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CARNAVAL DE CONGO DE RODA D ÁGUA: cultura e memória de um povo.

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Academic year: 2021

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CARNAVAL DE CONGO DE RODA D’ÁGUA:

cultura e memória de um povo.

Patrícia Santos Silva1 Andressa Maria Rodrigues Loureiro1 GT 5: Informação e Memória

RESUMO:

O artigo pretende apresentar uma descrição de uma festa que é ao mesmo tempo, profana e religiosa, o Carnaval de Congo de Máscaras da região de Roda D’Água. Destaca a luta pela preservação da memória social e o fortalecimento da transmissão cultural mantida pelas comunidades congueiras. Enfatiza os conceitos de memória e identidade cultural, afim de promover um sentimento de pertencimento para a comunidade. Discorre sobre as peculiaridades do congo em Cariacica. Descreve a relevante promoção cultural que acontece em torno desta manifestação. Evidencia o contexto histórico-cultural em que o Carnaval de Congo, uma das maiores manifestações da cultura popular está inserido dentro da cultura

capixaba.

Palavras-chave: Carnaval de congo. Memória. Identidade cultural. Preservação da memória social.

1 INTRODUÇÃO

O Espírito Santo é um grande berço de manifestações populares. Uma das manifestações que ganham cada vez mais notoriedade é o Congo. Mazôco (1993) relata que oito dias após a Páscoa acontece em Roda d’Água, área rural do município de Cariacica, uma grandiosa festa, popularmente conhecida como Carnaval de Congo e Máscaras de Roda d’Água. Essa festa é realizada no mesmo dia em que se comemora, no calendário católico, o dia de Nossa Senhora da Penha, padroeira do Estado do Espírito Santo. O Carnaval de Congo e Máscaras reúne uma multidão de pessoas tornando-se uma das maiores festas populares do Estado. É a partir da memória das pessoas que participaram da festa ou mesmo da sua organização, é possível dizer que o Carnaval de Congo e Máscaras teve início em um tempo que remonta a mais de um século e que tem suas origens ligadas aos escravizados da região, que faziam os festejos ao som dos tambores de congo.

Para Santos (2012) o congo representa um dos mais significativos e disseminados símbolos da cultura do Espírito Santo, estando presente em muitas outras manifestações culturais. Estima-se que a maior parte do território espírito-santense conta ou já contou com a presença do congo.

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2 IDENTIDADE CULTURAL E MEMÓRIA

É através das manifestações culturais de um povo que podemos conhecer sua história e sua forma de pensar, fato que reflete o modo como ele se vê e percebe o mundo. A partir disso, se dá o processo de identificação cultural, onde o conhecimento transmitido pela comunidade é somado aos saberes vivenciados pelo próprio indivíduo. Assim pode-se dizer que “o homem é resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o antecederam” (LARAIA, 1999, p.46).

Seguindo na mesma linha Garcia (2010) ressalta que os costumes são adquiridos de acordo com o local de crescimento do indivíduo. O determinismo geográfico terá grande influência nos fatores culturais. Portanto, a identidade cultural será refletida nas crenças, na arte local e nos costumes de um povo.

A respeito do conceito de memória Batista (2005) afirma que o resgate da memória e de suma importância para a construção da identidade de um povo, pois toda a produção de conhecimento se dá a partir de conhecimentos adquiridos ou experiências vivenciadas.

Para Pomian (2000, p.507) “toda memória é em primeiro lugar uma faculdade de conservar os vestígios do que pertence já em si a uma época passada”. A memória é o que permite a um ser vivo voltar no tempo, relacionar-se, sempre se mantendo no presente, com o passado. O resgate da memória é de suma importância para a construção de uma identidade.

Le Goff (2003) explica que memória enquanto fenômeno social pode ser entendida como a história, a cultura de um povo. A memória coletiva é aquela que ultrapassa a memória individual e biológica de um indivíduo e torna-se a memória de uma sociedade. A ideia de memória reflete um sentimento de pertencimento a um determinado grupo ou lugar.

2.1 UMA LINHA TÊNUE ENTRE O PROFANO E O RELIGIOSO

Também conhecido como Carnaval de Máscaras, o festejo popular que se realiza em Roda d’Água, é realizado observando o calendário religioso: o dia de Nossa Senhora da Penha, a padroeira do Espírito Santo. Freitas (2007) enfatiza que as memórias dos mestres das bandas de congo ressaltam que o Carnaval era realizado em forma de cortejo, onde escravos fugidos que viviam na região se fantasiavam e saiam tocando tambores pelas ruas. O festejo fazia uma alusão à Folia de Reis.

Atualmente a festa se inicia com uma procissão em homenagem a Nossa Senhora da Penha, onde a frente da procissão segue um andor com a imagem da santa. Uma significativa

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devoção que não podemos deixar de citar é a homenagem que algumas bandas de congo fazem a São Benedito, o “Santo dos Pretos” como relata Maciel (1992).

O Carnaval de Congo, de acordo com Freitas (2007) apresenta duas facetas, uma seria a religiosa, momento em que acontece a procissão em homenagem a Nossa Senhora da Penha, seguida de uma missa (realizada pela manhã). E no período da tarde, momento em que as bandas de congo se apresentam indo de encontro ao mastro que as identifica, seria o profano. Neste sentido, diversão e devoção podem ser vistas compondo uma mesma estrutura cultural quando analisamos o Carnaval de Congo e Máscaras.

2.2 CARNAVAL DE CONGO: ESPAÇO DE DISSEMINAÇÃO DA CULTURA E MEMÓRIA

Sobre a transmissão cultural, Santos (2012) descreve que ela vem sendo perpetuada por três gerações de uma mesma família que guardam e transmitem a tradição de congo, contribuindo para dar significado a essa referência cultural na Região de Roda d’Água.

O Carnaval de Congo e Máscaras, que é atualmente é organizado pela Associação das Bandas de Congo de Cariacica, que é composta por seis bandas. São elas:

Banda de Congo Mestre Itagiba; Banda de Congo Santa Izabel;

Mestre de Congo São Benedito de Boa Vista; Banda de Congo São Benedito de Piranema; Banda de Congo São Sebastião de Taquaruçu; Banda de Congo Unidos de Boa Vista.

Além destas seis bandas, existem, ainda, três bandas mirins, sendo duas delas ligadas a bandas adultas. Há alguns anos foi criada a banda de congo da APAE Padre Gabriel Roger Maire, composta por crianças e jovens com Síndrome de Down, que encantam a todos. As comunidades e bandas de congo assumem o compromisso de manter viva a cultura do congo.

Outro elemento importante na formação da memória e identidade dos congueiros na região de Roda d’Água é o personagem João Bananeira. Relatos contam que um fazendeiro desejava participar do carnaval de congo, porém receava ser reconhecido, como solução ele produziu roupas de bananeira, para ir à festa e não ser reconhecido. Uma segunda versão é que os escravos se mascaravam para participarem da festa sem serem reconhecidos. Como a principal produção agrícola da região é a banana, a matéria-prima para a confecção das fantasias, as folhas da bananeira, era de fácil acesso. Por isso surge o nome do personagem João Bananeira, principal símbolo do Carnaval de Congo do município de Cariacica.

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2.3 PROMOÇÃO CULTURAL

Por ser importante símbolo da cultura do Estado muitos artistas locais se utilizaram desta referência cultural em suas produções tornando-o um produto de forte apelo comercial. Músicos, cineastas, artistas plásticos e escritores são alguns dos inúmeros artistas que já se utilizaram do congo para, por meio deste, impregnar a marca capixaba em seus trabalhos. Como exemplo, temos bandas musicais advindas do congo como a Cia Cumbi, ou que tem referências como a banda Manimal e Casaca, esta última que já alcançou destaque nacional.

A lei João Bananeira incentiva a valorização da identidade e da produção cultural no município de Cariacica. A lei beneficia iniciativas nas áreas de artes visuais, audiovisual, artes cênicas, literatura, música, patrimônio artístico, cultural, folclore, carnaval, artesanato e humanidades. Cariacica é o terceiro município do Estado a criar uma lei de incentivo à cultura.

2.4 BIBLIOTECONOMIA E PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA

Preservar os conhecimentos do passado protege a base da sociedade contemporânea e do futuro, com isso garantimos o direito à cultura e evitamos o desaparecimento dos referenciais culturais, materiais e imateriais do nosso patrimônio histórico cultural. Como característica marcante, a Biblioteconomia consegue estabelecer conexões com outras áreas do conhecimento, gerando assim a interdisciplinaridade.

Segundo Oliveira (2008), a Biblioteconomia é classificada como subárea da Ciência da Informação pelas agências de fomento brasileiras, e contempla a questão da memória em sua literatura, estabelecendo diretrizes e parâmetros para a execução das práticas profissionais a ela referente, reconhecendo a função social que o bibliotecário deve desempenhar na

preservação e divulgação da memória social.

Garcia (2010) considera que ao portar uma carga informacional, o sujeito se transforma em uma fonte de informação viva. O autor também afirma que apesar de todo o avanço informacional persiste ainda a memória, afinal o espaço de criação potencializa o comportamento, os costumes e o discurso do sujeito ou da comunidade.

3 METODOLOGIA

A metodologia empregada nesta pesquisa é de cunho bibliográfico. Foi realizada uma pesquisa em busca de referencial teórico, onde pudemos fazer comparações entre a produção da década de 90, que fazia uma descrição desta festividade, e da produção atual, que

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vai a campo e traz relatos dos personagens envolvidos e explicita a importância de se propagar esta manifestação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve por objetivo refletir sobre a questão do pertencimento e as relações instituídas de memória e identidade cultural. Antigamente, os membros das bandas de congo se sentiam discriminados, pois até mesmo moradores da comunidade, classificavam o congo como “macumba”. Com incentivos culturais, publicidade e apoio por parte do poder público este estigma foi se transformando. Hoje, a Associação das Bandas de Congo luta para manter acessa a chama do congo, por entenderem que se trata de uma referência cultural dos africanos e de seus descendentes no Brasil que se origina desde o período da escravidão. Ressaltando assim o sentimento de pertencimento que é transmitido entre as gerações dos filhos dos congueiros.

Em 2014 o governo do Estado oficializou o congo como o primeiro patrimônio imaterial do Espírito Santo, pois o ritmo é considerado essencial na cultura do Estado. De acordo com a Constituição Brasileira,quando um bem é reconhecido como patrimônio imaterial, o Poder Público passa a ter maior responsabilidade na promoção, preservação e proteção do objeto cultural.

Este artigo resulta de um seminário desenvolvido na disciplina de ação cultural, onde podemos trazer para o ambiente acadêmico reflexões sobre a identidade, cultura e valorização da tradição das bandas de congo. Além disso, este trabalho possibilitou a desmistificação das possíveis causas que geram impressões equivocadas e estigmatizadas pela sociedade.

Com este trabalho pretendemos mostrar que a preservação do passado, garante a base de uma sociedade e transmite ás futuras gerações, uma identidade cultural.

REFERÊNCIAS

BATISTA, Claudio Magalhães. Memória e Identidade: aspectos relevantes para o

desenvolvimento do turismo cultural. Caderno virtual de turismo. Rio de Janeiro, v.5.n,

3,p.27-33.2005.Disponível em < http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.

php?journal=caderno&page=article&op=view&path%5B%5D=93 > Acesso em: 20 jan.2015. FREITAS, Dagmar Alves de. O Carnaval de Congo de Roda d’Água. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Marcos. São Paulo, 2007.

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GARCIA, Daniel Xavier. Bibliotecário 2.0 e a preservação da memória: os falares açorianos da ilha de Santa Catarina. Trabalho de conclusão de curso (graduação em Biblioteconomia) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 12 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

LE GOFF, Jacques. História e memória. 5 ed.Campinas: Editora da Unicamp,2003. MACIEL, Cleber. Candomblé e Umbanda no Espírito Santo: práticas culturais religiosas afro-capixabas. Vitória: DEC, Universidade Federal do Espírito Santo, 1992.

MAZÔCO, Eliomar Carlos. O Congo de Máscaras. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria de Produção e Difusão Cultural, 1993.

OLIVEIRA, Eliane Braga; RODRIGUES, Georgete Medleg. As concepções de memória na Ciência da Informação no Brasil: estudo preliminar sobre a ocorrência do tema na produção científica. Ponto de Acesso, Salvador, v. 3, n. 3, p. 216-239, dez. 2009. Disponível em< file:///D:/Meus%20Documentos/Downloads/3613-9010-3-PB.pdf> Acesso em 29 jan.2015. POMIAN, Krystof. Memória. In: Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 2000.

SANTOS, José Elias Rosa dos. Processos organizativos, memória e identidade: etnografia e história da transmissão cultural do congo em uma comunidade afro-brasileira-Cariacica (ES). In: SEMINÁRIO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS. 2011, Vitória. Anais... Vitória: UFES, 2011. Disponível

em<http://periodicos.ufes.br/SNPGCS/article/view/1475> Acesso em: 11 jan.2015.

SANTOS, José Elias Rosa dos. Carnaval de Congo e Máscaras: construção e reconstrução de um ritual. In: I SIMPOSIO INTERNACIONAL E II NACIONAL SOBRE

ESPACIALIDADES E TEMPORALIDADES DE FESTAS POPULARES. 2013, Goiânia.

Anais... Goiânia: LABOTER UFG, 2013.p.309-329. Disponível em: <

Referências

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