Papa Francisco
O Evangelho de Maria
Coordenação Elena Inversetti
Entreguemo-nos à Mãe da Misericórdia, para que nos dirija o seu olhar e vele por nós no nosso caminho.
Basílica de São Pedro, 13 de Março de 2015 Papa Francisco
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O Ano da Misericórdia . . . . 11
1 – A Mãe da Misericórdia . . . . 13
2 – Maria desfaz os nós . . . . 19
3 – Bendita entre as mulheres . . . . 25
4 – A mais humilde e elevada criatura . . . . 31
5 – Junto dos seus filhos nas periferias . . . . 37
6 – A mulher da paciência . . . . 43
7 – A Mãe de Jesus . . . . 49
8 – A Mãe da Igreja . . . . 53
9 – Maria protectora da família . . . . 59
10 – Santa Maria do caminho . . . . 65
11 – A dádiva da vida . . . . 71
12 – Maria na Igreja . . . . 77
13 – A mulher da esperança . . . . 83
14 – O rosto da ternura . . . . 91
15 – Consoladora dos aflitos . . . . 96
16 – A cheia de Graça . . . . 101
17 – A Rainha da Paz . . . . 109
18 – Maria peregrina da fé . . . . 115
19 – Uma mulher moderna . . . . 123
20 – Um modelo a seguir . . . . 129
21 – José, o marido . . . . 137
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22 – José, o pai . . . . 143
23 – Maria, mulher da escuta . . . . 147
24 – Maria junto à Cruz . . . . 153
25 – Os jovens e Maria . . . . 159
26 – Maria, ícone da alegria . . . . 167
27 – Maria, ícone da beleza . . . . 173
28 – Maria, mãe da evangelização . . . . 179
29 – Nossa Senhora da prontidão . . . . 185
Apêndice – As orações de Francisco a Maria . . . . 189
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O Ano da Misericórdia
Caros irmãos e irmãs, pensei muitas vezes em como a Igreja pode‑ ria tornar mais evidente a sua missão de testemunha da misericórdia . É um caminho que começa com uma conversão espiritual; e temos de fazer este caminho . Por isso, decidi realizar um Jubileu extraordinário centrado na misericórdia de Deus . Será um Ano Santo da Misericórdia . Queremos vivê ‑lo à luz da palavra do Senhor: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (Lucas 6,36) . Especialmente para com os crentes! Muita misericórdia!
Este Ano Santo começará na próxima solenidade da Imaculada Conceição e terminará no dia 20 de Novembro de 2016, domingo de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, e rosto vivo da misericór‑ dia do Pai . Entrego a organização deste Jubileu ao Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, para que possa dinamizá ‑lo como uma nova etapa do caminho da Igreja na missão de levar a todas as pessoas o Evangelho da Misericórdia .
Estou convencido de que toda a Igreja, que tanto necessita de rece‑ ber misericórdia, porque somos pecadores, poderá encontrar neste Jubileu a alegria para redescobrir e tornar fecunda a misericórdia de Deus, com a qual somos chamados a dar consolo a todos os homens e a todas as mulheres do nosso tempo . Não nos esqueçamos de que Deus perdoa tudo e Deus perdoa sempre . Não nos cansemos de pedir perdão . Confiemos de agora em diante este ano à Mãe da Misericórdia,
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para que nos dirija o seu olhar e vele por nós no nosso caminho: o nosso caminho penitencial, o nosso caminho com o coração aberto, durante um ano, para receber a indulgência de Deus, para receber a misericór‑ dia de Deus .
Basílica de São Pedro, 13 de Março de 2015 .
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O tempo da misericórdia
De há mais de trinta anos até agora, vivemos em tempo de miseri‑ córdia . Em toda a Igreja é tempo da misericórdia . Esta foi uma intuição de João Paulo II . Ele sentiu que este era o tempo da misericórdia . Pen‑ semos na beatificação e canonização da freira Faustina Kowalska; depois, proclamou a festa da Divina Misericórdia . Pouco a pouco, avançou, foi para a frente com esta temática .
Dar o coração aos infelizes
Esta palavra: «misericórdia», palavra latina cujo significado etimo‑ lógico é miseris cor dare, «dar o coração aos infelizes», aqueles que precisam, aqueles que sofrem . Foi o que fez Jesus: abriu o seu coração à infelicidade do homem . O Evangelho está repleto de episódios que comprovam a misericórdia de Jesus, a gratuidade do seu amor pelos sofredores e pelos fracos . Nos textos evangélicos, podemos perceber a proximidade, a bondade e a ternura com que Jesus se acercava das pessoas sofredoras e as consolava, dava ‑lhes alívio, e muitas vezes curava ‑as . Tendo como exemplo o nosso Mestre, também somos cha‑ mados a aproximar ‑nos, a partilhar a condição das pessoas que encon‑ tramos . É necessário que as nossas palavras, os nossos gestos, as nossas atitudes expressem solidariedade, a vontade de não permanecer alheios
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à dor dos outros, com calor fraterno e sem cair em nenhuma forma de paternalismo .
Curar as feridas
Qual é o lugar onde Jesus estava muitas vezes, onde podia ser encon‑ trado com maior facilidade? Nas estradas . Podia parecer um sem ‑abrigo, porque andava sempre na estrada . A vida de Jesus foi passada na estrada . Este facto convida ‑nos essencialmente a receber a profundidade do seu coração, o que Ele sente pelas multidões, pelas pessoas que encontra: aquela atitude interior de «compaixão», ao ver a multidão, leva ‑o a sentir compai‑ xão . Porque vê as pessoas «cansadas e exaustas, como ovelhas sem pastor» . Actualmente, pensamos na Igreja como um «hospital de campanha» . É preciso curar as feridas, muitas feridas! Muitas feridas! Existem mui‑ tas pessoas feridas, com os problemas materiais, com os escândalos, inclusive na Igreja . Pessoas feridas com as ilusões do mundo . Miseri‑ córdia significa acima de tudo curar as feridas .
Maria ensina ‑nos a misericórdia
Zizânia é um termo que em hebraico deriva da mesma raiz do nome «Satanás» e que encerra o conceito de divisão . Todos sabemos que o demónio é um «semeador de discórdia», aquele que tenta sempre divi‑ dir as pessoas, as famílias, as nações e os povos . Os servos queriam arrancar de imediato o joio, mas o dono da casa impede ‑os por este motivo: «Não, para que não suceda que, ao apanhardes o joio, arran‑ queis o trigo ao mesmo tempo» (Mateus 13, 29) . Porque todos sabemos que o joio, quando cresce, se assemelha muito ao trigo, existindo o perigo de se confundirem .
Este inimigo é astuto: semeou o mal no seio do bem, pelo que é impossível que nós, homens, o separemos claramente; mas Deus aca‑ bará por fazê ‑lo .
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E assim chegamos ao segundo tema: a contraposição entre a impa‑ ciência dos servos e a paciente espera do proprietário do campo, que representa Deus . Por vezes temos uma grande pressa em julgar, classi‑ ficar, separar os bons dos maus… Mas lembrem ‑se da oração daquele homem admirável: «Ó Deus, dou ‑te graças, por não ser como o resto dos homens, que são ladrões, injustos…» (Lucas 18, 11 ‑12) . Deus sabe esperar . Ele olha para o «campo» da vida de todas as pessoas com paciência e misericórdia: vê muito melhor do que nós a imoralidade e o mal, mas vê também os rebentos do bem e aguarda esperançoso que cresçam . Deus é paciente, sabe esperar . Isto é muito bonito: o nosso Deus é um pai paciente, que nos espera sempre e nos espera com o coração na mão para nos receber, para nos perdoar . Ele perdoa ‑nos sempre se formos até Ele .
A atitude do dono da casa é de esperança fundada na certeza de que o mal não tem nem a primeira nem a última palavra . E é graças a esta paciente espera de Deus que o joio, ou seja, o coração mau com tantos pecados, no final pode tornar ‑se trigo . Mas atenção: a paciência evan‑ gélica não é indiferença ao mal; não se pode fazer confusão entre bem e mal! Perante a discórdia presente no mundo, o discípulo do Senhor é chamado a imitar a paciência de Deus, alimentar a esperança com o apoio de uma inquebrável confiança na vitória final do bem, ou seja, de Deus .
Contudo, no final, o mal será eliminado: na altura da colheita, ou seja, do juízo, os ceifeiros executam as ordens do dono da casa, sepa‑ rando o joio para o queimar (Mateus 13, 30) . Naquele dia da ceifa final, o juiz será Jesus, aquele que semeou o bom trigo no mundo e aquele que se tornou Ele próprio «semente de trigo», morreu e ressuscitou .
No final seremos julgados da mesma maneira com que julgámos: a misericórdia que usarmos com os outros será usada também connosco . Pediremos a Nossa Senhora, nossa Mãe, para nos ajudar a crescer na paciência, na esperança e na misericórdia com todos os irmãos .