EIXO TEMÁTICO: Ciências Sociais
O IMPACTO DA CRIMINALIDADE NA TRANSFORMAÇÃO DO
ESPAÇO: O CASO DO PARQUE DA JUVENTUDE DE SÃO
PAULO.
José Lucas da Costa Lopes1
Gustavo Luis da Silva2
Raissa Gonçalves Freua3
Juliana C. de Arruda Caulkins4
RESUMO: O trabalho analisou a influência da criminalidade no funcionamento e estrutura do
Parque da Juventude localizado na cidade de São Paulo, e como se deu a instalação desse parque urbano, que culminou na transformação do espaço de forma generalizada, a partir de registros fotográficos, entrevistas, realização de questionários e levantamento bibliográfico relacionado ao tema. O objetivo específico foi analisar a influência da criminalidade urbana no funcionamento e estrutura do parque atualmente e como se deu a instalação do mesmo. Os resultados demonstraram que a criminalidade na região é percebida de diferentes formas entre os diferentes públicos-alvo abordados nos questionários: corpo docente da ETEC Parque da Juventude, alunos da mesma instituição e público frequent ador geral do Parque da Juventude. Percebe-se que as bases de dados da Polícia Militar, que contabilizam crimes em todo o estado de São Paulo, não registram a ocorrência de delitos na região e interior do Parque da Juventude, apesar serem uma realidade. Quanto à transformação do espaço com a construção do Parque da Juventude, pode-se dizer que essa foi extremamente positiva e benéfica para a vizinhança, já que valorizou os empreendimentos imobiliários no entorno e propiciou maior qualidade de vida aos habitantes do bairro, além do acesso a práticas esportivas. Ressalta-se que a parte do bairro mais próxima da Avenida General Ataliba Leonel apresentou melhor desenvolvimento urbanístico e imobiliário, quando comparado à parte do bairro mais próxima da região do Canindé e Marginal Tietê.
Palavras-chave: Criminalidade. Parque da Juventude. Transformação do espaço.
1. INTRODUÇÃO
Os parques urbanos, segundo a Secretaria do Meio Ambiente do Governo do Estado de São Paulo, são grandes espaços verdes localizados em áreas urbanizadas de uso público, com o intuito de propiciar recreação e lazer aos seus visitantes. Em sua maioria, oferecem também serviços culturais, como museus, casas de espetáculo e centros culturais e educativos. Também estão frequentemente ligados a atividades esportivas, com a presença de quadras, campos e ciclovias.
A grande vantagem dos parques urbanos é propor aos moradores de metrópoles a opção de visitar áreas naturais, com a presença da fauna e flora, sem a necessidade de percorrer grandes distâncias. É neles que grande parte da população urbana desenvolve sua relação com a natureza, o que faz deles uma importante ferramenta para conscientização ambiental.
1 Graduando em Administração, ESALQ/USP. <jose.lucas.lopes@usp.br>.
2 Graduando em Geografia, UNESP - Presidente Prudente.
3 Técnica em Meio Ambiente, ETEC Parque da Juventude.
Proporciona, também, benefícios para a sociedade como a melhora no status de saúde, desenvolvimento humano, qualidade de vida, redução do comportamento antissocial, construção de comunidades saudáveis, redução em custos de cuidados de saúde, serviços sociais e de segurança pública, geração de recursos econômicos na comunidade e sobrevivência ec ológica (Benefits of Parks and Recreation Catalogue,1997).
O ambiente urbano muitas vezes é formado sem planejamento adequado, espaços que preservem a natureza e sirvam como local de lazer e recreação são de interesse de várias esferas da sociedade. A gestão adequada de parques urbanos e auxílio dos princípios da sustentabilidade e manejo vegetal vem de encontro aos interesses das políticas públicas. O passo inicial para alcançar tais objetivos, no caso da gestão dos parques presentes em meios urbanos, é o conhecimento das problemáticas urbanas e como essas se inter-relacionam com a comunidade em seu entorno.
No caso do Parque da Juventude, localizado no distrito de Santana, na zona norte da capital paulista, percebe-se uma ampla responsabilidade de tal área: preservar a história do antigo Complexo Penitenciário do Carandiru – desativado e parcialmente demolido em 2002 – para a construção do Parque da Juventude, sendo assim, um espaço de lazer e recreação para população do seu entorno, ainda abrigar duas escolas técnicas e uma biblioteca para o desenvolvimento educacional da cidade e preservar a vegetação da região. A instalação do Parque da Juventude após a desativação do Complexo Penitenciário do Carandiru foi significativa como uma transformação no espaço. Porém, mesmo com tal transformação positiva e benéfica para a população, há problemáticas urbanas neste parque, como a criminalidade.
Este trabalho teve como objetivo analisar a influência da criminalidade urbana no funcionamento e estrutura do Parque da Juventude hoje e como ocorreu sua instalação, além de analisar a mudança na paisagem local por meio de levantamento de dados sobre a criminalidade e a comparação visual do Complexo Penitenciário Carandiru com o atual Parque da Juventude. Um parque urbano surge com o objetivo de preservar a natureza e sua biodiversidade e, ao mesmo tempo ser mais um aparato urbano com o dever de servir a população, gerando qualidade de vida e interação social. Olhar e pensar para a instalação de um parque, como o da Juventude, é pensar também na população, o quão impactante é a transformação no espaço. O levantamento sobre a criminalidade inter-relacionada ao Parque da Juventude é um dos temas abordados nesse trabalho a fim de pontuar os principais delitos ocorridos nesse parque urbano.
2. METODOLOGIA
Elaboração de registros fotográficos atuais comparando a atual área do Parque da Juventude, na época em que ainda existia o Complexo Penitenciário do Carandiru, levantamento bibliográfico de artigos, publicações e fotos relacionadas e levantamento sobre a criminalidade no
Parque da Juventude a partir do desenvolvimento das seguintes etapas: aplicação de questionário dirigido sobre criminalidade com o público frequentador do Parque da Juventude, sendo: 30 questionários dirigidos aos alunos da ETEC Parque da Juventude, 20 para os frequentadores gerais do parque e 10 com os membros do corpo docente da ETEC Parque da Juventude, realização de entrevista com o Delegado (ou algum representante) do 9º DP (Distrito Policial) responsável pelo policiamento no Parque da Juventude e seu entorno e por fim, realização de entrevista com a museóloga Cecília Machado, atuante na coleta de dados e informações sobre a Penitenciária Carandiru.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Realizou-se a aplicação de sessenta questionários sobre a criminalidade no Parque da Juventude. A partir dos resultados obtidos pela aplicação dos questionários, constata-se que o Parque da Juventude é sim um local de ocorrência de crimes. Mesmo com as constantes práticas criminais relatadas pelas pessoas ouvidas nos questionários, percebe-se que nem todas deixaram de frequentar o Parque da Juventude devido aos índices de violência, já que necessitam trabalhar ou transitar por essa área. Já as pessoas que responderam que deixaram de frequentar ou passaram a frequentar menos o parque, sentiram-se intimidadas pelos boatos de criminalidade e notícias de ocorrências de delitos na região.
Nas respostas dos sessenta questionários, não foi encontrado nenhum relato de crimes hediondos como assassinato, estupro ou latrocínio. Os crimes de maior ocorrência no Parque da Juventude, segundo o relato oral das pessoas ouvidas nos questionários, são: roubo (dezenove respostas afirmativas), seguido de furto (dezoito respostas afirmativas) e tráfico de drogas (onze respostas afirmativas).
Na entrevista realizada no 9º Distrito Policial, foi relatado que não há suficiência nos dados documentados no sistema usado pela Polícia Militar para a contabilização de dados criminais, pois a população que sofre ou presencia algum delito no interior do Parque da Juventude é negligente, uma vez que não registram o crime por meio de um Boletim de Ocorrência em uma delegacia ou via Internet, e nem colaboram com o reconhecimento de criminosos quando detidos como suspeitos, tais atitudes dificultam a resolução e abertura dos inquéritos policiais para investigação de práticas criminais no Parque da Juventude.
O Parque da Juventude tem a frequência de usuários parcialmente afetada devido a ocorrência de crimes. De um lado, muitos ainda frequentam o espaço urbano por necessidade, já que o local representa seu ambiente de trabalho ou de deslocamento diário. Em contrapartida, alguns deixaram de frequentar o Parque da Juventude após sentirem -se intimidados com a ocorrência constante de crimes.
Em relação a transformação do espaço pode-se dizer, de forma geral, que foi extremamente positiva. Foram realizadas comparações entre as fotos obtidas no Acervo Carandiru do curso de museologia da ETEC Parque da Juventude e imagens de satélite do
aplicativo Google Earth, em registros da época do funcionamento da Penitenciária do Carandiru e registros atuais do Parque da Juventude.
Gráfico 1. Resultado geral do questionário aplicado sobre tipos de crimes presenciados no
Parque da Juventude
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente trabalho foi abordado assuntos de suma importância para reflexões sobre a transformação do espaço da região do Parque da Juventude e a influência da criminalidade. Tendo como principais pontos abordados a gestão de parques urbanos; a influência de áreas verdes na qualidade de vida de uma população; como se deu a instalação do Parque da Juventude e a criminalidade violenta urbana tanto no Parque da Juventude, como nos bairros urbanos como um todo.
Os objetivos propostos foram todos concluídos com êxito, uma vez que todos os pontos foram abordados, depoimentos foram coletados, questionários aplicados, comparações fotográficas sobre a transformação do espaço da região do Carandiru foram feitas e uma análise crítica por meio de diferentes óticas foi realizada.
Esse trabalho foi de suma importância para o aprofundamento do conhecimento sobre o tema abordado, visto que a criminalidade em parques urbanos e a influência são temas pouco abordados tanto pela mídia, quanto pelos próprios trabalhos acadêmicos.
REFERÊNCIAS
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DEBETIR, E. Gestão de unidades de conservação sob influência de áreas urbanas: diagnóstico e estratégias de gestão na Ilha de Santa Catarina – Brasil. Florianópolis, SC, 2006. 247 p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Universidade Federal de Santa Catarina. Acesso em: 12/03/2014 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Parque Urbano. Disponível em:
<http://www.ambiente.sp.gov.br/ambiente/parques-e-unidades-de-conservacao/parque-urbano/>. Acesso em: 06/09/2014
LOPES, R. Juventude Pobre, Violência e Cidadania. Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.3, p.63-76, 2008. Acesso em: 21/08/2014
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