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Avaliação da percepção de risco no uso de calçados femininos

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Academic year: 2021

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Avaliação da percepção de risco no uso de calçados femininos

Júlio Carlos de Souza van der Linden (FEEVALE) jlinden@feevale.br

Lia Buarque de Macedo Guimarães (UFRGS) lia@producao.ufrgs.br

Resumo

Este artigo apresenta resultados parciais de uma pesquisa que investigou a relação entre a percepção de risco, a percepção de conforto e os aspectos ligados à aparência no uso de calçados femininos. Focaliza a percepção de risco no uso do calçado feminino de salto alto e bico fino, considerando freqüência de uso, conhecimento/experiência com acidentes relacionados ao uso e atitude diante de riscos em geral. O instrumento utilizado foi um questionário, aplicado a grupos de mulheres em oito diferentes ambientes de trabalho. Os resultados foram analisados por meio de Análise de Aglomerados e testes não-paramétricos. Foi encontrada associação significativa entre o uso do calçado e a percepção de riscos. Palavras-chave: Percepção de riscos; Calçado feminino; Saltos altos.

1. Introdução

O uso do calçado feminino de salto alto e bico fino chama a atenção por estar fortemente relacionado a aspectos simbólicos e estéticos que vêm sobrepujar eventuais riscos que a ele possam ser associados (DANESI, 1999). Por ser considerado parte da “boa aparência”, esse tipo de calçado é exigido em diversas situações de trabalho. Faz parte do imaginário social da boa apresentação, que vem sendo reforçado por recomendações de novos profissionais, como consultores de imagem.

Em ambientes de trabalho, diversos fatores levam à ocorrência de acidentes e o uso pelas mulheres de calçados inadequados pode ser incluído entre as causas potenciais de eventos dessa natureza. Particularmente, quando associado com fatores organizacionais e físico-ambientais, o calçado tem sido apontado como causa de acidentes ocupacionais (NAGATA, 1991). Em diversas situações a pressão por produtividade leva à adoção de comportamentos de risco, como descer rapidamente uma escada carregando volumes usando um calçado instável. Nessas circunstâncias, quando ocorre o acidente, este é atribuído a descuido. Raramente ocorre a percepção de que a boa aparência no trabalho, muitas vezes, é obtida às custas de exposição a riscos. Os estudos de Nagata (1991), com relação a a acidentes em escadarias, e de Manning e Jones (1995), sobre quedas devidas a pisos polidos, contudo, atribuem a causa de acidentes ao uso de calçados de saltos altos.

Como conseqüência da intensificação do uso de calçados femininos de saltos altos, tem crescido a preocupação com os efeitos na saúde do uso de calçados concebidos a partir de critérios estilísticos, desconsiderando aspectos de segurança, saúde e conforto. Além de provocar acidentes, esse tipo de calçado pode trazer outros malefícios (SMITH & HELMS, 1999; FREY, 2000; PHELAN, 2002). O uso contínuo provoca desconforto físico, agravado pela manutenção por longo tempo de postura em pé, em algumas situações de trabalho. Aghazadeh & Lu (1994), Lee et al. (2001), Gefen et al. (2001) e Kaharan & Bayaraktar (2003) apresentam argumentos contra o uso de saltos altos no trabalho, associando-o ao aumento da fadiga, desconforto e à ocorrência de dores. Também têm sido estudados os efeitos do uso do calçado na marcha e na postura, considerando as suas conseqüências na saúde (GEHLSEN et al., 1986; MENZ & LORD, 1999; ARNADOTIR & MERCER, 2000). Contudo, a falta de estudos epidemiológicos tem sido uma importante barreira para a

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realização de uma discussão quanto à periculosidade desse calçado, tal como vem sendo discutida a questão dos riscos proporcionados à saúde pelo uso de cigarros (LINDER & SALTZMAN, 1998). Com o intuito de contribuir para a compreensão dos fatores que afetam o uso desse tipo de calçado, este artigo apresenta uma análise da percepção de mulheres quanto ao risco no seu uso. Esse estudo faz parte de uma pesquisa que investigou a relação entre a percepção de risco, a percepção de conforto e os aspectos ligados à aparência no uso do calçado feminino. Devido às limitações de espaço, são apresentados e discutidos apenas os resultados referentes à percepção de risco.

2. Procedimento Metodológico

A avaliação da percepção de risco foi realizada por meio de instumento quantitativo, de acordo com o recomendado por Sjöberg (2000). O instrumento contou com questões referentes à freqüência de uso do calçado, à percepção sobre os riscos no uso do calçado, ao conhecimento/experiências com acidentes ligados ao uso e à atitude diante de riscos em geral. A freqüência de uso do calçado feminino, registrada a partir da declaração da freqüência de uso de seus elementos (salto alto, bico fino e salto fino), foi utilizada para classificar os grupos de usuárias. Para cada elemento do calçado, foram oferecidas cinco opções de resposta quanto ao uso: Não; Diariamente; Freqüentemente; (pelo menos uma vez por semana); Eventualmente (pelo menos uma vez/mês); e Raramente (menos de uma vez por mês).

A questão relativa à avaliação da percepção dos riscos no uso do calçado femininos teve como referência o método proposto por Abdelhamid et al. (2003) para avaliar a percepção de riscos de trabalhadores da construção civil. Esse método considera que o reconhecimento do perigo depende do contexto e é sujeito ao julgamento individual, ou seja, uma pessoa pode reconhecer o perigo onde outra percebe uma condição segura. A tendência de uma pessoa reconhecer situações de perigo depende de sua orientação ao risco, além do que a sensibilidade das pessoas em relação a condições inseguras é diferente. Com essas premissas, esse método mede a sensibilidade e a orientação do indivíduo em relação ao risco a partir da avaliação de suas respostas (“é inseguro”, “é seguro” e “não sei”) a um conjunto de afirmativas que descrevem situações reais de trabalho. Para adaptar o instrumento a esta pesquisa, foram listadas expressões que caracterizam diferentes tipos de riscos no uso de calçados femininos, a partir do referencial teórico quanto a acidentes no uso de calçados: − Condições seguras: “Usar sapato com bico fino freqüentemente”, “Subir escadas utilizando

sapatos de saltos altos” e “Subir escadas utilizando sapatos de saltos muito finos”.

− Condições inseguras: “Caminhar com sapatos de saltos altos (acima de 4 cm)”, “Caminhar com sapatos de saltos muito finos”, “Caminhar em pisos úmidos utilizando sapatos de saltos altos”, “Caminhar com pressa utilizando sapatos de saltos altos”, “Usar sapato com saltos altos freqüentemente”, “Descer escadas utilizando sapatos de saltos altos”, “Descer escadas utilizando sapatos de saltos muito finos”, “Carregar objetos utilizando sapatos de saltos altos” e “Levantar pesos utilizando sapatos de saltos altos”.

Considerando a possibilidade dos seus efeitos na percepção de risco, foi avaliada a experiência e o conhecimento das respondentes quanto a acidentes com calçados de saltos altos. Para tanto, foram apresentadas as seguintes expressões: “Você já sofreu acidentes com o uso de calçados de saltos altos?”; “Você já presenciou acidentes com o uso de calçados de saltos altos com outras mulheres?”; e “Você já ouviu falar de acidentes com o uso de calçados de saltos altos com outras mulheres?”. Essa questão utilizou uma escala verbal de cinco pontos, com três âncoras: “nunca”, “alguma vezes” e “com muita freqüência”.

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a atitude diante de riscos em geral. Com o uso de uma escala de concordância, apresentou as seguintes expressões, formuladas a partir do referencial teórico: “Os acidentes acontecem por falta de cuidado”; “Comigo nunca acontecem acidentes, eu tomo cuidado”; “Os acidentes são fatalidades”; “Os riscos fazem parte do trabalho”; e “A prevenção contra riscos garante um futuro saudável”.

3. Resultados

Este estudo foi conduzido junto a oito instituições, compreendendo instituições de ensino (médio e superior), empresas de serviço, comércio e indústria. Os questionários foram distribuídos apenas a mulheres, independentemente de seleção prévia. Desse modo, a amostra foi constiuida por usuárias e não usuárias do tipo de calçado em foco. A amostra contou com 347 mulheres com idades entre 16 e 67 anos.

A freqüência de uso de calçados com saltos altos, saltos finos ou bicos finos, é apresentada na Tabela 1. Com o uso do Teste do Qui-Quadrado, verificou-se que existem diferenças significativas para todas as freqüências de uso, com exceção de uso de bicos finos “raramente” e “eventualmente”.

N Nunca Raramente Eventualmente Freqüentemente Diariamente

12 26 42 113 154 Uso de saltos altos 347

3,46% 7,49% 12,10% 32,56% 44,38% 96 61 83 80 27 Uso de saltos muito finos 347

27,7% 17,6% 23,9% 23,1% 7,8% 87 69 67 99 25 Uso de bicos finos 347

25,1% 19,9% 19,3% 28,5% 7,2% Tabela 1 Freqüência de uso das variáveis saltos altos, saltos muito finos e bicos finos

Para identificar grupos de usuárias com comportamentos de uso similares, foi utilizada Análise de Aglomerados pelo método hierárquico, com o fim de explorar os dados, e pelo método k-Means, para a definição dos grupos. Foram encontrados os seguintes grupos:

a) Grupo 1: uso diário e freqüente de saltos altos e finos e bicos finos (n=36); b) Grupo 2: uso diário ou freqüente de saltos altos e finos e bicos finos (n=76);

c) Grupo 3: uso diário ou freqüente de saltos altos e não-uso ou uso raro de saltos finos e bicos finos (n=84);

d) Grupo 4: uso raro ou eventual de saltos altos e não-uso de saltos finos e bicos finos (n=63); e

e) Grupo 5: uso diário ou freqüente de saltos altos e uso eventual de saltos finos e bicos finos (n=83).

As perguntas referentes à atitude diante de riscos em geral foram analisadas por meio do agrupamento das respostas utilizando a Análise de Aglomerados, pelo método de k-Means. Dessa forma, foi possível determinar perfis de atitude diante de riscos em geral. Os resultados indicaram a formação de três agrupamentos, que foram nomeados de acordo com suas características, ou seja a partir distribuição de respostas para as cinco expressões sobre riscos: a) autoconfiante, caracterizado por concordar com as expressões “Os acidentes acontecem

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b) fatalista, caracterizado por discordar das expressões “Os acidentes acontecem por falta de cuidado” e “Comigo nunca acontecem acidentes, eu tomo cuidado” e por concordar com as expressões “Os acidentes são fatalidades” e “Os riscos fazem parte do trabalho”; e c) cuidadosa, caracterizado por discordar das expressões “Os acidentes acontecem por falta

de cuidado”, “Comigo nunca acontecem acidentes, eu tomo cuidado”,“Os acidentes são fatalidades” e “Os riscos fazem parte do trabalho”.

A expressão “A prevenção contra riscos garante um futuro saudável” não apresentou associações significativas com qualquer grupo.

A associação entre a atitude diante do risco e o uso do calçado foi analisada por meio do Teste Exato de Fischer, sendo encontrada encontrada associação significativa (p=0,001). Na Tabela 2 pode-se observar que as mulheres que usam diariamente e/ou freqüentemente calçados com saltos altos e finos e bicos finos apresentam associação significativa com o perfil “autoconfiante”. Por outro lado, as mulheres que não usam ou fazem uso raro desse tipo de calçado apresentam associação significativa com o perfil “cuidadosa”.

Atitude diante de risco

Grupos de usuárias N Autoconfiante Fatalista Cuidadosa

Freqüência observada 21 11 4

Percentual 58,3% 30,6% 11,1%

1 uso diário e freqüente de saltos altos e finos e bicos finos

36

Resíduo ajustado 1,7 -0,7 -1,3

Freqüência observada 43 29 4

Percentual 56,6% 38,2% 5,3%

2 uso diário ou freqüente de saltos altos e finos e bicos finos

76

Resíduo ajustado 2,2 0,5 -3,5

Freqüência observada 29 30 25

Percentual 34,5% 35,7% 29,8%

3 uso diário ou freqüente de saltos altos e uso raro de saltos finos e bicos finos

84

Resíduo ajustado -2,3 0,0 2,9

Freqüência observada 26 19 18

4

Percentual 41,3% 30,2% 28,6%

uso raro ou eventual de saltos altos e finos e bicos finos

63

Resíduo ajustado -0,7 -1,0 2,1

83 Freqüência observada 36 33 14

Percentual 43,4% 39,8% 16,9%

5 uso diário ou freqüente de saltos altos e uso eventual

de saltos finos e bicos finos Resíduo ajustado -0,4 0,9 -0,6

Total 342 Freqüência observada 155 122 65

Percentual 45,3% 35,7% 19,0%

Tabela 2 - Perfil de atitude diante de risco x “grupo de usuária”

Para avaliar a percepção quanto aos riscos no uso do calçado, com a adaptação do método proposto por Abdelhamid et al. (2003), foram gerados dois indicadores: Sensibilidade ao Risco e Estratégia diante do Risco. A Sensibilidade ao Risco (Srisco) foi estabelecida por meio

da razão entre o somatório de acertos e rejeições corretas e o total de situações apresentadas (seguras e inseguras). O valor de Srisco varia entre 0 e 1, sendo 0 quando todas as situações

inseguras são reconhecidas como seguras e as situações seguras são reconhecidas como inseguras, e 1 quando todas as situações inseguras e seguras são reconhecidas corretamente. A Estratégia diante do Risco (Erisco) foi calculada por meio da razão entre o somatório de

acertos e falsos alarmes e o total de situações seguras. Para o conjunto de situações seguras e inseguras utilizadas neste instrumento, o valor de Erisco varia entre 0 e 1,33, sendo 1 quando

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situações seguras. Valores abaixo de 1, por seu lado, indicam a tendência a uma estratégia ousada, ao reconhecer como seguras as situações inseguras. A Tabela 3 apresenta as médias e desvios-padrão para Srisco e Erisco de acordo com os grupos de usuárias.

Grupos de Usuárias

1 2 3 4 5

n média dp n média dp n média dp n média dp n média dp

Sensibilidade ao Risco (Srisco) 36 0,59 0,18 78 0,61 0,17 85 0,65 0,14 63 0,68 0,13 85 0,62 0,15

Estratégia diante do Risco

(Erisco) 36 0,80 0,42 78 0,94 0,35 85 1,11 0,28 63 1,15 0,25 85 0,95 0,31

Tabela 3 - Médias e desvios-padrão para Srisco e Erisco de acordo com os grupos de usuárias.

Por meio do Teste de Kruskal-Wallis verificou-se a ocorrência de diferenças significativas entre os grupos para a Sensibilidade ao Risco e para a Estratégia diante do Risco (Srisco p=

0,017; Erisco, p=0,000). Diante disso, foi procedido o Teste Não-Paramétrico de Comparação

de Médias, cujos resultados são apresentados na Tabela 4. Observa-se que o grupo 4 apresenta maior sensibilidade aos riscos no uso do calçado feminino de saltos altos e finos e bicos finos que os grupos 1, 2 e 5. De forma similar, os grupos 3 e 4 demonstram uma estratégia conservadora, diferenciando-se dos demais.

Grupos de Usuárias

1 2 3 4 5

Sensibilidade ao Risco (Srisco) G2 G2 G1, G2 G1 G2 1,2,5 < 4

Estratégia diante do Risco (Erisco) G2 G2 G1 G1 G2 1,2,5 < 3,4

Tabela 4 - Grupos de médias para Srisco e Erisco de acordo com os grupos de usuárias

Da mesma forma, foi avaliada a existência de diferenças significativas entre os diferentes perfis de atitude diante do risco Tabela 5. Os resultados indicaram que as mulheres com perfil Cuidadosa têm maior sensibilidade diante dos riscos do uso do calçado, além de apresentarem estratégia mais conservadora. Na medida em que esses resultados são esperados, validam a classificação desse perfil.

Atitude diante de riscos

Autoconfiante Fatalista Cuidadosa

1 2 3

Sensibilidade ao Risco (Srisco) G2 G2 G1 1,2 < 3

Estratégia diante do Risco (Erisco) G2 G2 G1 1 ,2<3

Tabela 5 - Grupos de médias para Srisco e Erisco de acordo com a Atitude diante de riscos

Com o objetivo de agrupar as respondentes com semelhantes percepções quanto ao risco no uso do calçado, foi procedida a Análise de Aglomerados pelo método de k-Means. Foram encontrados os seguintes grupos, conforme a sua percepção de risco no uso:

a) risco baixo - baixa Srisco e Erisco de alto risco

b) risco moderadamente baixo - baixa Srisco e Erisco moderada;

c) risco alto - alta Srisco e Erisco conservadora; e

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A comparação entre os grupos de usuárias e a percepção de risco no uso indicou a existência de associações significativas para todos os grupos. Os grupos 1 e 2, que utilizam diariamente e/ou freqüentemente os calçados de saltos altos e finos e bicos finos, apresentam associação significativa com a percepção de baixo risco. Por outro lados, os grupos 3 e 4, que utilizam raramente ou eventualmente, apresentam associação significativa com alto risco. O grupo 5 apresenta associação significativa com risco moderadamente baixo. Esses resultados reforçam a constatação de que o uso do calçado está associado à percepção de risco.

Percepção de risco

Grupos de usuárias N

Risco

baixo moderada-Risco mente baixo Risco moderada-mente alto Risco Alto Freqüência observada 5 9 9 13 Percentual 13,9% 25,0% 25,0% 36,1%

1 uso diário e freqüente de saltos altos e finos e bicos finos

36

Resíduo ajustado 3,4 1,2 -,1 -2,1

Freqüência observada 6 16 22 34

Percentual 7,7% 20,5% 28,2% 43,6%

2 uso diário ou freqüente de saltos altos e finos e bicos

finos 78 Resíduo ajustado 2,1 ,7 ,7 -1,9

Freqüência observada 1 10 20 54

Percentual 1,2% 11,8% 23,5% 63,5%

3

uso diário ou freqüente de saltos altos e uso raro de

saltos finos e bicos finos 85 Resíduo ajustado -1,4 -1,7 -,4 2,2

Freqüência observada 1 3 14 45

Percentual 1,6% 4,8% 22,2% 71,4%

4 uso raro ou eventual de saltos altos e finos e bicos

finos 63 Resíduo ajustado -1,0 -3,0 -,6 3,2

Freqüência observada 0 24 23 38

Percentual ,0% 28,2% 27,1% 44,7%

5 uso diário ou freqüente de saltos altos e uso eventual

de saltos finos e bicos finos 85 Resíduo ajustado -2,1 2,9 ,4 -1,8

347 Freqüência observada 13 62 88 184

Percentual 3,7% 17,9% 25,4% 53,0%

Tabela 6 - Percepção de risco no uso de acordo com os grupos de usuárias

Os resultados da questão sobre experiência e conhecimento relacionados a acidentes no uso de calçados de saltos altos são apresentados na Tabela 7.

N Nunca Algumas vezes Com muita freqüência 0 1 2 3 4

334 Freqüência observada 145 60 128 5 7 “Você já sofreu acidentes com o

uso de calçados de saltos altos” Percentual 42,03% 17,39% 37,10% 1,45% 2,03% 334 Freqüência observada 71 40 185 23 28 “Você já presenciou acidentes

com o uso de calçados de saltos

altos com outras mulheres” Percentual 20,46% 11,53% 53,31% 6,63% 8,07% 339 Freqüência observada 34 33 199 30 43 “Você já ouviu falar de acidentes

com o uso de calçados de saltos

altos com outras mulheres” Percentual 10,03% 9,73% 58,70% 8,85% 12,68% Tabela 7 - Experiência de acidentes no uso de calçados de saltos altos e o conhecimento de acidentes ocorridos

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Da mesma forma como procedido para outras questões, as respostas foram tratadas com a Análise de Aglomerados pelo método k-Means, com a finalidade de gerar agrupamentos com comportamentos similares. Os resultados levaram à formação de três agrupamentos:

a) Grupo 1: sofreu poucos acidentes, presenciou e ouviu falar de alguns; b) Grupo 2: sofreu poucos acidentes, presenciou e ouviu falar de poucos; e c) Grupo 3: sofreu muitos acidentes, presenciou e ouviu falar de muitos.

Com base nesses agrupamentos, foram procedidas análises estatísticas para verificar associações com uso do calçado, atitude diante dos riscos e percepção quanto ao risco no uso do calçado feminino. Para o uso do calçado feminino de saltos altos e finos e bicos finos re para a atitude diante de riscos não foram encontradas associações significativas. Para a percepção quanto ao risco no uso do calçado feminino, encontrou-se associação significativa apenas para a “Estratégia diante do Risco” (p=0,018). Os resultados do Teste Não-Paramétrico de Comparação de Médias, apresentados na Tabela 8 demonstram que os grupo 1 e 3 apresentam uma estratégia mais conservadora em relação ao grupo 2.

sofreu poucos acidentes, presenciou e ouviu falar de alguns

sofreu poucos acidentes, presenciou e

ouviu falar de poucos

sofreu muitos acidentes, presenciou e

ouviu falar de muitos

1 2 3

Estratégia diante do Risco (Erisco) G1 G2 G1 2<1,3

Tabela 8 - Teste Não-Paramétrico de Comparação de Médias: Associação entre agrupamentos referentes à experiência e conhecimento sobre acidentes e Estratégia diante do Risco (Erisco)

4. Considerações finais

O uso de calçados de saltos altos e finos e bicos finos tem sido apontado como um faor de riscos à saúde das mulheres, além de haverem indícios de associação com acidentes ocupacionais. A despeito disso, o seu uso é crescente, sugerindo que as mulheres que o utilizam não o vêm como uma fonte de perigo. Os resultados apresentados neste artigo demonstram que o uso está relacionado com a atitude diante dos riscos em geral e com a percepção dos riscos associados ao uso do calçado.

A atitude diante dos riscos apresenta-se com um dos fatores associados a diferenças no comportamento de uso. Para o grupo de mulheres com atitude fatalista, os resultados indicam indiferença. Para as mulheres com atitude cuidadosa, observou-se associação com uso raro ou eventual dos elementos de risco do calçado feminino. Já as mulheres com atitude autoconfiante estão associadas ao uso diário ou freqüemte. O grupo de uso diário e freqüente (grupo 1) não está associado a qualquer dos tipos de atitude diante do risco.

A percepção de risco apresenta uma associação consistente com o uso do calçado feminino de saltos alto e fino e bicos fino. Os grupos com maior freqüência de uso apresentam associação com a percepção de baixo risco, enquanto os com menor freqüência de uso apresentam associação com percepção de alto risco, e o grupo intermediário apresenta percepção de risco moderado-baixo.

Encontrou-se ainda que a experiência e conhecimento com relação a acidentes não apresentam efeito no uso do calçado ou na atitude diante do risco.

Os resultados apresentados permitem demonstrar que a adoção do calçado está associada ao modo como as mulheres percebem o risco de seu uso. Particularmente, o não-uso é decorrente de uma associação com a percepção de riscos à sua integridade física. Por outro lado, os

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fatores associados à adoção desse tipo de calçado estão além da percepção de baixo risco no seu uso, que por si não seria determinante do uso. Esses fatores, que não foram analisados neste artigo, referem-se a aspectos simbólicos citados na literatura como benefícios do uso desse calçado (SEALE, 1995; DANESI, 1999; PHELAN, 2002) e os autores pretendem abordá-los em outro artigo.

Referências

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