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CXRQ-ÃO X5.A. SQfcl
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/JÍNNO 1
Ey_Mr A Jmmjjfmm M m — —^—'- ~"-CBA-I^ElSrSE LIBERTADORA..
.•¦-»•«...-"Ama a teu próximo como a ti mesmo. » Jesus.
ssigaaiyes, vende-se avulso : o publico cearense seja generoso em protegel-o.
FORTALEZA, 17 DE EVEREIRO DF 1881 NUM. 4
LIBERTADOR.
l*ublicaçtio quinzenaI, este joim;»I è
«I est macio. *a piMpu^aada e int^i-iis-es abolicionista*. or*ao U«t
sociedade-CitfÀfctlfifenfe jL.IBIStVáVkkJiOIti)k9eUe
«*e-ceita quulquei* pu.i.i açaü onccbida no» termo» do sou f>roai-.«imn,i.
roda» a» publicações fí*\Q dirigida» a ciire^t»*- ia aa Hocieüad,'.
SUMMAKIO —Aos poucos escravagistas do sul e.ao joraa que se vendeu—Gazetilha.—A festa da nber-ãuüc.—O coração da muinér Cearense.—i)o-nativos.—O que se uiz dc nos—Um sócio Ala-goànÓ.—O sui contra o sul.—A lioerdade no púlpito.—5o por cortezias e estyios ! — Facada de morte.—Oe vagar se vae ao longe. — Vinte e unia.—Morreu como homem.—A lei soore Aincanos livres. — Adeus ao amigo. — Folhetim —U barão de Arujá.—Littera-tura. — Oração dos libertadores. — A' ceux qu'on loule atix pieds —Pagina do Povo.— correspondência da Corte —annuncio.—Fs-pectaculo abolicionista.—Paru |Braz.
LIBEÍ\TAD0Í1
Fortaleza, 17 de fevereiro de 1881.
Aospopco^escravagLstasclo sixl e aojornal qixe se vendeix.
Grande é o açodamento com que os escravagis-tas do sul, principalmente do Rio de Janeiro, r^ nem-se e, levantam capitães, com o decidido propo-sito de neutralisar os ataques dos abolicionistas.
O Cruzeiro,pm'dláv grande circulação e alta-m.entç considerado pelo critério de seus antigos col-laboradores,vendeu-se, emmudeeeu e trocou a devisa de batalhador do progresso pela mascara dosicario de emboscada.
^. r Serve, a quem melhor lhe paga.
Aquella linguagem altaneira que lhe ia tão bem,quando discutia as magnas questões de interesse geral, trocou-a pelo phraseado chulo dos correc-tores de escravos que malbarateam a dignidade da nação, antepondo seus interesses aos interesses dos que sonham com a grandeza da pátria.
Outros jornaes fnzam ainda restricções deshon-rosas e ãgeitam-se subtilmente a retardataria ideados vampiros escravagistas, porque o seu dinheiro vae-lhes trazendo vantagens lucrativas.
E tudo isso se passa na capital do Império, no seio da mais populosa e mais adiantada cidade da
America do Sul.
Cobrimos o rosto para não vermos a hediondez de tamanha miséria.
E involuntariamente a indignação faz-nos aí-fluir o sangue ao coração ao pensarmos que em pie-no século XIX haja ainda quem não core de advogar a causa dos negreiros.
E vem se nos dizer que o Brazil é um paiz civi-usado, que aspira hombrear com as nações adianta-das do velho mundo, quando em seu seio se debate a questão da escravidão, amparada por grande porção de seus filhos, ávidos mais do seu descrédito do que de sua honra, mais do seu atraso de que de sua
gio-ria.
Chamem-no antes paiz infeliz, onde os mais in-fames dominam as posições e impõem .á consciência publica o cunho de suas opiniões.
Áh ! que do intimo d-a liga sentimos não termos delles cá no norte para atirarmo-lhes á face a bofe-tada do desprezo e mostrarmo-lhes que nem sempre é o dinheiro quem decide das questões de honra, principalmente quando se tracta de uma
nacionali-dade que pretende-se aviltar. t.
Que os tilhos do norte, ardentes em suas aspira-ções, como o sol que os escandece, não se bandiam tão facilmente ao explendor do metal—eUes que aprenderam a arcar até contra as iras da própria na-tureza
Habituados ao trabalho livre, só almejam a li-berdade que ennobrece os povos.
Porque o povo livre muitas yezas tem.feito ca-hir a seus pês os thronos mal seguros
Erguei, pois, o vosso estandarte de revolta, es-cravagistas do sul e apressae-vos ; porque sinão tal-vez a vossa tarefa fique incompleta e o vosso sonho nunca realisado.
Não vos illudais com a magia do vosso ouro. Abolida a escravidão no norte, haveis de sujei-tar-vos a lei dos vencedores, que a liberdade ha de impor-vos.
Apanhamos a luva e nesta peleja em que temos empunhado honra e vida, não longe está o dia em que conhecerei^ de que lado ha de pender a victoria,
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jv despeito dos vossos munoes que a i.ioemaae repene, w •-«- *-/'
como obra da infâmia.
LEGÍVEL
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LIBERTADOR
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A. festa da Liberdade.
0 dia 18 do vigente relembra a data gloriosa du abolição da escravatura na ilha de Cuba.
Essa grande conquista da liberdade e da justiça sobre a barbaria e sobreo despotismo, vai ser dupla-mente solemnisada.
Hoje- ás 7 da noite, haverá, uma grande reú-nião popular no Passeio Publico, onde terão a pala-vra diversos oradores e poetas abolicionistas.
Juntando uma nota ao hymno do dia, o Liber--(ador faz hoje a edição especial de seu 4.ü numero em papel de côr.
Amanhã, o Sr. Lima Penante adornará o thea-tro «S. José» com o novo e importante drama—«A LIBERTADORA»,e o Sr. Frederico Severo faráexe-cutar o hvmuo dedicado aos abolicionistas cearen-ses.
Annuncia-se pomposa a concluzáo da festa da liberdade, de que nos oceupainos neste momento.
O coração da muüior cearense Na cruzada humanitária que o Ceará levantou em prol da mais santa das caudas, a muilier ceareu-se tomou a posição mais nobre—coiioeou-ceareu-se na vao-guarda.
Seu nome figurou logo na primeira pagina do ii-vro que recolhia os sutiragios aboiiciuiiisias.
Seus serviços tambem não se íizeram esperai'— e ellas prestaram-n'os com extremos üe amur e de-dicaçao.
Já consignámos, cheios dresse orgulho que dá o amor da pátria, o muito que fizeram as senhoras cea-renses no Bazar Expositor.
A mesma dedicação aos veio ainda pinhorar no concerto que teve lugar em beneficio Ua tiuciedade Cearense Libertadora.
D,?sde então jamais apagaram-se de nossa niemo-ria os nomes das Exm-aS Sr.as D.I). Suzeta Hughes, Branca Rolim, Judith Amaral, Carmezina Dona e Cilicina Rolim.
Donativos.
Com especial agrado registramos os .seguintes ; Du Sociedada Dramática Maranguapense 100$
« , « Frat.\ Cear.-. 50$
Do Abolicionista Bénoit Levy 30$
« Frederic C. Hall capitão
do lugar «May Momroe» 25$
Do Abolicionista Cezar de La Camp. 20$
« « F. J. Kenwerthv 10&
« <' Anonymo 2$
«=»}ai^^C~^?^5fe
A's palmas e aos louros que victoriaram seu ta-lento e aprimorada educação artística, se juntaram os votos de gratidão e reconhecimento pelo mento-rio serviço, queò Libertador ainda hoje rememora em nomeada sociedade que representa na imprensa.
E esta homenagem se extende tambem a outra Cearanse tão abolicionista como a própria liberda-de.
Ella saudou ao povo heróico do dia 2/ de Janei-ro, desferindo-lhe o canto de sua adhesão na mimosa poesia que corre impressa no Cearense, n.ü 23.
Foi ella aindaque trouxe à lembrança publica a data memorável da abolição da escravatura em Cuba.
Mas modesta, como a violeta do vai, exhala seu perfume ao longe, e esconde-se á sombra que a sub-trahe á appreciação.
E' assim o coração da mulher cearense.
Dando-lhe o culto que bem merecem suas vir-tudes, o Libertador prociama-o á veneração da pos-ter idade.
O quo so diz; do nós.
ü Diário de Noticias da Bahia, em seu noticia-rio do u.° 7 de 11 de Jaueiro diz o seguinte :
« Libertador », órgão da Sociedade Cearense Libertadora; anuo l ; n.ü 1—0 movimento aboli-cionista, esta grandiosa luta um favor da liberdade de mais de um milhão de irmãos, achou eloqüente acollnuieuto na provincia do (Jeará.
Nào obstante a enorme noite da secca que, es-tendendo-se uo sou seio, podia transformar-lhe no cérebro toda a idéa cie luta pela idéa do desalento, ella—a patriótica província do Cjará—er^ue-se na aurora da redempção com o abençoado propósito de quebrar algemas.
E" uma palavra de ensinamento que ella dá as suas irmans do norte; é um brado que ella irrom-pe em favor da escravidão, contra a qual, segundo o preceito de Clianiug, devemos protestar sempre.
O « Libertador » accentua as palavras que vi-mos de dizer; é um órgão bem èscripto ; cheio de grandiosos pensamentos e proaiettedor de espaçada e gloriosa vida.
Que nunca lhe falte a seiva ; que a aura publi-ca baieje-ihe prote çoes nos applausos necessários a todas as grandezas ! »
Alem desta saudação, temos recibido os com-primentos de varies collegas da imprensa brazileira e, agradecendo á urbanidade, asseguramos nossa consideração ao Diário de Pernambuco, Pai:-, Leo-polçlinense, Brado Conservador, Família
Mucõ-mea, Papagaio e Diário da Cachoeira.
CJ 111 sócio Alagoano.
Ü lilm. Sr. Manoel Francisco Alves Miranda residente em Jaragúa (Alagoas) Logo teve noticia dé que se projectava fundar a Sociedade Cmi-ense Li-uertadora, recommendou ao nosso consocio e amio-o Jose lheodorico de Castro para inscrevel-o sócio e pagar adiantado a sua contribuição de um alho
Seu nome acha-se, pois, inscripto uo 12° lu<*ar
dos sócios installadores. °
Inaugurada a sociedade, o nosso confrade deu nova ordem para considerai-o ainda ontribuiute de toda e qualquer despeza extra-ordiriaria que a So-ciedade houvesse mister de fazerem sua
propagai!-da.
A' tão dedicado abolicionista enviamos os cordi-aes e tratemos comprimentos d- íiosso appreeo e ami-i saami-i
l.UUJRTADOR 3
O SSul contra o Sul.
Si lemos em alguns jornaes a noticia seguinte : « Formou-se no Rio do .Janeiro uma associação « de fazendeiros alim üo subvencionar o Cruzeiro « para defender os interesses da lavoura e princi-«palmentedotendor a escravidão dos ataques dus abo-« üeienistas.»
Também lemos outras em verdadeira opposiçãò, como esta :
« Fundou-se ultimamente nacupital de S. Paulo « uma sociedade particular com o titulo Recreio « Dramático Abolicionista
«Tem por lim proporcionar aos seus sócios es-« peetaculos dramáticos, mensaes, e bom assim pro-« mover concertos, leilões de prendas e contereücias « publicas, em favor da liberdade de escravos. »
Além disto, uo próprio Rio tle .Janeiro existem diversas associações abolicionistas, e em S. Paulo o
via por certo de informar que não despachou a es-crava regularmente.
Entretanto a verdade é que a infeliz foi despa-chada muito irregularmente; ató pela supposição de
ser escrava (Tuni sonador do império
não encontrou um advogado no grande foro do Ma-ranhão.
Requerendo, não obstante, que perante os tri-bunaes provaria o seu direito o liberdade, teve por todo o despacho um inde/ferido tão deshumano e illegal como u própria violação da lei.
E assim foi que ilo Maranhão seguiu regular-mente despachada í
Aqui, porém, onde a policia não se deixa des-maiar ao brilhofallaz do nome d'um senador do im-perio, a supposta escrava poude depositar 200$000 para pecúlio de sua liberdade, e intentar perante os tnbunaesa acção competente.
Que ella é livre, que seu verdadeiro nome Jor nal da Tarde tem batido os escravocratas até no! Franciscà (e não Eusebia) c que foi redusida crimi-seu ultimo redueto e desalojado o inimigo, dos seas|nosamete à escravidão—provam de subejo
numero-entrincheirainentos. h*os documentos de todo o valor jurídico, que nos
A liberdade nunca perde : os fazendeiros pou-1 compromettemos à mandar ao «Pai/.», si o coilegaii ,. , \ . »
pem o seu_dinheiro.
-\^
A. liberdade no púlpito.
Da cadeira da verdade também se levanta a cruzada em favor da abolição da escravatura.
O remédio colioca-se juneto do mal, e lá mesmo no Sul, onde o Dr. L. P. Barreto se esbóía de gritar contra os abolicionistas, é que mais se tem pregado do púlpito em favor da liberdade.
A Província de S.
'Paulo
3a Gazeta da Tarde e outros joriues do Sul faliam com grande elogio do sermão que na festa do Rosário pregou em Pelotas o Revd. Dr. Augusto J. Teixeira Cauabarro.
O distineto orador sagrado, cercado de abolicio-nistas e esclavagistas, nào trepidou perante o dever ^e sua consciência, e externou francamente o seu
pensamento :
« Meus concidadãos, meus irmãos, um abraço, porque venho hoje pregar-vos a liberdade.»_
« Ecce ego predico vobls libertatom.» "
Avaliem os leitores pelo panno d'amostra a ele-vação do discurso,em que diz o orador que confia na « Providencia Divina que suscitará em cada angulo do Império um Joaquim Nabuco que com a autorída-de autorída-de suas palavras, com a sua admirável eloquen-cia com o seu trabalho e denodo restituirá a liber-dade a paes, lilhos, esposos, irmãos e amigos invol-tos nas cadeias de escravidão.»
também se comprometter álel-ose exaininai-os cons-ciensiosamente, sem se deixar deslumbrar com as [informações de sua policia ecom o direilo de seu1
senador.
Entretanto avança ainda o «Paiz» quo «o acto do chefe de policia do Ceará foi exorbitante e nfdO pôde deixar de ser explicado ao seu coilega do Ma-ranhão 1»
Então o Maranhão é a terra das maranhas ? E o chefe de policia do Ceará não tinha que ía-zer sinão concorrer também no crime tle deixar re-•duzir à escravidão a pobre e infeliz Franciscà ?
Tudo isto, porque, diz o «Paiz», assim pedem as coriezias e estulos officiaes.
Fia !
Um chefe de policia procede mal e todos os mais devem imital-o, por cortezia ! ....
Em !
(Reposta á noticia do Paiz n.° 29 de 6 de Fe-verei ro.)
=£S6L2ã-^T~"^'-Só por cortezias e estylos
! . ..
A Secrelaria de policia do Maranhão infor-mou ao «Paiz» que a supposta escrava Euzebia seguia regularmente despachada para o Rio, para o poder de seu senhor, o senador A.¦ MarMlino
Nunes Gonçalves. . ¦¦'¦¦". .
E o Paiz assim o creu ! Tanta infantilidade, em um jornal como o Paiz, só se explica pela ami-¦4&ad.è
particular à secretaria de policia que nao
ha-l^acada de morte.
Não desesperem os negreiros que nas vésperas de 27, 30 e 31 despacharam na Policia desta capital, segundo a certidão que temos em nosso poder, 38 es-cravos com destino á S. Paulo.
Lê-se no Diário Oíficial de 27 de Janeiro pro-ximo passado :
« No dia 23 deste foi sanecionada a lei que im-mo bi li sà a escravatura na provincia de S. Paulo.
Eis o seu contexto :
« Lauriudo Abelardo de Brito, presidente da provincia & &.
« Faço saber a todos os seus habitantes que a assembléa legislativa provincial decretou eeu sane-cionei a lei seguinte :
« Art. l.e Todo o escravo que, dez dias depois da publicação d'esta lei, no jornal que publica os ac-tos officiaes, entrar para esta provincia, será, em vista de documentos legaes, matriculado na collecto-ria provincial'de qualquer municipio, em um livro,
I LlBEKTADOK
".'S*:'*— WPK- ¦*:¦-!-:'¦ ir •
para esse fim destinado, no prazo de trinta dias, da data da entrada na provincia.
Art 2.° Pela matricula, de que trata o artigo anterior, pagará o senhor do escravo ou a pessoa a cujo cargo estiver a quantia ile 2:000$000.
Art. 3.° A violação das disposições dos arts. 1° e 2o sujeita á multa de 1:000$, por cada escravo, além do pagamento pela matricula.
Art. 4 ° São isentas do pagamento as matricu-las de escravos que, por suecessão legitima, vierem a pertencer a pessoas residen tes na província.
Art. 5.° A importância da matricula e multa, quando hou ver,será dividida em duas partes iguaes, constituindo uma renda provincial e outra servirá para formar pecúlio do escravo, uos termos da lei de 28 de setembro de 1871.
Art. G.° Fica o presidente da provincia, uo re-gulamento que expedir para a execução d'esta lei, auetorisado a impor multas até 500,$000.
Das multas impostas pelos agentes liscaes haverá recurso para o presidente.
Art. 7.° Ficam revogadas as disposições em con-trario. »
« Esta sabia medida, continua o Diário Official, concorrerá eílieazmente para a progressiva extiucçãu do elemento servil em tom.» o império,e è de esperar que o exemplo de S. Paulu seja abraçado pelas
de-mais províncias.»
—Ü laborioso artista José Maria IJorges Falcão, segundo o Cearense n.0 14, alforriou sua escrava Maria, que, pouco tempo, havia comprado.
—O Sr. Severo da Rocha Guimarães, ainda uo dia 14 do corrente, eoníerio liberdade a sua escrava Margarida, de 28 annos.
O Libertador aperta a nulo de todos esses gene-rosos cavalheiros que deram um exemplo digno de ser imita io pelas almas nobres.
Morreu como liomom.
Falleceu em Campinas (S. Paulo) o francez Francisco Albany Onaboribery. Havia libertado ha tempos 9 escravos, deixando uo seu testamento . . . 9:000$ ,0.) a três destes seus escravos, bem como uma pensão de2õO$000 annuaes a cada um dos ou-tros seis.
Para uma alma tâo generosa, resta-nos desejar-lhe o reino do Ceo.
Devagar se vai ao Longe.
Está na consciência da humanidade que a escra-vidào é contra o direito natural e contra todo o sen-timento de justiça.
E hoie è moda fazer a confissão desta verdade uas oecasiões as mais solemnes e no meio das grandes reuniões.
Assim uão ha uma festa mais imponente, um reo*osijo publico, um soirée mais importante, que nào seja sediado com uma carta de liberdade.
Além de muitos exemplos que corroborão a pro-posição que temos ventilado, vem á propósito con-signar que :
—Os engenheiros da via-ferrea de Sobral, iuauga-rando o trafego de sua primeira secçáo, se cotisaranF para alforriar uma escrava,a quem entregaram car-ta de liberdade no meio do esplendido festini que te-ve lugar no dia 15 de Janeiro.
—Os amigos do Sr. Dr. Cordolino Barbosa Cor-deiro. juiz de direito de Baturitè, para tornar mais importante o baile, que lhe otfereceram no dia 7 des-te, contribuíram com mais de 200$ e manumitiram
uma escrava.
—Pelo mesmo motivo, o Sr. Joaquim José de 'Assis
e sua Exm.u sogra libertaram tambem uma es-crava de 15 annos.
De vagar se vai ao longe : de ma nu missão cm ma nu missão um dia desabará o colosso da escra vi-dão.
A. íoi sobre africanos livr*es. Como presentemente muito se falia sobre a lei de 3 de novembro de 1831, julgamos opportuuo e conveniente publicar as suas disposições :—.
« Essa excellente lei declara livres todos os es-cravos, vindos de fura do império, e impõe penas aos
importadores de escravos.
Fui assignada por Diogo Antônio Feijó, como mi-lustro da justiça, e pelos regeufes, Francisco de Lima e bilva, José da Costa. Carvalho e João Bfau-Bo i.iuuiz,
Impõe ella multa de 2u0800ü e as penas do ar-tigo liV du código criminal, que é deste teor :
Artigo 1,9—Reduzir á escravidão pessoa livre que so acuar em posse da sua liberdade.
Penas—de prisão por três á neve mezes e de mui-ta correspondente a terça parte do tempo : nunca porem, o tempo de prisão será menor que o do
capti-veiro injusto, e mais uma terça parte.
C-.yém ainda lembrar que a portaria de_21 de maio dei _J1 .m-uduu processar os queTtitrod u.issem- --- „.^x.«.i«^u jji.u__-,ar os que u por contrabando no Brazil aíi icanos, e pi
padores da sua liberdade com as rmri;
Ligo.
>em unir os usur-com as penas des tu
ar-Vinte e unia.
Registrarão- mais d mis mannmissõés .das ás demais constantes deste jornal,
numero de 'il.
que reu-perfazem
rem m
Os importadores de escravos no Brazil. meor-po
a e ul_vde-00$0Ü0 por escravo importado,.além di pagarem as despezas da ^exportação para 'qualquer porto n A trica, tudo conforme o art. 2.° da lei de 7 de novembro de 1831.
Entretanto esta lei foi pordemais inobservada. a ponto de tei-se depois de sua publicação, impor-conforme demonstrou o Sr. Dr. Moreira de Barros no discurso qu, proferio na camara temporária '
Provando sua asserefm n nin...,. 1
f-n ,1V_ <???"1-:Vcí°- o illustre parlamentar appresentou os seguintes dados estatísticos
Em 184"-, íor;,m " 1. .,, IOO? i_lli lOt'-Em 1844 Em 1845 Em 1816 importados: africanos « « « « « « « i ia 4o / 19,095 22,841) 19,403 50.324
LIBERTADOR Em 1817 Em 1818 Em 1849 Em 1850 Em 1851 Em 1852 « « « « <_ <v « « « 56,172 Oü,ÜÜÜ 54,000 <¦, 23,000 « 3,287 700 Total .... 320,318 E' pois fora de duvida que toda a escravatura do Brazil deve ser declarada livre, per desceu-der d'esses africanos criminosamente importados.
Sinãò se mystiflcasse a lei, trovejaria o golpe de estado.
Adeus ao amigo.
No próximo paquete, que deve voltar para o sul no dia 23 do corrente, tem de seguir para a Corte o iiosso dedicado consocio José Correia do Amaral.
Nome caro á causa abolicionista da provincia, figura honrosamente ao lado de Joào Cordeiro, A. Bezerra e outros abolicionistas de que se orgulha a Sociedade Cearense Libertadora.
Vice-presidente desta associação e presidente da Perseverança e Porvir, José Amaral leva comsigo o affecto de todos os seus consocios que lhe sentem a auzencia, fazendo votos para que volte brevemente á terra da pátria que estremece seu digno filho.
O Barão cie A.rúja\
Em 13 de Novembro de 1867, pelas 9 horas da nanhã, desembarcava eu do trem de ferro na cidade de S Paulo, depois de ter visitado a alegre e popu-to.a'cidade de Santos, assentada á beira-mar.
\o pisar o solo paulistano, onde soou primeiro o brado de independência, fiquei sorprehendido ante a perspectiva da grande capital.
Cidade antiga, mal edihcada, sem um edifício notável pela construcção, sem calçamento, sem bel-Icsaalgu mad'arte, foi má a impressão que causou-me a pátria da liberdade e do talento
Em compensação, porem, linda é a naturesa
da-quelle ameno torrão. ^
Dá-lhe nobre aspecto a elevação de sua posição, as ondulações do terreno, cobertp sempre de luxuri-ante verdura, a magistade do Tietê, que cinge-a como de cinta de prata e se desh.sa marulhoso, casando suas queixas com o cicio melancólico das auras, que se vam perder ao longe em suavíssimo concerto.
Afora a cidade, tudo ali é grande e magestoso como a naturesa dos trópicos.
Hospedei-me no bairo de Santa Ephigenia.
Ao checar á janella da branca casinha sobrada-da, que a bondade de um amigo me havia preparado, e ainda sob a desagradável impressão da velha ci-dade, que eu sonhava elegante e asseada como a ter-rada intelligencia, e dos grandes cabedaes, que cons-tituem sua importância sobre as demais suas mnans, eatretinha-me em admirar aquella riquesa ae vege-tação e aspirava com
A' primeira impressão, suecedeu-se outra não menos violenta.
Foi a presença de um enterramento, que desdo-brava silencioso pela rua de S. José, lugar de minha nova residência.
Fiquei ainda mais encommodado.
Aquella presença inesperada para o viajante que chega a terra estranha, antes de ter examinado o que tem de mais bello e grandioso, era por sem
du-viciado de mau agouro. Não me pude conter.
E a um mancebo que caminhava lentamente com pouca vontade do chegar até o cimiterio, perguu-tei:
—O Sr. me poderá dizer quem é que levam a enterrar ?
—O l)arão de Arújá. —E' homem rico, não .
—Riquíssimo, mas acabou miseravelmente.
Um barão riquíssimo, acabar miseravelmente, é possivel *
—Inverdade, não lhe valheu a grande fortuna que adquerira e tragou amarguras horríveis.
—Ah '• teve muitos desgostos e suicidou-se ! Não, morreu louco.
—Morreu louco ! pensava eu que o homem que possuísse muito dinheiro, que infelizmente governa o mundo, podia morrer de prazer, nunca de loucura que presup[i0e motivos de pezar ou remorsos.
—Qual ! o barão de Arújá juntou muita rique-sa, avaliada em quasi quatro mil contos, mas por fa-taiiüade ou castigo nunca «soube para que servia o dinheiro.
—Como a.ssiin ?
—Eu lhe explico ; era um .homem que sem ins-trucção, mas de um tino superior no commercio, con-siderado nào sei se mais pela fortuna do que por me-j^cün^ito^jjQis nunca fez bem algum a creatura
hu-mana.
Dizem que comia mal, ou por outra, mal comia: para não gastar, trajava mal, e a casa de sua resi-dencia tinha mais apparencia de uma espelunca do que de habitação de um titular.
Os inoveis eram usados o de differentes feitios, comprados nos leilões públicos por mais baixo preço, e nunca mandara espanara sala, onde fazia as nego-ciãçoos, de cuj~airtrrrgulos p^reml-mm—t^i-s-de^axanli__
sofFreffuidão o ar puro daquélle clima ameno e encantador
como crina vegetal nas arvores da serra daTabatin-ga, dando-lhe assim um aspecto grotesco.
As carteiras e livros de escripturação tinham um cheiro nausiahuudo de azinhayre.
Não se podia entrar em sua sala, tal era a re-pugnancia que causava a argamassa de poeira, sali-va e outras imihundicies que cobriam o pavimento térreo.
Se alguém, muitas vezes uma pessoa de reconhe-cida probidade o procurava em caso extremo e falia-va-lhe em empréstimo para remir uma necessidade, ou salvar uma divida de honra, elle atalhava logo a conversa, e dizia :
—Tenha paciência, não o posso servir; íiz muitas despezas e segundo observa o meu caixa, tenho
gas-to ultimamente muigas-tos congas-tos. Em que, ninguém o sabia.
E o pobre lá se ia corrido de vergonha.
Tinha outra habilidade, peculiar ao seu carac-ter.
¦^MBiBSP**»'*? ¦^.¦i^*'^%^4ÇW*'?*^ &
-o
LIBERTADORSo por infelicidade algum desgraçado Unha dc effeçtuar com elle qualquer transação, via-se mui-tas vozes obrigado a procural-o dez, vinte, trinta e mais vezes para obter o desfecho de seu negocio.
Massava o supplicante, resingava, especulava e só depois de muito tempo ó que dicedia, sempre com
vantagens para si.
Por esse systema, dizia ello, nunca perdeu no negocio.
LITTERATURA
Oração dos Libertadores.
Assim se pôde chamar a sublime peroração do ultimo discurso que proferiu o grande Castellarso-bre a liberdade.
Identificados com o eloqüente tribuno, elevemos aos céos a palavra d'ai ma.
« DEUS da liberdade, que tirastes os opprimidos do Egypto esubmergistes os soberbos nas águas fer-ventos do Mar Vermelho;
DEUS, qüe promulgas tes o dogma da igualdade religiosa na sublime noite da ceia e o ungistes com vosso Divino Sangue na tarde tempestuosa do
Cal-vario;
DEUS, que sustentasr.es e animastes as cidades italianas em suas navegações e os municipios hespa-nliões em seus embates, pondo na mente d'aquelles a chamma das artes e sobre a fronte d'estes o sol da
victoria:
DEUS, que evocastes do seio dos mares o Novo Mundo para que em sua natureza virgem recebesse o amphityonado de jovens e progressivas democra-cias;
DEUS, que sus ten tastes os pobres pastores dos Alpes contra as legiões dos Borgonhas e dos Aus-irias, pondo nas níveas cuspides a uin tempo os re-flè.xos da luz creada e os lampejos da idéa creado ra ; DEUS, que guiastes atravez do oceano obscuro a náo milagrosa, a Flor de Maio, em que iam os peregrinos com a sua Biblia nas mãos, proscriptos da monarchica Inglaterra, a fundar a republica na A m e r i ca;""TJEUST
que"b~rilhastes com tanta gloria, como no monte Sinai, nas rotundas do Capitólio de Was-hingtou, lá, n'aquelles dias da abolição da escravi-dão;
DEUS, que abençoas quantos quebram os elos de uma cadeia e despertam o alvorecer de um di-reitr;
DEUS dos libertadores, DEUS dos martyres, DEUS dos humildes, nós tambem consagramos em tuas aras os ferros de milhares de escravos convertidos - em
homens:
Não retires, pois, nem o teu alento nem a tua Providencia da nossa obra, que depois de tudo quer applicar o teu eterno Evangelho ás sociedades, o teu divino Verbo ás inteliigencias,e cumprir o teu reina-do espiritual por meio da liberdade, da igualdade e da fraternidade sobre a face da terra. .>>
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Aceuxqxi'on íoulo aux pieüs.
Entrem no chão a.s lividas (toupeiras i)espedacom-so as ultimas barreiras,
Faça a igualdade os códigos humanos; Batalhai nas Termopylas, ó bravos, E guardai o tagantü dos escravos, Para expulsar a horda dos tyrannos
(Guerra JuxQüEnto.) Quando o gênio das nações
O verbo do amor traduz, Convidando as gerações
Para as conquistas da luz, O mundo inteiro ness'hora, Com quem marcha pYaurora D'uma esplendida manhã,
Surge e busca o seu destino, Esse El-do arado divino— Do progresso a Canaaii. Tal é a graude cruzada Deste seclo humanitário Que por bandeira sagrada
Tem o symbTo do Calvário ; Tal a immensa romaria, A que tambem se associa A cearense mocidade,
Que em favor dos opprimidos Acolhe e sente os gemidos Ih anjo da liberdade.
Conlra a violência corrupta Que o secTo tisnando vai Soou a hora tia lucta,
E' tempo, ó moços, marchai: Marchai que o dia da gloria IHeserva sempre a victoria Que eternamente reluz, Para os heroes da epopea Aposflos da grande idéa,
Que encerra o poema da ctiíz. Eia pois quebre-se a ponta Do septro do oppressor,
Não mais se_v;eja (-sta aífronta As faces do Redemptor ;
Cortem-se as garras da fera, [)o abutre que dilacera
As entranhas da nação ;
Dê-se em íim no ardor da lucta Morte á negra prostituta,
Que se chama—escravidão. Que essa hydra que oriuud? Foi do crime e da torpeza
Mais não mostre a face immunda Que horrorisa a natureza,
Que essa Megera fatal Filhada treva e do mal,
Que deshonra o Christianismo, Para bem das gerações
Seja, envolta em maldições, Atirada ao negro abvsmo.
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L1BIÍRTAD0K
Ty ran nos, sabei e crede
Que o Redemptor om verdade Sò chorou por quem tem *eJe De justiça o liberdade ;
E si, Cains, despresaes Os tristes prantos e ais Dos captivos ultrajados; No fogo dos corações
Vereis fundir-se os grilhões Que algemam os desgraçados. Fortaleza, 14 de Janeiro de 1881. »,*¦*»"*•• ¦ v-- wWi
PAGINA DO POVO
Oorte- IO de Janeiro de 1881
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eMEUS CAROS AMIGOS E CORELIGIONARIOS,
E' com o maior prazer que accuso a recepção
da carta que me dirigio communicando a fundação
da Sociedade Cearense Libertadora.
Tal noticia teve para mim um duplo elleito :—
encher-me de prazer pela attitude brilnante de
nos-sa cara provincia na questão da abolição da
escravi-dão e confirmar o que aqui na corte teuho
affirma-do rela imprensa e pela tribuna, com relação ao
pensamento e vontade de nossa terra em assumpto
tão interessante para o paiz.
Não é de hoje que advogo com ardor e
enthusi-asmo' a causa da' abolição da escravidão ; e si bem
aue Va sempre pouco agradável qualquer indivíduo
trs+a/de si próprio, não me posso abster de
denun-ciar-me como um dos que, d'esde simples estudante
de preparatório , no Lyceo da bortaleza, que recor
fe Im lagrimas e saudades! mais empenho tiv
pelo triumpho em favor de tão generosa ide.a
No seio da sociedade Dezenove de Outubro,
quando me dirigia aquelles collegas que commigo
frrahalhavão para a commemoraçao de uma data
glo-riov, na vida da mocidade cearense estudiosa,
enten-rtiVe reoetiaaté com demasiada insistência, que
nenhum àcto poderia mais e melhor signihcar nossas
homenagens ardentes e nossas admirações cinceras
or unvdia tão faüstoso, do que livrar das cadeias
L iopobil escravidão um individuo qualquer, que,
transformado em cidadão no dia seguinte, e mais
tar-de educado no conhecimento dos seus direitos e dos
seus deveres, podesse auxiliar e honrar a sociedade
com as luzes do seu espirito.
Infelizmente, porem, a sorte nao me favoreceu
o ensejo para testemunhar tão brilhante
ac.nteci-meíl
Vmocidade que commigo estudava era de uma
riqueza de intelligencia, capaz de assombrar os mais
afamados Cresos do pensamento humano; tinha o
ta-Sto heróico e alevantado d*esta raça cheia de
illu-rainaçOes na imaginação e de grandesas uo coração ;
Vessás illuminacões que ainda hoje aclarão e
inceu-dite a profunda noite de nosso paiz, tão grande e tao
desgraíado ! com o nome de José de Alencar, o mais
tòllo. a mais gloriosa e mais legitima honra do
no--m? cearense no Brazil.
Era uma mocidade assim como uma rocna, que
iao sol do dia, deslumbrava ; que ú luz da lua,
pro-jjectava de suas faces nuase ' brancas, sdntillações
magnéticas de um brilho phantastico, celestial, di-vino....
Faltavão-lhe todavia o« necessários recursos para tão nobre commettimonto e nada jamais so conseguiu
pelo que eu pedia e que era tambom o que todos
pe-diSto, devo dizer em honra dos valentes caracteres
que combatia.) ao meu lado, me animando com uma
coragem digna de inveja o de imitação.
Mas nem sempre uma derrota ô motivo bastante
para uma retirada do campo de combate ; muitas
ve-zes, na maioria dos casi.s, os que luetão, apenas ani-mados pelo futuro e pela justiça, cahem como An-theos; levantão-se depois com estatura dobrada e encontrão no termo que lhes trahio em um momento-infeliz, o plano seguro para de novo acampar, jogar as armas e vencer.
E' isto o que tem suecedido aos maiores vultos das conquistas humanas.
O Napoleão de Santa Helena teve a sua ressur-reição na montanha mais elevada da Historia e a mortalha que envolveo o seu corpo cheio dos beijos doces das balas, foi o estandarte da victoria, que a-brio-se sobre a França, como um pedaço de ceu, a zul e estreitado.
Eis porque hoje os nossos comtemporaneos
vin-gão a memória dos que, há muitos annos já,
pensa-vão por nós o como nós, tendo por assim dizer no
es-pirito a faculdade de ler o que hoje todos devião
sa-ber o respeitar como o evangelho da própria honra, mas quo desconhecem ainda, e o que é mais triste, não querem conhecer, desdenhando.
A propaganda abolicionista vae pelo paiz de uma maneira admirável.
Levantada na presente sessão, no seio do parla-mento nacional, pula palavra ungida de patriotismo do nobre deputado pela provincia da Bahia, o Sr. Dr. Jeronymo Sodré, encontrou eloqüente échono
cora-ção de Joaquim Nabuco, uma das cabeças mais
re-fléctidas que temo* n'este assumpto.
Formou-se logo na Gamara Temporária a
inde-pendente cohorta que militava por este principio e
os vultos de Joaquim Serra, Marcolino Moura,
Bar-ros Pimentel e outBar-ros, constituirão o fundo branco
do quadro negro.
A câmara vitalícia, o sentido, que votou agora
a reforma eleitoral do Sr. conselheiro Saraiva, de-nunciou-se também quanto a esta matéria,^ pela pa-lavra do nosso comprovinciano iliustre o Sr. conse-lheiro Jaguaribe.
Não tardou muito que se fizesse também ouvir a voz do interesse, que só é forte, quando imagina que vae ser suffocada.
Por este motivo tudo e muito se tem dito de
nós, os abolicionistas, que não temos a nosso favor
nem a riqueza do paiz, o café, este caie que muito
precisava ser estudado pelos nossos chimicos,
hygie-nistas e clínicos, nem o chicote do feitor; tudo e
muito se tem dito de nós, os abolicionistas, que não
temos nem os escondrijos escuros e fétidos das
sen-zalas para matar pela falta da luz e pela ausência
doar os nossos adversários, nem o tronco uifamante
para nelle prender, com as cadeias que são lançados
aos braços e pernas dos infelizes escravos, os
LIBERTA DO 11
muito sa tom dito flü nós, tuáo o muito se tem feito
contra nós, d'osde a mais baixa intriga até a mais vila dus apreciações.
Elles, os ditos, os escravagistas, os escravoera-tas, o.s comedores dê couro de negro, como eu lhes chamo na minha rude e apropriada expressão, se nâo é immodestia, clamâo contra a arjjuiçáo do
(raba-lho, fal lão da lavoura e do café o já houve até um
que disse : sém café não ha mais Brazil! O
ma-nes do Pedro Alvares Cabral ! O' atrevido
navega-dor, tu que sònhastes ã mais bella porem a mais in-Jeliz realidade americana, tu que és nosso pae, para que foste tão ingrato para um íilho tão generoso, re-duzindo-o á proporção de .só valer o cale ?!
Felizmente....eis a cifra das aceusações que nos fazem.
Elias nílo chegarão a nossa provincia; mas se lá chegarem, pròyina-se a nossa terra, e veja a lon-ga cauda de ridículo que acompanha as imprecações dos nobres"e grandes comedores de couro de ue-gro.
Deixo aqui a penna. Esta já vae longa e tédio-sa ; não quero rou bar tempo a um espirito incumbi-do de sagradas locubrações; não devo aborrecer um coração que deve ser totalmente alegre e totalmente feliz
Minhas saudações portanto, às sociedades Cea-pense Libertadora e Perseverança e Porvir; que sejão ellas as duas extremidades da faxa larga e rija que deve, de uma vez para sempre, cinjir e rna-tara escravidão na província que me dá a maior de todas as honras :—irella ter eu nascido.
Amigo e correligionário
Paula Ney.
PARLAMENTO BRAZILEIRO
Tudo pela liberdade.
Quando na Assembléa Geral se discutia o pro-jecto de lei prolübindo o transporte e commercio de escravos de uma para outras províncias, o illustra-do deputaillustra-do Marcolino de Moura proferiu o discurso
_seg.u i nle_ii_ _.
O &r. iVrai-colino de Moura.-«Chamo a attençâo do nobre presidente do conselho para um projecto que se acha na ordem do dia * in-voco para elle a sua piedade e o seu patriotismo Fal-lo do projecto que prohibe a exportação de escravos de umas para outras províncias do Império E' pre-ciso uma lei que acabe com esse trafico deshumano que lança milhares de desgraçados a morrerem lon-ge da patria no mais penoso captiveiro.
Sim, longe da patria ; por que, senhores, a pa-tria do escravo é o berço, é o campanário, é o hori-sonte estreito de suas mais caras affeições.
Quem é testemunha oeular das caravanas eme
atravessara as regiões de nossas províncias ; ciutem
tera vis o, como eu, acampar estas ambulâncias da morte cheias de innocentes suppliciados, entre os quaes se vêem mulheres, crianças e anciâos.nãò pôde deixar de invocar a piedade e o patriotismo da cr mara, para esse lamentável estado de cousas oue
deshonra a nossa patria. *
Esse commercio iníquo me impressiona, ha
mui-to tempo,e melará até revolucionário. Não ha
mui-to atravessava eu ao calor do moio dia, uma dessas regiões desertas da minha provincia; o sol abrasava; de repente ouvi um clamor confuso de vozes que se approximavain; era uma immensa caravana de es*-cravos com destino aos campos de S. Paulo.
Entre alguns homens de gárgalheira ao pescoço, caminhavam outras tantas mulheres, levando sobre os hombros seus lilhos entre o^ quaes se viam crian-ças de todas as idades, sendo toda essa marcha a pé
ensangüentando a área quente dos caminhos.
(Sen-sação.)
Quiz fugir a esse aspecto, doloroso, mais fui lo-go arrastado por um grito angustiado; era uma pobre mãe de duas creanças que cahira esbaforida peio sol
abrazador, ao longe da estrada. Ao passo que
du-rante a noite o aspecto de uma dessas caravanas a-campadas faz estremecer de horror a ti bra a mais forte, o coração o mais duro.
Em torno de uma grande fogueira jazem estendidos os míseros escravos sem distineção de sexo nem de idade, e entre o tenir dos ferros, os lamentos das mu-1-her.es e das crianças, ouvem-se os gritos dos guar-das que experimentam as correntes,impondo silencio aquellés que ousam queixar-se. (Sensação.) Mas além na penumbra tripudia o vicio o mais infrenne, E si acontece que durante a noite alguma dessas mi-serás escravas torna-se mãe, no dia seguinte a mar-cha da caravana não se interrompe, e o lVucto que-rido de suas entranhas ó condemnado a morrer no primeiro ou segundo dia de jornada, si antes não é lançado em algum canto ignorado a espirar pelo abandono.
Nesse ponto havemos de insistir e clamar para que não se esqueça de que essas sce ;as que se dão no interior das províncias do norte, degradam a ai-ma da nação.
E' o trafico na sua mais horrenda fôrma, e um governo liberal não o poderá consentir por mais tem-po sem atraiçoar a missão que lhe foi confiada. {Apoiados.)
Desde esse dia tomei o compromisso de combater esse novo trafico mil vezes mais horroroso do que aquelle que se fazia no centro d'Africa e atra vez dos marésj (Apoiados.
Sou abolicionista, mas não sou intransigente ; comprometto-me até a abdicar o meu direito de pen-sar em matéria semelhante, si esse projecto que ex-tingue o trafico de umas para outras províncias for lei do paiz.
"-*^Al lü M lllj)
Trasej^xDaa s.«xasÊ
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bEXTA-FFIRA 18 DO CORRENTE
C 4JJ-. BivAblLMRA—RíJA
FORMOSA N 19.