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A TRAJETÓRIA DO HOTEL ALIANÇA EM PELOTAS NO INÍCIO DO SÉCULO XX

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A TRAJETÓRIA DO HOTEL ALIANÇA EM PELOTAS

NO INÍCIO DO SÉCULO XX

HOTEL ALLIANCE'S PATH IN PELOTAS IN THE BEGINNING OF THE CENTURY XX

Larissa Plamer Teixeira Universidade Federal de Pelotas lalaplamer@hotmail.com

RESUMO

No início do século XX Pelotas era uma cidade próspera devido a sua economia e cultura, o que contribuiu para o desenvolvimento dos hotéis. O objetivo deste trabalho é analisar o Hotel Aliança de Pelotas nas décadas iniciais do século XX. Este resumo é parte do projeto A História da Hotelaria em Pelotas na primeira metade do século XX, financiado pelo edital MCTI/CNPq 14/2014. Realizou-se uma pesquisa no jornal Diário Popular, de 1900 a 1946. O Hotel Aliança funcionou de 1843 até 1968, mantendo-se em funcionamento por mais de cem anos. Durante este período o hotel se manteve no mesmo endereço, na rua XV de Novembro, porém, passou por diferentes proprietários. Na final do século XIX e nas duas primeiras décadas do século XX, o Aliança permaneceu com a família Gotuzzo, em 1920 foi vendido para Jerônimo Del Grande, e em 1943 foi adquirido pela firma Martin Zabaleta e Cia, que permaneceu até seu fechamento, em 1968. O Hotel passou por reformas durante a sua trajetória. De 1903 a 1912 foi revitalizado o salão principal, instalado telefones nos quartos e dependências e inaugurado a iluminação elétrica. Em 1943 houve a remodelação do hotel, onde foi pintado e houve a colocação de novos azulejos, reforma da cozinha, e a instalação de um novo e moderno fogão. Realizadas as pesquisas podemos perceber que o Hotel Aliança foi de grande importância para a cidade, estando em seu auge no século XX, devido a oferecer conforto, higiene e uma qualidade de serviços para seus hóspedes.

Palavras-chave: História da Hotelaria. Pelotas. Século XX. Jornal.

ABSTRACT

In the beginning of the century XX Pelotas it was a prosperous city due to his/her economy and culture, what contributed to the development of the hotels. The objective of this work is to analyze the Hotel Alliance of Pelotas in the decades begin of the century XX. This summary is part of the project the History of the Hostelry in Pelotas in the first half of the century XX, financed by the announcement MCTI / CNPq 14/2014. He/she took place a research in the Popular Daily newspaper, of 1900 the 1946. The Hotel Aliança worked from 1843 to 1968, staying in operation for more than a hundred years. During this period the hotel stayed in the same address, in the street XV of November, however, it went by different proprietors. In the end of the century XIX and in the first two decades of the century XX, the Alliance stayed with the family Gotuzzo, in 1920 it was sold for Jerônimo Del Grande, and in 1943 it was acquired by the firm Martin Zabaleta and Cia, that it stayed until his/her closing, in 1968. The Hotel went by reforms during his/her path. From 1903 to 1912, the main living room was revitalized, installed telephones in the rooms and dependences and inaugurated the electric illumination. In 1943, there was the remodelation of the hotel, where it was painted and there was the placement of new tiles, it reforms of the kitchen, and the installation of a new and modern stove. Accomplished the researches can notice that the Hotel Aliança went of great importance to the city, being in his/her peak in the century XX, due to offering comfort, hygiene and a quality of services for their guests.

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Introdução

A cidade de Pelotas está localizada a sudeste do estado do Rio Grande do Sul, acerca de 250 Km da capital Porto Alegre. O munícipio é privilegiado por estar localizado em meio as principais rodovias, com fácil acesso para outras metrópoles, e também conta com uma linha férrea que liga a cidade ao porto de Rio Grande. Todos esses aspectos geográficos fazem da cidade um centro econômico, social e cultural, por onde passam milhares de pessoas todos os anos.

No final do século XIX e início do século XX a cidade se destacava por sua economia, com foco na prática saladeiril, na produção do charque. Pelotas contava com algumas charqueadas, que até as primeiras duas décadas do século passado estavam em pleno funcionamento.

A partir dos últimos anos da década de 1920, a economia da cidade entrou em crise, principalmente com a falência das charqueadas. A partir daí, novas atividades econômicas se desenvolveram no município, entre elas o comércio, pecuária, indústrias alimentícias, têxteis e os frigoríficos.

Além do desenvolvimento econômico, o município de Pelotas contava com várias atividades artísticas, culturais e sociais, com espetáculos em teatros e cinemas, reuniões e outras atividades sociais nos clubes, nos hotéis, nas confeitarias, contando também com atrativos ao ar livre, como retretas, circos, festas nas principais praças e ruas da cidade.

Assim, segundo Müller (2004) Pelotas era considerada uma cidade rica e próspera, se destacando por sua cultura, economia e lazer. Todas essas atividades atraiam muitas pessoas para a cidade, gerando um fluxo de visitantes muito grande.

De acordo com Echart (2015, p. 18), “a atividade hoteleira em Pelotas passou a desenvolver-se entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, pois foi neste período que a cidade atingiu seu apogeu econômico, social e cultural, sendo considerada a ‘Princesa do Sul’”.

Com essa movimentação de pessoas no município, era necessário um número elevado de estabelecimentos hoteleiros. Em pesquisas realizadas pelo projeto de pesquisa “A história da hotelaria em Pelotas na primeira metade do século XX” foram identificados cerca de 22 hotéis em funcionamento nas décadas de 1930 e 1940, sem incluir os hotéis das décadas anteriores. Isso nos mostra que Pelotas possuía um número significativo de hotéis em funcionamento.

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O objetivo principal deste trabalho é traçar a história de um dos principais hotéis que estava em funcionamento em Pelotas na primeira metade do século XX, o Hotel Aliança. A pesquisa consiste em analisar a trajetória do hotel dos anos de 1900 a 1946, identificando as principais características do Hotel neste período, as transformações e modificações pelo qual passou e os seus proprietários e principais hóspedes.

Este artigo é um recorte do projeto de pesquisa “A História da Hotelaria em Pelotas na primeira metade do século XX”, financiado pelo edital MCTI/CNPq Nº 14/2014. O projeto tem por objetivo resgatar elementos da hotelaria que muitas vezes foram esquecidos com o tempo, buscar informações sobre a hotelaria na primeira metade do século XX, pois ela é uma parte importante da história da cidade e traz elementos da sociabilidade urbana.

A metodologia utilizada foram pesquisas documentais e bibliográficas, realizadas na Biblioteca Pública Pelotense, em periódicos da época. Utilizamos como principal fonte o jornal Diário Popular, onde foram pesquisados sistematicamente os anos de 1900 a 1946. Como também o Almanaque Estatístico do Rio Grande do Sul, e as listas telefônicas do início do século XX, que são usadas para identificar os proprietários e o endereço do hotel. Algumas informações do século XIX sobre o Hotel Aliança foram retiradas do acervo documental do projeto.

Outro método de pesquisa que utilizamos é a história oral, uma importante fonte, na qual através da mesma, descobrimos informações muito pertinentes que não são encontradas em arquivos documentais. Assim, segundo Delgado (2010), “história oral e pesquisa documental caminham juntas e se auxiliam de forma mútua”, visto que, as informações trazidas pela entrevistada se misturam com as já encontradas nos “papéis”, reconstruindo a história do hotel.

Para este trabalho utilizamos a entrevista de Débora Dantas Lahm, filha de Altair Dantas, último proprietário do Hotel Aliança. O Sr. Altair tornou-se proprietário do hotel em meados da década de 1940, e na entrevista da Débora, ela nos conta sobre as características arquitetônicas do hotel, hóspedes, funcionários, e como se dava o dia a dia no estabelecimento.

O Hotel Aliança

O Hotel Aliança foi um dos primeiros estabelecimentos hoteleiros a se instalar no município pelotense. O hotel foi inaugurado no ano de 1843, com registros de funcionamento até 1968, ficando assim por mais de 100 anos em atividade. Segundo Müller (2004), o Hotel

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Aliança esteve presente na cidade durante toda a segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX, se “desenvolvendo” junto com a mesma.

Durante a primeira metade do século XX, o hotel estava em seu auge, passou por reformas, instalação de esgotos, telefones, etc., mudança de proprietários, e cada novo dono que se instalava, fazia melhorias no estabelecimento. Sempre muito elogiado nos jornais e pela população pelotense, o Aliança se mantinha em pleno funcionamento, sendo a sua “saborosa gastronomia” um dos principais serviços comentados, que contava com uma comida diversificada e que agradava a todos que a experimentavam.

O Hotel Aliança se localizava na Rua XV de Novembro, nº 666, entre as ruas General Neto e Voluntários da Pátria. Se manteve no mesmo endereço durante todos os seus anos de funcionamento, ou seja, do século XIX à década de 1960.

Vários foram os fatores que fizeram com que o hotel se destacasse positivamente, entre eles, a sua “excelentíssima” localização, que ficava em ponto central, em uma das principais ruas da cidade, que ligava a Praça Coronel Pedro Osório à Catedral Metropolitana de Pelotas, como também pelo fato do bonde passar em frente ao prédio. Dando assim, um acesso rápido e fácil ao centro de Pelotas e a ida até as zonas de acesso da cidade.

Neste artigo traremos um pouco da história do Hotel Aliança (Figura 1), contando e abordando as principais características que fizeram dele um “marco” da cidade. Falaremos sobre os tipos de hóspedes e motivações que levaram os mesmos a virem a Pelotas, os funcionários do hotel, serviços oferecidos, mudança de proprietários, reformas e melhorias pelo qual o prédio passou nestes anos, e também sobre a estrutura e arquitetura do hotel, algo que era muito admirado pelos seus visitantes.

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O Hotel Aliança contava com uma estrutura de sobrado, uma fachada com sete aberturas em cada andar, com traços da arquitetura europeia, como a maior parte das construções em Pelotas do início do século XX. Possuía em torno de 52 quartos, sendo o segundo maior da cidade, com alguns banheiros, que eram em comum, uns para banho e outros com vaso sanitário. Alguns quartos possuíam pia, outros não. Tinham acomodações em baixo e em cima, uns maiores e outros menores. O Hotel ocupava uma área que ia da Rua XV de Novembro até a Rua Anchieta, onde ficava a entrada de funcionários.

Um aspecto do estabelecimento muito comentado era o seu pátio (Figura 2), que ficava na parte inferior do prédio. Muitos são os relatos que falam sobre o “magnifico pátio do Hotel Aliança”. Esse diferencial foi de grande importância para o hotel, pois as pessoas iam passear e visitar o Aliança, para conhecer a sua área. Por vezes, nem se hospedavam, mas passavam as tardes no hotel, realizavam reuniões e festas que eram sediadas no pátio. Na entrevista da Sr. Débora Dantas Lahm, ela conta sobre os detalhes dessa parte do hotel, e porque era tão admirado e comentado pela população Pelotense, vejamos:

[...] ele tinha uma área em baixo maravilhosa isso eu me lembro, porque eram parreirais, e faziam como caramanchões em cima então no verão fazia uma sombra muito boa e no inverno dava sol, as laterais do hotel eram todas floridas, com mesas de mármore, com bancos de ferro, tinham dois chafarizes com peixinhos naturais. (Entrevista de Débora Dantas Lahm, 2016)

O fato do pátio do Hotel Aliança ser utilizado como imagem de um cartão postal de Pelotas no início do século XX (Figura 2) demonstra a importância que este espaço tinha para a cidade e que era uma referência “turística” da cidade.

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Os Vários Proprietários do Hotel

Durante seus anos de funcionamento o estabelecimento passou por diversos proprietários, alguns donos, outros apenas arrendatários. Era muito comum os interessados criarem parcerias, assim desenvolvendo uma sociedade entre “cavalheiros” para tomar conta do hotel.

O primeiro dono do Aliança que se tem informações foi Adolph Hermann Schreiber, que ficou como proprietário até 1853, quando vendeu para Santyago Prati & Cia. (O Pelotense, 03.05.1853, p. 4). A companhia Prati ficou de posse do hotel durante toda segunda metade do século XIX, firmando uma sociedade com Caetano Gotuzzo no final da década de 1880.

A sociedade entre Santyago e Caetano foi de grande relevância para o estabelecimento, pois os mesmos possuíam nomes renomados entre a sociedade Pelotense, possibilitando assim um “chamativo” de público. Os dois proprietários também realizaram algumas reformas no prédio, e nesta época o Aliança era palco de grandes festas e reuniões da elite da nossa sociedade.

Em 1899, após o falecimento de Santyago Prati alguns anos antes, a Companhia Prati desfaz a sociedade com a família Gotuzzo, ficando assim o estabelecimento de posse de Caetano Gotuzzo juntamente com José Francisco Agrifloglio (Correio Mercantil, 08.10.1899, p. 6). Em nota no jornal, o Sr. Caetano Gotuzzo assumiu por completo e sem sócios o estabelecimento em 1901, sendo assim seu único proprietário (Correio Mercantil, 07.12.1901, p. 4).

A família Gotuzzo ficou de proprietária do hotel por quase 20 anos, e trouxe muitas melhorias para o local, sempre realizando reformas e melhorias para melhor atender os seus hóspedes.

Em meados da década de 1920 já foram encontrados registros de outro proprietário do hotel, Jeronimo Del Grande. Chegado a cidade a pouco mais de 2 décadas, Jeronimo era proprietário, juntamente com seu irmão José Del Grande, do Hotel Brasil, outro estabelecimento hoteleiro de Pelotas muito conhecido. A família Del Grande possuía um conhecimento anterior da pratica hoteleira, fazendo com que o Aliança continuasse se destacando na hotelaria pelotense na primeira metade do século XX, principalmente nas três primeiras décadas, antes da inauguração do Grande Hotel.

Em nota no jornal Diário Popular, datada de 1943, a família Zabaleta, uma das mais influentes da época, adquire o Hotel Aliança, com Martin Zabaleta como proprietário. A nova

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gestão que se instalava no hotel seria de muito sucesso, pois ao comprar o mesmo, já começaram as reformas e novas instalações que seriam realizadas no Aliança, fazendo dele um dos mais populares estabelecimentos deste município (DIÁRIO POULAR, 15.01.43, p. 2).

Porém, no final da década de 1940 o hotel é arrendado por Altair Dantas (Entrevista de Débora Dantas Lahm), funcionando até 1968, quando é fechado e demolido para a construção de um edifício (DIÁRIO POPULAR, 11.08.1968, p. 1).

Abaixo podemos identificar dois anúncios do Hotel Aliança, um do século XIX (Figura 3), quando estava sob a propriedade da Companhia Prati, e o outro já do século XX (Figura 4), em que Caetano Gotuzzo já estava à frente do estabelecimento.

Figura 3: Anúncio Hotel Aliança do Século XIX. Fonte: Olhares sobre Pelotas.

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Reformas e Remodelações do Estabelecimento

Por ser um estabelecimento com grande movimentação de hóspedes e moradores de Pelotas, o Hotel sempre esteve se remodelando, passando por diversas reformas e melhorias, para disponibilizar cada vez mais um excelente serviço aos seus hóspedes. Durante o século XIX, as principais remodelações vieram com a gestão de Santyago Prati, mas foi quando Caetano Gotuzzo ficou à frente da gerencia do Aliança, que o mesmo realizou melhorias, tanto em relação a instalação de infraestrutura e equipamentos, quanto a reformas estruturais, que o fizeram ser o mais procurado desta região.

Em 1885 encontramos um anúncio que relata sobre a primeira reforma do hotel, o enunciado fala que o mesmo passou por completa reforma, disponibilizando quartos novos e aconchegantes para todas as famílias (DIÁRIO DE PELOTAS, 18.01.1885, p. 2). Até o ano de 1900, saíram algumas reportagens sobre o que de melhor foi realizado no hotel, entre as mudanças temos a implementação de campainhas em todos os quartos, para uma comunicação direta entre hóspede e funcionário (CORREIO MERCANTIL, 24.07.1888, p. 2); a inauguração do “salão nobre”, devido ao hotel sempre disponibilizar seu espaço para sediar as principais festas e reuniões da cidade (CORREIO MERCANTIL, 05.08.1888, p. 2); pintura das paredes do pátio principal do estabelecimento, realizadas por Ricardo Giovanini, renomado pintor a época (CORREIO MERCANTIL, 26.03.1889, p. 1); e o aumento do pátio e a implementação de mais quartos, devido a demanda de público (DIÁRIO POPULAR, 01.01.1893, p. 4).

Todas as reformas e aquisições do hotel no século XIX, contando com a remodelação total em 1889 foram importantes para que no século seguinte o mesmo continuasse em pleno funcionamento e ofertando os melhores serviços para todos os que o visitavam. Porém, as reformas seguiram sempre sendo realizadas e, nas primeiras décadas do século XX, temos um período de destaque no funcionamento do estabelecimento.

Em reportagens do jornal Diário Popular, vemos que a primeira mudança foi realizada em 1903, ocorrendo a revitalização e completa reforma do salão principal (DIÁRIO POPULAR, 03.07.1903, p. 2), seguido de um enunciado, onde é falado que o sobrado em que se encontra o hotel passará por inteira reforma (DIÁRIO POPULAR, 31.07.1908, p. 2). Durante os anos seguidos desta última reportagem evidenciamos a aquisição de campainhas elétricas em todos os cômodos (DIÁRIO POPULAR, 18.12.1908, p.1), a colocação de um combustor que geraria uma melhor iluminação no hotel (DIÁRIO POPULAR., 27.12.1908, p. 2), colocação de aparelhos telefônicos nos quartos, copa, escritório e “compartimento do

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porteiro” (DIÁRIO POPULAR, 04.09.1910, p. 2), troca dos móveis, entre elas a implementação de camas de ferro no lugar das de madeira (DIÁRIO POPULAR, 29.01.1911, p. 2), instalação de energia elétrica em todas as dependências do hotel (DIÁRIO POPULAR, 24.03.1912, p. 1), canalização própria de água e a expansão do prédio com a construção de novos banheiros, pintura dos quartos e aquisição de novos utensílios para a cozinha (DIÁRIO POPULAR, 03.03.1916, p. 1).

Durante esses quase 20 anos com a família Gotuzzo na direção do Hotel Aliança, notamos o quanto o estabelecimento passou por melhorias. Caetano Gotuzzo se disponibilizou ao máximo para um bom atendimento e serviços, implementando tudo de melhor que o hotel poderia oferecer. Evidenciamos que conforme Pelotas implantava melhorias de infraestrutura, o Hotel se modificava e seguia sempre em constante crescimento, juntamente com a cidade.

Depois da venda do Hotel para o Sr. Jerônimo Del Grande, não encontramos nenhuma informação de reforma ou melhoria realizada no estabelecimento por ele. Em 1943, a firma Martin Zabaleta adquiriu o Aliança, e logo após sai uma nota no Diário Popular sobre uma total remodelação, que diz:

Remodelação do Hotel Aliança – O “Hotel Aliança” um dos estabelecimentos tradicionais de Pelotas, é, no gênero, dos mais antigos do Estado, acaba de ser adquirido pela firma M. Zabaleta e Cia, que iniciou já, sua remodelação geral. Desde os salões de refeições até as dependências de almoxarifado, estão sendo pintadas e reformada, recaindo o principal cuidado dos proprietários nos quartos para hóspedes e na cozinha do estabelecimento que, não só será revestida em azulejos e mosaicos, em cores claras, como, também, recebera a instalação de um novo e moderno fogão, com capacidade para atender a grande clientela do antigo hotel. A firma Martin Zabaleta e Cia. está dando expansão a sua capacidade administrativa e espirito de organização, fazendo, assim, voltar com o “Hotel Aliança” nos tempos em que monopolizava a preferência dos que visitavam Pelotas. (DIÁRIO POPULAR, 15.01.43, p. 2).

Segundo a reportagem, notamos que o estabelecimento teve uma decaída de público com a gestão de Del Grande, pois, percebemos que o proprietário não se mobilizou e não realizou melhorias durante os seus anos à frente do Aliança, fazendo assim, com que o trabalho de Caetano fosse “perdido” e o hotel passasse por uma crise financeira e de demanda de público.

A partir da década de 1940, Martin Zabaleta assume o estabelecimento e já inicia sua jornada trazendo mudanças e melhorias, realizando uma total reforma no prédio, e fazendo, consequentemente, com que o Hotel Aliança voltasse aos seus “anos dourados”, sendo assim, devidamente nomeado, como o melhor hotel da cidade de Pelotas. Apesar do pouco tempo

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que a família ficou sob o comando do hotel, ela reergueu o Aliança, que funcionou por mais duas décadas.

Os Hóspedes do Hotel Aliança

Como já foi visto, o Hotel Aliança era o principal e mais moderno hotel da cidade de Pelotas, e com isso o estabelecimento recebia um número grande de visitantes, que vinham a cidade por diversas motivações, entre as principais temos a venda de seus produtos e/ou serviços, lazer, cultura, consultas médicas, forasteiros em viagem que se hospedavam a noite, e produtores da zona rural que vinham a serviço de venda e compra.

Segundo Müller (2004, p. 112) “os hóspedes são a razão de viver de um hotel, é para eles que o hotel se organiza. De acordo com o tipo de hóspede os serviços e as comodidades oferecidos são diferenciados, bem como as próprias condições do hotel.” Isto nos faz ter um entendimento sobre as acomodações do Hotel Aliança em seus determinados períodos.

No século XIX o estabelecimento recebia muitos hóspedes da zona rural, que vinham a Pelotas para vender os seus produtos. Deste modo o hotel possuía cocheiras para abrigar os cavalos e carroças dos viajantes. Como também disponibilizava cavalos e carros para aluguel (DIÁRIO DE PELOTAS, 08.04.1886, p. 4), um diferencial que agradava muito o seu público. No século XX era comum os jornais disponibilizarem em sua coluna social a lista de hóspedes que se hospedavam nos hotéis. O mais comum era o Hotel Aliança, que com todo seu glamour recebia todo tipo de pessoas, de pequenos comerciantes da zona rural até celebridades, personalidades políticas e as mais renomadas famílias. As listas apareciam da seguinte maneira:

HÓSPEDES Estão hospedados: - no “Hotel Alliança”: S. Ferreira Dias; José Marques; Manoel Peixoto; Rolando Rotta; José A. Amorety; Flavio J. Pereira Guimarães; Mario Erentinaglio; Juvenal A. da Silva; Arthur Crespo de Lemos; Ernesto Pradere; Alvaro Azevedo; Diurando Nascimento; dr. Guido C. do Nascimento. (DIÁRIO POPULAR, 03.01.1931, p. 4).

A partir da década de 1930, apareciam também nos jornais, as listas de hóspedes do Grande Hotel, devido aos dois hotéis serem os principais, e considerados estabelecimentos de primeira ordem em Pelotas. Nesses anos, o Aliança possuía o melhor serviço de hospedagem da cidade, todo reformado, contava com os melhores equipamentos e funcionamento, se destacando dentre os demais.

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Nas pesquisas realizadas na Biblioteca Pública de Pelotas, observamos e conseguimos traçar um perfil para os hóspedes do hotel. Dentre os principais, destacamos viajantes que se hospedavam temporadas para vender seus produtos, isso se deu também pelo fato do comércio pelotense estar em pleno desenvolvimento. Os anúncios mais comuns são: “Vende-se: dois armários grandes, próprios para armazém. Tratar: HOTEL ALIANÇA, Rua 15 – 666” (DIÁRIO POPULAR, 22.11.1945, p. 7); “Cozinheira: Família pequena precisa de uma para ir para fora. Tratar na gerência do Hotel Aliança” (DIÁRIO POPULAR, 13.04.1944, p. 7); “Vendedores: Necessitam-se de vendedores, com boa apresentação, para artigo de fácil colocação na praça. Tratar no Hotel Aliança, quarto nº 17” (DIÁRIO POPULAR, 11.04.1946, p. 7).

A partir destes anúncios, nota-se o desenvolvimento econômico em que Pelotas se encontrava na época, em função do comércio e da indústria, que são as principais atividades até os dias de hoje. Na entrevista da Débora, ela nos conta que ainda na segunda metade do século XX, os principais hóspedes eram estes. Também fala que haviam mensalistas, duas senhoras que moravam no hotel, estudantes que passavam temporadas, pessoas que vinham para consultas médicas e viajantes que se hospedavam por 1/2 noites, devido as estradas não serem de fácil acesso como atualmente.

Outra forte motivação que atraia pessoas para a cidade era o seu rico patrimônio cultural. Pelotas contava com diversos teatros, cinemas e reuniões sociais, juntando as principais famílias e pessoas da mais alta sociedade. O carnaval Pelotense era o mais famoso do estado, atraindo muitos turistas. Os hotéis serviam como salões de festas, entre eles temos o Grande Hotel, a partir da década de 1930, que segundo Echart (2015, p. 44), “bailes, chás, reuniões, todo o tipo de evento social era realizado em seus salões.”. E o Hotel Aliança que desde o século XIX sediava todo tipo de evento, que consequentemente, trazia um público diversificado. Vejamos um exemplo: “As 8 horas da noite realizou-se um banquete no salão principal do Hotel Alliança para os jogadores do Guarany Foot-ball Club. A mesa em forma de U era toda ornamentada com flores naturais. O cardápio foi irrepreensível” (DIÁRIO POPULAR, 05.05.1909, p. 1).

Considerações Finais

Ao longo da pesquisa evidenciamos o quanto que o Hotel Aliança foi importante para a cidade de Pelotas. Com mais de 100 anos de história, o estabelecimento sempre se manteve em constante desenvolvimento. Com uma rotatividade de proprietários, possibilitou realizar

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muitas reformas e melhorias no hotel, focadas em um ambiente agradável, disponibilizando os melhores serviços.

Percebe-se que durante o final do século XIX e início do século XX o estabelecimento realizou as suas principais remodelações e reformas, oferecendo os melhores serviços. A gestão de Caetano Gotuzzo foi uma das mais duradouras e mais importantes para o Aliança, pois no seu período, fez melhorias no hotel, tornando-o o melhor da cidade.

Sede de muitas reuniões e festas, o Aliança abrigou as mais diversas personalidades, sempre disponibilizando os melhores serviços. Sua arquitetura com traços europeus atraiu muitos visitantes, que se encantavam e aproveitavam o tempo no local.

Conclui-se, que o Hotel Aliança acompanhou o desenvolvimento da cidade de Pelotas, ao longo dos anos em que esteve em funcionamento. Passou por uma crise econômica na década de 1920 e 1930, mas se reergueu na década seguinte, permanecendo em funcionamento por mais 20 anos. O Hotel fechou suas portas em 1968 dando lugar a uma galeria com lojas e um prédio residencial de onze andares, com o mesmo nome da família. O Aliança foi um ícone para a cidade e marcou sua trajetória na hotelaria, principalmente na primeira metade do século XX, em que o hotel alcançou seu auge, oferecendo o melhor atendimento e os melhores serviços.

Referências

DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História Oral – Memória, Tempo, Identidades. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

ECHART, Liara. Um perfil para o hóspede do Grande Hotel de Pelotas (1980-1990). 2015. 104f. Monografia (Bacharelado em História) – Universidade Federal de Pelotas – UFPel, Pelotas, 2015.

MÜLLER, Dalila. A hotelaria em pelotas e sua relação com o desenvolvimento da região: 1843 a 1928. 2004. 158 f. Dissertação (Mestrado em Turismo) – Universidade de Caxias do Sul – UCS, Caxias do Sul, 2004.

Jornais O Pelotense, 03.05.1853, p. 4 Correio Mercantil, 08.10.1899, p. 6 Correio Mercantil, 07.12.1901, p. 4 DIÁRIO POULAR, 15.01.43, p. 2 DIÁRIO POPULAR, 11.08.1968, p. 1

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DIÁRIO DE PELOTAS, 18.01.1885, p. 2 CORREIO MERCANTIL, 24.07.1888, p. 2 CORREIO MERCANTIL, 05.08.1888, p. 2 CORREIO MERCANTIL, 26.03.1889, p. 1 DIÁRIO POPULAR, 01.01.1893, p. 4 DIÁRIO POPULAR, 03.07.1903, p. 2 DIÁRIO POPULAR, 31.07.1908, p. 2 DIÁRIO POPULAR, 18.12.1908, p.1 DIÁRIO POPULAR, 27.12.1908, p. 2 DIÁRIO POPULAR, 04.09.1910, p. 2 DIÁRIO POPULAR, 29.01.1911, p. 2 DIÁRIO POPULAR, 24.03.1912, p. 1 DIÁRIO POPULAR, 03.03.1916, p. 1 DIÁRIO POPULAR, 15.01.43, p. 2 DIÁRIO DE PELOTAS, 08.04.1886, p. 4 DIÁRIO POPULAR, 03.01.1931, p. 4 DIÁRIO POPULAR, 22.11.1945, p. 7 DIÁRIO POPULAR, 13.04.1944, p. 7 DIÁRIO POPULAR, 11.04.1946, p. 7 DIÁRIO POPULAR, 05.05.1909, p. 1

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