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Guilherme Frizzi Galdino da Silva Universidade Federal do ABC. Carolina Moutinho Duque de Pinho Universidade Federal do ABC

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Guilherme Frizzi Galdino da Silva

Universidade Federal do ABC

guilhermefrizzi@gmail.com

Índice de vulnerabilidade socioecológica para analisar os impactos das

remoções em grandes projetos urbanos: o caso das remoções na Operação

Urbana Bairros do Tamanduateí no município de São Paulo

Carolina Moutinho Duque de Pinho

Universidade Federal do ABC

cmdpinho@gmail.com Jeroen Johannes Klink

Universidade Federal do ABC

jeroen.klink@ufabc.edu.br

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CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO,

REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018)

Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

ÍNDICE DE VULNERABILIDADE SOCIOECOLÓGICA PARA ANALISAR OS IMPACTOS DAS REMOÇÕES EM GRANDES PROJETOS URBANOS: O CASO DAS REMOÇÕES NA OPERAÇÃO URBANA BAIRROS DO TAMANDUATEÍ NO

MUNICÍPIO DE SÃO PAULO G. Frizzi, C. M. D. De Pinho, J. J. Klink

RESUMO

Está em processo de revisão no legislativo municipal o Projeto de Lei da Operação Urbana Consorciada Bairros do Tamanduateí (OUC-BT). Tendo como pressuposto de que as Operações Urbanas Consorciadas (OUC) estão desenhadas a partir de uma lógica de especulação imobiliária “financeirizada” dos grandes projetos urbanos, e que trazem como consequências a produção de territórios mais desiguais a partir de processos de gentrificação, segregação e remoção, o presente trabalho utiliza-se do Índice de Vulnerabilidade Socioecológica (IVSE) para analisar os possíveis impactos gerados nas famílias com remoções previstas para ocorrer dentro dos perímetros de atuação da OUC-BT. A análise mostrou que a população ameaçada de remoção na OUC-BT está com previsão de ser deslocada para áreas mais socioecológicamente vulneráveis, com piores índices de segregação e violência.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho busca analisar os possíveis impactos gerados na população com previsão de ser removida durante o processo de implementação da Operação Urbana Consorciada Bairros do Tamanduateí (OUC-BT). Para isso, parte-se do pressuposto de que as Operações Urbanas Consorciadas (OUC) estão desenhadas a partir de uma lógica de especulação imobiliária “financeirizada” dos grandes projetos urbanos e que trazem como consequências a produção desigual do território com impactos negativos para a sociedade e principalmente para a população mais pobre que sofre com a expulsão dessas áreas em prol do interesse dos agentes imobiliários.

Para isso, a metodologia utilizada consiste na aplicação do Índice de Vulnerabilidade Socioecológica (IVSE) desenvolvido para analisar as remoções no município de São Paulo (FRIZZI, 2016). Em seguida o IVSE foi aplicado tanto para a totalidade do território da cidade de São Paulo quanto para as áreas das OUCs em curso no município e mais especificamente para a área de estudo deste trabalho, o perímetro da área da OUC-BT e suas comunidades com previsão de serem removidas, assim como as áreas de reassentamento previsto.

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O trabalho está estruturado em três seções. Na primeira seção são apresentadas algumas notas sobre o avanço do capital financeiro, sobre o desenho e implementação dos grandes projetos urbanos e como as Operações Urbanas dialogam com essa lógica de construção de um território desigual e segregado. Na segunda seção é discutido o transcurso da implementação da OUC-BT, sua estrutura, propostas e críticas. Na terceira seção é aplicado o IVSE para analisar as remoções previstas dentro do perímetro da OUC-BT assim como a discussão dos impactos gerados na vulnerabilidade dessas famílias em ameaça de remoção.

2 FINANCEIRIZAÇÃO, GRANDES PROJETOS URBANOS E OPERAÇÕES URBANAS

Nas duas últimas décadas, percebemos um crescimento da literatura acerca da financeirização, inclusive a sua relação com o setor imobiliário e suas consequências no campo do planejamento urbano, com destaque para temas como grandes projetos urbanos e gentrificação (KLINK e SOUZA, 2017).

O capital financeiro e o setor imobiliário se engrenaram a partir da década de 1990 com a implementação de instrumentos urbanísticos que permitiram o envolvimento de investidores no ramo. Esse processo se intensificou com a construção do Estatuto da Cidade (lei federal nº 10257/2001) onde estabeleceu as definições para as Operações Urbanas Consorciadas (OUC).

As OUC partem-se de uma lógica de parcerias público-privadas, que se amparam no argumento da ausência de financiamento público para a realização de grandes intervenções urbanas e, por isso, a necessidade de atuar em conjunto com a iniciativa privada. Dessa forma, seguindo uma racionalidade da cidade como espaço de negócio, inspiradas nas experiências internacionais de grandes projetos urbanos.

As Operações Urbanas Consorciadas se viabilizam através da compra e venda de CEPACs (Certificados de Potencial Adicional de Construção), onde a partir da aquisição dos títulos financeiros CEPACs o Poder Público concede o direito de construir acima do potencial construtivo básico até o potencial máximo previsto na lei dentro do limite da operação. Os CEPACs podem ser adquiridos por qualquer um, independente de possuir ou não a propriedade do terreno, o que gera uma desvinculação entre a compra do direito adicional de construir e a posse do lote. Dessa forma, os valores do CEPACs podem oscilar na bolsa de valores conforme o interesse do mercado, assim como qualquer outro título financeiro. Contudo, para que se viabilize as operações urbanas é necessário um significativo interesse do mercado, isso normalmente se dá com “projetos âncora”, onde o poder público realiza significativos investimentos em infraestrutura urbana, como circuitos de equipamentos de cultura e lazer ou obras viárias como pontes e estações de metrô.

Nesse sentido, o poder público desconsidera a visão ampla do território municipal e investe grandes quantias em áreas específicas já privilegiadas do município. Assim, a implementação das OUCs parte de uma lógica da terra como um ativo financeiro, abandonando a visão de uma suposta recuperação da mais valia urbana aos cofres públicos,

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com reinvestimento em áreas mais vulneráveis o que geraria uma redistribuição da riqueza e inclusão social (STROHER, 2017).

Além disso, as Operações Urbanas pressupõem a valorização imobiliária e fundiária para que sejam bem-sucedidas, ou seja, resultem em maiores arrecadações de recursos a serem reinvestidos na própria área. Esse processo de valorização muitas vezes é incompatível com o atendimento às demandas coletivas, por sua vez, tende a inviabilizar ou dificultar a permanência da população mais pobre no perímetro (FERRARA et al., 2016).

Desse modo, apesar do discurso de revitalização de uma área e atendimento do déficit habitacional, observa-se um processo de gentrificação nas áreas das OUCs. Inclusive um processo de esvaziamento populacional em algumas OUCs (STROHER, 2017). Já que mesmo com o processo de verticalização, o padrão dos imóveis tende a aumentar, aumentando a metragem média dos imóveis e assim diminuindo a densidade populacional. O processo sócio-espacial negativo gerado pela financeirização via grandes projetos urbanos pelas OUCs com CEPAC foram amplamente debatidos no cenário brasileiro, inclusive o processo de gentrificação e expulsão de assentamentos precários (KLINK e SOUZA, 2017). Além disso, outros trabalhos já apontaram que o processo de remoções nas Operações Urbanas seriam uma forma de “abrir espaço” para a atuação do capital financeiro (SANTORO e ROLNIK, 2017).

Nesse sentido, se faz necessário questionar as remoções propostas no município, e além disso, contribuir com a construção de outros métodos e técnicas para analisar e avaliar os impactos gerados pelos processos de remoções em curso nas Operações Urbanas Consorciadas.

3 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE A OPERAÇÃO URBANA BAIRROS DO TAMANDUATEÍ

A OUC-BT é uma proposta de intervenção pública com participação do capital privado que visa realizar projetos de transformação, a partir de estratégias e ações que influenciam na (re)construção do espaço urbano. A região está inserida, segundo o Plano Diretor de São Paulo (PDE) de 2014, na Macroárea de Estruturação Metropolitana e, portanto, está localizada em eixo de importância regional.

De acordo com o projeto de lei do Executivo, a OUC-BT tem como uma das estratégias: “socializar os ganhos de produção na região e assegurar o direito à moradia digna para quem precisa [...]”. Entretanto segundo Ferrara et al (2016) a proposta para a OUC-BT não apresenta uma transformação radical de substituição dos usos do solo existentes na região, diferentemente do que propõem outras OUC delimitadas em antigas áreas industriais, como por exemplo a OUC Água Branca.

Ou seja, há o objetivo de manter atividades industriais e criar espaços para uma “economia criativa” em imóveis de interesse histórico. Se, por um lado, essa estratégia econômica valoriza as atividades existentes, ao mesmo tempo em que busca promover novos espaços diferenciados e atrativos, há possíveis riscos, de que com o tempo, resulte em processo de gentrificação, qualificando-o para outro tipo de público que não o existente, ou seja, fazendo com que a permanência dos mais pobres não se viabilize.

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Em relação às remoções, de acordo com documento apresentado em audiência pública1, em 2014, está prevista a produção de 20.470 habitações de interesse social (HIS), sendo 5.158 HIS para famílias residentes do perímetro de adesão da OUC-BT, com 856.548 m² de estoque para HIS e 142.472 m² de terrenos disponíveis, prevendo atender 20.000 famílias. Contudo, segundo Ferrara et al. (2016), as propostas de soluções para habitação dentro do Projeto de Intervenção Urbana da OUC-BT podem ser consideradas pouco detalhadas, pois se baseiam somente nas delimitações das ZEIS2 pelo PDE como proposta de provisão habitacional. Sendo possível até reassentamento de famílias em áreas distantes da moradia original, pois o limite do reassentamento é o perímetro expandido e não há indicações na lei da OUC-BT de como deve se proceder no reassentamento quanto a localidade e distância da moradia original.

Além disso, fica como responsabilidade do empreendedor a comercialização das HIS produzidas, porém, o Executivo deve fiscalizar a destinação das unidades, garantindo o atendimento da faixa de renda nele prevista. Entretanto, não há obrigatoriedade para a produção de habitação para faixa de renda de 0 a 3 salários mínimos, visto que a lei institui como faixa que pode ser beneficiada de 0 a 6 salários mínimos, deixando a cargo do empreendedor a decisão de faixa de atendimento (FERRARA et al., 2016).

Dessa forma, apesar dos objetivos e diretrizes do projeto de lei apontarem para uma distribuição de ganhos e garantia do direito à moradia, é necessário garantir que as injustiças ocorridas em Operações Urbanas anteriores não voltem a ocorrer, como foi o caso da Operação Urbana Água Espraiada.

Segundo Fix (2000), a Operação Urbana Água Espraiada serviu para valorizar a região da Berrini através de uma operação de “limpeza social”, com a expulsão de mais de cinquenta mil pessoas, a maioria sem outra alternativa senão ir para outras favelas, boa parte delas junto aos mananciais e áreas de proteção ambiental. Além da violência e terror praticados contra os moradores durante a remoção para que abandonassem suas casas rapidamente, os custos destas remoções não são contabilizados na apresentação final dos resultados financeiros das Operações Urbanas Consorciadas.

A qualificação destes processos por meio da análise da vulnerabilidade das populações ameaçadas de remoção se faz pertinente. Para tanto, serão utilizadas técnicas e métricas para avaliar os possíveis impactos gerados por esses grandes projetos urbanos. Destacando-se assim a importância de uma análiDestacando-se mais integrada da vulnerabilidade gerada em processos de remoções.

4 ÍNDICE DE VULNERABILIDADE SOCIOECOLÓGICA PARA AVALIAR AS REMOÇÕES NA OUC-BT

O índice de vulnerabilidade Socioecológica desenvolvido por Frizzi (2016) utiliza-se dos conceitos de Sistema Sócioecológico (SSE) e vulnerabilidade para construir um índice que considera a cidade como um sistema composto por diferentes variáveis onde existem interações de diversos atores sociais em múltiplas escalas de espaço e tempo. E assim com

1 Apresentação pode ser encontrada no link:

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/desenvolvimento_urbano/arquivos/mvc/mvc-sub-vp-z/mvc-sub-vp-z.pdf

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isso, medir e avaliar os possíveis impactos das remoções no município de São Paulo através das diferenciadas vulnerabilidades às quais as populações removidas são expostas ao longo dos territórios (FRIZZI, 2016).

O conceito de Vulnerabilidade utilizado é entendido como uma soma de cinco dimensões; FINANCEIRA, SOCIAL, FÍSICA, NATURAL E HUMANA. A seguir (Tabela 1) são apresentados os indicadores e dados utilizados para a construção de cada uma das dimensões citadas e consequentemente do índice final de vulnerabilidade socioecológica.

Tabela 1 Indicadores que compõem o IVSE.

Índice Final Dimensão Peso Indicador Fonte de dados

IVSE – Índice de Vulnerabilidad e Socioecológic a

SOCIAL 1 Índice de isolamento à pobreza IBGE

Índice de violência INFOCRIM

FÍSICO 1/2 Índice de saneamento IBGE

Índice de entorno IBGE

NATURAL 1/2 Índice geotécnico SEMPLA, SMSP, SEHAB e IPT

FINANCEIR

O 1

Índice de concentração de empresas RAIS/CAGED

Índice de deslocamento ao trabalho IBGE

HUMANO 1 Índice de saúde SUS

Índice de educação SMDU

Fonte: FRIZZI; PINHO, 2017. Adaptada pelo autor.

O IVSE utilizou-se de variáveis para construir indicadores que conseguissem refletir dinâmicas que são impactadas na vida das famílias que sofrem por processos de remoções, são essas: o Índice de violência e Índice de isolamento à pobreza, que compõem a dimensão social e simbolizam concentração de desvantagens territoriais e reduzido acesso às infraestruturas e oportunidades que a cidade oferece; Índices de saneamento básico e Índice de entorno, que compõem a dimensão física, representando os recursos vinculados a localização residencial como acesso à rede de água e esgoto, calçamento, iluminação pública, arborização, asfalto etc., que juntos representam investimentos públicos e graus de urbanização; Índice geotécnico, que compõe a dimensão natural e reflete a suscetibilidade do território à processos como movimentos de massa e inundações; Índice de concentração de empresas e Índice de deslocamento ao trabalho que compõem a dimensão financeira, assim refletindo a disponibilidade e acesso ao emprego formal; e por último o Índice de saúde e Índice de educação, que compõem a dimensão humana, representando os níveis de educação e condições de boa saúde (FRIZZI e PINHO, 2017).

Os dados foram integrados a partir de um banco de dados geográficos e redistribuídos em um espaço celular constituído por células regulares com dimensões de 200m por 200m. Cada célula foi preenchida com as variáveis indicadoras com o objetivo de homogeneizar informações provenientes de diferentes fontes e formatos distintos, integrando-os em uma mesma base espaço-temporal (FRIZZI e PINHO, 2017).

Para o cômputo do IVSE, após as devidas transformações sobre os indicadores, estes foram somados e escalonados para integrar índices compostos que representam cada uma das cinco dimensões; social, física, natural financeira e humana. Estes índices compostos, por sua vez, foram também somados e escalonados para dar origem ao índice sintético final, o Índice de Vulnerabilidade Socioecológica (IVSE) (FRIZZI e PINHO, 2017).

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As dimensões da vulnerabilidade são apresentadas em uma escala de 0 a 1, onde os maiores valores representam uma alta vulnerabilidade, enquanto os menores valores representam uma baixa vulnerabilidade. A mesma lógica é aplicada ao índice sintético IVSE.

Para poder analisar as remoções foram utilizadas as bases da Secretaria Municipal de Habitação, acessadas através da plataforma online Habisp (Sistema de Informações para Habitação Social na cidade de São Paulo). Segundo Habisp (2015), no município de São Paulo está prevista a produção de 190.767 unidades habitacionais, conforme as metas para habitação 2013-2016. Destas, 8.586 estão concluídas, 196 estão em fase de desapropriação, 19.664 em fase de estudos, 19.148 estão com as obras em andamento, 18.968 foram iniciadas e 124.205 estão em fase de projeto. Para o trabalho foram utilizados os dados das unidades habitacionais que estavam previstas para serem removidas, mas ainda se encontrava em projeto. Das 124.205 em fase de projeto, apenas 42.464 continham os endereço previsto para o reassentamento, e dessas, 5.925 estavam localizadas dentro do perímetro da Operação Urbana Consorciada Bairros do Tamanduateí.

O índice foi aplicado a todo o município de São Paulo (Fig. 1). Com a superfície de vulnerabilidades é possível perceber a heterogeneidade das condições de vulnerabilidade nas diferentes regiões da cidade de São Paulo e como as Operações Urbanas estão localizadas nas áreas de vulnerabilidade mais baixa.

Fig. 1 Mapa da superfície de vulnerabilidade para o município de São Paulo e localização das OUCs.

Em relação aos níveis de vulnerabilidade, o município de São Paulo apresentou IVSE médio de 0,333, mínimo de 0,119 e máximo de 0,641. Já as áreas de OUC apresentaram IVSE médio de 0,240, mínimo de 0,123 e máximo de 0,375. Isso representa que as OUC estão localizadas nas áreas menos vulneráveis do município, entretanto com alguns pontos que ainda apresentam certo grau de vulnerabilidade, indicando áreas com alto potencial de crescimento e que ainda possuem limites para serem exploradas.

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Quando focamos para a área da OUC-BT (Fig. 2) podemos perceber que se trata de um eixo de média vulnerabilidade localizado em uma região de baixa vulnerabilidade. Ao adicionarmos os pontos de remoção e reassentamento também podemos observar que a maior parte dos reassentamentos estão previstos para serem localizados em áreas cada vez mais afastadas da moradia original da comunidade e distantes até mesmo do perímetro de adesão, o que reforça a bibliografia citada a certa de uma “limpeza social” promovida pelas operações urbanas.

Fig. 2 Vulnerabilidade no perímetro da OUC-BT e locais de remoção e reassentamento.

Existem dentro do perímetro de adesão e perímetro expandido da OUC-BT um total de 5 comunidades, totalizando 5.925 famílias que estavam em projeto de serem removidas e já possuíam local previsto de reassentamento (Tabela 2). Além disso, se observarmos a média ponderada do IVSE por família podemos perceber que o nível de vulnerabilidade que essas famílias se encontravam (0,207) é consideravelmente menor até mesmo que a vulnerabilidade média do município (0,333). Com destaque para a comunidade Heliópolis-Ilha que possuía vulnerabilidade Socioecológica de 0,153, ou seja, 17,6% menos vulnerável que a vulnerabilidade média municipal.

Tabela 2 Média do IVSE ponderada por famílias nas comunidades a serem removidas

Comunidade Famílias Média do IVSE ponderada por família

Heliópolis 2180 0,219

Heliópolis – Ilha 1623 0,157

Heliópolis - Viela Das Gaivotas 1199 0,230

Heliópolis L2 (Atílio Bartalini) 758 0,232

Pacheco Chaves 165 0,223

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Já os locais de reassentamento (Tabela 3), percebemos que o número de áreas é maior, já indicando uma provável pulverização da população removida, que além de serem removidas para áreas cada vez mais distantes, também estão passando por um processo de dispersão. Esse processo potencializa os impactos sofridos por essa população que, além dos efeitos da remoção em si, dificulta o mantimento das relações e vínculos sociais que existiam anteriormente. Além disso, podemos perceber que as pessoas estão sendo removidas de áreas com vulnerabilidade de 0,207 para áreas com vulnerabilidade de 0,233, ou seja, mais vulneráveis.

Tabela 3 Locais de reassentamento e número de famílias reassentadas na OUC-BT

Empreendimento Famílias

reassentadas

Média ponderada do IVSE por família

Atibaia I, II e III 27 0,223

Estrada das Lágrimas 187 0,231

Francisco Rossano (Oratório 1) 28 0,223

Heliópolis / Petrobrás 4000 0,210

Heliópolis / Sabesp 1 / Gaivotas 152 0,228

Heliópolis / Sabesp 2 / 1ª Etapa 600 0,210

Heliópolis / Sabesp 2 / 2ª Etapa 600 0,210

Heliópolis G / Condomínio 2 221 0,210

São Sebastião 110 0,223

Total Geral 5925 0,233

No entanto, é importante ressaltar que a análise do IVSE não permite distinguir as diferenças na vulnerabilidade em cada umas das suas dimensões. Assim é importante para uma análise integrada, olhar as dimensões da vulnerabilidade socioecológica que compõem o IVSE, possibilitando entender onde ocorreram as maiores mudanças nos perfis de vulnerabilidade e assim permitir um diagnóstico mais rico.

Para conseguir analisar como se daria a variação das dimensões da vulnerabilidade em todas as comunidades localizadas nos perímetros da OUC-BT, foi realizado o cálculo das diferenças das vulnerabilidades entre assentamento e reassentamento. Sendo assim, é possível observar, em porcentagem, quanto aumentaria ou diminuiria a vulnerabilidade das comunidades ameaçadas de remoção em suas diferentes dimensões. Os gráficos das diferenças das vulnerabilidades entre assentamento e reassentamento das comunidades podem ser observados nas figuras a seguir (Fig. 3, Fig. 4 e Fig. 5).

(a) (b)

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(c) (d)

Fig. 4 Possível impacto na dimensão financeira (c) e natural (d) das comunidades

(e)

Fig. 5 Possível impacto na dimensão física (e) das comunidades

A partir dos gráficos acima é possível fazer um perfil de cada uma das comunidades e como o processo de remoção impactariam as suas vulnerabilidades de formas distintas. Na comunidade Heliópolis-Ilha haveriam perdas significativas em quase todas as dimensões, com exceção de uma pequena diminuição da vulnerabilidade na dimensão financeira. As comunidades Viela das Gaivotas e Heliópolis L2 teriam um aumento da vulnerabilidade nas dimensões física e social. A comunidade Pacheco Chaves diminuiria sua vulnerabilidade em quase todas suas dimensões, com exceção de um aumento drástico da vulnerabilidade na dimensão financeira, já a comunidade Heliópolis teria um aumento da vulnerabilidade nas dimensões natural e social.

De forma geral, todas as comunidades sofreriam um aumento da vulnerabilidade em pelo menos uma das dimensões, com destaque para a dimensão social, onde quase todas as comunidades seriam impactadas negativamente.

Para poder analisar a dinâmica da vulnerabilidade prevista em todas as remoções localizadas nos perímetros da OUC-BT, tanto do índice composto como das suas dimensões, foi aplicada a média do IVSE e suas dimensões em todos os locais de assentamento e reassentamento ponderada pela quantidade de famílias removidas ou reassentadas (Tabela 4).

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Tabela 4 Média das vulnerabilidades (ponderada por famílias) para os locais de assentamento e reassentamento na OUC-BT

Física Natural Humana Social Financeira IVSE

Assentamento 0,281 0,196 0,029 0,166 0,394 0,207

Reassentamento 0,218 0,065 0,026 0,393 0,374 0,233

Com a tabela apresentada acima podemos observar que com o processo de remoção previsto para ocorrer no perímetro de adesão e perímetro expandido da OUC-BT, de forma geral, haveria uma diminuição significativa da vulnerabilidade nas dimensões físicas e naturais, que respectivamente representam melhorias de 6,32% e 13,18%.

Essa melhora nos valores das dimensões naturais e físicas indicam que as comunidades removidas estão com previsão de serem reassentadas para áreas com melhores aspectos geomorfológicos, ou seja, áreas com menores declividades, tipos de solos mais estáveis geotecnicamente e longe das várzeas dos rios, representando um menor grau de probabilidade ao risco à desastres naturais como inundações e deslizamentos. E também áreas com melhores graus de urbanização, isto é, áreas com mais ruas pavimentadas, arborizadas e calçamento, áreas com melhor iluminação pública, coleta de resíduos sólidos, saneamento entre outros.

Entretanto, ocorreu um aumento da vulnerabilidade de 22,7% na dimensão social. Isso representa que as comunidades estariam em risco de serem removidas para áreas com maiores índices de ocorrência de crimes violentos e também áreas mais segregadas onde ocorre a concentração da pobreza.

De forma geral, a diminuição da vulnerabilidade nas dimensões físicas e naturais são de se esperar durante um processo de remoção que por sua vez se sustenta pelo discurso de falta de infraestrutura ou risco geotécnico. Entretanto, é necessário ficarmos atentos aos outros riscos que podem ser produzidos durante o processo de remoção, principalmente com o local que essas comunidades estão sendo removidas e quais são as condições desse local de reassentamento.

No caso da OUC-BT, as remoções propostas estão apontando para uma concentração de famílias de baixa renda em locais mais violentos da cidade, o que acarreta a uma concentração de desvantagens territoriais e reduzido acesso às infraestruturas e oportunidades que a cidade oferece.

5 CONCLUSÃO

O presente trabalho promove um debate interdisciplinar em torno dos processos de remoção gerados a partir da implementação da lógica financeirizada dos grandes projetos urbanos, como é o caso das Operações Urbanas Consorciadas. Para isso, foi utilizado um índice sintético que integra cinco dimensões da vulnerabilidade (física, natural, humana, social e financeira). Esse índice permitiu a análise das transformações na vulnerabilidade das famílias que estão previstas para serem removidas nos perímetros da Operação Urbana Bairros do Tamanduateí.

A partir da utilização e análise do Índice de Vulnerabilidade Socioecológica foi possível constatar que as Operações Urbanas do município de São Paulo se localizam em áreas

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muito próximas à áreas já valorizadas, com o intuito de criar e ampliar novos pólos de desenvolvimento, ou seja, novas centralidades em áreas que estão “deterioradas”. Isso gera uma valorização na região obtida às custas de uma grande concentração de recursos, além dos impactos negativos para a população de baixa renda que ali moravam e serão removidas.

No caso das remoções na OUC-BT percebemos que, de forma geral, as famílias estão previstas de serem reassentadas para áreas onde existem menos riscos geotécnicos e melhores infraestruturas urbanas, como vias pavimentadas e calçamento. Entretanto, essas áreas são cada vez mais distantes das áreas originais de moradia e com condições de vulnerabilidade social muito piores, cerca de 22,7% mais vulnerável, o que representam áreas mais violentas, com altas taxas de crimes hediondos e residencialmente segregadas, onde existem altas concentrações de pobreza.

Dessa forma, podemos destacar que o modelo proposto para a OUC-BT, assim como as outras Operações Urbanas até então implementadas, está amarrado em torno de uma lógica da terra como ativo financeiro, onde o que é priorizado é a rentabilidade do território, fazendo com que a cidade pague para valorizar uma área que não é de prioridade social. Logo, mesmo em situações de dificuldade orçamentária, o município continua investindo em alguns setores já privilegiados e, inclusive com a remoção da população mais pobre, que acaba sendo expulsa para áreas já não tão valorizadas. Nesse sentido, esse processo garante o interesse privado para a reprodução do capital financeiro-imobiliário ao invés da igualdade social.

6 REFERÊNCIAS

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Referências

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