• Nenhum resultado encontrado

Eu Creio no Pai no Filho e no Espírito Santo - Hermisten Maia Pereira

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Eu Creio no Pai no Filho e no Espírito Santo - Hermisten Maia Pereira"

Copied!
475
0
0

Texto

(1)

Hem m ten Maid Pereiro c\i Casio

EU CREIO

P o i.

no Fllho c

no Espirito Santo

(2)

EU CR.EIO

&To

Pai,

no Filho e

no Espírito Santo

HERMISTEN MAIA PEREIRA DA COSTA

fZ 0 EDIÇÕES ^l/p a r a k l e t o s

(3)

Costa, Hermisten Maia Pereira da

Eu Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo / Hermisten Maia Pereira da Costa. — São Paulo : Edições Parakletos, 2002.

Bibliografia.

1. Credos 2. Deus - Paternidade 3. Espírito Santo 4. Jesus Cristo 5. Trindade 6. Trindade - História das doutrinas I. Título.

02-3237__________________________________________________ CDD 238.11

índices para catálogo sistemático:

1. Credo ápostólico : Fé Cristã : Doutrina cristã 238.11

® 2002, Edições Parakletos. Todos os direitos são reservados.

1a edição: julho de 2002

Tiragem: 2.000 exemplares

Editoração e capa:

Eline Alves Martins

Conselho editorial:

Valter Graciano Martins, Denivaldo Bahia de Melo, Lauro B. Medeiros Silva e Eline Alves Martins

/7 p EDIÇÕES tJpA R A K LETO S

Rua Adamantina, 36 • Baeta Neves • 09760-340 • São Bernardo do Campo, SP Telefax: 11 4121-3350 • e-mail: parakletos@uol.com.br

(4)

ÍNDICE

---PREFÁCIO ... 7

PALAVRA EXPLICATIVA... 9

OS SÍMBOLOS DE FÉ NA HISTÓRIA: INTRODUÇÃO GERAL...13

I - A INSPIRAÇÃO E INERRÂNCIA DAS ESC R ITU R A S... 77

II - A FÉ SALVADORA...97

III - A PATERNIDADE DE D E U S...129

IV - O PODER SOBERANO DE DEU S... 145

V - O DEUS CRIADOR...169

VI - A VINDA DE JESUS CRISTO...202

VII - A PESSOA DE CRISTO...214

VIII - A UNIDADE E A NECESSIDADE DAS DUAS NATUREZAS DE CRISTO ... 222

IX - O FILHO UNIGÉNITO DE D E U S...250

X - JESUS CRISTO, NOSSO SENHOR...261

XI - O MINISTÉRIO TERRENO DE JESUS CRISTO...270

XII - OS SOFRIMENTOS DE CRISTO... 278

XIII - JESUS, O SALVADOR...286

XIV - O SACERDÓCIO DE CRISTO ...297

XV - A RESSURREIÇÃO DE CRISTO... 310

XVI - A ASCENSÃO DE JESUS CRISTO...326

XVII - A SEGUNDA VINDA DE CRISTO...334

XVIII - O JUÍZO FINAL... 366

XIX - CREIO NO ESPÍRITO SANTO: SUAS PERFEIÇÕES E DIVINDADE...382

XX - A IGREJA DE DEUS: UNA, SANTA E UNIVERSAL...418

XXI - AMÉM ... 461

ADENDO: PRINCIPAIS CATECISMOS E CONFISSÕES REFORMADOS: SUBSÍDIOS HISTÓRICOS... 469

(5)

alavra Credo, cujo significado - creio eu - refere-se ao ato pelo uai o homem reconhece e confessa a realidade e o conteúdo da O histórico e precioso documento chamado “Credo dos Apósto­

los”, matéria da análise deste livro, tem sido conservado pelos cristãos,

e ecoado através dos séculos como uma profissão de fé em que se defi­ ne a doutrina base da Igreja. Sendo inicialmente elaborado para a con­ fissão de fé batismal dos que iam se tomando cristãos, foi acrescido, posteriormente, de outros artigos, tomando a forma em que o conhece­ mos hoje.

Contudo, desde há muito, até aos nossos dias, em todo o mundo, cristãos de todos os matizes o sabem de cor e o proclamam, liturgica- mente, com devoção.

No entanto, poucos têm imergido na profundidade doutrinária des­ tas declarações, ou percebido o mundo teológico que as envolve, real­ çando razões, alicerce e o fundamento bíblico que lhes dão suporte.

É isto o que vemos na presente obra do já apreciado e respeitado autor, Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa, cuja formação teológica que hoje atinge a níveis de doutorado, teve sua base no bacharelado do Seminário Presbiteriano do Sul na sua fase pós crise na segunda meta­ de dos anos setenta.

Com uma didática de Mestre, trazendo-nos uma soma espantosa de informações, e abrindo-nos, através de substanciosas notas, cente­ nas de obras, o autor esclarece, fundamenta, comunica, informa e, na verdadeira acepção da palavra, ensina a boa doutrina, e o faz com fide­ lidade e clareza.

(6)

8 EU CREIO.

O pastor, o professor de Escola Dominical, o estudioso da Palavra de Deus vão encontrar neste tratado teológico uma fonte da boa doutri­ na reformada, desenvolvendo os temas mais importantes da teologia cristã, como Teontologia, Cristologia e Pneumatologia, e outros, inse­ ridos nestes, como Eclesiologia e Escatologia.

Todos aqueles que amam a Palavra de Deus, e se deleitam no estudo sério das Escrituras Sagradas, ao compulsarem esta obra serão fortaleci­ dos e perceberão a magnitude e a profundidade que subjazem nesta bendi- da expressão: “Eu Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo”.

Ocupando com notável competência, já há quase duas décadas, a cadeira de Teologia Sistemática no Seminário Presbiteriano Reveren­ do José Manoel da Conceição, em São Paulo, o Rev. Hermisten, des- pretencioso, sempre avesso a honrarias e poder, tem contribuído com sua personalidade, seus livros e aulas, para a formação teológica e éti­ ca de algumas gerações de pastores que muito honram o ministério da Igreja Presbiteriana do Brasil.

Em meio aos desvios da fé que expressam o tumultuado mundo religioso em que vivemos, chega-nos, em boa hora, esta publicação teológica, bíblica e orientadora, enriquecendo não apenas boas biblio­ tecas, mas mentes e corações sequiosos da verdade.

Somos gratos a Deus pela vida enriquecedora do mestre, teólogo, pastor e amigo, Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa, cuja palavra, escrita ou falada, testemunha em verdade o título da sua obra.

São Bernardo do Campo, Outono de 2002.

(7)

---E

ste livro surgiu basicamente de uma necessidade. Em abril de 1988, percebi a necessidade de elaborar lições para serem estudadas na Escola Dominical da Igreja da qual era pastor: Igreja Presbiteriana de Vila Guarani, São Paulo, Capital. Escolhi o Credo Apostólico como rota de estudo por ver nele uma boa síntese da Fé Cristã.

A Igreja começou a estudar os textos no primeiro domingo de ju­ lho de 1988, continuando, de modo ininterrupto, até agosto de 1991.

Na elaboração e análise desses textos, algumas observações de­ vem ser feitas:

1) Os textos foram escritos da maneira mais simples possível a fim de serem acessíveis aos crentes em geral. Neste mister, a Sr“ Neuraci Maria Toscano Salerno foi de grande valia. Como professora de uma das classes de adultos, eu lhe pedi que lesse boa parte dos textos escri­ tos, a fim de que opinasse quanto à compreensão dos mesmos bem como à possibilidade de sua ministração. Ela atendeu o meu pedido com competência e generosidade.

2) Cada texto foi estudado num período que variou entre quatro e oito semanas.

3) No final de cada capítulo - com poucas exceções ao invés de apresentar uma conclusão, indiquei algumas implicações doutrinárias e práticas do assunto abordado. Este método parte da maneira como olho as Escrituras: entendo que toda doutrina ensinada nas Escrituras tem relação com outras doutrinas; e estas têm implicações direta com a nossa ética. Cada doutrina estudada deve vir acompanhada da questão pessoal e intransferível - e por isso mesmo de extrema relevância: o que devo fazer?

(8)

10 EU CREIO.

4) Nos textos originalmente estudados, apresentei, ao final, suges­ tões de leitura para que o assunto pudesse ser aprofundado por quem se interessasse. Essas sugestões não foram incluídas nesta coletânea.

Quanto ao texto que agora temos reunido, devemos destacar algu­ mas coisas. Entre a primeira redação das lições e a sua reunião final, passaram-se quase treze anos, e algumas modificações foram feitas. Obviamente, os textos foram ampliados partindo de algumas novas leituras; no entanto, a estrutura é a mesma do início. Nessas amplia­ ções, os textos ganharam vida própria; assim, alguns comentários fei­ tos em determinados capítulos foram acrescentados a outros para con­ ferir maior sentido à compreensão daquele texto isolado. Desse modo, algumas repetições serão inevitáveis, considerando também que, mes­ mo reunindo os capítulos, procurei preservar cada um como texto au­ tônomo, para que o leitor, comece por onde começar, tenha sempre um texto completo em cada capítulo.

Outro fato é que, se por um lado os textos foram aperfeiçoados dentro da mesma estrutura, o capítulo sobre o Espírito Santo sofreu aqui um grande corte, tendo em vista que a partir das cinco lições ori­ ginais deixei apenas a primeira, com os acréscimos já mencionados. A razão é simples. Esses capítulos tornaram-se livro independente, se­ guindo a mesma estrutura, apenas extremamente maior. No entanto, no capítulo preservado abordamos o que julgamos essencial a este livro: o tratamento do Espírito como Pessoa Divina.

O capítulo sobre o Sacerdócio de Cristo não fazia parte original desta coletânea. No entanto, o mesmo também foi estudado na Igreja em outro período. Eu o inseri por considerá-lo pertinente à nossa abor­ dagem do assunto.

A introdução sobre os Símbolos de Fé foi apresentada pela primei­ ra vez em 19/5/90, na Igreja Presbiteriana de Pedro Leopoldo, MG, no encontro promovido pela Secretaria de Educação Religiosa do Presbi­ tério Metropolitano. O texto também passou por revisões, no entanto a estrutura original foi mantida.

Finalizando, registro que na redação original de todos esses tópi­ cos sou devedor a muitas pessoas, que por certo não são responsáveis pelas inevitáveis falhas. Todavia, gostaria de destacar a Sr“ Neuraci

(9)

que, como já mencionei, leu grande parte dos primitivos originais; a Igreja Presbiteriana de Vila Guarani - a qual tive a honra de pastorear (1985-1994; 1997-1998) -, que através do seu interesse sempre me incentivou a continuar escrevendo. Sou grato também à minha esposa, Eliana, que, apesar de seus muitos afazeres domésticos, sempre encon­ trou tempo para ler meus manuscritos e fazer correções importantes que amenizaram em muito o meu estilo pedregoso... A todos meus sinceros agradecimentos.

São Paulo, 19 de abril de 2001.

(10)

OS SÍMBOLOS DE FÉ NA HISTÓRIA: INTRODUÇÃO GERAL

---"A Bíblia é a Palavra de Deus ao homem; o Credo é a resposta do homem a Deus. A Bíblia revela a verdade em forma popular de vida e fato; o Credo declara a verdade em forma lógica de doutrina. A Bíblia é para ser crida e obedecida; o Credo é para ser professado e ensinado.’’ - R Schaff, The Creeds of Christendom, 6a ed. revised and enlarged, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1977, Vol. II, p. 3.

"O Que temos de fazer é reconhecer oue somos, muito mais do Que reconhece­ mos, frágeis filhos da tradição, boa ou má, e precisamos aprender a Questionar, à luz das Escrituras, aouilo oue até aoui aceitamos sem perguntas.” - |.I. Packer, O Conforto do Conservadorismo: In: Michael Horton, ed. Religião de Poder, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1998, p. 236.

IN T R O D U Ç Ã O

N

a Reforma Protestante do século XVI, o uso de Catecismos e Confissões foi de grande valia para a educação dos crentes, partindo sempre do princípio da necessidade da fé explícita de que todos os cristãos devem conhecer sua fé, sabendo no que crêem e por que crêem. No Brasil, quando nossa Igreja foi iniciada (1860),1 o ensino dos símbolos de Westminster teve um papel importante.

1 Como sabemos, o Presbiterianismo brasileiro comemora o seu aniversário em 12 de agosto, tendo como marco a chegada de Ashbel G. Simonton (1833-1867) no Rio de Janei­ ro, em 12/08/1859. Todavia, usei o ano de 1860, não com o intuito de polemizar a respeito - aliás, porque considero de inteira irrelevância uma discussão desse tipo mas sim, por­ que foi em 22/04/1860 que ele começou uma Escola Dominical em sua casa, sendo este o seu primeiro trabalho evangélico realizado em português. O nosso sistema não é episcopal que entende que onde está o bispo está a Igreja... [vd. mais detalhes in Hermisten M.P. Costa, Os Primórdios do Presbiterianismo no Brasil: Breves Anotações, São Paulo, 1997],

(11)

Hoje, em nome de um suposto “pluralismo” supostamente acadê­ mico, o que podemos perceber é um enfraquecimento desta ênfase, mesmo nos Seminários ditos Reformados, acarretando um desfigu- ramento doutrinário por parte de muitos de seus pastores e, conse­ qüentemente, dos membros da igreja.

No início do século passado, ouvia-se o clamor de determina­ dos grupos independentes nos Estados Unidos, que diziam o se­ guinte: “Nenhum credo senão a Bíblia".2 Atitude similar ainda hoje é observada em grupos ou pessoas, dentro de nossa denominação, que manifestam à t forma clara o seu desprezo para com os Credos da Igreja ou, de modo velado, não se interessando por eles, como se os Credos fossem apenas uma série de pronunciamentos antiqua­ dos, sem nenhuma relevância para a igreja contemporânea ou como se eles pretendessem se constituir numa declaração de fé que rivali­ zasse com as Escrituras Sagradas, devendo, portanto, ser rejeitados por não estarem de acordo com o espírito da Reforma que, correta­ mente, enfatizou “Sola Scriptura”...

Quando tratamos deste tema, as questões que logo vêm à baila são: Estariam tais grupos, ou pessoas, errados? Por outro lado, as denominações que têm suas Confissões de Fé estariam incorrendo em erros? Neste caso, os Credos e as Confissões não estariam sen­ do colocados no mesmo nível das Escrituras, contrariando assim um dos princípios da Reforma, que diz: “Sola Scriptura”?

Tais questões parecem-nos de grande relevância e pertinência; cremos poder respondê-las através deste ensaio; todavia, conside­ ramos oportuno realçar preliminarmente que “Lutero e os reforma­

2 Cf. M. A. Noll, Confissões de Fé: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-

Teológica da Igreja Cristã, São Paulo, Vida Nova, 1988-1990, Vol. I, p. 340. Este tipo de

declaração também tornou-se comum pelo menos no início do século XX, quando alguns fundamentalistas, além de repetirem a afirmação supra, também bradavam: “Nenhum ‘CRE­

D O ’, senão Cristo" (vd. R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo: La Santa Iglesia,

Grand Rapids, Michigan, SLC., 1985, p. 100; L. Berkhof, Introduccion a la Teologia Siste­

mático, Grand Rapids, Michigan, T.E.L.L., c. 1973, p. 22). Entre o final dos anos 50 e

início dos anos 60, Lloyd-Jones disse com tristeza: “No presente século há marcante aver­ são por credos, confissões e por definições precisas. O cristianismo tornou-se um vago e indefinido espírito de boa vontade e filantropia” (David M. Lloyd-Jones, A Unidade Cris­

(12)

Os Símbolos de Fé na História 15

dores não queriam dizer por Sola Scriptura que a Bíblia é a única autoridade da igreja. Pelo contrário, queriam dizer que a Bíblia é a única autoridade infalível dentro da Igreja.”3 A autoridade dos Cre­ dos era indiscutivelmente considerada pelos reformadores - tendo inclusive Lutero e Calvino elaborado Catecismos para a Igreja contudo, somente as Escrituras são incondicionalmente autoritativas.

1. O S SÍM BO LO S DE FÉ

1.1. Origem da Palavra Símbolo

O termo “Símbolo” é proveniente do grego I/ó|lfk>À,ov, deriva­ do de 5X>(l|3áÀ,À,£iv (crúv = “junto com” & pàX,A,co = “atirar”, “lan­

çar”, “semear”4), que significa “comparar” e “lançar junto” e “con­ frontar”, “pôr junto com”. O substantivo SunfioA/rí significa “en­ contro”, “juntura”, “ajustamento”. “Symbolé pode significar con-

cretamente a articulação do cotovelo ou do joelho: dois ossos dife­ rentes se unem ou se ajustam um ao outro; não se poderia, contudo, conceber concretamente um sem o outro.”5

Na Antigüidade, quando era formalizado um contrato, um obje­ to era partido e dividido entre as partes contratantes; cada parte do objeto dividido era um “símbolo” de identidade para a junção com

3 R. C. Sproul, Sola Scriptura: Crucial ao Evangelicalismo: In: J.M. Boice, ed. O Alicer­

ce da Autoridade Bíblica, São Paulo, Vida Nova, 1982, p. 122. Timothy George coloca a

questão nestes termos: “O sola scriptura não pretendia desprezar completamente o valor da tradição da igreja, mas sim subordiná-la à primazia das Escrituras Sagradas. Enquanto a Igreja Romana recorria ao testemunho da igreja a fim de validar a autoridade das Escrituras canônicas, os reformadores protestantes insistiam em que a Bíblia era autolegitimadora, isto é, considerada fidedigna com base em sua própria perspicuidade, comprovada pelo testemunho íntimo do Espírito Santo” (Timothy George, Teologia dos Reformadores, São Paulo, Vida Nova, 1994, p. 312). A observação de Packer é pertinente como princípio que deve servir de parâmetro: “Dentro dessa abordagem, e com base na percepção comum de que tanto o Espírito de Deus como também o pecado humano estão sempre trabalhando dentro da igreja, espera-se que as tradições cristãs sejam parcialmente certas e parcialmen­ te erradas” (J.I. Packer, O Conforto do Conservadorismo: In: Michael Horton, ed. Religião

de Poder, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1998, p. 234).

4 Vd. Mt 3.10; 13.48; Mc 4.26; 15.24; Ap 14.19. Na voz média, significa “pensar consi­ go mesmo”, “ponderar”, “deliberar” (cf. páXXco: ln: Lindell & Scott, Greek-English Lexi-

con, Oxford, Humphrey Milford, 1935, p. 126a).

(13)

o outro pedaço, “um fragmento que exigia ser completado por outra parte para formar uma realidade completa e funcional”.6 Posterior­ mente, a palavra passou a significar qualquer sinal ou senha (con- tra-senha) que transmitisse determinada mensagem.7 Notemos, por­ tanto, que a idéia embutida no conceito de símbolo é de “dualis­ mo”, separação e junção: as duas partes são separadas para ser “re­ unidas”.8 O símbolo só tem valor porque aponta para a realidade simbolizada, e a realidade simbolizada carece daquele sinal que a referencia.

O substantivo não é empregado no Novo Testamento, no entan­ to o verbo a\))J,páX,A,co ocorre seis vezes - somente nos escritos de Lucas com o sentido de “calcular”, “considerar”, “consultar”, “contender”, “auxiliar”, “receber” (*Lc 2.19; 14.31; At 4.15; 17.18; 18.27; 20.14).9 Na Septuaginta aparece uma só vez, no sentido religi­ oso: Os 4.12,10 traduzida por “madeira”, “pedaço de pau”, que servia para a consulta idólatra do povo: rabdomancia. Deus já falara desta prática de forma condenatória (Dt 18.9-14; Is 40.19-20; Jr 2.27).

6 D. Sartore, Sinal/Símbolo: In: Domenico Sartore & Achille M. Triacca, orgs. Dicioná­

rio de Liturgia, São Paulo, Paulinas/Paulistas, 1992, p. 1143b.

7 Ambrósio de Milão, por exemplo, explica: “Símbolo é o termo grego que significa ‘contribuição’. Principalmente os comerciantes costumam falar de contribuição quando ajuntam seu dinheiro e a soma assim reunida pela contribuição de cada um é conservada inteira e inviolável, se bem que ninguém ouse cometer fraude em relação à contribuição. Esse é o costume entre os próprios comerciantes para que, se alguém cometer fraude, seja rejeitado como fraudulento” (Ambrósio, Explicação do Símbolo, São Paulo, Paulus, 1996, 2. p. 23). Vejam-se: F.D. Danker, Simbolismo, Simbología: ln: E.F. Harrison, ed. Dicciona-

rio de Teologia, p. 500; Fernando B. de Ávila, Pequena Enciclopédia de M oral e Civismo

(Rio de Janeiro), MEC., 1967, p. 457; A. Lalande, Vocabulário Técnico e Crítico da Filo­

sofia, São Paulo, Martins Fontes, 1993, “Símbolo”, 1015; K.S. Latourette, História dei Cristianismo, 4a ed. Casa Bautista de Publicaciones, 1978, Vol. 1, pp. 180-181. Para uma

discussão concernente à interpretação da palavra entre os escritores cristãos primitivos, vd. J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, Salamanca, Espana, Secretariado Trinitario,

1980, p. 71ss.

8 Vd. Marc Girard, Os Símbolos na Bíblia, p. 26.

9 Isidro Pereira indica que “au|xpó&Am”, na voz média no intransitivo, tem o sentido, entre outros, de “coligir”, “deduzir”, “julgar”, “compreendei”, “considerar” (Jsidro Perei­ ra, Dicionário Grego-Português e Português-Grego, 7“ ed. Braga, Livraria Apostolado da Imprensa (1990), “cruppò&Ata”, p. 539b). Talvez indicando a idéia de “cotejar” os fatos.

10 No texto, Deus condena a prática de Israel (8o século), indicando sua falta de conheci­ mento da Palavra de Deus e do Deus da Palavra (vd. Os 2.8; 4.1, 6; 8.1, 2, 14; 10.1; 11.3).

(14)

Os Símbolos de Fé na História 17 1.2. Definição de Símbolo

O símbolo está relacionado com algo que ultrapassa o seu valor intrínseco, tendo como caráter intencional apontar para além de si mesmo; ele tem como marca de sua essência o caráter de sua supera­ ção, na qual encontra o seu verdadeiro significado.11 Cari Jung (1875- 1961) diz o seguinte: “Uma palavra ou imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato.”12 O símbolo é um veículo de comunicação que contribui para rom­ per as barreiras lingüísticas,13 permitindo a identificação sem o uso necessário de palavras, as quais por sua vez também são símbolos. A linguagem é sempre um elemento simbólico; a língua é uma es­ pécie daquele gênero. O símbolo não pode ser confundido com o elemento simbolizado e, num primeiro instante, ele pode não ter nenhuma relação intrínseca com o que representa;14 em muitos ca­ sos, a relação estabelecida é apenas no nível de idéia, não do ser em si.15 Os símbolos são “imagens de coisas ausentes”.16 Por isso é que o “signum” (signo) é contrastado com a “res" (coisa) que é conside­ rada em si e por si mesma.17

11 Vd. Agostinho, A Doutrina Cristã, São Paulo, Paulinas, 1991,1.2.2. pp. 52-53. 12 Cari G. Jung, org. O Homem e Seus Símbolos, 9“ ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira (s.d.), p. 20. Agostinho já dissera: “O sinal é, portanto, toda coisa que, além da impressão que produz em nossos sentidos, faz com que nos venha ao pensamento outra idéia distinta” (Agostinho, A Doutrina Cristã, 11.1.1. p. 93) [vd. também, Agostinho, De M agistro, São Paulo, Abril Cultural (Os Pensadores, Vol. VI), 1973, pp. 319-356].

,3Ernest Cassirer (1874-1945), diz: “... Nenhum processo mental chega a captar a reali­ dade em si, já que, para poder representá-la, para poder, de algum modo, retê-la, tem de socorrer-se do signo, do símbolo. E todo o simbolismo esconde em si o estigma da media- tez, o que o obriga a encobrir quanto pretende manifestar. Assim, os sons da linguagem esforçam-se por ‘expressar’ o acontecer subjetivo e objetivo, o mundo ‘interno’ e ‘externo’; porém, o que captam não é a vida e a plenitude individual da própria existência, mas apenas abreviatura morta. Toda essa ‘denotação’, que as palavras ditas pretendem dar, não vai, realmente, mais longe que a simples ‘alusão’; alusão que parecerá mesquinha e vazia, fren­ te à concreta multiplicidade e totalidade da experiência real” [Ernest Cassirer, Linguagem,

Mito e Religião, Porto, Rés-Editora (s.d.), pp. 11-12],

14 E aqui que alguns divergem, aplicando esta conceituação ao “sinal”, entendendo que o “sím bolo” tem uma conexão necessária com o simbolizado.

15 Vd. Hermisten M.P. Costa, A Literatura Apocalíptico-Judaica, São Paulo, Casa Edito­ ra Presbiteriana, 1992, p. 40ss.

16 João Calvino,A? Institutas, IV. 17.21.

(15)

Os símbolos têm normalmente um duplo sentido: eles revelam e encobrem;18 o uso dos símbolos envolve normalmente um “públi­ co alvo” a que me dirijo, tentando ser compreendido por ele. Por outro lado, de forma explícita ou velada, uso este recurso para ocul­ tar a minha mensagem, despistar os “estranhos”, não iniciados. É claro que nem sempre isto está no nível da consciência, no entanto, quando nos damos conta disso, tendemos naturalmente a usar esse recurso.

O homem é um “animal simbólico”;19 por isso ele se vale deste veículo para se comunicar; os símbolos são puramente funcionais. O símbolo também pode ser usado como elemento de convergência de um povo ou de um grupo: reunimos pessoas em torno de um gesto que simboliza os nossos ideais e valores; o desenho e as cores de nossa bandeira que nos falam de “pátria” e “nação”; os hinos que nos emocionam conduzindo-nos a uma postura de luta em prol de uma causa que eles tão bem sintetizam em nosso imaginário, ainda que circunstancialmente20... Assim, mudar um símbolo é mais do que mudar uma simples “marca”, é modificar uma concepção, uma perspectiva do mundo e da realidade; este ato envolve a memória e a imaginação, visto que mexe nas estruturas da lembrança de um fato ou no conjunto de fatos que deram origem àquele símbolo, e também no imaginário coletivo que o símbolo concentra e ao mes­ mo tempo germina: um símbolo tem uma conotação de memória e de esperança; ele marca no tempo o nosso compromisso com o pas­

4" ed. Grand Rapids, Michigan, Baker Book House, 1993, p. 282.

18 Analisando a questão pela perspectiva do intérprete, Julien Naud comenta: “Quando um símbolo é familiar a alguém, sua compreensão consiste em seguir o movimento da imagem que espontaneamente conduz àquilo que esta sugere. Mas quando alguém é intro­ duzido num conjunto simbólico que comporta uma distância no tempo e no espaço cultural, é necessário que efetue um longo desvio na interpretação; socorrendo-se de diversos méto­ dos de leitura, pode atingir o que é sugerido pelo texto, isto é, o tipo de mundo que lhe é proposto pelo próprio texto” (Julien Naud, Simbolismo: ln: René Latourelle & Rino Fisi- chella, dirs. Dicionário de Teologia Fundamental, Petrópolis, RJ/Aparecida, SP, Vozes/ Santuário, 1994, p. 897b).

l9Emst Cassirer, Antropologia Filosófica, 2" ed. São Paulo, Mestre Jou, 1977, p. 51. 20 Eusébio diz que quando Constantino entrou vitorioso em Roma cantou hinos ao Senhor (vd. Eusébio de Cesavea, Historia Eclesiastica, Madrid, La Editorial Católica (Biblioteca de Autores Cristianos, Vols. 349-350), 1973, IX.9.8-9 (doravante citada como HE).

(16)

Os Símbolos de Fé na História 19

sado e a nossa responsabilidade com o futuro, que temos de cons­ truir sob aquela “marca” que nos distingue e identifica. Mudar um símbolo assemelha-se a mudar as leis ou a Constituição. Maquiavel (1469-1527) percebeu bem isso ao dizer: “Nunca coisa nenhuma deu tanta honra a um governante novo como as novas leis e regula­ mentos que elaborasse. Quando estes são bem fundados e encerram grandeza, fazem com que ele seja reverenciado e admirado.”21

Portanto, não é de estranhar o fato de que, quando Constantino (280-337) se declarou convertido ao cristianismo,22 alegando ter um sonho antes de uma batalha (312), pintou na bandeira, em seu capa­ cete e no escudo de seus soldados um símbolo ‘rr1, que representava o nome de Cristo.23 Dizendo que agora, conforme vira em sonho, este sinal estava acompanhado da inscrição: “Por este sinal vence­ rás”. Eusébio relata que Constantino empregou este “símbolo de salvação” contra todas as adversidades e inimigos:24 Aqui, confor­ me queria Constantino, estava um novo sinal que apontava para a origem de suas vitórias: “Por este sinal vencerás!”.

Vejamos as distinções estabelecidas aos símbolos.

1.3. Tipos de Símbolo

A classificação dos símbolos pode obedecer diversos critérios, sem contar as diferenças de conceitos que alguns fazem entre sím­ bolo e sinal; todavia, para o nosso estudo, no qual este assunto é apenas secundário, não adentrarei a tais questões,25 seguindo uma

21 N. Maquiavel, O Príncipe, São Paulo, Abril Cultural (Os Pensadores, Vol. IX), 1973, Cap. XXVI, p. 114.

22 Vd. Eusébio de Cesarea, HE., IX. 9.1 ss. Idem, The Life o f Constantine The Great, 1.26- 40. In: P. Schaff & H. Wace, eds. Nicene and Post-Nicene Fathers o f the Christian Church (Second Series), Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1978, Vol. I, pp. 489-493.

23 Eusebius, The Life o f Constantine The Great, 1.30-31. ln: N PN F2,1, pp. 490-491. 24 Eusebius, The Life o f Constantine The Great, 1.31. In: N PN F2,1, p. 491.

25 Para uma visão comparativa entre símbolo e sinal, ver, entre outros: Paul Tillich, Dinâ­

mica da Fé, São Leopoldo, RS, Sinodal, 1974, p. 30ss.; Idem, Teologia Sistemática, São

Paulo/São Leopoldo, RS, Paulinas/Sinodal, 1984, pp. 201ss. e 252; Battista Mondin, O

Homem, quem é Ele?, São Paulo, Paulinas, 1980, pp. 136-138; Marc Girard, Os Símbolos na Bíblia, pp. 46-47; Ernst Cassirer, Antropologia Filosófica, 2a ed. São Paulo, Mestre Jou,

(17)

classificação quase “convencional”. Ei-la: Convencional, Aciden­

tal e Universal.

1.3.1. Símbolo Convencional

É aquele em que a relação entre o símbolo e o objeto simboliza­ do é convencionada, não havendo necessariamente nenhuma rela­ ção essencial entre eles. Por exemplo: o som da palavra “cadeira” está relacionado com aquilo em que estou sentado neste instante. Qual a relação essencial entre as letras C-A-D-E-I-R-A e o objeto “cadeira”? Nenhuma. Nós estabelecemos esta relação mental por­ que aprendemos assim, e desta forma a relação foi convencionada. A linguagem é um conjunto de símbolos (= sinais) convencionais que visam à comunicação;26 o mesmo ocorre com as cores do semá­ foro, a sinalização rodoviária etc.

A relação entre o símbolo e a realidade simbolizada muitas ve­ zes têm uma ligação bastante tênue, dependendo de uma explica­ ção que - mesmo não esgotando o assunto - faculta a percepção da

26 O Homem é um ser comunicativo! O Homem “é a única criatura na terra capaz de colocar a comunicação em forma de símbolos sem nenhuma relação com seus referentes, além daquela que a mente humana lhe atribui. Além disso, transcendendo o tempo e o espaço, ele consegue passar informações a outros em lugares remotos ou àqueles que ainda vão nascer” (David J. Hesselgrave, A Comunicação Transcultural do Evangelho, São Pau­ lo, Vida Nova, 1994, Vol. 1, p. 23). Portanto, “Comunicar é uma maneira de compreensão mútua.” (Rollo May, Poder e Inocência, Rio de Janeiro, Artenova, 1974, pp. 57-58), sendo a comunicação fundamental para o desenvolvimento psíquico e social do ser humano. Co­ municar, etimologicamente, significa “tornar comum”. Neste ato de comunicar, formamos uma comunidade constituída por aqueles que sabem, que partilham do mesmo conhecimen­ to; assim, a comunicação é uma quebra de isolamento individual, para que haja uma comu­ nhão (Vd. José Marques de Melo, Comunicação Pessoal: Teoria e Pesquisa, 6a ed. Petró- polis, RJ, Vozes, 1978, p. 14). “A ‘comunhão’ encontra-se em códigos partilhados mutua­ mente” (David J. Hesselgrave, A Comunicação Transcultural do Evangelho, p. 39), porque somente assim poderá o “código” ser “decodificado”, estabelecendo-se desse modo a co­ municação.

Todo homem é uma ilha, até que resolva fazer parte do continente; isto ele faz através da comunicação. O filósofo G.W. Leibniz (1646-1716) colocou a questão nos seguintes termos:

“Tendo criado o homem para ser uma criatura sociável, Deus não só lhe inspirou o desejo e o colocou na necessidade de viver com os de sua espécie, mas outorgou-lhe igualmente a faculdade de falar, faculdade que deveria constituir o grande instrumento e o laço comum desta sociedade. É daí que provêm as palavras, as quais servem para representar, e até para explicar as idéias.” (G.W. Leibniz, Novos Ensaios, São Paulo, Abril Cultural (Os Pensado­ res, Vol. XIX), 1974,111.1.1).

(18)

Os Símbolos de Fé na História 21

relação possível, ainda que outras também o sejam. Na convencio- nalidade do símbolo, há a priorização de determinada característi­ ca, elevando-a ao conceito de ponto dominante ou de univocidade, estabelecendo assim uma relação em nosso imaginário entre o pon­ to priorizado ou exclusivizado e a coisa simbolizada. Portanto, o símbolo é sempre parcial; ele não esgota a realidade simbolizada nem exaure por completo o sentido do instrumento simbolizante. Como exemplo cito o fato de que, mesmo sendo a cruz um símbolo do Cristianismo, sabemos que ela não diz tudo a respeito do Cristia­ nismo, e, por sua vez, ela não se aplica apenas a este fim.

Ilustrando aspectos que desenvolvemos no parágrafo anterior, perguntamos: Qual a explicação para as cores de nossa bandeira? Por que a sarça ardente se constituiu durante tantos anos no símbo­ lo de nossa Igreja? E esse agora aprovado? Ou, tomando os exem­ plos de Girard: “Por que a folha vermelha do ácer se tornou o em­ blema do Canadá? Por que o azul-branco-vermelho simboliza a França, e o sol vermelho sobre fundo branco, o Japão? A flora ca­ nadense está longe de restringir-se a uma só espécie de vegetal, mais típica, aliás, do Leste que do Oeste do país; e a cor verde da folha de ácer pode ser observada por muito mais tempo do que sua efêmera cor de outono! A cada uma das faixas verticais da bandeira tricolor francesa é ligada mais ou menos artificialmente uma signi­ ficação (cor, respectivamente, da cidade capital, da realeza, da re­ volução); mas, pode-se perguntar, por que o azul está à esquerda, ao passo que na bandeira holandesa, marcada pelas mesmas três cores (de interpretação diferente), o azul está na faixa horizontal infe­ rior?... Enfim, ninguém pretenderá que o sol se levante só no Japão, não obstante ser ele o país do sol levante.”27

Um outro ponto que gostaria de realçar é que os símbolos con­ vencionais são também usados para ocultar uma mensagem daque­ les que não sabem a relação estabelecida entre o símbolo e sua men­ sagem. Na literatura apocalíptica judaica, os símbolos foram am­ plamente usados; seu objetivo era levar uma mensagem de conforto

(19)

para os judeus - que, no caso, tinham condições de discernir e inter­ pretar os símbolos e ocultá-la dos opressores estrangeiros.28

A Igreja Primitiva, por exemplo, usou o símbolo do peixe para expressar sua fé e, ao mesmo tempo, para ocultá-la aos seus perse­ guidores. Peixe, em grego, se escreve t%iíh5ç; todavia, os cristãos primitivos tomaram a palavra e a escreveram em forma de acrósti­ co: ’lr]ao{)ç X piaióç ©eóç uióç Ecotr^p.

I - ’iTiao-uç (JESUS) X - XpiCTTÓÇ (CRISTO) 0 - 08ÒÇ (DEUS) Y - uióç (FILHO) 2 - ZCOTT^P (SALVADOR) Assim temos: “JESUS CRISTO, FILHO DE DEUS, SALVADOR”

Os cristãos primitivos também chamavam Jesus de “Peixe”, visto entenderem na palavra uma confissão de fé. Há, por exemplo, uma catacumba no terceiro ou quarto século, encontrada na França, em 1839, que traz um registro referindo-se a Jesus desta forma.29 E este não foi um caso isolado.30 Agostinho (354-430), explicando o empre­ go desse símbolo, interpreta: “Esse nome místico simboliza Cristo, porque apenas ele foi capaz de viver vivo, quer dizer, sem pecado, no abismo de nossa mortalidade, semelhante às profundezas do mar.”31 Todavia, o uso corrente deste símbolo logo desapareceu; no prin­ cípio do quinto século já não mais o encontramos na arte religiosa.32

1.3.2. Símbolo Acidental

O símbolo acidental é praticamente exclusividade de cada um, diferindo de pessoa para pessoa, sendo por isso difícil de ser transmi­

28 Vd. Hermisten M.P. Costa, A Literatura Apocalíptica Judaica, pp. 43-44.

25 Vejam-se os dizeres da catacumba, In: Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã, São Paulo, ASTE., 1967, p. 127.

30 Cf. Justo L. Gonzalez, A Era dos Mártires, São Paulo, Vida Nova, 1980, p. 159. 11 Agostinho, A Cidade de Deus, 2a ed. Petrópolis, RJ/ São Paulo, Vozes/ Federação Agostiniana Brasileira, 1990, Vol. II, XVIII.23. pp. 336-337.

32 Cf. Withrow, Catacumbas, pp. 252-255. Apud Benjamin Scott, As Catacumbas de

(20)

Os Símbolos de Fé na História 23

tido. Ele representa, de forma subjetiva, aquilo que ocorre conosco. Exemplifiquemos: Suponhamos que você haja tido uma boa expe­ riência de vida numa determinada cidade, bairro ou rua onde vive. Posteriormente você se muda para outra cidade ou bairro, e aquele antigo local de sua residência transmite a você aquelas lembranças agradáveis, aqueles sentimentos que permearam sua existência ali, passando a ser o símbolo de uma agradável saudade. Particular­ mente, Campinas e Belo Horizonte me trazem sentimentos análo­ gos, pois foi, respectivamente, onde passei quatro dos melhores anos de minha vida de estudante e onde comecei meu ministério pastoral e docente. Ambas as cidades são para mim o símbolo de alegria e aprendizado, embora não possa transferir estes símbolos...

Se, por outro lado, alguém tiver passado maus momentos nestas mesmas cidades, ambas terão em sua lembrança um simbolismo bem diferente, daí a impossibilidade de se comunicar o símbolo acidental. A outra pessoa poderá até entender o que estamos dizen­ do, todavia isto não faz parte da sua experiência, e dificilmente po­ derá ser interiorizado como tal.

1.3.3. Símbolo Universal

O símbolo universal é aquele em que há uma relação intrínseca entre o símbolo e aquilo que ele representa, podendo por isso ser compartilhado com todos; desta forma temos: O choro = tristeza; sorriso = alegria; fumaça = fogo; nuvem escura = chuva iminente; sol = vida; água = pureza etc. É claro que alguns destes símbolos podem, eventualmente, representar uma imagem diversa: alguém chora de alegria; rir de nervosismo e tristeza; a água suja, indicando a poluição dos rios etc., todavia estas exceções não invalidam a universalidade destes símbolos, apenas o confirmam.

1.4. A Igreja e os Símbolos

A Bíblia está repleta de símbolos: cores, números, animais, no­ mes de lugares e de pessoas, metais, pedras preciosas etc. Como já vimos, a Igreja pós-apostólica sentiu-se à vontade para empregar figuras que expressassem sua fé em Deus: O acróstico da palavra

(21)

“peixe” (“Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”); as duas letras iniciais do nome “Cristo”, colocadas uma sobre a outra [X (Chi) e P (Rho)] ^ = (“Cristo”); um círculo (= “vida eterna”); e o triângulo com três lados iguais (= Trindade), são apenas alguns dos muitos símbolos usados pela Igreja.33

Todavia, a palavra símbolo foi usada pela primeira vez, no sen­ tido teológico, por Cipriano34 em 250, nas suas Epístolas (76 ou 69), referindo-se ao cismático Novaciano.35

O Credo Apostólico (2o século) - que fora atribuído tradicional­ mente aos apóstolos36 - recebeu o designativo de símbolo, ao que parece, no Sínodo de Milão (390), numa carta subscrita por Ambró- sio (c. 334-397), sendo designado de “symbolum apostolorum”.37

Lutero (1483-1546) e Melanchton (1497-1560) foram os pri­ meiros a usarem a palavra “símbolo” para os credos protestantes,38 passando desde então a designar os Catecismos e Confissões adota­

33 Cf. Benjamin Scott, As Catacumbas de Roma, p. 95ss.; F.R. Worth, Simbolism: In: Vergilius Ferm, ed. An Encyclopaedia o f Religion, New York, The Philosophical Library, 1945, p. 754; Simbolos, Histórico-Cristãos: In: Russel N. Chatnplin & João Marques Ben- tes, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, São Paulo, Candeia, 1991, Vol. VI, pp. 276-277.

34 Vejam-se os textos das Epístolas In: A. Roberts & J. Donaldson, eds. The Ante-Nicene

Fathers, New York, The Christian Literature Publishing Company, 1885, Vol. V (Epístola

76), pp. 402-404; (Epístola 69), pp. 375-377 (doravante citado como ANF).

35 Cf. Philip Schaff, The Creeds of Christendom, 6a ed. Grand Rapids, Michigan, Baker Book House (revised and enlarged), 1977, Vol. I, p. 3 e Philip Schaff, ed. Religious En­

cyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology (1891)

Vol. IV, p. 2276.

36 Esta lenda bastante antiga encontrou sua forma mais famosa em Rufino (c. 404), que supõe que cada um dos apóstolos colaborou com uma cláusula em particular na elaboração do “Credo” (vd. J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, p. 15ss.; J. Ratzinger, Introdu­

ção ao Cristianismo, São Paulo, Herder, 1970, pp. 17-18).

37Ambrósio, Ep. 42,5 (vd. J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, p. 15; F.D. Danker, Simbolismo, Simbología: ln: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia, p. 500; G.W. Bromiley, Credo, Credos: ln: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da

Igreja Cristã, I, p. 366). Cipriano, Agostinho e Rufino encontram-se entre aqueles que

utilizaram o nome “Símbolo” para referir-se ao “Credo Apostólico” (cf. Charles A. Briggs,

Theological Symbolics, New York, Charles Scribners’s Sons, 1914, pp. 3, 4).

38 Cf. In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary o f Biblical, H istori­

cal, Doctrinal, and Practical Theology, IV, p. 2276; Philip Schaff, The Creeds o f Christen­ dom, Vol. I, pp. 3-4 (nota).

(22)

Os Símbolos de Fé na História 25

dos pelas Igrejas Luteranas e Reformadas como elementos distinti­ vos da sua compreensão teológica.

2. O S C R ED O S E AS C O N F IS S Õ ES 2.1. O rigem e Uso

A palavra “Credo” é derivada do latim “credo”, que denota uma postura ativa de “eu creio”, uma confiança perene em Deus.

A Bíblia apresenta diversas confissões que consistem em ex­ pressões de fé, as quais eram ensinadas. Parece haver acordo entre os estudiosos no que diz respeito às evidências neotestamentárias referentes a um corpo doutrinário específico, considerado como “depósito sagrado da parte de Deus”.39 No Antigo Testamento en­ contramos: o “Shemá”40 (“ouve”), o “credo judeu”,41 que consistia na leitura de Dt 6.4-9; 11.13-21 e Nm 15.37-41). O “Shemá” era repetido três vezes ao dia,42 sendo usado liturgicamente na Sinago­ ga43 e, possivelmente, Dt 26.5-9.44 No Novo Testamento deparamo- nos com abundante material que indica a existência de um corpo doutrinário fixo da igreja cristã. Temos referências às “tradições” [TtapáSooiç] (2Ts 2.15),45 à “Doutrina dos apóstolos" (At 2.42), à

39 Ralph P. Martin, Credo: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, I, p. 342; R.P. Martin, Adoração na Igreja Primitiva, São Paulo, Vida Nova, 1982, p. 64ss

40 É a primeira palavra que aparece em Dt 6.4, derivada do verbo (UÜW', Shãma’), “ouvir”, envolvendo normalmente a idéia de ouvir com afeição (vd. Hermann J. Austel, Shãma’: In: R.L. Harris, et. al. eds. Theological Wordbook ofthe Old Testament, 2a ed. Chicago, Moody Press, 1981, Vol. II, pp. 938-939).

41 Conforme expressão de Edersheim (1825-1889). Vd. A. Edersheim, La Vida y los

Tiempos de Jesus el Mesias, Barcelona, CLIE, 1988, Vol. I, p. 491.

42 Quanto ao emprego desta oração feita pelos judeus individualmente, vd. Shemá: In: Alan Unterman, Dicionário Judaico de Lendas e Tradições, Rio de Janeiro, Jorge Zahar ed. 1992, p. 242.

43 Cf. Hermisten M.P. Costa, Teologia do Culto, p. 19.

44 Cf. G.W. Bromiley, Credo, Credos: ln: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-

Teológica da Igreja Cristã, I, p. 365.

45A tradição oral (itapáSoaiç) [“transmissão", “entrega", “tradição". A palavra é formada de “Ilapá” (“junto a”, “ao lado de”) & “Aí8co|ii” (conforme o contexto: “dar”, “trazer”, “conceder”, “causar”, “colocar”, etc.)] consistia basicamente no que Jesus Cristo, os apósto­ los e outros servos de Deus ensinavam através de seus sermões, orientações e comportamento (ICo 11.2, 23-25; G1 1.14; 2Ts 2.15; 3.6; Rm 6.17; 16.17; ICo 15.1-11; Fp 4.9; 1Ts2.9, 13; 4.11,12). Nestes textos, evidencia-se que a “tradição” recebida e ensinada amparava-se numa

(23)

“palavra da vida” (Fp 2.16); à ‘ forma ( t ú t t o v = modelo) de doutri­

na" (Rm6.17), à “Palavra” (G16.6), à “Pregação” (Rm 16.25; ICo

1.21),46 à “fé evangélica” (Fp 1.27), à “fé" (Ef 4.5; Cl 2.6-7; lTm 6.20-21), às “sãs palavras” (2Tm 1.13), ao “bom depósito" (2Tm 1.14; lTm 6.20), à “sã doutrina" (2Tm 4.3; lTm 4.6; Tt 1.9), à

“verdade" (Cl 1.5; 2Ts 2.13; 2Tm 2.18, 25; 4.4), à “tradição {dos apóstolos)" (ICo 11.2;C1 2.6; lTs 4.1; 2Ts 2.15), ao “evangelho"

(ICo 15.1; G1 1.9), à “confissão" (Hb 3.1; 4.14; 10.23), à “fé que

uma vez por todas foi entregue aos santos" (Jd 3; lTm 1.19; Tt

1.13) e à “fé santíssima" (Jd 20).

Outros textos parecem indicar as primeiras confissões da Igre­ ja, tais como: “Jesus, o Cristo” (At 5.42); “Jesus Cristo é Senhor"

(Fp2.11; ICo 12.3);“Senhor e Deus" (Jo 20.28); “Deus e Salvador

Jesus Cristo" (At 2.13); “Senhor e Cristo" (At 2.36); “Jesus Cristo Filho de Deus" (At 8.37; Mt 16.16; Uo 4.15), etc.47

Os Credos em princípio não pretendem ser uma exposição exaus­ tiva da fé, antes consistem numa declaração de fé dos pontos consi­ derados essenciais à existência da Igreja Cristã.

certeza quanto à sua origem divina. Portanto, as “tradições” mencionadas por Paulo distin­ guem-se daquelas inventadas e transmitidas pelos homens, as quais são recriminadas por Cristo, visto que estes ensinamentos anulavam a Palavra de Deus (cf. Mt 15.2, 3, 6; Mc 7.3, 5, 8, 9, 13). A JtapóSoaiç é rejeitada todas as vezes que entra em choque com a Palavra de Deus (vd. H.M.F. Biichsel, napáSoaiç: In: Gerhard Kittel & G. Friedrich, eds. Theological

Dictionary ofthe New Testament, Michigan, Eerdmans, 1983 (Reprinted), Vol. II, pp. 172-

173; G. Hendriksen, 1 y 2 Tessalonicenses, Grand Rapids, Michigan, Subcomision Litera­ tura Cristiana de la Iglesia Cristiana Reformada, 1980, pp. 217 e 230; I.H. Marshall, I e II

Tessalonicenses: Introdução e Comentário, São Paulo, Vida Nova/Mundo Cristão, 1984,

pp. 245 e 257; W. Popkes, napáSoaiç: In: Horst Balz & Gerhard Schneider, eds. Exegeti-

cal Dictionary ofN ew Testament, Grand Rapids, Michigan, Eerdmans, 1978-1980, Vol. 111,

p. 21). Portanto, “A questão não é se temos tradições, mas se as nossas tradições estão em conflito com o único padrão absoluto nessas questões: as Escrituras Sagradas” (J.l. Packer, O Conforto do Conservadorismo: In: Michael Horton, ed. Religião de Poder, p. 234). Rid- derbos salienta que o conccito de tradição no Novo Testamento não está associado ao pen­ samento grego, antes é orientado pela concepção judaica, pela qual “o que confere autori­ dade à tradição não é o peso dos antepassados ou da escola senão primordialmente o caráter do material dessa tradição....” [Herman N. Ridderbos, Historia de la Salvación y Santa

Escritura, Buenos Aires, Editorial Escaton (1973), p. 39],

46Vd. G.W. Bromiley, Credo, Credos: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-

Teológica da Igreja Cristã, 1, p. 365; J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, p. 24.

(24)

Os Símbolos de Fé na História 27

Primitivamente, os Credos e Confissões eram empregados prin­ cipalmente da seguinte forma:

2.1.1 Doutrinariamente

Serviam como ensino proposicional a respeito da fé cristã, ao mesmo tempo que combatiam ênfases ou ensinamentos essencial­ mente errados.48 No segundo século eíes eram conhecidos como “regra de fé”.49 Os candidatos à Profissão de Fé estudavam a

“dou-48 Vd. At. 2.42; Rm 6.17; Ef 4.5; Fp 2.16; Cl 2.7; 2Ts 2.15; 1 Tm 4.6, 16; 6.20; 2Tm 1.13, 14; 4.3; Tt 1.9, entre outros.

4(1 Os “Pais da Igreja” e alguns Concílios usaram com certa freqüência a expressão "câ­

non” que, via de regra, visava a distinguir os ensinamentos da Igreja cristã das heresias que

surgiam. Abaixo poderemos constatar, dentro da documentação disponível, alguns dos di­ versos e valiosos testemunhos dos País e Concílios da Igreja.

Clemente (c. 30-100), bispo de Roma (91-100), por volta do ano 95 AD., deparou-se com uma grave dissensão na Igreja de Corinto, causada por alguns jovens que não estavam obedecendo aos presbíteros da Igreja. Clemente então, no mesmo ano, escreveu uma carta à Igreja, na qual ele os exorta à humildade e obediência, segundo o exemplo de Cristo, para que possam assim chegar à unidade e paz. Estimulando a Igreja arrependida a uma cami­ nhada segura em Cristo, diz: “Prossigamos para a gloriosa e venerável regra (Kavcív) de nossa tradição” (Clemente de Roma, Epístola aos Coríntios, 1.7.2). Clemente de Alexan­ dria (c. 150-c. 215) chamou a harmonia entre o Antigo e o Novo Testamentos de “um cânon

para a Igreja” [Clemente de Alexandria, The Stromata, VI. 15. In: AN F., II, pp. 506-511

(Vd. também, VI. 11; VII. 16)]. Ele também escreveu um livro contra os judaizantes, intitu­ lado, “Cânon eclesiástico ou contra os judaizantes” (Eusebio de Cesarea, Historia Eclesi­

ástica, Madrid, Espana, La Editorial Católica, S.A. (Biblioteca de Autores Cristianos, Vols.

349 e 350), VI. 13.3. Irineu (c. 120-202), chama o “credo batismal” - que deveria ser guar­ dado sem nenhuma modificação no coração - de “O cânon da verdade" (Irineu, Against

Heresies, 1.9.4. In: ANF., I, p. 330. Vd. também, AgainstH eresies, I.10.I; III.4.1). Policar-

po (c. 70-155) refere-se ao “Evangelho” como “cânon da fé ” (Eusebio, HE., V.24.6). Entre os anos de 264 e 268, três Sínodos reuniram-se sucessivamente em Antioquia, tendo como objetivo julgar a conduta e os ensinamentos de Paulo de Samosata, bispo de Antioquia desde 2 6 0 .0 último dos três sínodos (268) o condenou e o excomungou por “heterodoxia” (fc-tepoSoíjíav). A sua doutrina e conduta foram classificadas como sendo uma “apostasia do cânon” (“ótrcocrcòç to ü kocvóvoç”) (Eusebio de Cesarea, HE., VII.30.6);

ou seja, o abandono da fé ortodoxa.

Como pudemos observar, o emprego da expressão “cânon”, pelos Pais e Concílios da Igreja, tinha o sentido de um padrão aprendido e recebido como verdadeiro. Uma outra expressão usada, e pelo que deduzimos tinha o mesmo significado, era: “regra de fé" [cf. o uso feito por Tertuliano, Da Prescrição dos Hereges, 13. In: Cirilo Folch Gomes (compila­ dor). Antologia dos Santos Padres, 2a ed. (revista e ampliada), São Paulo, Paulinas, 1980. § 254, p. 162 e ANF., III, p. 249; Novaciano, Sobre a Trindade: In: Cirilo Folch Gomes (compilador). Antologia dos Santos Padres, § 309, p. 201] e “regra dos antigos” (confor­ me uso de Basílio, Profissão de Fé: In: Cirilo Folch Gomes (compilador). Antologia dos

(25)

trina” a fim de que pudessem, na ocasião própria, declarar publica­ mente sua fé de forma responsiva.

Os Credos também tiveram uma outra utilidade: Devido ao medo da perseguição, ao invés de serem escritos, eram memorizados50 e, quando necessário, recitados como testemunho de sua fé.

2.1.2. Liturgicamente

a) Batismo'. Os fiéis declaravam (no caso de serem adul­ tos),51 responsivamente, sua fé na ocasião do batismo52 (Vd. At 8.37; Rm 10.9).

b) Santa Ceia: Na Eucaristia a Igreja declarava sua fé através de hinos, orações e exclamações devocionais (vd. ICo 12.3; 16.22; Fp 2.5-11).

c) Culto: Ao que parece, a partir do quarto século, os credos passaram a ser usados nos cultos regulares, sendo recitados após a leitura das Escrituras.

Com o passar do tempo, os credos foram se tornando mais detalhados; isto por dois motivos: 1) Devido à compreensão mais aprimorada das doutrinas bíblicas; 2) Devido à necessidade de, atra­ vés do ensino cristão, combater as heresias que surgiam, marcada- mente relacionadas com a Pessoa de Cristo.53 Neste contexto são Santos Padres, § 365, p. 239). Em outras palavras, o “cânon eclesiástico” (koívcíj' xrjç

èKKXriataç), quando não se referia aos Livros da Bíblia, significava a doutrina ortodoxa da Igreja, aquilo que a Igreja sustentava como verdade (para mais detalhes sobre este assunto, vd. Hermisten M.P. Costa, A Inspiração e Inerrância das Escrituras: Uma Perspectiva

Reformada, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1998).

50 Ambrósio de Milão (c. 334-397) escreveu: “Os santos apóstolos juntos fizeram um resumo da fé a fim de que pudéssemos compreender brevemente o elenco de toda a nossa fé. A brevidade é necessária para que ela seja sempre mantida na memória e na lembrança” (Ambrósio, Explicação do Símbolo, São Paulo, Paulus, 1996, 2. p. 23).

51 Vd. Hipólito de Roma, Tradição Apostólica, Petrópolis, RJ, Vozes, 1981, § 44. p. 51. 52 Vd. Hipólito de Roma, Tradição Apostólica, § 46, pp. 51-52; Didaquê, São Paulo, Imprensa Metodista, 1957, VII. 1. p. 70.

53 “A cristologia, como a maioria das doutrinas do Novo Testamento, foi retirada da bigorna da necessidade quando a igreja entrou em conflito com os ensinos errôneos” (Broadus D. Hale,

Introdução ao Estudo do Novo Testamento, Rio de Janeiro, JUERP, 1983, p. 299). Quanto às

principais heresias dos primeiros séculos concernentes à Pessoa de Cristo, vd. Hermisten M.P. Costa, Introdução à Cristologia: Uma Perspectiva Histórica, São Paulo, 2001.

(26)

Os Símbolos de Fé na História 29

elaborados quatro Credos que são considerados os mais importan­ tes dos cinco primeiros séculos.

2.2. Credo Apostólico

O Credo dos Apóstolos tem sua origem no Credo Romano An­ tigo, elaborado no segundo século,54,tendo algumas declarações doutrinárias acrescentadas no decorrer dos primeiros séculos,55 che­ gando à sua forma como temos hoje por volta do sétimo século.

Paul Tillich (1886-1965), comentando a primeira declaração de fé deste Credo - “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso Criador do Céu e da Terra” -, diz que “deveríamos pronunciar essas palavras com grande reverência, porque, por meio dessa confissão, o cristia­ nismo se separou da interpretação dualista da realidade presente no paganismo (...). O primeiro artigo do Credo é a grande muralha que o cristianismo ergueu contra o paganismo. Sem essa separação a cristologia teria inevitavelmente se deteriorado num tipo de gnosti- cismo no qual o Cristo não seria mais do que um dos poderes cós­ micos entre outros, embora, talvez, o maior deles.”56

O Credo Apostólico era usado na preparação dos catecúmenos, professado durante o batismo, servindo também para a devoção pri­ vada dos cristãos. Posteriormente passou a ser recitado com a Ora­ ção do Senhor no culto público.57 No nono século, ele foi sanciona­ do pelo Imperador Carlos Magno para uso na Igreja, e o papa o incorporou à liturgia romana.58

54 Sobre a formação deste Credo, vd. J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, p. 125ss. 55 Cf. P. Schaff, The Creeds o f Christendom, Vol. 1, pp. 19-22; II. 45-55; Reinhold See- berg, Manual de História de las Doctrinas, El Paso, Texas/Buenos Aires/Santiago, Casa Bautista de Publicaciones/Junta Bautista de Publicaciones/Editorial “El Lucero”, [1963], Vol. 1, pp. 93-94; O.G. Oliver, Jr„ Credo dos Apóstolos: ln: Walter A. Elwell, ed. Enciclo­

pédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, I, pp. 362-363; K.S. Latourette, História dei Cristianismo, Vol. I, pp. 180-182; Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã, p. 54;

Charles A. Briggs, Theological Symbolics, New York, Charles Scribners’s Sons, 1914, p. 40; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 486ss.

“ Paul Tillich, H istória do Pensamento Cristão, São Paulo, ASTE, 1988, p. 34. 57 Cf. Philip Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 17; O.G. Oliver, Jr., Credo dos Apóstolos: ln: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, 1, p. 363. 58 Cf. Jack B. Rogers, Creeds and Confessions: Donald K. McKim, ed. Encyclopedia of

(27)

A Reforma valorizou este Credo,59 sendo ele usado liturgica- mente em muitas de nossas igrejas ainda na atualidade.

A analogia feita por P. Schaff (1819-1893) parece resumir bem o significado deste Credo: “Como a Oração do Senhor é a Oração das orações, o Decálogo, a Lei das leis, também o Credo dos Após­ tolos é o Credo dos credos.”60

2.3. Credo A fanasiano

Também conhecido como “Symbolum Quicunque”, porque esta é sua primeira palavra em latim: “ Quicunque vult salvus esse” (“Todo aquele que quiser ser salvo...”). Este Credo que reflete a teologia dos quatro primeiros sínodos ecumênicos tem sentenças breves que são “artisticamente arranjadas e ritmicamente expressadas. Ele é um credo musical ou salmo dogmático.”61 Segundo a tradição, ele teria sido escrito por Atanásio (295-373), Bispo de Alexandria (328- 373), conhecido como “Pai da Ortodoxia”. Segundo a mesma tra­ dição, Atanásio o elaborara durante seu exílio em Roma, tendo-o oferecido ao papa Julius como sua confissão de fé.62 Todavia, esta tradição tem sido rejeitada por muitos estudiosos desde o século XVII, quando o holandês Gerhard Jan Vossius (1577-1649) apre­ sentou em 1642 suas conclusões que contrariavam a referida cren­ ça, o mesmo fazendo James Usher (1581-1656) em 1647.63

59 O Credo Apostólico pode ser dividido em quatro partes, a saber: 1) Deus Pai

2) Deus Filho: a História da Redenção 3) Deus Espírito Santo

4) A Igreja e os benefícios que Deus nos tem concedido

Vd. J. Calvino, Catecismo de Ia Iglesia de Genebra: In: Catecismos de la Iglesia Refor­

mada, Pergunta 186, p. 32.

60P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. 1, p. 14. 61 P. Schaff, The Creeds o f Christendom, Vol. 1, p. 37.

62 Cf. P. Schaff, The Creeds o f Christendom, Vol. I, p. 35.

63 Cf. P. Schaff, The Creeds o f Christendom, Vol. I, p. 35; J.F. Johnson, Credo Atanasia- no: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, I, p. 364. Kelly diz que Vossius e Usher “inauguraram a era moderna de estudos sobre os credos” (J.N. D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, p. 19).

(28)

Os Símbolos de Fé na História 31

A teoria mais aceita hoje é a de que este Credo foi escrito por volta do ano 500, no sul da Gália ou África do Norte64 ou até mes­ mo em dois lugares e momentos diferentes.65 Apesar de várias hi­ póteses quanto à sua autoria (Ambrósio, Hilário de Aries, Virgílio de Tapsus, Vicente de Lérins, Paulinus de Aquileja, entre outros),66 ninguém conseguiu provar de modo incontestável a identidade do seu autor.

A ênfase deste Credo é a defesa da Cristologia e da doutrina da Trindade conforme foram definidas nos Concílios de Nicéia (325), Constantinopla (381) e Calcedônia (451), refletindo visivelmente a teologia de Agostinho (354-430).67

Ele foi amplamente considerado na Idade Média: na Igreja lati­ na era quase que diariamente usado nas devoções matinais68 e, ao que parece, também tinha funções catequéticas.69 Os Reformadores o apreciaram bastante (tanto Lutero como Calvino70); as Confissões Luteranas (Augsburgo e Fórmula de Concórdia) e Reformadas (Trin­

ta e Nove Artigos, Primeira e Segunda Confissão Helvética, Belga)

fazem referência a ele. Neste ponto, a Confissão de Westminster se constitui numa exceção, já que não o menciona.

64 Cf. P. Schaff, The Creeds o f Christendom, Vol. I, p. 36; Johnson, Credo Atanasiano: In; Walter A. Elwell, ed Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, I, p. 364; James Hastings, ed., Dictionary of the Bible, New York, Charles Scribner’s Sons (edition revised F.C. Grant and H.H. Rowley), 1963, p. 188; A.A. Hodge, Esboços de Theologia, Lisboa, Barata & Sanches, 1895, p. 103; L. BofF, A Trindade e a Sociedade, 3" ed. Petrópolis, RJ, Vozes, 1987, pp. 91-92.

65 Conforme sugere Charles A. Briggs, Theological Symbolics, p. 100.

66 Vd. P. Schaff, The Creeds o f Christendom, Vol. I, p. 36; Johnson, Credo Atanasiano;

In; Walter A. Elwell, ed Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, 1, p. 364; Charles A. Briggs, Theological Symbolics, p. lOOss.

67 Cf. J.N.D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã: Origem e Desenvolvimento, São Paulo, Vida Nova, 1983, p. 206; P Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. 1, p. 36ss; A.A. Hodge, Esboços de Theologia, p. 103 (veja-se, conforme já indicamos supra: Agostinho, A

Trindade, São Paulo, Paulus, 1994).

68 Cf. P. Schaff, The Creeds o f Christendom, Vol. 1, p. 40.

“ Johnson, Credo Atanasiano: In:-Walter A. Elwell, ed Enciclopédia Histórico-Teológi­

ca da Igreja Cristã, 1, p. 364.

70 Compare; T.M. Lindsay, La Reforma ySu Desarrolo Social, Barcelona, CLIE., [1986], p. 102 e L. Berkhof, História das Doutrinas Cristãs, São Paulo, PES, 1992, p. 87; Timothy George, Teologia dos Reformadores, pp. 198-200.

(29)

Atualmente o Credo Aíanasiano é usado liturgicamente com mais freqüência pelas Igrejas Romana e Anglicana.

2.4. Credo N iceno-Constantinopolitano71

O Credo Niceno primitivo foi elaborado no Primeiro Concílio Ecumênico72 de Nicéia (20/05/325),73 na Bitínia, no ano 325. Este

71 Quem primeiro o denominou assim foi J.B. Carpzov (1639-1699), professor de Teolo­ gia da Universidade de Leipzig (vd. J.N. D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, p. 353).

72 Esses Concílios foram assim chamados porque reuniam as Igrejas do Oriente e do Ocidente. A palavra OlKot)|iévr) é derivada de O íkoç (casa, nação). O conceito desta pala­ vra era primariamente geográfico - terra habitada [Vd. Heródoto, História, Rio de Janeiro, Editora Tecnoprint (s.d.), IV. 110, p. 373] - , tornando-se depois também cultural e político (vd. M ichel, fi olKou|xévr|: ]n: TDNT., V, p. 157), indicando o mundo cultural versado e refinado comandado pelos gregos em contraposição ao “barbarismo” [cf. John H. Gerstner, Ecumenismo: In: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia, p. 183b].

OlKo\)|xévr| tem o sentido de “mundo civilizado”, “todos os habitantes do globo” (cf. A

Lexicon Abridgedfrom Liddell and Scott’s Greek-English Lexicon, Oxford, Clarendon Press,

1935, p. 477b). A palavra veio a significar: a) A partir de Demóstenes (384-322 a.C.), mundo habitado pelos gregos em contraste com as terras habitadas pelos bárbaros; b) A partir de Aristóteles (384-322 a.C.), mundo habitado, quer por gregos, quev por “bárbaros”, contrastando com as terras não habitadas; c) Adquiriu no Império Romano um sentido político, indicando as terras sob o domínio romano. Não é à toa que Nero tinha o título de Ecottíp e EÚEpyétriç da OlK0U|xévr|, ou seja, “Salvador e benfeitor da terra” [cf. O Flender,

Terra: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo

Testamento, Vol. IV, pp. 601-602],

Na Septuaginta, a palavra ocorre 46 vezes, especialmente no Livro de Salmos, tendo de modo geral o sentido de terra habitada, sendo muitas vezes traduzida por mundo. Como exemplo, citamos: 2Sm 22.16; SI 18.15; 19.4; 24.1; 33.8; 50.12; Jr 10.12 (mundo); Is 10.14, 23; 13.5, 9 (terra); Ex 16.35 (ARA; BJ: “terra habitada”); Pv 8.31 (ARA: “mundo habitá­ vel”; BJ; “superfície da terra”).

O NT emprega a palavra 15 vezes (*Mt 24.14; Lc 2.1; 4.5; 21.26; At 11.18; 17.6, 31; 19.27; 24.5; Rm 10.18; Hb 1.6; 2.5; Ap 3.10; 12.9; 16.14) - especialmente nos escritos de Lucas (8 vezes) - , primordialmente no sentido geográfico, ainda que Lc 2.1, entre outros textos, indique o sentido político, revelando o poder romano. Assim podemos classificar sua ocorrência do seguinte modo: a) A terra habitada, o mundo: M t24.14;L c4.5; 21.26; At 11.28; Rm 10.18; Hb 1.6; Ap 16.14; b) Mundo, no sentido de humanidade: At 17.31; 19.27; Ap 3.10; 12.9; c) O Império Romano: At 24.5; d) Seus habitantes: Lc 2.1; At 17.6; e) O mundo por vir: Hb 2.5.

n Socrates Scholasticus, Ecclesiastical History, 1.13. In: NPNF2, 11, p. 19. Ou dia 19,

conforme estudos modernos têm indicado (cf. J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, p. 254). A História mais detalhada deste Concílio é encontrada, entre outras, nas seguintes obras: J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, p. 247ss.; K.S. Latourette, H istória dei

Cristianismo, 1, p. 201 ss.; Earle E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo,

Referências

Documentos relacionados

Esse procedimento pode ser considerado válido, pois a perda de transmissão é um parâmetro que não deve variar para diferentes sinais de excitação, visto que

EXPERIMENTANDO E DESCOBRINDO: A CONTRIBUIÇÃO DE UMA OFICINA PARA DESPERTAR ALUNOS DE NÍVEL MÉDIO PARA AS DIMENSÕES DA ÓPTICA COMO DISCIPLINA E CAMPO DE PESQUISA..

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

O software PcModel pode ser uma ferramenta bastante útil, quando aplicado na previsão e estimativa do cálculo de energia envolvendo as conformações mais e menos estáveis do

Disto pode-se observar que a autogestão se fragiliza ainda mais na dimensão do departamento e da oferta das atividades fins da universidade, uma vez que estas encontram-se

Sempre dou graças a meu Deus a vosso respeito, a propósito da sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus; 5porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda palavra e em todo

Daí a proposta de alfabetizar por meio de textos literários, das artes plásticas, dos jogos, na perspectiva de romper com a lógica instrumental imposta às crianças,

Assim, de acordo com a autora, a melhoria do ensino de Matemática envolve um processo de diversificação metodológica, exigindo novas competências do professor, tais como: ser capaz