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29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul

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Academic year: 2021

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29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul

CULTURAS JUVENIS, ESCOLA E ENSINO: APROXIMAÇÕES ENTRE O HIP HOP, CONTEÚDOS CURRICULARES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Área temática: Educação

Sônia Tramujas Vasconcellos (Coordenadora da Ação de Extensão) Sônia Tramujas Vasconcellos1, Scheila Mara Maçaneiro2, Solange Maranho Gomes3, Silvia Regina Nogueira Benetor4 Palavras-chave: cultura juvenil, hip hop, jovem aluno, formação de professores.

Resumo

Vinculado ao programa de extensão Universidade Sem Fronteiras, este projeto envolveu professoras universitárias, egressa, alunas das licenciaturas em artes visuais, música e dança da Faculdade de Artes do Paraná e um grupo de professores e alunos de três colégios estaduais da cidade de Guaratuba, Paraná. Objetivou-se propiciar articulações entre conteúdos curriculares e uma expressão artística juvenil: o Hip Hop. Constataram-se mudanças na relação dos envolvidos com a cultura juvenil e com o aluno jovem no espaço escolar. Introdução

Com o intuito de realizar leituras e apontamentos sobre jovem e cultura juvenil que auxiliassem os acadêmicos dos cursos de licenciatura da Faculdade de Artes do Paraná/ FAP no contato com a realidade escolar, elaborou-se o projeto intitulado “Cultura juvenil e ensino de arte: aproximações entre o Hip Hop e os conteúdos de arte do ensino médio” que foi aprovado no programa de extensão universitária Universidade sem Fronteiras, subprograma apoio às licenciaturas, para o ano de 2009 a 2010. O conteúdo programático envolvia história e linguagem do hip hop e as diretrizes curriculares de arte, e como sujeitos três professoras universitárias (atuantes nas licenciaturas em artes visuais, dança e música), cinco acadêmicas, uma egressa da FAP e um grupo de professores de Guaratuba, cidade litorânea do Paraná. A egressa e as acadêmicas foram selecionadas como bolsistas, sendo que a egressa era da área de dança e as acadêmicas das áreas de artes visuais, dança e música.

O projeto focou as relações de diferentes áreas do conhecimento com o trabalho de expressão artística, interação e socialização propiciado pelo movimento Hip Hop. A intenção foi aproximar os envolvidos da FAP: professoras, egressa e alunas de licenciatura, com os estudos e a vivência de

1 Coordenadora do projeto de extensão, mestre em Educação, docente do colegiado de artes

visuais da Faculdade de Artes do Paraná. Email: soniatramujas@yahoo.com.br

2 Mestre em Artes Cênicas, docente do colegiado de dança da Faculdade de Artes do Paraná. 3 Mestre em Música, docente do colegiado da licenciatura em música da Faculdade de Artes do

Paraná.

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uma manifestação cultural que os auxiliassem nas discussões sobre esta expressão juvenil e conteúdos escolares com um grupo de professores de três colégios estaduais de Guaratuba. Pretendeu-se, desta forma, instigar e fornecer condições para a sistematização e disseminação de iniciativas extensionistas em prol da valorização da cultura juvenil e da aprendizagem diferenciada de saberes escolares.

O envolvimento das professoras universitárias, egressa e alunas das áreas de artes visuais, dança e música foi proposital: o próprio movimento Hip Hop envolve manifestações musicais como o rap, manifestações da dança como o break e das artes visuais como o grafite.

Metodologia

A metodologia de trabalho abrangeu encontros periódicos entre os participantes da FAP para embasamento teórico sobre cultura juvenil (Pais e Blass, 2004; Sposito, 2002), Hip Hop (Lindolfo Filho, 2004; Souza, 2007), diretrizes curriculares estaduais de arte (2008), educação estética (Housen, 2000; Leontiev, 2000) e para experimentação e contato com as linguagens artísticas do Hip Hop. O trabalho de campo envolveu no primeiro ano professores e alunos do ensino médio de Guaratuba e no segundo ano a oferta de um curso para um grupo de professores, com aplicação de instrumentos diagnósticos e proposição de exercícios de inter-relações entre movimento hip hop, linguagens artísticas e conteúdos escolares.

De acordo com Gimeno Sacristán (2005), muitos professores têm ciência das singularidades de seus alunos, ou seja, de que eles pensam, sentem, se entusiasmam, se inibem, se relacionam, possuem uma vida pessoal e familiar, uma história, um contexto de vida, mas que aspectos de toda essa complexidade entram nas representações que elaboram do discente? Como cruzar estas especificidades com o contexto escolar, as apropriações de conteúdos e a formação cultural do aluno?

Várias destas indagações permeam os trabalhos realizados no Brasil principalmente a partir de 1995, conforma aponta Dayrell (2002). Nestes estudos, a categoria "aluno" aparece de uma forma mais complexa, visto como indivíduos que nascem em condições sociais determinadas, constroem uma experiência que afeta suas visões de mundo, seus sentimentos, emoções, desejos e atos de sociabilidade que repercutem no espaço escolar. Desta forma, o cotidiano escolar é mediado pela apropriação, elaboração, transformação e rejeição expressa pelos sujeitos que ali atuam.

O jovem, mesmo sendo analisado na sua condição de aluno, é visto como sujeito ativo no cotidiano escolar, capaz de apropriar e reelaborar os conteúdos e as experiências vividas neste espaço, revelando a diversidade existente entre o corpo discente, que se manifesta na multiplicidade de sentidos atribuídos às práticas escolares, nos diferentes comportamentos e atitudes que assumem diante das normas, nas formas próprias de sociabilidade que criam, longe dos olhares da instituição (DAYRELL, 2002, p. 108).

Alguns desses estudos avançam ao apontar a existência de uma cultura juvenil, expressa nas visões de mundo, nas escolhas realizadas, no jeito de se vestir, de falar e agir na sala de aula, ainda que estas condutas sejam vistas

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como “desalinhadas, confrontativas e exóticas” (PAIS; BLASS, 2004). É ressaltada a vinculação orgânica existente entre cultura, educação e escola, presente nas interações sociais que ocorrem entre os alunos, destes com os professores e funcionários, nos mais diversos espaços e tempos escolares. Esta fundamentação teórica balizou o projeto, entremeada por debates, leituras, construção e realização de atividades pedagógicas. Foram convidados rappers, breaks e grafiteiros de Curitiba para discussão destas manifestações no espaço acadêmico e nas escolas de Guaratuba. Rappers ou MCs (mestre de cerimônia) são os cantores de rap – um discurso rítmico com rimas e poesias que relata situações, problemas ou acontecimentos. Já os breaks são os dançarinos, chamados de B.Boys ou B.Girls, que executam a break dance.

No ano de 2009 também foram realizados encontros com alunos e professores do ensino médio para apresentação da história do Hip Hop, das especificidades das linguagens e para a realização de atividades de sensibilização artística. Ao final deste ano realizou-se um evento na frente de um dos colégios de Guaratuba onde um grupo de B. Boys, Mcs e grafiteiros fizeram intervenções com a participação de professores e alunos.

Em 2010 ofertou-se um curso para professores de Guaratuba com o intuito de aprofundar as discussões sobre cultura juvenil, Hip Hop, jovem e escola. Das três escolas parceiras, 34 professores se inscreveram e destes, 10 participaram até o final.

No contexto das artes visuais foram realizadas atividades de stencil envolvendo a seleção de imagens do cotidiano por cada um dos participantes, a realização de uma matriz em papel e a aplicação de spray na matriz em um mural. Ao final foi feita uma leitura das imagens produzidas com a participação de todos e entregue dois textos para embasar o processo realizado.

Em outro encontro o foco foi a música, sendo realizadas atividades de texto e ritmo que culminaram na construção e interpretação de um rap. Novos textos de apoio foram apresentados para relacionar a atividade com a linguagem da música.

Para discutir a linguagem da dança foram propiciadas vivências de sensibilização corporal enfatizando as articulações e atividades em grupo. A partir de palavras que designavam partes do corpo, cada um montou uma pequena coreografia e depois a associou com a do colega. Esta atividade propiciou a investigação do corpo e o trabalho em dupla, em uma estreita relação entre criar, sentir, perceber e pensar. Esta relação é de vital importância no campo do ensino de arte. Neste sentido Márcia Strazzacappa (2008, p. 88) salienta que o professor de dança nas escolas não necessita ser um exímio dançarino, pois o seu.enfoque é a sala de aula e não o palco, contudo precisa possuir sensibilidade para a dança, de ter visto, sentido e exercitado a criação em dança.

Ao final desta etapa envolvendo experimentações, reflexões e fundamentação teórica, os professores expuseram suas percepções sobre as atividades realizadas e os textos lidos, relacionando-os com suas práticas em sala de aula.

Enquanto realizaram as atividades, os professores aplicaram um questionário para cento e cinquenta alunos e em um dos encontros discutiram as respostas coletadas e suas percepções sobre os relatos. O intuito foi conhecer a opinião dos jovens alunos sobre temas relacionados a cidade, a escola, as artes e as manifestações juvenis. A partir destes dados os

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professores puderam propor novas atividades relacionando-as com questões apontadas pelos alunos.

No final do projeto os professores comentaram sobre os trabalhos realizados em sala de aula a partir do que foi discutido no curso, assim como a mudança de postura frente ao comportamento dos jovens na escola e de suas manifestações artísticas.

Conclusões

Os professores relataram como foi importante a constante relação entre teoria e prática, o quanto aprenderam com as vivências, trocas e leituras, a mudança propiciada pelo curso na sua prática docente, neles mesmos. Eis a fala de dois professores que participaram do curso:

As leituras, as discussões, as vivências durante o curso me trouxeram bagagem para realizar um trabalho prático em sala, de vivência nas diversas linguagens da arte. De nada adianta trabalharmos a arte se não descobrimos a arte dentro de cada um de nós. Os meus alunos escolheram a linguagem que mais falava sobre a sua forma de ser e a apresentaram para os colegas.

A partir do momento que você está engajado no projeto, que você está participando, você está trabalhando, você está aprendendo a vivenciar a linguagem do jovem, do adolescente, o que ele quer dizer através do grafite, através da música, através da dança. Isto com certeza trará um aprendizado muito grande para mim e poderei aplicá-lo no meu dia-a-dia, enquanto educador na escola e enquanto pai em casa.

Bolsistas e professores orientadores aprofundaram estudos, discussões e atividades pedagógicas sobre um assunto ainda pouco abordado nos espaços formais de ensino: a cultura juvenil.

Os professores e professoras de Guaratuba, pelas vivências, trocas e leituras, se perceberam outros: mais interessados nas linguagens artísticas juvenis porque experienciaram cada processo, mais próximos de seus alunos porque investigaram seus gostos, preferências e anseios.

Deste modo foi possível constatar uma mudança qualitativa na relação professor-aluno, bem como na percepção dos envolvidos sobre as manifestações juvenis, o que contribuiu para aproximar aspectos do cotidiano dos jovens com os conteúdos escolares.

Referências

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CORTI, A. P.; FREITAS, M.V. de; SPOSITO, Marília Pontes. O encontro das culturas juvenis com a escola. São Paulo: Ação Educativa, 2001.

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DAYRELL, J. Juventude e escola. In: SPOSITO, M. P. (coord.). Juventude e escolarização (1980-1998). Brasília: MEC/Inep/Comped, 2002 (Série Estado do Conhecimento n. 7), p. 80-114.

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PAIS, J. M.; BLASS, L. M. (orgs.). Tribos urbanas: produção artística e identidades. São Paulo: Annablume, 2004.

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SOUZA, J. Hip Hop: da rua para a escola. 2ª ed. Porto Alegre: Sulinas, 2007. SPOSITO, M. P. Considerações em torno do conhecimento sobre juventude na área da educação. In: _____ (coord.). Juventude e escolarização (1980-1998). Brasília: MEC/Inep/Comped, 2002 (Série Estado do conhecimento n. 7), p. 7-34.

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