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A COMUNICAÇÃO EM LIBRAS ENTRE FISIOTERAPEUTA E PACIENTE SURDO: A PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DE FISIOTERAPIA

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A COMUNICAÇÃO EM LIBRAS ENTRE FISIOTERAPEUTA E PACIENTE SURDO: A PERSPECTIVA DE ESTUDANTES DE FISIOTERAPIA

Maria Rita Martins da Rocha1 Luiz Renato Martins da Rocha2 Norma Abreu e Lima Maciel de Lemos Vasconcelos3 Eixo Temático: 6. Deficiência auditiva/Surdez Categoria: Comunicação Oral

RESUMO

A Língua Brasileira de Sinais – Libras, foi reconhecida no Brasil como meio de comunicação e expressão por meio da Lei nº 10.436/2002. No Brasil, o surdo possui o direito de atendimento à saúde, inclusiva e igualitária, porém, por não partilhar de uma mesma língua que o ouvinte, surge então barreiras para o atendimento destes pacientes. Objetiva-se com esse estudo investigar a visão que os estudantes do último ano de graduação do curso de Fisioterapia têm sobre a comunicação (sua forma e relevância) com pacientes surdos. Pretende-se ainda compreender seu interesse (ou não) em estudar ou aprender a Libras. Trata-se de uma pesquisa exploratória, de abordagem quantitativa e qualitativa, descritiva e exploratória. A coleta de dados ocorreu por meio de questionário, cujas respostas foram analisadas de forma qualitativa. Cerca de 9% dos estudantes, até o momento da presente pesquisa, não sabem ao menos o que é essa língua; todos os estudantes nunca fizeram curso sobre o tema, porém consideram importante que o fisioterapeuta esteja preparado para atender pacientes com surdez. Os estudantes demonstram interesse em aprender Libras, pois a consideram importante para sua vida profissional. Contudo, não se acham aptos a atender um paciente surdo no que diz respeito a sua comunicação. Ademais, a instituição de ensino em que estudam não vem ao encontro da necessidade destes discentes, não dando oportunidades, por vezes, para que esse aprendizado ocorra.

Palavras-Chave: Libras; Fisioterapia; Comunicação.

ABSTRACT

Libras was recognized in Brazil as a means of communication and expression through Law 10,436/2002. In Brazil, the deaf have the right to health care, inclusive and equal, but because they do not share the same language as the listener, then barriers to the care of these patients appear. The objective of this study is to investigate the vision that undergraduate students of Physiotherapy have over communication (their form and relevance) with deaf patients. It is also intended to understand your interest (or not) in studying or learning Pounds. This is an exploratory research, with a quantitative and qualitative approach, descriptive and exploratory. The data were collected through a questionnaire, whose answers were analyzed in a qualitative way.: About 9% of the students, at the moment of the present research, do not know at least what Libras is; all students have never taken a course on the subject, but consider it important that the

¹ Fisioterapeuta e acadêmica de pedagogia na Faculdade Wenceslau Braz. E-mail: mariarita.martiins@gmail.com

2 Doutorando e Mestre em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos. Tradutor e Intérprete de Libras na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Cornélio Procópio. E-mail: luizrocha@utfpr.edu.br

3 Doutora em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos. E-mail: normamvasconcelos@gmail.com

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physiotherapist be prepared to attend deaf patients. Students are interested in learning Pounds because they consider it important for their professional life. However, they are not apt to attend a deaf patient regarding their communication. In addition, the institution of study in which they study does not meet the need of these students, sometimes giving opportunities for this learning to occur communication. In addition, the institution of study in which they study does not meet the need of these students, sometimes giving opportunities for this learning to occur.

Keywords: Libras; Physiotherapy; Communication.

1. INTRODUÇÃO

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – (2010), 23,9% (45.606.048 de pessoas) da população brasileira tem algum tipo de deficiência. Já as pessoas surdas e deficientes auditivas, somam cerca de 5% da população brasileira, o que corresponde à média de 9,7 milhões de brasileiros.

Em sua grande maioria, as pessoas surdas apresentam o aparelho fonador intacto, porém o fato de não ouvir torna a fala um ato incomum, o que gera dificuldades de comunicação com pessoas que não dominem a língua de sinais (ROCHA; STORTO, 2013).

O Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005 da Presidência da República que regulamenta a lei que dispõe sobre a definição de pessoa surda ou deficiente auditiva, diz que:

[...] considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras.

Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências (sic) de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz (BRASIL, 2005).

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O Ministério da Educação e Cultura - MEC (2013) define as pessoas surdas sobre um viés de sua diferença linguística, diferentemente, por exemplo, do Decreto supracitado, que define:

“Surdez” [termo] para indicar estudantes que utilizavam Língua de Sinais (surdez severa/profunda) e “Deficiência Auditiva” (surdez leve/moderada) para indicar estudantes que, por ouvirem pouco, utilizavam, mesmo que precariamente, a modalidade oral da Língua Portuguesa (p. 22).

Nas citações acima, fica nítida a diferença entre ambos os posicionamentos: MEC e o Decreto 5.626/2005. Essa divergência pode também ser evidenciada a partir da história das pessoas surdas: diferentes concepções ao longo do tempo ora negavam, ora aceitavam sua língua; consequentemente ora aceitava-se, ora negava-se o sujeito surdo (ROCHA; OLIVEIRA; REIS, 2016).

A exclusão dos surdos é sinalizada ao longo da história por um regime impiedoso, que os segregava por conta de sua diferença linguística (ROCHA; OLIVEIRA; REIS, 2016). De acordo o filosofo Aristóteles, a audição é o sentido que mais contribuí para a inteligência e que os que nasciam surdos eram naturalmente incapazes de ter razão.

Em meados de 1880, a comunicação por meio da língua de sinais foi proibida em diversos países e a abordagem oralista, passou a vigorar, a qual privilegiava acima de tudo a comunicação oral (CAPOVILLA RAPHAELL; MAURICIO, 2006).

Após cem anos do modelo de exclusão da língua de sinais, meados de 1980, surgiu uma nova abordagem cujo enfoque passa a ser o sujeito e não a sua deficiência, conhecida assim, como comunicação total (ROCHA; STORTO, 2013).

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A comunicação do surdo nessa abordagem costumava apresentar dualidade no estilo de comunicação: ora se sustentava a comunicação oral, ora gestual/sinalizada (DUARTE 2013 et al). Tal comunicação, apesar de “substituída” pelo respeito à língua de sinais, ainda é muito evidenciada na atualidade, em que grande parte das pessoas não sabem a língua de sinais dos sujeitos surdos e, assim, valem-se de toda e qualquer forma comunicativa para se fazer entender, muitas vezes desrespeitando a língua desses sujeitos.

O Bilinguismo percebe o sujeito surdo como um diferente linguístico e respeita a língua de sinais como sua primeira língua e, no caso dos surdos brasileiros, o português é ensinado na modalidade escrita, como segunda língua, assim, vivenciamos atualmente, tal abordagem (BRASIL, 2005).

A Libras teve sua lei sancionada no Brasil em 24 de abril de 2002, Lei nº.10.436, que a reconhece como meio legal de comunicação e expressão das comunidades surdas no Brasil. Em 2005, por meio do Decreto 5.626 outras providências são dadas, além de regulamentar a lei supracitada (BRASIL, 2002).

A comunicação com o surdo desempenha um papel fundamental para um atendimento terapêutico humanizado4. É tida [a Libras], porém, como um

obstáculo para profissionais da saúde que não dominam uma modalidade linguística diferenciada das que habitualmente se comunicam.

Erroneamente imagina-se que a presença de um intérprete de Libras solucionaria todos os problemas de comunicação entre atendente e paciente surdo. Essa ideia é negada por Chaveiro e Barbosa (2005) que em sua pesquisa, esclarece que do ponto de vista do surdo, embora a presença do intérprete de Libras/Língua Portuguesa durante uma sessão terapêutica ajude, ela não soluciona o problema de inclusão do surdo durante o atendimento, haja vista a comunicação mediada por um terceiro ser algo prejudicial, já que muitas vezes,

4 “No campo da atenção em saúde, o termo humanização tem sido utilizado com diferentes significados e entendimentos, relacionando-o com os direitos dos pacientes e a ética voltada ao respeito ao outro” (FORTES, 2004, p. 01).

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este não tem formação específica na área do atendimento (CHAVEIRO; BARBOSA, 2005).

A comunicabilidade é essencial na relação clínica entre as partes e necessita ser algo de qualidade, pois a compreensão equivocada pode comprometer a adesão do paciente ao tratamento. Outrossim, a ausência de entendimento sobre procedimentos na área da saúde implica possíveis riscos ao paciente (DUARTE 2013 et al).

Mesmo sabendo que o surdo tem os mesmos direitos respaldados por lei que um ouvinte, não se garante com isso ao surdo um atendimento igualitário. Por não partilharem da mesma língua surge uma barreira para o atendimento em saúde (CHAVEIRO; BARBOSA, 2005).

Pouco se tem discutido sobre a temática apresentada (CHAVEIRO; BARBOSA, 2008). Contudo, dentro de qualquer atendimento na área da saúde, as ações são pautadas por meio da comunicação, já que ela é imprescindível para a assistência de qualquer paciente (CHAVEIRO et al 2010). Deste modo, justifica-se a necessidade de se pesquisar sobre a comunicação entre o fisioterapeuta e paciente surdo durante o atendimento fisioterapêutico a partir da perspectiva dos estudantes que já realizam tal atendimento dentro de sua instituição de ensino.

Objetiva-se com o presente estudo, investigar a visão que os estudantes do último ano de graduação do curso de Fisioterapia têm sobre a comunicação (sua forma e relevância) com pacientes surdos. Ademais, busca-se compreender o interesse (ou não) dos alunos emestudá-la e aprendê-la.

Diante da complexidade que envolve a comunicação, questiona-se: como se caracteriza e qual a relevância da comunicação para o estudante de Fisioterapia dentro de um atendimento clínico? Se esse estudante (futuro fisioterapeuta) recebesse um paciente surdo para um tratamento, de que forma

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se comunicaria? Existe o interesse por parte dos estudantes da graduação de Fisioterapia em aprender a Libras?

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa é um estudo do tipo descritivo e exploratório, haja vista tratar-se de “[...] um tema pouco explorado, tornando-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis” (GIL, 2008, p.27). Buscamos assim, descrever “[...] as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis” (GIL, 2008, p.28).

2.1 Coleta dos dados: questionário

A coleta de dados foi realizada por meio de questionário impresso, no qual foram inseridas perguntas fechadas e algumas semiestruturadas (colocadas quando da descrição dos resultados e discussões). A elaboração do questionário teve como objetivo responder a pergunta problema que gerou o presente trabalho. Logo, todas as questões foram elaboradas de modo a confluir para o cumprimento do objetivo proposto na pesquisa.

Depois de finalizada a etapa de elaboração do questionário, a primeira versão do questionário foi enviada para um professor doutorando em Educação Especial e uma professora e Terapeuta Ocupacional, também doutoranda em Educação Especial, ambos estudantes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e com projetos na área de surdez. Eles sugeriram mudanças e/ou correções no questionário aos autores da presente pesquisa, a fim de otimizar a coleta de dados. Ambos fizeram, desse modo, as vezes de juízes, em consonância aos objetivos da pesquisa, conforme orienta Fiorini e Manzini (2014).

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Após o recebimento das mudanças propostas/sugeridas pelos juízes do questionário, algumas destas foram aceitas e realizadas pelos autores, para melhor compreensão das questões por parte dos que participariam da pesquisa. Na sequência, foi aplicado um questionário piloto, também denominado por Fiorini e Manzini (2014) de “teste de clareza”, a três estudantes que estagiam na área de atendimento fisioterapêutico. Eles não apontaram qualquer questionamento ou reformulação para o mesmo. Assim sendo, o questionário ficou pronto para ser respondido pelos sujeitos participantes da pesquisa conforme propõem Fiorini e Manzini (2014).

A presente pesquisa segue todos os procedimentos de acordo com as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos e complementares de acordo com Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

2.2 Sujeitos e locais da pesquisa

Os sujeitos participantes foram os estudantes de duas instituições de ensino superior, uma Faculdade privada na cidade de Ourinhos/SP e uma Universidade pública no interior do Paraná, todos regularmente matriculados no curso de Fisioterapia e realizando estágio obrigatório em suas respectivas instituições.

Responderam o questionário 62 estudantes, sendo 13 estudantes da universidade pública do Paraná e 49 estudantes da faculdade privada do Estado de São Paulo. Todos os questionários foram analisados.

A idade média dos estudantes é 24 anos. Desse total, 80,3% são do sexo feminino e 19,7% do sexo masculino. O fato de a maior parte dos estudantes ser do sexo feminino, pode estar atrelado ao fato da persistente presença feminina na maior parte dos cursos da área da saúde, o que se pauta

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no cuidado com o outro e isso faz com que o público feminino sinta-se mais atraído por esses cursos [na área de saúde] (RAMOS, ALMEIDA, 2016).

Foram delimitados como critérios para inclusão na pesquisa: a) estar regularmente matriculado em um curso em nível superior de Fisioterapia; b) estar regularmente matriculado no estágio em Fisioterapia e exercendo-o dentro da sua instituição de ensino.

2.3 Análise e tratamento dos dados

A análise do material foi feita de maneira quantitativa e qualitativa; os dados numéricos foram transformados em gráficos e após essa etapa, os números foram discutidos de forma qualitiativa. Para análise de dados e verificação dos resultados obtidos, os números foram calculados pelo programa Microsoft Excel 2010.

Sobre a pesquisa de método misto, esta é uma abordagem que:

[...] combina ou associa as formas qualitativa e quantitativa. Envolve suposições filosóficas, o uso de abordagens qualitativas e quantitativas e a mistura das duas abordagens em um estudo. Por isso, é mais do que uma simples coleta e análise dos dois tipos de dados; envolve também o uso das duas abordagens em conjunto, de modo que a força geral de um estudo seja maior do que a pesquisa qualitativa ou quantitativa isolada (CRESWELL; PLANO CLARK, 2007 apud CRESWELL, 2010, p.27).

Após a elaboração dos gráficos e das informações numéricas, analisaram-se os dados qualitativamente, associando-se as repostas obtidas pelos alunos ao que vem sendo discutido e produzido nesse contexto.

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A primeira questão se refere ao tempo de experiência no atendimento fisioterapêutico dos estudantes pesquisados. Assim foram encontradas as seguintes informações: 40 (quarenta) participantes responderam que realizam esse tipo de atendimento de 7 (sete) a 11 (onze) meses; 13 (treze) participantes responderam que realizam tal atendimento de 1 (um) a 5 (cinco) anos; 7 (sete) participantes responderam que têm tempo de experiência de até 3 (três) meses; e 1 (um) estudante, mais de 6 (seis) anos – este estudante já trabalhava em uma clínica antes de entrar na graduação e contou esse tempo ao responder o questionário, conforme representado no gráfico 1.

Gráfico 1: Tempo em que os acadêmicos exercem atendimento fisioterapêutico, como

estagiários ou não em sua instituição de ensino, ou clinicas fora da instituição de ensino superior

Fonte: Elaborado pelos autores.

Seguindo para a próxima questão, sobre a importância da comunicação em um atendimento fisioterapêutico, 90,32% dos estudantes consideram que é extremamente importante a comunicação na relação paciente-fisioterapeuta; já

7 1 40 13 1 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

até 3 meses 4 a 6 meses 7 a 11 meses 1 a 5 anos 6 anos ou mais

n ú m e ro d e p ar tici p an te s Tempo

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9,67% dos participantes consideraram de forma moderada a importância da comunicação em um atendimento. Reforçando tal ideia, Oliveira et al (2010) e Levino et al (2013) esclarecem que é pela e na comunicação que compartilhamos dores, mensagens, questionamentos, ensinamentos, ideias e emoções. Durante um atendimento em saúde, como o atendimento fisioterapêutico, somente a partir de uma boa comunicação poderão ser diagnosticados e tratados as necessidades de um paciente, ou seja, é por meio de uma linguagem comum que podemos partilhar nossas experiências (OLIVEIRA et al, 2010).

Ainda nesse contexto, 96,77% dos estudantes acreditam que a falta de comunicação em um atendimento fisioterapêutico pode acarretar riscos ao paciente. Chaveiro e Barbosa (2005), dizem que o bloqueio causado pela falta de comunicação em um atendimento na área da saúde implica em resultados negativos. Evidenciando essa ideia, 90,32% dos estudantes declaram que devido à falta de comunicação com o paciente usuário da língua de sinais, não conseguiriam explicar todo o tratamento ao paciente. Aguiar e Marcucci (2009) relatam que a maioria dos profissionais da área da saúde não estão preparados para receber um paciente surdo, usuário de Libras. Nota-se isso na presente pesquisa também, pois 91,9% dos participantes não se consideram aptos para atender um paciente surdo que se comunique em Libras.

Apesar do reconhecimento da Libras como meio de comunicação desde 2002 e de um número expressivo de deficientes auditivos e surdos no Brasil (IBGE, 2010) ainda há muita gente que desconhece o que é Libras, constatou-se isso porque do total de estudantes entrevistados, 9,68% declaram não saber o que ela é, mesmo sendo ele composto de estudantes do último ano de graduação, formar-se-á em sua instituição de ensino sem ao menos sequer saber que é a língua de sinais. Além disso, todos os entrevistados (100%) responderam que consideram importante que o fisioterapeuta esteja preparado

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para atender um paciente surdo usuário da Libras, embora [igualmente] todos os participantes (100%) [tenham] respondido que nunca realizaram cursos sobre a temática Libras. Glat e Pletsch (2010) enfatizam que é um desafio as instituições de ensino formarem profissionais que tenham uma visão acolhedora das diversidades humanas. Os estudantes pesquisados entendem a importância da comunicação com um paciente surdo, mas ela não é oferecida devido a políticas institucionais pouco sensíveis às diferenças, ao outro – o que vai de encontro ao que se propaga sobre saúde humanizada.

De acordo com o Decreto 5.626/2005, a disciplina Libras na matriz curricular nos cursos de graduação de bacharelado é ofertada de modo optativo5,

incluindo o curso de Fisioterapia. Entretanto, 6,45% dos estudantes desconheciam que poderiam cursá-la de modo optativo; 85,48% dos participantes da pesquisa disseram que foi ofertada a referida disciplina; e 8,07% disseram não se lembrar.

Conforme o gráfico 2, quando questionados se haviam cursado a disciplina ofertada pela instituição: 8,06% responderam afirmativamente; 4,83% responderam que não foi ofertada tal disciplina em sua matriz curricular/não sabiam que a disciplina era componente curricular optativo de sua graduação. Ainda, 53,22% disseram que não sabiam a importância da disciplina para sua formação profissional e por essa razão não a cursaram. Finalmente, 25,8% responderam que o valor que eles gastariam para cursar a disciplina torná-la-ia inviável6. Souza e Pozzori (2009) relatam que a oferta de disciplinas de modo

optativo, em sua maior parte, não atrai o estudante a cursá-las, fazendo com que ele, por vezes, não tenha noção da sua importância e do impacto negativo que a sua falta causaria em sua formação profissional.

5 § 2o A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto (BRASIL, 2005).

6 Neste caso a alternativa foi assinalada somente por estudantes da Faculdade privada, já que na universidade pública o estudante não teria custo ao cursar a disciplina.

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Gráfico 2: Sobre ter cursado ou não a disciplina de Libras

Fonte: Elaborado pelos autores.

Chaveiro et al (2010) dizem que tem de ser prioridade da Instituição de Ensino Superior (IES), seja pública ou privada, o acesso ao conhecimento e aprendizado da Libras, para que atenda, assim, às necessidades do surdo. Convém complementar que 79,03% dos estudantes entrevistados demonstram interesse em participar de palestras ou cursos sobre a temática em questão. Logo, é visível a disposição para aprender sobre o tema. A IES poderia, portanto, dar ao estudante a oportunidade de aprender esta língua. Afinal de contas, 87,9% dos entrevistados consideram que a disciplina de Libras deveria ser ofertada de modo obrigatório nos cursos de Fisioterapia.

No gráfico a seguir, observa-se que quando questionados sobre como se comunicariam com um paciente surdo, 6,45% disseram que utilizariam a “língua de sinais”, mesmo declarando (em questões anteriores) não terem nem

5 3 33 16 0 5 10 15 20 25 30 35

Sim, cursei Não, pois não foi ofertado tal disciplina na minha matriz

curricular.

Não, pois a disciplina não era

obrigatória e eu não sabia a importância disso para minha formação Não, pois a disciplina não era

obrigatória, e o valor mensal que

eu gastaria a tornava inviável.

outros, especifique:

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cursado a disciplina de Libras, nem ter realizado cursos sobre a língua e outros ainda relataram nunca ter ouvido falar sobre o assunto antes desta pesquisa; e para 79,03% dos participantes, eles utilizaram a mímica para se comunicar com seu paciente.

Quadros, Pizzio e Rezende (2009) desmitificam a ideia de que a mímica atrelada à gesticulação seja eficiente para a comunicação com o surdo. Explicam também que os sinais são capazes de expressar qualquer sentimento, emoção ou ideia abstrata, o que não pode ser evidenciado em uma comunicação por meio de mímica; 62,9% responderam que utilizariam como ferramenta de comunicação a escrita e a leitura em papel. Chaveiro e Barbosa (2005) explicam que, em sua maioria, os surdos não possuem problemas visuais, remetendo a ideia de que seria uma alternativa a comunicação através da leitura-escrita, mas, na realidade, para o surdo o português é sua segunda língua (L2), pois sua primeira língua (L1) é a Libras, e como qualquer segunda língua, a sua compreensão pode estar comprometida por singularidades linguísticas duma e doutra língua.

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Fonte: Elaborado pelos autores.

Alguns ainda responderam que fariam a comunicação via leitura orofacial (29,03%). Os que solicitariam e arcariam com os custos de um intérprete de Libras foram de 1,61%, enquanto 3,22% declararam que não fariam o atendimento deste paciente. Sobre a comunicação mediada pelo intérprete, já foram elencados alguns entraves que podem ocorrer; e sobre a leitura orofacial, vale ressaltar que nem todos os surdos a sabem, o que a torna complexa, devido a vários fatores que podem influenciar em sua compreensão.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comunicação entre o profissional fisioterapeuta e o paciente surdo usuário da língua de sinais é determinante para a qualidade do atendimento fisioterapêutico. Observou-se que o futuro profissional não se considera apto

4 49 39 1 2 18 0 10 20 30 40 50 60

Língua Brasileira de Sinais Mimicas

Escrever em um papel quais comandos quero que meu paciente realize.

Solicitaria e arcaria com os custos de um intérprete de Língua Brasileira de Sinais. Eu não faria o atendimento desse paciente.

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para o atendimento de um paciente surdo, no que se refere a sua forma de comunicação e a “conquista” (ou direito?) por um atendimento inclusivo poderia ser propiciada pela instituição de ensino, porquanto os estudantes não buscam aprender a Libras fora das IES, porém demonstram o interesse em aprender a língua.

Diante dos resultados, a realização do estudo foi pertinente, pois foi possível entender a percepção do estudante sobre a comunicação em Libras quando do atendimento fisioterapêutico. Nesse contexto, ficou evidente que o “problema” da inclusão do surdo em um atendimento de saúde tem origem ainda na formação superior, que não leva em conta diferenças individuais.

A discussão sobre a perspectiva do estudante de Fisioterapia sobre a inclusão do paciente surdo não se esgota nessa pesquisa, haja vista que são escassas as pesquisas científicas que abordam este tema.

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Referências

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