ENCONTRAR.
CINEMAASÉRJO
NA
CONFUSÃO
DOYOUTUBE
Entre
as 72
horas
de
vídeo que
ali
são
carregadas
todos
os
minutos há, além
dos
telediscos,
vídeos caseiros
e
excertos
de
programas
de televisão,
uma
quantidade
imensa
de
filmes
das
mais variadas
cinematografias
e
épocas.
Págs.
8
a
11
OYOUTUBEEUMA
IMENSA
E
DESARRUMADA
CINEMATECA
'ONLINE'
Está calculado
que
osutilizadores
do YouTube
carregam
72
horas de vídeo
por
minuto,
entre filmes,
programas
eséries de
televisão,
'clips'
musicais,
vídeos caseiros
etodas as restantes bizarrices
que
lá
encontramos.
Há
uma
quantidade
imensa
de
filmes disponível
no YouTube, das mais
variadas
cinematografias,
epodemos
ver muitos
deles
de
forma
legal.
Em
especial
clássicos
americanos
eeuropeus,
bem
como
várias
décadas
de
cinema
russo,
do
tempo
do
mudo até hoie
por
Eurico de
Barros
NA ZONA
DE COMENTÁRIOS doYouTube,um utilizador
escreve: "Uma obra-prima deWelles injustamente negligenciada. Aqui no
Canadá nunca foiestreada comercialmente.
Muito
obrigado por aterem
posto aqui!". A obra-prima éAs Badaladas da Meia-Noite, ofilme
shakespeareano que Orson Wellesro-dou em Espanha em 1965. É
um
dos filmesdorealizador que menos circulam epode ser
visto noYouTube em sequência ou dividido
empartes. Eseolharmos para acoluna de
re-comendados dadireita, onde surgem filmes
associados ao principal, podemos encontrar
vários outros
títulos
de Welles, caso de ADama de Xangai, Macbeth ou A Jornada do
Medo. E ainda o documentário The Battle
over Citizen Kane, o mais completo já
feito
sobre aprodução, arodagem e as
controvér-sias de OMundo aSeus Pés. Quais destes
fil-mes deOrson Welles estarão no YouTube ao
arrepio dos direitos de autor, e quais em
si-tuação legal?
Quando orealizador italiano Dario
Argen-to esteve há poucas semanas em Lisboa,
co-mo convidado especial e homenageado do
MOTELx
2012, podiam ser vistos noYouTu-bepraticamente todos osseus filmes, alguns
mesmo emvárias versões, falados no
italia-no ou italia-no inglês originais, ou dobrados em
es-panhol ealemão.
Um
dos comentários aumadas obras-primas deArgento, Suspiria, era do
próprio
utilizador
que ocolocou noYouTu-be, gabando-se de jáoter disponibilizado
um
ror de vezes, apesar de ser retirado
consecu-tivamente
pelo serviço.Éassim oYouTube. Não ésó
um
sítioon-de hátelediscos dos anos 60e70,anúncios
antigos, vídeos amadores de matulões
debi-lóides mentais aestamparem-se de skate,
ve-lhos programas de televisão apreto e
bran-co, golos de futebol históricos ou ridículos,
criancinhas a berrar com dores de dentes,
noivas acaírem no caminho para oaltar, cães
egatos afazerem truques, primos gordos a
darem chapões napiscina, aspirantes a
estre-las de rock a massacrarem as canções dos
seus grupos favoritos ou o que mais
possa-mos imaginar.
OYouTube étambém uma imensa,
anár-quica esurpreendente cinemateca online, na
qual, sem pagarmos
bilhete nem
termos defazer fila, podemos embrenhar-nos em pro-fundidade com
um
simples clique do rato ouumabusca rápida. Eonde, feito o necessário
egratuito registo, podemos restringir-nos a
ver apenas os filmes que são oferecidos
le-galmente, porque osdireitos estão no domí-nio público ou foram contratados ou
dispo-nibilizados no serviço pelos seus detentores
ou pelas instituições que os representam,
como é o caso da cinematografia russa, de
que já falaremos.
Dado que o Google, proprietário do
Vou-Tube,
tem
investidomuito
no combate àpi-rataria (não esqueçamos que a esmagadora maioria dos conteúdos do YouTube são lá
postos pelos seus utilizadores, enão são
vis-tos
previamente),
nomeadamente, edesde2007, através de
um
software chamadocolocados com infração dos respetivos
direi-tos de autor, não se encontram muitas
es-treias recentes, em especial os blockbusters
americanos. Embora pareça que asituação
dos filmes mais antigos émais difícil de
apu-rar, sobretudo as produções estrangeiras.
1.
CLÁSSICOS
DO
CINEMA
A abundância no YouTube, por exemplo, de
clássicos do cinema europeu,
nomeadamen-te filmes italianos, ingleses, franceses e
ale-mães, bem como portugueses
-
desdelon-gas-metragens, curtas edocumentários de
Manoel deOliveira, atéclássicos dacomédia nacional como OPai Tirano ou A Canção de
Lisboa, de Camões eChaimite (alguns destes
fatiados em dez ou 15 partes), passando por
Belarmino, de Fernando Lopes, ou OLugar
doMorto, de António-Pedro Vasconcelos
-,
pode levar outilizador
a desconfiar que sefazvista grossa àsua disponibilidade. (Tam-bém há filmes asiáticos, e
muito
-
emuito
repetitivo-
cinema indiano).Acontece que alogística do YouTube fica
assoberbada com aquantidade deconteúdos
que écolocada em jato contínuo (está
calcu-lado que os utilizadores carregam 72 horas de
vídeo por
minuto,
entre filmes, programas eséries de televisão, vídeos caseiros e
amado-res, dips musicais etodas as restantes
bizar-rices) e que, como explicou numa
conferên-cia recente Susan
Wojcicki,
uma executivado Google, muitos filmes mais antigos e
ve-lhas séries de televisão encontram-se
num
limbo dedireitos autorais, eo
Content
ID
só retira oconteúdo quando odetentor dosdi-reitos dá pela coisa enotifica oGoogle.
Mas o cinéfilo pode ficar
muito
bemser-vido sem
ter
de estar apensar se o clássico ouovelho
filme
apreto e branco que está averfoi lá colocado em situação irregular ou não,
como sucede com As Badaladas da
Meia-Noi-te ou os outros títulos de Orson Welles
aci-ma referidos. Basta abrir uma conta no
Goo-gle, fazer o devido registo e aceder auma
cornucópia de títulos. Entre eles
encontram--se filmes como Desaparecida!, deAlfred
Hi-tchcock, O Malvado Zaroff, de Ernst B.
Schoedsack e
Irving
Pichei, Um JoãoNin-guém, de Frank Capra, Charada, de Stanley
Donen, Sherlock Júnior, de Buster Keaton, O
Juiz Priest, de John Ford, A Parada dos
Mons-tros, de Tod Browning, O Anjo Azul, de Josef
von Sternberg, O Pai daNoiva eOPaiéAvô,
ambos de
Vincente
Minnelli,
O Tesouro deÁfrica eodocumentário Battle ofSan Pietro,
ambos deJohn Huston, Nosferatu, o
Vampi-ro, de
Murnau,
O Sinal do Zorro, deFredNi-blo, eOPirata Negro, de
Albert
Parker,am-bos com Douglas Fairbanks, A Canção da
Saudade, de George Stevens. Eainda
curtas--metragens de Charlie Chaplin, desenhos
animados de
Betty
Boop e de Popeye,wes-terns com Roy Rogers, coleções de sketches
deAbbott eCostello ede
W.C.
Fields, emui-tas séries Bpoliciais, de ação, guerra ou
ter-ror, entre eles vários dos mais abismalmen-te maus filmes com Bela Lugosi.
2.A'OFERIA'RJJSSA
A mais impressionante, abundante, variada
e ordenada
oferta
graciosa disponível noYouTube é adocinema russo.
Uma
cortesiados Estúdios
Mosfilm
eda Rússia Turismo,com filmes que começam na era do mudo e
vão até kperestroika, e para lá dela, com
pro-duções bastante recentes. Sem esquecer os
pastelões depropaganda soviética, caso dos
ambientados na
II
GuerraMundial
ou"Grande Guerra Patriótica", bem como
co-médias emusicais.
Estão disponíveis obras-primas de Sergei
Eisenstein como A Greve, Outubro, O
Coura-çado Potemkin, Alexandre Nevsky e Ivan, o
Terrível; de Andrei Tarkovsky, como A
Ju-ventude de
Ivan,
Andrei Rublev, Solaris,Stalker e mesmo Nostalgia e O Sacrifício,
ambos rodados na Europa, durante oexílio
do cineasta; muitas sólidas adaptações de
clássicos da
literatura
russa, caso de BorisGodunov e do
monumental
Guerra e Paz,ambos assinados por Sergei Bondarchuk (1>
;
ABalada do Soldado, de Grigoriy
Chukrai
<2),
Quando Passam as Cegonhas, e de
Mikhail
Kalatozov <3>
; fitas de Larissa Shepitko <4)e
do seu marido, Elem
Klimov
(5>(é ocaso de
Agonia, sobre Rasputine,
feito
em 1981mas vetado por alegadamente apresentar o czar Nicolau
II
sob umaluz
simpática de-mais e só visto quando Gorbachev subiu aopoder); Moscovo não Acredita em Lágrimas,
de
Vladimir Menshov
(s>, Oscar do
Melhor
Filme Estrangeiro em 1981; OMeu Amigo
Ivan Lap-shin, de Aleksei German <7)
,e
Arre-pendimento, de Tengiz Abuladze (8)
; Taxi
Blues, de Pavel Lungin (9)
Fes-tival
de Carmes, eoasperamente contesta-tário e realista A Pequena Vera, de VasiliPichul
<10); Sol
Enganador,
deNikita
Mikhalkov
<n); Cargo
2000,
do provocadorAlexei
Balabanov (12);ORegresso, de
Andrei
Zvyagintsev
<13>, que recebeu o Leão de
Ouro do Festival de
Veneza
em2003;
ouainda
How
I
Ended This Summer, deAlexei
Popogrebskiy <14)
,
um
dos vários autores danovíssima geração de cineastas russos, e que
continua
escandalosamenteinédito
em Portugal.É como se os grandes estúdios de
Holly-wood se tivessem
juntado
para pôr online,de graça esem qualquer impedimento, uma
seleção abrangente dos melhores filmes dos
seus arquivos, dos tempos emque ocinema
ainda não falava até aos
títulos
da era dosefeitos especiais digitais. No paraíso do
ci-néfilo,
uma das língua predominantes é arussa.
(1)Sergei Bondarchuk (1920-1994)foi umator e
realizador soviético, autor defilmes como Waterloo
(1970) ouAEstepe (1977).Foidistinguido como
Prémio Lenine econsiderado Artista doPovo daURSS.
(2) Grigoriy Chukray (1921-2001)foi um realizador
eargumentista soviético, que em1961assinou Clear
Skies, umdosprimeiros filmes aousar abordar a repressão estalinista.
(3)Mikhail Kcãatozov (1903-197],) foium realizador
edocumentarista soviético, autor deobras como I Am
Cuba (1964) ou ATenda Vermelha (1971).
(4) LarissaShepitko (1938-1979)foi uma realizadora
soviética, autora defumes como Ascensão (1976).
(5)Elem Klimov (1933-2003)foi um realizador
soviético, autor defilmes como VemeVê (1985). Foi
director doSindicato dos Realizadores Russos
durante aperestroika.
(6)VladimirMenshov (n.1939) éum realizador e
atorrusso.
(7)Aleksei German (n.1938) éum realizador russo.
(8)Tengiz Abuladze (1924-1994) foium realizador
georgiano.
(9)taoel Lungin (n.1949) éum realizador russo,
instalado emFrança desde 1990.
(io)Vasili Pichul (n. 1961) éum realizador russo.
(11)NtfcttaMtJthaWtou (n.1945) éum realizador e
atorrusso, autor defilmes como PeçaIncompleta
para Piano Mecânico (1977), Olhos Negros (1987),
Urga, Espaço sem Fim (1991) ou12 (2007). Preside
atualmente ao Sindicato dos Realizadores Russos.
(12)Alexei Balabanov (n.1959) éumrealizador
russo.
(13)Andrei Zvyagintsev (n.1964) éum realizador
russo, autor defilmes como Elena (2011).
(14)Alexei Popogrebskiy (n. 1972) éum realizador
eargumentista russo.
Frank
Caprarealizou
'Um
JoãoNinguém'
em
1941, comGary
Cooper eBarbara'Desaparecida!', de
Alfred Hitchcock
(1938),
também
está legal no YouTubeO Couraçado