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Dados internacionais de catalogação Biblioteca Curt Nimuendajú

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Academic year: 2021

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Catalogação: Cleide de Albuquerque Moreira Bibliotecária/CRB 1100 Revisão final: Karla Bento de Carvalho Projeto Gráfico: Fernando Selleri Silva

UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso Coordenação do 3º Grau Indígena

Campus Universitário de Barra do Bugres Caixa Postal nº 92

78390-000 - Barra do Bugres/MT - Brasil Telefone: (65) 361-1964

indiobb@vspmail.com.br Dados internacionais de catalogação

Biblioteca “Curt Nimuendajú”

FUNAI - Fundação Nacional do Índio Departamento de Educação DEDOC - Departamento de Documentação

SEPS Q. 702/902 - Ed. Lex - 1º Andar 70390-025 - Brasília/DF - Brasil Telefone: (61) 313-3730/226-5128

dedoc@funai.gov.br

SEDUC/MT - Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso Superintendência de Desenvolvimento e Formação de

Professores na Educação

Travessa B, S/N - Centro Político Administrativo 78055-917 - Cuiabá/MT - Brasil

Telefone: (65) 613-1021

CADERNOS DE EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA - 3º GRAU INDÍGENA. Barra do Bugres: Unemat, v. 1, n. 1, 2002

-Semestral ISSN 1677-0277

1. Educação Escolar Indígena I. Universidade do Estado de Mato Grosso II. Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso III. Departamento de Documentação / FUNAI.

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A EDUCAÇÃO E A DIVERSIDADE CULTURAL

Francisca Novatino P. de Ângelo*

Para falarmos sobre a educação e a diversidade cul-tural, se faz necessário situarmos e reconhecermos os avan-ços na atualidade, partindo da escola civilizatória e catequizadora, até a conquista dos direitos constitucionais. Era um Estado “brasileiro-europeu” que pensava numa escola para índios, com a finalidade de “civilizar”, atra-vés da transmissão dos conhecimentos e dos valores da sociedade ocidental. Nesse contexto, as línguas indígenas foram consideradas importantes pelos colonizadores para esse processo, na tradução ou como meio de facilitar a catequização dos povos. Esse pensamento de acreditar que os povos indígenas eram seres humanos que atendiam a uma lógica de desenvolvimento biológico, ou seja, que as sociedades indígenas, sem escrita, são atrasadas, primiti-vas, que seguiriam uma evolução biológica até atingirem a civilização, atravessou séculos e trouxe grandes conseqü-ências e perdas irreparáveis para os ameríndios. Essa teo-ria fazia parte da política de colonização da época. Quantos povos desapareceram baseados nesse entendimento eurocêntrico? Fomos julgados, ao longo da história, como selvagens e primitivos, tratados a ferro e a fogo. Acostuma-ram-se a nos tratar como se fôssemos todos iguais, como

* Índia Paresi, Historiadora, Presidente do Conselho de Educação Escolar Indíge-na de Mato Grosso, Professora Auxiliar Indíge-na Etapa de Ciências Sociais I. Texto apresentado em palestra proferida durante o Congresso Brasileiro de Qualifica-ção na EducaQualifica-ção - FormaQualifica-ção Profissional, outubro de 2001.

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se não existisse a diferença entre os povos. Diante disso, surgiram variados tipos de preconceito, que justificaram o tratamento violento sofrido nesses séculos.

Daí surgiu o processo de escolarização, dentro de uma política indígenista integracionista, que estabeleceu, com os povos indígenas, relações com o Estado lusitano, numa prática de controle político e civilizatório, aliado ao proselitismo religioso dos missionários jesuítas.

A educação escolar foi utilizada como uma ferramenta de catequização, como aliada na discriminação e na visão ideológica do “índio”, que influenciou a formação do povo brasileiro. São construções ideológicas de desvalorização da imagem do outro, feitas pelo “branco europeu”, que fo-ram inseridas nos currículos escolares, e se perpetuafo-ram por muitos séculos, contribuindo para o massacre cultural dos povos.

Outra idéia era acreditar que o “índio” não tinha pas-sado histórico, conhecimento e até alma. Eram desconsideradas as narrativas históricas dos povos, relaci-onando-os há um tempo primitivo. A imposição do processo escolar entre os povos destruiu conhecimentos milenares, guardados na memória coletiva de cada povo e importantes para a humanidade. Por isso, muitos povos foram extintos e outros sobreviveram, mas perderam parte de elementos cul-turais como a língua e o território, porque foram obrigados a negar sua identidade para serem tratados como brasileiros. Desde esse tempo, fomos negados também na cons-trução da história deste país, tratados como gente de acor-do com a conveniência acor-dos europeus. Quanacor-do havia resis-tência por parte dos povos, a declaração de guerra justa contra estes era inevitável, tornando-se uma luta desigual. A educação escolar e o manual didático reforçou e difundiu essa tese no ensino público. Por muito tempo a educação

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escolar indígena permaneceu na responsabilidade de missi-onários de diversas ordens, apoiados pelo Estado brasileiro. No século passado, a SIL – Sociedade Internacional da Lingüística, instituição religiosa, que tinha a missão de educar os índios e salvar as suas almas, se utilizou das lín-guas indígenas para o convertimento religioso e civilizatório, através da imposição de adotar normas gramaticais e siste-mas de tradução das histórias bíblicas, siste-mas partindo dos valores, princípios e conceitos da sociedade ocidental. Mui-tos povos tiveram sua língua escrita, mas o preço pago por isso foi a conversão religiosa, descaracterizando a sua cul-tura. Dessa forma, surge o monitor bilingüe, um professor indígena, domesticado e submisso, criado para servir aos interesses da missão religiosa e na alfabetização da língua indígena, que somente serviria para a leitura da bíblia. Todo esse pensamento de “civilizar”, “integrar” os povos à socie-dade nacional, herança deixada pelos colonizadores, influ-enciou a visão do Estado, através da legislação e da política indígenista, criando uma tutela assistencialista de caráter dependente.

A partir da década de setenta, houve mudan-ças, nesse contexto, em nível internacional e nacional, com a mobilização e reorganização dos povos indígenas, apoia-dos por entidades e em colaboração com os demais seg-mentos. As relações dos povos indígenas, com a socieda-de civil, foram estabelecidas através da articulação entre as organizações não-governamentais, conquistando espaços sociais e políticos, contrariando as ações integracionistas do Estado brasileiro.

A escola passou a ser pensada dentro dos direitos humanos e sociais, foi reconhecida a diversidade cultural e as experiências sócio-políticas, lingüísticas e pedagógicas na valorização do saber tradicional dos povos.

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Reconhecen-do a educação comunitária Reconhecen-dos conhecimentos construíReconhecen-dos, ao longo destes séculos, dos processos próprios de apren-dizagem e a visão de mundo de cada povo. Alguns órgãos do Estado apoiaram e passaram a discutir a educação es-colar, dentro de uma nova visão de respeito à educação intercultural e de afirmação étnica. Os índios, numa neces-sidade de se apropriar dos conhecimentos da sociedade na-cional e para fazer valer esses direitos, se organizaram na busca da sua autodeterminação.

Na minha experiência como militante do movimento indígena, participar desse momento histórico de reconheci-mento da valorização da cultura indígena na Constituição brasileira foi valioso para a afirmação da identidade negada aos nossos antepassados. São conquistas que mostraram a nossa resistência a séculos de opressão, garantindo para as novas gerações um futuro promissor de liberdade. A par-tir daí, muitos povos surgiram do silêncio secular imposto. Sabemos que a luta continua num novo contexto, a educa-ção será um campo de novas conquistas, em busca da rea-lização do projeto coletivo de cada povo.

Neste cenário nacional de mudanças de paradigma sobre a educação escolar, os povos aprenderam a se orga-nizar e a reivindicar seus direitos de cidadania, reconhecen-do que, mesmo senreconhecen-do originários e nativos desta terra, na prática, a cidadania não existia. Os movimentos sociais fo-ram importantes na contribuição para a mobilização indíge-na e a sensibilização da consciência de setores da socieda-de brasileira. Surgiram várias entidasocieda-des que apoiaram e co-laboraram com os povos indígenas nesse momento de or-ganização e articulação dos espaços sociais e políticos com a sociedade civil.

No entanto, a experiência dessa história contribuiu imensamente na luta pelos nossos objetivos, a escola é

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nosso verdadeiro instrumento de consolidação dos direitos conquistados. Não basta apenas adquirir os conhecimen-tos, é necessário que seja garantida também a realização do projeto social para construirmos a escola indígena cida-dã. Um espaço importante para novas gerações com espíri-to crítico e participativo, que contemple a valorização da cul-tura indígena.

Esse é nosso grande desafio, diante das exigências da sociedade ocidental, sendo também desafio da escola pública dos não-indígenas para garantir um ensino de qua-lidade para todos e, ao mesmo tempo, respeitar a diversida-de regional, social e cultural. Trata-se diversida-de construir uma nova escola pública com a participação de seus beneficiários, com novas posturas na política educacional. Sabemos que a his-tória dos nossos antepassados, guardados na memória co-letiva de cada povo, será o alerta da experiência vivida pelo contato. Cada povo construirá sua própria escola indígena, baseada nessas experiências. Considerando as práticas pe-dagógicas e os conhecimentos adquiridos ao longo desse processo, estarão construindo a vida comunitária, em que a educação escolar se insere juntamente com a educação in-dígena, atendendo às necessidades de cada povo. Os sis-temas educativos indígenas são processos tradicionais de transmissão e aprendizagem de conhecimentos, nos quais os mestres são a família e o contexto social-cultural da co-munidade. A participação da comunidade na elaboração do planejamento curricular e político pedagógico requer a pre-sença da escola nesse processo, para congregar os proje-tos societários. Pois se trata de valorização da cultura, forta-lecimento da identidade e desenvolvimento sócio-econômi-co. Portanto, a verdadeira escola indígena será aquela pen-sada, elaborada e gerenciada pelo povo indígena. De acor-do com seus anseios, expectativas e moacor-dos de

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organiza-ção política e social, voltada para seu futuro. Sendo um pro-jeto coletivo, essa escola indígena específica e diferenciada será construída para efetivo exercício da cidadania e da au-tonomia. Para isso, as instituições públicas responsáveis devem centrar esforços para providenciar estratégias de par-ticipação, sob pena de cometer a negação dos direitos cons-titucionais.

No contexto atual, a sociedade nacional também tem o desafio de redefinir suas posturas, seus conceitos políti-cos e sociais, para garantir às minorias o direito à igualdade e à diferença.

Num país como o Brasil, pluricultural e multiétnico, mas marcado pela desigualdade social, corrigir os erros do passado requer uma tomada de decisões e mudanças nas ações governamentais e uma reflexão profunda na história brasileira. A educação pode ser um dos instrumentos peda-gógicos sociais para construir as relações interculturais, ba-seado no diálogo entre as culturas.

Os povos indígenas têm muito a contribuir na busca de um mundo melhor para a humanidade. É partindo da igual-dade, da diferença e da parceria que podemos criar o novo. Esse novo só poderá ser criado se a sociedade nacional oferecer a oportunidade aos povos de mostrarem a sua ca-pacidade e competência de gerenciar seu próprio destino. Enfim, trata-se de construir também novas concepções de entender o outro dentro da sua potencialidade individual e coletiva.

Concluo que a relação positiva entre educação e di-versidade cultural são fundamentais para as mudanças de políticas, de ações, de posturas e de idéias equivocadas que degeneram as sociedades. A educação tem o dever de educar e reeducar a sociedade para o convívio com a dife-rença entre as sociedades indígenas e a sociedade

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tal, mostrando as diferenças existentes entre as sociedades indígenas e também na própria sociedade ocidental. São considerações importantes que queremos como povo, cul-turalmente diferenciado, para o convívio com diálogo e com respeito mútuo.

Referências

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