ICEUBI2015 - INTERNATIONAL CONFERENCE ON ENGINEERING 2015 – 2-4 Dec 2015 – University of Beira Interior – Covilhã, Portugal
Qualidade do ambiente interior em lares e jardins
de infância na cidade da Covilhã – estudo
exploratório
1. Qualidade do ambiente interior em lares de idosos e infantários
Na sociedade contemporânea as pessoas passam a maior parte da sua vida no interior de edifícios, o que leva a um crescente interesse no tema da qualidade do ambiente interior. A qualidade do ambiente interior depende significativamente dos parâmetros e critérios utilizados na sua avaliação (ex.: temperatura, humidade relativa e poluentes), assim como da conceção e funcionamento do edifício (incluindo os sistemas) e do comportamento dos indivíduos. Por outro lado, o ambiente interno afeta, nomeadamente, a saúde, o conforto e a produtividade dos ocupantes [1].
Estudos científicos recentes são consensuais no que diz respeito à influência que as condições ambientais no interior das salas de aula têm, não só, sobre a saúde dos alunos mas também sobre a sua atitude e desempenho [2,3]. As crianças são também mais suscetíveis que os adultos aos efeitos adversos de poluentes do ar interior, uma vez que não têm ainda o sistema imunitário plenamente desenvolvido [4].
No que diz respeito à pirâmide etária em Portugal cerca de 19% da população tem 65 ou mais anos de idade. O Índice de Envelhecimento, relação entre o número de idosos com mais 65 anos e o número de jovens com menos de 14 anos tem tendência a agravar-se, motivado sobretudo pela diminuição da natalidade [5]. Os lares de idosos têm o potencial de influenciar a vida dos utentes socialmente, fisicamente e psicologicamente. As pessoas mais idosas podem estar particularmente em risco face aos efeitos dos poluentes do ar, mesmo em baixas concentrações, devido às suas reduzidas defesas imunológicas e múltiplas doenças crónicas subjacentes [6, 7].
Os edifícios devem ser projetados, construídos e mantidos em funcionamento de modo a proporcionarem condições de conforto ambiental adequadas.
No sentido de contribuir para aprofundar o conhecimento sobre esta temática, este artigo apresenta resultados de medições de poluentes interiores (dióxido de carbono, formaldeído e COVs - compostos orgânicos voláteis totais), e condições de conforto higrotérmico num lar de idosos e dois infantários situados na cidade da Covilhã, em Portugal [8].
2. Caracterização física dos edifícios e compartimentos estudados
A caraterização física dos edifícios e compartimentos estudados encontra-se apresentada na Tabela 1, revelando tratar-se de infraestruturas de épocas construtivas, localizações, caraterísticas construtivas e instalações técnicas bastante diferenciadas.
Tabela 1- Caraterização física dos edifícios e compartimentos estudados
EDIFÍCIO COMPARTIMENTO
Ano de
construção climatização Sistema de Sistema de ventilação Designação predominante Orientação Área útil [m²] Ocupação máxima habitual Lar de idososa 2002 Aquecimento intermitente com radiadores a água; AVAC nas zonas comuns (sala de convívio e refeitório) IS “interiores” comuns: VM-extração intermitente ; IS “exteriores” quartos: Sala de convívio E 134,00 25 utentes Refeitório E 134,00 50 utentes Quarto triplo SE 33,92 3 utentes
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EDIFÍCIO COMPARTIMENTO
Ano de
construção climatização Sistema de Sistema de ventilação Designação predominante Orientação Área útil [m²] Ocupação máxima habitual abertura de janelas Infantário 1b 1947 Aquecimento intermitente com radiadores a água IS: VM-extração intermitente Sala de
atividades O 35,37 2 educadoras e 8 crianças
Refeitório E 50,74 2 educadoras e 20 crianças
Dormitório E 51,86 2 educadoras e 30 crianças
Infantário 2c 1988 Aquecimento intermitente com radiadores a água; AVAC no refeitório IS “exterior”: VN ou VM-extração intermitente Sala de
atividadesd O 64,40 2 educadoras e 25 crianças
Refeitório / sala de
convívio S 193,60
13 educadoras e 70 crianças
Berçário N 46,75 3 educadoras e 5 bebés
Notas:
- Simbologia: VN – Ventilação Natural; VM – Ventilação Mecânica; AVAC – Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado; IS – Instalação sanitária;
a) zona climática I3V2; altitude = 750 m; método de limpeza: diariamente com solução aquosa; abertura de janela aquando da limpeza;
b) zona climática I3V2; altitude = 715 m; método de limpeza: duas vezes ao dia com água; abertura de janelas aquando das limpezas; as paredes não têm isolamento;
c) zona climática I2V3; altitude = 560 m; método de limpeza: duas vezes ao dia com água; abertura de janelas aquando das limpezas;
d) Serve simultaneamente de dormitório.
Os revestimentos interiores dos espaços estudados e as condições dos vãos envidraçados e respetivas proteções solares, interiores e exteriores, encontram-se apresentados na Tabela 2.
Tabela 2- Revestimentos interiores, vãos envidraçados e proteções solares
Edifício Compartimento Pavimento Paredes Teto Proteções solares
exteriores Proteções solares interiores Caixilharia Lar Quarto Vinílico e mosaico cerâmico Estucadas a cor branca; lambril 90 cm de calcário Teto falso gesso cartonado cor branca Estores brancos Cortinas ligeiramente transparentes cor creme Alumínio sem corte térmico, sistema de correr; vidro duplo
Sala/refeitório Vinílico Inexistentes Rolo semiopaco cinzento
Infantário 1 Sala Madeira Rebocadas a cor branca Rebocado a cor branca Inexistentes
Rolo opaco cor branca Alumínio sem corte térmico, sistema de correr; vidro simples Outros cerâmico Mosaico
Infantário 2
Berçário Ladrilho cortiça
Rebocadas a cor branca + lambril de madeira Rebocado a cor branca Inexistentes Estores de lâminas horizontais +
cortinas opacas Alumínio sem corte térmico, sistema de abrir e basculante; vidro simples Sala de
atividades Parquet de madeira
Rebocadas a cor branca
Rolo opaco cor creme + cortinas opacas Refeitório /
sala de convívio Vinílico
Rebocadas a cor branca + lambril de madeira Teto falso metálico branco
Rolo opaco cor creme
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3. Exigências normativas e regulamentares
O número mínimo de pontos de análise dos vários parâmetros da qualidade do ar interior a medir nos compartimentos foi calculado pela aplicação da expressão seguinte à área total do compartimento, arredondando por excesso à unidade [9].
𝑁𝑖 = 0,15 × √𝐴𝑖
Em que:
Ni – Número de pontos de medida na zona i (Ni ≥ 1);
Ai – Área da zona i (m²).
Na Tabela 3 apresenta-se o número mínimo de pontos de medição.
Tabela 3 - Número mínimo de pontos de medição por compartimento
Edifício Compartimento Área [m²] Volume [m³] N.º mínimo de pontos de
medição N.º de pontos medidos Lar de Idosos Sala de convívio 134,00 375,2 2 3 Refeitório 134,00 375,2 2 3 Quarto triplo 33,92 95,0 1 1 Infantário 1 Sala de atividades 35,37 99,0 1 1 Refeitório 50,74 142,1 2 2 Dormitório 51,86 145,2 2 2 Infantário 2 Sala de atividades 64,40 196,4 2 2
Refeitório / sala de convívio 193,60 677,6 3 3
Berçário 46,75 142,6 2 1
Os limiares de proteção para os poluentes físico-químicos considerados são os previstos na Tabela 4, conjugados com os seguintes princípios [9]:
a) Os limiares de proteção indicados dizem respeito a uma média de 8 horas;
b) As margens de tolerância previstas são aplicáveis a edifícios existentes, edifícios novos sem sistemas mecânicos de ventilação e edifícios sujeitos a grandes intervenções;
c) A conformidade legal dos resultados das medições dos poluentes CO2, COVs totais e
CH2O deve ser verificada mediante observação dos seguintes critérios gerais:
[Poluente]Max ≤ [Poluente]LP
Em que:
- [Poluente]LP corresponde ao limar de proteção do poluente;
- [Poluente]Max corresponde ao valor máximo das concentrações médias [Poluente]Med obtidas em todos os
pontos de amostragem;
- [Poluente]Med é a concentração média do poluente em cada ponto de amostragem correspondente à média
temporal dos valores de concentração medidos no ponto de amostragem.
No caso de edifícios existentes, poderá ser considerada uma margem de tolerência (MT), sendo o critério de conformidade verificado quando:
[Poluente]Max ≤ [Poluente]LP × (1+MT)
Em que MT é expressa como percentagem estabelecida para cada poluente, conforme Tabela 4. Tabela 4 - Parâmetros medidos e concentrações de referência [10 - 16] Parâmetros Limiar de proteção em edifícios novos Margem de tolerância (MT) Limiar de proteção b [mg/m³] [ppmv] [%] [mg/m³] [ppmv] Poluentes Físicos-Químicos Compostos orgânicos voláteis totais (COVs) 0,6 0,26 a 100 1,2 0,52a Formaldeído (CH2O) 0,1 0,08
ICEUBI2015 - INTERNATIONAL CONFERENCE ON ENGINEERING 2015 – 2-4 Dec 2015 – University of Beira Interior – Covilhã, Portugal Dióxido de carbono (CO2) 2250 1250 30 2925 1625 Nível recomendado/regulamentado Conforto higrotérmico Temperatura HR 20 – 25ºC 30 – 70% Notas:
a) Valor obtido para a massa molar do isobutileno;
b) Limiar de proteção em edifícios existentes e edifícios novos sem sistemas mecânicos de ventilação. Na Tabela 5 apresentam-se os parâmetros, equipamentos de medição e principais condições de medição.
Tabela 5 – Características técnicas dos equipamentos usados, parâmetros e condições de medição
Parâmetros Equipamento Exatidão Gama de medição de medição Intervalo Período de medição
Formaldeído (CH2O) Formaldemeter htV-M ±10% 0 – 10 ppm Pontual Pontual Dióxido de carbono (CO2) TSI Velocicalc 9565-P (sonda 986) ±3% ou 50 ppm,
o que for maior 0 - 5 000 ppm segundos 15 3 × 5 minutos
Compostos orgânicos voláteis totais (COVs) TSI Velocicalc 9565-P (sonda 986) ±20% (segundo informação do representante) 0,01 – 20 ppm,
isobutileno segundos 15 3 × 5 minutos
Temperatura e
Humidade relativa Extech RH520 ± 3,0% HR ±1,0ºC; ―28 - 60ºC; 10 - 95% 1 minuto 15 a 30 dias
Os equipamentos de medição foram disponibilizados pelo LABSED - Laboratório de Saúde na Edificação da Universidade da Beira Interior, em Portugal.
3.1 Campanha experimental 1
Nos lares de idosos as medições dos poluentes foram realizadas em contínuo e nos infantários foram realizadas durante o período de ocupação [7 – 19h], decorridas duas a três horas após o início do funcionamento dos espaços. Para cada registo de leitura, mediu-se durante um período mínimo de 5 minutos [9]. A campanha experimental decorreu entre fevereiro e junho de 2014. As condições ambientais exteriores foram registadas nos equipamentos da estação meteorológica da Universidade da Beira Interior situada a aproximadamente 680 m de altitude. Na Tabela 6 apresentam-se os resultados das medições de poluentes.
Tabela 6 – Resultados das medições de poluentes – campanha experimental 1
[Poluente]Max Edifício (mês ensaios) Compartimento Compostos orgânicos voláteis totais (COVs) [ppm] Dióxido de carbono (CO2) [ppm] Formaldeído (CH2O) [ppm] Lar de idosos (fevereiro) Sala de convívio 0,25 889 0,07 Refeitório 0,19 694a 0,06 Quarto triplo 0,33 684a 0,13 Infantário 1 (abril) Sala de atividades 0,62 1645 0,05 Refeitório 0,62 842a 0,03 Dormitório 0,34 886a 0,02 Infantário 2 (junho) Sala de atividades 0,46 924 0,04 Refeitório / sala de convívio 0,19 841a 0,04 Berçário 0,25 2518 0,08 Nota:
a) Medição obtida fora das horas de utilização.
Na análise da Tabela 6 e dado que os infantários e lar avaliados foram considerados “edifícios existentes” considerou-se a margem de tolerância prevista nos procedimentos anteriormente
ICEUBI2015 - INTERNATIONAL CONFERENCE ON ENGINEERING 2015 – 2-4 Dec 2015 – University of Beira Interior – Covilhã, Portugal mencionados. Relativamente aos valores apresentados e tendo em conta o período de medição (≈ 5min), pode concluir-se que:
- o Infantário 1 apresenta em dois compartimentos elevadas concentrações de COVs totais o que pode ser reflexo, nomeadamente, das deficientes condições de ventilação e manutenção (ex.: produtos de limpeza inadequados) e o uso de materiais pedagógicos (ex.; pinturas e colas);
- dois compartimentos (Infantário 1: sala de atividades; Infantário 2: berçário) apresentam
valores elevados de CO2 o que pode ser reflexo, nomeadamente, de uma fraca renovação
do ar ou sobreocupação para as condições existentes de ventilação;
- dois compartimentos apresentam valores elevados de formaldeído. Não foi identificada qualquer fonte potencial, o que poderá ser justificado por revestimentos ou materiais utilizados de forma ocasional. Estes valores justificam investigação mais aprofundada; - o berçário do infantário 2 apresenta simultaneamente valores elevados de COVs totais e
de formaldeído.
As condições de conforto higrotérmico encontram-se apresentadas nas Figuras 1 e 2 e Tabela 7.
Figura 1 – Temperatura interior no Lar de Idosos entre 10 e 16 de fevereiro (segunda-feira a domingo) Deve referir-se que no lar de idosos não foi realizada a medição na sala de convívio em simultâneo com os outros dois compartimentos, razão pela qual este compartimento não se encontra representado na Figura 1.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 Te mpe ra tur a [ºC] Tempo [dd:mm:hh] Lar de Idosos
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Figura 2 – Temperatura interior no Infantário 2 entre 21 e 26 de abril (segunda-feira a domingo) Tabela 7 – Resultados das medições dos parâmetros higrotérmicos – campanha experimental 1
Tocu [ºC] HRocu [%] Text [ºC] ΔT [ºC]
Edifício
(meses ensaios) Compartimento ± Perc ≤ 20ºC Perc ≥ 25ºC ± Perc ≤ 30% Perc ≥ 70%
Lar de idosos (fev-março) Sala de convívio 23,8 ± 1,2 7 16 44 ± 5 0 0 10,4 ± 4,9 13,4 Refeitório 22,7 ± 1,3 2 1 46 ± 5 0 0 7,4 ± 3,3 15,3 Quarto triplo 22,0 ± 2,3 26 11 47 ± 7 1 0 7,4 ± 3,3 14,6 Infantário 1 (março-abril) Sala de atividades 17,1 ± 1,7 94 0 57 ± 7 0 2 10,7 ± 4,7 6,4 Refeitório 19,7 ± 1,9 61 0 46 ± 6 0 0 11,5 ± 4,5 8,2 Dormitório 18,5 ± 1,8 78 0 53 ± 9 0 1 10,7 ± 4,7 7,8 Infantário 2 (abril-maio) Sala de atividades 20,6 ± 1,8 31 1 65 ± 5 0 11 15,7 ± 5,3 4,9 Refeitório / sala de convívio 19,9 ± 2,3 48 0 56 ± 6 0 2 “ 4,2 Berçário 19,7 ± 1,3 54 0 65 ± 5 0 18 “ 4,0 Notas:
- à exceção do lar de idosos, os resultados referem-se ao período de ocupação dos infantários: dias úteis
das 7h às 19h;
- ΔT: diferença entre as médias de Tocu e Text.
Da análise das Figuras 1 e 2 e da Tabela 7, pode concluir-se que:
- é notória uma variação cíclica da temperatura interior. No lar de idosos esta variação é devida ao aquecimento, pois os períodos de aquecimento têm início às 6 e 18h;
- o lar de idosos apresenta valores médios razoáveis para a temperatura média interior, reflexo, nomeadamente dos sistemas de climatização/aquecimento existentes,
- os infantários têm comportamento diferenciado. O infantário 2 não apresenta valores precupantes em termos de temperatura média ou humidade relativa. Enquanto que o Infantário 1 apresenta valores muito abaixo dos razoáveis para a estação de aquecimento. Estas temperaturas podem ser explicadas pelas diferentes condições de isolamento térmico da envolvente dos edifícios estudados;
- os diferentes compartimentos analisados, com exceção de dois deles, têm uma percentagem excessiva de tempo com temperaturas inferiores às regulamentares; 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 Te mpe ra tur a [ºC] Tempo [dd:mm:hh] Infantário 2
ICEUBI2015 - INTERNATIONAL CONFERENCE ON ENGINEERING 2015 – 2-4 Dec 2015 – University of Beira Interior – Covilhã, Portugal - dois compartimentos do lar de idosos apresentam algum tempo com temperaturas
superiores às regulamentares. Este comportamento pode dever-se à orientaçao (SE e E) ou à insuficiente proteção solar dos vãos, como é o caso da sala de convívio;
- os diferentes compartimentos, com exceção de dois deles, não apresentam valores preocupantes de humidade relativa.
3.2 Campanha experimental 2
A 2.ª campanha experimental decorreu na primavera de 2015, registando-se as seguintes alterações relativamente aos compartimentos analisados e condições de medição:
- excluiu-se o infantário 1 uma vez que deixou de funcionar; apenas foram medidos os poluentes nos compartimentos mais representativos;
- medição contínua, à exceção do formaldeído, somente num ponto, com intervalo de tempo de 2 minutos, entre 1 a 8 dias;
- cálculo das renovações horárias (Rph) em períodos após ocupação, à exceção do quarto
triplo do lar.
Na Tabela 8 apresentam-se os resultados das medições de poluentes e renovações horárias. Tabela 8 – Resultados das medições de poluentes – campanha experimental 2
Dióxido de carbono (CO2)
[ppm] R[hph dec-1] R[hph RECS-1]
Compostos orgânicos voláteis totais (COVs)
[ppm]
Formaldeído (CH2O)
[ppm]Max
Edifício
(meses ensaios) Compartimento ± Perc ≥1625 ± Perc ≥ 0,52
Lar de idosos (abril-maio) Sala de convívio 723 ± 253 0,8 0,22 1,6 0,04 ± 0,09 6,7 0,09 Quarto triplo 890 ± 335 0,0 0,81 0,5 0,17 ± 0,15 7,3 0,04 Infantário 2 (maio) Refeitório / sala de convívio 670 ± 377 3,9 0,89 2,9 0,11 ± 0,48 5,3 0,07 Berçário 1222 ± 314 15,9 0,09 1,3 0,03 ± 0,04 0,0 0,07 Notas:
a) à exceção do quarto triplo do lar de idosos (medição contínua), os resultados referem-se ao período habitual de ocupação:
- sala de convívio: 6h30 – 18h30;
- Infantário 2: dias úteis das 7h às 19h.
b) as renovações horárias in situ foram obtidas com base na técnica do declive (decaimento do CO2), conforme
normas ASTM E 741 e ASTM D 6245;
c) as renovações horárias regulamentares foram obtidas de acordo com o método prescritivo do RECS [11].
Na Figura 3 e 4 apresentam-se a evolução temporal de CO2 e COVs no lar de idosos. Estão
identificados os pontos iniciais do decaimento de CO2 que serviram para determinar as
renovações horárias através da técnica do decaimento. Também se encontram identificados os pontos com teores máximos de COVs.
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Figura 3 – CO2 e COVs no quarto do lar de Idosos entre os dias 30 de abril a 7 de maio (quinta a sexta-feira)
Figura 4 – CO2 e COVs na sala de convívio do lar de Idosos entre os dias 24 e 30 de abril (sexta a quinta-feira)
Da análise da Tabela 7 e Figuras 3 e 4, pode concluir-se que:
- o berçário do infantário 2 apresenta uma excessiva percentagem de tempo com valores
elevados de CO2;
- a sala de convívio (lar de idosos) e o berçário (infantário) apresentam valores muito baixos das renovações horárias. Comparativamente com os valores regulamentares, o refeitório (infantário) também apresenta valores reduzidos;
- os compartimentos do lar de idosos apresentam uma excessiva percentagem de tempo com valores elevados de COVs;
- no quarto do lar de idosos, os picos de CO2 e COVs verificam-se predominantemente no
período 10h-11h, estes são seguidos de um decaimento acentuado do CO2. Esta
conjugação de comportamentos pode ser resultado de uma ação de limpeza seguida de uma abertura de janelas.
4. Conclusões
Pretendeu-se com as presentes campanhas experimentais caracterizar as condições ambientais em compartimentos de um lar de idosos e dois jardins de infância da cidade da Covilhã em Portugal. Dos resultados, destacam-se as seguintes conclusões:
- os compartimentos dos infantários revelaram na estação de aquecimento dificientes condições de climatização, apresentando em alguns dos casos uma excessiva percentagem de tempo com valores de temperatura abaixo dos regulamentares;
- a generalidade dos compartimentos, à exceção de dois, não apresenta valores preocupantes de humidade relativa;
0 0,5 1 1,5 2 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 CO Vs p p m] Dió xido de ca rbo no [p p m] Tempo [dd:mm:hh]
Lar de Idosos - quarto
CO2 COVs 0 1 2 3 4 5 6 7 300 500 700 900 1100 1300 1500 1700 1900 2100 COVs ppm] Dió xido de ca rbo no [p p m] Tempo [dd:mm:hh]
Lar de Idosos - sala de convívio
ICEUBI2015 - INTERNATIONAL CONFERENCE ON ENGINEERING 2015 – 2-4 Dec 2015 – University of Beira Interior – Covilhã, Portugal - o berçário (infantário 2) apresenta valores elevados dos poluentes medidos;
- a sala de convívio (lar de idosos) e o berçário (infantário 2) apresentam valores muito baixos das renovações horárias;
- os compartimentos do lar de idosos apresentam uma excessiva percentagem de tempo com valores elevados de COVs.
As conclusões anteriores, implicam uma atuação nas condições de aquecimento, manutenção e ventilação para que os espaços funcionem com as condições adequadas de conforto e qualidade do ar.
Na seleção dos produtos de limpeza recomenda-se a não utilização de produtos à base de amónia, solventes orgânicos e outras substâncias químicas que afetem significativamente a qualidade do ar interior [15, 16].
As condições de ventilação podem ser melhoradas quer através de sistemas mecânicos quer através da adoção de práticas de ventilação natural, tais como:
- abertura de janelas nos períodos após limpeza e nos períodos em que os espaços se encontrem desocupados (lares de idosos);
- realização das limpezas antes da ocupação dos espaços (infantários), garantindo, no entanto, o seu arejamento, antes da ocupação;
- abertura de portas e janelas nos intervalos das atividades no fim do dia (infantários); - instalação de aberturas de iluminação e ventilação para os corredores interiores.
Referências
[1] Frontczak, M.; Wargocki, P., Literature survey on how different factors influence human comfort in indoor environments, Building and Environment, vol. 46, 2011.
[2] Mendell, M.; Heath, G., Do indoor pollutants and thermal conditions in schools influence student performance? A critical review of the literature, Indoor Air, vol. 15, 2005.
[3] Mendes, A. et al, Environmental and ventilation assessment in child day care centers in Porto: The Envirh project, Journal of Toxicology and Environmental Health, Part A: vol. 77, 2014.
[4] WHO, Effects of air pollution on children's health and development: a review of the evidence, Copenhagen, 2005.
[5] INE, Censos 2011. Resultados definitivos – Portugal, 2012.
[6] Bradshaw, S.; Playford, E.; Riazi, A., Living well in care homes: A systematic review of qualitative studies. Age Ageing, vol. 41, 2012.
[7] Almeida-Silva, M.; Wolterbeek, H.; Almeida, S., Elderly exposure to indoor air pollutants, Atmospheric Environment, vol. 85, 2014.
[8] Freire, T., Bioconstrução. Edifícios - Ambiente interior e saúde, Dissertação de mestrado em engenharia civil, UBI, Covilhã, Portugal, 2014.
[9] ADENE, Metodologia para auditorias periódicas de QAI em edifícios de serviços existentes no âmbito do RSECE, Nota Técnica NT-SCE-02, 2009.
[10] Portaria 349-D/2013, Regulamento de desempenho energético dos edifícios de comércio e serviços (RECS) – Requisitos de conceção para edifícios novos e intervenções, 2 de dezembro de 2013.
[11] Portaria 353-A/2013, Regulamento de desempenho energético dos edifícios de comércio e serviços (RECS) – Requisitos de ventilação e qualidade do ar interior, 4 de dezembro de 2013. [12] CEN, Ventilation for buildings. Design and dimensioning of residential ventilation systems, CEN/TR 14788, 2006.
[13] CEN, Indoor environmental input parameters for design and assessment of energy performance of buildings. Addressing indoor air quality, thermal environment, lighting and acoustic, EN 15251, European Committee for Standardization, Brussels, Belgium, 2007.
[15] Instituto da Segurança Social, Recomendações técnicas para equipamentos sociais - Lares de idosos, 2011
[16] Instituto da Segurança Social, Recomendações técnicas para equipamentos sociais – Creches, 2011.