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Palavras-chave: Aviação. Acidentes. Piloto. Fator Humano. Aspectos fisiológicos. Aspectos psicossociais.

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IDENTIFICAÇÃO DAS INFLUÊNCIAS

DO FATOR HUMANO, FADIGA E

DESGASTE PSICOSSOCIAL DOS

PILOTOS DE AVIAÇÃO CIVIL NA

CAUSALIDADE DE ACIDENTES

AÉREOS: UMA REVISÃO DA

LITERATURA

Gabriel Henrique Pereira Nascimento (UFPB )

gabrielhenrique.hpn@gmail.com Dayvisson Damasceno da Nobrega (UFPB ) dayvissonnobrega@hotmail.com Barbara Jamylle Martins Pires de Oliveira (UFPB ) barbarajamyle@gmail.com Tharine da silva santos (UFPB ) tharine_silva@hotmail.com

Os avanços tecnológicos no setor aéreo e o estabelecimento de normas e padronização da atividade do aeronáutico têm como principal objetivo o aumento dos índices de segurança. No entanto, os números de acidentes e incidentes continuam a creescer e o fator humano apresenta-se como responsável por uma grande parcela na causalidade dessas ocorrências. Estimativas demonstram que o erro humano influencia em cerca de 70% a 80% na ocorrência de acidentes (Wiegmann; Shappell, 2003, apud Licati PR. et al, 2010).A metodologia utilizada foi a de revisão histórica da literatura, a partir de artigos publicados no espaço temporal de 2008 a 2015, com intuito de realizar a identificação dos aspectos fisiológicos e psicossociais a que estão sujeitos os pilotos de aviação do transporte civil. Em relação aos aspectos fisiológicos, a fadiga principalmente, concluímos que são fatores resultantes da elevada carga de trabalho e suas consequências vão desde o estresse a possíveis acidentes de trabalho. E, sobre os aspectos psicossociais, foi identificado que são provenientes da falta de convívio familiar e social, devido as exigências que o trabalho tem, assim como a perda de identidade do aviador.

Palavras-chave: Aviação. Acidentes. Piloto. Fator Humano. Aspectos fisiológicos. Aspectos psicossociais.

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção paraMelhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção paraMelhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

2 1. Introdução

Os inúmeros avanços tecnológicos decorrentes da 2ª Guerra Mundial, em sua maioria prevalentes até os dias atuais, favoreceram significativamente o desenvolvimento de ferramentas e instrumentos úteis à sociedade, principalmente no ramo da aviação, em auge durante o período acima citado. As sucessivas tentativas de diminuir os vários acidentes e incidentes provocados por falhas mecânicas e humanas promoveram melhorias técnicas na utilização das aeronaves para os seus diversos fins e consequentemente o surgimento de normas e regulamentações visando à prevenção acidentes e a manutenção da segurança. Nesse contexto, surge o termo Fator Humano que de acordo com Vidal (1999), teve sua estruturação conceitual durante a Segunda Guerra, proveniente da necessidade de adaptação dos equipamentos às características físicas e psicofisiológicas dos soldados, impostos as diversas situações de emergência e pânico.

Atualmente, o transporte aéreo comercial de produtos e passageiros, de fundamental importância para o desenvolvimento econômico e favorecimento do intercâmbio cultural e mercantil (MOURA, 1992), tornou-se um dos principais meios de locomoção, visto seus inúmeros benefícios. No entanto, apesar dos avanços buscando elevar os índices de segurança e do estabelecimento de normas aéreas, os números de acidentes e incidentes continuam a crescer e o fator humano apresenta-se como responsável por uma grande parcela na causalidade dessas ocorrências. Estimativas demonstram que o erro humano influencia em cerca de 70% a 80% na ocorrência de acidentes (WIEGMANN; SHAPPELL, 2003, APUD LICATI PR. et al, 2010).

Ou seja, os avanços tecnológicos tornam mais seguros os aspectos referentes as partes mecânicas e sistêmicas das aeronaves, senão de fácil identificação e conserto, promove uma maior preocupação em relação ao fator humano e segurança de voo (GUOHUA, LI., et al, 2001).

Segundo a International Civil Aviation Organization (ICAO, 2003, p.1-1), o elemento humano é “a parte mais flexível, adaptável e valiosa dentro do sistema aeronáutico, mas é também a que está mais vulnerável às influências externas que poderão vir a afetar negativamente o seu desempenho”. Contudo, o elemento humano não deve ser analisado

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3 isoladamente, dado que esse está em constante contato com o ambiente e seus componentes, como afirma ICAO (2003), onde o fator humano refere-se ao estudo das capacidades e das

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limitações humanas oferecidas pelo local de trabalho

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abarcando assim todos os aspectos comportamentais e de desempenho no trabalho.

De acordo com Hawkins (1993) a atenção dada à análise do fator humano deve-se a necessidade de proporcionar melhores resultados advindos da interação entre o ser humano e suas atividades, e consequentemente promover a garantia de eficiência do sistema, ou seja, segurança, bem-estar e outros.

Nessa perspectiva, o seguinte artigo visa realizar uma revisão da literatura, no espaço temporal de 2008 a 2015, com intuito de reavaliar a evolução da influência dos fatores humanos na causalidade de acidentes no setor de transporte aéreo. A identificação desses possíveis fatores, fundamentada por resultados de vários estudos, poderá contribuir, a médio ou longo prazo, para a adoção de medidas que possam melhorar as condições de trabalho e, consequentemente, de saúde da categoria ocupacional estudada.

2. O transporte aéreo civil

O ramo comercial da aviação civil apresentou um grande crescimento nas últimas duas décadas, exposta constantemente às inovações tecnológicas, diferentemente daquela presente durante a década de 1950. Promovendo, assim, mudanças nos sistemas produtivos, na organização e gestão do transporte aéreo e, consequentemente, com o aumento do número de investimentos e crescimento da concorrência, ocorreu uma popularização do setor e empresas aéreas passaram a oferecer o deslocamento de passageiros a baixo custo, algo que era restrito a pessoas com grande poder aquisitivo (FERREIRA MP., et al, 2011).

Nesse sentido, houve um aumento significativo na demanda pelo transporte aéreo, visto a sua praticidade e pela redução dos custos das operações, como também por um crescimento na complexidade com que os responsáveis pela realização do transporte lidam com o sistema, ou seja, na complexidade entre os diversos atores da aviação civil (HØYLAND & AASE, 2008). O transporte aéreo comercial é dividido basicamente em dois grupos, os aeroviários e os aeronautas. O primeiro grupo, aeroviários, se refere aqueles que dão apoio terrestre à atividade aérea. Já o segundo grupo, se refere aos que trabalham na aeronave, incluindo o piloto (comandante), co-piloto e comissários de bordo (VELLOSO, 2010).

A atividade do aeronauta, principalmente do piloto, envolve a necessidade de ter total e preciso controle sobre o sistema complexo que o avião apresenta, diante dos diferentes níveis

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de operações e funções interligadas, estando sujeito a inúmeros estressores, físicos ou psicológicos, que terminam por influenciar no desempenho do trabalhador, além do estabelecimento de rotinas diárias, seguimento de normas e protocolos para realização de determinada atividade, que também influenciam no comportamento e saúde do mesmo (Feijó D., et al, 2014).

Segundo Jensen RS. (1997, apud Feijó D., et al, 2014):

Com a evolução tecnológica, os estudos sobre acidentes de aviação passaram a focalizar na falha humana e sabe-se que o desempenho dos pilotos pode sofrer efeitos adversos sob estresse e fadiga, potencialmente interferindo em diversas áreas como o gerenciamento de equipe, comunicação, julgamento, tomada de decisão, liderança e autocrítica.

Nesse contexto, a informatização dos sistemas de aviões aumentou a necessidade de conhecimento e interação do piloto, mas também diminuiu o esforço físico do mesmo, tornando seu trabalho mais monótono, passando a ocupar a função de operador de sistemas, que exige longas e irregulares jornadas de trabalho, alterações na alimentação diária, sono, desarmonia familiar e social, além de submetê-los a agravos na saúde (MELO, 2012).

Dessa maneira, a forma como o ser humano, no caso o piloto de aviação civil, irá interagir com o sistema, e esse se adaptará a ele, produzirá um impacto direto na maneira como o piloto lidará com as demandas e situações adversas que o mesmo possa vir a provocar ou a enfrentar em seus voos. Ou seja, diante de uma condição desfavorável ao voo, como problemas ou falhas nos equipamentos e todo o sistema automatizado da aeronave, o piloto deve estar capacitado para assumir a situação devendo agir no mesmo tempo de resposta do automatismo, sendo necessário manter o autocontrole sobre suas características emocionais e psicofisiológicas, que na maioria das vezes não se consegue, saindo assim dos padrões inputs do sistema (MELO, 2012).

No entanto, o que se observa nas investigações dos possíveis erros humanos como causa de acidentes, é que esse se apresenta como um sintoma proveniente do sistema em que o ser atua e não um fator causal do acidente, como esperado (FAJER, 2009). Ainda assim, as consequências dos erros humanos podem ser fatais e provocar danos irreparáveis.

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Operações, tarefas ou procedimentos são resultados de uma expectativa, direcionados a cumprir um objetivo, e o modo como serão realizados dá o contorno da organização do trabalho. Portanto, a organização do trabalho trata de modos de fazer as coisas, sujeita a influências dos trabalhadores, fazendo referências ao estilo das relações interpessoais, como são as lideranças, qual o papel dos supervisores, como os processos desencadeados, controlados e avaliados, o fluxo de comunicações, mostrando assim como o trabalho acontece (BAUER, 2011), buscando assim, atingir objetivos organizacionais como a produtividade, algo mais tangível que a segurança (FEIJÓ D., et al, 2014).

Contudo, há discordância entre a maneira como a organização do trabalho é concebida e a maneira como ela é posta em prática, isto é, as condições para sua realização nem sempre são ideais, resultando em conflitos entre seus gestores e operadores, refletindo na saúde da organização. Segundo Woods DD. (2006, apud, Feijó D., et al 2014), isso acontece, pois a produtividade é muitas vezes a base da competitividade de uma organização no mercado, e é geralmente a base para um nível no desempenho dos trabalhadores, ocasionando pressão sobre os mesmos para que esses atinjam os objetivos previamente estabelecidos.

Nessa lógica, os trabalhadores tendem a aceitar todas as imposições organizacionais compulsoriamente, restringindo, na maioria das vezes, o direito de dialogar a respeito das condições em que estão trabalhando e de modificar a organização do trabalho da empresa. Segundo Dejours (2010, apud, Bauer, 2011), geralmente executivos superiores são levados a acreditar que suas técnicas organizacionais são perfeitamente operacionais e que todos os processos estão perfeitamente dominados, por essa razão, acreditam que os possíveis acidentes e incidentes aéreos que possam ocorrer deve-se a erros na execução dos processos, por vez cometidos por operadores de base, levando a crer que há descaso, negligência e imprudências quanto a realização da atividade.

Entretanto, segundo Bauer (2011), diversos aeronautas que operam no transporte civil são expostos a longas jornadas de trabalhos, algumas vezes sem regresso, sem alimentação e descansos adequados, assim, os tripulantes começam a sentir os resultados dos esforços de sua colaboração, tudo para poderem suprir as necessidades da demanda da empresa. Com isso, uma forma de sofrimento se instala. E, como já citado acima, o que se observa é que os erros humanos devem ser vistos como sintoma de um processo sistêmico, e não como um fator causal de acidentes (FAJER, 2009).

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Dessa forma, os riscos de acidentes e incidentes aumentam significativamente e de acordo com Wiegmann; Shappell (2003, apud Licati PR. Et al, 2010), a falha humana representa cerca de 70% a 80% de ocorrências do tipo. Dentre essas, cerca de 20% está relacionado a fadiga dos operadores.

Nesse ponto de vista, a análise da organização do trabalho é capaz de caracterizar comportamentos dissonantes e estabelecer a relação de causalidade entre eles (Bauer, 2011). Ou seja, capaz de estabelecer uma relação entre os fatores humanos e a organização do trabalho como agravante na causalidade de acidentes.

4. As variáveis do fator humano no contexto da atividade aérea

Por ser a falibilidade humana um fato inegável, não existe a possibilidade de uma operação completamente livre dos erros humanos. Segundo Reason (1995), o gerenciamento dos riscos associados aos erros humanos nunca será completamente efetivo, sendo possível somente reduzir a probabilidade dos mesmos ocorrerem.

Considerando os componentes de um sistema crítico de segurança, Hollnagel (1993) propôs, com ênfase na falibilidade humana, algumas explicações acerca dos erros humanos, das quais são destacadas três que possuem implicações para a indústria de aviação:

 A confiabilidade dos componentes mecânicos e eletrônicos cresceu significativamente nos últimos 30 anos, enquanto o nível de confiabilidade humana permaneceu praticamente inalterado no mesmo período;

 O aumento da complexidade nas operações e dos processos de automação do sistema, os quais criaram maiores necessidades aos responsáveis por sua manutenção;

 O aumento da complexidade dos sistemas e componentes aeronáuticos proporcionou o crescimento de falhas latentes resultantes de procedimentos cada vez mais complexos, onde as mesmas podem entrar em combinação com os erros operacionais e colocar a organização em risco.

Os autores presentes na literatura acerca dos fatores humanos sugerem que o erro humano é cada vez mais constante em acidentes envolvendo sistemas tecnológicos complexos (FORGATY; SAUNDERS; COLLYER, 1999). No caso do acidente aéreo, o fator humano é geralmente associado à tripulação, aos controladores de trafego aéreos, as equipes de

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Realizar um artigo, mesmo que de revisão literária, sobre os “Fatores Humanos” na aviação civil exige uma série de cuidados por parte de quem escreve, pelo simples fato de não haver uma definição estrita do que sejam esses fatores, ou do que representam. A própria Organização Internacional de Aviação Civil (OACI) assume essa dificuldade em documento elaborado especificamente sobre o assunto, o DOC 9683.

O DOC 9683, intitulado “Manual de Instrução sobre Fatores Humanos”, ressalta que: “fatores humanos” é uma expressão que ainda há de definir-se claramente, dado que quando tais palavras são utilizadas na linguagem cotidiana normalmente se referem a qualquer fator relacionado aos seres humanos. O elemento humano é a parte mais flexível, adaptável e valiosa do sistema aeronáutico, mas é também a mais vulnerável a influências que podem afetar negativamente seu comportamento.

No Brasil, em termos regulatórios, a matéria de fatores humanos é coordenada pela Gerência de Fatores Humanos na Aviação e Medicina de Aviação (GFHM), inserida na Superintendência de Segurança Operacional (SSO) da ANAC. A equipe de trabalho da GFHM é basicamente formada por profissionais da área de saúde (medicina e psicologia) e engenharia, que mantêm contato constante com outros setores com vistas ao trabalho interdisciplinar.

Na aviação, o fator humano envolve o desempenho geral dos seres humanos, dentro do sistema de aviação e seu estudo abarca todos os aspectos do comportamento e desempenho humano, isto é, a tomada de decisões e outros processos cognitivos; o projeto dos instrumentos e das cabines de pilotagem; as comunicações e o suporte lógico dos computadores; mapas, cartas, manuais de operações de aeronaves; check list, entre outros, transformando-se numa ciência multidisciplinar por natureza (ICAO, 2003). Cada um desses aspectos exige um desempenho humano efetivo e hábil.

O reconhecimento da necessidade de educação básica a respeito dos fatores humanos para o pessoal de aviação civil partiu da análise de acidentes, em que se observou a falta, excesso ou deficiência de ações humanas. Essa constatação levou a OACI a implantar o requisito de capacitação nesse tema para aqueles que trabalham com outorga de licenças e com o processo de investigação de acidentes.

De modo geral, os temas relativos aos fatores humanos englobam: o bem-estar do indivíduo, considerando principalmente a fadiga, alterações no ritmo circadiano e o sono; saúde e desempenho; estresse; uso de álcool ou outras drogas; trabalho em equipe; liderança,

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comunicação; motivação; tratamento de informações; personalidade, atitudes e crenças; além dos aspectos ergonômicos de construção dos postos de trabalho. Podem-se destacar, também, a cultura e o clima organizacional das empresas como aspectos fortemente influentes na organização humana em ambiente de trabalho.

Nesse estudo, foi abordada a fadiga como um aspecto de extrema relevância para o setor aéreo. Dessa maneira, a fadiga trata-se de um estado físico e mental gerado pela diferença entre a quantidade de trabalho exigido e a capacidade para executá-lo. O resultado é o acúmulo de energia, que não se dissipa, permanece no sujeito provocando alterações físicas, fisiológicas e psicológicas, modificando o seu comportamento para o trabalho, para o repouso e para as relações interpessoais (BAUER, 2013). Na aviação, os profissionais estão expostos a condições de trabalho que podem levar à redução de seu desempenho físico ou mental.

Nessa perspectiva, diversos fatores podem comprometer a atenção ou habilidade de tripulações operarem suas aeronaves com segurança, tais como: déficit de sono, longos períodos de vigília, mudanças de fusos horários, elevada carga de trabalho e turnos irregulares, incluindo o trabalho noturno (CASTRO, 2014; KANASHIRO, 2013; MELO & SILVANY NETO, 2013).

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), dentre os sintomas decorrentes da fadiga, os principais são: falta de concentração e atenção, que se expressam por redução significativa da capacidade de análise; diminuição da capacidade de reação a uma situação de alta demanda; má interpretação e falta de precisão no manuseio de comandos; diminuição da autoconfiança; falta de coordenação e perda da autocrítica. Portanto, quando fatigado, há determinados efeitos que ocorrem não por inabilidade do piloto e sim por uma condição laboral desfavorável, a qual não permite o descanso e a recuperação necessários.

5. Metodologia

Foi realizada uma aprofundada revisão literária, a partir do resumo, identificação e discussão de informações já publicadas a respeito das influencias do fator humano, mais especificamente, da fadiga e dos aspectos psicossociais dos pilotos de aviação civil associados a causalidade de acidentes aéreos.

Procedeu-se umas busca em várias bases informatizadas, dentre as quais: SciELO (Scientific Eletronic Library On-Line), Ibict (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia), periódicos da Capes e alguns acervos online de Universidades. Nossa revisão e

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discussão deram-se principalmente pelo embasamento em artigos publicados na Revista Científica em Segurança de Aviação – SIPAER.

Os critérios de inclusão de artigos nessa revisão foram: artigos publicados na sua maioria em português, entre os anos de 2008 a 2015, que abordassem os fatores humanos, a fadiga, os aspectos psicossociais e problemas de saúde dos pilotos de aviação civil. Por se tratar de uma revisão sistemática da literatura de maneira histórica, excluiu-se a possibilidade de realizar uma avaliação da qualidade dos artigos encontrados.

6. Resultados

Ao longo desta seção, serão apresentados os resultados, identificados na literatura, sobre as influências do fator humano dos pilotos de aviação civil associados à causalidade de acidentes aéreos.

6.1 A fadiga como fator da causalidade de acidentes aéreos

A literatura apresenta resultados robustos de padrões médios e individuais de fadiga subjetiva crescente quando são realizadas tarefas que exigem esforço cognitivo. No entanto, ainda não existem resultados suficientes para determinar se as diferenças individuais na fadiga subjetiva, explicam a variação do desempenho.

Em 2008, foi realizado um estudo a partir da avaliação de 91 pilotos da aviação comercial brasileira quanto à escala de humor do Brasil (BRAMS) e encontraram como resultado que a madrugada foi o horário mais crítico e desfavorável aos pilotos, pois os indicadores de tensão, depressão, raiva e fadiga estavam aumentados em comparação a outros horários (LICATI, P.R ET AL.). Verificou-se também que o alto índice de fadiga e baixa de vigor demonstraram maior cansaço dos pilotos, contudo estes não estavam confusos, mantinham o controle emocional e o nível de atenção alto.

Além disso, mostrou-se que a raiva, entre os pilotos da madrugada, encontrava-se maior, alterando seu estado de humor, causando irritabilidade e baixa tolerância. Desse modo, descreveu-se que o estado de humor dos pilotos pode estar relacionado à dessincronização do

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ciclo circadiano e à consequente dificuldade em se adaptarem a trocas rápidas de turno sem o necessário tempo de adaptação aos horários.

Segundo Kube, L.C é citado que de relevante importância para a aviação conhecer e monitorar as condições de saúde integral do aviador, acompanhar seu nível de qualidade de vida e o surgimento de sintomas de fadiga, para melhorar a oferta de oportunidades para treinamento e condicionamento físico, além de programas de relaxamento adequados para a tarefa que exercem. A autora cita estudos que preconizam trabalhos profiláticos para a melhora da condição física, em especial a aptidão física, e conclui que a fadiga e o estresse próprios da atividade parecem ter sido melhor enfrentados por pilotos com boa aptidão física aeróbica.

Assim, neste estudo, ficou evidenciado que a descrição da prevalência de fadiga pode ser explicada por fatores além de sintomas gerais (p.ex. sonolência, falta de disposição), do cansaço mental, e de sintomas específicos psicossomáticos (p.ex. projeção da fadiga sobre o corpo), corroborando estudos anteriores (MORIGUCHI; ALEM & COURY, 2011; MORIGUCHI et al., 2010; MORIGUCHI et al., 2013).

6.2 Aspectos psicossociais dos pilotos de aviação civil

Em relação aos aspectos psicossociais, estudos realizados por Melo et al (2012) demonstram que o caráter ergonômico a que estão sujeitos os trabalhadores do ramo, assim como as longas jornadas de trabalho, terminam por influenciar negativamente, além da saúde do piloto, o seu convívio social e familiar. O desgaste psicológico dos aeronautas civis advém, portanto, da submissão a constantes estresses, sejam esses provenientes do ambiente de trabalho ou da responsabilidade atribuída em suas mãos.

No contexto de mudanças tecnológicas, rapidez de operações de sistemas e equipamentos, os processos decisórios estão sendo afetados e tornando-se cada vez mais intrínsecos ao ambiente de trabalho, principalmente no aramo aeronáutico. Consequentemente os processos de trabalho passam a ser realizados de maneira padronizada e rígida, e a partir desse momento o trabalho passa a ser encarado como uma fonte de sofrimento e não de satisfação mental, como afirma Feijó D. et al (2014). Dessa maneira, o trabalhador passa a se comparar a uma espécie de “motor humano” no qual seus desejos e almejos passam a ficar em segundo plano, ou seja, o piloto passa a perder sua identidade de aviador para se tornar um operador de

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sistemas, causando insatisfação e consequentemente prejudicando sua saúde mental, isto é, seu aspecto psicológico (FEIJÓ D., et al, 2014).

7. Conclusão

Para realização desse artigo de revisão literária, houve um estudo acerca dos trabalhos feitos no espaço temporal destinado. No processo de captação de informações, os principais tópicos abordados foram: a fadiga e os aspectos psicossociais e, portanto, como esses podem influenciar na causalidade de acidente, enfatizando esses como resultados de um sistema imposto pela organização do trabalho.

Em relação à fadiga, os artigos abordaram, consensualmente, que esse é um fator de extrema importância para a atividade dos pilotos e sua causa é observada devido a inúmeros agravantes, como, por exemplo: a elevada carga de trabalho, déficit de sono, mudanças nos fusos horários, turnos irregulares, incluindo o trabalho de madrugada. Assim, chegou à conclusão de que o aumento da fadiga gera mudanças de humor, estresse e pode ser identificado como possível causa para acidentes de trabalho.

Em relação aos aspectos psicossociais, foi identificado que os desgastes psicológicos são resultantes da submissão a constantes estresses. Além disso, vem à tona o fator da psicodinâmica do trabalho, ou seja, devido aos constantes avanços tecnológicos, a execução da atividade do piloto deixou de ser uma satisfação para um sofrimento, em relação ao seu estado mental, já que, seu trabalho está cada vez mais sistemático.

Diante do que foi exposto, apesar de o fator humano ter sido constantemente abordado no estudo, vale enfatizar que os artigos analisados chegam a um acordo comum de que o sistema imposto pela organização do trabalho toma o papel principal de causador das perturbações fisiológicas e psicossociais que os trabalhadores aeronautas estão submetidos aumentando, assim, as chances de ocorrência de acidentes e incidentes. Assim, o fator humano é considerado um sintoma que é imposto pelo sistema, e não um fator causal.

Por fim, o estudo realizado nesse trabalho buscou descrever a maneira como o fator humano pode comprometer a segurança do transporte aéreo civil. Nesse sentido, ficou evidente que existem inúmeras análises na literatura em relação a essa problemática e que essa questão poderia ser parcialmente sanada a partir da maior interação dos trabalhadores desse setor no processo de mudanças e melhorias laborais. Entretanto, ainda assim, a imprevisibilidade inerente a condição humana impossibilitaria uma completa resolução desse problema.

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Referências

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