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UMA METÁFORA MATEMÁTICA PARA UM DRAMA AMOROSO: O CARÁTER DE UM DISCURSO MACHISTA

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UMA METÁFORA MATEMÁTICA PARA UM DRAMA AMOROSO: O CARÁTER DE UM DISCURSO MACHISTA

Valmir Nunes Costa – UFAL 0 Introdução

O presente trabalho é, na realidade, um pequeno exercício de Análise do Discurso, não tendo a pretensão de aprofundamento. Ressentimo-nos do tempo necessário para um maior incurso, e esse contexto podou-nos um pouco levando-nos apenas a esta modesta e propedêutica análise.

Trata-se de uma leitura do poema Poesia Matemática, de Millôr Fernandes (texto anexo). Antes de entrar no conteúdo propriamente teórico do presente artigo, gostaríamos de refletir um pouco sobre o trabalho do analista do discurso, para introduzir finalmente nossa análise. Pedimos a atenção do leitor para uma narrativa bastante breve que iremos introduzir:

Um aluno de pós-graduação em Lingüística mencionou, durante a apresentação de um seminário sobre análise do discurso, onde apresentou uma análise de um certo poema, mencionou que já o conhecera antes, em uma das aulas que tivera no segundo grau, quando seu professor (de matemática), antes de introduzir o assunto da aula, o leu.

Interessante que o aluno mencionou que na ocasião não tinha depreendido tanto sentido quanto agora; que não tinha visto no poema discursos a exemplo do discurso machista.

O que na realidade aconteceu foi que o máximo que se fez em tal leitura foi uma interpretação do poema, não se utilizando dos instrumentos de análise da AD: a visão do texto através de suas categorias. Para perceber discursos subjacentes aos discursos claros nos textos, é necessária uma atividade com os discursos que vá além da interpretação, e além mesmo da descoberta de seus sentidos. É necessário ver como tais sentidos se constroem no texto; como o discurso se organiza para conseguir os seus efeitos.

A AD tem a virtude de esclarecer como muitos discursos funcionam; como adquirem certos efeitos, e como se relacionam com outros, os quais muitas das vezes são conflitantes entre si.

Toda análise subentende uma interpretação, mas a análise do discurso não estaciona aí. Diferentemente da hermenêutica que, interpretando textos religiosos, literários e jurídicos, tem a interpretação como um fim em si mesmo, a análise do discurso vai além, ao buscar o modo como o símbolo significa. Assim atesta Orlandi (2007) quando diz:

(...) A análise do discurso (...) teoriza a interpretação, isto é, coloca a interpretação em questão. Nesse sentido, o estudo do discurso distingue-se da hermenêutica. A análise do discurso visa a fazer compreender como os objetos simbólicos produzem sentidos, analisando assim os próprios gestos da interpretação que considera como atos no domínio simbólico, pois eles intervêm no real do sentido. A análise do discurso não estaciona na interpretação, trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos processos de significação. Também não procura um sentido verdadeiro através de uma chave de interpretação. Não há esta chave, não há método, há construção de um dispositivo teórico. Não há uma verdade oculta atrás do texto. Há gestos de interpretação que constituem e que o analista, com seu dispositivo, deve ser capaz de compreender.

Na presente análise pretendemos ver o lado semântico do texto em foco (Poesia Matemática1, de Millôr Fernandes; texto anexo) visto que o mesmo presta-se primordialmente a este tipo de análise. É uma metáfora para um fato humano: a paixão, termo de sentido amplo, mas que no texto denota o

1 Texto extraído do livro "Tempo e Contratempo", Edições O Cruzeiro - Rio de Janeiro, 1954, pág. sem número,

publicado com o pseudônimo de Vão Gogo. (esta informação está no site

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apego emocional e amoroso que uma personagem (o Quociente) despertou por uma outra (uma Incógnita).

Embora escrito em forma de poema, trata-se de uma narrativa, pois se utiliza do sistema verbal do pretérito, que é o conjunto de tempos por excelência da narração. Além do mais, nele manifestam-se todos os elementos da narrativa, os quais respondem às perguntas quando (um dia), quem (um Quociente e uma Incógnita), onde (às folhas tantas de um livro matemático), e o que (um Quociente apaixona-se doidamente por uma incógnita). Denota maior objetividade (efeito de sentido), uma vez que foi escrito em terceira pessoa, opção esta feita pelo narrador visando a transmitir efeitos de objetividade. Casa esse uso de terceira pessoa (debreagem interna)2, com a escolha de uma terminologia matemática, o que remete para um tipo de linguagem específico: o das ciências exatas. Por intermédio da debreagem de segundo grau, através das citações diretas das falas das personagens, cria a unidade discursiva denominada discurso direto e cria um efeito de sentido de verdade. Esse recurso está presente no texto nas linhas 17, 19 e 20. Com efeito, afirma Fiorin (2006) que “o discurso direto proporciona ao enunciatário a ilusão de ouvir o outro, suas ‘verdadeiras’ palavras”. Embora o autor use a simbologia abstrata da matemática; uma linguagem dotada de noções lógicas e exatas, mas que figura no palco de um drama velho conhecido de todos: “um quociente (sujeito ativo da ação principal da trama) apaixona-se doidamente por uma incógnita (sujeito passivo da ação principal da trama), às folhas tantas do livro matemático”, situado num tempo indeterminado: um dia.

1 Desestabilizações ou indícios de conflitos

No poema pode-se perceber que há uma desestabilização a partir da linha 15 (até que se encontraram no infinito), a qual continua por todo o poema ( E assim se amaram / ao quadrado da velocidade da luz, linhas 25 e 26). Importante perceber que o narrador, no início do poema usa a expressão apaixonou-se, o que alude a um comprometimento entre as personagens duvidoso e passageiro (e assim se amaram / ao quadrado da velocidade da luz, linha 25 e 26) ; uma relação onde um é vítima do desejo do outro; o que corrobora a desestabilização no poema. A partir daí, a figura feminina passará do objeto de desejo ao elemento desprezível, culminando com a colocação: “desse problema ela era a fração mais ordinária”. Aí as palavras fração e ordinária deturpam a imagem da Incógnita (o elemento feminino).

2 Análise das categorias 2.1 O intradiscurso

Na oposição Quociente(Q) / Incógnita(I), podemos comparar os termos que são aplicados a um e a outro; convém entretanto separar o levantamento desses termos em dois momentos distintos, assim como se estrutura o poema: 1º momento, até a linha 47; 2º momento, até o final do texto. 1º MOMENTO

QUOCIENTE (Q) INCÓGNITA(I)

Olhar inumerável Figura ímpar

Apaixonou-se Olhos rombóides

Ânsia radical Boca trapezóide

2

“A debreagem é um ‘dar a voz’. Bom, se a enunciação é sempre pressuposta, então essa voz vai sempre ser dada a outrem, em outro tempo e lugar que o tempo, espaço e pessoa da enunciação. Eu posso usar esse recurso internamente ao texto, instituindo uma dimensão enunciativa outra, de um texto dentro do texto (o dialogo, a leitura de uma carta, de um jornal etc.). Em "Marcos disse - Estou aqui!" é uma delegação de voz, portanto uma debreagem interna. O texto que diz "Ele estava ali." também delega essa voz a outrem, um narrador, ator do discurso.”

A presente nota explicativa foi calcada no site SEMIOFON:

http://www.semiofon.org/modules/newbb/viewtopic.php?viewmode=flat&order=ASC&topic_id=81&forum=8& move=prev

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Corpo ortogonal Seios esferóides

No primeiro momento o Quociente se expõe mais. Aí ele é o que se apaixona com ânsia; qualifica a Incógnita e a identifica como seu objeto de prazer. É o momento de conjunção na oposição conjunção amorosa versus disjunção amorosa, a qual rege todo o poema. Aí já podemos ver que o discurso poético é atravessado pelo discurso amoroso. O discurso da matemática também atravessa claramente este discurso através da utilização da sua linguagem.

2º MOMENTO

QUOCIENTE (Q) INCÓGNITA (I)

A fração mais ordinária

O texto, a partir do segundo momento, dá a entender que, tendo havido uma traição por parte da Incógnita (Foi então que surgiu / O Máximo Divisor Comum / Freqüentador de Círculos Concêntricos / Viciosos / Ofereceu-lhe, a ela, / Uma Grandeza Absoluta,/ E reduziu-a a um Denominador Comum. Linhas 51 a 58), o “romance” se desestabiliza e causa a disjunção amorosa, característica deste segundo momento. Ao entendermos as ações das figuras matemáticas como sendo personagens que se apaixonam, se casam, se traem... na realidade estamos nos referindo a discursos que são mobilizados pelo autor por meio de tais metáforas e de tais personagens. Neste poema é delatado um conflito entre dois discursos, um amoroso e outro matemático. A figura da mulher é depreciada, de um lado, através da escolha dos termos a ela relacionados ( incógnita, fração ordinária, etc.), deixando claro que para que ela seja, possa e tenha seja necessário primeiro saber quem está do outro lado da equação, ou seja, o quociente. O valor da incógnita, nesse raciocínio é relativo, dependerá do quociente (o elemento masculino). O conflito entre estes discursos está no fato de o valor de um quociente também ser relativo e depender do valor da incógnita. O discurso da matemática, nesse caso, só poderá contribuir com o efeito de sentido pretendido pelo sujeito se o “cálculo matemático” na hora de raciocinar, considerar apenas um lado de tal equação. Geralmente as pessoas comuns estacionam na primeira impressão (viri de problemate matematica non cogitant).

Voltando à narrativa, a não-aceitação de sua (a do Quociente) condição de traído, ou de fazer parte de um triângulo amoroso, faz com que o Quociente passe de um estado de apaixonado para um estado de frustração amorosa, “motivo suficiente para desqualificar a Incógnita”, sublimando sua frustração com a construção da metáfora matemática que obnubila tanto sua frustração quanto o machismo “camuflado”. Por meio desta personagem, o autor presentifica no texto o ponto de vista comportamental relativo à mulher, revelando um preconceito responsável pela produção do discurso machista. As figuras geométricas podem perfeitamente passar por experiências humanas, pois estão num nível supra-humano. O que está por trás de tais experiências, no entanto, são pessoas de carne e osso que fazem de suas histórias objetos de lazer vendáveis; isso é sublimar; é dar um fim “positivo” a histórias que na vida real nem sempre tiveram um final feliz.

O texto traz a partir da linha 32 indícios de que tal relacionamento não subsistiria, dispensando assim a análise dos termos aplicados a um e a outro:

32 “Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas 33 E os exegetas do Universo Finito.

34 Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. 35E, enfim, resolveram se casar”.

Juntando a isso, o fato de os dois terem se encontrado no infinito (linhas 15 e 16) , implica também uma pista que nos encaminha para tal conclusão.

2.2 As condições de produção

Podemos dizer que, quanto às condições amplas de produção, o principal a se observar é que trata-se de um texto literário; sendo assim, segundo alguns autores, “haveria” um descompromisso com a realidade. Na verdade, tal afirmação é um pré-construído; sabe-se que a literatura mobiliza seus recursos no sentido do engajamento; no compromisso, portanto, com o social. Depois, o poema tem condicionantes sociais que corroboram atitudes de preconceitos de toda sorte, incluído o machista.

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Expressos em forma de piadas, “poemas”, etc., esses preconceitos até são comercializados, atendendo a propósitos de uma sociedade capitalista, onde tudo pode ser objeto de compra e venda.

O contexto de produção do presente texto é o de uma sociedade capitalista onde há muita desigualdade de gênero. Nela, o mercado seleciona aqueles “mais aptos à produção”. A mulher neste contexto não compete em condições de igualdade, mas ainda sofre o estigma da “fragilidade”; ainda vive em muitos casos à sombra do elemento masculino, que “provê”; que domina e que tem essa mulher como uma propriedade sua.

Quanto às condições restritas de produção, podemos mencionar que o poema foi extraído de um livro humorístico, onde o pseudônimo do autor, presente no livro, já é, em si, uma dessacralização de um vulto importante da história da arte, Vincent Van Gogh, (Vão Gogo). A data de publicação também é importante (1954), pois aí o machismo é um elemento cultural muito forte. Obvio torna-se que ignorar esse contexto altera-se todo o sentido do texto. É também por isso que as pessoas não conseguem perceber além do discurso da superfície; nesse caso, o poético, justamente por desconhecer o contexto de sua produção.

2.3 O interdiscurso

A poesia matemática constitui um discurso poético atravessado pelo discurso amoroso, pelo discurso da matemática e pelo discurso machista. Uma análise do intradiscurso permite ver que o discurso machista predomina, apesar de estar mais ofuscado pelo discurso da matemática, pelo amoroso e, principalmente, pelo poético. Aliás, este é um modo como o discurso se organiza de modo a não dar a entender que dialoga com outros, muitas das vezes dominantes em relação a este.

É interessante notar que nenhum discurso subsiste sem essa relação com outros. Daí, é conveniente perguntar com quais outros discursos um discurso em mira se relaciona. Foi exatamente o que faltou na aula relatada no início deste texto, para que o aluno percebesse que aquele texto lido por seu professor tinha outros discursos subjacentes veiculados pelo seu sentido poético.

2.4 A formação ideológica

Para a introdução deste item, calham bem as palavras de Mussalim (2004):

Althusser (1970) afirma que a classe dominante, para manter sua dominação, gera mecanismos que perpetuam e reproduzem as condições materiais, os aparelhos ideológicos de Estado (AIE). O discurso, como também já foi apontado, é um “aparelho ideológico” através do qual se dão os embates entre posições diferenciadas.

É possível perceber através do poema em estudo que há uma tentativa de controle, de manutenção do status quo através das posições dos discursos nele mobilizados (Desse problema ela era a fração mais ordinária); ao mesmo tempo há um conflito, em que o sujeito conforma-se à situação gerada ( Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade / E tudo que era espúrio passou a ser moralidade / Como, aliás, em qualquer sociedade.). Ocorre que esse conflito não é apenas um embate entre estes dois discursos, mas é, antes, um confronto entre forças ideológicas. O conflito, materializado na alternância das posições que a personagem Quociente ocupa durante seu trajeto amoroso – primeiro perturba-se com a formação do triângulo amoroso, depois acomoda-se à situação - , é característico de posições ideológicas de uma determinada classe. A mulher, embora depois de o homem acomodar-se ao triângulo amoroso, continua numa posição de desigualdade (da equação, ela era a fração mais ordinária).

A formação ideológica não é, portanto, um discurso em si, mas um conjunto de determinações a partir das quais todo discurso deve-se acomodar. É a partir dela que os discursos revelam pretensões; tentam mostrar como é certo agir; perdem sua inocência.

O texto em estudo se utiliza, dentro da linguagem verbal da simbologia matemática, indício de que tal escolha se presta perfeitamente a um propósito que não é previamente claro. Poderíamos imaginar o mesmo discurso sem o uso da simbologia matemática... certamente que ficaria claro que há uma espécie de apologia ao elemento masculino dentro da narrativa poética. A linguagem matemática

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é, portanto, um modo de mascarar esse atravessamento discursivo. Tal atravessamento, se por um lado é claro para o analista do discurso, pode não ser para um leitor comum (como aquele aluno de matemática). As conclusões em favor de um discurso machista podem-se dar a partir de outros poemas do mesmo autor. Amador Ribeiro Neto3, em crítica literária ao poema hai-kai, menciona outros campos onde a problemática abordada neste texto aparece. Por exemplo, no amor (infidelidade amorosa, encantos da sexualidade feminina). De certa forma, tais textos dialogam com a poesia

matemática analisada aqui, no sentido de corroborar essa formação discursiva que se manifesta no

poema em análise.

Por que a escolha da metáfora matemática e não de uma outra qualquer? Qual o porquê da escolha de Quociente para a figura masculina e de Incógnita para a figura feminina? Quociente, segundo o dicionário Larousse Cultural (1992), significa resultado da divisão. Pode-se deduzir daí que num relacionamento entre um Quociente e uma Incógnita o dominante será sempre o Quociente, enquanto que a Incógnita (variável de uma equação matemática) dependerá do que estará do outro lado de tal equação para se definir, ou seja, dependerá do Quociente.

Os sentidos do texto dependem da compreensão de tais escolhas. Podemos provar, com elementos do texto, que estamos diante de um discurso que tem em sua formação discursiva outros discursos, mas, predominantemente, o machista. Tal poema deve sua existência, não ao comprometimento estético/humorístico o qual importa ao gênero humano, mas com os efeitos da manipulação que produz tal linguagem junto ao público. É quase uma propaganda; um cortejo laudatório ao perfil do elemento masculino, que, em oposição ao elemento feminino teria a dádiva do domínio físico e intelectual, herança da natureza. Aí entra a memória discursiva, onde o sujeito do discurso atualiza já-ditos, mas que tem a impressão de que é dono do seu dizer: “há uma relação entre o já-dito e o que se está dizendo que é a que existe entre o interdiscurso e o intradiscurso ou, em outras palavras, entre a constituição do sentido e sua formulação”. (Orlandi, op. cit.).

É uma afirmação acertada a de que quando o sujeito acha que é dono do seu dizer está apenas se iludindo, pois este sujeito apenas ocupa um lugar dentro da formação de onde fala. Para Lacan, psicanalista que reinterpretou a psicanálise em termos de linguagem, todo sujeito é clivado; não é dono do que diz, visto que seu discurso “consciente” é, boa parte do tempo, determinado por outros discursos codificados no inconsciente; é a relação de si com o Outro. O inconsciente é propriamente linguagem; é formado pelo conjunto dos discursos incorporados durante a sua vida.

No poema em estudo, o discurso poético detona o discurso machista quando o sujeito traz o Outro à tona através da voz deste outro.

3 Conclusão

Um texto revela significados, mas nem sempre revela sentidos de primeira mão. Estes estão subjacentes à prática discursiva cuja forma de utilização dos elementos da estrutura lingüística pode ser decisiva para hospedar sentidos nem sempre claros ao leitor desatento. No poema em estudo, podemos depreender um discurso camuflado que atravessa o mais patente (o amoroso), cujo sentido mobiliza preconceito de gênero. Trata-se de um discurso pseudo-autoritário, visto que não tem base numa característica legítima do gênero humano, mas apenas num traço de cultura.

Se olharmos o poema da perspectiva do gênero de discurso nele presente, poderemos ver que o sujeito é interpelado por essa perspectiva. Balocco (2005) afirma que “o discurso do amor romântico cria duas posições de sujeito: um sujeito atuante, cujas ações repercutem no outro, e outro passivo, afetado pelas ações do outro. No interior deste discurso, freqüentemente associa-se a posição do sujeito atuante aos homens e a de sujeito passivo às mulheres”. Isto é o que constatamos no poema em estudo, o que revela, no nosso ponto de vista, o discurso machista, mas que no poema aparece de forma opaca; num atravessamento quase imperceptível, dada à forma como o texto é escrito.

Referência

3 NETO, Amador Ribeiro. Millôr densidade, secura, economia e comunicabilidade poética brilham diamantes. No site http://www.revista.agulha.nom.br/millor.html#amador. Acessado em 16/06/2008. Amador Ribeiro Neto é professor de Teoria da Literatura na UFPB e doutorando em Semiótica na PUC-SP, onde prepara tese sobre poesia e música popular.

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BARROS, Diana Luz Pessoa de. Estudos do discurso. In: FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à lingüística II: princípios de análise. São Paulo: Contexto, 2003.

Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Nova Cultural (Librarie Larousse), 1992. FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. 14. ed.-São Paulo: Contexto,2006.

MUSSALIM, Fernanda. Análise do discurso. In: MUSSALIM, Fernanda & BENTES, Ana Cristina (organizadoras). Introdução à lingüística 2: domínios e fronteiras. 4ª. Ed. São Paulo:Cortez, 2004. (p.101-142)

ORLANDI, Eni P. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 7ª ed. Campinas, São Paulo: Pontes, 2007.

TATIT, Luiz. A abordagem do texto. In: FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à lingüística I: objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2003.

VOESE, Ingo. Análise do discurso e o ensino de língua portuguesa. São Paulo: Cortez, 2004.

http://www.secrel.com.br/jpoesia/millor07.html (acessado dia 18/05/08), enviado por Bárbara Jô bjgmachado@sec.secrel.com.br

NETO, Amador Ribeiro. Millôr: densidade, secura, economia e comunicabilidade poética brilham

diamantes. No site http://www.revista.agulha.nom.br/millor.html#amador. Acessado em 16/06/2008

ANEXO

Poesia Matemática 1 Às folhas tantas 2 Do livro matemático 3 Um Quociente apaixonou-se 4 Um dia 5 Doidamente 6 Por uma Incógnita.

7 Olhou-a com seu olhar inumerável 8 E viu-a, do Ápice à Base,

9 Uma Figura Ímpar;

10 Olhos rombóides, boca trapezóide, 11 Corpo otogonal, seios esferóides. 12 Fez da sua

13 Uma vida 14 Paralela a dela

15 Até que se encontraram 16 No Infinito.

17 "Quem és tu?" indagou ele 18 Com ânsia radical.

19 "Sou a soma dos quadrados dos catetos. 20 Mas pode me chamar de Hipotenusa." 21 E de falarem descobriram que eram 22 - O que, em aritmética, corresponde 23 A almas irmãs -

24 Primos-entre-si. 25 E assim se amaram

26 Ao quadrado da velocidade da luz 27 Numa sexta potenciação

28 Traçando

29 Ao sabor do momento 30 E da paixão

31 Retas, curvas, círculos e linhas sinoidais.

32 Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas 33 E os exegetas do Universo Finito.

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34 Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. 35E, enfim, resolveram se casar

36 Constituir um lar. 37 Mais que um lar, 38 Uma perpendicular.

39 Convidaram para padrinhos 40 O Poliedro e a Bissetriz.

41 E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro 42 Sonhando com uma felicidade

43 Integral 44 E diferencial.

45 E se casaram e tiveram uma secante e três cones 46 Muito engraçadinhos

47 E foram felizes 48 Até aquele dia 49 Em que tudo, afinal, 50 Vira monotonia. 51 Foi então que surgiu 52 O Máximo Divisor Comum

53 Freqüentador de Círculos Concêntricos. 54 Viciosos.

55 Ofereceu-lhe, a ela, 56 Uma Grandeza Absoluta,

57 E reduziu-a a um Denominador Comum. 58 Ele, Quociente, percebeu

59 Que com ela não formava mais Um Todo, 60 Uma Unidade. Era o Triângulo,

61 Tanto chamado amoroso. 62 Desse problema ela era a fração 63 Mais ordinária.

64 Mas foi então que o Einstein descobriu a Relatividade 65 E tudo que era expúrio passou a ser

66 Moralidade

67 Como, aliás, em qualquer 68 Sociedade.

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