PROPOSTAS PARA O FORTALECIMENTO DO CONTROLE INTERNO E MELHORIA DOS MARCOS REGULATÓRIOS E PRÁTICAS
PARA O SETOR DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO
O Brasil vive momento determinante do seu futuro, em que a sociedade exige novos para-digmas nas relações comerciais entre o poder público e setores privados. Esse cenário exige um posicionamento firme da construção civil e do mercado imobiliário, na direção do forta-lecimento dos paradigmas que tradicionalmente pautam sua atuação e no reforço de meca-nismos que modernizem o ferramental de controle interno de entidades e empresas do setor. O cuidado e o respeito à ética nos negócios não são uma novidade na construção civil e no mercado imobiliário brasileiro, posicionamento reafirmado em todas as oportunidades e, es-pecialmente, agora.
Mais que reafirmar nosso compromisso com a ética, apresentando sugestões e propostas, a construção civil deve contribuir para a melhoria dos marcos regulatórios e práticas que hoje regulam o relacionamento entre os setores público e privado.
No intuito de prover ferramental para modernizar a gestão de entidades e empresas, o SINDUSCON-RO e SINDUSCON-PVH apresentam um conjunto de propostas para aperfeiçoar os marcos regulatórios em vigor, para prevenir o risco da prática de desvios, com o objetivo comum de fomentar a transparência e os mais elevados padrões da livre e ampla concorrência empresarial. Além de participar da reflexão sobre como tornar mais efetivas a fiscalização e punição de desvios, a construção civil quer colaborar no esforço para impedir que eles aconteçam.
1. OBRAS CIVIS
1.1 Ausência de Tabela de Preços de serviços do Município de Porto Velho: A falta da
Tabela de Preços da Construção Civil, a não inclusão nas referidas tabelas dos custos referentes às exigências das Convenções Coletivas de Trabalho do setor, das Normas Regulamentadoras do MTE e do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos da Construção Civil, faz com que as planilhas orçamentárias não refletem os custos reais dos serviços a serem executados.
Proposta: Reestruturação do Setor de Orçamentos e Custos do Departamento de
2. LICITAÇÕES
2.1 Projetos: A ausência de projetos executivos nas licitações públicas, orçamentos
imprecisos e consequentes aditivos ou revisões de projetos, aprovados com subjetividade, tem causado transtornos às empresas contratadas quanto ao andamento das obras.
Proposta:
a) Evitar licitações de obras sem projetos completos de Engenharia, com planilhas
bem quantificadas, com preços exequíveis, com as respectivas Anotações e Registros de Responsabilidades Técnicas – ART/CREA-RO e RRT/CAU-RO.
b) Assegurar que as contratações de serviços de arquitetura e urbanismo e
engenharias sigam às devidas especificações técnicas dos serviços a serem contratados pelos órgãos públicos.
c) Devem considerar a confecção de editais consistentes como base essencial para
a realização de licitações de obras públicas a serem implementadas obrigatoriamente apenas após a elaboração prévia de projetos completos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharias.
d) Adotar o critério da melhor técnica no julgamento de licitações para projetos de
Arquitetura e Urbanismo e Engenharias para obras públicas, considerando-se que são serviços de natureza predominantemente intelectual.
e) Disponibilizar informações com total transparência e utilizar intensamente boas
práticas de comunicação social, para sua melhor compreensão e possibilidade de reflexão autônoma da comunidade.
2.2 . Subdivisão de Grandes Obras: A definição de objeto a ser licitado deve levar em conta
a possibilidade de sua subdivisão no maior número possível de lotes, técnica e economicamente viáveis, sob pena de concentrar o mercado em poucas empresas.
Proposta: A administração pública deve divulgar as justificativas técnicas e
econômicas que fundamentem a subdivisão - ou não - do objeto licitado.
2.3. Licenças Ambientais: A disciplina vigente sobre licitações não condiciona o
ambientais atinentes. Sem essa definição, tais licenciamentos são deixados para momento subsequente, durante a execução do contrato, gerando-se o risco de comprometimento da própria exequibilidade do empreendimento de acordo com os critérios inicialmente previstos.
Proposta: A Prefeitura se responsabilizará:
a) Pelo fornecimento da Licença Ambiental Prévia, requisito para publicar o Edital do certame;
b) Pelo fornecimento da Licença Ambiental da Instalação, requisito para a emissão da Ordem de Serviço.
c) Possibilidade de um Termo de Cooperação com o Governo do Estado para o fornecimento de Licenças Ambientais de Obras contratadas pelo Estado, de forma simplificada.
2.4. Orçamento Responsável: Não são poucos os casos em que o orçamento de referência
da administração contratante tem como base projeto incompleto ou então é feito de forma a ajustar-se à verba disponível para o empreendimento, mesmo que sabidamente insuficiente. O resultado desses procedimentos são os "ajustes" posteriores à licitação, via de regra prejudicam o bom andamento da obra.
Proposta: A Prefeitura deve responsabilizar-se técnica e administrativamente pela
elaboração dos orçamentos de referência nas licitações.
3. CONTRATOS
3.1. Alvará para Construção de Obras Públicas: A documentação referente à
propriedade/posse do terreno, exigida pelo Município para a emissão do Alvará, cria dificuldades às empresas na obtenção do referido Alvará, prejudicando o início da obra.
Proposta: Os documentos exigidos para emissão do Alvará, tais como,
escritura/documento de posse da área, projetos previamente aprovados pelo setor competente da Prefeitura, certidões negativas e de cartório, ART/CREA e RRT/CAU-RO de elaboração dos projetos de arquitetura, deverão ser de responsabilidade da Contratante.
Após análise da documentação exigida e aprovação dos projetos pelo setor competente, a Prefeitura fornecerá um Documento de Aprovação Prévia, que deverá ser entregue ao órgão contratante.
A contratante só poderá emitir a Ordem para inicio dos serviços, após o recebimento do referido Documento, os quais deverão ser entregues à contratada. A contratada ficará responsável pelo Alvará de Construção, apresentando o Documento de Aprovação Prévia e o pagamento das taxas.
3.2. Equilíbrio na gestão contratual: O desequilíbrio existente entre o contratante e o
contratado, no que diz respeito a direitos e responsabilidades nos contratos, gera um excessivo empoderamento do administrador público, cabendo a ele decidir sobre questões que deveriam estar previamente definidas nos processos licitatórios. Cumprir prazos é obrigação de contratante e de contratado. Aquele em relação à fiscalização, liberação das medições e de seus respectivos pagamentos. Ao contratado, executar os serviços na qualidade exigida e nos prazos acordados.
3.2.1. Cumprimento dos Contratos: Contratos são atos jurídicos perfeitos e como tal devem
definir com total clareza o conjunto de obrigações, direitos e responsabilidades das partes. Disponibilidade de recursos suficientes para execução do objeto contratado, prazos para pagamentos, especificações técnicas e de materiais, caracterização com-pleta do empreendimento (projeto) - são requisitos legais pra validade do contrato. O não cumprimento de tais requisitos enseja a prática da má gestão ou, via de regra, a busca de soluções não lícitas para a superação dos problemas decorrentes.
Proposta: Fazer cumprir os direitos e deveres, tanto do Contratante como da
Contratada, descritos no Contrato.
3.3. Disponibilidade de recursos: A boa execução da obra pressupõe o respeito ao
cronograma físico-financeiro aprovado no contrato, ou a necessidade de sua adequação. A prática, entretanto, tem mostrado que a disponibilidade efetiva de recursos para pagamento de serviços executados está condicionada à situação de gestão das finanças públicas. Deixar de pagar, atrasar pagamentos ou pagar parcialmente - são recursos utilizados pela administração pública sem qualquer ônus, como formas de equilibrar seu caixa. Essa prática induz à busca de soluções individuais
Proposta: Havendo comprovada necessidade de revisão da previsão inicial, a administração pública deverá emitir prévio aviso, negociando entre as partes novo cronograma que leve em conta os custos decorrentes.
3.4. Transparência: Cronologia dos Pagamentos: Os pagamentos por serviços executados
devem seguir rigorosamente a cronologia de seu registro formal. A empresa que execu-tou seu serviço primeiro tem direito a receber antes daquela que execuexecu-tou posteriormen-te. Não respeitar essa ordem tem ensejado práticas ilícitas, com vantagens para uns e prejuízos para os demais.
Proposta: A Prefeitura deve tornar pública, semanalmente, a relação de
pagamento das contratadas, em ordem cronológica dos pagamentos, por órgão contratante.
4. LICENCIAMENTO INTEGRADO
4.1. Morosidade na obtenção de Licenças e Alvarás.
Proposta:
a) Criação de um setor único de Licenciamento, integrando todos os departamentos
licenciadores, com modernização da base cadastral, do sistema de
georreferenciamento e tributação que possibilite a abertura e acompanhamento de processos de forma digital obtendo agilidade e criação de meios para atenuar a burocracia e os custos;
b) Formação de um corpo técnico qualificado e permanente, possibilitando a existência de um planejamento de longo prazo e uma fiscalização suficiente a acompanhar o desenvolvimento do município.
5. TRANSPARÊNCIA
Proposta: Formação de uma rede de instituições públicas e privadas que possam
estabelecer um canal de relacionamento sobre o desenvolvimento urbano do Município.
5.1 OUVIDORIA
Proposta: Criação de canal direto de comunicação entre as entidades da
construção, órgãos de controle e Ministério Público.
6. PLANEJAMENTO URBANO
Propostas:
a) Criação do Instituto de Planejamento Urbano;
b) Utilização de indicadores sociais como parâmetros de auxílio ao planejamento; c) Repensar a representatividade do Conselho da Cidade e demais Conselhos;
d) Cumprimento obrigatório da revisão do Plano Diretor e toda legislação urbanística, implementação do Plano de Mobilidade e Plano de Habitação e formação do Plano de Saneamento, com o uso de uma metodologia transparente com efetiva participação técnica e social;
e) Estabelecer o ordenamento territorial dos distritos do município;
f) Priorização do pedestre, criando condições para que as pessoas utilizem as ruas e se sintam seguras. Deve-se somar esforços para criar espaços públicos mais qualificados e atrativos, com diferentes tipologias e usos e com fachadas ativas que atraiam mais pessoas;
g) Associar mobilidade e território, incentivando o adensamento populacional nas áreas já consolidadas, gerando uma rede de transporte público articulada, de forma a gerar mais densidade, mas com qualidade e diversidade de usos.
As políticas de mobilidade devem priorizar o transporte público de alta capacidade articulados a outros modais, como devido incentivo aos ciclistas e pedestres;
h) Priorizar empreendimentos habitacionais para população de baixa renda agregados a um projeto de cidade, aproveitando a infraestrutura existente nas áreas urbanas já consolidadas, não periféricas. As periferias devem ser consolidadas e integradas à cidade, recebendo infraestruturas e equipamentos públicos de alta qualidade. Para tal, devem ser efetivados programas de assistência técnica para construção e reforma de moradias de população de baixa renda, incluindo a (re) qualificação do lugar com equipamentos públicos;
i) Promover a preservação da memória paisagística, urbanística e arquitetônica da cidade, ação fundamental para reforçar a identidade e o senso de pertencimento dos cidadãos. Os planos de conservação dos centros das cidades devem recoloca-los na dinâmica da cidade, mas preservando suas características morfológicas e tipológicas. Novos edifícios e equipamentos devem ser inseridos de forma cuidadosa na malha urbana e os espaços públicos devem ser tratados com qualidade;
j) Adotar o modelo de cidade ambiental e socialmente sustentável, incentivando a arborização urbana, estimulando a eficiência energética, o baixo consumo de carbono, a crescente substituição por fontes de energia renováveis e a reutilização dos resíduos. A cidade precisa ser mais resiliente a catástrofes. Áreas sujeitas a inundações, desmoronamentos e outras fragilidades urbanas e ambientais devem receber planos contingenciais que contenham ações imediatas para evitar riscos;
k) Valorização das frentes de água, integrada aos corredores verdes reestabelecendo conexões com rios, riachos, lagoas e áreas úmidas, aproveitando seu potencial paisagístico e tratando seus problemas de saneamento. Sistemas de parques, essenciais para o desenvolvimento da fauna e biodiversidade, devem ser propostos com o objetivo de integrar estes espaços e devolvê-los aos cidadãos.
Porto Velho (RO), 11 de Outubro de 2016.
Emerson Fidel Campos Araújo SINDUSCON-RO
Presidente
Francisco Maurílio de Holanda Vasconcelos SINDUSCON-PVH
Presidente
Raísa Tavares Thomaz CAU-RO