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BIOINSETICIDA E GAFANHOTOS-PRAGA

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BIOINSETICIDA E GAFANHOTOS-PRAGA

Relatório final do projeto «Desenvolvimento de bioinseticidas para controle de gafanhotos-praga no Brasil»

B.P. Magalhães & M. Lecoq

Projeto de cooperação técnica Brasil – França

Realizado com o apoio do Ministério das Relaçoes Exteriores da França e Organização da Nações Unidas para Alimentação (FAO)

Brasília, DF 2006

EMBRAPA

Recursos Genéticos e Biotecnologia

Parque Estação Biológica, Av. W/5 Norte (Final) –

Brasília, DF CEP 70770-900

CIRAD

Locust Ecologyand Control TA A50/D, Campus International de Baillarguet 34398 Montpellier Cedex 5 France prifas@cirad.fr

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Exemplares desta edição podem ser adquiridos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Serviço de Atendimento ao Cidadão

Parque Estação Biológica, Av. W/5 Norte (Final)

Brasília, DF CEP 70770-900 – Caixa Postal 02372 PABX: (61) 448-4600 Fax: (61) 340-3624

http://www.cenargen.embrapa.br e.mail:sac@cenargen.embrapa.br Comitê de Publicações

Presidente: Sergio Mauro Folle

Secretário-Executivo: Maria da Graça Simões Pires Negrão Membros: Arthur da Silva Mariante

Maria de Fátima Batista Maurício Machain Franco Regina Maria Dechechi Carneiro Sueli Correa Marques de Mello Vera Tavares de Campos Carneiro

Supervisor editorial: Maria da Graça Simões Pires Negrão Normalização Bibliográfica: Lígia Saldanha

Editoração eletrônica: Fabrício Lopes dos Reis Rodrigues Designer Gráfico: Andressa Vargas Ermel

1ª edição

1ª impressão (2006): 500 M 188 Magalhães, Bonifácio P.

Bioinseticida e gafanhotos-praga. Relatório final do projeto: Desenvolvimento de bioinseticidas para controle de gafanhotos-praga no Brasil./ Bonifácio P. Magalhães e M. Lecoq. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia; Montepellier, França: CIRAD, 2006.

111 p.

ISBN: 978-85-87697-43-1

1. Acridídeos. 2. Gafanhoto. 3. Rhammatocerus

schistocercoides. 4. Controle Biológico. 5. Micoinseticida. 6.

Impacto ambiental. 7. Brasil. I. LECOQ, M. II. Título.

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AUTORES Antoine Foucart

CIRAD, Locust Ecology and Control, TA A50/D, Campus Internacional de Baillarguet, 34398 Montpellier Cedex 5 – France

Bonifácio Peixoto Magalhães

Embrapa Sede, Parque Estação Biológica – Final W3 Norte, Brasília, DF, CEP 70770-901

Florian Mancet

CIRAD, Locust Ecology and Control, TA A50/D, Campus Internacional de Baillarguet, 34398 Montpellier Cedex 5 – France

Francisco Guilherme Schmidt

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Parque Estação Biológica – Final W5 Norte, Brasília, DF, CEP 70770-900

Heloísa da Silva Frazão

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Parque Estação Biológica – Final W5 Norte, Brasília, DF, CEP 70770-900

João Batista Tavares da Silva

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Parque Estação Biológica – Final W5 Norte, Brasília, DF, CEP 70770-900

Marcos Rodrigues de Faria

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Parque Estação Biológica – Final W5 Norte, Brasília, DF, CEP 70770-900

Michel Lecoq

Locust Ecology and Control (Prifas) TA A50/D, Campus International de Baillarguet 34398 Montpellier Cedex 5 – France

Roberto Teixeira Alves

Embrapa Cerrados, BR 020 km 18, Planaltina, DF, CEP 73301-970 Wanderlei Dias Guerra

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento em Mato Grosso, Alameda Molina S/Nº, Várzea Grande, MT, CEP 78115-901

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AGRADECIMENTOS

A todas as pessoas, instituições e organizações que, de alguma maneira, tenham oferecido algum tipo de suporte ao projeto.

Ao Ministério das Relações Exteriores da França, Organização da Nações Unidas para Alimentação (FAO), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento pelo suporte financeiro.

Aos diretores da Alcomat (Campos de Júlio – MT) pela valiosa colaboração e pelo entusiasmo pela pesquisa desenvolvida em todas as fases do projeto. Ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento/Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento em Mato Grosso, pelo apoio constante no decorrer do projeto, principalmente por disponibilizar uma veículo com tração nas quatro rodas com motorista, em complemento ao veículo disponibilizado pela Embrapa.

Finalmente, um agradecimento muito especial a todos os funcionários, estudantes, estagiários, colegas da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e do Cirad que, direta ou indiretamente, colaboraram para a execução deste projeto.

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RESUMO

O controle de gafanhotos no Brasil tem se baseado exclusivamente em inseticidas químicos (fenitrotion e malation). Entretanto, como esses produtos são amplamente conhecidos pelos danos que podem causar ao meio ambiente, seu uso em larga escala tem causado muita apreensão. Para contrapor as pressões contra o uso de inseticidas químicos no controle de gafanhotos, o desenvolvimento de métodos altenativos tornou-se imperativo. Algumas espécies de fungos entomopatogênicos podem ser usados como complemento ou mesmo substituir os inseticidas químicos no controle de gafanhotos.

Um projeto integrado de pesquisa foi iniciado no Brasil em 1993 pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, com o objetivo específico de desenvolver bioinseticidas à base de microrganismos entomopatogênicos, para combater gafanhotos. Os principais esforços foram direcionados para fungos entomopatogênicos. Após a realização de levantamentos de isolados nas principais áres atacadas por gafanhotos no país, os esforços foram concentrados na caracterização e avaliação em laboratório. O candidato mais promissor como agente de controle biológico de gafanhotos foi o fungo

Metarhizium anisopliae var. acridum. Consequentemente, foram realizados

estudos sobre produção, formulação, avaliação da eficácia contra gafanhotos no campo e seus efeitos na entomofauna não-alvo. As avaliações de campo foram desenvolvidas em cooperação com o Cirad.

Durante os anos de 2000/2001 e 2001/2002 foram realizados dois experimentos de campo em Mato Grosso, em áreas de cerrado, habitat natural dessa praga. Nos experimentos iniciais, quando utilizado em dosagem equivalente a 2,0x1013 conídios/hectare, o bioinseticida provocou mortalidade de 88% de ninfas de terceiro e quarto ínstares de Rhammatocerus

schistocercoidesis, aos 14 dias após tratamento. Da mesma forma, provocou

mortalidades de 65 e 80% utilizando doses de 1,0 x 1013 e 5,0 x 1012 conídios/hectare. Os experimentos dos dois anos subseqüentes permitiram aprimorar os métodos de avaliação do produto em situações reais e testar a eficácia contra o gafanhoto em doses mais baixas. Além disso, foi possível testar um nova formulação (querosene + óleo de soja na proporção 1:1). O micoinseticida causou relativo impacto sobre ortópteros (Acrididae), nenhum efeito adverso sobre vários taxa não-alvo testados e, provavelmente, um efeito repulsivo da formulação contra alguns grupos de artrópodes.

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ABSTRACT

The control of grasshoppers in Brazil has been based exclusively on chemical insecticides (fenitrothion and malathion). However, as these products are known to be harmful to the environment their massive use have caused concerns. To face the pressure against the use of chemical insecticides to control grasshoppers, the development of alternative methods became imperative. Some species of entomopathogenic fungi can supplement or even replace chemical insecticides in the control of grasshoppers.

An integrated research project was initiated in Brazil in 1993 at Embrapa Genetic Resources and Biotechnology with the specific objective to develop myicoinsecticides based on entomopathogenic microorganisms to control grasshoppers. The main efforts were directed to entomopathogenic fungi. After surveying the main grasshopper areas in the country searching for isolates, the efforts were centered in characterization and laboratory evaluation. The most promissing candidate as biocontrol agent of grasshoppers was found to be the fungus Metarhizium anisopliae var. acridum. Consequently, studies on production, formulation, and evaluation of the field efficacy and its effects against the non-target entomofauna were studied. The field evaluations had been developed in cooperation with the Cirad.

During the years of 2000/2001 and 2001/2002 two field experiments were carried out in Mato Grosso, in open pasture regions, natural habitat of this pest. In the initial experiments, using a dosage equivalent 2.0x1013 conidia/

hectare, the mycoinseticide caused 88% mortality on third and fourth instar

Rhammatocerus schistocercoides nymphs 14 days after treatment. Similarly,

the mycoinsecticide caused mortalities of 65 and 80% using doses of 1.0 x 1013 and 5.0 x 1012 conidia/hectare. The experiments of the two following

years allowed to tune the methods to evaluate the effectiveness of the product in real situations and to test its effectiveness against the grasshopper in lower doses.

The mycoinsecticide caused relative impact on orthopterans (Acrididae), no adverse effect on several not-target taxa tested, and probably, a repulsive effect of the formulation against some groups of arthropods.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÂO: UMA ALTERNATIVA AOS INSETICIDAS QUÍMICOS NA LUTA CONTRA OS GAFANHOTOS

1.Gafanhotos: A oitava chaga do Egito toca o mundo inteiro... e não poupa

o Brasil...15

2.Alternativas aos produtos químicos e o projeto “Desenvolvimento de bioinseticidas para controle de gafanhotos-praga no Brasil”...17

3.Referências...19

CAPÍTULO 1: GAFANHOTOS NO BRASIL 1.1 Introdução...23

1.2 As espécies brasileiras de gafanhotos pragas...23

1.3 Fatores responsáveis pelas pululações de gafanhotos no Brasil...30

1.3.1 Mudanças no manejo do solo e distúrbios ecológicos...31

1.3.2 Desmatamento e introdução de novas culturas...31

1.3.3 Abandono de culturas tradicionais...31

1.3.4 Abandono do monitoramento e vigilância após o fim das pululações...32

1.4 Conclusão...32

1.5 Referências...32

CAPÍTULO 2: DESENVOLVIMENTO DE UM MICOINSETICIDA PARA O CONTROLE DE GAFANHOTOS 2.1 Introdução...39

2.2 Levantamentos...41

2.3 Bioensaios...41

2.4 Caracterização de Metarhizium anisopliae var. acridum...42

2.5 Caracterização de Rhamatocerus schistocercoides e Schistocerca pallens...42

2.6 Transformação...43

2.7 Processo de infecção...44

2.8 Efeitos da infecção fúngica no consumo alimentar do gafanhoto....45

2.9 Compatibilidade entre M. anisopliae var. acridum e doses sub-letais de inseticidas químicos contra R. schistocercoides...45

2.10 Viabilidade de conídios formulados em óleo...46

2.11 Produção de conídios...46

2.12 Radiação solar e estabilidade de conídios...47

2.13 Efeitos do teor de água e temperatura no armazenamento de conídios...47

2.14 Efeitos da secagem e rehidratação no armazenamento de conídios...48

2.15 Conclusão...48

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CAPÍTULO 3: EFICIÊNCIA DO MICOINSETICIDA EM ENSAIOS DE CAMPO

3.1 Introdução...55

3.2 Área Experimental Biótopos ...55

3.3 Seleção de bandos ...56

3.4 Preparação do micoinseticida...57

3.5 Aplicação do micoinseticida: ensaios até 1996 ...58

3.6 Aplicação do micoinseticida: ensaios entre 1998 e 2001 ...59

3.7 Metodologia de avaliação ...62

3.8 Resultados obtidos ...64

3.9 Conclusões...71

3.10 Referências...72

CAPÍTULO 4: IMPACTO AMBIENTAL DO MICOINSETICIDA – AVALIAÇÃO PRELIMINAR 4.1 Indrodução...77 4.2 Materiais e Métodos...77 4.2.1 Tratamentos...78 4.2.2 Métodos de avaliação...78 4.2.3 Método de análises...80 4.3 Resultados...81

4.3.1 Gafanhotos (grupo alvo)...81

4.3.2 Artrópodes não-alvo...82

4.3.3 Ordens e Famílias...83

4.3.3.1 Ordem Orthoptera...83

4.3.3.2 Ordem Diptera...84

4.3.3.3 Espécimes coletados para avaliação...84

4.4 Discussão e Conclusões...87

4.5 Referências...89

CAPÍTULO 5: ESTRATÉGIA DE CONTROLE DO GAFANHOTO DO MATO GROSSO 5.1 Histórico da invasão do gafanhoto do Mato Grosso e estratégias de controle...91

5.2 Fundamentos da nova estratégia de controle do gafanhoto do Mato Grosso...94

5.2.1 Conhecimentos recentes sobre a biologia e a ecologia do gafanhoto do Mato Grosso...94

5.2.2 Combater bandos de ninfas ou enxames?...95

5.3 Aplicação da estratégia...97

5.3.1 Vigilância da populações de gafanhotos...97

5.3.2 A prática das operações de combate...99

5.4 O lugar do micoinseticida na estratégia de luta contra o gafanhoto do Mato Grosso...101

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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES: Figuras Capitulo 1.

Figura 1. Distribuição de diferentes espécies de gafanhotos e localização das principais áreas afetadas no Brasil...24 Figura 2. Algumas espécies de gafanhotos pragas no Brasil...25 Capítulo 2.

Figura 1. O gafanhoto do Mato Grosso, R. schistocercoides, infectado por

M. anisopliae var. acridum...40

Figura 2. Esporulação de M. anisopliae var. acridum no interior do abdome do gafanhoto R. schistocercoides...44 Capítulo 3.

Figura 1. Biótopo de reprodução de R. schistocercoides...56 Figura 2. Conídios de M. anisopliae var. acridum (A) em óleo de soja (B), depositados no fundo do recipiente...57 Figura 3. Aplicação do fungo M. anisopliae var. acridum no campo; a = conídios misturados com óleo de soja e querosene; b = aplicação com emprego de pulverizador Micro ULVA Plus)...58 Figura 4. Aplicação a ultra-baixo-volume do fungo M. anisopliae var. acridum com emprego de pulverizador costal motorizado...60 Figura 5. Ninfas de R. schistocercoides; a = ninfa sadia; b = ninfa infectada com conídios de M. anisopliae var. acridum sobre a superfície do cadáver...66 Figura 6. Representação esquemática da evolução de bando controle e bando tratado com o fungo M. anisopliae var. acridum...69 Figura 7. Ninfas de R. schistocercoides mortas pelo fungo M. anisopliae var.

acridum nos ensaios de campo...72

Capítulo 4.

Figura 1. Esquema da disposição das parcelas na área experimental...77 Figura 2. Tipos de armadilhas utilizadas para captura de artrópodes nas parcelas...79

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Figura 3. Distribuição dos três tipos de armadilhas nas parcelas. M = armadilha Malaise; P = armadilha painel; pontilhamento = lugares das bandejas amarelas (2 linhas de 10 armadilhas)...80 Figura 4. Evolução da taxa de mortalidade das populações acridianas nos estágios de ninfa e adulto sobre as parcelas tratadas com Metarhizium (M) e fenitrotion (F) representadas no gráfico como sobrevivência relativa. A = adulto; N = ninfas...81 Figura 5. Evolução do número de indivíduos das ordens Orthoptera (armadilhas tipo bandejas e painéis) e Diptera (armadilha Malaise) coletados nas parcelas tratadas com fenitrotion, micopesticida e testemunha durante os cinco períodos. ...83 Figura 6. Evolução do número de indivíduos de Homoptera (bandejas + painéis) e Sphecidade (bandejas + painéis) coletados nas parcelas tratadas com fenitrotion, micopesticida e testemunha, durante os cinco períodos...85 Figura 7. Evolução do número de indivíduos de Hymenoptera Sphecidae (Malaise) e Elateridae (bandejas + painéis) coletados nas parcelas tratadas com fenitrotion, micopesticida e testemunha durante os cinco períodos. ...86 Figura 8. Evolução do número de indivíduos Curculionidae (bandejas + painéis) e Asilidae (bandejas + painéis) coletados nas parcelas tratadas com fenitrotion, micopesticida e testemunha durante os cinco períodos...87

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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES: Tabelas Capítulo 1.

Tabela 1. Resultados das campanhas de tratamentos aéreos para controle de gafanhotos no Mato Grosso de 1984 a 1988...30 Capítulo 2.

Tabela 1. Tempo médio de sobrevivência de R. schistocercoides tratados com conídios de M. anisopliae var. acridum, M. anisopliae e Beauveria

bassiana formulados em óleo de soja e 5% de querosene...41

Capítulo 3.

Tabela 1. Condições meteorológicas durante tratamento de bandos de ninfas de R. schistocercoides com o fungo M. anisopliae var. acridum em 1998...62 Tabela 2. Principais parâmetros do ensaio conduzido para avaliar a eficiência de M. anisopliae var. acridum sobre R. schistocercoides em 1998...62 Tabela 3. Mortalitidade de ninfas de R. schistocercoides pulverizadas no campo com M. anisopliae var. acridum (2x1013 conídios/ha) e mantidas em gaiolas no laboratório (1998)...65 Tabela 4. Mortalidade de ninfas de R. schistocercoides alimentadas com capim pulverizado com M. anisopliae var. acridum (1x1013 conídios/ha) e mantidas em gaiolas no laboratório (1999)...66 Tabela 5. Mortalidade de ninfas R. schistocercoides pulverizadas com o fungo M. anisopliae var. acridum em ensaio de campo (1998)...68 Capítulo 4.

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Introdução Geral

Uma alternativa aos inseticidas químicos na luta contra os gafanhotos

M. Lecoq1 e B. Magalhães2

1CIRAD Locust Ecology and Control TA A50/D, Campus International de Baillarguet 34398 Montpellier Cedex 5 – France

2Embrapa Sede, Parque Estação Biológica – Final W3 Norte, Brasília, DF, CEP 70770-901

1. Gafanhotos: A oitava chaga do Egito toca o mundo inteiro... e não poupa o Brasil

Os gafanhotos constituem-se nos maiores devastadores de vegetação em diversas regiões do mundo. Suas pululações – aumento populacional rápido e repentino - são geralmente ligadas a fatores meteorológicos favoráveis relativamente bem conhecidos, chuvas em especial. Sua capacidade de migração por centenas ou mesmo milhares de quilômetros em inúmeros países, transforma essa praga em problema internacional, com sérias repercussões econômicas, sociais e ambientais (STEEDMAN, 1990). Muitas áreas na África, América e Ásia são afetadas por esse problema e são freqüentemente secas. Entretanto, às vezes algumas áreas úmidas podem ser igualmente afetadas; um exemplo disso é o recente surto do gafanhoto migratório na Indonésia, resultante do fenômeno El Niño de 1997 (LECOQ e SUKIRNO, 1999). Várias regiões temperadas do globo (Ásia Central, China) são igualmente afetadas (CENTRE..., 1982) por esse problema, do qual nem o Brasil escapa.

As pululações de gafanhotos podem tornar-se endêmicas, como é o caso dos “saltadores” do Sahel africano cujo exemplo mais conhecido é o gafanhoto senegalês, Oedaleus senegalensis Krauss. Suas pululações alternam períodos de invasão com períodos de redução da população – como ocorre com os gafanhotos migradores. Essas espécies de gafanhotos apresentam um fenômeno conhecido por transformação fasária. O exemplo mais notável desse fenômeno é o do gafanhoto peregrino, Schistocerca

gregaria Förskal, a famosa oitava chaga do Egito registrada na Bíblia. De

acordo com as condições ecológicas e sua densidade populacional, essa praga passa por uma fase solitária inofensiva e uma fase gregária. As duas fases são completamente diferentes em comportamento, morfologia, pigmentação e fisiologia. A fase gregária é caracterizada por um grande número de nuvens e de bandos de gafanhotos imaturos que podem colonizar e devastar extensões consideráveis. Essas invasões têm a sua origem em zonas de superfície geralmente muito limitadas, chamadas áreas de gregarização. Tais invasões podem durar muito tempo – até mais de 20 anos - ou serem breves, antes que estratégias de prevenção e meios de

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combate mais eficientes permitam contornar o problema (DURANTON et al., 1987; LECOQ, 2003, 2004).

Existem milhares de espécies de gafanhotos e muitas delas podem pulular em condições ambientais favoráveis. Entretanto, só um pequeno número de espécies apresenta o fenômeno de transformação fasária e tem condições de gerar invasões significativas. Além do gafanhoto peregrino, há o gafanhoto vermelho, Nomadacris septemfasciata (Serville 1839) na África, e o gafanhoto migratório Locusta migratoria em todo o velho mundo. Na América do Sul, encontram-se nesta categoria diversas espécies do gênero Schistocerca:

Schistocerca cancellata Serville 1839 que, no passado, invadiu o Sul do

Brasil a partir da Argentina; Schistocerca piceifrons (Walker 1870) que afeta essencialmente a América Central; e Schistocerca piceifrons peruviana Lynch Arribalzaga, 1903 e Schistocerca interrita (Scudder, 1899) que pulularam recentemente no Peru (DURANTON et al., 2001; LECOQ, 2002).

Os danos causados por esses gafanhotos podem ser consideráveis sobre qualquer tipo de cultura e pastagens. Inúmeros dados atestam a gravidade do problema envolvendo gafanhotos em diferentes regiões do mundo, tanto durante os séculos passados como nos anos recentes. Nos países em desenvolvimento, da África em especial, o freqüente impacto na economia frágil de populações que vivem de uma agricultura com riscos climáticos elevados é muito preocupante. As conseqüências sociais para numerosas populações rurais são tais que, freqüentemente, o combate aos gafanhotos é tratado como uma prioridade nacional (LECOQ, 2001).

No Brasil, o problema acridiano é menos agudo em comparação com outras regiões do mundo. As pululações são menos freqüentes e de menor amplitude. Contudo, em algumas localidades, esse problema pode se agravar consideravelmente em certos anos, chegando a acarretar custos elevados para sua solução. Os gafanhotos ameaçam regularmente a agricultura e a pecuária em diversas regiões do país. Recentemente, houve ataques de gafanhotos em Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e diversos outros Estados, principalmente no Nordeste (LECOQ, 1991; LECOQ e PIEROZZI JUNIOR, 1994; DURANTON et al., 1987). Face a amplitude das pululações em certos anos, o Brasil teve de recorrer a especialistas do exterior, em especial da FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Essa agência apoiou o Brasil no controle dos gafanhotos na década de 80, época em que grandes pululações afetavam diversas regiões do país (DURANTON et al., 1987). Foram gastos na época cerca de 2 milhões de dólares por ano em operações de controle. Assim, como em outros países, a estratégia de controle foi baseada exclusivamente no uso de inseticidas químicos (MIRANDA et al., 1996). Entretanto, o uso desses produtos gerou controvérsia (LECOQ e PIEROZZI JUNIOR, 1994). Conseqüentemente, a busca de soluções alternativas ao controle químico tornou-se uma necessidade.

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2. Alternativas aos produtos químicos e o projeto “Desenvolvimento de bioinseticidas para controle de gafanhotos-praga no Brasil” Atualmente, as operações baseadas no controle químico constituem o único meio confiável para controlar gafanhotos-praga. Diversos inseticidas são recomendados pela FAO: organofosforados, carbamatos, piretróides e reguladores de crescimento, que atualmente têm substituído os organoclorados, muito utilizados no passado, e proibidos há vários anos (FAO, 2004). Apesar da sua eficácia, essas operações de controle químico provocam inúmeros problemas ambientais (LECOQ, 2001), sendo cada vez mais criticadas devido à toxicidade dos produtos e a sensibilidade de muitos ecossistemas frágeis e freqüentemente ricos em espécies endêmicas (PEVELING, 2001). Além disso, aplicações repetidas de inseticidas podem, a longo prazo, favorecer explosões populacionais através da eliminação do complexo de inimigos naturais que controla normalmente as populações de gafanhotos. Embora não haja comprovação científica, diversos indícios dão suporte à essa hipótese, em especial na África. Em alguns países, os tratamentos repetidos com inseticidas químicos parecem estar associados a explosões populacionais de gafanhotos gradualmente mais graves e regulares. Existem casos em que as dificuldades econômicas forçam a renúncia aos inseticidas químicos. Isso ocorreu na Austrália, onde as exigências do mercado para exportação de carne tornaram impossível a utilização de inseticidas químicos nas áreas de origem das invasões de gafanhotos, tornando o desenvolvimento de produtos biológicos uma necessidade.

A busca de soluções alternativas e produtos de substituição aos inseticidas químicos utilizados no controle de gafanhotos mobilizou intensamente a comunidade científica internacional há mais de dez anos, e a utilização de fungos entomopatogênicos despontou como uma das vias mais promissoras. Vários projetos de pesquisa foram iniciados nessa área. Esse esforço resultou no desenvolvimento de micoinseticidas em diversos lugares do mundo, incluindo Austrália, Canadá, México, Madagascar, Colômbia, países da África e Brasil. Na maioria dos casos, as pesquisas ainda estão em curso. O fungo geralmente utilizado é o Metarhizium anisopliae var. acridum. Os dois principais produtos atualmente disponíveis são o “Green Muscle” desenvolvido na África pelo projeto internacional LUBILOSA, e o “Green Guard” utilizado pela Comissão Australiana de Gafanhotos Pragas (APLC). Com efeito, poucos produtos são plenamente operacionais, ou seja, realmente utilizados por um serviço de controle de gafanhotos no âmbito de um manejo integrado. Atualmente só o “Green Guard” está realmente incorporado no programa de manejo integrado da APLC. Nesse caso, quando necessário, o produto é associado a dois inseticidas tradicionais, fenitrotion e fipronil. As aplicações de campo mostraram uma boa mortalidade, tanto na África (isolado IMI 330189) quanto na Austrália (isolado F 1985 = ARSEF 324) variando entre 50 e 80% ou mais. Em alguns casos, foi obtida uma mortalidade próxima de 100% (LOMER et al., 1999, 2001).

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O Brasil também esteve presente nesta busca de soluções menos nocivas ao meio ambiente para o problema dos gafanhotos. Como em outros lugares, logo após o recente e grave problema ocorrido com o gafanhoto do Mato Grosso, soluções alternativas aos inseticidas químicos foram procuradas. Este esforço foi empreendido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia no âmbito de um projeto integrado, iniciado em 1993, intitulado “Desenvolvimento de bioinseticidas para controle de gafanhotos-praga no Brasil”. O objetivo desse projeto foi desenvolver bioinseticidas para o controle de gafanhotos a partir de microrganismos entomopatogênicos, mais especificamente fungos.

O bioinseticida foi desenvolvido a partir de um isolado brasileiro do fungo

Metarhizium anisopliae var. acridum, obtido de Schistocerca pallens

(Thunberg, 1815) no Rio Grande do Norte (MOREIRA et al., 1996). Esse isolado foi caracterizado (MAGALHÃES et al., 1997; INGLIS et al., 1999) e testado em campo contra um modelo acridiano: O gafanhoto do Mato Grosso,

Rhammatocerus schistocercoides (Rehn, 1906) (MAGALHÃES et al., 2000,

2001; FARIA et al., 2002).

O presente trabalho relata este esforço de investigação. O enfoque principal é o desenvolvimento de um micoinseticida, realizado essencialmente pela Embrapa. A verificação da eficácia do produto em campo e o desenvolvimento da estratégia de aplicação foram feitos em colaboração com o Cirad (Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa e Desenvolvimento). No passado, o Cirad já havia colaborado com a Embrapa através de sua unidade de Acridologia (“Ecologia e Controle de Gafanhoto”), no desenvolvimento de um projeto sobre ecologia do gafanhoto do Mato Grosso (MIRANDA et al., 1996). Os experimentos de campo foram conduzidos com o apoio logístico da representação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Mato Grosso (DFA/MT) e da Estação de Avisos Fitossanitários (EAF) de São José do Rio Claro (Mato Grosso) para a produção e formulação do micoinseticida. A cada ano, de 1998 a 2002, um ou dois experimentos de campo, associando equipes da Embrapa e do Cirad, foram realizados em Campos de Júlio, Chapada dos Parecis, MT, em uma zona tradicional de pululação de gafanhotos. A empresa brasileira de produção de álcool ALCOMAT forneceu regularmente importante apoio, assegurando alojamento ao pessoal do projeto em sua sede situada no centro da zona experimental e diversas facilidades logísticas em campo. Os resultados do projeto deram lugar a diversas publicações científicas, comunicações em congressos, relatórios e documentos técnicos.

Após a abordagem do problema das pululações das principais espécies de gafanhotos no Brasil, serão apresentadas as diferentes etapas do desenvolvimento do micoinseticida em laboratório e no campo. O modelo biológico sobre o qual o micoinseticida foi testado será apresentado, assim como a metodologia desenvolvida para verificar a eficácia do produto em

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campo e o seu impacto sobre a fauna de artrópodes não-alvo. Uma das dificuldades essenciais foi desenvolver um método confiável que permitisse verificar a eficácia de um produto cujos efeitos não se manifestam imediatamente em condições de campo, mas somente cerca de dez dias após a aplicação. Os resultados obtidos entre 1998 e 2002 serão expostos e comentados. Uma estratégia de utilização do micoinseticida, no caso do Mato Grosso, será apresentada incluindo recomendações para assegurar a perenidade deste importante esforço de pesquisa.

3. Referências

CENTRE FOR OVERSEAS PEST RESEARCH (COPR). The locust and grasshopper agricultural manual. London: CORP, 1982. 690 p.

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(23)

Capítulo 1 Gafanhotos no Brasil M. Lecoq1 e B. Magalhães2

1Locust Ecology and Control TA A50/D, Campus International de

Baillarguet 34398 Montpellier Cedex 5 – France

2Embrapa Sede, Parque Estação Biológica – Final W3 Norte, Brasília,

DF, CEP 70770-901 1.1 Introdução

Mesmo não se constituindo em problema tão sério no Brasil quanto em países africanos, os gafanhotos representam uma preocupação de longa data em nosso país (DURANTON et al., 1987; LECOQ, 1991; BARRIENTOS, 1995). Freqüentemente, pululações são registradas causando danos às plantas cultivadas em diferentes regiões brasileiras. As zonas de pululações são variáveis de um ano para outro, embora em certas regiões ocorram com mais freqüência. As principais pululações foram registradas na região Nordeste e nos estados do Mato Grosso - onde a situação foi particularmente crítica de 1984 a 1988, Rondônia, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. O problema tornou-se tão grave que no final da década de 80 o governo federal traçou um plano nacional de combate aos ataques de gafanhotos em todo o território brasileiro.

1.2 As espécies brasileiras de gafanhotos pragas

São várias as espécies brasileiras que causam prejuízos econômicos. Pelo menos 23 espécies são consideradas pragas (CENTRE..., 1982). A distribuição e ilustração de algumas destas espécies estão representadas nas Figuras 1 e 2, respectivamente. De acordo com Assis-Pujol e Santos (2004), quarenta e três espécies pertencentes a quatro famílias causam danos econômicos por atacarem plantas cultivadas. A família Acrididae apresenta o maior número de representantes (25 espécies), seguida de Romaleidae (11 espécies), Proscopiidae (5 espécies) e Ommexechidae (2 espécies). Entre os acridídeos destacam-se Rhammatocerus

schistocercoides (Rehn, 1906), R. pictus (Bruner, 1900), R. brunneri

(Giglio-Tos, 1895) (syn. R. conspersus Brunner 1904), Dichroplus maculipennis (Blanchard, 1851), D. pratensis Bruner, 1900, D. elongatus Giglio-Tos, 1894,

D. conspersus Bruner, 1900, D. punctulatus (Thunberg, 1824), Schistocerca cancellata (Serville, 1839), S. flavofasciata (DeGeer, 1773) e S. pallens

(Thunberg, 1815). A família Romaleidae é representada por Chromacris

speciosa (Thunberg, 1824), Prionolopha serrata (Linaeus, 1758), Tropidacris cristata (Linaeus, 1758) e T. collaris (Stoll, 1813). Os principais representantes

dos proscopídeos são Corynorhynchus radula (Klug, 1820), Proscopia scabra (Klug, 1820), Stiphra robusta Mello-Leitão 1939 (Proscopiidae), e da família Ommexechidae a espécie Ommexecha virens Serville, 1831. Algumas destas

(24)

espécies constituem pragas regulares e sérias; outras são de ocorrência ocasional, ou mesmo de presença insignificante.

Uma espécie potencialmente perigosa é Schistocerca cancellata (Serville 1839) (Acrididae, Cyrtacanthacridinae). Também chamada de gafanhoto migratório, esta espécie apresenta o fenômeno de polimorfismo fasário, sendo que as duas fases características deste tipo de fenômeno possuem mais diferenças morfológicas do que normalmente relatado, tendo sido descritas originalmente como duas espécies diferentes, S. paranensis (Burmeister 1861) para a fase gregária e S. cancellata para a fase solitária. Períodos em que o nível das populações solitárias é muito baixo, são alternados com períodos de invasão, em que enxames gregários podem invadir e devastar extensas áreas cultivadas. A área de hábitat desse gafanhoto, no estado solitário, cobre uma parte dos territórios da Argentina, Paraguai e Uruguai. Os enxames formam-se em área de gregarização situada no norte da Argentina, podendo invadir periodicamente o território brasileiro, causando danos nos estados do Sul e, eventualmente, também nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Foi o que ocorreu em 1938, 1942 e 1946 (SILVA et al., 1968). Desde então, o território brasileiro não foi mais atacado. Parece que S. cancellata está sendo mantida sob controle em território argentino (HUNTER e COSENZO, 1990).

S RO S RO S ROSR OSR OSROSROSROSR O

RP I RP I RP IR P IR P IR P IR P IR P IR P I S CA S CA S CA SC A SC AS C AS C AS C A SC A TC C TC C TC C TC C TC CTC CTC CTC C TC C TC G TC G TC G TCG TCGTC GTC GTC G TCG RSC RSC RSC R SC R SCRS CRS CRS C R SC

Figura 1. Distribuição de diferentes espécies de gafanhotos e localização das principais áreas afetadas no Brasil. SCA = Schistocerca cancellata (de acordo com HARVEY, 1981); SPA = Schistocerca pallens (segundo CENTRE..., 1982; ocorrência em todo o Brasil, com pululação no nordeste); RSC = Rhammatocerus schistocercoides (modifica-do de CARBONELL, 1988); RPI = Rhammatocerus pictus (segun(modifica-do CENTRE..., 1982); TCO = Tropidacris collaris (segundo CARBONELL, 1984; ocorrência em todo Brasil com pululação na região amazônica); TCC = Tropidacris cristata cristata (segundo CARBONELL, 1984); TCG = Tropidacris cristata grandis (segundo CARBONELL, 1984); SRO = Stiphra

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Schistocerca pallens Stiphra robusta

Chromacris speciosa Tropidacris collaris (adulto)

Xyleus sp. Tropidacris collaris (ninfas)

Rhammatocerus schistocercoides

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Uma outra espécie de gafanhoto do gênero Schistocerca predomina no Nordeste do Brasil. Trata-se de S. pallens, ainda chamado de “gafanhoto do Nordeste” (GONÇALVES et al., 1955; GONÇALVES, 1956; COSENZA e PACHECO, 1985), confundido durante certo tempo com S. cancellata (LECOQ e PIEROZZI JUNIOR, 1994a). Não há sinal de fenômeno fasário nesta espécie que é, contudo, praga freqüente em inúmeras culturas (CENTRE..., 1982). S. pallens ataca principalmente pastagens e lavouras de milho e feijão. A partir de 1888, diversas pululações expressivas e recorrentes foram relatadas. As mais recentes ocorreram no final do século passado, de 1986 a 1994. As principais zonas infestadas encontram-se nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Em algumas ocasiões foram aplicados inseticidas químicos. Por exemplo, 28.000 ha na Paraíba em 1990, 8.000 ha no Rio Grande do Norte em 1992 e 28.000 ha em Pernambuco em 1992. Estas pululações foram associadas à severa estiagem que se iniciou em 1985 e durou quase seis anos, afetando toda a região (BARRIENTOS, 1995). Contudo, as causas destas pululações, recorrentes há muitos anos, são mal compreendidas.

Uma espécie africana deste mesmo gênero, o “gafanhoto peregrino”,

Schistocerca gregaria (Forskål 1775) (Acrididae, Cyrtacanthacridinae), foi

observada na costa norte do Brasil em outubro de 1988, vindo da África, onde uma importante invasão desenvolvia-se, após uma travessia do Atlântico de cerca de 5.000 km (LECOQ e PIEROZZI JUNIOR, 1994a). Na época, registrou-se a ocorrência desta espécie em várias ilhas caribenhas, Venezuela e costa da Guiana. Felizmente, S. gregaria não se estabeleceu na América do Sul, visto que as condições ecológicas locais são insatisfatórias para espécies adaptadas a ambientes desérticos (LECOQ e PIEROZZI JUNIOR, 1994a). Na ocasião, a travessia do Atlântico por enxames do gafanhoto peregrino foi considerada excepcional. Contudo, há indícios de que este fenômeno não é de ocorrência improvável, pois pululações expressivas de gafanhotos peregrinos na África ocorrem várias vezes ao longo do século.

Um complexo de espécies de gafanhotos pululou de 1971 a 1974 causando estragos severos às pastagens do norte do estado Minas Gerais. Foram necessárias intervenções aéreas para a aplicação de inseticidas químicos (COSENZA, 1977). As espécies envolvidas foram Ronderosia bergii

brasiliensis (Bruner 1906) (syn. Dichroplus bergii brasiliensis) (Acrididae,

Melanoplinae), Staurorhectus longicornis (Giglio-Tos 1876) (Acrididae, Gomphocerinae), Parascopas obesus (Giglio-Tos 1894) (Acrididae, Melanoplinae) e Xyleus discoideus (Serville 1831) (Romaleidae). Frequentemente, Minas Gerais sofre ataques de gafanhotos, especialmente nas regiões centro e norte do estado. Recentemente, a gravidade do problema e a extensão das áreas atacadas aumentaram. Além disso, ocasionalmente uma outra espécie, T. collaris, causa grandes estragos.

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O gênero Tropidacris é representado no Brasil por duas espécies, T. collaris e T. cristata. As suas ninfas apresentam um comportamento gregário notável e são denominadas localmente “soldadinhos”, principalmente devido às suas cores vivas e ao hábito de deslocar-se em fila indiana. Estas espécies causam regularmente problemas nas regiões Amazônica e Nordeste, e no estado de Minas Gerais. Os danos são mais comuns em plantios de dendezeiro, coqueiro, bananeira, mandioca, principalmente no estado do Pará. No Nordeste, T. collaris ataca igualmente mangueiras, algodoeiro e cana-de-açúcar (CENTRE..., 1982; LECOQ e PIEROZZI JUNIOR, 1994a). Há alguns anos esta espécie causa problemas no norte Minas Gerais (região de Curvelo) onde tratamentos regulares com inseticidas foram empregados devido aos estragos provocados pelos gafanhotos sobre as culturas de milho, cana-de-açúcar, mangueira, citros, bananeira e diversas plantas cultivadas.

Uma outra espécie da mesma família (Romaleidae), C. speciosa, é encontrada desde o estado do Ceará ao Sul do Brasil, e ainda na Argentina. Trata-se de uma praga ocasional e de ocorrência pontual, possuidora de marcante comportamento gregário, especialmente na fase ninfal. Ataques foram verificados sobre berinjela, eucalipto, batateira, cana-de-açúcar, girassol, tabaco e tomateiro, dentre outros (CENTRE..., 1982).

Na região Nordeste, a mais árida do Brasil, S. robusta (Mello-Leitão 1939) e

Scleratoscopia protopeirae (Amedegnato, 1985) (Proscopiidae) são

consideradas pragas esporádicas (DURANTON et al., 1987). As espécies deste grupo, morfologicamente atípicas em relação aos outros gafanhotos, são conhecidas por vários nomes populares, tais como: “mané-magro”, “bicho-pau”, “gafanhoto-da-jurema”, “Maria-mole”, “Maria-seca”, “esperança-de-cavalo”, “alma-de-“esperança-de-cavalo”, “cipó-seco” e “taquara-seca” (ALERTA..., 1987).

Stiphra robusta é capaz de provocar danos severos, especialmente sobre

as plantações arbóreas - como o cajueiro - e em plantas como mandioca, mamoneira, jojobeira (Simmondsia california) e algaroba (Prosopis juliflora). A espécie R. conspersus que, segundo Lecoq e Pierozzi Junior (1994a) já foi identificada como R. brunneri (Giglio-Tos, 1895), é vulgarmente conhecida como “gafanhoto crioulo” e pululou em 1991 e 1992 no Rio Grande do Sul. Na ocasião, de acordo com Cosenza et al. (1994), quase 50.000 ha foram infestados. No entanto, segundo Barrientos (1995) estas pululações teriam começado a partir de 1986, aumentando regularmente até culminar em fevereiro-março de 1991, com o ataque de quase 100.000 hectares de pastagens. Nesta época, duas outras espécies, R. pictus e Staurorhectus

longicornis (Giglio-Tos 1876), pulularam na região. Apesar da densidade

destes gafanhotos ser, freqüentemente, muito elevada (até 40 gafanhotos/m²), nenhuma delas apresenta o fenômeno fasário, constituindo-se em ataques de gafanhotos saltadores. Foram registrados danos em pastagens nativas e cultivadas, vegetação natural, e lavouras de milho, soja e arroz. Entretanto, como a criação de gado é a atividade principal naquela

(28)

região, o problema preocupou mais os pecuaristas que os agricultores (BARRIENTOS, 1995).

Pululações de R. pictus, foram registradas também entre 1969 e 1971 no estado de São Paulo, causando estragos na região da Alta Sorocabana (COSENZA, 1977). Também foram notados estragos em certas regiões do Nordeste sobre a cana-de-açúcar (GUAGLIUMI, 1973). Porém, estas identificações não foram confirmadas, pois o gênero Rhammatocerus era mal conhecido na época e seus registros foram realizados muito fora da área do hábitat reconhecido de R. pictus. Recentemente, uma revisão parcial deste gênero foi realizada por Assis-Pujol (1997).

Considerando o conjunto das pululações, a infestação mais grave dos últimos quarenta anos ocorreu nos estados do Mato Grosso e Rondônia de 1984 a 1992 (COSENZA et al. 1990; BARRIENTOS, 1995; MIRANDA et al., 1996). A partir de 1983, pululações do gafanhoto R. schistocercoides trouxeram sérios problemas às zonas recentemente cultivadas e economicamente valorizadas dos estados do Mato Grosso e Rondônia, infestando uma grande região compreendida entre os paralelos 12° e 15° Sul e os meridianos 52° e 61° Oeste (LECOQ, 1991). Estas zonas são, essencialmente, regiões de cerrado onde a vegetação natural foi substituída por extensas áreas de lavouras de soja, e por áreas menos extensas de cana-de-açúcar, arroz e milho.

O desenvolvimento de uma agricultura intensiva no coração das zonas naturais de pululações de R. schistocercoides transformou este gafanhoto em praga, especialmente nas culturas de arroz e cana-de-açúcar (CARBONELL, 1988; COSENZA et al., 1990; LECOQ e PIEROZZI JUNIOR, 1994a, b, 1995a, b, c; MIRANDA et al., 1994, 1996). Pensou-se inicialmente que o problema estava ligado ao desenvolvimento da agricultura e a criação de biótopos novos favoráveis (CARBONNEL, 1988). Biótopo é uma área física na qual os biótipos adaptados a ela e às condições ambientais se apresentam praticamente uniformes. No entanto, as pesquisas realizadas durante os 10 últimos anos mostraram que não era o caso. O Mato Grosso, particularmente a região da Chapada dos Parecis, é um habitat natural de

R. schistocercoides que lá pulula regularmente desde tempos imemoráveis.

As pululações são tão freqüentes que os índios Nambiquaras, primeiros habitantes desta região, consomem regularmente este gafanhoto e o transformam num Deus da sua mitologia (LECOQ e PIEROZZI JUNIOR, 1995a). A agricultura foi introduzida em áreas de pululações habituais desta espécie na região que até recentemente não era cultivada, sendo pouco povoada e conhecida. Assim, este gafanhoto tornou-se uma praga em decorrência das circunstâncias. Na realidade, as pululações desta espécie devem estar em parte associadas com o regime de precipitação, especialmente de agosto a outubro, um período crítico para seu ciclo biológico (MIRANDA et al., 1996; LAUNOIS-LUONG e LECOQ, 1996).

(29)

Um programa nacional de combate ao gafanhoto foi elaborado em 1986 pelo governo brasileiro e o foco principal foi o “gafanhoto do Mato Grosso” (BARRIENTOS, 1995; COSENZA et al., 1994; CURTI e BRITTO, 1987). Foram realizadas campanhas intensas de combate químico. Inicialmente o Ministério da Agricultura e o Programa Nacional de Combate ao Gafanhoto se responsabilizaram pelas aplicações. Em seguida, as aplicações foram assumidas pelos próprios agricultores (BARRIENTOS, 1992a, b, 1993; COSENZA, 1985, 1987; COSENZA et al., 1990; FAO, 1986; LAUNOIS, 1984; MCCULLOCH, 1986a, b). Em alguns anos, essas pululações foram particularmente significativas, tendo conseqüências tanto econômicas como ambientais (ZAHLER, 1987). Nos últimos 15 anos as pululações mais fortes foram registradas entre 1984 e 1988 e, um pouco mais fracas, em 1992 e 1993. As pululações atenuaram-se durante estes últimos anos, mas trata-se trata-sem dúvida de uma calmaria momentânea.

Todas as áreas de cerrado da Chapada dos Parecis situadas entre os paralelos 12° e 15° Sul estão permanentemente envolvidas, abrangendo aproximadamente 20 milhões de hectares. Nestas regiões, as pululações ocorrem em áreas recentemente valorizadas e com alto potencial agrícola. A cultura do arroz foi a mais atacada. Durante muito tempo o arroz foi a principal cultura do Estado, com cerca de 6 milhões de hectares plantados. O milho e a cana-de-açúcar são igualmente afetados, assim como a soja. Esta última é hoje a principal cultura do Estado e é atacada em menor grau, pois normalmente não é consumida por inseto graminívoros como o gafanhoto. A gravidade do ataque do gafanhoto no Mato Grosso é real, embora flutuante de um ano para outro e de difícil avaliação. Para o ano de 1984, estimou-se perdas de 84 milhões de litros de álcool, 600.000 toneladas de soja, 75.000 toneladas de arroz e 22.500 toneladas de milho (CURTI e BRITTO, 1987). Mesmo sendo estimativas pouco precisas, estas cifras dão uma idéia da amplitude do problema em anos de grandes pululações. De 1985 a 1989, cinco milhões de dólares foram gastos para o combate da praga no Mato Grosso, sendo 41% deste montante para pulverizações aéreas e 43% na compra de inseticidas e prestação de serviços (MIRANDA et al., 1996). Dezenas de milhares de litros de inseticidas foram utilizados, principalmente de fenitrotion e malation (Tabela 1).

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Tabela 1. Resultados das campanhas de tratamentos aéreos para controle de gafanho-tos no Mato Grosso de 1984 a 19881.

Anos 1984 1986 1987 1988

Zonas tratadas (ha) 100.000 245.000 99.387 71.303

Inseticidas utilizados (litros)

Fenitrotion UBV 50.000 67.310 26.591 21.887 Malation UBV (-) 20.400 10.750 (-) Horas de vôo Avião 500 835 264 200 Helicóptero (-) (-) 1.031 581 Custo da campanha (dólares americanos) 1.710.462 1.189.487 1.146.262 (-)

1Adaptada de Curti e Britto (1987) e Kuffner (1988); (-) = Ausência de dados; dados do

ano de 1985 não disponíveis.

Face à grande quantidade de inseticidas utilizada, à importância das superfícies atacadas e a extensão das áreas tratadas, várias controvérsias foram levantadas quanto à eficácia destes produtos. Os problemas ambientais foram os primeiros a serem observados. No caso do Mato Grosso, tornou-se mais complexo pela coexistência, dentro das áreas de pululações acridianas, de dois modos fundamentalmente diferentes de vida e ocupação das terras. O modo dos agricultores e pecuaristas, e o modo tradicional das tribos indígenas locais, principalmente os Parecis, Nambiquaras e Baiquiris. Para os primeiros, o gafanhoto é uma praga a ser combatida por todos os meios e para os índios trata-se de um elemento natural do ecossistema, às vezes uma criatura mitológica, freqüentemente um elemento importante da dieta cotidiana (LECOQ e PIEROZZI JUNIOR, 1995a; MIRANDA et al., 1996). Finalmente, esta lista de espécies de gafanhotos daninhos à pecuária e agricultura brasileiras não é limitada. Pululações localizadas de outras espécies podem ocorrer em diferentes lugares como resultado de condições temporariamente favoráveis.

1.3 Fatores responsáveis pelas pululações de gafanhotos no Brasil Diversos fatores podem originar os aumentos explosivos de populações de gafanhotos. Tanto podem ser os fatores climáticos quanto os bióticos -predadores, parasitóides e doenças. Geralmente, para os gafanhotos, os fatores climáticos são considerados como os mais importantes. Para algumas espécies, como é o caso de S. gregaria e L. migratoria na África, os fatores climáticos são determinantes da freqüência e da intensidade das pululações (LECOQ, 1991). No Mato Grosso, como mencionado antes, demonstrou-se

(31)

que as pululações regulares de R. schistocercoides são reguladas por fatores climáticos, ao invés da introdução recente da agricultura na região ou do desequilíbrio ecológico como se pensava inicialmente. Contudo, outros fatores podem explicar algumas pululações, mas as causas reais são geralmente ignoradas. Alguns desses fatores são pontuados a seguir.

1.3.1 Mudanças no manejo do solo e distúrbios ecológicos

Entre 1970 e 1985, os fazendeiros plantavam o trigo no inverno e a soja no verão nas regiões noroeste e sudoeste do Rio Grande do Sul. Durante este período os produtos químicos foram usados continuamente para controlar as principais pragas. Indiretamente, os produtos controlavam as populações locais de gafanhotos nativos, apesar de não serem um problema nessa época, mas eliminaram também os seus inimigos naturais. Em 1986, uma variedade melhorada do capim pensacola foi introduzida e as terras foram utilizadas principalmente para a criação de gado. Isto terminou com as aplicações de inseticidas, tendo como resultado a multiplicação dos gafanhotos (BARRIENTOS,1995).

1.3.2 Desmatamento e introdução de novas culturas

O desmatamento pode favorecer o surgimento de novos biótopos favoráveis para algumas espécies de gafanhoto. É o caso, por exemplo, da Indonésia onde foi mostrado recentemente que o desmatamento na ilha da Sumatra possibilitou o aparecimento de novos biótopos favoráveis para os gafanhotos migratórios (LECOQ e SUKIRNO, 1999). No Brasil, no estado de Mato Grosso, pensou-se inicialmente que o desmatamento poderia explicar as pululações dos gafanhotos, onde grandes áreas de cerrado têm sido abertas para o plantio de arroz, milho, cana-de-açúcar e soja desde o início do anos 80 (BARRIENTOS, 1995). No entanto, pesquisa exaustiva durante vários anos revelou que esta região era uma área regular de pululações de R.

schistocercoides e que a agricultura foi apenas introduzida “na terra dos

gafanhotos”. A longo prazo a agricultura certamente será de fato desfavorável para os gafanhotos pela modificação das áreas que são as mais apropriadas para reprodução e postura de ovos (MIRANDA et al., 1996).

1.3.3 Abandono de culturas tradicionais

Este caso ocorreu no sudoeste da França, onde importantes pululações do gafanhoto migratório Locusta migratoria (Linnaeus, 1758) ocorreram em 1945-47. Essas pululações foram essencialmente resultantes do abandono das culturas em conseqüência da segunda guerra mundial e o surgimento de campos sem cultivo, formando ambiente favorável à reprodução dos gafanhotos. Um outro exemplo foram as recentes pululações no Cazaquistão do gafanhoto migratório, do gafanhoto italiano, Calliptamus italicus (Linnaeus, 1758) e do gafanhoto marroquino, Dociostaurus maroccanus (Thunberg, 1815). É bem provável que essas pululações sejam decorrentes do abandono

(32)

de numerosas zonas cultivadas em conseqüência do desaparecimento da URSS, o que deve ter criado os meios favoráveis ao desenvolvimento desses insetos (LATCHININSKY, 2000).

1.3.4 Abandono do monitoramento e vigilância após o fim das pululações

As recentes pululações e invasões do gafanhoto peregrino na África e do gafanhoto migratório em Madagascar encontram a sua origem em condições pluviais favoráveis bem conhecidas. Um dispositivo de vigilância e de luta preventivo existe. Contudo, o abandono ou o abrandamento deste dispositivo, após vários anos sem surtos, impediu o controle precoce das recentes invasões dessas duas espécies (LECOQ, 2001, 2004).

1.4 Conclusão

O problema do gafanhoto no Brasil se reveste de múltiplas facetas. As espécies são diversas, as zonas e as culturas atacadas são múltiplas e as causas das pululações continuam longe de serem bem compreendidas. Mas o problema é recorrente e pode até se agravar no futuro em conseqüência de modificações antropomórficas. Atualmente só inseticidas químicos – fenitrotion, principalmente - são utilizados no combate dessa praga. As controvérsias que apareceram no fim dos anos 80, quando das últimas e importantes pululações de R. schistocercoides, constituíram um fator que desencadeou a pesquisa de soluções alternativas, menos nocivas para o ambiente, e sem dúvida mais viáveis a longo prazo. Um exemplo disso é o desenvolvimento do fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae var.

acridum na última década com resultados positivos em condições de campo.

Experimentos realizados em Níger e Austrália (LOMER e LANGEWALD, 2001; LOMER et al., 2001) e no Brasil (MAGALHÃES et al., 2000; FARIA et al., 2001) têm demonstrado que esse patógeno pode ser formulado e aplicado com equipamentos convencionais e que o controle é efetivo. As maiores vantagens desse produto são sua alta seletividade, segurança e efeitos colaterais não perceptíveis. O significado disso é que a fauna benéfica (inimigos naturais) é preservada, podendo contribuir para o controle da praga. Entretanto, Metarhizium é de ação lenta comparado aos inseticidas químicos e seu lugar num sistema de manejo integrado de pragas deve ser considerando-se esta característica. É possível antever uma estratégia de controle baseada no manejo integrado considerando um bom sistema de detecção e previsão, uso de inseticidas químicos para situações reais de emergência e Metarhizium para pululações com riscos imediatos mínimos às culturas.

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Capítulo 2

Estudos de laboratório com Metarhizium anisopliae var. acridum para controle de gafanhotos

B. Magalhães1, M. Faria2 & H. Frazão2

1Embrapa Sede, Parque Estação Biológica – Final W3 Norte, Brasília, DF, CEP 70770-901

2Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Parque Estação Biológica – Final W5 Norte, Brasília, DF, CEP 70770-900

2.1 Introdução

A exploração de inimigos naturais para o controle biológico de gafanhotos-praga pode ser uma alternativa importante. A principal razão é que se trata de uma estratégia menos poluidora do ambiente que o uso de inseticidas químicos. Os patógenos, incluindo vírus, protozoários, nematóides e fungos, se destacam entre os principais inimigos naturais de gafanhotos-praga, sendo os fungos os candidatos mais promissores. Ao contrário dos demais entomopatógenos, são capazes de penetrar nos insetos suscetíveis através da cutícula, sem necessidade de ingestão pelo hospedeiro. Em razão dos excelentes resultados obtidos em várias partes do mundo (LOMER et al., 2001; LOMER e LANGEWALD, 2001; MILNER, 2000), esses agentes têm sido considerados como substitutos dos inseticidas químicos no controle preventivo de gafanhotos (BATEMAN, 1997).

As principais espécies de fungos patogênicos a gafanhotos foram registradas por Prior e Greathead (1989). Outros relatos sobre a ocorrência de fungos em gafanhotos são bem conhecidos (CARRUTHERS et al., 1997; LOMER et al., 1997). Fungos como aqueles pertencentes ao complexo Entomophaga (= Entomophtora) grylli, responsáveis por epizootias naturais expressivas e adesão dos insetos mortos à região apical das plantas, só foram detectados no Brasil recentemente (SÁNCHEZ et al., 2002).

As variedades anisopliae e acridum do fungo M. anisopliae têm sido exploradas no controle de gafanhotos. A variedade anisopliae está sendo testada na Colômbia para controle de Rhammatocerus schistocercoides. Vários estudos foram realizados para selecionar isolados (CORREAL et al., 1998; BUSTILLO et al., 1997), estabelecer a relação entre a atividade enzimática do fungo e a virulência (VILLAMIZAR-RIVERO et al., 2001), e para otimizar o sistema de produção e formulação (ALVAREZ et al., 1997). Em condições de campo, o fungo microencapsulado com protetores contra raios ultravioleta causou até 67% de mortalidade (CORREAL et al., 1998). A variedade acridum está sendo utilizada na produção e comercialização de bioinseticidas para controle de gafanhotos na África, através do licenciamento

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