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Ladeiras históricas da Vila de Monsaraz estão a ser arrasadas

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Academic year: 2021

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Ladeiras históricas da Vila de Monsaraz estão a ser arrasadas

As Ladeiras históricas de Monsaraz estão a ser objecto de obras que estão a arrancar todos os vestígios que ainda restavam das antigas calçadas medievais, recorrendo a maquinaria pesada do exército. A operação, promovida pela Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, e financiada com fundos públicos e comunitários, está a decorrer em três ladeiras, antigos acessos à vila histórica, anteriores à construção da actual estrada asfaltada, e como tal parte integrante de todo o conjunto monumental, classificado como monumento Nacional, e com uma Zona Especial de Protecção (DL 35443, DG 1 de 02-01-1946; 516/71 de 22 de Novembro e DG (II Série), n.º 187, de 14-08-1951; DG, n.º 274, de 22-11-1971, decreto n.º 516/71). Parte das obras estão incluídas na referida zona especial de protecção, especialmente

aquelas localizadas mais próximas das portas de acesso à Vila Fortificada, e que estão prestes a ser “arranjadas” da mesma forma.

A maquinaria pesada usada nos trabalhos de arrasamento dos antigos caminhos de acesso à vila de Monsaraz

O trabalho consta do arranque puro e simples da calçada existente, e da sua base de assentamento (cerca de 40 cm) sendo depois os materiais petreos britados e cilindrados e posteriormente passados com máquina niveladora, ou seja, a recuperação de caminhos históricos está a ser feita como se se tratasse de uma vulgar estrada. Os trabalhos decorrem a nível acelerado, estando já “tratados” cerca de dois quilómetros de calçadas. O trabalho está a ser feito sem qualquer acompanhamento arqueológico, sendo portanto incalculável o que se pode ter perdido de conhecimento cientifico sobre estes antigos acessos, alguns dos quais poderiam ter sido parte integrante das chamadas canadas reais, ou mesmo acessos mais antigos, remontando às ocupações pré-históricas do então castro fortificado.

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Diversas fases do trabalho: arrancamento da calçada antiga, britagem, posterior nivelamento e cilindramento; aspecto final do trabalho - da antiga calçada só ficou pó e terra batida.

Aspecto de uma das ladeiras antes e depois do trabalho. São visíveis os troços de calçada que desapareceram.

Para além do arranque da calçada, os antigos caminhos estão a ser alargados, sendo para isso limpa toda a vegetação, com desbaste de azinheiras e eliminação dos rochedos naturais que ladeavam os caminhos, onde durante séculos os caminhantes se sentavam para descansar das agruras da subida. De

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salientar ainda que as barreiras, estabilizadas pelo tempo e pela vegetação natural, estão a ser formadas em talude, como se de um vulgar caminho se tratasse.

Aspectos dos alargamentos e da nova configuração das barreiras

Aspectos dos “trabalhos” com desbastes de azinheiras.

Parte dos muros de pedra de xisto, que suportavam as centenárias ladeiras, construídos com uma técnica que os preservou durante os anos, estão pura e simplesmente a ser demolidos e as suas pedras a serem integradas nos enrocamentos das futuras “estradas”.

Curva da antiga ladeira de acesso à porta de Évora, imediatamente antes da “Rocha da Noiva”, onde segundo a tradição as noivas se sentavam a descansar antes de chegarem à igreja da Vila. Até este ponto todos os maciços rochosos desapareceram. Terá a “Rocha da Noiva” o mesmo destino?

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Os mesmos caminhos, antes e depois das obras. São visíveis os maciços de pedra que foram arrasados, os restos de calçada antiga então existente, e os centenários muros de suporte demolidos e integrados no material onde irá ser implantada a futura “estrada”.

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Outra ladeira onde os maciços rochosos que ladeavam a ladeira desapareceram. O caminho, que tinha uma dimensão de acordo com a sua antiga função, foi alterado sem nenhuma razão. O que era um antigo caminho, agradável, carregado de história e de historias, está agora transformado numa vulgar rua onde toda a antiga pavimentação desapareceu.

Em simultâneo, como se de um ataque concertado à imagem da encosta Norte de Monsaraz se tratasse, um privado arrasou parte de outra ladeira histórica, a “Ladeira dos Bandalhos”, para abrir um acesso automóvel a um terreno na encosta, onde a câmara aprovou um duvidoso projecto de Arquitectura, envolvido em polémica por suspeita de actos ilegais, que já levaram de resto o caso aos tribunais. O referido acesso está a ser executado em plena reserva ecológica, parte sobre a referida ladeira, e parte num local onde nunca antes houve qualquer caminho. A obra em causa, cuja polémica remete para o anterior executivo camarário e deu origem à demissão de um vereador do PSD, voltou recentemente a dar nova polémica com outro vereador da mesma formação politica que se disse “enganado” ao reparar que aprovou o projecto anteriormente reprovado, por alegadamente lhe terem sido subtraídas informações. A obra, supostamente uma recuperação de uma ruína, para além da construção do caminho atrás referido, está neste momento em fase de movimentações de terras anormalmente grandes para uma pequena recuperação, que passam por alterações profundas dos perfis do terreno para posterior construção de duas plataformas artificiais, uma para a construção em causa e outra para implantação de uma zona de circulação de veículos, que antes nunca tinham tido acesso àquele nível da encosta. Tudo isto, em plena reserva ecológica, onde nem o coberto vegetal pode ser mexido.

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Aspecto da ferida aberta na vegetação natural da encosta do castelo de Monsaraz que se avista ao fundo

Inicio da ladeira os bandalhos onde foi aberto o caminho de acesso ao terreno em plena encosta

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Aspectos dos trabalhos de alteração dos perfis dos terrenos por escavação e aterro.

A nova estrada de acesso ao local antes inacessível pela encosta.

Todas estas obras vão ter um impacto visual profundo e negativo na encosta de Monsaraz, contribuindo assim para a degradação da imagem e da paisagem do promontório onde se implanta a monumental vila Alentejana.

As ladeiras em causa, foram recentemente integradas numa rede de percursos denominados “Percursos do Imaginário”, por sua vez integrados numa “Rede Europeia de Turismo de Aldeia”, e foram limpos e sinalizados com financiamentos comunitários. Os trabalhos de limpeza e divulgação dos percursos foram financiados pelo programa “LEADER” e resulta de uma parceria alargada que integra a ADIM (Associação de Defesa dos Interesses de Monsaraz) um grupo de empresários de Monsaraz e Telheiro, e a própria autarquia Reguenguense. Todo este trabalho desapareceu assim debaixo da maquinaria que, diariamente e sem oposição de ninguém, continua a demolir e a triturar restos de história e de património, parte dele classificado. Os percursos eram regularmente utilizados por praticantes de pedestrianismo, que de todo o pais e mesmo do estrangeiro vinham participar em passeios, livres ou organizados, pelos locais sinalizados, conforme se documenta nas fotos que se anexam.

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Caminheiros calcorreando os percursos do Imaginário. È visível o aspecto das ladeiras antes e depois da intervenção. Onde antes haviam muros, calçada e vegetação natural, agora existe uma camada de pó e pedra partida - os restos das antigas calçadas históricas de acesso à vila.

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Impacto visual actual da intervenção nas ladeiras históricas, onde já são visíveis as feridas introduzidas na paisagem. As ladeiras, que não passavam de estreitos carreiros dissimulados na vegetação, são agora muito visíveis com as barreiras limpas de vegetação e a ausência de muros de suporte em xisto, que têm sido demolidos. A fase seguinte, que deverá ser a construção de uma nova estrada, mais larga e calçada de novo, com novos muros de suporte, provavelmente em betão, terá um impacto visual que não foi certamente medido nem previsto.

Mapa com a localização das intervenções. A Norte as três ladeiras onde a Câmara Municipal de Reguengos está a intervir e a Sul a ladeira dos bandalhos, onde decorre a intervenção particular que envolve grandes movimentações de terreno e a abertura de um caminho em plena reserva ecológica.

Referências

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