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Fundamentos Da Fé Cristã - James Montgomery Boyce II

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Academic year: 2021

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(1)

de teologia ao

alcance de todos

(2)
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FUNDAMENTOS DA FÉ CRISTÃ

(4)

Copyright original InterVarsity Press

Copyright 2011 por Editora Central Gospel Ltda.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Bo i c e, James Montgomery (ed )

Título original: Foundations o f the Christian Faith - A Comprehensive & Readle Theology Título em português: Fundamentos da f é cristã - Um manual de teologia ao alcance de todos Rio de Janeiro: 2011

632 páginas

ISBN: 978-85-7689-190-1

1. Bíblia - Teologia / Doutrina bíblica. Título I Gerência Editorial

Jefferson Magno Costa Coordenação do projeto Patrícia Nunan Tradução Eduardo M. Oliveira Eliane Albuquerque Hivana Malafaia Joel Macedo Cotejo e copidesque Célia Nascimento Cláudia Lins Gisele Menezes Joseane Cabral Michelle Candida Patrícia Calhau Patrícia Nunan Ia edição: m arço/2011

As citações bíblicas utilizadas neste livro foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida (ARC), salvo indicação específica, e visam incentivar a leitura das Sagradas Escrituras.

É proibida a reprodução total ou parcial do texto deste livro por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos etc.), a não ser em citações breves, com indicação da fonte bibliográfica. Este livro está de acordo com as mudanças propostas pelo novo Acordo Ortográfico, em vigor desde janeiro de 2009.

Editora Central Gospel Ltda. Estrada do Guerenguê, 1851

C EP: 22713-001 — Taquara — Rio de Janeiro (RJ) Tel. (21) 2187-7000 Revisão íinal Michelle Candida Patrícia Calhau Patrícia Nunan Capa Joede Bezerra

Projeto gráfico e diagramação Joede Bezerra

Impressão e acabamento Sermograf

(5)

S

u m á r i o

Apresentação da edição em português...9

Apresentação da edição original... 11

Agradecimentos... 13

LIVRO I O D EUS S O B ER A N O ... 15

Parte 1 - 0 conhecimentode Deu s...17

Capítulo 1 Sobre conhecer D eus...19

Crise contemporânea...19

Um terceiro caminho...21

Por que conhecer Deus?...23

A ciência mais elevada... 25

Capítulo 2 O Deus Desconhecido... 28

Consciência de Deus... 29

Dupla revelação... 29

Rejeição a D eus...31

Rejeitando o conhecimento de Deus...32

A ira de Deus...32

P a rte 2 - A P a la v ra de D eus...35

Capítulo i A Bíblia...37

Deus falou... 37

A Bíblia diz /Deus d iz... 39

Movidos por Deus...40

O testemunho de Jesus Cristo...42

Crendo na Bíblia...44

Capítulo 4 A autoridade das Escrituras... 46

Sola Scriptura...47

O livro que me entende...48

Um assunto... 51

Palavra e Espírito... 53

Capítulo 5 A autenticidade das E scritu ras... 54

A unidade na diversidade... 54 Precisão incomum...55 Profecias... 57 A preservação da Bíblia...58 Vidas transformadas... 59 Capítulo 6 Quão verdadeira é a Bíblia?...62

A visão dos primeiros 16 séculos...62

Visões pós-reforma... 64

A filosofia do criticismo moderno...65

A defesa da inerrància...66

A defesa contra a inerrància...67

A questão dos erros... 69

Capítulo 7 O criticismo bíblico m oderno... 72

As raízes da crítica superior...72

O Jesus histórico...73

Bultmann e a mitologia...74

Características mais importantes da crítica superior...75

Uma resposta à crítica superior... 77

Capítulo 8 Como interpretar a Bíblia?...80

Um livro, um autor, um tema... 80

O componente humano... 82

Respondendo à Palavra...84

O testemunho interior do Espírito...85

P a r te 3 - Os A trib u to s de Deus... 87 Capítulo 9 O Deus verdadeiro... 89 Autoexistente... 89 Autossuficiente... 91 Eterno... 92

Nenhum outro Deus...93

(6)

Capítulo 10 Deus em três Pessoas...96 Três Pessoas... 96 Luz, calor, a r... 98 O ensino da Bíblia... 99 Redenção tripla... 101 Capítulo 11 Nosso Deus soberano...103

Questionamentos intelectuais...103

Questionamentos humanos... 105

Bênçãos da soberania ...106

Deus pode...108

Capítulo 12 Santo, Santo, S an to...110

Separado... 110 O tabernáculo... 112 Atração e terror...113 Um povo santo... 115 Capítulo 13 O Deus onisciente... 118 A “ameaça” da onisciência... 119

Cobertos por trajes de justiça... 120

Razões para alegrar-se...121

Capítulo 14 O Deus que não muda... 124

Sem mudanças...125

Uma verdade perturbadora e confortante...125

Planos imutáveis... 126

P a rte 4 - A C ria ç ã o de D eus...129

Capítulo 15 A criação do hom em ...131 À imagem de Deus... 132 Agentes morais...134 Imagem despedaçada...136 Capítulo 16 A n atu reza... 139 A origem do universo... 139 No princípio... 141 A resposta da natureza... 143 Capítulo 17 O mundo espiritual... 145 Os anjos...145

O ministério dos anjos... 146

Anjos decaídos...148

Um ser decaído...149

Um ser limitado...150

Capítulo 18 A providência de Deus...153

O domínio de Deus sobre a natureza... 153

O domínio de Deus sobre as pessoas... 155

O curso da história... 156 Responsabilidade humana... 158 LIVRO II DEUS, O R ED EN T O R ... 161 P a r te 1 - A Q ueda do homem...163 Capítulo 1 A Q u ed a...165 Visões da humanidade...165 Deslealdade... 167 Rebelião...170 Orgulho... 171 Capítulo 2 As conseqüências da Queda... 173

O grau e a extensão do pecado... 173

A morte do espírito, da alma e do c o rp o ... 174

Pecado original ...177

Condenação e justificação representativas ...178

Capítulo 3 A escravidão da vontade...180

A história de um debate... 180

A liberdade da vontade de Edwards...182

Nenhuma doutrina nova... 185

P a r te 2 - Lei e g r a ç a ... 189

Capítulo 4 O propósito da Lei de Deus...191

Definindo a Lei...191

Restringindo o mal...192

Revelando o mal... 193

O evangelho da L e i...195

Capítulo 5 Os Dez Mandamentos e o amor a D eus... 197

Primeiro mandamento: não adorar nenhum outro deus senão o Senhor...198

(7)

Segundo mandamento: não criar

imagens de escultura para adoração... 199

Terceiro mandamento: santificar o santo nome de Deus... 201

Quarto mandamento: guardar o Sábado... 202

Capítulo 6 Os 10 mandamentos e o am or aos o u tro s... 205

Quinto mandamento: honrar os pais...205

Sexto mandamento: não matar... 206

Sétimo mandamento: não cometer adultério... 207

Oitavo mandamento: não roubar... 209

Nono mandamento: não mentir... 210

Décimo mandamento: não cobiçar coisas alheias... 211

O salário do pecado e o dom de Deus... 212

Capítulo 7 A ira de D eu s... 214

A ira no Antigo Testamento... 215

A ira no Novo Testamento... 217

Apaziguando a ira de Deus... 219

Capítulo 8 Salvação no Antigo Testamento... 222

O caso de Abraão...222

Vislumbrando o R edentor... 224

P a r te 3 A pessoade Cristo... 229

Capítulo 9 A divindade de Jesus C risto... 231

O ensino de Paulo...231

O ensino de Jo ão ... 234

As declarações de Cristo...236

Um homem bom, um louco, um impostor ou o Filho do homem? ... 238

Capítulo 10 A humanidade de C risto ...241

A heresia gnóstica...242

As emoções de C risto ...244

Igual a nós, tanto nos sofrimentos como nas tentações...246

Capítulo 11 Por que Cristo se to m o u hom em ?...248

O motivo da encarnação... 249

A salvação por intermédio do Deus-Homem ....250

A importância da c ru z ...252

P a r te 4 A obrade Cristo... 255

Capítulo 12 Profeta, Sacerdote e R ei... 257

O Logos de Deus: Profeta...258

O Mediador de Deus: Sacerdote... 261

O Reino de Deus: R ei...264

Imitadores de C risto...268

Capítulo 13 Apaziguando a ira de Deus... 270

Propiciação: o próprio Deus aplacando Sua ira ...270

Quatro textos do Novo Testamento... 272

Esclarecimento sobre outras verdades...275

Capítulo 14 Integralmente p ag o ...278

O triângulo da salvação... 279

Resgatar: alforriar... 282

Livre para servir... 284

Capítulo 15 A grandeza do amor de Deus...286

Amor: motivação de Deus...287

Grande am o r... 288 Amor inesgotável... 289 A dádiva do amor... 290 Amor soberano... 290 Amor eterno... 291 Capítulo 16 A doutrina fundamental da ressurreição...293

O selo sobre a existência de Deus... 294

O selo sobre a divindade de Cristo... 295

O selo sobre a justificação...296

O selo sobre a santificação... 296

O selo sobre a vida eterna...297

O selo sobre o julgamento... 299

Capítulo 17 Verificando a ressurreição... 300

As narrativas da ressurreição... 300

O túmulo vazio... 302

Um túmulo quase vazio... 303

As aparições depois da ressurreição... 305

Os discípulos transformados... 307

O novo dia da adoração cristã... 308

Capítulo 18 Ele ascendeu ao céu...310 ó

(8)

Ascensão ao céu... 311

Assentado à direita... 312

Para julgar os vivos e os mortos... 314

LIVRO III O DESPERTAR PARA D E U S ...317 Partei O Espíritode Deus... 319 Capítulo 1 O cristianismo pessoal... 321

Uma pessoa ou um poder?...322

O Espírito é Deus?... 324

Capítulo 2 A obra do Espírito Santo...327

Glorificar a Cristo... 327

Ensinando sobre Cristo ... 328

Levando pessoas a C risto...330

Reproduzindo o caráter de Cristo... 330

Levando cristãos ao serviço...333

Capítulo 3 A união com C risto ...334

União passada, presente e futura...334

Mistérios da união com Cristo... 337

O batismo com o Espírito Santo...339

P a r te 2 Como Deussalvaospecadores...345

Capítulo 4 O novo nascimento...347

O que sucede à salvação?...347

A iniciativa divina... 348 O vento e a água... 350 A concepção espiritual... 352 Capítulo 5 Fé e arrependimento... 354 O que a fé não é ... 354 Fé: a escritura...355 A ciência da fé...356 O amor e o comprometimento...358 A fé de Abraão...358 Capítulo 6 Justificação pela fé: a essência da salvação...360

O veredito acerca do que Deus fez... 361

A justificação de D eus... 363

A salvação de Cristo é ímpar...364

Capítulo 7 A justificação pela fé e o papel das o b ras...368

O papel das obras...369

É Deus quem trabalha...370

Uma doutrina prática... 373

Capítulo 8 As provações... 375

Garantia para o cristão...375

O conhecimento do cristão...376 O teste doutrinário... 377 O teste moral... 380 O teste social... 382 Capítulo 9 Um a nova família...385 Novos relacionamentos... 386 Privilégios de família... 388

Confiança em nosso Pai...391

Capítulo 10 O caminho que leva para o alto...392

Perfeitos, mas sendo aperfeiçoados... 392

Meios para alcançar as bênçãos de D eus... 395

P a rte 3 A vidadocristão... 399

Capítulo 11 Abrace a cru z... 401

Negando a nós mesmos... 402

Levando a cruz de C risto...404

O discipulado diário...406 Capítulo 12 Liberdade, liberdade!... 408 A busca da liberdade...408 Três liberdades...410 Capítulo 13 Conhecendo a vontade de Deus...414

As vontades de Deus...415

A nossa vontade e a de Deus... 415

Situações questionáveis... 417

Olhando para Jesus...419

Capítulo 14 Falando com Deus... 421

(9)

O problema da oração... 421

A oração é a Deus...422

Por intermédio de Jesus C risto... 424

No Espírito Santo... 425

Seja feita a Tua vontade... 425

Capítulo 15 Deus falando conosco...428

O mau uso das Escrituras Sagradas... 428

Estudando a Bíblia... 430 Capítulo 16 Servindo... 435 Fugindo da obrigação...435 A compaixão de C risto... 436 O sal da terra... 438 P a r te 4 O trabalhode De u s...443 Capítulo 17 Chamados por Deus ... 445

O Deus que toma a iniciativa... 445

O propósito de D eus...446

O chamado de Deus...448

Os benefícios da doutrina...449

Capítulo 18 O poder protetor de D eu s...451

O que não é perseverança...452

Aquele que guarda Israel...453

Quatro textos-chave para a segurança do cristão... 454 LIVRO IV DEUS E A H IST Ó R IA ...459 Partei Tempoe História... 461 Capítulo 1 O que está errado com igo?... 463

A procura pela identidade... 464

Comunhão... 465

Uma identidade histórica... 466

A importância do presente... 468

Capítulo 2 A m archa do tem po... 470

Uma visão ciclíca da história...470

História como progresso... 472

Uma visão cristã da história...473

A glória de Deus...479

Capítulo 3 Cristo, o centro da história... 481

A plenitude dos tempos...482

O tempo como plenitude... 483

Senhor da história... 487

P a rte 2 A Igrejade Deus... 489

Capítulo 4 A Igreja de C risto...491

O legado do Antigo Testamento...492

Alicerçados em Cristo...493

Capacitados pelo Espírito...496

Incluindo todos ...498

Capítulo 5 As marcas da Igreja... 500

Um povo alegre ... 500

Um povo separado... 501

Um povo enraizado na verdade... 503

Um povo missionário ...503

Um povo unido ...505

Um povo am oroso... 506

Capítulo 6 Como adorar a D eus... 509

Os princípios bíblicos da adoração... 509

Valoração de D eu s... 512

Em espírito e em verdade...512

Capítulo 7 Símbolos e selos da salvação... 516

Quatro elementos de um sacramento...516

Batismo...518

Batizados em Cristo... 520

A Ceia do S enh or... 521

Capítulo 8 Dons espirituais... 526

Todos têm um dom ...527

O que são os dons? ... 529

Encontrando seu dom... 536

Capítulo 9 Capacitando os santos... 538

(10)

A capacitação dos santos... 540 Como capacitar...542 Capítulo 10 Gestão da igreja...545 Um ministério de serviço... 545 Um ministério de misericórdia...547 Supervisão e ensino... 549 Qualificações espirituais...551 Capítulo 11 A vida no Corpo... 555 Vida em comunhão... 555

Uns aos outros...557

O fogo de D eus... 561 Capítulo 12 A Grande Comissão...562 O ide do Senhor...563 A ira de Deus... 565 O amor de C risto... 565 P a rte 3 Umahistóriadeduascidades ... 569

Capítulo 13 A cidade se cu la r...571 Duas cidades ... 572 Babilônia e Jerusalém ...573 Secular e Sagrado... 575 A cidade de Deus... 576 Capítulo 14 A igreja secular...578 Secularização cristã... 578

Complacência para com a sabedoria do mundo ..580

Complacência para com a teologia, a agenda e os métodos mundanos... 581

Um desafio...583

Capítulo 15 Cidade de Deus... 585

Secularismo... 586

Autoridades, teologias e prioridades diferentes....588

Novo estilo de vida... 590

Dependência de D eus...592 Capítulo 16 Igreja e E stado...594 Somente Deus...596 Somente César...598 César no controle... 599 Deus no controle... 600 Pa r t e 4 O f i m d a Hi s t ó r i a... 605 Capítulo 17 Como isso tudo acabará?...607

A volta de Cristo... 608

Ressurreição do corp o...611

Dia do Juízo... 613

Capítulo 18 Finalmente no la r... 616

Onde está Jesus?... 617

Reunião ...618

Como fomos designados para s e r ... 620

À semelhança de Jesus...621

B IB LIO G R A FIA ... 623

(11)

A

p r e s e n t a ç ã o

d a

e d i ç ã o

e m

p o r t u g u ê s

Pensando no crescimento espiritual, intelectual e acadêmico dos nossos leitores, a Editora

Central Gospel tem o privilégio de publicar Fundamentos da f é cristã, um manual teológico,

com uma visão geral e abrangente das principais doutrinas que sustentam a fé cristã.

Este volume único está organizado em quatro livros, com 18 capítulos cada, subdivididos em quatro seções. O Livro I reúne as doutrinas acerca de Deus; o Livro II, acerca do pecado e da obra redentora de Cristo; o Livro III, acerca do Espírito Santo e da redenção; e Livro IV, acerca da Igreja e de sua participação histórica.

Esta obra de James M. Boice é bem fundamentada e possui um grande lastro bibliográfico, contando com citações de importantes e consagrados teólogos e escritores cristãos, como J. I. Packer, R. C. Sproul, R. A. Torrey, A. W. Tozer, F. E Bruce, C . S. Lewis e John Stott.

O texto é direto, claro e conciso. As questões abordadas são atuais e relevantes. Para ajuda adicional, foram incluídas nesta edição em português notas com explicações tiradas de ferra­ mentas eletrônicas de fácil acesso e uma bibliografia extensa, permitindo ao leitor (que tem acesso à literatura teológica em língua inglesa) um aprofundamento dos temas e um vislumbre melhor das obras utilizadas (fontes primárias).

Este livro é uma leitura indispensável para tanto para leigos em teologia e recém-converti-dos ao cristianismo com o para pregadores, pastores, evangelistas, professores, seminaristas e estudiosos, que desejam fundamentar sua fé, ampliar seus conhecimentos sobre as doutrinas cristãs e estar preparados para responder a todos que lhes pedirem a razão da sua esperança (1 Pedro 3.15).

(12)

Digitalizado ©

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Emanuence

Digita]

(13)

A

p r e s e n t a ç ã o

d a

e d i ç ã o

o r i g i n a l

Logo após a Universidade de Harvard ter sido fundada em 1636, os curadores da institui­ ção escreveram: “Permitam que todo o aluno seja claramente instruído e seriamente compeli­ do a considerar [que o] principal objetivo de sua vida e de seus estudos é conhecer Deus e Jesus, daí a necessidade de alicerçá-los em Cristo, o fundamento de todo sólido conhecimento

e aprendizagem”.

N os 350 anos que se passaram aproximadamente, Harvard (assim como a maioria de outras universidades) moveu-se em uma direção puramente secular. Mas as palavras daqueles antigos curadores ainda são verdadeiras, e muitas pessoas ainda têm como seu principal objetivo de vida conhecer Deus melhor. E para tais pessoas que este livro, originalmente publicado em quatro volumes separados pela InterVarsity Press, entre 1978 e 1981, foi escrito.

Nem sempre eu, com o autor, percebo a necessidade de algum livro sobre alguma área de conhecimento ser escrito. Mas, a meu ver, a área abrangida por este livro é uma exceção, por­ que, durante anos, procurei por uma obra que pudesse ser dada a uma pessoa (particularmente um cristão novo) que é atento e questionador e que poderia beneficiar-se com uma visão geral abrangente e de fácil leitura acerca da fé cristã, uma teologia básica de A a Z. Mas não consegui encontrar nenhum que fosse exatamente o que eu tinha em mente. Dessa forma, decidi que eu mesmo deveria tentar escrevê-lo.

É impossível fazer algo desse escopo perfeitamente. Por isso, adiei o início do meu trabalho por muitos anos. Eu poderia tê-lo protelado indefinidamente. Entretanto, chega um momento quando, a despeito das suas limitações, uma pessoa deve simplesmente ir em frente e dar o seu melhor. O resultado do meu trabalho é este livro, organizado em quatro partes, divididas em 16 seções, que correspondem mais ou menos ao conteúdo abordado por João Calvino nos

quatro livros de sua obra monumental As Institutas.

Este livro não é uma reedição das Institutas, embora eu seja um devedor de Calvino. Esta

obra é apenas uma tentativa de abordar o mesmo conteúdo, numa linguagem mais fácil, bem como introduzir temas que Calvino não tratou, mas que precisam ser tratados hoje, e relacio­ nar tais doutrinas a pontos de vista e problemas contemporâneos, em vez de aos antigos.

O Livro I trata da doutrina de Deus e de como conhecemos Deus; o Livro II, do pecado e da obra redentora de Cristo; o Livro III, do Espírito Santo e da aplicação da redenção ao indi­ víduo; e Livro IV, da Igreja e de sua participação na história da humanidade.

(14)

Fui obrigado a recorrer a uma série de escritores e pensadores, como as notas indicam. Entre eles, há alguns, como John R.W. Stott, J.I. Packer, R. C. Sproul, John Gerstner e Roger Nicole, que cheguei a conhecer pessoalmente e com os quais trabalhei por ocasião da Conferência anual da Filadélfia sobre Teologia Reformada, iniciada em 1974. Também sou grato a Thomas Watson, B. B. Warfield, R. A. Torrey, A. W. Tozer, A. W. Pink, C. S. Lewis, Emil Brunner, F. F. Bruce, John Warwick Montgomery, Jonathan Edwards, Francis A. Schaeffer e outros.

N o Livro III, minha maior dívida é com John Murray, que discorreu sobre a obra do Espí­

rito Santo brilhante e concisamente em Redemption Accomplished and Applied [Redenção re­

alizada e aplicada].

Em minha discussão sobre a doutrina da Igreja, fui imensuravelmente ajudado por autores que analisaram a natureza da Igreja e seu ministério nos dias de hoje, como Ray C. Steadman, Gene A. Getz e Elton Trueblood. Também fui ajudado por pensadores mais antigos com o Ja ­ mes Bunnerman, um pregador escocês e conferencista de seminário do século 19.

Tem sido difícil encontrar bons livros contemporâneos sobre história, mas tenho lido e extraído informações de trabalhos de Reinhold Niebuhr, O scar Cullman, R. G. Collingwood,

H erbert Butterfield e outros. Um a porção deste material aparece em um artigo intitulado New

Vistas in Historical Jesus Research [Novas visões na pesquisa do Jesus histórico], publicado no Christianity Today, de 14 de março, 1968, e outras porções em trabalhos meus sobre as Escri­

turas, como o que aparece em The Gospel o fJo hn [O Evangelho de João], volume 2, capítulos

12 a 15. Alguns escritos apareceram numa versão reduzida nas edições de junho-agosto de 1976

e de junho-agosto de 1977 da Bible Studies Magazine [Revista de estudos bíblicos.]

Um a discussão sobre The Bondage o f the Will [A escravidão da vontade] apareceu de forma

semelhante em Tenth: A n Evangelical Quaterly [Décima: um anuário evangélico], de julho de

1983. The Marks o f the Church [As marcas de Igreja] foi condensada no The Gospel ofJohn [O

Evangelho de João], volume 4, capítulos 50 a 55 e 58, impresso pelo editor Earl D. Radmacher, em Can we trust the Bible?[Podemos acreditar na Bíblia?].

A decisão dos editores de publicar o trabalho em novo formato deu-me a oportunidade de reeditar o todo e mudar partes de acordo com o que aprendi desde que os quatro volumes fo­ ram publicados. As mudanças mais extensas estão no Livro 3, particularmente na discussão do lugar das obras na vida cristã. Também fiz alterações na discussão sobre vontade no Livro 2, baseadas nas contribuições de Jonathan Edwards. Os Livros 1 e 4 sofreram poucas mudanças. Que Deus seja louvado por essa obra e que o conteúdo dela possa contribuir para que muitos acordem para o chamado à vida eterna!

— James Boice

(15)

A

g r a d e c i m e n t o s

Gostaria de manifestar apreço a Srta Caecilie M. Foelster, minha assistente editorial, que ajudou na produção de todos os meus livros. Ela se encarregou do pesado fardo de digitar, re­ visar e preparar os índices.

Também sou grato à 10a Igreja Presbiteriana da Filadélfia, com a qual o teor desses capítulos foi compartilhado em forma de sermão. A congregação respondeu com muitos comentários e sugestões proveitosas.

(16)
(17)

L

iv r o

(18)
(19)

P

a r t e

1

O conhecimento de Deus

Para ser sábio, é preciso primeiro temer a Deus, o SENHOR. Se você conhece o Deus Santo, então você tem compreensão das coisas.

Provérbios 9.10 (n t l h)

E a vida etema é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste.

João 17.3 Porque do céu se manifista a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifes­ ta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhe­ cido a Deus, não o gbrificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discur­ sos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscunceu. Dizendo-se sábios, tomaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da ima­ gem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.

(20)

Emanuence

Digital

(21)

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C A P ÍT U L O /

S

o b r e

c o n h e c e r

D

e u s

| / | u m a noite quente, nos primeiros

/'A í anos da era cristã, um homem so­

fisticado e muito culto, chamado

V

Nicodemos, foi ver um jovem ra­

bino, Jesus de Nazaré. Aquele homem queria discutir sobre a realidade. Então, começou a conversa com uma afirmação sobre aonde sua própria busca pessoal pela verdade o havia levado. Ele disse:

Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fa z er estes si­ nais que tu fazes, se D eus não fo r com ele.

João 3.2

C om exceção da palavra rabi, uma manei­

ra educada de um judeu se dirigir a um mestre em teologia, as primeiras palavras de N icode­ mos eram uma alegação de conhecimento

considerável, pois ele afirmou: sabemos. A

partir daí, Nicodemos começou a cogitar as coisas que ele poderia saber, ou achava que sabia, e com as quais queria iniciar a discus­ são: (1) que Jesus continuava a fazer muitos milagres; (2) que aqueles milagres tinham co ­ mo propósito legitimá-lo com o Mestre envia­ do por Deus; (3) e que, por conseguinte, Jesus era aquele a quem eles deveriam dar ouvidos. Infelizmente, para Nicodemos, Jesus res­

pondeu que tal prerrogativa \sabemos\ estava

errada e que Nicodemos não poderia, portan­ to, saber algo sobre a realidade espiritual até

que primeiro experimentasse uma transforma­ ção profunda e espiritual.

Jesus respondeu e disse-lhe: N a verdade, na verdade te digo qu e aquele qu e não nascer de novo não pode v er o Reino de Deus. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem , nem para on­ de vai; assim é todo aquele qu e é nascido do Espírito.

João 3.3,7,8 Os com entários subsequentes de N ico ­

demos — Com o p o d e um hom em nascer,

sendo v elh o ? Porventura, p od e tornar a en ­ trar no ven tre de sua m ãe e nascer? (Jo 3.4,9) — revelaram, ao menos, um reconhe­ cimento implícito de sua falta de conheci­ mento sobre coisas importantes [a que o Rabi se referia].

Jesus enfatizou que o verdadeiro conheci­ mento começa pelo conhecimento da realidade espiritual, o conhecimento que vem de Deus, e que isso se encontra na revelação do Altíssimo sobre si mesmo na Bíblia e na vida e obra de Jesus, a obra do Salvador da humanidade.

Cr i s e c o n t e m p o r â n e a______________________

Esse diálogo [entre Jesus e Nicodemos] ainda é relevante em nossos dias, pois os

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questionamentos, dúvidas e frustrações que Nicodemos enfrentou há quase dois mil anos ainda são atuais.

Nicodemos tinha certo conhecimento [das Escrituras], mas faltava-lhe a chave para acessar o conhecimento [espiritual], o ele­

mento que juntaria as peças. [Com o mestre

de Israel (Jo 3.10)] Nicodemos sabia algumas coisas, contudo sua busca pela verdade o ha­ via levado a uma crise pessoal.

D a mesma forma, hoje, sabe-se muito no sentido de ter informações e conhecimento técnico e científico, mas [do ponto de vista espiritual das verdades eternas] sabe-se tanto hoje quanto se sabia em qualquer época an­ terior, pois o tipo de conhecimento que sub­ sidia a informação e dá significado à vida está ausente.

A natureza do problema pode ser consta­ tada ao examinarmos as duas quase exclusivas abordagens ao conhecimento hoje [a racional e a emocional].

Por um lado, existe a ideia de que a realida­

de pode ser conhecida apenas pela razão. Essa

abordagem não é nova, é claro. É a abordagem desenvolvida por Platão1 e assumida pelo pen­ samento grego e romano, depois dele.

N a filosofia de Platão, o conhecimento verdadeiro é o conhecimento da essência eterna e inalterável das coisas, não apenas o conhecimento de fenômenos mutáveis; é um conhecimento de formas, ideias e/ou ideais. N osso equivalente mais próximo seriam as

chamadas leis da ciência.

De modo superficial, essa abordagem ao co­ nhecimento pelo exercício da razão suposta­ mente imparcial parece desejável, porque ela é produtiva, como os avanços técnicos atuais em geral indicam. Mas ela não vem sem problemas. Sob um determinado aspecto, é um co ­ nhecimento bem impessoal e, com o diriam alguns, despersonalizante, pois, nessa abor­ dagem, a realidade se torna [um objeto de es­ tudo ou] uma coisa (uma equação, lei, ou pior

ainda, meros dados), e homens e mulheres se tornam coisas também, com o resultado ine­ vitável de que podem, assim, ser manipulados como qualquer outra matéria-prima, para quaisquer fins.

U m exemplo disso é a manipulação das nações mais pobres pelas mais ricas, para o “bem” da economia em expansão destas. (Tal injustiça é analisada e corretamente condena­

da por Karl Marx2 no Manifesto Comunista,

O Capital e outros trabalhos.) O utro exem­ plo é o próprio comunismo que, apesar de seu ideal de melhorar o destino das massas, mani­ pula-as com fins ideológicos.

A o nível pessoal, há uma ciência da tecno­ logia comportamental e ensinamentos assus­ tadores de um homem com o B. F. Skinner, da Universidade de Harvard, que afirma que in­ divíduos devem ser condicionados cientifica­ mente para o bem da sociedade.

H á ainda outro problema com a tentativa de conhecer a realidade por meio apenas da razão: esta abordagem não dá uma base ade­ quada para a ética. Pode dizer o que a realida­ de é; no entanto, não o que ela deveria ser. Em conseqüência, os extraordinários avanços tecnológicos de hoje são acompanhados por uma permissividade moral extrema e debili-tante, que promete em seu devido tempo romper até com os valores e o sistema que permitiram tanto os avanços com o a permis­ sividade. Essa era a mesma lógica de muitos filósofos gregos que, embora fossem homens de grande intelecto, tinham vidas depravadas. Recentemente, as falhas do sistema racio-nalista contribuíram para uma nova geração no mundo ocidental que abandonou a razão, a fim de conhecer a realidade por meio da experiência emocional.

N a antiguidade, a reação mais comum dos gregos à impessoalidade de sua filosofia se dava por meio da participação intensa deles nos rituais de religiões místicas, que prom e­ tiam uma união emocional com algum deus,

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induzida por luzes, música, incenso ou, tal­ vez, drogas. Em nossa época, a mesma abor­ dagem veio à tona com a redescoberta de reli­ giões orientais [o hinduísmo, o budismo, o taoísmo, o confucionismo e o xintoísmo], a ioga e a meditação transcendental, o potencial de movimento humano (H PM )3 e outras prá­ ticas, em tese, expansoras da mente, que po­ dem ou não se utilizar de drogas [para alcan­ çar outras dimensões da realidade].

Essa outra abordagem moderna também tem vários problemas. Primeiro, a experiência não dura. E transitória. Cada tentativa de al­ cançar a realidade por meio de experiência emocional promete algum tipo de êxtase, mas este é seguido de uma sensação de vazio, com o problema adicional de que estímulos cada vez mais intensos parecem tornar necessário repetir a experiência. N o final, isso termina em autodestruição ou em desilusão profunda. U m segundo problema é que a abordagem da realidade por meio das emoções não satis­ faz a mente. Promotores dessas experiências, em particular experiências com drogas, falam de uma percepção mais intensa da realidade que resulta dela. Mas a experiência deles não tem conteúdo racional. A razão humana, que deseja analisar tais coisas e compreendê-las, fica insatisfeita. O resultado dessa situação é uma crise, hoje, na área do conhecimento co ­ mo na antiguidade. Muitas pessoas não sabem para onde ir.

E m suma, a abordagem racionalista é im­ pessoal e amoral. Já a abordagem emocional é sem conteúdo, transitória e, com frequência, imoral.

“Esse é o fim? N ão há outras possibilida­ des? N ão há um terceiro caminho?” — mui­ tos indagam.

Um t e r c e i r o c a m i n h o_____________________

N esse sentido, o cristianismo se apre­ senta com a reivindicação de que há um ter­ ceiro caminho e que este caminho é forte

em especial naqueles pontos onde as outras abordagens são deficientes.

A base dessa terceira abordagem é que há um Deus que criou todas as coisas, que Ele mesmo estabeleceu um propósito para a cria­ ção e que podemos conhecê-lo.

Essa é uma possibilidade emocionante e satisfatória. E emocionante porque envolve a possibilidade de contato entre o indivíduo e Deus, por mais insignificante que o indivíduo possa parecer aos seus próprios olhos ou aos olhos de outros. É satisfatório porque esse conhecimento não advém de uma ideia ou uma coisa, e sim de um Ser supremo e pessoal, e porque tal conhecimento em geral resulta numa profunda mudança de conduta [de quem o obtém].

É por isso que a Bíblia enfatiza que, para ser sábio, é preciso primeiro temer a Deus, o Senhor. Se você conhece o Deus Santo, então você tem compreensão das coisas (Pv 1.9 n t l h).

Aqui, contudo, precisamos ser claros so­ bre o que queremos dizer quando falamos em conhecer Deus, pois muitos usos comuns do

verbo conhecer são inadequados para transmi­

tir o significado bíblico [naquela passagem].

O verbo conhecer pode ser usado com o

mesmo sentido de saber [ficar sabendo, ter

indícios, ciência, informação da existência de algo ou alguém].

Nesse caso, podemos dizer que sabemos onde uma pessoa mora ou do acontecimento de certos eventos. Este tipo de conhecimento não requer nosso envolvimento pessoal e tem um peso pequeno em nossa vida.

O u tro sentido do verbo conhecer é [ser

apresentado, reconhecer] saber p o r experi­

ência própria sobre algo ou alguém. É o co ­ nhecim ento pela descrição. E isso que a B í­ blia quer dizer quando fala sobre conhecer Deus.

[Partindo desses dois significados do ver­ bo conhecer] Podemos dizer, por exemplo, que conhecemos a cidade de N ova Iorque,

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Londres ou M oscou, querendo aludir com isso que temos ciência da cidade, dos nomes das ruas onde as maiores lojas se encontram e outros fatos por termos vivido lá ou pela lei­ tura de livros [e/ou de guias de viagem, Inter­ net e outras fontes].

N a esfera religiosa, o tipo de conheci­ mento [que recebemos de forma mais impes­ soal] vem por meio da teologia, que, embora importante, não é tudo sobre religião nem a alma desta.

A Bíblia nos diz muito sobre o Criador, a fim de que possamos entender [cognitiva-mente sobre Ele e Seus atributos]. (N a ver­ dade, muito do que se segue nesse livro é dirigido à nossa necessidade de tal conheci­ mento.) Mas o conhecimento teológico não é o suficiente, pois até os grandes teólogos podem confundir-se e achar que a vida não tem sentido.

O verdadeiro conhecimento sobre Deus

também é mais do que conhecer pela experi­

ência própria. Afinal, seria possível a alguém que viveu numa determinada cidade dizer que seu conhecimento desta localidade ad­ vêm não de livros, mas da experiência de ele ter morado lá, andado pelas ruas, comprado nas lojas, ido aos teatros.

Quanto a isso, teríamos apenas de admitir que o conhecimento desse alguém está num nível acima do meramente teórico adquirido por meio da leitura ou da experiência de ou­ trem; contudo, ainda assim, não é o conheci­ mento completo sobre algo, como no sentido cristão.

Suponha, por exemplo, que uma pessoa fosse a um campo iluminado por estrelas no frescor de uma noite de verão, contemplasse os céus cintilantes, e voltasse dizendo que veio conhecer Deus por meio do campo. O que você diria a ela?

O cristão não tem que negar a validade dessa experiência, até certo ponto. P or certo, aquele é um conhecimento mais rico do que a

mera consciência de que Deus existe, pois aquele tipo de conhecimento implica afirmar que Deus é poderoso e o criador de tudo o que vemos e sabemos.

Ainda assim, esse tipo de conhecimento é inferior ao que a Bíblia considera com o co ­ nhecimento profundo e verdadeiro sobre Ele, uma vez que, na Bíblia, para alguém co ­ nhecer Deus, precisa nascer de novo, de um novo m odo [ser gerado espiritualmente por Deus], a fim de poder conversar com Ele e conhecê-lo.

(Assim, a existência do criador se torna não apenas algo em que se possa crer, mas Ele próprio se torna um amigo com o qual pode­ mos relacionar-nos e conhecer de modo pes­ soal, e nós podemos continuar sendo trans­ formados no processo.)

Tudo isso nos leva, passo a passo, a uma

melhor compreensão da palavra conheci­

mento. Todavia, ainda uma qualificação é necessária. De acordo com a Bíblia, mesmo quando o significado mais alto possível é da­

do à palavra, conhecer D eus não é apenas

saber quem Ele é, conhecer [Seus atributos ou Seus feitos] isoladamente. E sempre co ­ nhecer Deus [reconhecendo Seus atributos, Suas leis e Seu modo de agir] em Seu relacio­ namento conosco.

Em conseqüência, de acordo com a Bíblia, o conhecimento de Deus acontece só quando há também conhecimento sobre nós mesmos e nossa profunda necessidade espiritual, jun­ to a uma aceitação da provisão graciosa de Deus de nossas necessidades por meio da obra de Cristo e a aplicação prática dessa obra em nós pelo Espírito de Deus. Logo, o co ­ nhecimento de Deus ocorre no contexto da piedade cristã, do louvor e da devoção.

A Bíblia ensina que esse conhecimento sobre Deus é obtido nem tanto devido à nos­ sa intensa busca por Ele, mas porque o Se­ nhor [de modo soberano] revelou-se a nós em Cristo e nas Escrituras.

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J. I. Parker escreveu sobre esse conheci­ mento, dizendo:

Conhecer Deus envolve, primeiro, ouvir a Pa­ lavra de Deus e recebê-la como o Espírito San­ to a interpreta, aplicando-a a si mesmo; segun­ do, ao perceber a natureza de Deus e Seu caráter, como Sua Palavra e Sua obra o revelam; terceiro, aceitar Seu convite e fazer o que Ele manda; quarto, reconhecer e regozijar-se pelo amor que Ele demonstrou e, assim, aproximar- -se [dele] e trazer alguém à Sua comunhão divi­ na. (Pa c k e r, 1973, p. 32)

Po r q u e c o n h e c e r De u s?_________________

“Espere um minuto,” alguém poderia ar­ gumentar, “tudo isso soa complicado e difícil. N a verdade, parece difícil demais. Se é isso que está envolvido, não quero tomar parte nisso. Dê-me uma boa razão para eu me dar a esse trabalho”. Essa é uma objeção justa, to ­ davia há uma resposta adequada a ela. N a verdade, há muitas.

Em primeiro lugar, o conhecimento sobre Deus é importante, pois somente por meio disso uma pessoa pode entrar no que a Bíblia

chama de vida eterna. Jesus indicou isso

quando orou:

E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único D eus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste.

João 17.3 À primeira vista, a vida eterna não parece ser importante o bastante para o homem na­ tural desejar conhecer Deus a todo o custo.

Isso ocorre porque, por carecer da vida eterna, o homem não entende o que está per­ dendo. Ele é como uma pessoa que diz não apreciar boa música. A inaptidão dele não faz com que a música não tenha valor; apenas in­ dica princípios inadequados de apreciação estética dele.

De modo semelhante, aqueles que não apreciam a oferta de vida eterna de Deus de­ monstram que não têm a capacidade de com ­ preender e valorizar o que lhes falta.

A Bíblia diz:

Ora, o hom em natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe pa­ recem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.

1 Coríntios 2.14 Talvez ajudasse se fosse dito àquela pessoa que a promessa de vida eterna é também a pro­ messa de desfrutar uma vida abundante como um ser humano autêntico [e glorificado].

Isso é verdade, contudo a vida eterna sig­ nifica bem mais do que isso. Significa voltar a viver não só num sentido novo, mas também num sentido eternò. Foi o que Jesus afirmou [implicitamente] quando declarou:

E u sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em m im nunca morrerá.

João 11.25,26 E m segundo lugar, o conhecimento de Deus é importante porque, com o ressaltamos antes, ele também envolve um conhecimento acerca de nós mesmos.

Em nossa época, repleta de psiquiatras e psi­ cólogos, homens e mulheres gastam bilhões de dólares por ano na tentativa de conhecerem a si mesmos, compreender sua psique, sua alma.

Certamente, há uma necessidade da psi-quiatrià, particularmente a psiquiatria cristã. Mas esta, sozinha, é insuficiente, ainda mais se não cooperar para que as pessoas conhe­ çam Deus, de modo que o valor e as falhas delas possam ser confrontados.

P or um lado, o conhecimento de nós mes­ mos por meio do conhecimento de Deus é

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humilhante. N ós não temos os atributos dele. Ele é santo; nós, impuros. Ele é bom; nós, maus. Ele é sábio; nós, tolos. Ele é forte; nós, fracos. Ele é amoroso e cheio de graça; nós, cheios de ódio e presunção egoísta. Portanto, conhecer Deus implica ver a nós mesmos co­ mo Isaías se viu em Isaías 6.5:

Então, disse eu: ai de mim, qu e vou p ere­ cendo! Porque eu sou um hom em de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos!

Implica reconhecer nossas falhas, como

Pedro, que disse a Jesus: Senhor, ausenta-te de

mim, por que sou um homem pecador (Lc 5.8). Em contrapartida, tal conhecimento de nós mesmos a partir do conhecimento de Deus também pode ser confortante e satisfa­ tório, pois, apesar do que nos tornamos, ain­ da somos criação de Deus e por Ele somos amados. N ão há maior dignidade dada a ho­ mens e mulheres do que esta.

Em terceiro lugar, o conhecimento de Deus também nos dá conhecimento sobre mundo: seu bem e seu mal, seu passado e fu­ turo, seu propósito e julgamento iminente pelas mãos de Deus.

Em certo sentido, é uma extensão do ar­ gumento que acabamos de apresentar. Se o conhecimento acerca de Deus nos permite conhecer melhor a nós mesmos, inevitavel­ mente nos traz conhecimento sobre o mun­ do, pois este é formado também por pessoas. Por outro lado, o mundo tem uma relação especial com Deus: está em pecado e rebelião contra o Criador, mas tem valor com o instru­ mento para Seu propósito; é um lugar confu­ so até que conheçamos o Deus que o criou e aprendamos com Ele a respeito do que vai acontecer com o mundo.

A quarta razão de o conhecimento sobre Deus ser importante é ser o único caminho

para santidade pessoal. Este é um objetivo que o homem natural dificilmente deseja. Mas é essencial, não obstante. Nossos proble­ mas procedem não somente do fato de ser­ mos ignorantes sobre Deus, mas também do fato de sermos pecadores e não querermos o que é bom. Às vezes, odiamos o bem, mesmo o bem nos beneficiando.

Conhecer Deus pode levar-nos à santidade. Conhecer Deus como Ele é implica amá-lo como Ele é e querer ser como Ele. Esta é a mensagem em um dos textos mais importantes da Bíblia acerca do conhecimento sobre Deus: Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas. Mas o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.

Jeremias 9.23,24 Jeremias, um profeta do Antigo Testamen­ to, também escreveu sobre o dia em que os que não conhecem Deus virão a conhecê-lo:

E não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém, a seu irmão, dizendo: Conhe­ cei ao Senhor; porque todos m e conhecerão, desde o m enor deles até ao maior, diz o Se­ nhor; porque perdoarei a sua maldade e nunca mais m e lembrarei dos seus pecados.

Jeremias 31.34 Por fim, o conhecimento sobre Deus é im­ portante porque apenas por meio dele a Igre­ ja pode tornar-se forte. E m nós mesmos so­

mos fracos, mas, com o Daniel escreveu, o

povo que conhece ao seu D eus se tornará forte e ativo (Dn 11.32b a r a )

Não temos uma Igreja nem muitos cristãos fortes hoje. Se rastrearmos a causa, constatare­ mos a falta de conhecimento espiritual profundo.

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Por que a Igreja está fraca? P or que um cristão isolado dos outros é fraco? Porque permitiu que sua mente se conformasse ao “espírito de nossa era”, com seu pensamento mecanicista, ímpio. Muitos cristãos se esque­ ceram de como Deus é e o que Ele promete àqueles que nele confiam.

Peça a um cristão mediano para falar so­ bre Deus. Após ele dizer coisas previsíveis, você constatará que tal pessoa [pelo seu des­ conhecimento da Palavra e sua falta de expe­ riência com o Senhor] crê num deus pequeno, de sentimentos vacilantes; um deus que gos­ taria de salvar o mundo, mas não consegue; que gostaria de refrear o mal, mas, de algum modo, isto parece estar além do seu poder; um “vovô” que se aposentou de sua obra, mas que ainda tem boa vontade para dar bons conselhos, embora, na maior parte do tempo, permita que seus filhos deem seu jeito para sobreviver num ambiente perigoso.

Tal deus não é o Deus da Bíblia! Aqueles que conhecem Deus percebem o erro concei­ tuai e rejeitam-no. O Deus da Bíblia não é fraco; é todo-poderoso. N ada acontece sem a permissão dele ou fora de Seus propósitos, nem o mal. N ada o perturba ou confunde. Seus propósitos são sempre realizados. A s­ sim, aqueles que o conhecem de fato, agem com ousadia, seguros de que o Todo-podero­ so está com eles para realizar Seus agradáveis propósitos na vida deles.

Vejamos um exemplo. Daniel e seus três amigos [Hananias, Misael e Azarias] eram homens espirituais [fiéis a Deus e obedientes aos Seus mandamentos]. [Após a invasão dos caldeus, os quatro jovens judeus foram deportados para a Babilônia]. Viviam no am­ biente ímpio da corte babilônica. Eles esta-vam cativos, mas eram bons escravos. Eles serviam ao rei. Mas a dificuldade surgiu quando se recusaram a infringir os manda­ mentos do Deus verdadeiro a quem eles co ­ nheciam e adoravam.

Quando uma grande estátua de Nabucodo-nosor foi erguida e de todos foi exigido que se curvassem diante dela, para adorá-la, os três amigos de Daniel se recusaram (ver Dn 3), e quando, por decreto real, foi proibido dirigir qualquer petição, a não ser ao rei, por 30 dias, Daniel fez o que sempre fazia: continuou oran­ do a Deus três vezes ao dia, diante de uma janela aberta que dava para Jerusalém (ver Dn 6).

O que havia de errado com aqueles quatro homens? Eles estavam enganados em relação às conseqüências [de sua insubmissão aos de­ cretos reais]? Acharam que o não cumpri­ mento passaria despercebido?

De jeito nenhum. Eles sabiam as conseqüên­ cias, mas conheciam Deus. Confiavam que o Senhor tinha poder para resolver aquela situ­ ação. Ele poderia manifestar Sua salvação tan­ to na cova dos leões como na fornalha.

[Com base em sua fé e conhecimento so­ bre Deus, ousadamente] Hananias, Misael e Azarias disseram ao rei Nabucodonosor:

Eis que o nosso Deus, a quem nós servi­ mos, é que nos pode livrar; ele nos livrará do forno de fogo ardente e da tua mão, ó rei. E, se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste.

Daniel 3.17,18 A concepção de um deus fraco não p ro­ duz homens fortes; um deus assim nem mere­ ce ser adorado. Já o Deus todo-poderoso, o Deus bíblico, é uma fonte de força para aque­ les que o conhecem.

A c i ê n c i a m a is e l e v a d a ____________________

Então, vamos aprender sobre Deus e co-nhecê-lo num sentido mais pleno e bíblico. Jesus nos encorajou a fazer isso quando disse: Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre

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vós o m eu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encon­ trar eis descanso para a vossa alma.

Mateus 11.28,29 Essa aproximação proporciona sabedoria verdadeira a todos. E uma responsabilidade especial e um privilégio do cristão.

Qual é o melhor curso teológico para quem é filho de Deus? N ão é assentar-se aos pés do próprio Deus, para conhecê-lo de m o­ do pessoal?

H á outros estudos que valem à pena, é verdade. Mas a ciência mais elevada, mais ex-pansora de mente, dentre todas é a revelada por Deus.

Spurgeon escreveu:

Há algo muito proveitoso para a mente na con­ templação do divino. E um assunto tão vasto que todos os nossos pensamentos se perdem em

sua imensidão; é tão profundo, que nosso orgu­ lho se afoga em sua infinitude. Podemos com­ preender e manejar outros assuntos, sentir algum tipo de satisfação com isto, e seguir o nosso ca­ minho pensando “vejam como sou sábio”. Mas, quando nos deparamos com essa ciência supe­ rior, descobrimos que nosso fio de prumo não pode ressoar a profundidade dela e que nossos olhos de águia não podem ver sua grandiosidade, e voltamos com [...] a solene exclamação: “sou de ontem, e nada sei”[...] Contudo, enquanto humi­ lha a mente, pensar sobre Deus também a expan­ de [...] Nada ampliará tanto o intelecto, nada magnificará tanto a alma do homem, quanto uma devotada, honesta e contínua investigação do grande assunto: Deus. (Sp u r g e o n, 1975, p.l) Todo cristão deve buscar esse objetivo. Deus prometeu que aqueles que o buscam o encontrarão e que, para aqueles que batem, a porta se abrirá (ver M t 7.7).

No t a s

1 Platão foi um filósofo e matemático do período clássico da Grécia antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia, em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles, Platão ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental.

(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o)

2 Karl Marx foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, que atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista. Herdeiro da filosofia alemã, ele foi considerado, ao lado de Kant e Hegel, um de seus grandes representantes.

A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das sociedades capitalistas. Marx se posicionou contra qualquer separação drástica entre teoria e prática, entre pensamento e realidade, porque essas dimensões, para ele, se­ riam abstrações mentais (categorias analíticas) que, no plano concreto, real, integram uma mesma totalidade complexa.

O marxismo constitui-se como a concepção materialista da História, longe de qualquer tipo de determinismo, mas compreendendo a predominância da materialidade sobre a ideia e da dialética das coisas. Portanto, não é possível en­ tender os conceitos marxianos como forças produtivas, capital, entre outros, sem levar em conta o processo histórico. Marx compreendeu o trabalho como atividade humana que desenvolve socialmente o homem. Sendo este um ser social, a história das relações sociais e de produção dá lugar à humanidade. É a partir desta compreensão e concepção revolucionárias do homem, que Marx identificará a alienação do trabalho como a alienação das demais coisas, tendo sua compreensão do real influenciado cada dia mais a ciência por sua consistência.

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3 O potencial de movimento humano foi uma psicoterapia humanista desenvolvida entre 1960 e 1970, com técnicas de desenvolvimento de indivíduos por meio de grupos de encontro, de terapia do grito primai e outras psicoterapias associadas. Embora o potencial do movimento humano e a terapia humanista sejam algumas vezes usados como si­ nônimos, esta (que floresceu entre 1940 e 1950, com base nos ensinamentos de Freud e Nietzsche) precedeu o po­ tencial do movimento humano, fornecendo sua base teórica.

A terapia humanista foi inicialmente vista como capaz de ajudar uma pessoa a fazer pleno uso das suas capacida­ des pessoais que a levariam à criatividade, autorrealização e felicidade pela integração de todos os componentes da personalidade. Esses elementos incluiriam o desenvolvimento físico, emocional, intelectual, comportamental e espi­ ritual. As marcas de uma pessoa autorrealizada e feliz seriam a maturidade, o autoconhecimento, a independência e a autenticidade. O problema parece ter sido a mistura nesta terapia de técnicas psicanalíticas e místico-religiosas, que vieram à tona com os movimentos de Nova Era.

(30)

O D

e u s

d e s c o n h e c i d o

soma total da nossa sabedoria, a que merece o nome de sabedoria verdadeira e certa, abrange estas duas partes: o conhecimento que se pode ter de Deus, e o de nós mesmos.

( C a l v i n o , 1960, p . 35)

Essas palavras do parágrafo inicial da obra Institutes o f the Christian Religion [As Institu- tas da religião cristã] marcam o ponto para o qual o capítulo anterior nos trouxe, mas tam­ bém introduzem um novo problema. Se de fato a verdadeira sabedoria consiste no conhecimen­ to sobre Deus e sobre nós mesmos, somos ime­ diatamente levados a perguntar: “Mas, quem tem tamanho conhecimento? Quem conhece Deus ou conhece a si mesmo de verdade?”

Se form os honestos, teremos de admitir que, enquanto form os deixados p or nossa própria conta ou confiarmos em nossas próprias habilidades, a única resposta p os­ sível é “ninguém”. Se vivermos de acordo com nossas próprias convicções, nenhum de nós verdadeiramente conhecerá Deus, tam ­ pouco conhecerem os nós mesmos de m a­ neira adequada.

Onde está o problema? É evidente que não conhecemos a nós mesmos porque falhamos em primeiro conhecer Deus. Mas, por que não conhecemos Deus? Ele é impossível de ser co­ nhecido? A culpa é dele ou é nossa?

Antes de chegarmos a essa conclusão de­ vemos estar conscientes do que está envolvido.

Se a culpa é nossa, embora esse fato em si pos­ sa ser desconfortável, é possível pelo menos corrigi-lo, pois Deus pode qualquer coisa. Ele pode intervir. P or outro lado, se a culpa é de Deus (ou, como preferiríamos dizer, se a culpa é da própria natureza das coisas), então não pode ser feito absolutamente nada. A chave do conhecimento inevitavelmente esca­ pa de nós, e a vida é absurda.

Em The Dust o f Death [As cinzas da mor­

te], Os Guinness1 ilustra isso ao descrever

uma apresentação teatral cômica encenada pelo comediante alemão Karl Vallentin. N es­ sa performance, o comediante sobe num pal­ co iluminado apenas por um pequeno círculo de luz. Ele anda para lá e para cá ao redor do círculo com um semblante preocupado. Ele está procurando por alguma coisa.

Passado algum tempo, um policial chega perto dele e pergunta o que ele perdeu. “Perdi a chave da minha casa”, Vallentin responde. O policial se junta a essa busca, mas por fim a procura parece inútil. “Tem certeza de que a perdeu aqui?”, pergunta o policial. “Ah, n ão!”, diz Vallentin, apontando para o canto escuro. “Foi ali.” “Então, por que você está procurando aqui?” “Ali, não há luz”, respon­ de o comediante (Os G u in n e s s , 1973, p .148). Se Deus não existe, ou se Deus existe, mas o fracasso em conhecê-lo é culpa dele, então a busca pelo conhecimento é como a busca do comediante alemão. Onde ela deveria ser feita

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não há luz; onde há luz não há sentido em procurar. Mas, é esse o caso? N a Bíblia é de­ clarado que o problema está em nós, não em Deus. Portanto, o problema tem solução. Tem solução porque Deus pode dar, e na ver­ dade já deu, passos para se revelar a nós, pro­ vendo, p or meio disso, a chave que faltava para o conhecimento.

Co n s c i ê n c i a d e De u s______________________

Devemos começar com o problema: por mais estranho que possa parecer, a pessoa que não conhece Deus, ainda que num sentido menor, mas válido, conhece-o, embora repri­ ma esse conhecimento.

Nesse ponto, precisamos voltar à distin­

ção entre uma consciência sobre D eus e o ver­

dadeiro conhecimento de Deus. Conhecer

Deus é penetrar no conhecimento de nossa profunda necessidade espiritual e da provi­ dência dele para essa necessidade, e daí vir a confiar no Senhor e reverenciá-lo. Ter cons­ ciência sobre Deus é meramente uma sensa­ ção de que há um Deus e que Ele merece nossa obediência e adoração. Homens e mu­ lheres não conhecem, obedecem ou adoram a Deus naturalmente. Contudo, certamente têm uma consciência sobre Ele.

Isso nos remete a algumas das mais im­ portantes palavras já registradas em benefício da humanidade — da carta do apóstolo Paulo à recém-estabelecida Igreja em Roma. Elas contêm a primeira tese do apóstolo em sua grande exposição da doutrina cristã.

Porque do céu se manifesta a ira de D eus sobre toda impiedade e injustiça dos ho­ mens que detêm a verdade em injustiça; porquanto o que de D eus se pode conhecer neles se manifesta, porque D eus lho mani­ festou. Porque as suas coisas invisíveis, des­ de a criação do m undo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão

criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvane­ ceram, e o seu coração insensato se obscu- receu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E m udaram a glória do D eus incor­ ruptível em sem elhança da im agem de hom em corruptível, e de aves, e de qua­ drúpedes, e de répteis.

Romanos 1.18-23 Nesses versículos, vemos três ideias im­ portantes: 1) a ira de Deus contra o homem natural é demonstrada; 2) o homem intencio­ nalmente rejeitou Deus; 3) essa rejeição acon­ teceu apesar de uma consciência natural de Deus que toda pessoa tem.

Du p l a r e v e l a ç ã o___________________________

A terceira ideia, a consciência natural so­ bre Deus que toda pessoa tem, é o ponto de onde precisamos partir, pois vemos que, em­ bora ninguém naturalmente conheça Deus, a deficiência que temos de conhecê-lo não é culpa dele. O Senhor nos deu uma dupla re­ velação de si mesmo, e todos nós a temos.

A primeira parte dela é a revelação de Deus na natureza. O argumento de Paulo po­ de ser resumido assim: tudo que possa ser conhecido sobre Deus pelo hom em natural foi revelado na natureza. Obviamente, pre­ cisamos reconhecer que é um conhecim en­ to limitado. N a verdade, Paulo definiu isso com o duas coisas apenas: o poder eterno de Deus e Sua divindade. Todavia, embora esse conhecim ento seja limitado, é suficiente pa­ ra eximir de culpa qualquer pessoa que fa­ lhe ao partir desse ponto para buscar Deus plenamente.

N o discurso contemporâneo, a expressão poder eterno poderia ser reduzida à palavra

supremacia, e divindade poderia ser traduzida

Referências

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