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Apresentação. DOSSIÊ: ÁFRICA, AFRICANOS E SEUS DESCENDENTES EM PERSPECTIVA DECOLONIAL: saberes e práticas na educação

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Academic year: 2021

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Revista de Humanidades e Letras

ISSN: 2359-2354 Vol. 6 | Nº. 1 | Ano 2020

Sebastian Lefèvre

Université Gaston Berger-Saint-Louis-Senegal

Fábia Barbosa Ribeiro

UNILAB

Juliana Barreto Farias

UNILAB

Rosemberg Ferracini

UFT

Christian Hounnouvi Coffi

Université de Nantes-França

DOSSIÊ:

ÁFRICA, AFRICANOS E SEUS

DESCENDENTES EM PERSPECTIVA

DECOLONIAL:

saberes e práticas na educação

El desplazamiento (1999), de Armando Mariño

Apresentação

Site/Contato

www.capoeirahumanidadeseletras.com.br

capoeira.revista@gmail.com

Editores

Fábia Barbosa Ribeiro

fabiaribeiro@unilab.edu.br

Marcos Carvalho Lopes

marcosclopes@unilab.edu.br

Pedro Acosta-Leyva

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Apresentação

DOSSIÊ:

ÁFRICA, AFRICANOS E SEUS DESCENDENTES EM

PERSPECTIVA DECOLONIAL:

saberes e práticas na educação

Organizadores:

Sebastian Lefèvre (Université Gaston Berger-Saint-Louis-Senegal) Fábia Barbosa Ribeiro (UNILAB)

Juliana Barreto Farias (UNILAB) Rosemberg Ferracini (UFT)

Christian Hounnouvi Coffi (Université de Nantes-França)

Portanto, a Améfrica, enquanto sistema etnogeográfico de referência, é uma criação nossa e de nossos antepassados no continente em que vivemos, inspirados em modelos africanos. Por conseguinte, o termo amefricanas/amefricanos designa toda uma des-cendência: não só os africanos trazidos pelo tráfico negreiro como a daqueles que che-garam à AMÉRICA muito antes de Colombo. Ontem como hoje, amefricanos oriun-dos oriun-dos mais diferentes países têm desempenhado um papel crucial na elaboração des-sa amefricanidade que identifica na diáspora uma experiência histórica comum que exige ser devidamente conhecida e cuidadosamente pesquisa.

Lélia Gonzalez, “A categoria político-cultural de amefricanidade”1

Para contar como as discussões aqui apresentadas se iniciaram, precisamos viajar até a cidade de Lyon, em junho de 2015. Foi ali que um grupo de pesquisadores e professores ligados ao Departamento de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos da Universidade de Paris-Nanterre or-ganizou um seminário, cuja temática girava em torno do campo dos estudos hispânicos e da questão da afrodescendência. Nesse primeiro encontro, a proposta era debater o ensino do espa-nhol nos países africanos, a inserção de conteúdos afro-hispânicos nos livros didáticos, o estudo de diversos autores, artistas, pintores que representavam africanos e seus descendentes em suas obras, tanto nas Américas quanto na Guiné Equatorial.

Diante do sucesso, mas sobretudo do interesse manifestado pelo seminário (uma quinzena de participantes vindos da Europa, da África e das Américas), resolvemos dar continuidade à tro-ca de ideias. No que diz respeito à definição do novo tema para o encontro seguinte, a escolha foi unânime: pensar a elaboração de materiais didáticos, considerando, antes de mais nada, a neces-sidade de propor conteúdos que correspondessem aos alunos da África e da diáspora africana. Era importante que nos questionássemos sobre a adoção de materiais didáticos que apresentavam basicamente conteúdos eurocêntricos, ignorando a história da África e de seus descendentes,

1GONZALEZ, Lélia. “A categoria político-cultural de amefricanidade”. In: LIMA, Márcia & RIOS, Flávia (orgs.).

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DOSSIÊ: África, africanos e seus descendentes em perspectiva decolonial: saberes e práticas na educação

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Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.6 | Nº. 1 | Ano 2020 | p. 6

apesar de sua representatividade e seu peso demográfico (pensando na América como um todo, podemos dizer que cerca de 30% da população mundial é afrodescendente).

Esse colóquio deveria ser teórico, ao refletir sobre os conteúdos dos materiais didáticos, mas ao mesmo tempo prático, no sentido de propor a elaboração de novos recursos numa pers-pectiva afro-decolonial, o que significava uma representação pertinente a africanos e pessoas de descendência africana. No encerramento do seminário de 2015, nos perguntávamos onde seria realizado o próximo, já que uma parte considerável dos pesquisadores que trabalham a temática encontra-se na África e nas Américas, o que implicava toda uma logística, com viagens dispen-diosas e muita burocracia para obtenção de vistos. Sendo a geopolítica do conhecimento um pri-vilégio do Norte global, percebemos a necessidade de subverter-se essa dinâmica e colocarmos as periferias do Sul como centro irradiador dos novos saberes que buscávamos. Por isso, defini-mos que o colóquio deveria acontecer no continente africano, ponto de partida das nossas aven-turas epistemológicas.

Assim, o segundo encontro ocorreu entre os dias 2 e 6 de maio de 2017 na Universidade Gaston Berger, em Saint-Louis-Senegal, e contou com a participação de quarenta pesquisadores, alguns não acadêmicos, professores de ensino médio e estudantes universitários. Todas as inter-venções trataram de questões relacionadas aos materiais didáticos e confirmaram a filosofia do colóquio: a apresentação de reflexões epistemológicas e também de ações concretas capazes de modificar os manuais didáticos.

Os debates privilegiaram as seguintes áreas socioculturais: África (Senegal, Costa do Marfim, Gabão, Camarões, Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial), Europa (França, Espanha, Itália), América (Colômbia, México, Brasil). O colóquio organizou-se a partir de dois grupos de reflexão. Durante as manhãs, sessões plenárias de ordem epistemológica se-guidas de exemplos concretos. Na parte da tarde, os participantes debatiam sobre as melhores estratégias para elaboração de materiais didáticos. Nesse sentido, a ideia era dialogar a respeito das diferentes geografias da África e propor ações que envolvessem o combate ao racismo epis-têmico no âmbito educacional. Um combate que passa por dar voz às diferentes populações, aos territórios e regiões que fazem parte desse continente e também da diáspora africana. É igual-mente exercitar um outro olhar a respeito das várias geopolíticas, abrangendo literatura, artes, história, antropologia, sociologia, cinema e outros diversos campos dos saberes.

Para tal, foram organizadas um total de nove sessões distribuídas em três workshops, com as seguintes temáticas-questões mais gerais: Como representar a África e sua diáspora nos manuais didáticos “latino-americanos” e como representar a “América afro-latina” nos materiais didáticos africanos?; Os livros de ensino de espanhol e português como línguas estrangeiras e a representação de africanos e pessoas de descendência africana; a representação de africanos e

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Apresentação pessoas de descendência africana nos manuais didáticos da África. Essas oficinas viabilizaram uma análise minuciosa da situação dos manuais didáticos e, ao final do colóquio, elementos con-cretos emergiram indicando novas pistas para o encontro que se realizaria em outubro de 2019 no Brasil.

Fruto dos resultados do colóquio de Saint-Louis, esse novo seminário aconteceu nas ci-dades de Salvador e São Francisco do Conde, na Bahia. Dessa vez, nosso objetivo era a criação de uma plataforma digital na qual os membros da rede fortalecida no Senegal poderiam compar-tilhar online todo o tipo de mídia (textos, fotos, vídeos, áudio, pintura, etc.) relacionada às cultu-ras africanas e afro-diaspóricas. Assim, fontes elementares poderiam ser consultadas por docen-tes, agentes culturais, artistas e educadores do mundo inteiro. Por esta razão, o encontro buscou privilegiar questões de práticas pedagógicas e didáticas, a partir de quatro eixos temáticos: orali-tura afro-diaspórica no ensino (práticas didáticas múltiplas); diversidade culorali-tural, interculorali-turali- interculturali-dade e ensino; experiências no ensino da África e suas diásporas; e a África e a Afro-América nos currículos escolares.

O evento teve início com uma conferência do Professor Kabengele Munanga (USP-UFRB) no Auditório Campus dos Malês, UNILAB. Nos dias seguintes, e ao longo de uma se-mana, mesas-redondas, simpósios temáticos, oficinas e lançamentos de livros foram realizados na sede do Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos (CEPAIA), da UNEB, localiza-do no bairro localiza-do Santo Antônio Além localiza-do Carmo, em Salvalocaliza-dor. Entre as diferentes atividades rea-lizadas, podemos destacar a oficina ministrada pela Professora Sandra Haydée Petit, que nos fez refletir sobre a importância da pretagogia decolonial no ensino, no desenvolvimento de práticas que dialoguem com um pensamento que possibilite visibilizar a ancestralidade africana. No con-junto de aprendizagens e ideias, ainda contamos com o lançamento de livros e a apresentação de professores e pesquisadores que também participaram do colóquio: Lukenya e seu poder podero-so, de Odara Dèlé; O Urugungo de Cassange, de Josivaldo Pires de Oliveira; e Ominíbu, Mater-nidade negra em Um defeito de cor, de Fabiana Carneiro da Silva.

Nesses caminhos, acreditamos que muitos desafios da práxis educativa se colocaram, tais como unir o pensamento acadêmico e escolar e promover a valorização do conhecimento prévio do aluno, seguindo seus passos e objetivos na aprendizagem. É necessário aproximar a comuni-cação entre os diferentes atores e disciplinas envolvidas, temas que fazem parte da vida do pro-fessor e do educando. A prática docente nos faz pensar acerca do conhecimento sobre a África construído historicamente, sob uma ótica europeia, etnocêntrica. Certamente um dos grandes de-safios que ficam é a necessidade de dar voz a escola e seus atores, com a finalidade de construir, cada vez mais, diálogos sobre educação étnico-racial em prol da produção de materiais didáticos, textos, aulas e cursos de formação numa perspectiva decolonial.

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DOSSIÊ: África, africanos e seus descendentes em perspectiva decolonial: saberes e práticas na educação

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Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.6 | Nº. 1 | Ano 2020 | p. 8

Para encerrar essa apresentação, mas não finalizar nossos encontros, retornamos à fala do mestre de todos nós, na luta contra o racismo, o professor Kabengele Munanga, que nos diz que a África toda não é a mesma coisa, mas tem muitas semelhanças e experiências em comum, o que os participantes do Colóquio puderam conversar e ressaltar, e pretendemos, pouco a pouco, compartilhar com os leitores. Acreditamos também que devemos, e podemos, sair do lugar co-mum e evitar análises rasas que naturalizam os diferentes temas políticos, econômicos e cultu-rais, abrindo-se, assim, para uma sociedade mais justa e para a construção de um mundo antirra-cista. Com agradecimentos aos funcionários do CEPAIA-UNEB (sem o apoio da instituição, o nosso evento não teria sido possível!), aos monitores e aos professores e pesquisadores da comis-são científica e a todos que estiveram nos seminários, deixamos aqui um convite para continuar-mos nessa empreitada, aberto também a novos participantes. Um agradecimento especial a Ar-mando Mariño, artista cubano que cedeu os direitos de imagem de sua obra El desplazamiento (1999) especialmente para a capa de nosso dossiê.

Até 2022, em Cabo Verde! Axé.

***

Seguindo a cronologia dos encontros, decidimos publicar um primeiro dossiê com traba-lhos que foram apresentados no colóquio de Saint-Louis, Senegal, em 2017. Composto por sete artigos, reunindo pesquisadores da África, Américas e Europa. O primeiro texto é de Juliana Bar-reto Farias, “Escravos” de ex-escravos: ensino de História e temas sensíveis nas salas de aula brasileiras. Partindo da análise da trajetória de uma liberta africana da Costa da Mina, Emília Soares do Patrocínio, a autora propõe discussões e possibilidades de atividades nas escolas em torno de um tema controverso nos estudos sobre escravidão: a posse de escravizados por homens e mulheres que já haviam vivido sob o cativeiro. Já a contribuição de Mariana Bracks Fonseca, intitulada Epistemologia da ginga: memória, história e corporidade na diáspora angolana, con-vida a uma viagem histórica e transatlântica, a partir da figura da rainha angolana Nzinga, pro-pondo uma memória transafricana mobilizada na diáspora como um espaço de resistência.

Na sequência, três artigos partilham uma temática próxima: o questionamento dos recur-sos didáticos presentes nos livros escolares, com destaque para as representações de africanos e seus descendentes. Tomando como ponto de partida suas experiências com os alunos do 1o ano de uma escola pública no Rio de Janeiro, Érika Bastos Arantes procura, em Imagens da África em escolas brasileiras: reflexões sobre uma experiência pedagógica, avaliar o papel das imagens do continente africano contidas tanto nos livros didáticos, como na Internet e em outras mídias. Em Colonización, rezagos de esclavitud y tránsitos hacia la vulnerabilidad: un estudio de los

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Apresentação libros de texto en Colombia, Sandra Guido Guevara e Carolina García apresentam os resultados da análise de fontes iconográficas e textuais numa série de livros. Suas análises fazem parte de um projeto de investigação mais amplo, sob o título de Libros de texto y diferencia cultural en Colombia. No contexto dos estudos sobre as ferramentas educacionais nos espaços escolares mexicanos, Rafael Muñiz-Decuir e Christian Hounnouvi Coffi adotam uma abordagem original no artigo Representaciones de los africanos y afrodescendientes en la Constitución y los libros de texto mexicanos: entre ausencia y negativismo, redefinindo noções e conceitos a partir de uma perspectiva decolonial. Nesse percurso, também privilegiam os suportes iconográficos para exa-minar como africanos e descendentes vêm sendo representados nos manuais didáticos e ainda propor reflexões epistemológicas.

Para finalizar essa seção, dois textos em língua francesa. Em La représentation des Afro-Brésiliens dans les manuels de portugais brésilien langue étrangère, Maria Thedim se debruça sobre cinco fragmentos de manuais de Português como Língua Estrangeira (PLE), publicados no Brasil, na França e nos Estados Unidos entre os anos de 1973 e 2008, para analisar as representa-ções dos afro-brasileiros ali presentes, revelando como, ao final, expressam certos “efeitos soci-ais”, dentre os quais, o “racismo cordial”. Tendo em vista a “invisibilidade” que recai sobre grande parte dos africanos e seus descendentes, Michel Feugain, no artigo Africains, afrodescen-dentes: base de données pour une visibilité et contribution pédagogiques, enfatiza a necessidade de se criar instrumentos para compartilhar conhecimentos sobre a África e sua diáspora. Nesse sentido, o autor propõe a construção de uma base de dados digital onde todos os tipos de conteú-dos educativos e culturais poderiam ficar disponíveis, a fim de torná-los acessíveis ao público e, em particular, aos professores.

Em breve, publicaremos um segundo dossiê, com trabalhos apresentados no segundo co-lóquio, realizado em 2019, cuja temática estará mais centrada nas práticas decoloniais em salas de aula, com perspectivas didáticas que incluem uma representação mais justa e adequada de África e das suas diásporas.

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