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Gabinete do Desembargador Federal Vladimir Souza Carvalho

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Academic year: 2021

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(1)

INQ 2965/CE (0002572-59.2014.4.05.0000) AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

INDIC/INVDO : SEM INDICIADO

INVDO : MARCONDES HERBSTER FERRAZ

ADV/PROC : MARCOS ANTONIO SAMPAIO DE SOUSA e outros ORIGEM : Ministério Público Federal no Ceará

RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL VLADIMIR SOUZA CARVALHO

(Relatório)

O desembargador federal Vladimir Souza Carvalho: Denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra Marcondes Herbster Ferraz, imputando-lhe a prática do crime previsto no artigo 1º, inciso XIV, do Decreto-Lei 201/67.

Narra a exordial acusatória que o denunciado, na condição de Prefeito do Município de Saboeiro, deixou de cumprir determinação judicial trabalhista (exarada na Reclamação 0053800-30.2009.5.07.0026), no sentido de proceder à implantação e pagamento de diferenças salariais em favor dos servidores públicos Leide Maria Braga Cândido, Francisco das Chagas Braga Vieira e Antônia Mônica Tavares Rodrigues, encontradas a menor, desde o mês de janeiro de 2009.

Consta, outrossim, que o investigado foi instado a proceder à implantação por diversas vezes, sendo que, nas duas primeiras (em 29 de julho de 2010 e em 15 de março de 2011), o mandado judicial foi recebido pelo advogado e assessor jurídico da Urbe, Mário da Silva Leal Sobrinho.

Somente na terceira vez, isto é, em 07 de abril de 2011, a notificação foi recebida pelo próprio denunciado, não obstante, a omissão persistiu, verificando-se, inclusive, decréscimo na remuneração da servidora Leide Maria Braga (para o valor de duzentos e setenta e dois reais e cinquenta centavos).

Em seguida, outros mandados foram encaminhados à Prefeitura, sendo que, somente depois do último, recebido pelo denunciado, na data de 27 de fevereiro de 2013, determinando o cumprimento em quarenta e oito horas, a ordem veio a ser cumprida.

O acusado apresentou resposta (f. 20-43), aduzindo, inicialmente, preliminar de nulidade, advinda de ofensa ao disposto no artigo 4º, § 1º, da Lei 8.038/90, visto que esta relatoria não indicara, quando da intimação, os documentos necessários para acompanhar a denúncia.

Ainda em prefacial, assevera ser parte ilegítima para figurar no polo passivo da persecução criminal, atribuindo a responsabilidade ao então assessor municipal, que recebia os mandados e não os repassava.

No mérito, nega tenha agido dolosamente, sustentando que, tão logo tomou ciência do problema, tratou de cumprir a determinação.

(2)

Por derradeiro, clama pela rejeição da peça vestibular. Documentos coligidos às f. 44-49.

Voltaram os autos à Procuradoria Regional da República, que apresentou réplica pugnando pelo recebimento da denúncia, f. 53-56.

(3)

INQ 2965/CE (0002572-59.2014.4.05.0000) AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

INDIC/INVDO : SEM INDICIADO

INVDO : MARCONDES HERBSTER FERRAZ

ADV/PROC : MARCOS ANTONIO SAMPAIO DE SOUSA e outros ORIGEM : Ministério Público Federal no Ceará

RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL VLADIMIR SOUZA CARVALHO

(Voto)

O desembargador federal Vladimir Souza Carvalho: De pronto, rejeito a preliminar de nulidade, calcada na ausência de indicação das peças para acompanhar a notificação preliminar.

Decerto, a regra abrigada no artigo 4º, § 1º, da Lei 8.038/90 não obriga o relator a, necessariamente, indicar peças para acompanhar a denúncia, quando da intimação para apresentar resposta, apenas o faculta a fazê-lo, quando reputar necessário, de acordo com o seu livre arbítrio.

Nesse sentido, bem se manifestou a Procuradoria Regional da República, trazendo a lume, inclusive, precedente do Superior Tribunal de Justiça, a aclamar que o art. 4º, § 1º, da Lei 8.038/1990, não indica precisamente os documentos que devem acompanhar a notificação e tampouco estabelece a obrigatoriedade de que seja acompanhada de algum documento, mormente se é concedido, por lei, à luz do princípio da ampla defesa, o acesso aos autos ao acusado (HC 38745, min. Laurita Vaz, julgado em 01 de agosto de 2005).

Com igual força, rechaço a preliminar de ilegitimidade para figurar no polo passivo da persecução criminal.

Em verdade, embora o Município de Saboeiro contasse com um assessor jurídico, na pessoa de quem, inclusive, foram feitas algumas das notificações, consta da exordial acusatória que o réu, na condição de Prefeito, era o responsável final pelo cumprimento da ordem judicial, razão pela qual não se revela razoável a tese de que não ficara sabendo da determinação de implantar e pagar as diferenças ordenadas pela Justiça do Trabalho.

Ademais, consoante narra a peça vestibular, algumas das notificações foram recebidas pelo próprio denunciado, sendo a primeira datada, exatamente, do dia 07 de abril de 2011, ou seja, quase dois anos antes do cumprimento da ordem judicial, mostrando, pois, uma omissão por longo período.

Levo de vencida, portanto, ambas as preliminares.

Entretanto, passando ao mérito, entendo que assiste razão ao denunciado.

A denúncia relata, em tese, certa recalcitrância, por parte do investigado, quanto à implementação e pagamento das diferenças salariais obtidas por servidores públicos municipais, junto à Justiça do Trabalho.

(4)

Aduz o Parquet que foram lavradas, nada menos, do que sete notificações dirigidas ao Município de Saboeiro para o cumprimento da ordem judicial, sendo que, as três primeiras (datadas de 29 de julho de 2010, 21 de outubro de 2010 e 15 de março de 2011), foram recebidas pelo advogado e assessor jurídico da Urbe, Mário Silva Leão Sobrinho, que, inegavelmente, era portador de atribuições para representar o Município, não havendo notícia sobre qualquer eiva nesta comunicação processual.

Não obstante, somente na quarta vez, ou seja, em 07 de abril de 2011, é que o investigado foi intimado, pessoalmente, para a efetivação do comando judicial. Entretanto, quedou-se omisso, verificando-se, ao revés, um decréscimo nos vencimentos da servidora Leide Maria Braga, para o valor de duzentos e setenta e dois reais e cinquenta centavos.

Outros três mandados foram expedidos, sendo os dois primeiros recebidos pelo assessor jurídico (nos dias 20 de junho de 2011 e 18 de agosto de 2011), e, apenas o terceiro, cumprido na pessoa do investigado (na data de 23 de agosto de 2011). Todavia, nova omissão foi verificada.

Por último, foi expedida a derradeira notificação, determinando o cumprimento da ordem, no interregno peremptório de quarenta e oito horas. Esta, sim, recebida pelo denunciado, pessoalmente, na data de 27 de fevereiro de 2013, surtiu a eficácia esperada, sendo, finalmente, a providência cumprida.

Ocorre, contudo, que, conquanto este histórico possa dar margem a uma interpretação de que o denunciado agira com desídia administrativa à frente do Executivo Municipal, não vejo justa causa para se iniciar uma ação penal, pelo simples motivo de que se revela desnecessário movimentar a máquina repressora judiciária para castigar omissão já resolvida há mais de um ano antes do oferecimento da exordial acusatória.

Realmente, a própria exordial acusatória é clara em asseverar que, no primeiro momento em que fora, pessoalmente, instado a fazê-lo, no prazo de quarenta e oito horas, a ordem judicial foi efetivada.

Outrossim, ressoa bastante verossímil a tese exarada na peça defensiva, de que não agira dolosamente, mas que tudo não passara de negligência administrativa, sem importância para a esfera criminal, porquanto o ilícito perquirido exige a presença do dolo para se aperfeiçoar.

Aliás, em caso semelhante, o Pleno desta Corte já decidiu, por unanimidade, que para a caracterização do delito de desobediência, de que o inciso XIV, do art. 1º, do Decreto-Lei 201/67 é uma espécie, o dolo deve ser inequivocamente demonstrado, não se configurando tal crime, se o agente teve dificuldades em cumprir a ordem. (...) Na hipótese presente, provando o Denunciado que, ainda que a destempo, cumprira a ordem emanada da Justiça do Trabalho, consistente no pagamento de precatório trabalhista, e justificando o atraso nas dificuldades financeiras que adviriam à própria coletividade daquele Município pelo cumprimento imediato da referida determinação, elide-se, nos termos da doutrina e jurisprudência, o dolo necessário à perfeição do delito de desobediência que lhe fora imputado. E não dependendo essa conclusão de provas outras a justificar a instauração da instância penal, impõe-se, de logo, nos termos do art. 6º, da Lei 8.038/90, julgar-se improcedente a presente acusação (INQ 875, des. Petrucio Ferreira, julgado em 02 de junho de 2004).

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Por este entender, rejeito a denúncia. É como voto.

(6)

INQ 2965/CE (0002572-59.2014.4.05.0000) AUTOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

INDIC/INVDO : SEM INDICIADO

INVDO : MARCONDES HERBSTER FERRAZ

ADV/PROC : MARCOS ANTONIO SAMPAIO DE SOUSA e outros ORIGEM : Ministério Público Federal no Ceará

RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL VLADIMIR SOUZA CARVALHO

(Ementa)

Penal e processual penal. Denúncia imputando ao investigado a prática do crime previsto no artigo 1º, inciso XIV, do Decreto-Lei 201/67, aduzindo, em síntese, que, na condição de Prefeito do Município de Saboeiro, deixou de cumprir determinação judicial trabalhista, no sentido de proceder à implantação e pagamento de diferenças salariais em favor de servidores públicos, encontradas a menor, desde o mês de janeiro de 2009.

Preliminar de nulidade rechaçada. A regra abrigada no artigo 4º, § 1º, da Lei 8.038/90 não obriga o relator a, necessariamente, indicar peças para acompanhar a denúncia, quando da intimação para apresentar resposta, apenas o faculta a fazê-lo, quando reputar necessário, de acordo com o seu livre arbítrio. Precedente do Superior Tribunal de Justiça (HC 38745, min. Laurita Vaz, julgado em 01 de agosto de 2005). A mesma sorte deve seguir a arguição de ilegitimidade para figura no polo passivo da persecução criminal, porquanto, embora o Município de Saboeiro contasse com um assessor jurídico, na pessoa de quem, inclusive, foram feitas algumas das notificações, consta da exordial acusatória que o investigado, na condição de Prefeito, era o responsável final pelo cumprimento da ordem judicial, razão pela qual não se revela razoável a tese de que não ficara sabendo da determinação de implantar e pagar as diferenças ordenadas pela Justiça do Trabalho.

Entretanto, quanto ao mérito, assiste razão ao investigado.

Decerto, inexiste justa causa para se movimentar a máquina repressora estatal objetivando punir o denunciado pela prática de crime semelhante ao tipo de desobediência, se a determinação judicial foi cumprida, há mais de um ano antes do oferecimento da exordial acusatória, no exato momento em que fora, pessoalmente, instado a fazê-lo, no prazo de quarenta e oito horas, o que ocorreu em 27 de fevereiro de 2013.

Outrossim, ressoa bastante verossímil a tese exarada na peça defensiva, de que não agira dolosamente, mas que tudo não passara de negligência administrativa, sem importância para a esfera criminal, porquanto o ilícito perquirido exige a presença do dolo para se aperfeiçoar. Paradigma desta Corte (INQ 875, des. Petrucio Ferreira, julgado em 02 de junho de 2004).

(7)

(Acórdão) Vistos, etc.

Decide o Pleno do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, rejeitar a denúncia, nos termos do relatório, voto e notas taquigráficas constantes dos autos.

Recife, 15 de outubro de 2014. (Data do julgamento)

Desembargador Federal Vladimir Souza Carvalho Relator

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