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O SERVIÇO SOCIAL NO CENTRO DE EDUCAÇÃO E TRABALHO CENET/FCEE E OS DESAFIOS NA INSERÇÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MUNDO DO TRABALHO

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DEFICIÊNCIA NO MUNDO DO TRABALHO

Julio Cesar Antonini Carolina Hoeller da Silva Boeing Resumo:

O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de apresentar aspectos envolventes na inserção da Pessoa com Deficiência no mundo do trabalho, discutindo os desafios apresentados pelo mercado de trabalho, sob a vigência do sistema capitalista, considerando a relação do homem com o trabalho e as dimensões da ação do assistente social no processo de inserção da Pessoa com Deficiência ao mundo do trabalho, mais especificamente no Centro de Educação e Trabalho – CENET da Fundação Catarinense de Educação Especial – FCEE nos anos de 2018 e 2019. A pesquisa mostrou que, nas ações realizadas no CENET e nos demais espaços institucionais a nível nacional, o processo de promoção da Inserção da Pessoa com Deficiência ao mundo do trabalho requer uma atenção contínua por parte de todos os atores sociais, do Estado e de uma luta constante do assistente social.

Palavras-chave: Direitos da Pessoa com Deficiência. Inserção da Pessoa com Deficiência, Mundo do Trabalho, Serviço Social.

Abstract:

The present study was developed with the purpose of presenting the aspects involving the insertion of People with Disabilities in the workplace, discussing the challenges presented by the job market under the capitalist system, considering the relationship between man and work

Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Graduação em Serviço Social da

Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL.

 Júlio César Antonini. Acadêmico de Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail:

jcantonini@gmail.com.

 Carolina Hoeller da Silva Boeing. Professora – Mestre da Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail:

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and the dimensions of the action of the Social Worker in the process of inserting People with Disabilities into the workplace, more specifically at the Centro de Educação e Trabalho - CENET of the Fundação Catarinense de Educação Especial - FCEE in 2018 and 2019. The research showed that, in the actions carried out at CENET and other institutional spaces at national level, the process of promoting the Insertion of People with Disabilities into the workplace requires continuous attention from all social actors, the State and a constant struggle of the Social Worker.

1. Introdução

De acordo com o texto constante no Propósito da Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2007:

pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade, em igualdades de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2007).

Dessa forma, considerando o processo de lutas sociais que tiveram o intuito de definir o conceito e a terminologia como inclusivistas, a terminologia adotada no decorrer deste presente artigo será Pessoa com Deficiência (PcD).

Vale destacar que, entre as pesquisas realizadas neste estudo, foi efetuado um levantamento, a fim de identificar os diferentes conceitos utilizados pela sociedade para descrever a pessoa com deficiência ao longo da história, tão quanto para apontar as transformações sociais que essas mudanças conceituais causaram e ainda causam na vida da pessoa com deficiência.

Destaca-se, ainda, neste estudo a relação da Pessoa com Deficiência e o mundo do trabalho, tendo em vista que o trabalho é reconhecido como uma categoria inerente à espécie humana, e de tal forma, essencial para a construção do ser humano, como ser social. No entanto, ao abordamos sobre este tema, faz-se necessário criar um paralelo sobre as constantes transformações que o mundo do trabalho sofre devido à alta competitividade criada pelo sistema capitalista e que, para a Pessoa com Deficiência, a qual, por séculos, é apontada como um ser incapaz de exercer quaisquer atividades, essas transformações advindas das relações do mundo do trabalho com o viés do sistema capitalista atingem parâmetros significativos, refletindo na

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questão da desigualdade social, em busca de razões para responder a exclusão de um determinado grupo a essa forma de convívio e participação social.

Na busca pela valorização da Pessoa com Deficiência e do seu pleno desenvolvimento enquanto cidadão de direitos, é importante ressaltar o dever do Estado no reconhecimento do direito das Pessoas com Deficiência ao trabalho, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas; “[...] e promoverão a realização do direito ao trabalho, inclusive daqueles que tiverem adquirido uma deficiência no emprego, adotando medidas apropriadas, incluídas na legislação, com o fim de, entre outros: adotar políticas de emprego e trabalho voltadas à Pessoa com Deficiência.” (BRASIL, 2009).

A competência do assistente social nesse viés se conduz pela construção de um ser social que deve ser inserido, devendo pautar suas ações profissionais embasado pelos princípios éticos, em defesa dos direitos humanos, devendo “empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças”, promovendo a “ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade...”, tendo “posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais...”. (CFESS, 2012).

Com isso, esta pesquisa tem como objetivo apresentar essas e outras atribuições do assistente social e seus desafios no enfrentamento dos direitos da Pessoa com Deficiência, destacando aspectos considerados importantes para a inserção desse sujeito no Mundo do Trabalho, com um recorte para as ações do profissional diante da Política de inserção da Pessoa com Deficiência no Mundo do Trabalho no CENET.

Para isso, o tópico 2 e seus subtópicos seguintes apresentam uma revisão bibliográfica, contextualizando uma abordagem sobre quem é a Pessoa com Deficiência, quais as leis nacionais e catarinenses de proteção desse público e o papel do assistente social na promoção de Políticas Públicas de inclusão, com enfoque na relação com o trabalho e a inserção no Mundo do Trabalho.

O tópico 3 aborda a metodologia do estudo, realizada por uma pesquisa exploratória e qualitativa, baseada na coleta de algumas informações a partir de observações feitas diretamente com o público na prática do trabalho de estágio curricular.

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O levantamento bibliográfico visa a compreender esse universo que envolve a Pessoa com Deficiência, seus direitos e a participação do assistente social nesse viés da garantia dos direitos. Complementando esse procedimento metodológico, uma pesquisa documental para definir as atribuições do assistente social na promoção da inserção da Pessoa com Deficiência no Mundo do Trabalho, no âmbito do CENET/FCEE.

O tópico 4 é uma abordagem pontual sobre as atividades realizadas pelo CENET/FCEE, a importância da participação do Serviço Social nesse espaço de pesquisas e práticas com Pessoa com Deficiência e uma experiência de estágio curricular de Serviço Social nesse campo.

Finalizando, o item 5 apresenta-se as considerações finais a partir do que foi proposto ao longo deste artigo.

2. Histórico da definição da terminologia de Pessoa com Deficiência

Para designar quem é a Pessoa com Deficiência dos tempos atuais, primeiramente se faz necessário abordar sobre alguns aspectos que ao longo do percurso histórico foram importantes no processo de mudanças no termo de definição da pessoa com deficiência, e também por que elas hoje são fundamentais para esse reajuste final que determina qual a forma socialmente mais adequada de definir esse sujeito.

“Desde a antiguidade até o início do século XX, a pessoa que possuísse algum tipo de deficiência tinha a ela atribuída o conceito de ‘inválido’, o que a associava como sujeito sem valor e utilidade alguma dentro de todos os meios sociais.” (SASSAKI, 2005, p. 1).

O início do século XX foi marcado por eventos importantes na história da humanidade, com destaque para as “1ª e 2ª Guerras Mundiais, ocorridas nos períodos entre os anos de 1914-1918 e 1939-1945, respectivamente, as quais, em consequência dos conflitos armados entre as nações,” (SASSAKI, 2005, p. 2), principalmente no uso de armas nucleares, geraram impactos devastadores à saúde humana de grande parte dos soldados e da população das regiões atingidas pelos ataques, como mutilações ou problemas mentais.

Em virtude desse elevado número de afetados, pessoas sem deficiência acabaram tendo diversos tipos de deficiências físicas e mentais, o que provocou, “por parte das mídias

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daquela época, a criação de um conceito de ‘incapacitados’, deixando uma nítida interpretação de que as pessoas seriam de fato incapazes.” (SASSAKI, 2005, p. 2).

Ainda nessa fase, uma pequena, mas significativa mudança conceitual para definir a pessoa que possui uma deficiência surgiu “logo após esse período, quando de incapacitadas, passou a ter a ressignificação de ‘capacidade residual’, considerando que, mesmo com deficiência, tinha alguma capacidade que ainda lhe resta para a execução das suas ações.” (SASSAKI, 2005, p. 2).

“Entre as décadas de 60 e 80, utilizavam termos como: ‘defeituosos’,” (SASSAKI, 2005, p. 2) ao apresentar à sociedade um conceito fortemente pejorativo para citar pessoas com deficiências físicas; “‘deficientes’, isso significava que o deficiente era sim capaz de realizar as funções básicas do dia a dia, mas de forma diferente das pessoas sem deficiência; ‘excepcionais’, ao citar pessoas com deficiência intelectual.” (SASSAKI, 2005, p. 2).

Ainda entre as mudanças conceituais, e como uma tentativa de encontrar uma forma mais apropriada de mencionar a Pessoa com Deficiência, nos anos que abrangeram a “década de 80 até o seu fim, era comumente abordado o conceito de ‘pessoa deficiente’. Uma pequena derivação de ‘deficiente’, mas que ainda assim foi vista como inapropriada” (SASSAKI, 2005, p. 3). As razões das reprovações desse conceito eram que, de acordo com Sassaki (2005, p. 3), “alguns líderes de organizações de Pessoas com Deficiência contestaram o termo ‘pessoa deficiente’, alegando que ele sinaliza que a pessoa inteira é deficiente, isso era considerado inaceitável.”

“’Portador de Deficiência’ veio a ser o termo que, desde o fim da década de 80 até os anos iniciais da década de 90”, (SASSAKI, 2005, p. 3), começou a ser utilizado frequentemente e embora esteja enraizado na sociedade atual, ainda assim é denominado como um conceito a ser excluído, considerando que esse pressupõe que portar a deficiência esteja em uma “condição temporária e portável pela pessoa,” (SASSAKI, 2005, p. 6), comparando a deficiência a um objeto qualquer, com menção de ela ser carregada pela pessoa e descartada a qualquer momento da sua vida, caso fosse necessário.

Com isso, na busca do método mais adequado para conceituar esse sujeito, muitos desses termos até aqui apresentados ainda são comumente encontrados em documentos, legislações e outras literaturas, além de manifestações orais. Apesar das constantes mudanças

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conceituais, esse é um processo longo e encontrar um método adequado para tratar a Pessoa com Deficiência requer um árduo trabalho de desconstrução e reconstrução social.

Após essas diversas mudanças na terminologia ao longo desses séculos,

a Organização das Nações Unidas, representada por 88 governos, além de 25 organizações internacionais, convocou, por meio de uma Assembleia Geral, a Declaração de Salamanca, que resultou no documento ‘Regras e Padrões sobre Equalização de Oportunidades para a Pessoa com Deficiência’, que consistia em assegurar a igualdade na participação das Pessoas com Deficiência dentro dos espaços educacionais. (BRASIL, 1994).

Nessa ocasião, a redação do texto continha trechos que designavam como termo mais adequado “Pessoa com Deficiência”, que por vias tornaria o termo mais correto e utilizado por todos nós.

Porém, no Brasil, os termos “Pessoa com Deficiência” tanto quanto o seu conceito tornaram-se oficialmente incorporados constitucionalmente, em 2008, na Constituição Federativa do Brasil de 1988, quando aprovou, por meio do decreto legislativo nº 186 de 2008, o texto oficial da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, assinado em Nova Iorque, em 2007, que propunha a promoção e as garantias universais dos Direitos Humanos à Pessoa com Deficiência.

Conforme o texto da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, sobre o conceito de Pessoa com Deficiência, veja o que se menciona:

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2008; BRASIL, 2009).

Em um primeiro momento, o objetivo de introduzir o conceito de Pessoa com Deficiência era remover a conotação pejorativa que era gerada pelos antigos termos “incapacitados”, “defeituosos” ou “aleijados”, transmitindo uma percepção de que a pessoa não tivesse capacidades e habilidades para exercer quaisquer funções que as pessoas sem deficiência exercem.

Nos tempos atuais, com o uso do termo Pessoa com Deficiência, diferentemente de “Portador de Deficiência”, reforça-se a ideia de que a Pessoa com Deficiência, independentemente do tipo, isto é, física, mental, intelectual, sensorial, ou múltipla, seja reconhecida, primeiramente, como um sujeito, porém, um sujeito com deficiência.

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Em 1948, as Organizações das Nações Unidas - ONU proclamaram, por meio do texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que

todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos (...), com o intuito de solicitar que todos os países-membros da ONU disseminem esse conteúdo, principalmente por intermédio das instituições educacionais, que os Estados-Membros estejam comprometidos a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades humanas fundamentais e a observância

desses direitos e liberdades.(ONU, 1948).

Alinhada a isso, a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência (2008), no artigo 1, em texto similar, ratifica esse pensar e agir em “promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente.”

Isso significa a preconização dos documentos, ao apontarem sobre a importância de remover esse rótulo até então enraizado na nossa sociedade, ou seja, de relacionar Pessoa com Deficiência a termos como “coitadinho” ou incapaz, e, principalmente, apresentar a realidade vivida pela pessoa na condição de deficiente, sem ocultar o tipo de incapacidade em si, mas propor que cidadãos, organizações e Estados, encontrem alternativas por meios de políticas de inclusão, dentro das disposições legais, de garantir todo tipo de acessibilidade, respeitando a especificidade de cada caso, construindo uma sociedade inclusiva para esse grupo de pessoas, empoderando-os frente aos desafios contra suas barreiras diárias, garantindo que esses tenham, sem qualquer tipo de discriminação, acesso aos mesmos direitos fundamentais, colocando pessoas com e sem deficiência em estado de igualdade de oportunidades, anulando pouco a pouco o histórico de segregação social, fomentando a sua inclusão social.

2.1 Pessoa com Deficiência e a Legislação Brasileira

Combater as discriminações é parte fundamental de todo o processo histórico da exclusão social sofrida por toda pessoa que, independentemente de raça, gênero, religião ou região, é posta nas variadas formas de desigualdade e vulnerabilidade social, e a Pessoa com Deficiência, além de ser parte integrante de todos os grupos sociais vítimas dos tipos de discriminações citados, sofre por ser a única que é segregada da sociedade pela sua condição única de deficiente.

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Esse conjunto de aspectos que coloca as Pessoas com Deficiência dentro de um grupo específico de exclusão social, fez com que tornasse fundamental compreender quais são estes aspectos que englobam a questão de segregação da Pessoa com Deficiência e que meios podem ser utilizados para confrontar diretamente com estas barreiras.

No Brasil, a promulgação da Lei 13.146, de 06 de julho de 2015 – Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também conhecida por Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi um passo adiante na luta pela igualdade e pela inclusão social da Pessoa com Deficiência, sendo determinante para que os atores sociais pudessem conhecer um dos maiores desafios enfrentados pela Pessoa com Deficiência, que são as barreiras, e servindo de estímulo para que elas pudessem ser reduzidas nas vidas das Pessoas com Deficiência.

Seguindo esse contexto sobre barreiras, o Estatuto menciona que elas são definidas do seguinte modo:

IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros. (BRASIL, 2015).

As barreiras, além de atrasarem ou impedirem que a Pessoa com Deficiência possa usufruir da participação em todos os espaços sociais, manifestam-se nas rotinas destas pessoas de diferentes formas, sendo classificadas, conforme o mesmo Estatuto descreve, por:

a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo;

b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e privados; c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de transportes; d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia da informação;

e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas;

f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias; (BRASIL, 2015).

Como visto, essas barreiras trazem um valor significativo que impacta negativamente na vida das Pessoas com Deficiência, por comprometerem a relação dessa com o meio em que ela vive, expondo-a a uma situação imprópria que infringem os direitos à liberdade e a dignidade humana.

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Dessa forma, a desvalorização do sujeito se eleva e, consequentemente, resulta em falta de oportunidades. O artigo 4º do Estatuto da Pessoa com Deficiência, no seu capítulo II, da igualdade e não discriminação, traz à tona esse ponto relevante de valorizar o sujeito, ao nos esclarecer que:

Art. 4. Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as

demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.

§ 1o Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas. (BRASIL, 2015).

Portanto, para que se combata esses tipos de barreiras e minimize as discriminações e a situação de desigualdade, deve-se ressaltar a importância de uma participação conjunta ativa envolvendo a sociedade civil, instituições e governos municipais, estaduais e federais no processo de elaboração de métodos que sirvam de rompimento das barreiras enfrentadas pela Pessoa com Deficiência e as coloquem em situação de igualdade perante a sociedade.

Esses métodos de combate serão aqui representados na forma de Políticas Públicas, que podem ser definidas como uma “linha de ação coletiva que concretiza direitos sociais declarados e garantidos em lei.” (PEREIRA, 1996, p. 130) e “são constituídas em dever do Estado, o qual, por meio delas, assegura os direitos sociais conquistados”, (KEHRIG, et al., p. 41) e subdivididas Políticas da Assistência Social, Educação, Emprego, Habitação, Previdência Social, Saúde.

Isto é, ao trazermos para a abordagem das barreiras enfrentadas pelas Pessoas com Deficiência, seria a participação responsável do Estado e os atores sociais no atendimento das necessidades desse grupo de pessoas referentes a esses tipos de entraves que os deixam em situação de exclusão social.

No entanto, para que se traduza Políticas Públicas em ações concretas de combate à exclusão social da Pessoa com Deficiência é necessário, antes de tudo, compreender o cenário social o qual ela está inserida, para que, posteriormente, medidas de adequação, proteção e suporte venham a ser elaboradas.

Desde o início do século XXI , a legislação brasileira criou leis, decretos e normas para que fossem implantadas pelas esferas governamentais federal, estadual e municipal do

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Brasil, como mecanismos de efetivação da atenção no atendimento das necessidades da Pessoa com Deficiência, com o propósito de minimizar as dificuldades encontradas.

Seguindo esse olhar, mesmo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos tratando a Pessoa com Deficiência como pessoa de Direitos, em 1948, o histórico constitucional do Brasil trouxe a consideração no tocante à conquista da efetivação dos Direitos da Pessoa com Deficiência, muito lentamente, visto que as constituições decretadas e promulgadas nos anos de 1937, 1946 e 1967 faziam menções muito pontuais, sem maiores detalhamentos e pouco inovadoras no âmbito dos Direitos da Pessoa com Deficiência, como se pode observar nos apontamentos mencionados na sequência.

A Constituição dos Estados Unidos do Brasil (1937), ao referir-se às vedações à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, em seu artigo nº 32, expressa que se deva: “criar distinções entre brasileiros natos ou discriminações e desigualdades entre os Estados e Municípios.”

Já as Constituições seguintes, promulgadas em 1946 e 1967, respectivamente, fazem referências destinadas exclusivamente aos direitos dos trabalhadores da época, expressas das seguintes formas nos artigos:

Art 157 - A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos seguintes preceitos, além de outros que visem a melhoria da condição dos trabalhadores: XVI - previdência, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da maternidade e contra as consequências da doença, da velhice, da invalidez e da morte; (BRASIL, 1946).

Art 158 - A Constituição assegura aos trabalhadores os seguintes direitos, além de outros que, nos termos da lei, visem à melhoria, de sua condição social:

XVI - previdência social, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, para seguro-desemprego, proteção da maternidade e, nos casos de doença, velhice, invalidez e morte; (BRASIL, 1967).

O ciclo de transições das Constituições brasileiras atingiu um ponto determinante, tornando-se o grande marco no reconhecimento dos Direitos da Pessoa com Deficiência e um forte apreço na proteção e inclusão da Pessoa com Deficiência, na promulgação da Constituição da República Federativa de 1988, que podem ser previstos nos seguintes artigos:

Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...);

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Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição;

Art. 7º que diz ser direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social e que proíbe qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência. XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;

V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei;

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos:

II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. (BRASIL, 1988).

A Constituição da República Federativa de 88 é, impreterivelmente, o dispositivo legal supremo no Brasil, servindo como a diretriz de maior referência de incentivo à criação de outras leis estaduais e municipais, abrindo portas para que representantes sociais e governamentais se abarquem na elaboração, implementação e efetivação de políticas de direitos do cidadão brasileiro, e com deficiência, no território nacional.

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2.1.1 Pessoa com Deficiência e as Legislações Catarinenses

Em relação ao estado catarinense, inúmeras são as leis e decretos que são direcionadas a proteger esse segmento da Pessoa com Deficiência, no entanto, em 1968, o governo de Santa Catarina sancionou a Lei 4.156, de 06 de maio daquele ano, que “instituía a Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), com o caráter de órgão central e com incumbência de, atendidos os termos do sistema Estadual de Ensino, planejar, orientar, supervisionar e promover a educação de excepcionais.” (SANTA CATARINA, 1968).

A criação da FCEE foi um marco para Santa Catarina, pois em uma época na qual as questões relacionadas à Pessoa com Deficiência ainda estavam em processos de descobrimentos e mudanças, tornou-se fundamental para o início da construção de uma nova era de promoção de direitos e inclusão desse grupo de pessoas, tornando-se uma referência nacional, por ser esta:

A primeira instituição pública estadual do Brasil responsável pela definição e coordenação de políticas de Educação Especial e de atendimento às pessoas com deficiência, sendo vinculada à Secretaria de Estado da Educação (SED), beneficiando atualmente milhares de pessoas em todo o estado que dependem das políticas públicas para serem incluídas com qualidade de vida na sociedade. (SANTA CATARINA, 2018A, p. 15).

É instituição que, no ramo da educação especial, atua na

elaboração de políticas públicas, promovendo a inclusão social da Pessoa com Deficiência, assim como na prestação de atendimento especializado à Pessoa com Deficiência em seu campus, a fim de desenvolver pesquisas em tecnologias assistivas e metodologias para aplicação nos programas pedagógicos, profissionalizantes, reabilitatórios e programa socioassistencial, prevenção e avaliação diagnóstica, que subsidiem os serviços de educação especial no Estado de Santa Catarina. (SANTA CATARINA, 2019A).

Consolidando o acesso aos direitos das Pessoas com Deficiência dentro do estado, a Lei 17.292, de 19 de outubro de 2017, foi promulgada e propõe, de acordo com o disposto no seu art. 3º, que:

Art. 3ºCabe aos órgãos e às entidades do Poder Público do Estado de Santa Catarina

assegurar à pessoa com deficiência o pleno exercício de seus direitos sociais, à educação, à saúde, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à edificação pública, à habitação, à cultura, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.

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Ao atingir níveis estatais, as implementações dessas leis específicas para a Pessoa com Deficiência no estado de Santa Catarina quebram os paradigmas da discriminação à Pessoa com Deficiência, confirmando a importância dada ao processo histórico de luta social desde a DUDH, em 1948, até a Constituição de 1988 e o Estatuto da Pessoa com Deficiência de 2015 promulgados no país, confirmando a conquista da liberdade e dos direitos da Pessoa com Deficiência em todas as esferas sociais.

2.2 A atuação do Assistente Social na Promoção de Políticas Públicas da Pessoa com Deficiência

Como visto, os direitos são propostos como garantias e constitucionalmente reconhecidos como inerentes a qualquer pessoa, que, com base no reconhecimento de sua realidade social, encontre-se na necessidade de que políticas públicas voltadas a concretizar o acesso aos seus direitos sejam elaboradas e implementadas, tirando-a de situação de vulnerabilidade social.

Nesse processo construtivo das políticas públicas, a intervenção do assistente social é ponto fundamental por considerarmos a dimensão ético-política da “sua atuação que imprime sua visão crítica de decifrar realidades sociais vividas por cada tipo de sujeito e, a partir delas, encontrar meios para solucionar esses tipos de demandas sociais.” (IAMAMOTO, 2012, p. 20). Para esse tipo de enfrentamento, ressalta a importância de que a mediação do assistente social se aporte ao Código de Ética do assistente social de 1993, o qual, entre seus princípios fundamentais, destaca a questão da “defesa intransigente dos direitos humanos...”, “ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade...”, “posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais...” e o “empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças”. (CFESS, 2012).

Esse saber teórico-prático faz com que os assistentes sociais, dentro dos espaços institucionais e de seus deveres profissionais, democratizem as informações e promovam o acesso aos direitos da Pessoa com Deficiência, às políticas voltadas a esse público e à luta por acesso aos benefícios, como: Passe Livre Intermunicipal, “Benefício da Prestação Continuada (BPC – LOAS), benefícios eventuais” (BRASIL, 2011), conforme previstos pela Lei Orgânica

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de Assistência Social e de direitos, como a Lei 8.989, de 1995, a qual dispõe sobre a Isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, a pessoas portadoras de deficiência física, visual, mental severa ou profunda, ou autistas, diretamente ou por intermédio de seu representante legal, e ao acesso a outros direitos socioassistenciais, à saúde pública e à inserção ao mundo do trabalho.

A atuação dos assistentes sociais na intersetorialidade é aplicada de forma explícita e efetiva, pretendendo que suas ações se dão com base e conforme a Política Nacional de Assistência Social - PNAS (2004, p. 42):

a Assistência Social, enquanto política pública que compõe o tripé da Seguridade Social, e considerando as características da população atendida por ela, deve fundamentalmente inserir-se na articulação intersetorial com outras políticas sociais, particularmente, as públicas de Saúde, Educação, Cultura, Esporte, Emprego, entre outras, para que as ações não sejam fragmentadas e se mantenha o acesso e a qualidade dos serviços para todas as famílias e indivíduos.

Ou seja, tem o propósito de promover, no âmbito da integração entre as redes socioassistenciais e demais políticas públicas, a inclusão social e melhoria na qualidade de vida da Pessoa com Deficiência.

Essas ações são realizadas na forma de acolhida, prestando e acompanhando os devidos encaminhamentos e orientações referentes aos direitos sociais, políticos e civis da pessoa com deficiência, articulando com a rede de proteção social (sociedade civil organizada, ONG’s, serviços públicos, órgãos fiscalizadores, família, comunidade), assim como em educar, preparar e direcionar para o trabalho.

2.2.1 As Políticas de Inserção da Pessoa com Deficiência no Mundo do Trabalho, suas Relações com o Sistema Capitalista e o papel do Assistente Social

Antes de mais nada, é preciso fazer uma breve contextualização sobre o trabalho, considerando a sua ambiguidade significativa provocada pela histórica relação direta que ele tem com o homem, como ser social e as dimensões transformadoras que esse processo faz na natureza humana.

De acordo com Marx (1980 apud SILVA, 2016, p. 17), o trabalho é definido em três modos:

a atividade humana propriamente dita, o objeto de trabalho, conferidos pela matéria prima modificada pela ação humana e, por último, os meios de trabalho, caracterizados pelos instrumentos, ferramentas utilizadas ou os espaços usados para

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que se haja a ação do homem”, e que a esse conjunto de aspectos que formalizam o

trabalho,e [...]deve ser considerado de início independentemente de qualquer forma

social determinada.”.

Se seguirmos essa perspectiva do autor, portanto, é necessário afirmar que o trabalho é uma categoria intrínseca não apenas ao ser humano, como indivíduo, mas com a sociedade em sua totalidade e que esse é resultado de um processo que inclui a ação humana, convertida na produção de um produto final e, simultaneamente, na construção do ser social.

Atualmente, o sistema econômico no qual estamos inseridos é o modelo capitalista, ou seja, entre outras características (exploração do homem), expõe o trabalhador na condição de ter que vender sua própria força de trabalho em troca apenas de sua sobrevivência.

Isso resulta naquilo que seria o objeto de trabalho do assistente social: a questão social, como é bem afirmada por Iamamoto (2008, p. 27), é:

apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.

Em uma análise similar à de Iamamoto, Antunes (2009, p. 194) afirma que “o proletariado ou a classe trabalhadora hoje compreende a totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho e que são despossuídos dos meios de produção.”

Seguindo essa lógica, o sistema capitalista faz com que a apropriação do capitalista sobre os meios de produção e de tudo aquilo que é produzido pela classe trabalhadora seja uma forma de apontar que a desigualdade social está sendo instalada, e como moeda de troca, essa apropriação submete os trabalhadores a terem que aceitar baixos salários, locais e horas trabalhadas inadequados, situação de pobreza e sensação de que essas são suas únicas formas de sobrevivência, sem que em momento algum possam usufruir das riquezas que eles mesmos produzem.

Sobretudo, a Pessoa com Deficiência, quando posta nessas circunstâncias adversas impostas pelo capitalismo ao trabalhador, faz com que o cenário apresente uma situação ainda mais alarmante, pois além desses aspectos supracitados, a Pessoa com Deficiência esbarra nas questões discriminatórias das rotulações de incapacidade, que se reforçam pela constante mudança do sistema tecnológico no mundo do trabalho, do não poder executar as funções, que,

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dessa forma, exclui essas pessoas do rol de “trabalhadores polivalentes e multifuncionais da era toyotista”. (ANTUNES, 2004, p. 339). Também, afasta das concorrências de ofertas de trabalho, da falta de acesso a outros direitos sociais, como ao transporte, à saúde, à habitação, à reabilitação física, à educação e educação para o trabalho, e pelas diversas barreiras enfrentadas, que, sob a visão do assistente social, transforma-se no desenho do que é a questão social dentro do contexto do mundo do trabalho e das oportunidades que o mercado de trabalho deve oferecer à Pessoa com Deficiência.

Esses aspectos da questão social surgem como desafios da intervenção do assistente social que, para promover a Inserção da Pessoa com deficiência no mundo do trabalho, deve lutar pela ruptura dessas adversidades, desconstruir os atos discriminatórios desta sociedade capitalista e compreender a Pessoa com Deficiência como um ser social, incluído e protagonista de suas próprias vidas.

A autora Marilda Villela Iamamoto, em seu livro O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e formação Profissional (2008, p. 28), traz uma fala que justifica essa importância do profissional confrontar-se com a questão social:

Questão social que, sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem e se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movidos por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade.

Nesse escopo, é fundamental reafirmar a importância da implementação de Políticas Públicas de Inserção da Pessoa com Deficiência no mundo do trabalho, a responsabilidade Estatal no apoio e investimento e o agir profissional do assistente social nos espaços institucionais na “elaboração, implementação, execução e avaliação de políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares” na luta pela “defesa intransigente dos direitos humanos” e no “empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças”. (CFESS, 2012).

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Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:

I - até 200 empregados...2%;

II - de 201 a 500...3%;

III - de 501 a 1.000...4%;

IV - de 1.001 em diante. ...5%.

Isto é, a lei exige que toda empresa privada, dentro das proporções mencionadas, tenha no seu quadro funcional funcionários com deficiência e, importante ressaltar, ainda, que não haja nenhuma forma de discriminação por parte das empresas contratantes, que considere as suas condições de deficientes ou os níveis de deficiência, que os trabalhadores com deficiência devam ser contratados de acordo com as suas aptidões e capacidades, e alocados nos mesmos espaços (setores) de trabalho que os funcionários sem deficiência.

Porém, por mais que a lei favoreça a Pessoa com Deficiência, das empresas que possuem número de no mínimo cem trabalhadores em seus quadros funcionais e deveriam dispor de vagas exclusivas a essas pessoas, muitas acabam não cumprindo com a determinada lei por conta de uma brecha legal a qual permite a essas empresas pagarem multas distintas para a não contratação de trabalhadores com deficiência.

Portanto, com essa e outras legislações como o Estatuto da Pessoa com Deficiência e a Constituição da República Federativa de 1988, os quais servem de dispositivos de referência para a garantia da proteção à Pessoa com Deficiência, para que a promoção dessa política de Inserção ao mundo do trabalho seja de fato compreendida a todo território nacional, é de fundamental importância a existência de políticas voltadas para entender tais demandas.

3. Metodologia

O método utilizado neste presente artigo foi o de uma pesquisa exploratória, com base para compreender o universo do mundo do trabalho, da Pessoa com Deficiência e as relações de luta dos assistentes sociais nessa linha contextual.

Sobretudo, “a metodologia não só contempla esta fase de exploração de campo como a definição de instrumentos e procedimentos para análise dos dados” (MINAYO, 2002, p. 43), com isso, como forma de aprofundar os conhecimentos sobre os temas abordados, efetuamos uma abordagem qualitativa, aproveitando as práticas de trabalho de estágio, que

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proporcionaram o acesso a informações com base nas observações de encontros com grupos de Pessoas com Deficiência inseridas no mundo do trabalho, que, por meio de depoimentos, apontaram sobre as questões as quais permeiam os desafios enfrentados pela Pessoa com Deficiência no mundo do trabalho e demais meios sociais.

Como complemento de abordagem qualitativa, foi efetuado um levantamento da literatura bibliográfica “na forma de livros, publicações avulsas e imprensa escrita” (LAKATOS; MARCONI, 1983 apud MARCOMIN; LEONEL, 2015, p. 15), no propósito de entender como foram adquiridos os direitos da Pessoa com Deficiência, e quais aspectos foram determinantes, no decorrer da história, para garantir a sua inserção no mundo do trabalho e participação nos espaços sociais.

Para o fechamento do conjunto dos aspectos metodológicos deste trabalho, foi necessário abordarmos a respeito das atribuições do assistente social diante da luta pela garantia dos direitos e pela promoção de Políticas de Direitos da Pessoa com Deficiência nos âmbitos nacional, estadual e mais especificamente no CENET / FCEE.

Neste fim de abordagem, investigamos documentos institucionais do campo de estágio, que de acordo com Marcomin (2015, p. 18), é entendida por “variadas fontes que reúnem indicadores da realidade ou de determinados fenômenos sociais, que são compilados em relatórios, arquivos eletrônicos, sistemas de registros de cadastro de usuários, dentre outros”.

4. A Experiência de Estágio Curricular em Serviço Social no CENET

4.1 O Centro de Educação e Trabalho – CENET/FCEE

“A Fundação Catarinense de Educação Especial – FCEE, é instituição de caráter beneficente, instrutivo e científico, dotada de personalidade jurídica de direito público, sem fins lucrativos e vinculada à Secretaria de Estado da Educação – SED.” (SANTA CATARINA, 2019b)

Essa fundação iniciou suas atividades em 6 de maio de 1968,

após uma expansão dos serviços de educação especial no estado de Santa Catarina ao longo das décadas de 50 e 60, a fim de definir as diretrizes de funcionamento da educação especial em âmbito estadual, com o propósito de atuar na promoção da

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capacitação de recursos humanos e realização de estudos e pesquisas voltadas à prevenção, assistência e integração da pessoa com deficiência. (SANTA CATARINA, 2019c).

Como visto neste artigo, a FCEE atua a partir da elaboração de políticas públicas que promovam a inclusão social da pessoa com deficiência, assim como na prestação de atendimento especializado à pessoa com deficiência (visual, auditiva, mental, física e múltipla), transtorno do espectro autista, transtorno do déficit de atenção/hiperatividade e altas habilidades/superdotação em seu campus, a fim de desenvolver pesquisas em tecnologias assistivas e metodologias para aplicação nos programas pedagógicos, profissionalizantes, reabilitatório e programa socioassistencial, prevenção e avaliação diagnóstica, que subsidiem os serviços de educação especial no Estado de Santa Catarina.

Esses serviços são ofertados por meio dos seguintes centros de atendimentos:

• CAP – Centro de Apoio Pedagógico e Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual; • CAS – Centro de Capacitação de Profissionais de Educação e de Atendimento às Pessoas

com Surdez;

• CEDUF - Centro de Educação Física;

• CENAE - Centro de Avaliação e Encaminhamento; • CENAP - Centro de Ensino e Aprendizagem;

• CENER - Centro de Reabilitação Ana Maria Philippi; • CENET - Centro de Educação e Trabalho;

• CETEP - Centro de Tecnologia Assistiva; • CEVI - Centro de Educação e Vivência;

• NAAHS - Núcleo de Atividades de Altas Habilidades / Superdotação.

Em 1969, o Centro de Educação e Trabalho – CENET, surge com a proposta de atuação nas “políticas de educação e emprego, com o objetivo de preparar para o mundo do trabalho a Pessoa com Deficiência (Intelectual e Transtorno do Espectro Autista (TEA)” (SANTA CATARINA, 2018A, p. 128), de variados perfis socioeconômicos, “com idade a partir de catorze anos e tendo perspectiva de qualificação profissional.” (SANTA CATARINA, 2018A, p. 128).

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Dessa forma, por ser um Programa de Educação Profissional, por meio de serviços aplicados entre grupos de preparação (oficinas) para o mercado de trabalho, os profissionais desenvolvem suas ações movidas a preparar a Pessoa com Deficiência, com atividades de iniciação para o trabalho, quando são identificadas as potencialidades desses aprendizes, a atividade de locomoção independente que consiste em proporcionar ao aprendiz adquirir competências de locomover-se, ou seja, ir e vir de maneira independente, autônoma e segura, e, por fim, a fase qualificatória desse aprendiz, na qual são realizadas atividades visando ao desenvolvimento de suas habilidades e capacidades.

Ainda, uma vez que identificadas e definidas as aptidões desses aprendizes dentro do processo preparatório, o Centro faz os devidos contatos diretos com eles e suas famílias, para tratar sobre o encaminhamento a uma vaga de emprego ao mercado de trabalho formal e, vista a disponibilidade e permissão para a empregabilidade, as empresas contratantes são contatadas para os devidos encaminhamentos serem realizados.

Durante essa etapa, os aprendizes encaminhados têm suas atividades profissionais integralmente acompanhadas pelo Centro, assim como as empresas contratantes recebem as devidas assessorias técnicas pela equipe multiprofissional do CENET.

Há, também, uma disponibilidade institucional no recebimento e envio de currículos de Pessoas com Deficiência que não são pertencentes ao sistema de cadastro interno do CENET e, caso necessário, acompanhá-las às entrevistas de emprego.

Parcerias com Programas voltados à educação profissional de Pessoas com Deficiência, de serviços ligados ao emprego, como Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, Serviço Social do Comércio – SESC, Serviço Social da Indústria - SESI e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio – SENAC, Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC, assim como institutos federais e Centros de Educação Profissional e demais instituições.

Por fim, dispõe também do Programa de Atividades Laborais - ProAL, um espaço que proporciona ao jovem e adulto com deficiência intelectual/mental, associada ou não a outras deficiências, e ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), em idade igual ou superior a catorze anos, no entanto, sem perspectiva de ingresso no processo de qualificação profissional e/ou inclusão no mercado de trabalho formal, exercer seu direito à realização de atividades laborais como costura e artes aplicadas, papel artesanal, jardinagem e produção de húmus, contribuindo assim para a promoção de sua independência pessoal e inclusão social. (SANTA CATARINA, 2017).

Para a execução das suas atividades, conta com uma equipe formada por uma coordenadora, dois pedagogos, quinze professoras, duas psicólogas, uma secretária, três assistentes sociais, um técnico administrativo, dezessete motoristas, que se dividem entre eles

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para realizar as saídas do campus, duas assistentes de serviços gerais e uma cozinheira (cedidas por empresa terceirizada), totalizando vinte e cinco funcionários.

4.2. O Serviço Social no CENET

O Serviço Social está inserido no CENET “desde o ano de 1969, um ano após a fundação da Instituição, quando naquela ocasião foi contratada a primeira assistente social para que exercesse esta função.” (SANTA CATARINA, 2018B)

Com base em informações coletadas a partir de documentos internos do CENET, que especificam sobre o histórico do quadro funcional e sobre as atribuições do assistente social dentro do Centro, ao longo dos anos de 1969, ano em que houve a primeira admissão desse profissional, até o ano atual da construção deste artigo, em 2019, vários assistentes sociais passaram pelo CENET, contratados por meio de concursos públicos. Conforme documento sobre a Atuação do Serviço Social no CENET, “atualmente a composição desta categoria profissional é formada por três assistentes sociais” (SANTA CATARINA, 2018B), que exercem suas funções no Centro, sempre atualizados em relação às leis, estatutos, serviços, programas e projetos que dizem respeito aos direitos da Pessoa com Deficiência ou não, em situação de vulnerabilidade, “tendo novos olhares para que haja formas de identificar, acompanhar e apresentar propostas conclusivas para cada um dos tipos de demandas apresentadas.” (SANTA CATARINA, 2018B).

Cada profissional executa sua função pautado nas seguintes atribuições:

Setor Serviço Social - atribuições específicas:

• Atuação direta com os aprendizes do núcleo do Centro, isto é, os integrados ao Programa de

Educação Profissional, bem como com seus pais e ou responsáveis, apresentando a elas

caminhos de acesso aos Direitos da Pessoa com Deficiência, nas esferas municipal, estadual e federal.

• Mediações, quando necessárias, das relações intrafamiliares, indo de encontro às expressões da questão social (SANTA CATARINA, 2018B).

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• Encaminhamento de Pessoas com Deficiência que não estão inseridas no Mercado de Trabalho ou em cursos extensivos, e no acompanhamento daquelas já inseridas nesse meio de inclusão social.

• “Acompanhamento dos aprendizes que estão inseridos nos cursos extensivos e

sua relação e inclusão no mercado de trabalho.” (SANTA CATARINA, 2018B).

Atribuições coletivas, de participação dos três profissionais:

Determinadas demandas encontradas no Centro, por vezes, envolvem questões de comportamentos, saúde mental e física, exigindo que algumas tomadas de decisões sejam feitas a partir de uma leitura mais ampliada sobre esses casos mais pontuais.

Para esses casos, faz-se necessária a participação conjunta da equipe multidisciplinar composta de outros profissionais nas áreas de psicologia e pedagogia, isto é, no âmbito da integração entre as redes socioassistenciais e políticas públicas, promover a inclusão social e melhoria na qualidade de vida dos usuários e suas famílias.

A promulgação da Lei 4.156, de 06 de maio de 1968, relativa à instituição da Fundação Catarinense de Educação Especial – FCEE, tornou-se um marco importante na luta pelos direitos da Pessoa com Deficiência em Santa Catarina e um atalho que tem buscado minimizar todas essas formas excludentes da Pessoa com Deficiência nos espaços sociais citados neste artigo.

No seu campus institucional, que divide suas atividades em Centros de Atendimento, o Centro de Educação e Trabalho – CENET, segundo o Relatório de Atividades da FCEE, publicado em 2017, é um dos segmentos da FCEE que tem por objetivo:

produzir conhecimento, capacitar profissionais, assessorar os serviços na área da educação profissional e emprego de pessoas com Deficiência Intelectual e Transtorno do Espectro Autista, encaminhar pessoas com deficiência para o mercado de trabalho e realizar o acompanhamento dos usuários atendidos. Em interface com as políticas públicas de educação profissional e emprego, desenvolve ações em articulação com o Sistema “S”, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – PRONATEC, Institutos Federais, Centros de Educação Profissional e todas nas demais instituições que desenvolvem serviços voltados à educação profissional de pessoas com deficiência.

Em nível extensivo, o CENET tem como responsabilidade o encaminhamento e acompanhamento de propostas metodológicas às instituições parceiras que visam a capacitação profissional de pessoas com deficiência. Também é de sua responsabilidade a capacitação de profissionais na área de Educação e Trabalho, oferecendo estágios e realizando cursos e assessorias nas diferentes regiões do Estado. Além destes propósitos, o CENET realiza o

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encaminhamento e o acompanhamento de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Em nível nuclear, através do Programa de Educação Profissional, realiza atendimento a jovens e adultos com transtorno do espectro autista – TEA, deficiência intelectual e/ou outras deficiências associadas, com idade igual ou

superior a 14 anos. (SANTA CATARINA, 2017).

Portanto, as atividades realizadas pela equipe multidisciplinar têm por objetivo capacitar Pessoas com Deficiência para que estejam aptas para serem integradas ao mundo do trabalho, encaminhá-las às vagas de emprego e acompanhá-las durante todo o processo de admissão.

O assistente social, no CENET, muitas vezes identifica demandas referentes à questão social, sendo expressas de outras formas dentro do ambiente de convívio familiar de trabalhadores com deficiência ou dos aprendizes, como o desemprego e violências (física, psicológica e sexual).

Com isso, pode-se relatar que muito da atuação profissional se direciona em encaminhar essas famílias de Pessoas com Deficiência excluídas do mundo do trabalho à rede socioassistencial, com enfoque na concessão de garantia de uma renda familiar, (BPC), conforme é bem explicitado no Estatuto da Pessoa com Deficiência, pelo artigo nº 39:

Art. 39. Os serviços, os programas, os projetos e os benefícios no âmbito da política pública de assistência social à pessoa com deficiência e sua família têm como objetivo a garantia da segurança de renda, da acolhida, da habilitação e da reabilitação, do desenvolvimento da autonomia e da convivência familiar e comunitária, para a promoção do acesso a direitos e da plena participação social. (BRASIL, 2015).

A política de assistência social, como política de direito, serve para o assistente social do CENET como dispositivo de proteção social, sobretudo, os encaminhamentos aos programas de concessão de benefícios, os quais são essenciais para minimizar as questões de pobreza identificadas no seio familiar das Pessoas com Deficiência que não possuem emprego, mas necessitam de uma renda para o sustento familiar.

4.3 A experiência de estágio supervisionado em Serviço Social no CENET

Em experiência teórico-prática de um ano e quatro meses de estágio curricular obrigatório de Serviço Social, realizada no Centro de Educação e Trabalho – CENET da

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Fundação Catarinense de Educação Especial, em Santa Catarina, durante os atendimentos do assistente social, foi possível fazer observações e ações, por vezes participantes, sobre a realidade do mundo do trabalho para a Pessoa com Deficiência, seja no momento da preparação desse sujeito como no acompanhamento de outros na rotina profissional.

Durante esse período de estágio, a supervisão de campo foi realizada pelo assistente social Irineu Frederico Borges, que desde agosto de 2012 atua no setor do Serviço Social, com o objetivo de promover as relações interpessoais e intrafamiliares, contribuir na formação profissional dos aprendizes. A aptidão desse funcionário com as Políticas do Emprego volta-se ao incentivo, à autonomia e à autogestão desvolta-ses usuários.

O assistente social Irineu age diretamente no enfrentamento responsável das expressões da questão social, causadora de desigualdades na realidade dos usuários dos serviços do CENET. Para isso, utiliza instrumentos técnico-operativos, como a observação, entrevistas, visitas domiciliares às famílias dos aprendizes e a articulação com a rede socioassistencial (SUAS), para encaminhar e estimular as famílias e os usuários do Centro a terem seus direitos garantidos.

Entre as atribuições do estagiário, além do acompanhamento das atividades realizadas pelo assistente social supervisor de campo, atuava ainda acompanhando os demais processos que envolviam os aprendizes do CENET, como: procedimentos cadastrais, atividades realizadas pelos aprendizes dentro dos grupos de preparação do CENET, orientação às famílias sobre os direitos e critérios para a concessão do BPC e demais benefícios, conforme a situação, fornecimento de documentos solicitados pelos usuários/família, participação na elaboração de relatórios das avaliações sociais, em estudos de caso, quando solicitado pela equipe técnica do CENET, assim como a realização de visitas domiciliares, para acompanhar as mediações feitas pela equipe técnica com as famílias dos aprendizes e participação em encontros com grupos.

Essas participações nesses encontros com grupo eram organizadas pela equipe multidisciplinar, composta por uma psicóloga e uma assistente social. Nesses encontros, eram abordadas questões, em forma de temáticas e com dinâmicas, acerca do cotidiano profissional e social desses grupos de trabalhadores.

Os propósitos, de acordo com Sousa (2008, p. 127), eram de fazer com que, “assim como a dinâmica de grupo, as reuniões sejam espaços coletivos, de encontros grupais, que têm

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como objetivo estabelecer alguma espécie de reflexão sobre determinado tema. Mas, sobretudo, uma reunião tem como objetivo a tomada de uma decisão sobre algum assunto.”

Portanto, nesses encontros, as Pessoas com Deficiência traziam para a equipe demandas sociais, e o papel das mediadoras era voltado a buscar soluções para essas demandas apresentadas por eles.

Em alguns desses encontros, pôde-se observar como os tipos de barreiras estão fortemente atrelados aos direitos de realização de quaisquer atividades rotineiras pela Pessoa com Deficiência, confirmando com os dispostos nos textos da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência (2008) e no Estatuto da Pessoa com Deficiência (2015), que definem, nos artigos 1 e 2º das respectivas leis, os termos Pessoa com Deficiência e barreiras como “interações existentes entre elas e o comprometimento na participação social em igualdade de condições com as demais pessoas”, que isso provoca nessas pessoas.

O inciso IV do artigo 3º do Estatuto da Pessoa com Deficiência (2015) ainda nos traz uma evidência mais ampla, quando pontua que barreiras são “entraves, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa [...]”.

Dessa forma, nas experiências vivenciadas nos encontros com o grupo, depoimentos pontuais levaram os participantes a exporem uma gama de ocorrências de barreiras que enfrentavam na rotina profissional e pessoal, no entanto, as barreiras atitudinais se destacavam entre as demais, pois eram apresentadas pelo convívio direto, em forma de atitudes discriminatórias vindas de colegas de trabalho e demais pessoas que faziam parte de suas relações.

A fim de remover essas barreiras sociais que são expressas pelos grupos e promover a busca pela autonomia e protagonismo dessas pessoas, os assistentes sociais do CENET atuam nesses aspectos, pautando-se nos princípios éticos da defesa intransigente dos direitos humanos e na interdisciplinaridade, intervindo nas relações diretas com essas Pessoas com Deficiência, além de outras instituições e empresas contratantes, utilizando estratégias de conscientização sobre a importância de construirmos uma sociedade mais inclusiva, que respeite os espaços sociais, nesse caso, incluindo os locais de trabalho, como dever de acessibilidade para todos.

Durante o período de estágio curricular, o estagiário elaborou um projeto de Intervenção sobre a atuação do Serviço Social no processo de conscientização familiar na Inserção da Pessoa com Deficiência no mundo do trabalho.

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A proposta foi uma atuação direta com as famílias dos aprendizes do CENET e teve como objetivo conscientizar as famílias sobre a importância da inserção da Pessoa com Deficiência no mundo do trabalho, para muito além da “renda extra”, ou seja, como processo de socialização e inclusão.

A motivação para a elaboração deste projeto foi a identificação de barreiras atitudinais presentes no próprio contexto familiar de alguns daqueles aprendizes do Centro, ou seja, de membros de famílias de pessoas consideradas prontas para serem encaminhadas a uma vaga de emprego formal, mas que por motivos os quais ainda precisam ser investigados a fundo pela equipe responsável, não permitiam que os aprendizes fossem inseridos ao trabalho.

O autor Nascimento (2015, p. 2) nos afirma que

para se concretizar a inclusão é necessário mais do que qualificação e vagas no mercado de trabalho, é preciso criar um ‘sujeito desejante’ e um cidadão participativo. Dando informação a ele sobre sua deficiência, as formas de prevenir e os métodos de reabilitação, bem como seus direitos como qualquer outro cidadão.

Esses aspectos se tornaram determinantes para a elaboração do projeto e uma oportunidade para atuarmos estritamente no combate desse tipo de barreira social construída pelas famílias, para, consequentemente, conscientizá-las que a inserção da Pessoa com Deficiência no mundo do trabalho é parte fundamental no processo de inclusão social, uma vez que as ações desenvolvidas no CENET já pretendem garantir o acesso delas ao mundo do trabalho pelas vias da relação entre os aprendizes com os serviços do Centro e os encaminhamentos diretos às empresas.

A intervenção com as famílias fundamentou-se no esclarecimento de algumas expressões da questão social, como a pobreza, o desemprego, a favelização, o analfabetismo e a violência, pois isso tem poder relevante na exclusão social da Pessoa com Deficiência, sendo necessário apresentar os dispositivos legais de proteção social no controle dessa questão social. Sobretudo, o desafio foi orientar as famílias sobre seu papel determinante na efetivação desse processo de inclusão social, usando estratégias para abordar temas como a sensação de valorização, os incentivos à autonomia e aos projetos de vida, o apoio dado em todas as fases da vida da Pessoa com Deficiência, e a necessidade de tratá-los como sujeitos de direitos.

Com base nessas ações, acreditamos que a Intervenção foi importante por ter provocado a reflexão nas famílias, também, buscou (re)construir pais (ou curadores)

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conscientes sobre a luta pela garantia do acesso aos direitos dos seus filhos (ou curatelados) com deficiência.

Pelo que pode ser observado nessa ação, conforme o processo de conscientização desenrolava, as famílias presentes interagiam e expressavam compreensão, concordância e valorização sobre as orientações que eram passadas. Ainda, após a conclusão do projeto, durante um momento de confraternização, as famílias levantavam entre elas pontos sobre o tema abordado e discutiam experiências pessoais.

Por fim, o CENET, por intermédio do supervisor de campo Irineu Frederico Borges e também pela coordenação do Centro, apresentou interesse em aproveitar este projeto como uma experiência que serviria como exemplo para projetos futuros os quais envolvessem as famílias dos aprendizes do Centro.

No entanto, pelos motivos citados, essa conscientização pode ter sido essencial para a aproximação das famílias com a instituição, por buscar uma fidelidade nesta relação e fortalecer a ideia da importância do envolvimento das partes em consonância, quando o assunto for a inserção da Pessoa com Deficiência, mas para que essa aproximação e o vínculo sejam exitosos, visar a atingir o maior número de famílias participantes em futuros projetos ou ações em períodos de tempo não tão longos.

Ainda assim, durante a experiência de estágio curricular obrigatório, as ações eram diretas e realizadas diariamente com os aprendizes no campus institucional, tão quanto em atendimentos programados com as famílias destes aprendizes, fundamentando estas ações com base em orientações, informações e encaminhamentos ao serviço social, vistas como essenciais para fortalecer a sociabilidade e a garantia do acesso aos direitos da Pessoa com Deficiência do estado de Santa Catarina, contudo, sua inserção social. O mesmo se aplica para os atendimentos realizados com os profissionais com deficiência encaminhados pelo CENET, que mesmo inseridos no Mundo do Trabalho, ao longo dos encontros que eram realizados no CENET, apresentavam algumas das expressões da questão social que os deixavam em condições de vulnerabilidade social, exigindo a intervenção do estagiário e representantes do Serviço Social, que agiam na busca de métodos técnicos de conscientização e de incentivos, ou em casos específicos, aos encaminhamentos a atendimentos individualizados na rede socioassistencial, para que se enfrentasse as barreiras sociais existentes, além de consolidar a participação social destas pessoas de forma ampliada.

(28)

A conclusão do trabalho de estágio curricular obrigatório serviu ainda, para eliminar algumas dúvidas sobre essa temática “Inserção da Pessoa com Deficiência no Mundo do Trabalho”, agregou-se conhecimento para o futuro profissional de Serviço Social frente ao trabalho executado dentro do CENET, somando a todo o aprendizado obtido com a equipe técnica e supervisão no período de estágio.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o desenvolvimento deste trabalho, pode-se afirmar que as questões que abrangem a Pessoa com Deficiência e a sua inserção no mundo do trabalho, desde a antiguidade, estiveram circundadas de aspectos considerados excludentes. Isso iniciou a partir das transições conceituais, a fim de encontrar uma forma mais adequada para definir o sujeito “Pessoa com Deficiência”.

No Brasil, somente em 2015 foi promulgada a Lei específica para a Pessoa com Deficiência, chamada de Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (ou Estatuto da Pessoa com Deficiência), com o intuito de proteger a Pessoa com Deficiência, garantindo o acesso aos direitos de forma igualitária.

No âmbito estadual, observamos que no fim da década de 60, quando antes mesmo da promulgação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, a instituição da FCEE surgiu como um marco fundamental nas formas legais para promover a inclusão social da Pessoa com Deficiência, lutando, então, para a remoção dessas barreiras que impediam os sujeitos a ter acesso aos direitos fundamentais.

Por meio do CENET, um dos Centros de atendimento da FCEE, vem a proposta de atuação nas políticas de educação e emprego, promovendo a inserção ao mundo do trabalho. O papel do assistente social nesse contexto, como profissional responsável no enfrentamento da desigualdade social e de questões que segregam a Pessoa com Deficiência do meio social, é de conscientizar as famílias sobre a importância da inserção da Pessoa com Deficiência no mundo do trabalho e a outros direitos, construindo novos caminhos e perspectivas na vida desses sujeitos que sofrem várias formas de exclusão social.

Durante o processo de experiência curricular de estágio no CENET, pôde-se observar a importância do trabalho executado pela FCEE e pelo CENET diante dos desafios dos assistentes

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