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A Epopeia de Gilgamesh e a Bíblia Sagrada

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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

 Atualmente, os

 Atualmente, os arqueólogos e historiadores vivem arqueólogos e historiadores vivem uma busca constante uma busca constante parapara remontar a bíblia separando o que é história do que são mitos e lendas.

remontar a bíblia separando o que é história do que são mitos e lendas.

Nesta perspectiva, este trabalho optou por buscar uma relação entre a

Nesta perspectiva, este trabalho optou por buscar uma relação entre a BíbliaBíblia Sagrada

Sagrada (1200 a.C) e a(1200 a.C) e a Epopeia de GilgameshEpopeia de Gilgamesh  (2.700 a.C), a fim de verificar a  (2.700 a.C), a fim de verificar a possibilidade de ambos possuírem semelhanças.

possibilidade de ambos possuírem semelhanças.

Em razão de o tema ser muito extenso, esta pesquisa se restringirá apenas Em razão de o tema ser muito extenso, esta pesquisa se restringirá apenas em algumas comparações acerca do Gênesis e, principalmente o texto que trata em algumas comparações acerca do Gênesis e, principalmente o texto que trata sobre a Arca de Noé.

sobre a Arca de Noé.

Por se tratar de uma comparação entre literaturas, o primeiro capítulo Por se tratar de uma comparação entre literaturas, o primeiro capítulo apresentará o conceito da expressão Literatura Comparada, à luz de Carvalhal apresentará o conceito da expressão Literatura Comparada, à luz de Carvalhal (2006), Pageaux (20011) e Peterle (2011).

(2006), Pageaux (20011) e Peterle (2011).

No segundo capítulo, fundamentado nas teorias de Chasles (1998), Vallery No segundo capítulo, fundamentado nas teorias de Chasles (1998), Vallery (1998), Eliot (1989) e Wellek (1994), serão tematizada as escolas literárias do (1998), Eliot (1989) e Wellek (1994), serão tematizada as escolas literárias do século XIX, no intuito de compreender a influência europeia diante de uma visão século XIX, no intuito de compreender a influência europeia diante de uma visão cosmopolita e a necessidade desta de ter contato com

cosmopolita e a necessidade desta de ter contato com outras literaturas.outras literaturas.

Em relação à intertextualidade presentes nos textos, o terceiro capítulo fará Em relação à intertextualidade presentes nos textos, o terceiro capítulo fará uma explanação sobre este termo e, consequentemente a relação dialógica uma explanação sobre este termo e, consequentemente a relação dialógica existente entre os textos. Para tal, este capítulo será embasado nas teorias de existente entre os textos. Para tal, este capítulo será embasado nas teorias de Bakhtin (2003), Barthes (1974), Gouvêa (1974), Kristeva

Bakhtin (2003), Barthes (1974), Gouvêa (1974), Kristeva (1974) e Carvalhal (2006).(1974) e Carvalhal (2006). Nesta perspectiva, as obras aqui a serem analisadas serão apresentadas no Nesta perspectiva, as obras aqui a serem analisadas serão apresentadas no terceiro capítulo, o qual, através de um breve relato sobre cada obra, visa levar o terceiro capítulo, o qual, através de um breve relato sobre cada obra, visa levar o leitor para uma compreensão das mesmas, a fim de apresentar suas possíveis leitor para uma compreensão das mesmas, a fim de apresentar suas possíveis semelhanças no capítulo que o sucede.

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1 Literatura Comparada

1 Literatura Comparada

Definir o que é Literatura Comparada, não é uma tarefa fácil, uma vez que Definir o que é Literatura Comparada, não é uma tarefa fácil, uma vez que não há uma unanimidade entre os estudiosos do comparativismo em relação a s não há uma unanimidade entre os estudiosos do comparativismo em relação a s uaua metodologia, objetivos e o objeto de estudo. A

metodologia, objetivos e o objeto de estudo. A dificuldade de definição é tambémdificuldade de definição é também pelo fato de que

pelo fato de que esta disciplina muda constantemente, tanto no tempo quanto noesta disciplina muda constantemente, tanto no tempo quanto no espaço, o que corrobora sua tendência de ajustar-se

espaço, o que corrobora sua tendência de ajustar-se aos métodos críticos literáriosaos métodos críticos literários em cena no século XX.

em cena no século XX.

Em relação à dificuldade de definição da

Em relação à dificuldade de definição da Literatura Comparada, TâniaLiteratura Comparada, Tânia Carvalhal explica que:

Carvalhal explica que:

[...] a dificuldade de chegarmos a um consenso sobre a natureza da [...] a dificuldade de chegarmos a um consenso sobre a natureza da literatura comparada, seus objetivos e métodos, cresce com leituras de literatura comparada, seus objetivos e métodos, cresce com leituras de manuais sobre o assunto, pois neles encontramos grande divergência de manuais sobre o assunto, pois neles encontramos grande divergência de noções de orientações metodológicas. Muitos fogem a essas questões. noções de orientações metodológicas. Muitos fogem a essas questões. Outros dão conta das tendências tradicionalmente exploradas sem Outros dão conta das tendências tradicionalmente exploradas sem problematizá-las. Alguns tendem a uma conceituação generalizadora. E há problematizá-las. Alguns tendem a uma conceituação generalizadora. E há ainda os que preferem restringir a determinados aspectos o alcance dos ainda os que preferem restringir a determinados aspectos o alcance dos estudos literários comparados. (CARVALHAL, 2006, p.6)

estudos literários comparados. (CARVALHAL, 2006, p.6)

 A

 A Literatura Literatura Comparada Comparada é é parte parte dos dos estudos estudos literários literários responsáveis responsáveis porpor estabelecer relações de interpretações entre expressões artísticas de diferentes estabelecer relações de interpretações entre expressões artísticas de diferentes nações, bem como a linguagem empregada na obra, e/ou a tradução dela para nações, bem como a linguagem empregada na obra, e/ou a tradução dela para outra área artística, podendo se manifestar por meio da música, teatro, do cinema, outra área artística, podendo se manifestar por meio da música, teatro, do cinema, da poesia, da prosa, influenciados pelo olhar de quem traduz ou de quem lê. Por da poesia, da prosa, influenciados pelo olhar de quem traduz ou de quem lê. Por isso, a Literatura Comparada pode ser abordada pensando-se ou não em tradução, isso, a Literatura Comparada pode ser abordada pensando-se ou não em tradução, embora a mesma possa ser considerada um elo entre as literaturas existentes no embora a mesma possa ser considerada um elo entre as literaturas existentes no mundo.

mundo.  A

 A expressão expressão Literatura Literatura Comparada Comparada também também pode pode ser ser entendida entendida sob sob outrasoutras formas.

formas. No olhar de Tânia Carvalhal, “designa uma forma de investigação literáriaNo olhar de Tânia Carvalhal, “designa uma forma de investigação literária que confronta duas ou mais literaturas” (CARVALHAL, 2006, p.6)

que confronta duas ou mais literaturas” (CARVALHAL, 2006, p.6), já para Pageaux,, já para Pageaux,

Literatura Comparada Literatura Comparada

é a arte metódica, por meio da busca de laços de analogia, de parentesco e é a arte metódica, por meio da busca de laços de analogia, de parentesco e de influência, de aproximar a literatura de outros domínios da expressão ou de influência, de aproximar a literatura de outros domínios da expressão ou do conhecimento, ou ainda, os fatos e textos literários, entre eles, distantes do conhecimento, ou ainda, os fatos e textos literários, entre eles, distantes ou próximos no tempo ou no espaço, a condição que pertençam a diversas ou próximos no tempo ou no espaço, a condição que pertençam a diversas línguas ou diversas culturas, ainda que façam parte da mesma tradição, línguas ou diversas culturas, ainda que façam parte da mesma tradição, com o objetivo de melhor conhecê-los, compreendê-los ou com o objetivo de melhor conhecê-los, compreendê-los ou degustá-los.(PAGEAUX

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Percebe-se que a Literatura Comparada, sendo arte de execução de um método de análise, permite encontrar algo comum em locais totalmente diversos, e construir significados a partir da observação de outras esferas de expressão humana. Dessa forma, os recortes culturais que se apresentam nos traços únicos ou universais das marcas humanas sobre as pessoas, sobre as edificações ou sobre a natureza, no sentido de ação, reação ou ausência de ação são também percebidos sob diferentes aspectos.

Embora seja atualmente assim compreendida, a Literatura Comparada não foi sempre vista dessa forma abrangente. Ela originou-se na França “par a impor uma cultura dominante” (PETERLE 2011), mas também, sob a interpretação de

Tânia Franco Carvalhal, possuía o objetivo de estabelecer apenas comparação entre manifestações semelhantes. Desta maneira ela expõe seu pensamento:

O surgimento da literatura comparada está vinculado à corrente de pensamento cosmopolita que caracterizou o século XIX, época em que comparar estruturas ou fenômenos análogos, com a finalidade de extrair leis gerais, foi dominante nas ciências naturais. Entretanto, o adjetivo "comparado", derivado do latim comparativus, já era empregado na Idade Média. (CARVALHAL, 2006, p. 9).

 Apesar de ter despontado há milhares de anos, a Literatura Comparada surge como disciplina e de uma maneira sistematizada no século XIX, num contexto europeu. Ela visa estabelecer a influência entre autores, servindo de instrumento para mostrar a força de um país sobre outro.

Do século XIX até meados do século XX, o vocábulo que melhor define a Literatura Comparada é influência, pois ela representa uma fe rramenta de afirmação de um país e de culturas nacionais.

1.1 As grandes escolas literárias

O século XIX, diante de uma visão cosmopolita, influenciou vários intelectuais europeus e os mesmos sentiram uma necessidade de ter contato com outras literaturas de outros países. A Literatura Comparada foi inserida nas universidades francesas, a partir desse contexto, por Abel Villemain, Jean-Jacques Ampère e Philarète Chasles.

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Neste contexto, Chasles (1998) define o que seria o comparativismo naquela época:

Deixe-nos avaliar a influência de pensamento sobre pensamento, a maneira pela qual povos transformam-se mutuamente, o que cada um deles deu e o que cada um deles recebeu; deixe-nos avaliar também o efeito deste perpétuo intercâmbio entre nacionalidades individuais. ( CHASLES apud  NITRINI, 1998, p. 20)

Paul Van Tieghem foi o precursor da “escola francesa”, cuja metodologia

baseia-se em três elementos: o emissor (ponto de partida da passagem de influência), o receptor (ponto de chegada) e o transmissor (intermediário entre o emissor e o receptor). Essa tendência mostrou-se muito contextualista uma vez que sua preocupação primordial não é a estrutura interna do texto, e sim o contexto que o envolve.

No início do século XX, o poeta francês Paul Valéry deu cara nova ao conceito de influência literária, renovando as definições do comparativismo. Para ele, a dependência entre autores se dá como fonte de originalidade e não como

imitação, sendo uma “intrusão do novo na criação”. Valer-se-á diretamente de sua

formulação sobre a influência para melhor compreendê-la: “ocorre que a obra de um

recebe no ser do outro um valor totalmente singular, engendrando consequências atuantes, impossíveis de serem previstas e, com frequência, impossíveis de serem desvendadas”.(VALLERYapud  NITRINI, 1998, p. 132).

Na Inglaterra, T. S. Eliot também refletiu sobre os conceitos de influência e originalidade, gerando seu ensaio Tradição e talento individual  e introduzindo conceitos que repercutiram nos estudos de Literatura Comparada. Segundo Eliot, tradição não é reprodução, e sim uma representação dialética que envolve um senso histórico que permeia pelo passado e presente:

Nenhum poeta, nenhum artista, tem sua significação completa sozinho. Seu significado e a apreciação que deles fazemos constituem a apreciação de sua relação com os poetas e os artistas mortos. Não se pode estimá-lo em si; é preciso situá-lo, para contraste e comparação, entre os mortos. Entendo isso como um princípio de estética, não apenas histórica, mas no sentido crítico. É necessário que ele seja harmônico, coeso, e não unilateral. (ELIOT, 1989, p. 39)

Caminhando contra a concepção de influência e a superioridade da literatura de países da Europa Ocidental que esse vocábulo denotava, Etimble critica a

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postura chauvinista e nacionalista da Literatura Comparada estabelecida pela

“escola francesa”. Etimble defende uma tendência anti-historicista e propõe que dois

métodos tradicionalmente incompatíveis - a investigação histórica e a reflexão crítica - sejam combinadas a fim de desenvolver uma poética comparada. Sua grande contribuição está na crítica que faz da hegemonia de países como França e

Inglaterra, garantindo igual importância às “pequenas literaturas”, como a asiática,

pois, para esse estudioso francês, qualquer literatura pode influenciar ou ser influenciada.

Uma das pronunciações mais importantes, feita contra a chamada “escola francesa”, foi a do tcheco radicado nos EUA, René Wellek, segundo o qual os

antigos mestres como Van Tighem falharam por não estabelecer um objeto de estudo, uma metodologia específica e por ficar preso a um factualismo, a um cientificismo e, a um relativismo histórico do século XIX.

Nesta perspectiva, Wellek também critica a tentativa de Van Tieghem de distinguir a Literatura Comparada da Literatura Geral, pois

a literatura “comparada” restringe-se ao estudo das inter-relações entre duas literaturas, enquanto a literatura “geral” se preocupa com os movimentos e estilos que abrangem várias literaturas. Esta distinção, sem dúvida, é insustentável e impraticável. (…) Por que deveríamos distinguir um estudo sobre a influência de Byron em Heine de um estudo do byronismo na Alemanha? A tentativa de restringir a “literatura comparada” a um estudo de “comércio exterior” entre literaturas é certamente infeliz. A literatura comparada seria, em seu objeto de estudo, um conjunto incoerente de fragmentos não relacionados: uma rede de relações constantemente interrompidas e separadas dos conjuntos significativos. O comparatista, neste sentido limitado, só poderia estudar fontes e influências, causas e efeitos, e seria impedido, até mesmo, de investigar uma única obra de arte em sua totalidade, uma vez que nenhuma obra pode ser inteiramente reduzida a influências externas ou considerada um ponto irradiador de influência sobre países estrangeiros apenas. (WELLEK apud CARVALHAL e COUTINHO, 1994,p. 109)

Pode-se perceber que Wellek censura o estudo de fonte e influência, propondo uma análise centrada no texto, sem deixar de lado a relação entre texto e contexto, segundo ele um complemento fundamental. Influenciado pelo Formalismo Russo, pela Fenomenologia e pelo New Cristicism.

Nota-se que ele não se apoia somente na postura imanentista dessas correntes, buscando um equilíbrio entre a análise crítica do texto, o que a ele está intrínseco e, o elemento histórico, o qual de maneira alguma pode prescindir aquele.

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Henry H. H. Remak também contribuiu muito para a Literatura Comparada,

definindo o que seria a “escola americana”. O conceito que propôs, frisando uma

variedade de abordagem e interdisciplinaridade, não ajudou a estabelecer uma metodologia. No entanto, ele soube definir o objeto de trabalho, ampliando a definição de Literatura Comparada feita pela tradição francesa e frontalmente opondo-se a ela.

Remak passou a considerar, além do estudo comparado entre obras literárias, o estudo das relações entre literatura e outras artes, como, por exemplo, a pintura, a filosofia e a história. O que também cria um confronto entre os americanos e os franceses é a abolição de métodos rigorosamente históricos no novo continente e a admissão de estudos comparativos entre autores de uma mesma literatura nacional.

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2 O DIÁLOGO ENTRE OS TEXTOS - INTERTEXTUALIDADE

Quando um texto já existente serve de subsídio para a construção de outro, ocorre a intertextualidade. A intertextualidade torna possível a criação de um novo

texto, de modo que ambos “conversem” entre si, contendo referências de um texto

dentro do outro.

Para uma melhor explanação sobre a palavra intertextualidade, pode-se separá-la, “inter” refere-se à noção de dentro e “textualidade” nos dá a noção de

conteúdo, sendo assim, intertextualidade tem o sentido de um texto dentro de outro. O conceito de intertextualidade foi construído pela crítica literária Julia Kristeva, na década de 1960, a partir dos estudos realizados quarenta anos antes, por Tynianov e Bakhtin acerca do dialogismo. Ela fala que o discurso literário dialoga com várias escrituras. Kristeva aponta que intertextualidade seja a relação dialógica estabelecida entre os textos, o que pode ser confirmado por Bakhtin (2003), pois para o autor

nosso discurso, isto é, todos os nossos enunciados (inclusive as obras criadas), é pleno de palavras dos outros, de um grau vário de alteridade ou de assimibilidade, de um grau vário de aperceptibilidade e de relevância. Essas palavras dos outros trazem consigo a sua expressão, o seu tom valorativo que assimilamos, relaboramos e reacentuamos. (BAKHTIN, 2003, p.295)

Em meio a essas definições, Barthes (1974) destaca que intertextualidade é a permutação de textos, onde vários enunciados cruzam-se, relativizam-se, destroem-se no espaço da significância, estando presente em todo e qualquer texto, pois todo texto é um intertexto:

O texto redistribui a língua. Umas das vias dessa reconstrução é a de permutar textos, fragmentos de textos, que existiram ou existem ao redor do texto considerado, e, por fim, dentro dele mesmo, todo texto é um intertexto, outros textos estão presentes nele, em níveis variáveis, sob formas mais ou menos reconhecíveis. (BARTHES apud  KOCH, 1974, p.59)

Neste contexto, Maria Aparecida Rocha Gouvêa (1974) diz que “todo texto se

constrói como um mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de

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Para a autora (1974) não existe texto original, puro. O texto sempre remete a outros textos, visto que.o escritor quando constrói o seu texto, busca em sua memória enunciados que já tenha ouvido ou lido antes.

Consoante à citação acima percebe-se que o que diferenciará um texto do

outro é o “acabamento”, pois cada autor escreverá com seu próprio estilo e com sua bagagem cultural, e assim construirá um texto dando uma nova “moldura” à algo

que já foi dito anteriormente.

Desta forma, Bakhtin (2003) entende que o sujeito pode criar suas próprias ideias através da fala de outro, com aquilo que lhe é compartilhado e aprendido sobre o ponto de vista alheio, podendo refletir e organizar suas ideias.

Logo, compreende-se por intertextualidade o trabalho constante de cada texto em relação aos outros, o enorme e contínuo diálogo entre as obras. Cada obra surge com uma nova voz (ou um novo conjunto de vozes), que fará soar diferentemente as vozes anteriores, arrancando-lhes novas entonações.

Em relação à Literatura Comparada, Kristeva (1974) afirma que havia no formalismo um caráter construtivista (como foi construído o texto?), os formalistas eram extremamente ortodoxos e tinham uma visão mecanicista do processo, porém não possamos esquecer que eles tinham uma base saussuriana e que seu problema maior foi não considerar e/ou analisar as relações extra- textuais.

Segundo Carvalhal (2006), a análise comparativa não deve ser uma simples identificação, mais uma análise profunda, chegando às interpretações do que levou o autor a reescrever essas novas histórias.

Essa é uma atitude de crítica textual que passa a ser incorporada pelo comparativista, fazendo com que as analise em profundidade, chegando às interpretações dos motivos que geraram essas relações. Dito de outro modo, o comparativista não se ocuparia a constatar que um texto resgata outro texto anterior, aproximando-se dele de alguma forma (passiva ou corrosivamente, prolongando-o ou destruindo), mas examinaria essas formas caracterizando os procedimentos efetuados. (CARVALHAL, 2006, p.52)

Para tal, a autora acrescenta que:

[...] vai ainda mais além, ao perguntar por que determinado texto (ou vários) são resgatados em dado momento por outra obra. Quais as razões que levaram o autor mais recente a reler textos anteriores? Se o autor decidiu reescrevê-los, copiá-los, enfim, relançá-los no seu tempo, que novo sentido lhe atribui com esse deslocamento? (CARVALHAL, 2006, p.52)

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De acordo com as acepções, percebe-se que com tantas indagações, os estudos literários não ficam somente direcionados às fontes e influências, permitindo a abertura de um campo mais amplo de interesses às análises.

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3 SOBRE AS OBRAS

3.1 Bíblia Sagrada

 A tradição religiosa sempre sustentou que cada livro bíblico foi escrito por um autor claramente identificável. Os cinco primeiros livros do Antigo Testamento (que no judaísmo se chamam Torá e no catolicismo Pentateuco) teriam sido escritos pelo profeta Moisés por volta de 1200 a.C. Os Salmos seriam obra do rei Davi, o autor de Juízes seria o profeta Samuel, e assim por diante. Hoje a maioria dos estudiosos, através de comparações literárias, acredita que os livros sagrados foram um trabalho coletivo, pois "A Bíblia era uma obra aberta, com influência de muitas culturas", afirma o especialista em história antiga Anderson Zalewsky Vargas, da UFRGS.

Em algum lugar do Oriente Médio, uma pessoa decidiu escrever um livro. Pegou uma pena, nanquim e folhas de papiro (uma planta importada do Egito) e começou a contar uma história mágica, diferente de tudo o que já havia sido escrito.

Era tão forte, mas tão forte, que virou uma obsessão. Durante os 1000 Anos seguintes, outras pessoas continuariam reescrevendo, rasurando e compilando aquele texto, que viria a se tornar o maior Best Seller  de todos os tempos - a Bíblia.

Durante séculos acreditou-se que Canaã fora dominada pelos hebreus. Mas descobertas recentes da arqueologia revelam que, na maior parte do tempo, Canaã não foi um Estado, mas uma terra sem fronteiras habitada por diversos povos - os hebreus eram apenas uma entre muitas tribos que andavam por ali. Por isso, sua cultura e seus escritos foram fortemente influenciadas por vizinhos como os cananeus, que viviam ali desde o ano 5.000 a.C. E eles não foram os únicos a influenciar as histórias do livro sagrado.

Foi entre os séculos 10 e 9 a.C. que os escritores hebreus começaram a colocar essa sopa multicultural no papel. Isso aconteceu após o reinado de Davi, que teria unificado as tribos hebraicas num pequeno e frágil reino por volta do ano 1000 a.C.

 A primeira versão das Escrituras foi redigida na época e corresponde a maior parte do que hoje são o Gênesis e o Êxodo.

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Ela apresentou uma teoria para o surgimento do homem, trouxe os fundamentos do judaísmo e do cristianismo, influenciou o surgimento do islã, mudou a história da arte - sem a Bíblia, não existiriam os afrescos de Michelangelo nem os quadros de Leonardo da Vinci - e nos legou noções básicas da vida moderna, como os direitos humanos e o livre-arbítrio.

Mas quem escreveu, afinal, o livro mais importante que a humanidade já viu? Quem eram e o que pensavam essas pessoas? Como criaram o enredo, e quem ditou a voz e o estilo de Deus? O que está na Bíblia deve ser levado ao pé da letra, o que até hoje provoca conflitos armados? A resposta tradicional você já conhece: segundo a tradição judaico-cristã, o autor da Bíblia é o próprio Todo Poderoso. E ponto final. Mas a verdade é um pouco mais complexa que isso.

 A Própria Igreja admite que a revelação divina só veio até nós por meio de mãos humanas. A palavra do Senhor é sagrada, mas foi escrita por reles mortais. Como não sobraram vestígios nem evidências concretas da maioria deles, a chave para encontrá-los está na própria Bíblia. Mas ela não é um simples livro: Imagine as escrituras como uma biblioteca inteira, que guarda textos montados pelo tempo, pela história e pela fé. Aliás, o termo "Bíblia", que usamos no singular, vem do plural grego ta biblia ta hagia - "os livros sagrados".

3.2 Epopeia de Gilgamesh

Uma das lendas mais fantásticas dos povos sumérios e que mostram a riqueza de sua literatura foi a Epopeia de Gilgamesh. Possivelmente a obra literária mais antiga já produzida pelos seres humanos, ela é composta por doze cantos com cerca de 300 versos cada um.

 A lenda conta a história de Gilgamesh, rei sumério e fundador da cidade de Uruk que governou a região por volta do ano 2.700 a.C. Esta epopeia é conhecida graças à descoberta de uma placa de argila escrita em caracteres cuneiformes em ruínas da região mesopotâmica, sendo traduzida por volta de 1890 d.C.

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 A trajetória de Gilgamesh o mostra como um grande conhecedor das coisas do mundo, inclusive de sua origem e de coisas existentes nas profundezas dos mares. Mas o rei Gilgamesh era despótico e dentre as várias obrigações que impunha a seu povo encontrava-se a construção de uma gigantesca muralha fortificada ao longo da cidade de Uruk.

O povo amedrontado com o trabalho imensamente fatigante clamou pela ajuda da deusa Ishtar, que os ouviu e enviou Enkidu. Este, que era protegido da deusa e vivia nas florestas de cedros, deveria desafiar e vencer Gilgamesh em um duelo, matando-o em seguida.

 Ao chegar ao palácio do rei, iniciou o combate. Entretanto, não houve vitoriosos, sendo que Gilgamesh e Enkidu se tornaram amigos. A amizade os levou a diversas aventuras, destruindo monstros e harmonizando o mundo.

Porém, Ishtar sentiu ciúmes da amizade e tentou seduzir Gilgamesh que, sabendo que aquele que amasse a deusa morreria, não aceitou ser seu amante. A deusa com muita ira pela recusa decidiu matar o amigo de Gilgamesh, Enkidu, infligindo a ele uma doença que o deixou agonizando por doze dias antes de morrer. Com a perda do amigo, Gilgamesh resolveu ir atrás de novas aventuras, o que o levou a encontrar Utnapishtim, um homem imortal que revelou um triste mistério dos deuses: em tempos remotos os deuses haviam decidido submergir a terra de Shuruppak, mas que ele, pela sua devoção, havia recebido ordens de construir uma arca no meio do deserto e abrigar seus familiares, amigos e os quadrúpedes e aves de sua escolha. Utnapishtim assim o fez e, depois de seis dias e seis noites, salvou as pessoas e os animais, conseguindo em troca a imortalidade. Esse trecho da Epopeia de Gilgamesh é um dos mais conhecidos e influenciou várias lendas na Antiguidade oriental, inclusive a lenda bíblica do dilúvio hebreu, famosa pela arca de Noé. Sendo a produção da Epopeia de Gilgamesh anterior à história bíblica, pode-se perceber a influência que a cultura suméria exerceu sobre os povos da Mesopotâmia e do Oriente Médio.

Gilgamesh ainda tentou conseguir a imortalidade, chegando inclusive a descer ao fundo do mar em busca de uma planta que seria capaz de evitar sua morte. Mas o rei perdeu a planta no caminho e, com medo da morte, já em sua

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cidade Uruk, evocou seu amigo Enkidu, que lhe contou sobre a vida no mundo das trevas.

Considerada a mais antiga obra literária da humanidade, a Epopeia de

Gilgamesh na sua forma “tardia” (século VII a.C) como é difundida no Ocidente

(TIGAY citado por ZILBERMAN (1998, p. 58), não foge à regra das obras de origens mesopotâmicas: um compilado de lendas e poemas, cuja origem e veracidade perdem-se na difusão oral, adaptação cultural e textos f ragmentados.

 Atualmente a Epopeia de Gilgamesh não se encontra totalmente traduzida devido ao fato de que as tabuletas que a compõem foram encontradas fragmentadas. Sendo assim, nas dezenas de traduções feitas, os tradutores procuraram juntar citações e passagens de outras versões em outros idiomas para compensar a falha que havia.

 As narrativas contidas na epopeia deviam ser muito populares em sua época, pois são encontradas em várias versões escritas por vários povos e línguas diferentes, sendo que as primeiras versões da mesma, datam do Período Babilônico  Antigo (2000-1600 a.C), podendo ter surgido muito antes, pois o herói desta epopeia é o lendário rei sumério Gilgamesh, quinto rei da primeira dinastia pós-diluviana de Uruk, que teria vivido no período protodinástico II (2750-2600 a.C.).

Devido à sua antiguidade e originalidade, muito se especula sobre a influência desta sobre textos mais difundidos e conhecidos pela humanidade, como os poemas épicos gregos Ilíada e Odisseia de Homero, escritos entre VIII e VII a.C. Todavia, a polêmica é maior quando se comparados às narrativas do Pentateuco, a parte mais antiga do Velho Testamento, datadas do Primeiro Milênio a.C..

No caso desta última, o que legitima-nos a observar as influências, além de semelhanças impressionantes, o próprio contexto histórico e geográfico. Contexto este em que a origem dos hebreus e das grandes civilizações semitas são mescladas com a própria história do povo sumério.

Históricos períodos de cativeiro, onde a aculturação era, além de inevitável pelas circunstâncias de sobrevivência, uma forma de dominação ideológica:

O povo dominado era absorvido pelos nativos ao serem levados, havia a destruição total da nacionalidade, do culto, das instituições, nada ficando

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agir em favor de uma reconstrução. Todo o elemento que representasse qualquer valor moral ou intelectual era desterrado e em seu lugar era posto outro povo trazido de outras regiões.(LOPES, 200-, p. 2).

Pode se considerar suas lendas como o primeiro repositório das recordações históricas dos povos do oriente antigo, onde cada cultura apropriou-se de um mito

conforme a sua ótica “se transformaram, se esquematizaram, se reagruparam,

mudaram eventualmente de país, se ampliaram, às vezes, desmedidamente”

(GRELOT, 1980, p. 13).

Neste contexto, os israelitas inovaram ao excluir todo um panteão, centralizando sua fé num deus único, propondo uma desmitização do universo transformando as forças cósmicas ao que de fato são. A situação do homem diante de Deus modifica-se totalmente, “embora, na prática, a adaptação da mentalidade

corrente dos israelitas a essa mudança radical se tenha processado lentamente e

com dificuldade” (GRELOT, 1980, p. 15), mantendo grande parte do antigo modo de

expressar religioso herdado dos sumérios e acádios.

Desta forma, percebe-se que Israel começa a escrever sua própria história, ora compilando fatos de seu próprio povo em grandiosas lendas, ora adaptando mitos antigos à sua realidade e aos seus propósitos. As histórias contidas na parte hebraica da bíblia, embora difíceis de serem datadas pelos anacronismos que ali

apresentam, foram compiladas e ordenadas “principalmente, no tempo do rei Josias

(640-609 a.C.), para oferecer uma legitimação ideológica para ambições políticas e r eformas religiosas específicas”.(FINKELSTEIN; SILBERMAN, 2001, p. 14).

Nesta perspectiva, a epopeia em questão se tornou famosa no mundo pela sua antiguidade e pela semelhança com a lenda do dilúvio bíblico hebreu.

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4 SEMELHANÇAS ENTRE AS OBRAS

 Através dos vários textos contidos na Bíblia, incompletos devido ao estado de conservação, pode se extrair muito da filosofia e da mitologia mesopotâmicas, onde podemos observar que

o Oriente antigo, antes da Bíblia, e mesmo abstraindo-se dela, não desconhecia a reflexão sobre o homem. (…) As questões fundamentais da existência, da felicidade e da infelicidade, da relação com as potências cósmicas e com o domínio misterioso dos deuses, do sentido da vida e das incertezas do destino, já tinham neles um lugar de grande importância (GRELOT, 1980, p. 13).

Nesta perspectiva, nota-se um universo de descobertas, onde os sumérios e os acadianos revelam-se fornecedores de costumes, rituais e modelos literários a todos os povos do Oriente Médio.

 As semelhanças narrativas encontradas entre A Epopeia de Gilgamesh e o Livro do Gênesis iniciam-se logo nos primeiros versículos da bíblia, ou seja, na criação do homem.

O povo de Uruk, descontente com a arrogância e luxúria do rei Gilgamesh, exige dos seus deuses a criação de um homem que fosse o reflexo do rei, e tão poderoso quanto ele para que pudesse enfrentá-lo e redimi-lo. O deus Anu, ouvindo o lamento da população, ordenou a Aruru, deusa da criação, que fizesse Enkidu: Epopeia

 A deusa então concebeu em sua mente uma imagem cuja essência era a mesma de Anu, o deus do firmamento (rei de Nibiru). Ela mergulhou as mãos na água e tomou um pedaço de barro; ela o deixou cair na selva, e assim foi criado o nobre Enkidu (SANDARS, 1992, p. 94).

Bíblia

Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (GENESIS, cap. 1, ver. 26) [...] Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente (GENESIS, cap. 2, ver. 7).

Enkidu foi criado inocente, longe da malícia da civilização, vivendo entre as criaturas selvagens e compartilhando a natureza com elas:

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Epopeia

Ele era inocente a respeito do homem e nada conhecia do cultivo da terra. Enkidu comia grama nas colinas junto com as gazelas e rondava os poços de água com os animais da floresta; junto com os rebanhos de animais de caça, ele se alegrava com a água (SANDARS, 1992, p. 94).

Bíblia

Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento. E a todos os animais da terra e a todas as aves dos céus e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento”. (GENESIS, cap. 1, ver. 29-30).

O rei Gilgamesh, sabendo da existência de Enkidu, incumbe uma missão a uma das prostitutas sagradas do templo da deusa Ishtar (deusa do amor e da fertilidade): seduzir Enkidu e trazê-lo para dentro das muralhas de Uruk. Enkidu deixou-se seduzir pela rameira e perdeu sua inocência, além de seu poder selvagem, tornando-se conhecedor da malícia do homem. Arrependido, lamenta-se, mas a rameira consola-o enfatizando as vantagens desta nova vida que está por vir: Epopeia

Enkidu perdera sua força pois agora tinha o conhecimento dentro de si, e os pensamentos do homem ocupavam seu coração. [...] Olho para ti e vejo que agora és como um deus. Por que anseias por voltar a correr pelos campos como as feras do mato? (SANDARS, 1992, p. 96.99).

Bíblia

Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal (GENESIS, cap. 3, ver. 3-4-5)

Nesta comparação com a tentação no Éden, não é possível a identificação diretamente os fatos, mas sim, das ideias. A prostituta sagrada, condenada também em outros livros da bíblia, pode ser compilada como o fruto proibido, a serpente e a própria Eva, com o poder de seduzir o homem e tirar sua inocência com falsas promessas.

Enkidu, já na cidade de Uruk, enfrenta o rei Gilgamesh em combate. Vencendo-o, é reconhecido pelo rei como irmão, pois este jamais havia enfrentado alguém com tamanha força. Formando-se então uma grande amizade que

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protagoniza grandes aventuras e tragédias ao longo da epopeia. Gilgamesh e Enkidu partiram então para a floresta de cedros (provavelmente, o atual Líbano), onde enfrentaram o monstro Humbaba, a sentinela da f loresta.

Este se irrita com Enkidu, por profanar a floresta sagrada dos cedros inferiorizando-o e humilhando-o com palavras semelhantes às palavras de Deus, ao condenar o homem por comer do fruto proibido. Novamente não se vê relação direta entre os fatos, mas uma linha comum de pensamento é verificada entre os textos onde, a profanação e a desobediência são punidas com a servidão, visto que, na epopeia observa-se o seguinte trecho: “… tu, um mercenário,  que depende do

trabalho para obter teu pão!” (SANDARS, 1992, p. 119), enquanto a bíblia diz que “[...] … maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante

os dias da tua vida [...] No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à

terra, pois dela foste formado”.(GENESIS, cap. 3, ver. 19-16).

Os heróis, com a ajuda de Shamash (deus sol, protetor de Gilgamesh), matam o monstro Humbaba cortando-lhe a cabeça. Fato que irritou o poderoso Enlil (deus da terra, do vento e do ar universal), que exigiu a vida de um dos heróis pelo insulto.

 Além dessas semelhanças entre as narrativas, pode-se destacar outras que, que mostram semelhanças entre Utnapshitim e Noé, além dos acontecimentos do dilúvio:

Utnapshitim para os babilônios, ou Ziusudra para os sumérios, fora o homem escolhido pelos deuses para salvar a humanidade da fúria do dilúvio,

Epopeia

Naqueles dias a terra fervilhava, os homens multiplicavam-se e o mundo bramia como um touro selvagem. Este tumulto despertou o grande deus. Enlil ouviu o alvoroço e disse aos deuses reunidos em conselho: 'O alvoroço dos humanos é intolerável, e o sono já não é mais possível por causa da balbúrdia.' Os deuses então concordaram em exterminar a raça humana. (OLIVEIRA, 2001, p. 100).

Bíblia

Deus vendo que era grande a malícia dos homens sobre a terra e que todos os pensamentos do seu coração estavam continuamente aplicados

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íntima dor de coração, disse: "Exterminarei da face da terra o homem que criei, desde o homem até aos animais, desde os répteis até às aves do céu. (Gênesis 6: 5-6).

Epopeia

Oh, homem de Shurrupak, filho de Ubara-Tutu, põe abaixo tua casa e constrói um barco. Abandona tuas posses e busca tua vida preservar; despreza os bens materiais e busca tua alma salvar. Põe abaixo tua casa, eu te digo, e constrói um barco. [...] Eis as medidas da embarcação que deveras construir: que a boca extrema da nave tenha o mesmo tamanho que seu comprimento, que seu convés seja coberto, tal como a abóbada celeste cobre o abismo; leva então para o barco a semente de todas as criaturas vivas. (OLIVEIRA, 2001, p. 100-101).

Bíblia

disse a Noé: O fim de toda a carne chegou diante de mim; a terra, por suas obras, está cheia de iniquidade e eu os exterminarei com a terra. "Faze uma arca de madeiras aplainadas; farás na arca uns pequenos quartos, e calafetá-la-ás com betume por dentro e por fora. "E hás de fazê-la do seguinte modo: o comprimento da arca será de trezentos côvados, a largura de cinquenta côvados, e a altura de trinta côvados". (Gênesis 6: 5-6).

Epopeia

Foi com muita dificuldade então que a embarcação foi lançada à água; o lastro do barco foi deslocado para cima e para baixo até a submersão de dois terços de seu corpo. Eu carreguei o interior da nave com tudo o que eu tinha de ouro e de coisas vivas: minha família, meus parentes, os animais do campo —  os domesticados e os selvagens —  e todos os artesãos. (OLIVEIRA, 2001, p. 102).

Bíblia

Mas contigo estabelecerei a minha aliança; e entrarás na arca tu e teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos contigo. "E, de cada espécie de todos os animais, farás entrar na arca dois, macho e fêmea, para que vivam contigo. (Gênesis 6: 6-8).

Epopeia

Por seis dias e seis noites os ventos sopraram; enxurradas, inundações e torrentes assolaram o mundo; a tempestade e o dilúvio explodiam em fúria como dois exércitos em guerra. Na alvorada do sétimo dia o temporal vindo do sul amainou; os mares se acalmaram, o dilúvio serenou. Eu olhei a face do mundo e o silêncio imperava; toda a humanidade havia virado argila. A superfície do mar se estendia plana como um telhado. Eu abri uma  janelinha e a luz bateu em meu rosto. Eu então me curvei, sentei e chorei.  As lágrimas rolavam pois estávamos cercados por uma imensidade de

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água. Procurei em vão por um pedaço de terra. (OLIVEIRA, 2001, p. 103).

Bíblia

E, passado sete dias, caíram sobre a terra as águas do dilúvio. No ano seiscentos de vida de Noé, no segundo mês, aos dezessete do mês romperam-se todas as fontes do grande abismo, e abriram-se as cataratas do céu. [...] E caiu chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites. [...] E veio o dilúvio sobre a terra durante quarenta dias; e as águas cresceram, e elevaram a arca muito alto por cima da terra. Inundaram tudo com violência, e cobriram tudo na superfície da terra. [...] Toda a carne que se movia sobre a terra foi consumida; as aves, os animais, as feras, e todos os répteis que andam de rastos sobre a terra, e todos os homens". (Gênesis 7: 6-8).

Epopeia

 A quatorze léguas de distância, porém, surgiu uma montanha, e ali o barco encalhou. Na montanha de Nisir o barco ficou preso; ficou preso e não mais se moveu. [...] Na alvorada do sétimo dia eu soltei uma pomba e deixei que se fosse. Ela voou para longe, mas, não encontrando um lugar para pousar, retornou. Então soltei uma andorinha, que voou para longe; mas, não encontrando um lugar para pousar, retornou. Então soltei um corvo. A ave viu que as águas haviam abaixado; ela comeu, voou de um lado para o outro, grasnou e não mais voltou para o barco". (OLIVEIRA, 2001, p. 103).

Bíblia

E tendo-se passado quarenta dias, abriu Noé a janela, que tinha feito na arca e soltou um corvo, o qual saiu e não tornou mais, até que as águas secaram sobre a terra. "Mandou também uma pomba depois dele, para ver se as águas teriam já cessado de cobrir a face da terra. "E ela não encontrando onde pousar seu pé, tornou a vir a ele para a arca. [...] Depois de ter esperado outros sete dias, novamente deitou a pomba fora da arca. E ela voltou a ele pela tarde, trazendo no bico um ramo de oliveira, com as folhas verdes. Entendo pois Noé que as águas tinham cessado sobre a terra. (Gênesis 8: 8-9).

Epopeia

Eu então abri todas as portas e janelas, expondo a nave aos quatro ventos. Preparei um sacrifício e derramei vinho sobre o topo da montanha em oferenda aos deuses. Coloquei quatorze caldeirões sobre seus suportes e  juntei madeira, bambu, cedro e murta. Quando os deuses sentiram o doce cheiro que dali emanava, eles se juntaram como moscas sobre o sacrifício. (Oliveira, 2001, p. 104).

Bíblia

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com ele. Todo o animal, todo o réptil, e toda a ave, e tudo o que se move sobre a terra, conforme as suas famílias, saiu para fora da arca. E edificou Noé um altar ao Senhor; e tomou de todo o animal limpo e de toda a ave limpa, e ofereceu holocausto sobre o altar. (Gênesis 8: 18-20).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em meio a estudos comparatistas, verificou-se que as histórias da Bíblia derivam de lendas surgidas na chamada Terra de Canaã, que hoje corresponde a Líbano, Palestina, Israel e pedaços da Jordânia, do Egito e da Síria.

Para os especialistas, a violência do Antigo Testamento é fruto dos séculos de guerra com os assírios e os babilônios. Os autores do livro sagrado foram influenciados por essa atmosfera de ódio, e daí surgiu as histórias em que Deus se mostra bastante violento e até cruel. Os redatores da Bíblia estavam extravasando sua angústia.

 As raízes da árvore bíblica remontam aos sumérios, antigos habitantes do atual Iraque, que no 3º milênio a.C. escreveram a Epopéia de Gilgamesh.

Notou-se, nesta pesquisa, várias semelhanças entre a Epopeia de Gilgamesh e a Bíblia Sagrada, principalmente em relação aos textos que tratam sobre o dilúvio,

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REFERÊNCIAS

 Anônimo. A Epopeia de Gilgamseh. Tradução de: Carlos Daudt de Oliveira. São Paulo, Martins Fontes, 2a edição, 2001.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução Paulo Bezerra. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. (coleção biblioteca universal)

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ELIOT, T.S. E n s a i o s  . São Paulo: Art Editora, 1989

GOUVÊA, Maria Aparecida Rocha. O princípio da intertextualidade como fator de textualidade. Caderno Uni9FOA – Ano II – nª 4, agosto, 2007.p.57-63

KOCH, Ingedore G. V. O texto e a construção dos sentidos. 7. ed. São Paulo. Contexto, 2003.

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CONTENEAU, Georges. A civilização de Assur e Babilônia. Rio de Janeiro, Ferni, 1979.

Vários autores. Bíblia Sagrada. São Paulo, Edições Paulinas, 1975.

WERNER, Keller. E a Bíblia tinha razão. São Paulo, Circulo do Livro S. A, 1978. (Capítulo 4: Narrativa de inundação na antiga Babilônia).

NITRINI, Sandra. Literatura Comparada: História, Teoria e Crítica. São Paulo: EDUSP, 1998

PAGEAUX,Daniel-Henri. Elementos para uma Teoria Literária: imagologia, imaginário, polissistemas.  In: MARINHO, Marcelo; SILVA, Denise Almeida; UMBACH, Rosani Ketzer (Orgs.). Musas na encruzilhada: ensaios de Literatura Comparada. São Paulo: Hucitec, 2011.

PETERLE, Patrícia. Questões de Literatura Comparada e Tradução. 2011. 10f. Notas de aula

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ANEXO

FRAGMENTOS DA EPOPEIA DE GILGAMESH

Referências

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