• Nenhum resultado encontrado

A política de propaganda como elemento de formação identitária na Exposição do Centenário da Independência do Brasil

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A política de propaganda como elemento de formação identitária na Exposição do Centenário da Independência do Brasil"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

A política de propaganda como elemento de formação

identitária na Exposição do Centenário da Independência

do Brasil

ISABELLA SANTOS PINHEIRO (IC) isabellapinheiro@ufrj.br Instituto de História - UFRJ Araci Alves Santos(PG); Nadja Paraense dos Santos(PQ) Historia das Ciências e das Técnicas e da Epistemologia/ - UFRJ

Resumo

Foram celebrados na cidade do Rio de Janeiro, em 1922, os cem anos da independência do Brasil (1822), através da Exposição do Centenário da Independência que se iniciou em setembro de 1922 e durou até julho 1923.

As celebrações dos cem anos de independência possibilitaram ao governo brasileiro a tentativa de tornar o Rio de Janeiro uma vitrine para o mundo. Entretanto, tal vitrine, deveria mostrar um Brasil evoluído, civilizado, com uma ótima educação e higiene. Portanto, este trabalho tem como objetivo caracterizar a ideologia presente na formação identitária do país ao longo da Exposição do Centenário da Independência, através de propagandas de saúde presentes no Livro de Ouro. Palavras-chave: Livro de Ouro, Propaganda, Saúde Pública

Introdução

Foram celebrados na cidade do Rio de Janeiro, em 1922, os cem anos da independência do Brasil (1822), através da Exposição do Centenário da Independência que se iniciou em setembro de 1922 e durou até julho 1923.

Ao longo da Exposição, o Rio de Janeiro recebeu representantes diversos países, dentre os quais, Estados Unidos, França e Inglaterra. Abriu-se espaço a um diálogo com as grandes potências mundiais e tendo a oportunidade de ascender frente ao julgamento dos chamados “países de primeiro mundo”.

No início da Exposição, o presidente do país era Epitácio Pessoa (mandato de 1919 a 1922) que logo foi substituído por Artur Bernardes, em novembro de 1922. Bernardes possuía uma política demasiadamente nacionalista e procurava sempre exaltar os recursos naturais do país, o que também foi uma marca da Exposição.

(2)

As celebrações dos cem anos de independência possibilitaram ao governo brasileiro a tentativa de tornar o Rio de Janeiro uma vitrine para o mundo. Entretanto, tal vitrine, deveria mostrar um Brasil evoluído, civilizado, com uma ótima educação e higiene.

Portanto, este trabalho tem como objetivo caracterizar a ideologia presente na formação identitária do país ao longo da Exposição do Centenário da Independência, através de propagandas de saúde presentes no Livro de Ouro.

O combate às doenças ganhou força após a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), que ocorreu no dia 2 de janeiro de 1920 por determinação do governo federal. O departamento foi criado (HOCHMAN, p.1,2015):

(...) para ser o principal órgão federal da área de saúde, subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. O novo departamento correspondeu na prática a uma reforma na estrutura da saúde pública brasileira, em particular pelo aumento da capacidade do governo federal para atuar além dos limites da capital do país e dos principais portos marítimos e fluviais, e pela incorporação formal, pelo Estado nacional, da preocupação com as doenças das populações do interior.

Esse foi um elemento importante para dar prosseguimento ao “projeto” de nação ideal que estava sendo construído na época (civilizada e munida de um excelente sistema sanitário).

Ao obter um sistema de saúde pública exemplar, estaria sendo feito um combate aos problemas brasileiros da época que segundo os médicos sanitaristas do período, seriam as doenças o isolamento entre regiões. (HOCHMAN, 1998).

Através da conscientização, com destaque para o ensino da população, se pretendia constituir um modelo de nação de acordo com os ideais das elites intelectuais e políticas. O Brasil, partir da exposição do Centenário, seria identificado por ser um país moderno e estar caminhando sempre rumo ao progresso, com uma perfeita comunhão entre avanço tecnológico, científico, sanitário e educacional, se aproximando das nações europeias.

A importância dada a conscientização da população através da educação sanitária e a tentativa de incorporar o povo no “novo projeto de nação”, podem ser percebidas nos cartazes de propaganda de saúde. Era preciso remodelar, mas para

(3)

isso, todos deveriam estar trabalhando unidos nessa remodelagem. Um país evoluído, não poderia possuir altos índices de mortalidade causados por epidemias ou mesmo doenças, ele deveria ser composto de cidadãos robustos, conscientizados, que teriam forças para trabalhar e ativar a máquina do progresso.

Segundo o ex-ministro da saúde José Gomes Temporão, em prefácio do livro Vendendo Saúde (BUENO, 2008), inicialmente, os anúncios abrangiam uma população restrita, leitora de jornais. Somente em meados do século XX, após a adoção da publicidade pelos meios de comunicação em massa, os anúncios ganharam força e passaram a impactar um público maior.

A apresentação dos produtos, a propaganda massiva e segmentada, a publicidade e as técnicas de vendas que cercam os medicamentos são irresistíveis. Bem diferentes dos discursos sobre saúde que, não raro, soam enfadonhos. (pag.15)

As propagandas costumam ser agradáveis e se aproximam mais da linguagem popular no processo de disseminação das ideias e prevenção de doenças para construção de um sistema de saúde pública exemplar.

Diálogos entre saúde pública e propagandas

O Livro de Ouro possui mais de 500 páginas, incluindo textos e propagandas, além de um anexo apenas com anúncios de bancos e lojas, foi feito para ser um monumento à Exposição e efetivamente reúne três características sendo um documento, um símbolo e ao mesmo tempo um verdadeiro almanaque não apenas da Exposição, mas também da História do Brasil.

A obra faz uma compilação sobre o evento: congressos realizados, expositores, propagandas, campanhas profilaxias do governo, etc. Além disso, o livro é um verdadeiro catálogo das propagandas de vários produtos da nossa indústria como, por exemplos: o cartaz da fábrica Chapéu Mangueira,do Departamento Nacional de Saúde Pública, de inúmeros laboratórios químicos, biológicos e farmacêuticos. (SANTOS, 2010)

Quanto a organização do Livro de Ouro, segundo Junqueira (2011, p.158-159) constituiu-se uma comissão do centenário que:

Além dos encargos estabelecidos no Projeto, o comitê deveria organizar e realizar congressos científicos, literários, históricos,

(4)

de belas artes, de instrução primária, secundária, superior, técnica e profissional.

Foi a partir desse dispositivo legal que se estabeleceu o concurso público na Capital Federal e nas demais sedes dos outros estados para a composição de trabalhos históricos que formariam o Livro de Ouro.

No período, houve diversas publicações em jornais, verbetes, cartazes, propagandas e filmes com a temática da saúde pública (SANTOS, 2010). Contudo, este trabalho irá se ater às figuras presentes no Livro de Ouro da Exposição que dialoguem com os temas de saúde e educação. O diálogo entre higiene, identidade nacional e progresso, pode ser analisado através das políticas de propagandas adotadas pelo governo e anúncios de indústrias, que utilizavam esse recurso para informar a população da importância de combater as doenças e possuir boas condições sanitárias no país.

Para a análise proposta, destacam-se três imagens, retiradas do Livro de Ouro, que demonstram a ideologia da época. Uma é um anúncio de xarope, aparentemente de uma indústria farmacêutica, (FIGURA 1) contra a tosse que utiliza as sete maravilhas do mundo e mistura referências de monumentos localizados em países considerados grandes potências mundiais, entre os quais o Pão de Açúcar do Rio de Janeiro, incorporando todas as referências em um mesmo patamar e vinculando os monumentos às características positivas do xarope.

(5)

FIGURA 1 – Laboratório Aragão: Xarope Contratosse. Fonte: Livro de Ouro, pág. 5

A outra figura é um cartaz de combate à tuberculose (FIGURA 2) que expõe os modos de contrair a doença e os meios de prevenção, contendo informações que ressaltam a importância de “obedecer aos princípios da hygiene”. De acordo com Dilene Nascimento (2005), a tuberculose teve uma primeira fase onde era considerada de responsabilidade individual, mas no início do século XX, ela passou a ser vista como de responsabilidade do Estado. Inclusive, ocorreu produções de charges ironizando a omissão do Estado em relação a doença.

(6)

Figura 3 – Cartaz da Inspetoria de Profilaxia da Tuberculos. Fonte: Livro de Ouro pag. 17.

Figura 3 – Cartaz da Inspetoria da Lepra e Doenças Venéreas. Fonte: Livro de Ouro pag. 53

(7)

Nota-se que a Figura 1 tem como intuito a venda de uma mercadoria, esses tipos de anúncio eram muito corriqueiros na época, devido a forte campanha em prol da saúde pública. Já a Figura 2 e Figura 3 são referentes a um tipo de campanha de conscientização da população acerca da existência das doenças e um chamado para que todos participem do combate a elas. Mas especificamente sobre a Figura 2 há um caráter didático, buscando ensinar à população as formas de prevenção da tuberculose.

Conclusão

A análise das propagandas que circularam durante a Exposição do Centenário da Independência no Rio de Janeiro é de fundamental importância para compreensão da metodologia utilizada, sobretudo, no governo de Arthur Bernardes. As imagens demonstram uma tentativa de diálogo mais prático e de mais fácil compreensão para propagar os ideais sanitários. Todo esse debate em relação a saúde pública cooperaria para uma imagem do Brasil como um país moderno, mesmo que, seu nacionalismo remetesse a exaltação de certa tradição do país, retratada pelos recursos naturais expostos ao longo da exposição e o incentivo do sentimento de amor a pátria.

BIBLIOGRAFIA:

BUENO. Eduardo. Vendendo saúde: história da propaganda de medicamentos no Brasil. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2008.

HANSEN. Patrícia Santos. Sobre o conceito de “País novo” e a formação de brasileiros nas primeiras décadas da República. Iberoamericana (Madrid), v. 45, p. 7-22, 2012. Disponível em https://journals.iai.spk-berlin.de/index.php/iberoamericana/article/viewFile/503/187

HOCHMAN, Gilberto. Regulando os efeitos da interdependência: Sobre as relações entre saúde pública e construção do Estado (Brasil 1910-1930). Estudos Históricos, 6 (11), 40-61, 1993.

HOCHMAN, Gilberto. Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP). Disponível em:

(8)

http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/DEPARTAMENTO%20NACIONAL%20DE%20SA%C3%9ADE%20P %C3%9ABLICA%20(DNSP).pdf, acessado em 10 de outubro de 2015.

JUNQUEIRA, Júlia Ribeiro . As comemorações do sete de setembro em 1922:

uma re(leitura) da história do Brasil. Revista de História Comparada (UFRJ) ,

v. 5, p. 155-177, 2011.

MOTTA, Marly Silva da. "Ante-sala do paraíso", "vale de luzes", "bazar de maravilhas" - a Exposição Internacional do Centenário da Independência (Rio de Janeiro - 1922). Rio de Janeiro: CPDOC, 1992.

NASCIMENTO, Dilene Raimundo do. As Pestes do Século XX: Tuberculose e AIDSno Brasil, uma História Comparada. Rio de Janeiro, Editora FIOCRUZ, 2005.

RIO DE JANEIRO. O livro de ouro - Comemorativo do Centenário da Independência e da Exposição Internacional de 1922. Anais do Conselho Municipal, Editora Annuário do Brasil/Almanak Laemmert, Rio de Janeiro, 1923.

SANTOS, Araci Alves. Terra Encantada – A Ciência na Exposição do Centenário da Independência do Brasil. Dissertação de Mestrado, HCTE/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

SANTOS, Ricardo Augusto dos. “Lobato, os jecas e a questão racial no pensamento social brasileiro”. Achegas, www.achegas.net, número 7, 2003.

Referências

Documentos relacionados

Usado com o Direct Phone Link 2, o Beltone Smart Remote permite que você use seu dispositivo móvel para obter facilmente uma visão geral e controlar remotamente seus

Revogado pelo/a Artigo 8.º do/a Lei n.º 98/2015 - Diário da República n.º 160/2015, Série I de 2015-08-18, em vigor a partir de 2015-11-16 Alterado pelo/a Artigo 1.º do/a

O presente texto, baseado em revisão da literatura, objetiva relacionar diversos estudos que enfatizam a utilização do dinamômetro Jamar para avaliar a variação da

Declaro meu voto contrário ao Parecer referente à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresentado pelos Conselheiros Relatores da Comissão Bicameral da BNCC,

libras ou pedagogia com especialização e proficiência em libras 40h 3 Imediato 0821FLET03 FLET Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa. Estudos literários

Dessa maneira, é possível perceber que, apesar de esses poetas não terem se engajado tanto quanto outros na difusão das propostas modernistas, não eram passadistas. A

Este estudo tem o intuito de apresentar resultados de um inquérito epidemiológico sobre o traumatismo dento- alveolar em crianças e adolescentes de uma Organização Não

Estabelece a metodologia do Sistema Online de Manifesto de Transporte de Resíduos – Sistema MTR, de forma a subsidiar o controle dos Resíduos Sólidos gerados, transportados e