• Nenhum resultado encontrado

Todos os Nomes: Jürgen Habermas e o Uso do Nome Social no Estado de Goiás

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Todos os Nomes: Jürgen Habermas e o Uso do Nome Social no Estado de Goiás"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

PROLEGÔMENOS DA INCLUSIVIDADE ANTROPONÍMICA

A

reflexão, pesquisa e escrita deste texto nasceu na ambiência de sala de aula no Instituto Federal de Goiás, campus Goiânia. O curso, era uma das graduações em Engenharia daquele estabelecimento, em cada aula, o professor fazia a chamada e um certo nome feminino que lá constava, sempre não respondia, consequentemente levava falta. E os demais alunos permaneciam em um silêncio um tanto quanto constrangedor. Até que, ao final da terceira semana letiva, no término de uma aula, o professor foi procurado por um aluno, que com educação, serenidade e tom sigiloso o entregou um bilhetinho com o seguinte teor: “professor, sou homossexual, o nome feminino que consta da chamada sou eu... Mas meu nome mesmo é “D...” (nome masculino), ainda está deste jeito antigo porque a secretaria não alterou meu nome na matrícula e chamada. Obrigado”. O professor sorriu, Resumo: este artigo faz uma revisão crítica sobre memorandos, resoluções e legislações de

publicações recentes sobre o(s) uso(s) do nome social no Brasil, de modo específico, nas ins-tituições públicas de ensino no estado de Goiás (Escola Estadual, IFGoiás, UFG e UEG). Utiliza-se como aporte teórico conceitos de moral, alteridade e inclusividade política do filósofo alemão Jürgen Habermas na consolidação de direitos nas democracias contemporâneas com a finalidade do estabelecimento do pleno exercício de cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais [LGBTT].

Palavras-chave: Nome social. Jürgen Habermas. Alteridade LGBTT. Cidadania.

* Recebido em: 07.02.2016. Aprovado em: 20.04.2016.

** Doutorando em Ciências da Religião na PUC Goiás (bolsista Capes). Mestre em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela UERJ. Licenciado em Letras: Português/Literaturas pela UFG-UNESA. Bacharel em Teologia pela Umesp e pelo Seminário Teológico Betel (RJ). E-mail: umcristiano@gmail.com

TODOS OS NOMES:

JÜRGEN HABERMAS

E O USO DO NOME SOCIAL

NO ESTADO DE GOIÁS*

(2)

agradeceu, e fez a troca ali mesmo, a partir daquele dia, o aluno que sempre presente estava desde o início não levaria mais nenhuma falta.

O caso do aluno “D...”, incentivou-me a uma revisão jornalística-temática sobre tex-tos, memorandos e legislações recentes sobre o uso do nome social nas instituições de ensino, a delimitação será o estado de Goiás. Revisão, pela necessidade de juntar informações de legitima-ções inclusivas tão recentes, quanto tão desconexas na contemporaneidade. Jornalística, devido ao fato de ser um instrumento comunicacional de divulgação imediata e de grande alcance ao público brasileiro. No caso dos livros, poucos, mas ainda em produção sobre o assunto do nome social, eles atingem apenas uma parcela da população, ou até, públicos específicos. Assim sendo, o aporte teórico deste texto parte da genealogia da moral e da inclusividade em Jurgen Habermas. O título de abertura, Todos os nomes, tem sua motivação inicial no romance de José Saramago, que discute a questão de antroponomias sociais e identidades. Seguiremos de perto o conceito de alteridade, do outro, do próximo, daquele que é cidadão de uma pólis em constante transição chamada Brasil. Espera-se que este trabalho seja um fomentador da percepção de que o outro não é o estranho, nem o inimigo, e sim, o indivíduo que anda paripassu comigo nesta existencialidade cósmica, o ser humano de carne, osso e nome, o cidadão brasileiro assim como sou, tal qual, tão como, nós, e não ele. Então, vamos juntos.

NOME SOCIAL: UMA ESTRADA BRASILEIRA EM CONSTRUÇÃO

A expressão trans é um termo “guarda-chuva” utilizado por pessoas que se declaram em situações de trânsito iden titário de gênero, indivíduos que vivenciam experiências entre gêneros, e estão entre o gênero de atribuição e o de identificação, esta é a base para a querela brasileira contemporânea. Segundo Maranhão Filho (2012), as pessoas trans têm atribuídas a elas, na gestação e/ou nascimento, não só um gênero (feminino/ masculino), como um sexo (mulher/homem). Nesse caso, a experi ência pode demonstrar uma passagem entre o sexo de atribui ção e o de autodefinição ou/e autodeclaração, e ser considerada uma vivência entre sexos. Há, entretanto, pessoas trans que se identifi cam com gênero diverso do conven-cionado, mas concordam com o sexo atribuído (na gestação e/ou nascimento). Todas essas classificações são produções e/ou produtos de autodeclarações identitárias. Estas, talvez não deem conta da multiplicidade e hibridismo identitário das experiências pessoais e caminhos humanos. As terminologias podem, assim, ser entendidas como recursos didáticos (pessoais e sociais) para entender determinadas vivências individuais e coletivas, mas insuficientes para contemplar a riqueza plural de características e caminhos individuais.

Neste caldeirão identitário (BENTO, 2008; VIEIRA, 2012), em todos os textos e memo-randos das referências utilizadas nesta pesquisa, o nome social é aquele pelo qual pessoas autoclas-sificadas trans preferem ser chamadas cotidianamente, refletindo sua expressão de gênero, em contraposição ao seu nome de registro civil, dado em consonância com o gênero ou/e o sexo atribuído durante a gestação e/ou nascimento. O uso do nome social tem sido legitimado por entidades como os Conselhos Regionais de Medicina e o Ministério da Educação, dentre outros órgãos normativos, especialmente os ligados à saúde e educação. A estrada quanto aos usos do nome social no Brasil, e em Goiás, ainda está em construção, mas com sinalizações já bem destacadas para a condução dos estradeiros para uma percepção da inclusividade e do exercício da cidadania. Passemos então, para uma breve análise sobre a situação do nome social nas Instituições de Ensino em Goiás.

(3)

RESOLUÇÕES SOBRE O(S) USO(S) DE NOME SOCIAL NAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ENSINO EM GOIÁS

Escolas Estaduais de Goiás

Em 03 de abril de 2009, a Resolução CEE/CP nº 5, fl. 19, do Conselho Estadual de Educação (CEE) de Goiás, dispôs sobre “a inclusão do nome social de travestis e transexuais nos registros”, destacando o objetivo de “garantir o acesso, a permanência e o êxito desses ci-dadãos no processo de escolarização e de aprendizagem nos documentos escolares internos”, tendo o aluno travesti ou transe xual que “manifestar, por escrito, seu interesse da inclusão do nome social no ato de sua matrícula ou ao longo do ano letivo” (GOI ÁS, 2009a). Além disso, há o Parecer nº 04/2009, de 03 de abril de 2009, fls. 20 a 22, determinando que “as escolas do siste-ma educativo de Goiás, em respeito à diversida de, à dignidade husiste-mana e à inclusão social, incluam o nome social de travestis e transexuais”, a partir da “manifestação por escrito do interessado, que deverá acompanhar seu dossiê escolar, ficando ex cluídos o diploma e o histórico escolar” (GOIÁS, 2009b). As escolas do Estado de Goiás serão obrigadas a utilizar em documentos de uso externo (di-ários de classe, carteira de identificação estudantil, entre outros) o nome social de travestis e transexuais, ou seja, o nome pelo qual preferem ser identificados e que condizem com sua identidade de gênero. É o que diz a resolução do Conselho Estadual de Educação de Goiás, para o estabelecimento do uso do nome social nos documentos escolares. O nome civil deverá ser mantido somente nos registros internos oficiais, como diplomas e históricos escolares, em que será acompanhado ainda pelo nome social. A resolução garante ainda que o estudante tenha o direito de ser sempre chamado pelo nome social, sem menção ao nome civil.

Instituto Federal de Goiás

Em 31 de março de 2015, foi emitido para todos os departamentos do Instituto Federal de Goiás o Memorando Circular n. 066 PROEN/IFG/2015 (IFGOIÁS 2015), que estabelece os procedimentos internos quanto ao uso do nome social aos estudantes, servido-res e aos usuários do Instituto. Neste, considera-se o nome social o modo como a pessoa é reconhecida, identificada e denominada na sua comunidade e no meio social, uma vez que o registro civil não reflete sua identidade de gênero, assim, o objetivo deste proceder é evitar que o indivíduo não seja tratado de forma constrangedora. A Circular baseia-se na Lei n. 9.394/1996, na Portaria n. 223, de 18 de maio de 2010 aos servidores públicos, e mais recen-temente, em 16 de janeiro de 2015, na Resolução n. 12 da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal. O Memorando Circular orienta que está em processo de alteração o Sistema Acadêmico para realizar a inclusão dos nomes sociais nas matrículas, no entanto, desde já, todos os professores deverão garantir o direito e chamar os alunos pelo nome social na “chamada”, até que a alteração seja feita oficialmente.

Universidade Federal de Goiás

O Conselho Universitário da Universidade Federal de Goiás, na resolução n. 14/2014, reunido em sessão plenária realizada no dia 23 de maio de 2014 (UFG 2014), no uso das atribuições que lhe confere o arts. 21, II, e 27, do Estatuto da UFG, tendo em vista

(4)

o que consta dos processos nº 23070.005275/2009-58 e nº 23070. 006152/2014-00, de-cidiu assegurar a servidores, estudantes e usuários da UFG, cujo nome de registro civil não reflita a sua identidade de gênero, a possibilidade de uso e de inclusão do seu nome social nos registros oficiais e acadêmicos. Pois bem, a resolução garante aos estudantes transexuais e travestis o direito de sempre serem chamados oralmente pelo nome social, sem menção ao nome civil, inclusive na frequência de classe e em solenidades como colação de grau, de-fesa de monografia, dissertação ou tese, entrega de certificados e eventos congêneres, entre outras situações da vida acadêmica. Os documentos com efeitos externos, como histórico escolar e certificados, no entanto, serão emitidos com o nome do registro civil, já que a resolução é interna à UFG.

Universidade do Estado de Goiás

A UEG ainda não tem nenhuma resolução aprovada e publicada, apenas uma no-tícia do jornal interno chamado de Perfil UEG, com uma reportagem intitulada “Pelo direito de ser quem se é”, publicada em outubro de 2014. O texto apresenta dois casos específicos do câmpus Formosa onde duas mulheres trans, apenas nomeadas como Eduarda e Lorena, cursam a Licenciatura em História (MATOS, 2014). Não obstante a inserção no espaço universitário das alunas, a Pró-reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis pensa em uma formulação de ferramentas que garantam a efetiva cidadania e inclusão da população LGBTT na UEG.

Demais Escolas e Universidades

Como a estrada para regulamentações e resoluções para o uso do nome social ainda é recente, Prefeitura de Goiânia, PUC Goiás e demais Universidades Particulares ainda não se posicionaram, e talvez, por diversas razões e paixões, nem o façam.

A TEORIA POLÍTICO-MORAL-ALTERITÁRIA EM JÜRGEN HABERMAS

Jürgen Habermas, sociólogo alemão, é um dos mais destacados pensadores da se-gunda geração de filósofos da Frankfurter Schule (Escola de Frankfurt), e a última grande figura da tradição filosófica que se inspira em Karl Marx e Georg Wilhelm Friedrich Hegel para realizar uma interpretação sócio-histórica do mundo moderno (FREITAS, 2016, p. 3). A obra A Inclusão do Outro: Estudos de Teoria Política, de 1996, “Die Einbeziehung des Andersen – Studien zur politischen Theorie” foi traduzida para o português por George Sper-ber e Paulo Astor Soethe (HABERMAS, 2002), trabalha a questão da inclusão das minorias, a partir da sensibilidade para com as diferenças, num contexto das sociedades democráticas. Tal necessidade se dá por entender que nessas sociedades há uma cultura majoritária que, ao exercer o poder político, impregna nas minorias sua forma de vida, ocasionando violação a uma efetiva igualdade de direitos para os cidadãos de origem cultural diversa, no que se refere ao auto-atendimento ético e a identidade dos cidadãos. Neste caso, partindo da epistemolo-gia Política para a construção de democracias na modernidade, mas também da temática da alteridade, Habermas será nosso aporte teórico principal para ler os quadros sobre as inclusi-vidades de nosso tempo.

(5)

No Brasil contemporâneo, em tempos tão desafiadores para a garantia dos princí-pios fundamentais dos cidadãos, discute-se, com razão e sem razão, com paixão e sem ne-nhuma misericórdia, temáticas tais como: direitos homo em face aos dos hetero, homofobias, parada gay, ideologias de gênero, nome social, violência física, moral e simbólica, entre tantas outras. Nesta convulsão de ideologias e debates acalorados, entre certos e errados, frases e manifestações morais têm, quando podem ser fundamentadas, um teor cognitivo divulgado para a população (HABERMAS, 2002, p. 11-2). Para termos clareza quanto ao possível teor cognitivo da moral, temos de verificar o que significa fundamentar moralmente alguma coisa. De um lado, fixam-se os teóricos moral, de outro, os arautos da práxis moral, em ambos, as frases têm o sentido de exigir do outro determinado comportamento, reclamando sua devi-da obrigação. Assim, as manifestações morais trazem consigo um potencial de motivos que podem ser atualizados a cada disputa moral. Uma moral não diz apenas como os membros da comunidade devem se comportar, ela simultaneamente coloca motivos para dirimir con-sensualmente os respectivos conflitos de ação. Dito de outra forma, a moral que carece de um teor cognitivo crível, torna-se superior às formas mais dispendiosas de coordenação da ação. Assim, o conceito central do dever já não se refere apenas ao teor dos mandamentos morais, mas também ao caráter peculiar da validação do dever ser, que se reflete também no sentimento de assumir uma obrigação. Logo, posicionamentos críticos e autocríticos diante de chamadas infrações manifestam-se em atitudes dos sentimentos: do ponto de vista de terceiros, como repulsa, indignação e desprezo, do ponto de vista do atingido diante do seu próximo, como sentimento de humilhação ou de ressentimento, do ponto de vista da primei-ra pessoa, como vergonha e culpa (HABERMAS, 2002, p.13).

Assim segue a lógica habermasiana, uma lei é válida no sentido moral quando pode ser aceita por todos, a partir da perspectiva de cada um, pois o respeito reciprocamente equâ-nime por cada um, exigido pelo universalismo sensível a diversificações, é do tipo de uma inclusão não niveladora e não apreensória do outro em sua alteridade (HABERMAS, 2002, p. 44, 55). O autor defende o conteúdo racional de uma moral baseada no mesmo respeito por todos e na responsabilidade solidária geral de cada um pelo outro. Neste caso, busca-se o não desaparecimento das estruturas relacionais de alteridade e da diferença respeitosa, para o estabelecimento dos conceitos de comunidade e sociedade. Um mesmo respeito para todos e cada um se estende à pessoa do outro e dos outros em sua alteridade. A responsabilidade soli-dária pelo outro como um dos nossos se refere ao “nós” flexível numa comunidade que resiste a tudo o que é substancial e que amplia constantemente suas fronteiras porosas.

A comunidade moral se constitui exclusivamente pela ideia negativa da abolição da discriminação e do sofrimento, assim como da inclusão dos marginalizados e de cada margi-nalizado em particular, em uma relação de deferência mútua. Essa comunidade projetada de modo construtivo não é um coletivo que obriga seus membros uniformizados à afirmação da índole própria de cada um. Inclusão não significa aqui confinamento dentro do próprio e fechamento diante do alheio. Antes, a inclusão do outro significa que as fronteiras da comuni-dade estão abertas a todos, também e justamente àqueles que são estranhos um ao outro, e que podem querer continuar serem estranhos. Ou, seguir de fato a trilha da caminhada conjunta como cidadãos de um mesmo solo humano, apesar das diferenças necessárias para a consolida-ção democrática brasileira. Neste caminho insere-se a teoria política habermasiana, seguindo a genealogia da moral para e mediante a construção da alteridade em nossa contemporaneidade politizada democraticamente, uma proposição de inclusão de todos os nomes cidadãos.

(6)

TODOS OS NOMES: A INCLUSÃO DO OUTRO E DE SI

Conheces o nome que te deram, não conheces o nome que tens. (José Saramago) O modelo de democracia para Habermas (2002) postula a inclusão de todos os cidadãos na base de igualdade de direitos, tendo a esfera pública com seus plexos de autono-mia públicos (cidadão e Estado) e privados (cidadão e sociedade), o espaço propício para o exercício da democracia e consequentemente exercício da autonomia política e por sua vez da cidadania. Por outro lado, a consciência de uma sociedade democrática desaparece quando não se acredita mais que a política seja o principal meio de que uma sociedade disponha para influir sobre si mesma através da vontade de seus cidadãos, que utilizam o discurso prático para se entenderem.

A percepção da diversidade antroponímica e social aponta para o outro e para si mesmo. A inclusividade para o Brasil contemporâneo tem perspectivas bem desafiadoras. Em primeiro lugar, deve-se manter o caminho do diálogo aberto. Julgo que a melhor saída consiste em não agudizar, por meio de uma crítica racional, a questão sobre a possibilidade de os poderes seculares de uma razão comunicativa conseguirem ou não estabilizar uma moder-nidade ambivalente: o melhor a fazer é enfrentar tal questão de modo não dramático, como uma questão empírica aberta (HABERMAS, 2007, p. 123). Em segundo lugar, nossa ordem social vigente visa o desenvolvimento da educação como o melhor meio de se evitar a mar-ginalização de qualquer indivíduo, mas também a importância de iniciativas para a quebra de muros da intolerância e do egoísmo social, assim como da imposição arbitrária que não procure o diálogo e a construção de ideias. Conforme Foucault (2001, p. 8), o que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve−se considerá−lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir. Em terceiro lugar, perceber que na consciência pública de uma sociedade pós-secular reflete-se, acima de tudo, uma compreensão normativa perspicaz que gera no trato político entre cidadãos crentes e não crentes. Na sociedade pós-secular impõe-se a ideia de que a modernização da consciência pública abrange, em diferentes fases, tanto mentalidades religiosas como profa-nas, transformando-as reflexivamente. Neste caso, ambos os lados podem, quando entendem, em comum, a secularização da sociedade como um processo de aprendizagem complementar, levar a sério, por razões cognitivas, as suas contribuições para temas controversos na esfera pública (HABERMAS, 2007, p. 126). Em quarto lugar, o contrato social para a cidadania é a metáfora fundadora da racionalidade social e política da modernidade ocidental. As socieda-des modernas têm seu funcionamento ideológico e político na ideia do contrato social e seus meios reguladores. Este, produz ou deveria produzir bens públicos, ou seja: legitimidade para governar, bem estar econômico e social, segurança e identidade coletiva, no final resultar em bem comum (FEFFERMANN, 2006, p. 243).

Todos os nomes é o direito do outro ser outro segundo o exercício de sua cidadania, assim, democraticamente, o outro não deve ser o inimigo. O livro “A inclusão do outro” tem um texto bem interessante, no capítulo cinco, intitulado como “Inserção – inclusão ou con-finamento? Da relação entre Nação, Estado de Direito e Democracia”, Habermas (2002, p.

(7)

164) propõe uma inclusão com sensibilidade para as diferenças, sem mascarar o problema das minorias inatas, problema que surge quando uma cultura majoritária, no exercício do poder político, impinge às minorias a sua forma de vida, negando assim aos cidadãos de origem cultural diversa uma efetiva igualdade de direitos. Isso tange questões políticas, que tocam o auto-entendimento ético e a identidade dos cidadãos. Estes, não são indivíduos abstratos, amputados de cidadania e civilidade, na medida em que o direito intervém em questões ético-políticas, ele toca a integridade das formas de vida dentro das quais está enfronhada a configuração pessoal de cada vida. Uma nação de cidadãos é composta de pessoas que, devido a seus processos sociais, encarnam simultaneamente as formas de vida dentro das quais se de-senvolveu sua identidade, e que isso ocorre mesmo quando, como adultos, eles se libertarem das tradições da sua origem (2002, p. 165). Destarte, mesmo que não se tenha novos argu-mentos, e sempre os há, pode existir novas maiorias, novas cidadanias a serem reconhecidas. CONSIDERAÇÕES NADA FINAIS

A discriminação pode ser abolida por meio da inclusão que tenha sensibilidade para a origem cultural das diferenças individuais e culturais específicas nas democracias contem-porâneas. Assim,

A coexistência com igualdade de direitos de diferentes comunidades étnicas, grupos linguísticos, confissões religiosas e formas de vida, não pode ser obtida ao preço da fragmentação da sociedade. O processo doloroso do desaclopamento não deve dilacerar a sociedade numa miríade de subcultu-ras que se enclausuram mutuamente. Por um lado, a cultura majoritária deve se soltar de sua fusão com a cultura política geral, uniformemente compartida por todos os cidadãos, caso contrário, ela ditará a priori os parâmetros dos discursos de auto-entendimento. Como parte, não mais poderá constituir-se em fachada do todo, se não quiser prejudicar o processo democrático em determinadas questões existenciais, relevantes para as minorias. Por outro lado, as forças de coesão da cultura polí-tica comum, a qual se orna tanto mais abstrata quanto mais forem as subculturas para as quais ela é o denominador comum, devem continuar a ser suficientemente fortes para que a nação dos cidadãos não se despedace (HABERMAS, 2002, p. 166-7).

Para tal empreitada, às vezes onírica, às vezes real, o reconhecimento público pleno deve contar com duas formas de respeito, em primeiro lugar, pela diferença inconfundível de cada indivíduo, independente de sexo, raça ou procedência étnica, em segundo lugar, o respeito pelas formas de ação, práticas e visões peculiares de mundo que gozam de prestígio junto as integrantes de grupos desprivilegiados. Este pode ser o caminho brasileiro para a não fragmentação de nossa sociedade na contemporaneidade. Este também é o cerne da reflexão sobre a alteridade, a aceitação da diferença do outro. A minha reação ante à diferença mede minha qualidade de convivência, caminhar paripasso com o outro é o meu desafio. O contrá-rio, a negação da alteridade é a violência simbólica estabelecida, visto que, a mesmidade é a tentativa de converter o outro em o mesmo, ou o processo de mesmificação. Assim, conviver e preservar a diferença do outro é respeitá-lo, é instaurar o real processo civilizatório, o grande passo para a cidadania. A diferença é ontológica e faz parte das nomias sociais, e o respeito às desigualdades formarão o caminho para a gestão pacífica e comunitária dos conflitos sexistas. Assim, não precisaremos negar o outro, nem matá-lo, assim rejeitamos o autoritarismo cego, e no lugar deste, a alteridade necessária para a construção de uma cidadania. Assim, para além das querelas morais, religiosas, classistas, coorporativas, educacionais, civis e jurídicas

(8)

está o ser humano, o cidadão brasileiro, que independente de cor, raça, religião e sexo é um próximo que está ao meu lado, não como inimigo, nem como o estranho, mas como mais um caminhante nesta longa estrada da vida. A estrada é a mesma, os caminhos são diversos, e a caminhada se faz com respeito e solidariedade inclusiva, apesar das diferenças, apesar do caminhar que cada um tem.

ALL NAMES: THE USE OF THE CORPORATE NAME IN INSTITUTIONS OF PUBLIC EDUCATION OF THE STATE OF GOIÁS FROM POLITICAL THEORY AND MORAL – OTHERNESS OF JÜRGEN HABERMAS.

Abstract: this paper presents a critical review of memos, resolutions and recent publications of

legis-lation on the use of the corporate name in Brazil, specifically, in the public education institutions in the state of Goiás (State School, IFGoiás, UFG and UEG ). It is used as the theoretical concepts of moral, political otherness and inclusivity of the German philosopher Jürgen Habermas in the consolidation of rights in contemporary democracies with the aim of establishing full citizenship exercise of Lesbian, Gay, Bisexual , and Transgender [LGBTT].

Keywords: Social Name. Jürgen Habermas. Alterity LGBTT. Citizenship. Referências

BENTO, Berenice. Identidade legal de gênero: reconhecimento ou au torização? In: COS-TA, Horácio et al. Retratos do Brasil homossexual: fronteiras, subjetividades e desejos. São Paulo: EDUSP/Imprensa Oficial, 2008, p. 150-170.

COURA, Alexandre de Castro. FREITAS, Carolina Nunes de. A Teoria Habermasiana de

Inclusão do outro e a internação compulsória. Disponível em http://www.publicadireito.com.

br/artigos/?cod=7a71bed212ae4dc6 / Acesso em 03 de março de 2016. FEFFERMANN, Marisa. Vidas Arriscadas. Petrópolis: Vozes, 2006.

FOUCAULT, Michel. A Microfísica do poder. Tradução de Roberto Machado. Rio de Janei-ro: Graal, 2001.

GOIÁS. Conselho Estadual de Educação. Resolução CEE/CP nº 5, de 03 de abril de 2009. Goiânia, 3 abr. 2009a.

______. Parecer nº 4, de 03 de abril de 2009. Goiânia, 3 abr. 2009b.

HABERMAS, Jurgen. A Inclusão do Outro. Estudos de teoria política. Tradução de George Sperber e Paulo Astor Soethe. São Paulo: Loyola, 2002.

______. Era das transições. Tradução de Lucia Aragão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

______. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos. Tradução de Lucia Aragão. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 2007.

IFGOIÁS. Memorando Circular n. 066. PROEN/IFG/2015, em 31 de março de 2015. MARANHÃO FILHO, Eduardo Meinberg de Albuquerque. “Inclusão” de travestis e tran-sexuais através do nome social e mudança de prenome: diálogos iniciais com Karen Schwa-ch e outras fontes. Oralidades – Ano 6, n.11, jan, 2012.

(9)

MATOS, Fernando. Perfil: jornal UEG, Anápolis: s/e, 2014, Disponível em http://www. ueg.br/noticia/19679_perfil__jornal_ueg__pelo_direito_de_ser_quem_se_e . Acesso em 03 de março de 2016.

SARAMAGO, José. Todos os nomes. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

SIEBENEICHLER, Flávio Beno. Jürgen Habermas: razão comunicativa e emancipação. 3 ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.

UFG. Consumi n. 14/2014. Sessão plenária realizada no dia 23 de maio de 2014.

VIEIRA, Tereza Rodrigues. Adequação de nome e sexo e a vulnerabilidade do transexual. In: ___ (Org.). Minorias sexuais: direitos e preconcei tos. São Paulo: Consulex, 2012, p. 375-396.

Referências

Documentos relacionados

introduzido por seus orifícios e daí se descarrega no difusor secundário e depois no difusor principal, e a seguir para o coletor de admissão e cilindros... 8-C

Este trabalho relata o caso de uma Sucuri (Enectes Murinus), fêmea, encontrada quase morta, com machucados no abdômen e após exames foi constatado hemoparasitas do gênero hepatozoon,

Diante do exposto, pode ser observado que a estabilidade química de poliésteres em sistemas de liberação em sua forma micro e nanoestruturada foi investigada e que

No entanto, após 30 dias de armazenagem, o teor de fármaco nas suspensões decaiu para valores próximos a 50 % nas formulações que continham 3 mg/mL de diclofenaco e núcleo

9º, §1º da Lei nº 12.513/2011, as atividades dos servidores ativos nos cursos não poderão prejudicar a carga horária regular de atuação e o atendimento do plano de metas do

Temos que ter criatividade no trabalhar com produção e aproximar outras pessoas que nunca tiveram acesso ao gênero” (ROCHA,2020). Ele preconiza a necessidade de lutar pela

Maria do Rosário: seu valor de base é o seu sonho em se tornar cantora, mesmo já tendo obtido sucesso como chef de cuisine de um bufê de eventos com seu pai

zia uso de régua e compasso para construir régua e compasso para construir inúmeras figuras geométricas, dentre elas inúmeras figuras geométricas, dentre elas os ângulos. Faça