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A Ideia de Modernidade em Reinhart Koselleck

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Maria Fabiana das Graças de Lima Carneiro1

fabianadelima99@gmail.com

RESUMO

O presente artigo apresenta uma reflexão sobre a modernidade desenvolvida por Reinhart Koselleck, à luz de sua obra Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. O esforço metodológico da história dos conceitos desenvolvida pelo autor tenta resolver onde residem as estruturas ou as condições de possibilidades das histórias possíveis, o que Koselleck denomina de Histórica (Historik) ou teoria da história (Theorie der Geschichte).

Palavras-chave: Reinhart Koselleck; Modernidade; História dos conceitos; Futuro Passado.

ABSTRACT

The present article briefly analyze the reflection on modernity developed by Reinhart Koselleck, the light of its work Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos.The methodological effort in the concepts history developed by the author tries to solve the structures where are the structures or the conditions of possibility of possible stories, what Koselleck calls Historic (Historik) or theory of history (Theorie der Geschichte).

Keywords: Reinhart Koselleck; Modernity; History of concepts; Future Past.

1 Licenciada em História, Pós-graduada em História da Cultura e da Arte (UFMG); Mestranda em

Desenvolvimento Regional (FUNEDI/UEMG). Professora de História da Faculdade Estácio de Sá em Belo Horizonte.

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INTRODUÇÃO

Neste artigo, apresenta-se uma reflexão sobre a modernidade em Reinhart Koselleck2, à luz de sua obra Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. O esforço metodológico da história dos conceitos desenvolvida pelo autor tenta resolver onde residem as estruturas ou as condições de possibilidades das histórias possíveis, o que o historiador denomina de Histórica (Historik) ou teoria da história (Theorie der Geschichte). A fim de explicar os fundamentos da Historik, vai defender a tese de que “as condições da possibilidade da história real são, ao mesmo tempo, as condições do seu conhecimento” (KOSELLECK, 2006, p. 309).

Assim, Koselleck busca investigar “as condições das histórias possíveis” ― a partir das possibilidades de ação futura (horizontes de expectativas) e dos diagnósticos do passado (espaço de experiência) gerados pelo uso de conceitos, como método, ― para tematizar o tempo histórico, em mutação, ou aquilo que se chamou de nascimento da modernidade, como algo novo, diferente dos tempos anteriores. Este parece ser o ponto central da proposta historiográfica do historiador:

Com isto chego a minha tese: a experiência e a expectativa são duas categorias adequadas para nos ocuparmos com o tempo histórico, pois elas entrelaçam, passado e futuro. São adequadas também para se tentar descobrir o tempo histórico, pois, enriquecidas em seu conteúdo, elas dirigem as ações concretas no movimento social e político. (KOSELLECK, 2006, p. 306-308 e 327)

A partir deste momento, Koselleck propõe a tematização do tempo histórico através das categorias “espaço de experiências” e “horizonte de expectativas”; categorias fundamentais referentes às dimensões de espaço e de tempo. Num primeiro momento, para esclarecer sua tese, o autor vai questionar sobre “em que medida experiência e expectativa (como dado antropológico), são condições para as histórias possíveis”. Em um segundo momento, o historiador vai demonstrar, por meio de exemplos, como as categorias históricas

2 Reinhart Koselleck (1923 – 2006), um dos mais eruditos historiadores contemporâneos, nasceu em Gorlitz,

Alemanha. Talvez tenha sido o principal construtor da ideia de uma “história dos conceitos”, apresentada e traduzida ao público brasileiro com o titulo de Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos.

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“espaço de experiências” e “horizonte de expectativas” – categorias construídas socialmente; fundamentais referentes às dimensões de espaço e de tempo – deixam de corresponder uma à outra, ou seja, distanciam-se progressivamente, modificando todo o transcurso da história (KOSELLECK, 2006, p. 309).

Como se sabe, no início da idade moderna ainda não existia a noção de uma grande história universal. O termo história, em alemão, Historie – até meados do século XVIII – era sempre usado no plural para designar os eventos particulares, como a história de Florença, a história da Igreja, a história das Guerras, que serviam prioritariamente para fornecer guias de conduta para situações da atualidade. Isso acontecia porque a experiência humana no passado era parte fundamental de um saber ético do presente. Entretanto, no século das luzes, quando a concepção de tempo se manifesta para além da relação passado-presente e provocando transformações monumentais na vida dos homens em sua relação com o tempo, somente o futuro parece fornecer-lhes alguma luz. No lugar da Historie, entra a Geschichte, termo da língua alemã que designa uma sequência unificada de acontecimentos ou eventos que, vistos como um todo, constituem a marcha da humanidade. No lugar do termo revolução, no sentido de movimento circular – em que revolucionar significava retornar a um estado anterior –, na concepção moderna, houve uma transformação radical do campo conceitual: revolucionar passou a significar, sobretudo, “fazer revolução”, em termos mundiais. Essa mudança de perspectiva, segundo o autor, começou entre os intelectuais, porém, logo o conceito de tempo e a temporalização da vida social penetraram fundo nas visões ligadas à vida cotidiana (KOSELLECK, 2006, p. 97-118).

Neste momento, a disciplina histórica emergente transforma o passado em história, algo a ser conhecido de forma neutra, através de um método especializado, e este passa a ser a principal união do homem com sua história. Agora, um autor não apenas agencia os fatos do passado em sucessão, mas lhes oferece um sentido. A consciência de pertencer a um processo histórico coletivo e singular trouxe a noção da responsabilidade de acompanhá-lo. Isto é, o homem é agora responsável por esta história abstrata e o seu rumo é conhecido. Na visão de Koselleck, ocorreu a fusão da diacronia e da sincronia: a experiência e a ação individual, bem como as histórias particulares, são entendidas somente no âmbito do “grande movimento da história”. A história, entretanto, ainda é vista aqui de forma estática, isto é, não é tida como algo que possa produzir de fato novidade futura. No cálculo racional, não há

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uma ruptura definitiva com a temporalidade do início dos tempos modernos (KOSELLECK, 2006, p. 114-117).

Por conseguinte, a relação entre história e tempo reporta à experiência dos homens no mundo, sua atuação política, sua vida em sociedade. Pensar a história sem considerar a assimetria existente entre passado e futuro, mediada pelo presente, para Koselleck é prescindir da possibilidade de entender o que chamamos de tempo histórico.

Essa talvez seja a consequência mais importante da temporalização: a interrelação entre tempo e ação, entre futuro e hoje, entre homem e história. Seguindo a proposição kantiana de que o homem é o responsável pela organização de seu mundo, dando sentido às suas experiências, Koselleck esboça o significado de cada categoria histórica. Afirma que a experiência é

o passado atual, aquele no qual acontecimentos foram incorporados e podem ser recordados. Na experiência se fundem tanto a elaboração racional quanto as formas inconscientes de comportamento, que não estão mais, ou que não precisam mais estar presentes no conhecimento [...] Nesse sentido, também a história é desde sempre concebida como conhecimento de experiências alheias (KOSELLECK, 2006, p. 309).

É possível pensar que a categoria “experiência”3 descrita por Koselleck está em permanente diálogo com Heródoto, Tucídides, Políbio, Maquiavel, Kant, entre outros, uma vez que a previsão do futuro “decorre, em primeiro lugar, dos dados anteriores do passado” (KOSELLECK, 2006, p. 313). A esse processo o autor denomina “diagnóstico”, uma vez que os dados da experiência podem ser encontrados. A rigor, cada vez que o espaço de experiência é ampliado os homens do presente são privilegiados, pois podem proceder a arranjos instrumentais supostamente mais avançados.

A “expectativa”, por sua vez, “se realiza no hoje, é futuro presente, voltado para [...] o não experimentado, para o que apenas pode ser previsto. Esperança e medo, desejo e vontade, a inquietude, mas também a análise racional, a visão receptiva ou a curiosidade fazem parte da expectativa e a constituem” (KOSELLECK, 2006, p. 313).

3 Construída através de um progresso metodológico inscrito na história da experiência do conhecimento humano

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Percebe-se o interesse de Koselleck em salientar que as duas categorias não existem separadamente e que não há experiências sem expectativas, conhecimento, recordação ou vivência do passado que não sejam informadas por uma visão de futuro e vice-versa. Nota-se em todos os campos do saber e da experiência humana uma ruptura entre o espaço de experiências e o horizonte de expectativas. Argumenta o historiador que o presente, em sua especificidade, ao unir passado e futuro, o faz de forma única. Isto é, cria a sua visão particular, por meio da qual interpreta o processo histórico, (re) elaborando a partir de sua experiência temporal um modo de ver o passado, ao mesmo tempo em que modifica igualmente o seu horizonte de espera ou visão de futuro.

É na tensão entre as duas dimensões que o historiador identifica algo como o “tempo histórico”, que por sua vez origina a noção de algo novo, experiências novas, ou modernidade (KOSELLECK, 2006, p. 310-313).

Nas palavras de Koselleck, a

separação consciente entre espaço de experiência e horizonte de expectativa” é o “indicador de temporalidade que está contido na tensão, antropologicamente preexistente, entre experiência e expectativa nos proporciona um parâmetro que permite ver nos conceitos constitucionais o nascimento da Modernidade (KOSELLECK, 2006:324).

Esse sistema de transformações formaria um “espaço lógico” em que as histórias dos diferentes conceitos são organizadas e ganham sentido, garantindo uma zona de convergência entre passado e futuro. O tempo não era mais visto como uma unidade imóvel, estática, tal como nas sociedades arcaicas, mas sim, como algo fluido. Em outras palavras, com essa nova concepção de tempo, o futuro deixava seus vestígios nos fatos do cotidiano que, rapidamente, em uma fração de segundos, se tornam fatos do passado. As análises do autor mostram que a modernidade, a partir de 1789, se imbuiu de um espírito de projetar o futuro e que,

entre a Revolução Inglesa passada e a Revolução Francesa futura foi possível descobrir e experimentar uma relação temporal que ia além da mera cronologia. A história concreta amadurece em meio a determinadas experiências e determinadas expectativas. [...] A novidade era a seguinte: as expectativas para o futuro se desvincularam de tudo quanto as antigas experiências haviam sido capazes de oferecer. E as experiências novas, [...] já não eram suficientes para servir de base a novas expectativas para o futuro. A partir de então o espaço de experiência deixou de estar limitado pelo horizonte de expectativa. Os limites de um e de outro se separaram (KOSELLECK, 2006, p. 309).

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Nessa perspectiva, Koselleck traça as origens do termo “modernidade” – no uso literário e historiográfico europeu –, iluminado pela teoria da História ou Historik e a define como uma doutrina das condições de possibilidade de histórias. O tempo histórico não é único e abstrato, como no tempo do calendário; ao contrário, é uma realidade plural, diversificada, variável como a diversidade da experiência humana. Há vários “estratos de tempo” superpostos e simultâneos, “estruturas de repetição que não se esgotam na unicidade”, o que cabe ao historiador interpretar e conceituar (KOSELLECK, 2006, p. 311).

Assim, a partir das alterações ocorridas no uso e no significado dos conceitos e, especialmente, no sentido da mutação cultural que se produziu entre 1750 e 1850 – período que para Koselleck marca o surgimento da modernidade, do tempo acelerado, agora, tempo histórico é sinônimo de progresso; cada momento histórico passa a ter a sua especificidade. Apenas quando a aceleração do tempo privou o homem da possibilidade de experimentar o futuro, este foi substituído por uma filosofia do progresso futuro. Quando o historiador se debruça sobre o passado, sobre um “espaço de experiência”, conforma-o com um determinado “horizonte de expectativas” do seu presente. O passado passa a ser visto como um “outro” desligado do presente e do futuro. Ou então, o futuro se aparta da experiência passada, mas também da experiência do presente (KOSELLECK, 2006, p. 305).

Entretanto, o historiador chama a atenção para o movimento de perpetuação do acontecimento, que por sua vez obriga a uma permanente caracterização do presente com aspectos particulares. Afirma que aqueles que merecem ser perpetuados devem, enfim, ser objeto de uma estruturação, visto que a ideia do novo, de algo que emerge no tempo se caracteriza, sobretudo pelo seu valor paradigmático. Nessa nova consciência do tempo e do futuro, há a certeza do progresso rumo a um futuro paradisíaco, uma esperança certa de “salvação”, uma vez que

o progresso reunia, pois, experiências e expectativas afetadas por um coeficiente de variação temporal. Um grupo, um pais, uma classe social tinham consciência de estar à frente dos outros, ou então procuravam alcançar os outros ou ultrapassá-los. [...] O que nos importa aqui, antes de tudo, é lembrar que o progresso estava voltado para uma transformação ativa deste mundo [...] (KOSELLECK, 2006, p. 317).

Paralelamente à noção de progresso e de modernidade, como tempo ou momento histórico, cresce o hiato entre as duas dimensões, formando a hipótese teórica central de que

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é possível organizar a vastidão de dados dos materiais de pesquisa e produzir um sentido (KOSELLECK, 2006, p. 111). Isso significa que a natureza humana e as possibilidades da experiência dos homens no mundo se transformam ao longo da história, podendo-se “perceber a ligação secreta entre o antigo e o futuro” e, dessa forma “se aprende a compor a história a partir da esperança e da recordação”, pois a “expectativa abarca mais que a esperança, e a experiência é mais profunda que a recordação” (KOSELLECK, 2006, p. 308-309).

Dessa forma, o tempo passou a ser visto como uma construção social e, com isso, foi possível a sociedade moderna perceber que seria possível falar e construir vários tempos. No entanto, percebe-se o surgimento do grande problema na modernidade: como sincronizar os diversos tempos sociais, com o risco sempre presente da falta de sintonização entre os diversos tempos sociais? O autor sugere que o presente deve ser vivido como aquele instante imperceptivelmente curto, sempre em movimento por impulsos convergentes de mudança, não sendo mais um intervalo de continuidade, gerando uma sensação de permanente aceleração. Enfim, o presente, o passado e o futuro não mais participam de um mesmo espaço contínuo de experiência.

Nesse ponto, vale a pena fazer um parêntese a fim de chamar a atenção para alguns aspectos da vida acadêmica de Koselleck e as experiências por ele vividas, durante a Segunda Guerra Mundial, que podem ser esclarecedoras para a compreensão de sua idéia de progresso e da sociedade moderna. A formação filosófica e historiográfica de Reinhart Koselleck – um dos mais eruditos historiadores contemporâneos e o principal construtor da história dos conceitos – deu-se em Heidelberg sob a influência de Hans-Georg Gadamer, Martin Heidegger, Karl Lowith e Carl Schimitt – sendo o último, o grande mestre de Koselleck.4 Em 1959, Koselleck dedica sua tese de doutorado, publicada na mesma data e intitulada Crítica e crise: uma contribuição à patogênese do mundo burguês, ao seu mestre Carl Schimitt. Nesse trabalho, é apresentado o desempenho de uma investigação em que o autor buscava explicar os fundamentos da passagem do absolutismo à Revolução Francesa.

4 Para além da admiração despertada por um professor em um aluno, é possível observar que muitos dos

trabalhos de Reinhart Koselleck, não apenas do ponto de vista de um posicionamento intelectual e político diante da abordagem de temas multidisciplinares (envolvendo a política, a história, o direito, a filosofia e a teologia), mas também, a partir de determinado tipo de tratamento metodológico, mantinham clara afinidade com as ideias e conceitos de Carl Schimitt.

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É interessante ressaltar que nesse livro já se percebia algumas ideias do historiador acerca da consciência histórica da modernidade, principalmente ao se referir às transformações realizadas no século XVIII. Categoricamente, afirmou que, a partir de 1789, os conceitos de “crítica” e “crise” mantiveram entre si uma conexão profunda, da mesma forma que a separação entre moral e política não ficou impune. Não obstante o caráter negativo do campo semântico seja explícito ao definir a crise como característica da modernidade, ele não é designado pelo historiador como um processo destrutivo, e sim como o virtuoso princípio que constitui a própria modernidade.

Uma leitura precisa dos métodos e de alguns conceitos por ele utilizados em Critica e Crise poderia perfeitamente ser associada ao pensamento de Carl Schimitt, em obras precedentes. Há quem afirme que foi por meio dele e de seus trabalhos, que Koselleck teve a oportunidade de confirmar algumas lições e interpretações extraídas de sua experiência como voluntário no exército alemão, durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi capturado e aprisionado em um campo de concentração russo. Pressupõe-se que foi dessa estreita ligação com Schimitt que o historiador alemão passou a se interessar pelos assuntos ligados aos campos epistemológico e científico.5 Ele aposta, como vimos, numa “teoria de uma história possível” como forma de garantir um solo seguro em que as fontes, a crítica e a interpretação possam se enraizar e se desenvolver de forma controlada. Podemos dizer então que a história conceitual de Koselleck é, antes de tudo, uma concepção historiográfica que toma como fundamento a historicidade humana a partir do fenômeno linguístico, como suporte de todo saber histórico e extrai daí toda sua positividade e fecundidade. Segundo o historiador José Carlos Reis, em Koselleck

o passado é delimitado, selecionado e reconstruído criticamente em cada presente. Este sempre lança sobre o passado um olhar novo, ressignificando-o. No presente, o historiador se relaciona também com o futuro: toma partido, vincula-se a planos e programas políticos, faz juízos de valor e age. O desdobramento do tempo pode mudar o tipo de qualidade da história. [...]. Cada presente estabelece uma relação particular entre

5 A maior demonstração de que seus interesses epistemológicos teriam sofrido influência da experiência

particular ― acumulada neste período – encontra-se baseada nos dizeres de koselleck: “a existência da história só é possível, tanto no plano da realidade, quanto no do conhecimento, na medida em que os homens são seres temporais. Isto é, conformados, em grande medida, pelas experiências do passado, mas também capazes de planejar um futuro, atualizando-o no presente” (KOSELLECK, 2006). Ao mesmo tempo é interessante notar que, embora perceba a finitude e parcialidade de todo saber, Koselleck não admite um diálogo livre com o passado.

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passado e futuro, isto é, atribui um sentido ao desdobramento da história, faz uma representação de si em relação às suas alteridades (REIS, 1996, p. 174).

Aqui, é preciso que fechemos o parêntese e nos lembremos de que, no início de sua carreira, em 1950, Koselleck tentou compreender os fundamentos da modernidade sem, contudo, enfrentar as próprias experiências vividas na Segunda Guerra Mundial. Isso nos leva a pensar que seus escritos podem ter sido exatamente uma reação a essas experiências, uma vez que seus trabalhos evidenciam várias tentativas de compreender o mundo moderno, considerando, sobretudo, a Segunda Guerra Mundial6.

Analisar a modernidade não é um fato simples. Várias são as argumentações e muitas as variantes para um mesmo tema que inclui temporalidades sucessivas e contextos históricos diferenciados. Trata-se de questionar não apenas um período histórico, mas também debruçar-se sobre a dinâmica e a construção de uma cultura ‘moderna’. A pesquisa sobre Koselleck rastreou o surgimento do conceito moderno de história; suas transformações, principalmente, pois, segundo o autor, elas são essenciais para desvendar a idéia de novo atrelada à aceleração do tempo, de futuro e, consequentemente, daquilo que chamamos de modernidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após este estudo, pode-se concluir quea reflexão sobre a modernidade em Reinhart Koselleck conjurou um horizonte de constante surpresa, rompendo com uma concepção circular da história. Para o seu surgimento, afirma o historiador, era necessário que a história perdesse a exemplaridade e passasse a ser escrita em sua processualidade; o futuro – como enigma –tomava vulto perante o passado e, inclusive, o presente e o movimento de mudança da sociedade assumiam o centro da cena. O presente, agora, nada mais era do que a unidade da diferença da distinção entre passado e futuro; tornou-se o lugar escorregadio, mas

6 KOSELLECK, Reinhart. Futures Past. (1985). Biografia escrita pelo tradutor: Keith Tribe. Apud FERES

JÚNIOR, João. A história do conceito de “Latin América nos Estados Unidos”. Bauru, SP: EDUSC, 2005, p.38 (Coleção Ciências Sociais).

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estrutural, de onde o homem moderno imagina um futuro diferente do passado e, sobretudo, de onde ele se conecta com o tempo histórico.

A rigor, o nascimento da Modernidade se deu quando o homem passou a imaginar o futuro como horizonte aberto à invenção, como aspiração e desejo ou como “horizonte de expectativas”; o presente passou a ser percebido como o lugar de gestação do amanhã, gerando uma relação estreita entre uma experiência fragmentada de mundo e a elaboração daquilo que talvez tenha sido a grande marca da Modernidade: a invenção de um projeto de futuro, visto como algo irreversível, sendo reconhecível no próprio passado. Enfim, foi a partir da conscientização das concepções sociais sobre sua temporalidade que se constituiu o tempo histórico, não propriamente do passado, mas do futuro; não do fato, mas das possibilidades de realizar projetos; precisamente, futuro passado.

REFERÊNCIAS

FERES JÚNIOR, João. A história do conceito de “Latin América nos Estados Unidos. Bauru, SP: EDUSC, 2005, p. 38 (Coleção Ciências Sociais).

KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado. Contribuição à semântica dos tempos históricos. Tradução, Wilma Patrícia Maas, Carlos Almeida Pereira; revisão César Benjamin. Rio de Janeiro: Contraponto - Ed. PUC-Rio, 2006.

REIS, José Carlos. O Conceito de Tempo Histórico em Ricoeur, Koselleck e “Annales”: Uma Articulação Possível. Revista de Filosofia, Vol. 23, No 73 (1996). Disponível no site:

http://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/Sintese/article/view/989/1428, acessado em 25 de novembro de 200.

i Artigo elaborado em 2007, para atender à disciplina ministrada pelo Prof. Dr. Valdei Lopes de Araújo,

denominada: “Estado, identidade e região: aspectos historiográficos, teóricos e metodológicos” (Programa de pós-graduação em Historia - ICHS/UFOP).

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