgas concediam 240 minutos à escuta da rádio, os Gregos 198, os Britânicos 188, os Dinamarqueses e os Portugueses 180, os Franceses 177, os Alemães 162, os Neerlandeses 162, os Italianos 145, os Espanhóis Uma situação que reflecte hábitos de consumo muito variáveis, sem que se disponha de explicações satisfatórias para práticas tão diversas.

As diferentes escolhas estratégicas

Ao contrário do que se poderia julgar, as "televisões livres" surgiram antes das "rádios livres". Para tal contribuíram três elementos: o alijamento do material técnico de emissão, a implantação do cabo e o lançamento de satélites geoestacionários(35). O cabo permitia não

somente obter imagens de melhor qualidade, mas também captar estações de países limítrofes, trazendo assim uma certa concorrência às estações nacionais. Além disso permitia que as autoridades de um país tivessem algum controle sobre as imagens que veiculava. Por seu lado, os satélites facilitavam o acesso aos programas de países mais longínquos, ao mesmo tempo que permitiam ultrapassar o problema da instalação de emissores de retransmissão necessários a uma boa difusão de programas em todo o território nacional.

Em matéria de cabo, os países do Norte e os do Sul da União fizeram escolhas diametralmente opostas(36); a Bélgica (87,1% dos lares

equipados com receptores de televisão estão ligados à teledistribuição), o Luxemburgo, os Países Baixos (85,9%), a Dinamarca (46,ó%), a Irlanda (37,8%) e a Alemanha (31,5%) dispõem actualmente de uma forte implantação do cabo; em França (3,7%), na Grã-Bretanha (1,2%), na Espanha, na Grécia, na Itália e em Portugal, as redes de cabo quase não existem(37).

Também aqui, a desregulamentação operou-se de modo anárquico no Sul (Itália, Grécia e Espanha). No Norte, a

(M) Carat, European Radio Minibook, Oxon, 1992, p. 7.

(35) André Lange, "Politique audiovisuelle européenne", in Lucien Sfez

(dir.), ob. cit., p. 958.

(“) Raffaele Barberio e Carlo Macchitella, L'Europa delle televisioni, Bolonha, 1992, pp. 159-170. Hervé Michel e Anne-Laure Angoulvent, ob. cit., pp. 87-93.

Í37) Zenith, European Market and Mediafact 1992, Londres, 1992, p. 7.

(16)

desmonopolização efectuou-se segundo regras previamente estipuladas pelas autoridades competentes na matéria. O processo iniciou-se timidamente na Itália desde 1971 e acelerou-se a partir de 1976. Foi nesse mesmo ano que na Bélgica foi autorizada a criação de televisões locais. Hoje, todos os países da União Europeia conhecem uma situação de concorrência entre o sector público e o privado, com a excepção da Irlanda onde não existe televisão privada(38), e do Luxemburgo(39) que

é um caso particular. Enquanto, na Grécia, o sector público vê-se confrontado com numerosas "televisões livres", toleradas mas não reconhecidas oficialmente... e que ultrapassam largamente a audiência das três cadeias públicas!

Perante uma tal abundância, os operadores foram levados a procurar uma especificidade, de modo a alcançar resultados de audiência e de receitas publicitárias, e até mesmo de assinaturas, satisfatórias. Hoje, ao lado das antigas estações generalistas culturais ou regionais, encontram-se estações centradas sobre o cinema, o desporto, a música, a informação ou o documentário, mas também sobre as crianças.

Da seduçfto aos dissabores

O lançamento de satélites geo-estacionários(40) possibilitou a

criação de cadeias transnacionais, capazes de cobrir uma grande parte ou mesmo todos os países europeus. No entanto, tais cadeias confrontam-se com vários problemas. Em primeiro lugar, a língua: apenas com uma única excepção, a dos Luxemburgueses (que, não têm verdadeiramente escolha), todos os outros países membros da União europeia preferem ver os programas na sua língua materna e a audiência das estações estrangeiras é relativamente fraca(41).

Outro tipo de problema resulta dos diversos ritmos de vida: por toda a Europa todos se levantam, trabalham e tomam refeições a horas distintas. Daí, como organizar uma grelha de programas? A que hora

138) Hervé Michel e Anne-Laure Angoulvent, ob. cit., pp. 66 e 67.

139) J. - M. Nobre-Correia, "La CLT punta alla conquista delTEuropa del

Nord", in Problemi dell'informazione, Bolonha, vol. XVHI, n° 1, Março de 1993, pp. 93-104.

140) Raffaele Barberio e Carlo Macchitella, ob. cit., pp. 135-157.

(17)

colocar o telejomal? A que hora dar início à programação de serão? Além disso as concepções de diversão ou de humor não são idênticas na Inglaterra, Itália, França ou Alemanha. E como fazer publicidade em cadeias transnacionais? Os produtos não têm o mesmo nome em todos os sítios. A utilização que se faz de certos utensílios ou produtos não é também idêntica no Norte ou no Sul. Em suma, "a procura de sinais, referências e imagens comuns às diversas culturas é um processo muito mais contraditório e caótico do que o que subentendem as visões unívocas da transnacionalização de culturas, de economias e de mercados" (42).

Mas na maior parte dos casos, o balanço financeiro dos médias transnacionais não é famoso. Dai a fusão da Sky Television e da Bristish

Satellite Broadcasting na BSKyB. Daí também os acordos entre Eurosport

e TV Sport que deram origem a duas versões diferentes de Eurosport. E ainda, daí também, o controle do Super Channel pela estação americana

NBC. Os seus operadores conservam porém a esperança, pois sabem

que é absolutamente necessário ocupar o terreno para que outros não tomem o seu lugar no momento em que o contexto favoreça mais tais cadeias.

Mas não foram apenas as cadeias transnacionais que demonstraram ser, por vezes, maus negócios. Vários grupos de médias decidiram finalmente renunciar à televisão: em Itália, foi o caso de Mondadori e Rusconi. Outros fizeram uma operação de prestígio e de relações públicas, mais do que uma operação financeira: sabe-se, por exemplo, que a rentabilidade da francesa TF1 é muito decepcionante. Outros ainda, sofreram sérias perdas: foi o caso de Fininvest, de Hersant e sobretudo de Hachette no episódio de La Cinq; ou, mais recentemente, o caso de Bertelsmann com Vox. E a Independent Television Comission viu-se constrangida a não atribuir licença de emissão à quinta rede hertziana nacional por falta de candidatos,... tendo apenas um respondido ao apelo!^43)

A televisão exerce, com evidência, um poder de sedução real sobre os homens de negócios. Mas ela exerce-o ainda mais junto dos simples espectadores. Em 1990, os Portugueses consagravam-lhe 3 h. e 44 m. por dia, em média, os Irlandeses 3 h. e 20 m., os Britânicos 3 h. e

í42) Armand Mattelart, "Communication et médias, matière à risque", in

Jean-Marie Charon (dir.), L'Etat des médias, p. 23. f43) Le Monde, Paris, 24 de Dezembro de 1992.

(18)

19 m., os Italianos 3 h. e 17 m., os Franceses 3 h. e 10 m., os Espanhóis 3 h. e 4 m., os Dinamarqueses 2 h. e 38 m., os Alemães 2 h. e 36 m., os Belgas 2 h. e 12 m., os Gregos 2 h. e 10mv e os Neerlandeses 2 h.í44).

Um inquérito recente sobre as actividades dos Europeus(45)

mostrava que estes, em cada dia, consagram 8 h. e 30 m. ao sono, 3 h. e 33 m. ao trabalhoí46), 3 h. e 5 m. a ver televisão e 2 h. e 3m. a ouvir

rádio. São estas as quatro actividades mais importantes dos Europeus. A leitura de um quotidiano não vem senão na 14a posição, e apenas

com 26 minutos. E a leitura de um magazine está na 22a posição, com

13 minutos.

Uma profunda mudança de natureza

Todo este processo de desregulamentação trouxe aos cidadãos europeus uma diversidade de conteúdos e um potencial de escolhas antes ignorados. A paisagem mediática é hoje muito mais matizada e plural do que anteriormenteí47). Todavia este mesmo processo conduziu

a uma concentração que alcançou enormes proporções: um relatório recente da Comissão europeia observava que o "sector dos médias caracterizava-se por um nível de concentração muito mais elevado em relação a outros sectores e por uma trama complexa de redes de participações e de propriedades dos médias centrados em tomo de alguns grandes operadores nacionais"(48). Alguns grupos outrora

monomédias tornaram-se enormes grupos multimédias(49), sem que

as autoridades públicas tenham sempre procurado evitar situações de monopólio de facto nesta ou naquela região. Na Bélgica, por exemplo, diários como La Nouvelle Gazette e Vers VAvenir, títulos dominantes nas províncias do Hainaut e do conjunto Namur-Luxemburgo

f44) Carat, European Television Minibook 1992, Oxon, 1992, p. 19. 145) IP, Les Européens, Paris, 1992, p. 20.

146) ... Mas cerca de 28% de Europeus que trabalham fazem-no durante 7h.

e 20 m. em média.

Í47) J.- M. Nobre-Correia, "Formes et limites du paysage médiatique

européen", in François Féron et Amelle Thoraval (dir.), L'Etat de l'Europe, Paris, 1992, pp. 285-292.

f48) CCE, Pluralisme et concentration des médias dans le marché intérieur,

Bruxelas, 1992, p. 27.

(19)

respectivamente, ocupam-se da informação regional para a RTL-TVI (televisão), para a Bel RTL (rádio) e também, no segundo caso, para a

Radio Nostalgie. Situações que, também se encontram por exemplo, na

Alemanha ou na Itália.

Conduzida paralelamente com o aggiornamento técnico, esta bulimia concentracionista supôs investimentos muito pesados por parte dos operadores. E tanto mais quanto uma tal bulimia arrastou uma sobre-avaliação das empresas adquiridas e uma mobilização de capitais consideráveis em sectores cronicamente deficitários mas para os quais se previa um futuro promissor. Daí os níveis de endividamento que provocaram o desmantelamento do grupo Maxwell(50), a fusão de

Hachette e Matra, a aquisição do Groupe Expansion(51) ou o equilíbrio

difícil de News International (Murdoch) (52), de Fininvest (Berlusconi)

e de Hersant(53), todos os três à beira do abismo.

Tais dificuldades não passaram desapercebidas. Porque, os médias não interessam somente, como outrora, as famílias tradicionalmente presentes na imprensa ou na edição. Doravante eles interessam, e muito, os meios industriais e financeirosí54). Hoje em Itália,

a imprensa escrita é largamente controlada por Fiat (automóvel), Olivetti (informática), Ferruzzi (agro-alimentar) e Monti (petróleo)(55).

Os grandes grupos médias em França estão nas mãos da Alcatel- Alsthom (telecomunicações e material eléctrico), Bouriez (distribuição e luxo)(56), Bouygues (construção e trabalhos públicos), Chargeus

(transportes e têxtil), Générale des Eaux (distribuição de água), Louis

(“) J. - M. Nobre-Correia, "Captain Bob, bulldozer tout terrain", in Trends

Tendances, Bruxelas, 18 de Agosto de 1988, pp. 32-33.

(51) Libération, Paris, 16 de fulho de 1993.

(52) J. - M. Nobre-Correia, "Citizien Murdoch élargit son empire", in Trends Tendances, Bruxelas, 25 de Agosto de 1988, pp. 38-39.

(53) J. - M. Nobre-Correia, "Hersant se taille une nouvelle veste", in Trends Tendances, Bruxelas, 29 de Setembro de 1988, pp. 63-64.

(54) yer a propósito Francisco Pinto Balsemão, "Europe: de l'économie des

médias et de leur autonomie", in Médias pouvoirs, Paris, n° 36, 4° trimestre, 1994, pp. 97-101.

(55) J. - M. Nobre-Correia, "Le pouvoir d'informer", in Trends Tendances,

Bruxelas, 16 de Junho de 1988, pp. 54-55.

(K) J. - M. Nobre-Correia, "La chasse aux titres", in Trends Tendances, 13 de

Outubro de 1988, pp. 63-68. Em lunho de 1994, o grupo Bouriez vendeu as suas participações no sector dos medias ao grupo britânico Emap.

(20)

Vuitton-Moët Hennessy (marroquinaria e bebidas espirituosas), Lyonnaise des Eaux-Dumez (distribuição de água, construção e obras públicas), Matra (aeronáutica e electrónica)(57), L'Oréal (cosmética)... A

Once (lotarias), tem um papel considerável na paisagem mediática espanhola. Em Portugal, o peso da Sonae (finança e grande distribuição) está longe de ser negligenciável. E conhece-se o papel desempenhado na Bélgica pelos grupos Van Thillo, Cobepa (isto é, Paribas)(58) e

Laf arge-Coppée (59)...

Estes meios industriais e financeiros explicam o seu interesse pelos médias afirmando que a comunicação será dentro de pouco tempo um sector promisso^60). Na realidade, "a sinergia entre os interesses

dos grandes sectores de produção mundial de bens e de serviços de grande consumo, e os das indústrias da comunicação e da cultura é cada dia mais nítido, como consequência da simbiose funcional entre a comunicação e o consumo"(61). Por outro lado, os médias permitem

aos meios industriais e financeiros orientar os debates socio-económicos e fazer sentir o seu peso nas decisões políticas. Um cálculo que se tomou tanto mais fácil quando, quase por toda a União Europeia — com a única excepção provável da Grã-Bretanha —, a lógica de serviço público desapareceu perante a de mercado e quando a legitimação cultural dos médias deu lugar a uma legitimação económica. Por outras palavras: "a gestão pelo Estado das actividades de comunicação recuou significativamente em proveito dos operadores privados"(62). Uma

lógica que se acentuará ainda: após a Guerra do Golfo e depois da aceleração da crise dos investimentos publicitários que desencadeou, alguns grandes operadores médias preparam estratégias de desenvolvimento de substituição. Estratégias 'Visando menos a recolha dos meios publicitários e mais atentas à redução de custos de transacção

(57) J. - M. Nobre-Correia, "Deux géants plutôt boulimiques", in Trends Tendance, Bruxelas, 23 de Junho de 1988, pp. 54-55.

(M) J. - M. Nobre-Correia, "L'irrésistible ascension", in Trends Tendances,

Bruxelas, 9 de Março de 1989, pp. 48-49.

(") J. - M. Nobre-Correia, "La renaissance d'un rescapé", in Trends Tendances, Bruxelas, 18 de Maio de 1989, pp. 52-54.

(6°) yer a propósito J.-M. Nobre-Correia e Joseph Vebret (dir.), "Opa sur les

médias" (dossier), Médiaspouvoirs, Paris, n° 36, 4° trimestre, 1994, pp. 37-137. (61) Bernardo Díaz Nosty, "Un año de profundas transformaciones", in Comunicación social 1989 Tendencias, Madrid, 1989, p. 18.

(21)

que se pode obter dirigindo-se directamente ao consumidor final e à sua capacidade de pagamento'^63).

Os riscos de uma deslocação

Por todo o lado, face ao desenvolvimento da "televisão sem fronteiras'^64) e, mais geralmente, face ao desenvolvimento dos grupos

médias transnacionais, os pequenos países perdem a sua identidade social e cultural, a sua alma, diluindo-se nas paisagens mediáticas dos que dominam a bacia linguística a que pertencem. Os casos da Bélgica(65), da Irlanda e do Luxemburgo são, a este respeito,

particularmente evidentes... Mas, em termos diferentes, esta situação envolve todos os países europeus. Com efeito, hoje, a maior parte dos filmes e folhetins que são exibidos nos nossos pequenos ecrãs têm origem americana: "na Europa, 125.000 horas de programas são difundidas anualmente, e somente 25.000 horas aí são produzidas'^66).

E a maior parte das sequências de informação internacional que ilustram os jornais televisivos têm por origem as agências anglo-americanas

(Reuters Television, WTN, CBS, News e a CNN fundamentalmente).

Numa outra perspectiva das coisas, a diversificação actual dos médias não deixa de pôr um problema político importante. Levada ao extremo, esta diversificação provoca inevitavelmente uma fragmentação social e cultural da audiência(67). O que quer dizer que,

precisamente onde os médias tinham outrora um papel de integração dos leitores, dos ouvintes e dos espectadores na vida da "cidade", eles poderiam desempenhar muito bem hoje um papel de desintegração social e de afastamento dos seus públicos da vida da "cidade".

Por outro lado, se é verdade que a pluralidade dos médias nunca foi tão grande como hoje é, todavia, conveniente ter alguma reserva

C63) Giuseppe Richeri, La TV che conta, Bolonha, 1993, pp. 7-8.

í64) Hervé Michel e Anne-Laure Angoulvent, ob. cit.

r pp. 11-13

i65) J. - M. Nobre-Correia, "La Belgique, département médiatique français"

in Médiaspouvoirs, Paris, n° 23, Julho-Setembro, 1991, pp. 55-63.

Í66) Gérard Eymery, "Enjeux du câble et de la télévision par satellite", in

Lucien Sfez (dir.), ob. cit., p. 956.

(67) J. - M. Nobre-Correia, "Les multiples pratiques du public", in François

(22)

face a essa pluralidade. A observação da paisagem mediática europeia permite, com efeito, notar que os grandes médias, aqueles que são susceptíveis de exercer uma influência sobre o grande público, estão nas mãos de grupos económica, sociológica e ideologicamente dominantes. Segundo um relatório recente do Europaisches Medieninstitut, de Düsseldorf, durante os próximos anos, a informação europeia estará nas mãos de sete ou oito grandes gruposí68). É verdade

que os grupos minoritários, críticos, disfuncionais, podem também dispor dos seus próprios médias. Mas médias cujas condições económicas e técnicas de existência não lhes permitem alcançar uma audiência significativa. O que quer dizer que a actual paisagem mediática europeia é sobretudo o reflexo de uma arquitectura dual, em que os médias de público restrito desempenham um papel de "faire-valoir" indispensável à imagem pluralista que os grandes médias pretendem dar à paisagem mediática. Ora, a liberdade pública da comunicação acomoda-se mal com uma excessiva concentração dos médias. "A preservação da concorrência é não apenas uma caução de eficácia económica mas também uma aposta para a democracia"(69).

Os médias, outrora submetidos aos poderes políticos ou aos interesses partidários, destacaram-se deles para entrar na órbita das lógicas industriais dos operadores e das lógicas comerciais dos anunciantes. Uma evolução muito favorecida pelo "espírito da época", o processo de desregulamentação e a expansão vertiginosa da "comunicação de empresa" desde há dois decénios, a esta parte. A pluralidade dos médias encontra-se assim cada vez mais concebida em função das necessidades dos anunciantes — e pretende pois alcançar o leitor, o ouvinte e o espectador enquanto consumidor — e não em função das necessidades dos cidadãos — quer dizer: do leitor, do ouvinte e do espectador-actor da vida social, política e cultural do seu país. Uma deslocação que não deixa de conter riscos tanto para o presente como para o futuro das nossas sociedades democráticas.

í68) Pierre-Yves Lochon e Alfonso Sanchez-Tabemero, "Concentration des

médias européens: le double visage", in Médiaspouvoirs, Paris, n° 24, Outubro- Dezembro, 1991, pp. 31-38.

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