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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ARTIGO 475-J DO CÓDIGO DE PROCESOO CIVIL: INOVAÇÕES E

DIVERGÊNCIAS

AUTOR

GUILHERME DIAS PAIVA

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ARTIGO 475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: INOVAÇÕES E

DIVERGÊNCIAS

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito Processual Civil. Por: Guilherme Dias Paiva.

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Agradeço a meus colegas de trabalho Romulo Almeida e Eduardo Rodrigues pelo suporte, bem como a meus empregadores, Geraldo Vianna e Rodrigo Pinheiro, pela oportunidade concedida para que eu pudesse cursar uma Pós-Graduação.

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Dedico este trabalho as duas mulheres que mais amo em minha vida: minha esposa, Priscila, e minha filhinha, Renata.

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RESUMO

O artigo 475-J do código de Processo Civil, trazido no bojo da Lei 11.232/2005, o qual prevê uma multa para o pagamento com atraso de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa, talvez seja um dos mais polêmicos de nosso ordenamento jurídico, tendo em vista as inúmeras formas de interpretá-lo, bem como as divergências doutrinárias e jurisprudenciais dele advindas. Dentre as controvérsias provenientes desse artigo, a doutrina ainda discute sua natureza jurídica, as formas dos magistrados aplicá-lo, o termo inicial para contagem do prazo nele previsto e seu cabimento em fase de execução provisória. Apesar do Superior Tribunal de Justiça já ter se manifestado com relação a alguns desses pontos, a matéria continua sendo amplamente discutida.

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METODOLOGIA

O presente trabalho constitui-se em uma descrição detalhada das características jurídicas do fenômeno em estudo bem como do tratamento conferido a cada uma delas pelo ordenamento jurídico nacional, tudo sob o ponto de vista específico do direito positivo brasileiro.

Para tanto, o estudo que ora se apresenta foi levado a efeito a partir do método da pesquisa bibliográfica, em que se buscou o conhecimento em diversos tipos de publicações, como livros e artigos em jornais, revistas e outros periódicos especializados, além de publicações oficiais da legislação e da jurisprudência.

Por outro lado, a pesquisa que resultou nesta monografia também foi empreendida através do método dogmático, porque teve como marco referencial e fundamento exclusivo a dogmática desenvolvida pelos estudiosos que já se debruçaram sobre o tema anteriormente, e positivista, porque buscou apenas identificar a realidade social em estudo e o tratamento jurídico a ela conferido, sob o ponto de vista específico do direito positivo brasileiro.

Adicionalmente, o estudo que resultou neste trabalho identifica-se, também, com o método da pesquisa aplicada, por pretender produzir conhecimento para aplicação prática, assim como com o método da pesquisa qualitativa, porque procurou entender a realidade a partir da interpretação e qualificação dos fenômenos estudados; identifica-se, ainda, com a pesquisa exploratória, porque buscou proporcionar maior conhecimento sobre a questão proposta, além da pesquisa descritiva, porque visou a obtenção de um resultado puramente descritivo, sem a pretensão de uma análise crítica do tema.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 8

CAPÍTULO I DA MULTA DO ARTIGO 475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL... 10

1.1 – DA NATUREZA DA MULTA... 11

1.2 – DA POSSIBILIDADE DE REDUÇÃO E AFASTAMENTO DA MULTA... 15

CAPÍTULO II DO MOMENTO DA INCIDÊNCIA DA MULTA... 19

2.1 – PRIMEIRO ENTENDIMENTO... 19 2.2 – SEGUNDO ENTENDIMENTO... 21 2.3 – TERCEIRO ENTENDIMENTO... 24 2.4 – QUARTO ENTENDIMENTO... 28 2.5 – QUINTO ENTENDIMENTO... 31 CAPÍTULO III DO CABIMENTO DA MULTA NA EXECUÇÃO PROVISÓRIA... 34

CONCLUSÃO... 39

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INTRODUÇÃO

O presente estudo tratou da análise do artigo 475-J do Código de Processo Civil, trazido pela Lei nº. 11.232/2005, o qual estipula uma multa para o atraso no pagamento voluntário da sentença condenatória ao pagamento de quantia certa.

Tal artigo trouxe inovações na fase de execução de sentença do processo civil brasileiro e, até hoje, doutrina e jurisprudência divergem quanto suas inúmeras formas de interpretação.

Em um primeiro momento, a presente pesquisa fez uma análise sistemática do artigo 475-J do Código de Processo Civil, com o estudo da natureza jurídica da multa por ele prevista, isto é, se trata-se de uma sanção processual ou material, além de determinar se a imposição dessa sanção é uma medida coercitiva ou punitiva ou híbrida.

Nesse primeiro momento, a pesquisa desse artigo trouxe ainda a apreciação da possibilidade de redução e, até mesmo, afastamento da multa por força de decisão judicial, o que não deixa de ser um desdobramento do estudo se sua natureza jurídica.

Em um segundo momento, a presente monografia expôs os diversos entendimentos, doutrinários e jurisprudenciais, no que tange ao termo inicial de contagem do prazo previsto no artigo 475-J do Código de Processo Civil para pagamento voluntário da sentença que condenou o réu ao pagamento de quantia certa.

Foram identificados neste estudo cinco entendimentos divergentes quanto ao momento em que se inicia a contagem do prazo de quinze dias para o cumprimento espontâneo da obrigação: do momento em que a sentença se torna exigível, do trânsito em julgado da condenação, da intimação pessoal do devedor,

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da intimação do patrono do devedor via diário oficial e da mera publicação da sentença.

Apesar do Superior Tribunal de Justiça já ter se pronunciado quanto a esse ponto, a matéria permanece controvertida tanto na doutrina quanto na jurisprudência.

Por fim, este trabalho trouxe à tona a discussão quanto a aplicação da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil em se tratando de execução provisória.

Da mesma forma que com relação ao termo de início da contagem do prazo para cumprimento voluntário da obrigação, o Superior Tribunal de Justiça já se posicionou com relação a esse assunto, porém, a matéria em torno do artigo 475-J do Código de Processo Civil está longe de se encontrar pacificada tanto na doutrina quanto na jurisprudência

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CAPÍTULO I

DA MULTA DO ARTIGO 475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Com o advento da Lei nº. 11.232/2005, uma das leis que compõem a recente reforma processual, relevantes modificações foram instituídas no Código de Processo Civil (CPC) brasileiro, principalmente no que tange ao processo de execução civil, em especial, o surgimento do artigo 475-J, objeto do presente estudo.

Somente para demonstrar o quão polêmica é essa Lei, doutrinadores se digladiam até mesmo para determinar a nomenclatura a ser utilizada na fase de execução da sentença condenatória de pagar quantia certa, como expõe Ronaldo Cramer (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p. 749/750):

A doutrina convencionou chamar de “cumprimento de sentença” a fase destinada à execução da sentença condenatória de pagar quantia certa. Preferíamos que se denominasse “fase de execução de sentença”, como, aliás, prevê o próprio art. 475-I do CPC, ao dizer que o cumprimento da sentença condenatória de pagar quantia certa é feito por execução. Não devemos reservar o termo “execução” tão-somente à atividade jurisdicional realizada no processo executivo. Execução é a atividade jurisdicional de cumprimento forçado, seja por medidas de sub-rogação, seja por medidas de coerção, de uma obrigação (ou de uma ordem). A atividade executiva não é exclusiva do processo de execução e pode ocorrer no curso ou numa fase de outro processo. Discordamos do conceito clássico de execução, cunhado por ENRICO TULLIO LIEBMAN e seguido por vários autores, como atividade tão-somente sub-rogatória. Essa concepção não se justifica, na medida em que o cumprimento da obrigação (ou da ordem), tanto por meios de sub-rogatórios quanto por meios coercitivos, é forçado e faz-se contra a vontade da parte. A nosso ver, o que caracteriza a execução é a imposição de uma conduta, contra a vontade da parte. A partir desse conceito mais amplo de execução, o cumprimento da sentença no prazo de 15 dias, sob pena de multa de 10%, deve ser considerado atividade executiva, e não um segmento processual anterior à atividade executiva, que só começaria a partir do requerimento de penhora.

Exposta essa curiosidade, volta-se ao objeto desta pesquisa, isto é, o artigo 475-J do Código de Processo Civil:

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Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.

Como se pode observar, apesar de sua aparente simplicidade, tal artigo traz diversas discussões e divergências, tanto doutrinárias quanto jurisprudenciais, as quais estão expostas, detalhadas e analisadas no corpo do presente estudo.

1.1 – DA NATUREZA DA MULTA

Neste primeiro momento, imperioso se faz o estudo da natureza da multa prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil.

Várias são as questões que envolvem as discussões doutrinárias acerca da natureza da multa em foco, podendo citar as seguintes: a multa trazida pelo artigo 475-J do Código de Processo Civil tem natureza de sanção processual ou material? Ela é uma medida coercitiva, punitiva ou híbrida?

Para corrente doutrinária que defende a natureza da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil como sendo sanção processual, seus fundamentos estão no fato de que há um valor fixo previsto na lei e para sua aplicação não é verificada a situação patrimonial do executado.

Nesse sentido, ensina Duval Vianna (VIANNA, 2007, p. 70):

A multa tem a natureza de sanção processual. Não tem caráter de ressarcimento ao credor (este é ressarcido com a imposição de juros moratórios). O devedor que deixa de observar, voluntariamente, uma imposição legal que tem por fim abreviar o cumprimento da sentença, atenta contra o interesse público de rápida distribuição de justiça. Existe o dever das partes de “cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final” (CPC, art. 14, V). Logo, abusa do direito de litigar. Entretanto, o ilícito processual pressupõe o dolo e a fraude processuais.

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Para a corrente contrária, a qual entende que a multa do artigo 475-J do Código de Processo civil tem natureza de sanção material, esta não visa penalizar o inadimplemento, mas a mora do réu em cumprir a sentença (ou pagar o autor).

Diz o artigo 394, do Código Civil brasileiro:

Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Para esta parte da doutrina, o objetivo da multa ora estudada é simplesmente punir o réu que não paga o autor dentro do prazo estabelecido. Logo, se o réu, seja por mera liberalidade ou por impossibilidade, pagar o autor depois do prazo legal, pagará também a multa.

Seguindo este entendimento, explica Fernão Borba Franco (FRANCO. In: CIANCI e outros, 2007, p. 228/229):

É uma pena imposta para o caso de descumprimento de uma obrigação imposta pelo Estado à parte no processo, condenada ao pagamento de quantia certa: a parte tem a obrigação de efetuar o pagamento voluntariamente, sob pena de incidência de multa. Essa obrigação decorre da sujeição aos atos do Estado que, relembre-se, exerce poder, isto é, tem capacidade de determinar atitudes e impor seu cumprimento. A estranheza que o dispositivo traz decorre, simplesmente, do falta de costume; a falta de cumprimento das decisões judiciais é, entre nós, uma atitude comum, e a imposição de penas pelo descumprimento dessa obrigação é uma novidade da reforma. Aliás, se pensarmos, como é correto, em ato jurisdicional como ato do Estado, a comparação com o descumprimento de outros deveres relacionados com o Estado é fácil: se não é feito o pagamento de um tributo, incide multa; se o particular não atende a uma ordem administrativa (por exemplo, de retirar um anúncio irregular, ou de cessar atividade não permitida no local), incide multa; se o particular infringe o regulamento de trânsito, incide multa, e assim por diante.

Com relação ao debate sobre a multa do artigo 475-J do Código de Processo civil ser uma medida coercitiva, punitiva ou, até mesmo, híbrida, esta pesquisa analisa, neste momento, o seguimento doutrinário que a trata como pena (medida coercitiva), isto é, aplica-se tal multa pelo descumprimento de uma

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decisão judicial que impõe o pagamento de quantia certa, não se confundindo com os meios coercitivos utilizados em execução indireta.

A título de ilustração, como exemplo de meio coercitivo utilizado em execução indireta, podemos citar o parágrafo 5º, do artigo 461, do Código de Processo Civil:

§ 5º. Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.

Para esta corrente, pela multa ser medida punitiva, deverá ser encarada como uma sanção pecuniária pelo não pagamento, dentro do prazo de 15 (quinze) dias estipulado pelo artigo 475-J do Código de Processo Civil, da quantia constante da sentença.

O fato de a incidência da multa ser automática, isto é, decorrer da lei e não da vontade do juiz, configura seu caráter punitivo.

Tal linha de pensamento é adotada por Ronaldo Cramer, que esclarece (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p. 764/765):

Não vemos a multa de 10% como uma modalidade de astreinte, porque essa espécie de multa é própria da execução por coerção, em que o cumprimento da sentença depende da vontade do réu, cabendo ao Estado tão somente estimular a manifestação dessa vontade por meio de medidas coercitivas. Como a sistemática dos arts. 475-J e seguintes do CPC instaura uma execução por sub-rogação, não tem sentido a adoção de medidas coercitivas, pois o Estado pode, sem o concurso de vontade do réu, expropriar o patrimônio deste e pagar o autor.

Neste diapasão, inclusive, há reiterados julgados do Superior Tribunal de Justiça (STJ) não aceitando a adoção de medidas coercitivas para a execução de obrigação de pagar quantia certa, como o entendimento abaixo transcrito da 1ª Turma:

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Todavia, não se pode confundir multa diária (astreintes), com bloqueio ou seqüestro de verbas públicas. A multa é meio executivo de coação, não aplicável a obrigações de pagar quantia, que atua sobre a vontade do demandado a fim de compeli-lo a satisfazer, ele próprio, a obrigação decorrente da decisão judicial. Já o seqüestro (ou bloqueio) de dinheiro é meio executivo de sub-rogação, adequado à obrigação de pagar quantia, por meio do qual o Judiciário obtém diretamente a satisfação da obrigação, independentemente de participação e, portanto, da vontade do obrigado (STJ; 1ª Turma; Relator: Ministro Teori Albino Zavascki; REsp 784.188/RS; DJ 14/11/2005.

Disponível em:

http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizaca o=RESUMO&processo=784188&b=ACOR. Acesso em 12/07/2010).

Acompanhado pela 2ª Turma do respectivo tribunal:

No entanto, na hipótese de obrigação de pagar quantia certa, predomina no STJ o entendimento de que “a multa é meio executivo de coação, não aplicável a obrigação de pagar quantia, que atua sobre a vontade do demandado a fim de compeli-lo a satisfazer, ele próprio, a obrigação decorrente da decisão judicial. [...] Em se tratando da Fazenda Pública, qualquer obrigação de pagar quantia, ainda que decorrente da conversão de obrigação de fazer ou de entregar coisa, está sujeita a rito próprio” (STJ; 2ª Turma; Relator: Ministro João Otávio de Noronha; REsp 371.004/RS; DJ 06/04/2006. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=3710 04&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=1. Acesso em 12/07/2010).

Pela segunda corrente, a multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil é coercitiva, devendo ser analisada unicamente como um incentivo para o réu cumprir, naquele exato momento processual, a sentença.

Ronaldo Cramer cita Luiz Rodrigues Wambier, Teresa Arruda Alvim Wambier, José Miguel Garcia Medina e Cassio Scarpinella Bueno como doutrinadores que entendem a multa de 10% como sendo medida coercitiva (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p. 763).

Por último, há uma terceira corrente doutrinária que classifica a multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil como uma medida híbrida, isto é, que mescla a técnica de execução indireta (coercitiva), a qual leva em consideração a vontade do devedor, com a técnica de execução por sub-rogação (punitiva), onde há abstração total da vontade do obrigado.

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Pelo entendimento adotado por esta terceira corrente, em um primeiro momento o devedor se verá constrangido a efetuar o pagamento do débito reconhecido por sentença, constrangimento esse operado pela incidência da multa de 10% do valor do débito na hipótese de não cumprir ele voluntariamente o julgado. Caso esse meio coercitivo não seja suficiente, em um segundo momento, configurado pela falta do pagamento, o credor poderá pleitear o início da execução por sub-rogação, cujo objeto será majorado para incluir o valor da multa.

Pelo exposto até o presente momento, percebe-se que o entendimento doutrinário majoritário interpreta a multa do artigo 465-J do Código de Processo Civil como sendo uma medida punitiva, tendo natureza de sanção material, pois visa simplesmente punir o réu que não pagou o débito reconhecido em sentença dentro do prazo.

1.2 – DA POSSIBILIDADE DE REDUÇÃO E AFASTAMENTO DA MULTA

Nesta ocasião, o presente estudo trata de mais um ponto controvertido na interpretação do artigo 475-J do Código de Processo Civil, decorrente da discussão sobre sua natureza, qual seja, da possibilidade de redução ou, até mesmo, não aplicação da multa em tela por decisão judicial.

O primeiro entendimento acerca deste assunto defende que, apesar de a aplicação da multa de 10% ser automática e o juiz não poder alterar seu valor, essa regra comporta exceções, decorrentes da natureza moratória da multa

Para tanto, tal corrente se utiliza do previsto no artigo 413 do código Civil, aplicando tal regra em qualquer tipo de multa, seja de direito material, seja de direito processual:

Art. 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.

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Ronaldo Cramer defende tal entendimento, apontando ainda Marcelo Abelha Rodrigues, Luiz Rodrigues Wambier, Teresa Arruda Alvim Wambier e José Miguel Augusto (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p. 767):

Vemos no art. 413 do Código Civil, mutatis mutandis, o fundamento para o juiz reduzir ou, até mesmo, afastar a multa de 10%, nas hipóteses de seu valor ser manifestamente excessivo ou ser impossível para o réu pagar o autor. Nesse último caso, seria absurdo aplicar a multa, se se constatasse a impossibilidade de o réu cumprir a sentença por fato alheio à sua vontade, como, por exemplo, não ter patrimônio para pagar o autor.

Ainda com base no artigo 413 do Código Civil, tal autor não admite a hipótese de majoração da multa de 10% prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil, alegando que “como prevê exceções à regra de que a multa moratória não pode ser alterada pelo juiz, o art. 413 do Código Civil não pode ser interpretado extensivamente” (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p. 767).

Já para corrente doutrinária avessa ao entendimento anteriormente exposto, o dispositivo legal que institui a multa de 10% no caso de descumprimento da obrigação de pagar quantia certa não permite expressamente ao juiz qualquer liberdade no tocante à incidência ou mudança no valor dessa multa, ressalvado o exposto no parágrafo 4º, do artigo 475-J, do Código de Processo Civil (pagamento voluntário parcial):

§ 4º. Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput deste artigo, a multa de 10% incidirá sobre o restante.

Nesse sentido, Humberto Theodoro Júnior disserta (JÚNIOR, 2007, p. 143):

Havendo pagamento parcial no referido prazo, a multa do art. J, caput, incidirá sobre o saldo remanescente (art. 475-J, § 4º). Trata-se de multa única, que não se amplia em razão do tempo de atraso, diversamente do que acontece com as astreintes.

Araken de Assis, seguidor desta segunda corrente, é categórico ao afirmar (ASSIS, 2010, p. 213):

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Não há qualquer discrição judicial na fixação da multa ou na respectiva incidência. Ocorrendo o inadimplemento, haja ou não patrimônio penhorável e recursos financeiros disponíveis, o executado sofrerá a sanção prevista no art.475-J.

Seguido esta linha de pensamento, Fernão Borba Franco fundamenta sua discordância face à primeira corrente doutrinária analisada anteriormente justamente com relação à natureza da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil (FRANCO. In: CIANCI e outros, 2007, p. 231):

Fosse ela multa coercitiva (sanção processual), como são as astreintes, seria naturalmente possível a adequação de seu valor ou mesmo ponderação a respeito de sua eficácia como meio coercitivo para impor o pagamento do débito. Não se trata disso, entretanto, e essa adequação é impossível, porque a multa é, como acima determinado, punitiva, uma sanção material, que incide pela simples ocorrência do fato previsto em lei.

Esta corrente doutrinária refuta, ainda, o entendimento daqueles que defendem a aplicação do Princípio da Menor Onerosidade da Execução para impedir a incidência da multa caso não haja patrimônio disponível para o pagamento do valo devido, princípio este previsto no artigo 620 do Código de Processo Civil:

Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor.

A justificativa para a não adoção do Princípio da Menor Onerosidade da Execução para afastar a multa de 10% prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil é a de que tal princípio não prevalece sobre o Princípio da Efetividade do Processo, através do qual se garante a satisfação da parte credora através de uma prestação jurisdicional efetiva.

Por fim, com relação à impossibilidade do credor obter a satisfação patrimonial do crédito, ou em virtude de sequer o devedor possuir patrimônio, ou porque não há patrimônio disponível, Fernão Borba Franco conclui da seguinte forma (FRANCO. In: CIANCI e outros, 2007, p. 234):

A conseqüência ao devedor é mais grave que a simples incidência de uma multa: estará ele sujeito à falência, se

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comerciante, ou à insolvência civil. Não há, portanto, como impedir a incidência da multa se o devedor não tem patrimônio disponível para arcar com o débito que lhe incumbe.

Pelo apresentado, apesar de respeitável parte da doutrina admitir que a multa prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil pode ser reduzida e, até mesmo, afastada em sua integralidade em virtude de decisão judicial, o que se constata é que a maioria dos doutrinadores adota o entendimento de que a multa ora estudada é imutável, bastando para sua incidência o não cumprimento voluntário do pagamento dentro do prazo estipulado em lei, não importando a situação patrimonial do devedor, tendo em vista sua natureza de sanção material, isto é, por tratar-se de uma medida punitiva.

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CAPÍTULO II

DO MOMENTO DA INCIDÊNCIA DA MULTA

Uma dos pontos mais controvertidos trazidos pelo artigo 475-J do Código de Processo Civil é o termo inicial para a contagem do prazo de quinze dias para pagamento voluntário da sentença condenatória de pagar quantia certa, isto é, quando tal prazo começa a correr?

Tal divergência se dá em virtude do artigo em questão ser abstrato com relação ao momento em que a contagem do prazo nele previsto se inicia, dando margem a diversas interpretações, conforme se verifica no ponto abaixo destacado:

Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao

pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o

efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.

Diversos são os entendimentos doutrinários acerca do assunto e, apesar de algumas Turmas do Superior Tribunal de Justiça já terem se pronunciado sobre essa questão, a jurisprudência também está longe de se encontrar pacificada.

Nesse segundo capítulo, o presente estudo traz as diversas correntes doutrinárias e jurisprudenciais, expondo suas razões, críticas e conclusões, como agora se verifica.

2.1 – PRIMEIRO ENTENDIMENTO

Segundo esta primeira corrente, o prazo de quinze dias flui a partir do momento em que a sentença se torna exigível, ou porque ocorreu seu trânsito em julgado, ou porque contra ela foi interposto recurso sem efeito suspensivo.

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Ronaldo Cramer, ao analisar tal corrente, explica (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p.753):

Essa corrente argumenta que a Lei n. 11.232/2005 veio para desburocratizar a execução da sentença condenatória de pagar quantia certa e que essa execução deve ser feita sem intervalo. Sem intervalo significa que a execução da sentença não depende da iniciativa do autor ou da prática de nenhum ato processual, devendo ser automática e imediata. Por isso, o prazo de 15 dias deve começar a correr a partir do momento em que a sentença se tornar simplesmente exigível.

Para Araken de Assis, adepto desta corrente, o fundamento de tal entendimento encontra-se na própria redação do artigo 475-J do Código de Processo Civil (ASSIS, 2010, p. 213):

É o que se extrai da locução “condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação” (art. 475-J, caput). Aliás, o emprego da palavra “condenado” revela, a salvo de dúvidas, que a fórmula analítica do art. 475-N, I, contempla, na verdade, a condenação...

Somente a título de instrução, reza o artigo 475-N, inciso I, do Código de Processo Civil:

Art. 475-N. São títulos executivos judiciais:

I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;

Araken de Assis vai além ao desenvolver seu raciocínio (ASSIS, 2010, p. 214):

O prazo flui de modo automático, tão logo a condenação se torne exigível, concebendo-se duas hipóteses: (a) o provimento judicial individualiza o valor devido, ministrando todos os dados necessários ao simples cálculo aritmético; (b) o provimento judicial é genérico, reclamando liquidação, motivo por que o prazo fluirá da decisão que fixar o valor (in illiquidis mora non fit).

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Esse entendimento integra a própria concepção da reforma. A fluência automática do prazo exibe duplo objetivo: de um lado, estimula o cumprimento espontâneo do comando judiciário; de outro, evita a instauração e o desenvolvimento da própria execução.

A crítica a esta corrente está nas distorções que podem ser geradas por este entendimento, bem como nas dificuldades impostas ao réu no cumprimento da sentença, como exemplifica Ronaldo Cramer (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p.753/754):

Se o prazo do caput do art. 475-J do CPC se conta a partir da mera exigibilidade da sentença, o réu, para afastar a aplicação da multa de 10%, deverá pagar o autor até 15 dias da publicação do acórdão da apelação. Isso porque, salvo quando cabem embargos infringentes, o acórdão que condenou o réu a pagar o autor é exigível a partir de sua publicação, pois está sujeito a recurso extraordinário ou recurso especial, que, como se sabe, não têm efeito suspensivo. Logo, a partir da simples publicação do acórdão da apelação, a sentença já será exigível e o réu deverá cumpri-la, sob pena de sofrer a multa de 10%.

O cerne desta crítica está no prejuízo à defesa do réu, que terá que satisfazer o crédito do autor antes mesmo do processo acabar, quando ainda há a possibilidade de interposição de recursos.

2.2 – SEGUNDO ENTENDIMENTO

Para este segundo seguimento doutrinário, o prazo legal para cumprimento voluntário da condenação pelo devedor começa a correr somente a partir do trânsito em julgado da sentença, e não do momento em que a condenação se torna exigível.

Sendo um dos aderentes a esta corrente doutrinária, Humberto Theodoro Júnior defende que “a sentença condenatória líquida, ou a decisão de liquidação da condenação genérica, abrem, por si só, o prazo de 15 dias para o pagamento do valor da prestação devida” (JÚNIOR, 2007, p. 145).

O supracitado autor conclui seu raciocínio da seguinte forma (JÚNIOR, 2007, p. 145):

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É do trânsito em julgado que se conta dito prazo, pois é daí que a sentença se torna exeqüível. Se, porém, o recurso pendente não tiver efeito suspensivo, e, por isso, for cabível a execução provisória, o credor poderá requerê-la com as cautelas respectivas, sem, entretanto, exigir a multa. Se o trânsito em julgado ocorre em instância superior (em grau de recurso), enquanto os autos não baixarem à instância de origem, o prazo de 15 dias não correrá, por embaraço judicial. Será contado a partir da intimação às partes, da chegada do processo ao juízo da causa.

Outro partidário deste entendimento, seguindo a mesma linha de raciocínio de Humberto Theodoro Júnior, Duval Vianna explica qual o dies a quo do prazo, sendo líquida a sentença, para o seu cumprimento voluntário (VIANNA, 2007, p. 69/70):

Se o devedor não recorreu da sentença, conta-se do trânsito em julgado. Se recorreu, do retorno dos autos à vara de origem, ocasião em que o juiz, costumeiramente, despacha o “cumpra-se”. Da publicação deste despacho, ou de outro dando conta do retorno dos autos, conta-se o prazo.

Somente a título de exemplo prático, os Juizados Especiais do Estado do Rio de Janeiros adotam este entendimento para determinar qual o termo inicial do prazo para cumprimento da sentença, conforme se pode observar no destaque do julgado abaixo transcrito do II Juizado Especial Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro:

Em face de todo o exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO e (1) condeno a parte ré ao pagamento, a título de indenização por danos morais, em favor do primeiro autor, do valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) devidamente corrigido a contar desta decisão e acrescido de juros de mora na taxa de 1% (um por cento) ao mês a partir da citação, devendo o

valor ser pago em 15 dias a contar do trânsito em julgado desta decisão, na forma do artigo 475 J do CPC c/c Enunciado 08 do VIII Encontro de Juízes de Juizados e Turma Recursal publicado pelo aviso 36/06, (2) declaro a inexistência

do débito em nome da parte autora, bem como determino o cancelamento das cobranças. Sem ônus sucumbênciais em razão do art. 55 da Lei 9.099/95. Após o trânsito em julgado da presente, dê-se baixa e arquive-se (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro; II Juizado Especial Cível; Juíza Paula Regina Adorno Cossa; Processo nº. 2009.001.281943-4; DJ 17/05/2010.

Disponível em:

http://srv85.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/popdespacho.jsp?ti poato=Descri%E7%E3o&numMov=5&descMov=Senten%E7a. Acesso em 14/07/2010).

(23)

Assim como a decisão emanada do VII Juizado Especial Cível do respectivo Tribunal, conforme destaque abaixo:

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES EM PARTE OS PEDIDOS para: 1) Condenar o réu a devolver à parte autora, já com a dobra legal, o valor de R$ 5.964,00 (cinco mil novecentos e sessenta e quatro reais) referente ao desconto que foi indevidamente realizado, com juros de 1% ao mês desde a citação e atualizadas monetariamente a contar do desconto; 2) condenar o réu a indenizar a parte autora pelos danos morais sofridos, no valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), acrescidos de juros legais de 1% (um por cento) ao mês, desde a citação, e de correção monetária, a partir da data designada para leitura de sentença; 3) tornar definitiva a tutela antecipada deferida às fls. 29; 4) declaro a inexistência de relação jurídica entre as partes correlata ao contrato nº 502670751-2. Fica a ré ciente,

desde já, de que o não pagamento do valor da condenação no prazo de quinze dias após o trânsito em julgado da sentença acarretará, nos termos do artigo 475-J do Código de Processo Civil, a incidência de multa de 10% sobre tal valor,

independentemente de nova intimação. Sem custas e honorários, nos termos do artigo 55 da Lei nº 9.099/95 (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro; VII Juizado Especial Cível; Juíza Márcia da Silva Ribeiro; Processo nº. 2009.001.075718-8; DJ 13/11/2009.

Disponível em:

http://srv85.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/popdespacho.jsp?ti poato=Descri%E7%E3o&numMov=6&descMov=Senten%E7a. Acesso em 15/07/2010).

Bem como destacado na decisão proferida pelo XXVII Juizado Especial Civil deste Tribunal:

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO, com fulcro no artigo 269, I do Código de Processo Civil para: 1) declarar rescindido o contrato de telefonia firmado entre a autora e a ré, vinculado à linha de número 21-7833-6997, sem qualquer ônus para a autora; 2) condenar a ré a refaturar as contas em nome da autora e vinculadas à linha acima citada, a partir de outubro de 2008 até dezembro de 2008, tomando por base o plano anterior do qual a autora era titular no valor mensal de R$ 134,85, no prazo máximo de 30 dias, a contar da publicação da presente sentença, sob pena de inexigibilidade definitiva do crédito; 3) condenar a ré a pagar à autora o valor de R$ 2.500,00, a título de indenização por dano moral, corrigido monetariamente e acrescido de juros de 1% (um por cento) ao mês, a partir da publicação da presente decisão. Determino ao Cartório a expedição de ofício ao SPC e SERASA para que excluam o nome da autora de seus cadastros, relativo ao aponte efetuado pela ré, devendo o ofício ser instruído com cópia de fls. 41. Sem custas nem honorários, na forma do art.55 da Lei 9.099/95. A parte ré fica ciente de que deverá depositar a quantia

(24)

acima fixada, referente à condenação em pagar quantia certa, no prazo de 15 dias após o trânsito em julgado, sob pena da multa de 10%, prevista no artigo 475-J do CPC, nos termos do Enunciado Jurídico 13.9.1 do Aviso 23/2008 (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro; XXVII Juizado Especial Cível; Juíza Márcia da Silva Ribeiro; Processo nº. 2009.001.043914-2; DJ 02/02/2010.

Disponível em:

http://srv85.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/popdespacho.jsp?ti poato=Descri%E7%E3o&numMov=2&descMov=Senten%E7a. Acesso em 15/07/2010).

Com relação a este entendimento, o qual fixa o termo inicial do prazo de quinze dias no momento em que o provimento exeqüível transita em julgado, Araken de Assis se manifesta, no que tange a execução provisória, da seguinte forma (ASSIS, 2010, p. 215/216):

Em conseqüência, a multa de dez por cento só incidirá na execução definitiva. Uma variante admite a incidência da multa na execução provisória, mas exige a intimação do executado do respectivo início. Ora, não há motivo plausível para excluir a multa da execução provisória; ao contrário, a tese ofende o art. 475-O, caput, segundo o qual essa execução “far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva”. A cláusula “no que couber” alude a alguma disposição expressa em contrário e, no caso, regra desse teor obviamente não existe.

Ressalta-se que o estudo da aplicabilidade da multa de dez por cento, prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil, com relação a execução provisória, está exposta em capítulo posterior desta pesquisa.

2.3 – TERCEIRO ENTENDIMENTO

Já esta terceira corrente de interpretação do início da contagem do prazo previsto no artigo 475-J do Código de Processo Civil entende que há necessidade de intimação pessoal do devedor para fluência de tal prazo.

A justificativa deste entendimento é esclarecida por Ronaldo Cramer (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p.756):

Argumenta essa corrente que o pagamento do autor é um ato da parte, para o qual não se exige capacidade postulatória, e, por esse motivo, o réu deveria ser intimado pessoalmente. Acrescenta que, para excepcionar essa lógica, o caput do art. 475-J do CPC deveria ter previsto, como fez no § 1º do mesmo

(25)

dispositivo, a intimação do réu por intermédio de seu advogado. E, se não o fez, o termo inicial do prazo de 15 dias constitui a intimação pessoal do réu.

Nesse momento, faz-se necessário expor o que determina o parágrafo 1º do artigo 475-J do Código de Processo Civil:

§ 1º. Do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado, na pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237), ou, na falta deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze dias.

Defende esta corrente que, por ser o cumprimento da obrigação um ato da parte, o qual não depende de advogado, deveria haver expressa exceção no caput do artigo 475-J do Código de Processo Civil, o que não existe, motivo pelo qual não se pode exigir do advogado seu cumprimento.

Ronaldo Cramer cita como partidários desta corrente renomados doutrinadores, tais como: Luiz Rodrigues Wambier, Teresa Arruda Alvim Wambier, José Miguel Garcia Medina, Sérgio Shimura, Marcelo Abelha Rodrigues e, por fim, Alexandre Freitas Câmara (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p.756).

A crítica a este entendimento está no fato da exigência da intimação pessoal do réu inviabilizar os objetivos da Lei nº. 11.232/2005, que extinguiu a necessidade de processo autônomo para execução de sentença condenatória de pagar quantia certa, tornando tal intimação menos célere a execução.

Ronaldo Cramer, em seu estudo sobre assunto, conclui (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p.756):

A despeito de acharmos coerente considerar que a parte deve ser intimada pessoalmente para os atos que ela deve praticar, cremos que não se faz nenhuma reforma científica, do tamanho da reforma pretendida pela Lei n. 11.232/2005, sem quebrar paradigmas. E, para atingir o verdadeiro propósito do legislador, não vemos nenhum problema, científico ou prático, de dispensar a intimação pessoal do réu para cumprir a sentença. Do contrário, só na teoria teremos extinguido a actio iudicati.

(26)

Da mesma forma, Araken de Assis discorda deste entendimento, alegando que “apesar da argumentação veemente, a tese rejeita o art. 475-J, caput, no seu ponto capital: a desnecessidade de citação do executado, porque adota, ao fim e ao cabo, providência similar e sem previsão legal” (ASSIS, 2010, p. 216/217).

Além disso, o supramencionado autor ataca de forma enérgica a forma como outros autores abordam o tema (ASSIS, 2010, p. 217):

Revela a franca rebeldia ao preceito do art. 475-J, caput, a imensa improvisação que preside o retalhamento das leis processuais brasileiras. Nenhuma discussão autêntica e prévia ocorre, na realidade, acerca do alcance das regras propostas. Às vezes, concebem-se soluções para problemas menores ao sabor de inspiração súbita ou no curso de alguma noite insone. Limitam-se os respectivos autores à mútua troca de impressões, freqüentemente alheias à realidade e comprometidas por décadas de trabalho unicamente acadêmico. É preciso consultar mais do que formalmente os destinatários e aplicadores da Lei – juízes e advogados militantes. Fora daí, aguarde-se o próximo remendo legislativo, sem o devido mea culpa, ou o enorme desperdício de tempo e esforços até o STJ firmar posição num ou noutro sentido.

Salvo decisões isoladas de alguns Tribunais, tal questão parece estar pacificada no sentido contrário ao defendido pela corrente ora estudada, conforme se depreende da decisão emanada pela 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça:

LEI 11.232/2005. ARTIGO 475-J, CPC. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. MULTA. TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO DA PARTE VENCIDA. DESNECESSIDADE. 1. A intimação da sentença que condena ao pagamento de quantia certa consuma-se mediante publicação, pelos meios ordinários, afim de que tenha início o prazo recursal. Desnecessária a intimação pessoal do devedor. 2. Transitada em julgado a sentença condenatória, não é necessário que a parte vencida, pessoalmente ou por seu advogado, seja intimada para cumpri-la. 3. Cabe ao vencido cumprir espontaneamente a obrigação, em quinze dias, sob pena de ver a sua dívida automaticamente acrescida de 10% (STJ; 3ª Turma; Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros; REsp 954.859/RS; DJ 27/08/2007. Disponível em:

https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sLink =ATC&sSeq=3314068&sReg=200701192252&sData=20070827& sTipo=5&formato=PDF. Acesso em 16/07/2010).

(27)

Reiterada posteriormente pela mesma Turma:

PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – EXECUÇÃO – FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – MULTA DE 10% PREVISTA NO ART. 475-J DO CPC – PRAZO DE 15 DIAS PARA O PAGAMENTO – DESNECESSIDADE DE INTIMAÇÃO. É desnecessária a intimação do devedor para efetuar o pagamento da multa de 10% (dez por cento) prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil, pois é medida incompatível com a celeridade que buscou-se dar à fase de cumprimento de sentença, iniciando-se o prazo de 15 (quinze) dias com o trânsito em julgado da sentença condenatória. Agravo regimental improvido (STJ; 3ª Turma; Relator: Ministro Sidnei Beneti; AgRg no REsp 1.057.285/RJ; DJ 12/12/2008. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sLink =ATC&sSeq=4420030&sReg=200801030879&sData=20081212& sTipo=5&formato=PDF. Acesso em 16/07/2010).

Bem como pela 4ª Turma:

PROCESSUAL CIVIL. PUBLICAÇÃO EM NOME DE UM DOS ADVOGADOS CONSTITUÍDOS. INTIMAÇÃO VÁLIDA. MULTA DO ART. 475-J. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INTIMAÇÃO PESSOAL. DESNECESSIDADE. ENTENDIMENTO PACIFICADO PELAS TURMAS DA PRIMEIRA E DA SEGUNDA SEÇÃO DO STJ. SÚMULA N. 83/STJ. INCIDÊNCIA. EXCESSO DE EXECUÇÃO E COISA JULGADA. APLICAÇÃO DA S. 7/STJ. REGIMENTAL IMPROVIDO. I. É válida a intimação realizada em nome de um dos advogados constituídos pela parte. II. Segundo entendimento pacificado nesta Corte, no cumprimento de sentença, a aplicação da multa prevista no art. 475-J do CPC independe de intimação pessoal de devedor. III. Definido o valor patrimonial da ação em sentença transitada em julgado, ocorre coisa julgada material, incabível de revisão em recurso especial. IV. Agravo regimental improvido (STJ; 4ª Turma; Relator: Ministro Aldir Passarinho Júnior; AgRg no REsp 1.134345/RS; DJ 09/11/2009. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sLink =ATC&sSeq=6431860&sReg=200901035379&sData=20091109& sTipo=5&formato=PDF. Acesso em 16/07/2010).

E, por fim, pela 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, que ressaltou, com relação à fluência do prazo discutido, a não necessidade de requerimento do credor, nem de nova intimação do devedor:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. ARTIGO 475-I, CPC. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA DE OBRIGAÇÃO DE NÃO-FAZER. MULTA DIÁRIA. INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR.

(28)

DESNECESSIDADE. 1. Incide em omissão o aresto que enfrenta a questão sob a ótica do cumprimento de sentença condenatória de quantia certa, não fazendo referência quanto à necessidade de nova intimação do executado para cumprimento de obrigação de não fazer, sob pena de incidência de multa diária, hipótese dos autos. 2. A fluência do prazo para o pagamento voluntário da condenação imposta na sentença, nos termos consignados no art. 475-J do CPC, independe de requerimento do credor, bem como de nova intimação do devedor. É consectário do trânsito em julgado da sentença, da qual o devedor toma ciência pelos meios ordinários de comunicação dos atos processuais. 3. De acordo com art. 475-I do CPC, o cumprimento de sentença de obrigação de não fazer segue a disciplina do art. 461 também da lei de processo, efetivando-se no mesmo procedimento em que proferida e sem intervalo. 4. Na definição do termo inicial para adimplemento da prestação, seja de pagar quantia certa ou de não fazer, tem aplicação o entendimento firmado no acórdão embargado segundo o qual "se a opção legislativa foi operar o sincretismo processual, trazendo para um único processo as fases de conhecimento e de execução, não faz sentido que, após toda a tramitação do feito, tendo-se ensejado às partes a vasta sistemática recursal disponível, volte-se a impor ao credor o ônus de localizar o devedor e de promover a sua intimação pessoal". 5. Embargos de declaração acolhidos, sem efeitos infringentes (STJ; 2ª Turma; Relator: Ministro Castro Meira; EDcl no REsp 1.087.606/RJ; DJ 03/07/2009. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sLink =ATC&sSeq=5592130&sReg=200801977771&sData=20090701& sTipo=5&formato=HTML. Acesso em 16/07/2010).

Logo, superado o estudo sobre este terceiro entendimento, conforme exposto, a presente pesquisa passa a analisar o entendimento apresentado como o que melhor traduz a essência da Lei nº. 11.232/2005, referente a celeridade da execução de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa no processo civil.

2.4 – QUARTO ENTENDIMENTO

Tida como a corrente doutrinária majoritária no que tange ao entendimento sobre a contagem do prazo previsto no artigo 475-J do Código de Processo Civil, tal corrente defende a intimação do advogado do vencido como termo inicial para abertura do prazo de quinze dias para pagamento espontâneo da sentença condenatória de pagar quantia certa.

O alicerce desta corrente doutrinária está no fato da execução de sentença, no caso em tela, a que condena o réu ao pagamento de quantia certa,

(29)

não ser mais um processo autônomo, como era antes da chegada da Lei nº. 11.232/2005, mas sim um mero prolongamento cognitivo.

Tal raciocínio é adotado por Duval Vianna, que explica (VIANNA, 2007, p. 71/72):

O devedor não é mais citado, pois a relação jurídica instaurada no início do processo perdura. Trata-se de mera continuação. Assim sendo, já anteriormente intimado (via diário oficial, na pessoa de seu advogado) do fato de estar o processo aparelhado para o cumprimento da sentença e tendo permanecido inerte, nenhuma comunicação se lhe deve. Terão início os atos materiais de apreensão dos seus bens e direitos para a satisfação do credor.

Para Ronaldo Cramer, em detrimento às demais correntes doutrinárias, este entendimento “não frustra o propósito da Reforma, porque a intimação pela imprensa oficial não causa os transtornos da intimação pessoal e não prejudica a efetividade do novo modelo de execução da sentença condenatória de pagar quantia certa” (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p.759).

O autor supracitado vai além ao afirmar que “a necessidade de intimação pessoal do réu, ainda que seja para cumprir a sentença, frustra a concepção de processo sincrético, porque abre uma ruptura no procedimento” (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p.759).

Por fim, Ronaldo Cramer alude como doutrinadores favoráveis este entendimento: Nelson Nery Jr., Rosa Maria de Andrade Nery, J. E. Carreira Alvim, Carlos Alberto Carmona, Leonardo Greco, Cassio Scarpinella Bueno, Daniel Amorim Assumpção Neves e Marcos Destefenni (CRAMER. In: CIANCI e outros, 2007, p.758/759).

No que diz respeito à forma de intimação, Araken de Assis se manifesta da seguinte forma (ASSIS, 2010, p. 216):

Há algumas variantes, contentando-se alguns com a intimação da baixa dos autos originais à origem, subentendo o trânsito em julgado ou a pendência de agravo de instrumento previsto no art. 544, exigindo outros intimação expressa e inequívoca para marcar o prazo de 15 dias.

(30)

O entendimento ora em análise parece estar pacificado no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, como se observa nos destaques das seguintes decisões, como a emanada pela 14ª Câmara Cível:

AGRAVO INOMINADO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO. NÃO INCIDÊNCIA DA MULTA E HONORÁRIOS. 1. É cediço que a nova sistemática introduzida pela Lei 11.232/06 alterou o procedimento executivo para títulos executivos judiciais, denominando-o de cumprimento de sentença. Nestes termos, o executado possui prazo de quinze dias para o cumprimento espontâneo da obrigação, do contrário, incide multa de 10% sobre o valor do débito. 2. Prevalece na mais recente jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que se faz necessária a intimação do réu para cumprimento da sentença transitada em julgado, após requerimento do credor, que deverá também apresentar planilha atualizada do crédito cuja satisfação se busca. 3. Assim,

somente após a iniciativa do credor e intimação dos agravados, na pessoa do advogado, mostra-se cabível a aplicação da multa constante do artigo 475-J, e demais consectários, o que só ocorreu com a publicação da decisão agravada. 4. Recurso não provido (Tribunal de Justiça do Estado

do Rio de Janeiro; 14ª Câmara Cível; Relator: Desembargador José Carlos Paes; Processo nº. 0030628-21.2010.8-19.0000; DJ 16/07/2010. Disponível em: http://srv85.tjrj.jus.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader. jsp?idDocumento=000348689117F3114E82A057C815C5A29C7C 21C402483443. Acesso em 19/07/2010).

Bem como a proferia pela 16ª Câmara Cível do respectivo Tribunal de Justiça:

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. ART.475-J, CPC. TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO DO DEVEDOR NA PESSOA DO ADVOGADO (VIA D.O). PRECEDENTES DA CORTE E ORGÃO FRACIONÁRIO. Em que pese a divergência jurisprudencial

quanto ao tema, verifica-se na presente hipótese que, quando do trânsito em julgado do decisum exeqüendo, o processo ainda se encontrava no Tribunal, o que constitui óbice ao cumprimento do julgado, que se deve dar no juízo do primeiro grau, somente tomando ciência do retorno dos autos à Vara de Origem através do despacho de "cumpra-se" proferido pelo Juízo, comprovando o depósito do valor da condenação dentro do prazo de 15 (quinze) dias contado da publicação daquele despacho, não se afigurando assim presente a recalcitrância processual a justificar a incidência da multa do Art.475-J do CPC. Pretensão recursal de manifesta improcedência. Manutenção da sentença. Negativa de seguimento ao recurso pelo Relator (Art.557, "caput", CPC). (Tribunal de

(31)

Justiça do Estado do Rio de Janeiro; 16ª Câmara Cível; Relator: Desembargador Mario Robert Mannheimer; Processo nº. 0116982-22.2005.8.19.0001; DJ 15/07/2010. Disponível em: http://srv85.tjrj.jus.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader. jsp?idDocumento=00031552F52A63D973751CDE012B83E56A2F 59C402475705. Acesso em 19/07/2010).

Percebe-se claramente eu o entendimento ora em foco prima pela celeridade na fase de execução. Porém, de acordo com esta corrente, a responsabilidade do advogado da parte vencida também aumenta de forma exponencial, como analisa Fernão Borba Franco (FRANCO. In: CIANCI e outros, 2007, p.236):

É verdade evidente que o pagamento deve ser feito pelo devedor, não pelo advogado, mas ao advogado incube orientar tecnicamente o cliente, o que inclui a orientação a respeito da possibilidade de imposição de pena pela falta de pagamento voluntário do débito e também da possibilidade de haver essa condenação, em primeiro, segundo ou até em terceiro grau de jurisdição. Cabe a ele comunicar o andamento do processo – e qualquer advogado minimamente diligente tem conhecimento da data prevista para o julgamento, ou ao menos da remessa dos autos ao Tribunal, ou do resultado do julgamento – de que é, também, intimado.

Ressalta-se que, caso o devedor venha a ser condenado ao pagamento da multa prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil em virtude da desídia de seu patrono, este poderá vir a responder por perdas e danos.

2.5 – QUINTO ENTENDIMENTO

Finalizando este capítulo, que trata das diversas interpretações quanto ao termo inicial de contagem do prazo para pagamento espontâneo de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa, o presente estudo traz um entendimento isolado, que encontra aceitação por parte de alguns magistrados de primeira instância do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

Trata-se do entendimento que interpreta da forma mais célere possível o artigo 475-J do Código de Processo Civil, o qual dispõe:

(32)

Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao

pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a

requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.

Por este entendimento, o prazo de quinze dias para pagamento voluntário da sentença condenatória ao pagamento de quantia certa começa a ser contado da publicação, via diário oficial, da referida sentença, ou de sua intimação, quando esta se der em Audiência de Instrução e Julgamento.

Sendo assim, o réu terá quinze dias para recorrer ou para pagar voluntariamente a condenação. Caso recorra, aguardar-se-á o julgamento de todos os recursos que por ventura sejam interpostos e, quando da volta dos autos originais ao cartório de origem, respeitar-se-á o prazo de quinze dias após a ordem de “cumpra-se o acórdão”, momento em que se dará o trânsito em julgado.

Agora, caso o réu não recorra, o trânsito em julgado da sentença que o condenou ao pagamento de quantia certa se dá quinze dias após a sua publicação, tempo suficiente para o mesmo efetuar o pagamento da quantia devida de forma voluntária. Logo, se não pagar no curso desse prazo, a multa prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil será devida.

O texto do artigo 475-J do Código de Processo Civil, acima em destaque, não fala em momento algum que o prazo de quinze dias para pagamento voluntário começará a correr do trânsito em julgado da sentença condenatória ao pagamento de quantia certa. O artigo fala simplesmente do devedor condenado. Ora, no momento em que tal sentença é publicada, pode-se considerar o réu condenado, cabendo-lhe, obviamente, a possibilidade de recorrer.

Percebe-se que este entendimento é uma variante do segundo e do quarto entendimento expostos nesta pesquisa, pois adota, nos casos de interposição de recursos, o termo inicial do trânsito em julgado, e nos casos em que não há recursos, a contagem do prazo da simples publicação da sentença condenatória ao pagamento de quantia certa.

(33)

Pode-se transcrever, a fim de demonstrar um exemplo prático, a sentença proferida pelo Juízo da 3ª Vara Cível da Comarca da Capital – RJ, conforme destacado:

Isto posto, julgo parcialmente procedente o pedido autoral para declarar a inexistência do débito objeto da lide e para condenar a ré a pagar ao autor a quantia de R$ 5.000,00, a título de dano moral, com juros legais e correção monetária, a partir desta data, bem como ao pagamento das custas e honorários advocatícios, as quais, ao teor do art. 20, parágrafo terceiro do Código de Processo Civil, fixo em 10% sobre a condenação. Mantenho a decisão de fl23. Aguarde-se por quinze dias o

cumprimento voluntário da obrigação. Decorridos in albis, certifique-se nos autos, cabendo ao credor, independente de intimação, indicar bens à penhora, acrescendo-se ao valor da execução multa de 10%, nos termos da redação do artigo 475-J do Código de Processo Civil (Tribunal de 475-Justiça do Estado do

Rio de Janeiro; 3ª Vara Cível; Juíza Maria Cristina Barros Gutiérrez Slaibi; Processo nº. 2008.001.110376-5; DJ 14/04/2010.

Disponível em:

http://srv85.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/popdespacho.jsp?ti poato=Descri%E7%E3o&numMov=38&descMov=Senten%E7a. Acesso em 19/07/2010).

Por fim, ressalta-se que este entendimento ainda encontra resistência por parte da doutrina e da jurisprudência, não tendo sido ainda analisado por instâncias superiores. Porém, não obstante as demais interpretações, é o entendimento que melhor se adéqua as propostas da Lei nº. 11.232/2005, bem como a crescente preocupação com o tempo de duração dos processos e a efetividade da prestação jurisdicional.

(34)

CAPÍTULO III

DO CABIMENTO DA MULTA NA EXECUÇÃO PROVISÓRIA

Neste último capítulo da pesquisa apresentada, que trata das inovações e divergências trazidas pelo artigo 475-J do Código de Processo Civil, o assunto controvertido estudado é o cabimento ou não da multa por atraso no cumprimento de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa em fase de execução provisória.

Há possibilidade de flexibilização da pena do artigo 475-J do Código de Processo Civil pela falta de pagamento espontâneo do débito existindo recurso do devedor, mesmo sem efeito suspensivo, no qual se pretende modificar a sentença condenatória?

Conforme afirmado anteriormente, a questão é discutível, com parte da doutrina não admitindo e outra parte admitindo a incidência da multa quando é o caso de execução provisória.

Humberto Theodoro Júnior, em seu estudo sobre o tema, expõe seu entendimento (JÚNIOR, 2007, p. 144):

A multa do art. 475-J, porém, não se aplica à execução provisória, que só se dá por iniciativa e por conta e risco do credor, não passando, portanto, de faculdade ou livre opção de sua parte. Acontecendo, todavia, de haver o trânsito em julgado no correr da execução provisória, inicia-se o prazo para pagamento voluntário, sob pena de aplicação da multa.

Em sentido contrário, para Araken de Assis, com base no que dispõe o artigo 475-O, caput, do Código de Processo Civil, “não há motivo plausível para excluir a multa da execução provisória” (ASSIS, 2010, p. 215).

A redação do caput do artigo 475-O do Código de Processo Civil traz o seguinte:

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Art. 475-O. A execução provisória far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguinte normas:

Logo, para Araken de Assis, a corrente que não admite a incidência da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil em fase de execução provisória ofende o disposto no caput do artigo 475-O do respectivo diploma legal, já que “a cláusula ‘no que couber’ alude a alguma disposição expressa em contrário e, no caso, regra desse teor obviamente não existe” (ASSIS, 2010, p. 216).

Fernão Borba Franco ressalta que a reforma legislativa em tela modificou de forma significativa o regime da execução provisória, pois, “agora, fica afastada a necessidade da segurança conferida pela coisa julgada, em favor da efetividade do direito reconhecido pelo juízo de primeiro grau de jurisdição” (FRANCO. In: CIANCI e outros, 2007, p.239).

Para esta corrente, para a qual Fernão Borba Franco menciona como adeptos Flávio Cheim Jorge, Fredie Didier Jr., Marcelo Abelha Rodrigues, Luiz Rodrigues Wambier e Cassio Scarpinella Bueno (FRANCO. In: CIANCI e outros, 2007, p.239/240), a execução provisória tem a faculdade de estabelecer automaticamente a aplicação da multa pelo não cumprimento espontâneo da condenação, sendo sugerida uma caução a ser oferecida pelo devedor.

Fernão Borba Franco desenvolve seu raciocínio da seguinte forma (FRANCO. In: CIANCI e outros, 2007, p. 240):

A melhor solução, entretanto, é a de admitir a incidência da multa na execução provisória, porque a exigência de caução é suficiente para garantir a restituição das partes ao estado anterior no caso de reforma da decisão submetida a recurso sem efeito suspensivo. Reitere-se que agora se inverteu a exigência de certeza, em detrimento da efetividade, conferindo-se maior eficácia às decisões provisórias, já normalmente de lavra dos tribunais locais e não dos juízos de primeiro grau.

E conclui seu pensamento com relação ao tema (FRANCO. In: CIANCI e outros, 2007, p. 240):

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E a aparente contradição entre o pagamento voluntário e o fato do recurso, que poderia levar, apressadamente, à conclusão de que ocorreria preclusão lógica, cede ante a observação de que ao cumprir a intimação sob a ameaça de incidência da multa, o devedor age com a reserva de estar ainda aguardando o resultado de seu recurso. Está cumprindo a sentença apenas e tão-somente para evitar a incidência da multa, e por isso não há qualquer incompatibilidade entre o cumprimento provisório e a manutenção do pleito recursal.

Como já falado anteriormente, a matéria é controvertida, tanto na doutrina quanto na jurisprudência, porém, recentemente, o Superior Tribunal de Justiça se manifestou quanto à matéria, conforme se verifica no destaque do julgado de sua 2ª Turma:

PROCESSUAL CIVIL – MULTA DO ART. 475-J DO CPC – INCIDÊNCIA NA EXECUÇÃO PROVISÓRIA – IMPOSSIBILIDADE – INCOMPATIBILIDADE LÓGICA – NECESSIDADE DE AFASTAMENTO DA MULTA. 1. O artigo 475-J, com redação dada pela Lei n. 11.232⁄2005, foi instituído com o objetivo de estimular o devedor a realizar o pagamento da dívida objeto de sua condenação, evitando assim a incidência da multa pelo inadimplemento da obrigação constante do título executivo. 2.

A execução provisória não tem como escopo primordial o pagamento da dívida, mas sim de antecipar os atos executivos, garantindo o resultado útil da execução. 3.

Compelir o litigante a efetuar o pagamento sob pena de multa, ainda pendente de julgamento o seu recurso, implica em obrigá-lo a praticar ato incompatível com o seu direito de recorrer (art. 503, parágrafo único do CPC), tornando inadmissível o recurso. 4. Por

incompatibilidade lógica, a multa do artigo 475-J do CPC não se aplica na execução provisória. Tal entendimento não afronta os princípios que inspiraram o legislador da reforma.

Doutrina. Recurso especial provido (STJ; 2ª Turma; Relator: Ministro Humberto Martins; REsp 1.100658/SP; DJ 20/05/2009.

Disponível em:

https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sLink =ATC&sSeq=5228230&sReg=200802366053&sData=20090521& sTipo=5&formato=HTML. Acesso em 19/07/2010).

Entendimento este seguido pela 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, conforme destaque:

PROCESSUAL CIVIL. MULTA DO ART. 475-J. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. EXECUÇÃO PROVISÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. I. Ainda que a execução provisória

realize-se, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, na dicção do art. O do CPC, é inaplicável a multa do art. 475-J, endereçada exclusivamente à segunda, haja vista que exige-se, no último caso, o trânsito em julgado do

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pronunciamento condenatório, aqui não acontecido. II.

Recurso especial conhecido e provido (STJ; 4ª Turma; Relator: Ministro Aldir Passarinho Júnior; REsp 979.922/SP; DJ 12/04/2010. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=execu%E7 %E3o+provis%F3ria+multa&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=14. Acesso em 19/07/2010).

Bem como pela 3ª Turma do respectivo Tribunal:

RECURSO ESPECIAL. 1) EXECUÇÃO PROVISÓRIA. MULTA DO ART. 475-J, DO CÓD. DE PROC. CIVIL – DESCABIMENTO; 2) MULTA DO ART. 601 DO CÓD. DE PROC. CIVIL. CABIMENTO EM CASO DE ATO ATENTATÓRIO DIGNIDADE DA JUSTIÇA. NÃO CONFIGURAÇÃO NO CASO. 1.- a) Na Execução Provisória não cabe a imposição de multa,

com fundamento nos arts. 475-J e 601, caput, do CPC, reservada à execução definitiva. b) ausência de interesse de

agir pela inadequação do meio processual utilizado pelos ora agravados, porquanto a multa prevista no artigo 601, caput, do CPC não comporta o ajuizamento de execução provisória autônoma, devendo ser incluída na conta da própria execução de origem; e c) subsidiariamente, na hipótese de restar julgada improcedente a exceção de pré-executividade, impõe-se o afastamento da multa de 10% prevista no artigo 475-J do CPC, porquanto inaplicável em sede de execução provisória de sentença 2.- Somente cabe a multa do art. 601 do CPC no caso de o devedor praticar ato atentatório à dignidade da Justiça, o que não ocorre quando da sustentação de argumentos em caso complexo em que o exeqüente promove execução provisória de indenização fixada em ação que move contra seu próprio credor, por haver este executado liminar deferida e posteriormente cassada em ação de Busca e Apreensão, movida com fundamento no Dec.Lei 911/69, em processo que ainda não chegou ao seu final. 3.- Recurso Especial provido (CPC, art. 105, III, “a”) por violação dos arts. 575-J e 601 do CPC (STJ; 3ª Turma; Relator: Ministro Sidnei Beneti; REsp 1.038.387/RS; DJ 29/03/2010. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=execu%E7 %E3o+provis%F3ria+multa&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=9. Acesso em 19/07/2010).

Por fim, Araken de Assis faz uma crítica com relação à essência do artigo 475-J do Código de Processo Civil (ASSIS, 2010, p.216):

O objetivo da multa é tornar vantajoso o cumprimento espontâneo e, na contrapartida, excessivamente oneroso o cumprimento forçado da execução. Só o tempo confirmará as esperanças depositadas no expediente. À primeira vista, melhor conduziria o legislador adotando técnica oposta, concedendo benefícios econômicos para o condenado (v.g., parcelamento do valor da dívida), em lugar de lhe impor uma pena.

Referências

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