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MESTRADO EM GERONTOLOGIA SOCIAL SÃO PAULO 2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO

PAULO

PUC-SP

Karen Grujicic Marcelja

A Beleza como Passaporte

Intergeracional

MESTRADO EM GERONTOLOGIA SOCIAL

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Karen Grujicic Marcelja

A Beleza como Passaporte Intergeracional

MESTRADO EM GERONTOLOGIA SOCIAL

Dissertação apresentada à banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Gerontologia Social sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Valsecchi de Almeida.

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Banca Examinadora

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A Deus;

A meu pai, Wilim;

Aos meus irmãos, Denis e Ivan;

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AGRADECIMENTOS

Escrever uma dissertação é um trabalho extremamente pessoal, feito silenciosa e solitariamente. Porém, cada palavra aqui escrita tem, às vezes mais e às vezes menos, a influência de pessoas queridas. Algumas contribuíram com conhecimentos relativos ao meu tema de estudo; outras, com conselhos sobre projeto de vida. Outras, ainda, ajudaram pelo simples fato de indicar um livro ou convidar para espairecer um pouco com um filme ou um bate-papo. A todas, muito obrigada. Este trabalho também é de vocês.

Agradeço especialmente à Prof.ª Dr.ª Vera Lucia Valsecchi de Almeida, que me orientou e me acolheu também na pós-graduação, sempre com muito carinho. Ao longo do curso, as minhas muitas dúvidas e questionamentos foram sempre ouvidos, o que me deu muita segurança para trilhar estudos em uma área ainda tão nova e com fontes igualmente novas, como a Internet. As palavras de apoio foram ainda mais especiais por minha vontade de seguir carreira acadêmica. Espero de coração que sejamos colegas e que tenhamos mais parcerias no futuro.

À Prof.ª Dr.ª Maria Helena Villas-Bôas Concone, que apoiou minhas ideias desde o primeiro dia de aula e me ajudou a ver que meu tema estava no dia a dia, e não só nos livros e artigos acadêmicos. Esse olhar antropológico em relação à mídia foi importante para a construção deste trabalho e, tenho certeza, para tudo o que farei daqui em diante. Obrigada também por sempre estar disponível e ser, mais do que professora, uma grande amiga.

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um privilégio ter convivido com alguém tão sensível e dedicada ao ser humano.

Às demais professoras do curso de Gerontologia, por todo o conhecimento transmitido e por terem desenvolvido em mim um olhar mais sensível às questões subjetivas que envolvem o envelhecimento.

À grande amiga e “irmã mais velha” Marcia Degani. Começamos com um café depois da aula e hoje estamos sempre juntas, em bons e maus momentos, com conselhos, dicas ou simplesmente companhia. Serei eternamente grata pela sua amizade em uma das fases mais ricas e transformadoras da minha vida e também pelas opiniões sobre este trabalho, que fizeram de você praticamente minha “co-orientadora”.

À primeira e querida amiga do curso de mestrado, a fisioterapeuta Ana Elisa Sena Klein da Rosa, pela companhia e parceria em ideias e trabalhos e por me mostrar o que é o amor à profissão e ao cuidado com os idosos.

Aos meus colegas, com toda a admiração pelo trabalho dedicado que desenvolvem com idosos, independentemente de sua área profissional: Isabella Alvim, Simone Spadafora, Mariana Yoshida, Marta Souto, Vilma Machado de Sousa, Éverton Reis, Cristina Cristovo Ribeiro, Ana Teresa Ramos, Bianca Segantini e Fabiana Fonseca. Obrigada a todos pela amizade e companhia ao longo do curso. Foram meses que guardarei na memória com muito carinho e saudade.

Aos queridos amigos Simone Braga Negrão, Wallace Baldo e Regina Valente pelo apoio em um projeto que exigiu coragem pelas dúvidas ao longo do caminho. Mesmo de longe, vocês foram fundamentais para esta conquista.

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Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do

próprio corpo.

A mulher madura está pronta para algo definitivo.

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RESUMO

Este trabalho aborda a forma como o processo de envelhecimento feminino é vivido, compreendido e imaginado na cultura contemporânea.

A estratégia metodológica utilizada foi a Análise do Discurso, sendo o universo matérias de revistas e sites femininos publicados entre janeiro de 2009 e dezembro de 2011.

A presença de mulheres com mais de 40 anos ainda é novidade nas revistas e veículos destinados ao público feminino. O levantamento e a análise dos dados indicam que a presença delas vem aumentando, porém ainda condicionada à jovialidade – a mulher pode até ser mais velha, desde que não aparente a idade que tem. Da mesma forma, o comportamento e a moda aparecem cada vez mais identificados com as gerações mais jovens, o que ajuda a disfarçar ou mesmo “congelar” o envelhecimento. Nos meios de comunicação, a ideia predominantemente difundida é a de que a velhice está ligada não à idade, mas ao estilo de vida.

Quem hoje se encontra na meia-idade tem diante de si a oportunidade de revolucionar a forma como vive o envelhecimento. Quem se dedica a manter a jovialidade tem uma oportunidade ainda mais rara: a de não envelhecer, ao menos socialmente. A aparência e o estilo joviais seriam, portanto, passaportes intergeracionais, permitindo ao indivíduo transitar em diferentes faixas etárias sem o risco de isolamento ou falta de diálogo com outros grupos etários. Com tantos recursos disponíveis para combater o envelhecimento, manter ou aparentar juventude passa a ser hábito de consumo e indicador de status social – algo, portanto, digno de admiração.

Palavras-chave: Envelhecimento; imprensa feminina; mídia; corpo;

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ABSTRACT

This research talks about how aging process in women is experienced, understood and imagined in contemporary culture.

The research takes the universe of women magazines and sites content published between January 2009 and December 2011, using the speech analysis as methodological approach.

Until few years ago, women over 40 years old didn’t have much expression in feminine press. The data interpretation indicates that their presence has increased lately; still, it is often conditioned to a young appearance. Magazines may show women in their middle age, as long as they don’t seem to be that old. In the same way, behaviour and fashion are more identified with younger generations, which helps to disguise or even “stop" aging process. In mass media, the most diffused notion is that aging is related not to age itself, but to one’s lifestyle.

Nowadays, people who are in middle age have the opportunity to revolution the way aging process is lived. Those who struggle to keep young have an even more unique opportunity: avoid getting old, at least socially. To have a young look and style would be, then, a sort of an “intergenerational passport”, which would allow an interchange with different ages without the risk of isolation or segregation.

Due to the amount of products and treatments available against aging, keeping or appearing to be young became a new habit of consumption, as well as an indicator of social position – something, therefore, admirable.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 03

CAPÍTULO I: ENVELHECIMENTO E CULTURA PÓS-MODERNA ... 09

1. Envelhecimento e Cultura Narcisista ... 16

CAPÍTULO II: A PESQUISA ... 20

CAPÍTULO III: A MEIA-IDADE ... 27

1. Baby-Boomers ou Envelhescentes ... 30

2. Papeis Tradicionais em Nova Roupagem ... 36

CAPÍTULO IV: COMUNICAÇÃO DE MASSA E GRUPOS ETÁRIOS .... 44

CAPÍTULO V: CORPO BONITO E CORPO REAL ... 53

1. Inovação Limitada: a Revista Barbara ... 69

2. Corpo/Moda e Corpo/Prestígio ... 73

CAPÍTULO VI: CORPOS: CULTURA, SAÚDE E DISCIPLINA ... 79

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2. Moda: mais do que aparência, atitude ... 90

3. A Beleza e a Sedução ... 97

CAPÍTULO VII: DA “MÃE GOSTOSA” À“COROA ENXUTA” ... 107

1. A Beleza como Passaporte Intergeracional ... 115

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 121

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INTRODUÇÃO

Sempre foi comum afirmar que as pessoas acima de 60 anos eram deixadas de lado em praticamente todas as esferas da vida. Na prática, isso pode acontecer bem antes dos 60 e de formas muito distintas para homens e mulheres. Para eles, o que marca mais é a aposentadoria, o fim da atividade que os define como profissionais e sujeitos. Para elas, no entanto, o processo de exclusão pode começar ainda na faixa dos 40 ou até mesmo dos 30 anos, dependendo da condição econômica, do estado civil, do emprego, dos filhos (caso os tenham), da beleza e da forma física. Nesse processo de exclusão, os meios de comunicação têm papel fundamental –

pró ou contra. A imprensa feminina tem responsabilidade ainda maior. Até pouco tempo atrás, as mesmas revistas que passaram décadas estimulando a independência das mulheres, sua ida ao mercado de trabalho, a divisão de tarefas domésticas com o marido e tantas outras causas, quando não abandonavam as leitoras que envelheciam, simplesmente não sabiam se comunicar com elas. Rugas não ficavam bem na foto, logo não apareciam nos editoriais de moda e beleza e muito menos nas capas. Preocupação em vestir-se bem? Para quê, se isto era coisa de moça que procura namorado? Orientação sobre cuidados com filhos, dicas de namoro, penteados para arrasar em festa? Temas como estes pareciam sair da vida das mulheres quando elas se aproximavam dos 40 anos.

Porém, a realidade vem se transformando. Na mesma medida em que o casamento e a maternidade estão ficando cada vez mais tardios, o

comportamento feminino vem, de certa forma, se “rejuvenescendo”. É

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A geração que hoje se encontra na envelhescência1 foi sempre exposta

à mídia e tida como público-alvo para os mais diversos tipos de produtos. Com o tempo, ela amadureceu, criou seus próprios ícones e toda uma cultura de consumo. O discurso que ouviram a vida toda glorificava a juventude e os valores que a acompanham, como liberdade, autenticidade, individualismo e imediatismo. Para os jovens de décadas atrás, envelhecer era render-se a um conjunto de comportamentos e convenções que criticavam. Hoje, quando muitos já passaram dos 50 ou mesmo dos 60 anos, parece natural que rejeitem estereótipos e aspectos negativos relacionados à velhice, inventando a sua própria maturidade. A ausência de referências concretas para essa fase da vida (seus pais e avós, além de terem expectativa de vida menor, não tiveram tanto acesso à informação nem foram tão beneficiados pelos avanços da saúde e da tecnologia) pode trazer conflitos e angústias, mas também permite que sejam o que quiserem – inclusive “eternamente jovens”.

No entanto, nossa cultura ainda não aceita com naturalidade a ideia de que a vida possa continuar ativa depois de “certa idade”. É como se depois dos 40 ou 50 anos a mulher tivesse de mudar suas preferências, pois não encontra mais roupas com o mesmo estilo das que costumava usar ou opções de lazer que contemplem seus gostos. Ao mesmo tempo, algo contraditório ocorre na mídia. A mulher de meia idade é retratada como alguém cuja idade é apenas denunciada pela data de nascimento, o que sempre é uma surpresa devido a sua aparência de anos mais nova (“Oh, você realmente tem tudo isso? Não aparenta!”). O comportamento, as roupas, a atividade profissional e os relacionamentos amorosos da mulher que consegue espaço na mídia são geralmente bem-sucedidos e idênticos

aos das mulheres mais jovens. Há, portanto, uma “pasteurização da idade”

nos meios de comunicação, o que no mais das vezes significa descompasso

1A expressão “envelhescência” é de autoria de Mario Prata. Este autor a usou na crônica “Você é um

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em relação ao papel que ainda é reservado à mulher mais velha na sociedade.

Não são novidade os debates que acusam a mídia de preferir sempre o belo, o jovem, o magro e o branco. Pouco a pouco, grupos tidos como excluídos, como negros ou obesos, vêm se mobilizando e conseguindo alguma visibilidade, em boa parte graças a sites, blogs e redes sociais da Internet. Porém, continuam sendo deixados de lado pela chamada grande mídia. Com as mulheres de meia idade, acontece, atualmente, o oposto: sem reivindicar ou se mobilizar significativamente, elas ocupam espaço cada vez mais abrangente nos meios de comunicação. Títulos mais tradicionais, como CLAUDIA, por exemplo, já incluem o público de mais de 50 anos em

suas principais matérias, como em “A chave do sexo feliz aos 20, 30, 40, 50+” (edição de março de 2011). Por enquanto, a condição para que essa mulher seja notada é a beleza. Um corpo bonito, em condições de competir

com os das mulheres mais novas, é como um “passaporte intergeracional”,

ou seja, permite que ela “se passe” por mais jovem e interaja melhor com pessoas de outras idades, especialmente as mais novas. Comportamentos e hábitos joviais, como usar roupas curtas e decotadas ou frequentar

badalações noturnas, são até justificados pelo fato de a pessoa “não parecer

assim tão velha”.

Hoje, exemplos como os da ex-modelo Luiza Brunet posando nua para revista masculina aos 47 anos de idade ou da atriz Susana Vieira namorando um rapaz 41 mais jovem ainda chamam a atenção, mas estão longe de chocar, como acontecia outrora. Algumas vezes os comentários

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apenas a mãe da mocinha ou a sogra megera, como era tradição nos folhetins, mas as protagonistas.

Christiane Torloni, Malu Mader, Jennifer Aniston, Maitê Proença, Luma de Oliveira e muitas outras mulheres conhecidas com mais de 40 anos prestam o importante papel de reformular antigos conceitos ligados à idade, mostrando que é possível unir experiência e beleza e, assim, transformar a maturidade em uma fase plena na qual olhar pra si pode ser tão ou mais prazeroso quanto antes. Ao mostrar mulheres maduras sedutoras, atuantes na família e profissionalmente, além de muito bem-sucedidas em diversos aspectos da vida, inclusive no relacionamento com homens mais jovens, a mídia dá um passo importante nesse sentido. Exemplos como os dessas mulheres famosas muitas vezes recebem críticas, mas é graças a eles que o marketing, o cinema, as revistas femininas e outros meios de comunicação começam a entender que a sociedade está se transformando. É desses segmentos culturais que depende muito da maneira como os idosos do futuro vão viver seus papeis sociais e – ainda mais importante – a maneira como a juventude de hoje tratará o envelhecimento.

Esta dissertação foi estruturada em sete capítulos, divididos a fim de apresentar um panorama sobre a meia-idade e, em seguida, aprofundar a discussão a respeito de comportamentos e padrões de beleza relacionados ao perfil de maturidade contemporâneo.

No capítulo I, “Envelhecimento e Cultura Pós-Moderna”, é traçado um

quadro a respeito do que é a velhice em tempos que priorizam o instantâneo, o descartável e o belo e desprezam a experiência e o saber acumulados ao longo dos anos.

“A Pesquisa”, título do capítulo II, trata da forma como foi estruturado o

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ser assunto novo em veículos que sempre priorizaram a beleza e a juventude, a maturidade não é ainda objeto de discurso padrão – ora é enaltecida, ora combatida. A falta de intimidade com o tema ainda causa certa confusão, porém indica uma grande possibilidade de abordagens que provavelmente se ajustarão no decorrer do tempo conforme o interesse dos patrocinadores dos veículos e das próprias leitoras.

Em “A Meia Idade”, tema do capítulo III, é traçado um perfil da geração

que hoje se encontra na faixa etária dos 45 aos 59 anos. A importância dela para a sociedade e a economia, a influência que recebeu dos meios de comunicação e a forma como redefiniu as fases da vida à medida que passou por elas são algumas das questões apresentadas.

O capítulo IV, “Comunicação de Massa e Grupos Etários”, mostra como, aos poucos, a publicidade e a mídia em geral vêm se dirigindo a um público que até pouco tempo atrás era deixado de lado, tido como conservador e pouco afeito a novos hábitos de consumo. Hoje, ao contrário, a meia-idade é a faixa etária que mais recebe atenção de diversos setores da economia, devido à concentração de renda e à disposição de tempo livre. O capítulo fala, ainda, da mudança no tom dos discursos publicitários e os esforços dos meios de comunicação para conquistar essa faixa do mercado sem esbarrar em clichês ou fórmulas desgastadas.

“Corpo Bonito e Corpo Real” é o título do capítulo V, que fala sobre

como a mídia pode influenciar a forma como a mulher percebe o processo de envelhecimento no seu corpo. Nem sempre essa influência é sinônimo de

“ditadura”, como demonstra o exemplo da revista Barbara, a primeira no Brasil dirigida à mulher envelhescente.

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O sétimo e último capítulo, “Da Mãe Gostosa à Coroa Enxuta”, aborda um terreno novo para a mulher envelhescente: a sexualidade. Tema sempre deixado de lado com o envelhecimento, o sexo agora não se restringe à cama ou ao parceiro: está nas roupas, nas atitudes, na maquiagem, nos acessórios e, especialmente, no comportamento dessa mulher, que, mesmo não satisfeita com os efeitos do tempo sobre seu corpo, ainda se sente atraente e exuberante. Para ela, o autoconhecimento e a libertação de amarras de toda a vida são presentes da maturidade. É a fase de esquecer as convenções e pensar mais em si e no próprio prazer.

As “Considerações Finais” não chegam a constituir capítulo, uma vez

que fazem referência a tudo o que foi apresentado ao longo da pesquisa. Aqui, elas entram como forma sucinta de estímulo à reflexão sobre a condição da mulher envelhescente.

Como descrito acima, este trabalho se utiliza de pesquisa bibliográfica, realizada principalmente em livros e pesquisas acadêmicas e também em artigos de revistas, Internet e filmes.

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CAPÍTULO I

ENVELHECIMENTO E CULTURA PÓS-MODERNA

Embora o envelhecimento populacional ainda não seja considerado pauta urgente em nossa sociedade, seus efeitos já são percebidos. Apenas nos Estados Unidos, uma pessoa completa 50 anos a cada 7,5 segundos (Schirrmacher, 2005: 9). No Brasil, o ritmo também é acelerado. O número de pessoas com mais de 50 anos, que em 2002 estava em torno de 13 milhões, em 2010 era de aproximadamente 38,4 milhões, entre os quais 20 milhões na faixa dos 50-59 anos2.

Esse fenômeno ocorre em um contexto de transformações profundas e velozes nos âmbitos social, político, econômico e tecnológico. É a chamada Pós-Modernidade, nova era da Sociedade Ocidental iniciada entre as décadas de 1960 e 1970 que abrangeu diversas áreas do conhecimento. Para ficarmos apenas nas artes, nas quais boa parte deste trabalho se insere, algumas das características associadas ao Pós-Modernismo são, de acordo com Featherstone,

A abolição da fronteira entre arte e vida cotidiana; a derrocada da distinção hierárquica entre alta-cultura e cultura de massa/popular; uma promiscuidade estilística, favorecendo o ecletismo e a mistura de códigos; paródia, pastiche, ironia, diversão e a celebração da “ausência de profundidade” da cultura; o declínio da originalidade / genialidade do produtor artístico e a suposição de que a arte pode ser somente repetição. (2007: 25)

Em sua obra, o autor aponta para diversos pesquisadores que apresentam suas concepções sobre o que seria Pós-Modernidade. Juntas,

2 Dados disponíveis em http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/webservice/, acessados em 19 de

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entretanto, não conseguem explicar o conceito sinalizando, apenas, sua amplidão. Featherstone afirma que, até agora, não há nenhum significado consensual para o termo “Pós-Moderno”.

De qualquer forma, podemos dizer que a época em que vivemos é marcada pelo instantâneo, pela perda de fronteiras e pela sensação de que estamos em um mundo cada vez menor3 devido ao avanço da

tecnologia. Mas um mundo igualmente caracterizado pela polarização social4; pela pluralidade cultural; pela globalização (econômica, política, social e cultural); pelo consumo5 e pela forte presença das mídias eletrônicas que “contribuíram decisivamente para tornar a imagem soberana, marcando a sociedade pelo fenômeno da „estetização da vida cotidiana‟” (Featherstone, 1995, apud Moreira e Nogueira, 2008:61).

Algumas das marcas expressivas da Pós-Modernidade são a rotatividade entre a inovação e a obsolescência e a revisão constante de conhecimentos e valores, o que se reflete nos relacionamentos, na forma de encarar a vida e dar sentido a ela e, especialmente, no corpo.

O superinvestimento no corpo – visto com força a partir da década de 1970 – é uma boa síntese das afirmações acima; contribuiu para que o foco do sujeito se deslocasse da intimidade psíquica para o próprio corpo. Nas palavras de Pelbart, “hoje, o eu é o corpo. A subjetividade foi reduzida ao corpo, a sua aparência, a sua imagem, a sua performance, a sua saúde, a sua longevidade” (2007:25). O predomínio da dimensão corporal na constituição identitária é, ao contrário do corpo docilizado das instituições disciplinares de cem anos atrás, voluntário; na atualidade, cada um se submete às transformações corporais que julga adequadas a partir de normas científicas, médicas ou até mesmo da cultura do espetáculo, seguindo o exemplo das celebridades.

3 Noção relacionada à compressão dos espaços.

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Não temos mais as prisões ou as instituições a que Michel Foucault se referia quando falava do poder disciplinador. Atualmente, a moda, o cinema, a televisão, a Internet e todo um arsenal midiático têm o mesmo poder de produzir uma conduta normatizada e padronizada nas quais os indivíduos são adestrados e submetidos a uma forma idêntica que padroniza suas faculdades produtivas. Na visão de Charles,

os mecanismos de controle [de um século atrás] não sumiram; eles só se adaptaram, tornando-se menos reguladores, abandonando a imposição em favor da comunicação. Já não usam decreto legislativo para proibir as pessoas de fumar; fazem-nas, isto sim, tomar consciência dos efeitos desastrosos da nicotina para a saúde e a expectativa de vida (2004: 20).

Charles afirma que, ante a desestruturação dos controles sociais, os indivíduos têm a opção de assumir responsabilidades ou não, de se autocontrolar ou se deixar levar. Um bom exemplo é a alimentação:

Uma vez que desaparecem nesse âmbito as obrigações sociais, e particularmente as religiosas (jejum, quaresma etc.), observam-se tanto comportamentos individuais responsáveis (monitoramento do peso, busca de informações sobre a saúde, ginástica) que às vezes beiram o patológico pelo excesso de controle (condutas anoréxicas) como atitudes completamente irresponsáveis que favorecem a bulimia e a desestruturação dos ritmos alimentares. Nossa sociedade da magreza e da dieta é também a do sobrepeso e da obesidade (2004: 21).

Afinal, o que fazer quando se é velho em uma sociedade que descarta o que não traz mais proveito?

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dinâmica, a sensação de vulnerabilidade pode fazer com que o curso natural da vida seja de difícil aceitação para muitas pessoas. Em alguns casos, como revelou pesquisa desenvolvida pelas autoras,

os sinais de amadurecimento são vivenciados com muita aflição, tornando as pessoas bastante vulneráveis ao medo de envelhecer. Constata-se também um intenso movimento no sentido de adiar ou tentar evitar esse processo por meio de iniciativas que objetivam a manutenção de uma aparência jovial (2008: 60).

Nessa conjuntura, beleza, juventude, boa forma e prestígio são alçados à condição de mercadorias. No século XX, em especial na segunda metade, toda sociedade se transformava de forma cada vez mais acelerada. De acordo com Morin, esta rapidez fez com que o essencial deixasse de ser a

experiência acumulada para ser a “adesão ao movimento”. Dessa forma, “a experiência dos velhos se torna lengalenga desusada, anacronismo” (2000: 147). Beauvoir avalia esse ponto de vista sobre a velhice como causa e reflexo do preconceito de que ela sempre foi vítima.

A sociedade tecnocrática de hoje não crê que, com o passar dos anos, o saber se acumula, mas sim que acabe perecendo. São os valores associados à juventude que são apreciados (2003: 257).

A chegada e o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa contribuíram para que a valorização da juventude se tornasse uma regra, tal como aconteceu com a emancipação feminina e o fim da família baseada na autoridade do pai-chefe (Marcelja, 2007). A partir do Pós-Guerra, estes temas estiveram presentes na literatura, na pintura, na música e, sobretudo, no cinema, com os diretores franceses da nouvelle vague. Morin cita, como marcos iniciais da cultura jovem, filmes de títulos bastante significativos –

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o que os fez heróis para sua geração. O autor lembra, ainda, que, no início do cinema, nos anos 1930, os atores eram sempre bem jovens: “Na década de 30, as estrelas quase não ultrapassavam os 25 anos, e os astros, os 28 anos. Passados este período, estavam votados à morte cinematográfica

(2000: 152). Anos depois, esses limites foram afrouxados, especialmente no caso dos homens, o que, no entanto, não fez com que a idade fosse evitada no cinema. A sétima arte foi, aliás, um dos maiores estimuladores para a

“indústria do rejuvenescimento”. Continua Morin:

Esta [a indústria do rejuvenescimento], nascida com a maquiagem hollywoodiana, deixou de ser apenas a arte de camuflar o envelhecimento; ela repara o ultraje dos anos: cirurgia plástica, massagens, substâncias à base de embriões ou de sucos regeneradores mantêm ou ressuscitam as aparências da juventude, ou chegam mesmo até a rejuvenescer, de fato, os tecidos (2000: 253).

A cultura de massa, de acordo com este autor, tem papel fundamental nesse processo:

Historicamente, ela acelera o vir-a-ser, ele mesmo acelerado, de uma civilização. Sociologicamente, ela contribui para o rejuvenescimento da sociedade. Antropologicamente, ela verifica a lei do retardamento contínuo do Bolk, prolongando a infância e a juventude junto ao adulto. Metafisicamente, ela é um protesto ilimitado contra o mal irremediável da velhice. (2000: 157)

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Village, redutos dos modernos da época, são até hoje pólos de tendências em música, artes e moda.

Paralelamente, os meios de comunicação foram se desenvolvendo e ganhando abrangência cada vez maior. As imagens passaram a ser mais valorizadas, ganhando espaço não só na mídia mas também em áreas como artes gráficas, publicidade, moda, arquitetura, design etc. Brasiliense lembra que

Ao surgirem novos meios de informação, há sempre uma reorganização nos meios já existentes, como forma de rever as teorias e práticas na quais eles sustentam-se. Isso ocorreu com o jornalismo que, à chegada da televisão juntamente com a imagem e o som eletrônico, deu uma sacudida nos conceitos existentes e, para competir com a informação televisiva, ofereceu mais espaço à fotografia e trabalhou a estética em suas páginas. A imagem é precedente da palavra e isso lhe confere, nas sociedades atuais que abusam da sua utilização, mais valor e autoridade (2007: 66).

Com o passar dos anos e o avanço das tecnologias, como aconteceu com as câmeras fotográficas6, passamos a ter imagens em abundância, em todo tipo de mídia. No jornalismo, segundo Brasiliense, a fotografia é tão importante que muitas vezes damos como “lida” notícia apenas através da foto e da legenda. Para Joly,

a imagem nos meios de comunicação influencia muito mais que a palavra, pois é mais fácil recordar da imagem do que das palavras e, principalmente, as imagens ditas „midiáticas‟, tais como as imagens na televisão, na internet e a fotografia usada nos jornais (apud Brasiliense, 2007: 68).

Em meio à abundância de imagens, só as mais chamativas, plásticas e bem situadas nas páginas dos jornais ou revistas tendem a chamar a

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atenção do leitor ou consumidor. A aparência ganhou mais destaque que o conteúdo. Nas palavras de Mara Sant’Anna, ela sempre aparece como

um modo de expressão infinitamente mais sensível e sutil, maleável porque permanentemente contraditório e para sempre inacabado. (...) A aparência não é ideologia no sentido que o materialismo histórico propõe, nem ilusão que o historiador deva descartar de suas investigações, mas dimensão da experiência social que mediatiza a apreensão das representações construídas. Ela é substância, que delimita, condiciona e significa a mensagem que porta e que, sem ela, não existiria (2009: 18).

A autora sustenta que a imagem e a aparência influenciam a identidade e a individualidade do sujeito.

(...) a lógica de identidade é superada por uma lógica de identificação, ou seja, o sujeito deixa de ser analisado como uma individualidade autônoma, que por si mesmo constrói uma identidade e passa a ser visto como individualidade heteronômica construída na relação com o outro, na visão que os outros fazem dele e no desejo que o move nesta identificação de si próprio (2009: 19).

Na visão de Sant’Anna, dessa forma, a contemporaneidade cultiva um

narcisismo coletivo, que se espraia no social. Como narcisismo, a tônica da relação entre os sujeitos é a dimensão estética, o que promove uma paixão partilhada pela forma. Num contexto de busca de aceitação coletiva, a aparência tem o papel de conectar os sujeitos de modo inconsciente, “sendo a própria ética da estética, isto é, o que permite que a partir de algo que é exterior a mim possa se operar um reconhecimento de mim mesmo” (2009: 19).

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espaço de teatralização do texto que ele expõe aos seus pares. “Nessa exposição-enunciação não apenas diz como deseja ser visto, como também constrói em si uma autoimagem que o significa para ele” (2009: 20).

Não é exagero dizer que a vida, na contemporaneidade, está organizada em torno de imagens a serem partilhadas. Nos dias de hoje, devido a uma grande diversidade de elementos, a aparência é tema central de muitas reflexões das ciências humanas.

1. Envelhecimento e Cultura Narcisista

Qual a idade que simboliza o marco do envelhecimento? Schirrmacher aponta os 30 anos como o “começo do fim”. Segundo o autor, depois desta idade já conhecemos tragédias pessoais, começando pela sociedade, pela aparência, pelo mercado de trabalho, pelas doenças, perdas de desempenho físico trazidas por elas e, especialmente, pelo simples fato de que morreremos um dia (2005: 05). De acordo com este autor, a grande valorização da juventude que presenciamos nesta Pós-Modernidade rouba na velhice algo que é essencial para a existência: a autoconfiança e a razão (2005: 19). Ele dá o exemplo do que acontecia nas sociedades antigas, que tinham pouco interesse em manter a autoestima de seus membros idosos:

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Lasch (1991) afirma que o homem sempre temeu a morte e desejou a vida eterna. No entanto, o medo de morrer ganhou novas perspectivas em uma sociedade que pensa cada vez menos no futuro e mais no presente.

A idade avançada traz apreensão não apenas por representar o começo da morte, mas porque as condições de vida das pessoas idosas pioraram muito com o tempo. Nossa sociedade reserva pouco espaço para os idosos. Ela os define como inúteis, os força a se aposentar antes deles terem esgotado sua capacidade de trabalho e reforça a noção do supérfluo a todo instante (1991: 209).

Essa forma de ver a maturidade resulta de décadas de mudanças sociais que redefiniram o trabalho, desvalorizaram a noção de experiência e solidificaram outras formas de legitimação social. A idade foi perdendo, pouco a pouco, poder na sociedade.

O autor observa, ainda, que o envelhecimento é tão combatido em nossa cultura que o medo dele aparece cada vez mais cedo.

Homens e mulheres começam a se preocupar com o envelhecimento antes mesmo de chegarem à meia-idade. A chamada „crise de meia-idade‟ surge como se dissesse que a velhice já está batendo à porta. Os americanos encaram seu quadragésimo aniversário como se fosse o começo do fim (1991: 210).

Esse horror à velhice é associado por Lasch à, cada vez mais forte, cultura narcisista, tão característica da sociedade contemporânea. Segundo ele, o indivíduo narcisista tem tão poucos recursos em que se apoiar que precisa ser admirado por qualidades como beleza, charme, fama ou poder –

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Lasch acredita que esse desejo reflete os valores da sociedade capitalista em tempos em que o contato com outros indivíduos é crescentemente mais supérfluo e descartável. Ele surge não apenas como uma resposta natural aos progressos da medicina, que vem conseguindo aumentar a expectativa de vida, mas principalmente como resultado de mudanças sociais profundas, que acarretaram perda de interesse na posteridade para se voltar ao presente. Assim, “mais que o culto à juventude, o medo da idade originou o culto ao eu” (1991:217).

Podemos ir mais longe se observarmos que parte do “culto ao eu” não está exatamente no entendimento da própria alma ou dos próprios desejos, mas no culto da aparência. É neste culto narcisista que se localiza a noção

de “beleza-responsabilidade”, ou seja, da beleza que depende dos cuidados que o indivíduo tem com o próprio aspecto. Essa noção, desenvolvida por Lipovetsky, deriva da tendência à individualização, apresentada anteriormente. Somos resultado de nossas atitudes, posturas e pensamentos. Somos, enfim, o que escolhemos ser. É isso o que propõe a quase totalidade das revistas, especialmente as femininas e, mais ainda, aquelas que se dirigem às leitoras “maduras”, quando o assunto é a boa condição física.

Se no século XIX os retratos mostravam pessoas de formas arredondadas e abdome proeminente, na virada do século XX para o XXI é praticamente obrigatório fazer de tudo para evitar os sinais de gordura e da idade. Nunca se falou tanto sobre a carga genética e o quanto ela é individual; no entanto, os padrões de beleza exigidos em concursos de modelos pré-adolescentes são praticamente os mesmos das modelos com mais de 30 anos – ou até 40, como este trabalho demonstrará adiante. Anúncios de produtos como cremes, cosméticos ou suplementos alimentares trazem sempre modelos jovens, magras e sem qualquer vestígio de rugas, o que sugere um modelo de beleza único e imperativo.

O conceito de “beleza-responsabilidade” se contrapõe ao de “beleza

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corpo. A “beleza-responsabilidade” sugere o desejo de interferir nesse corpo,

como já se faz com a saúde quando se recorre à nutrição, aos medicamentos, à medicina e aos procedimentos estéticos. O autor se refere a uma “cultura demiúrgica da beleza”, que seria a conquista da aparência a partir de correções de defeitos eventuais de nascença ou daqueles causados pelo tempo. Para Lipovetsky, “Os recursos modernos e high tech estarão cada vez mais presentes para controlar, corrigir, rejuvenescer e embelezar rostos e corpos na luta contra a gordura e as rugas.”7

Com tantos meios à disposição para a conquista da forma ideal, ela passa a ser cada vez mais exigida, independentemente da faixa etária. As mulheres mais velhas, aliás, têm sentido a crescente pressão pela beleza eterna. É o que vemos nos concursos de beleza para mulheres maduras, que vêm se tornando populares nos últimos anos. Fato inédito no passado recente, esta beleza é celebrada, sim; porém, isto só acontece se as

candidatas não aparentarem “tanta idade assim”, tiverem um corpo ainda esbelto e o mínimo de rugas.

Às vezes, a busca pela beleza pode acabar se tornando um estilo de vida. O corpo, sempre visto como ferramenta de trabalho, agora é também fonte de prazer, o que justifica os sacrifícios que vão desde a ginástica até a ingestão de suplementos alimentares ou a colocação de próteses de silicone. São igualmente comuns as justificativas que vão além do prazer estético – nos Estados Unidos, por exemplo, pacientes de cirurgias plásticas afirmam que optaram pelo procedimento a fim de não perder competitividade no mercado de trabalho, uma vez que convivem com colegas bem mais jovens8. A juventude vence a experiência quando as novas tecnologias a desvalorizam. Adaptar-se a essa realidade significa conformar-se com ela e tentar responder a exigências cada vez mais duras.

7 Disponível em www.seniorscopie.com, acessado em 22 de dezembro de 2009.

8

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20

CAPÍTULO II

A PESQUISA

Ao longo do século XX, a imprensa feminina adquiriu um imenso poder de influência sobre as mulheres. Lipovetsky lembra que ela

Generalizou a paixão pela moda, favoreceu a expansão social dos produtos de beleza, contribuiu para fazer da aparência uma dimensão essencial da identidade feminina para o maior número de mulheres. No fundo, ocorre com a imprensa feminina o mesmo que ocorreu com o poder político nas democracias modernas: assim como o poder público não cessou de aumentar e de penetrar na sociedade civil, no momento mesmo em que o poder moderno se apresenta como expressão da sociedade, reforçou-se a influência da imprensa sobre as mulheres na medida em que ela se esforçou em aumentar o poder destas sobre sua própria aparência (2000: 164).

É natural, portanto, que as revistas e todo o conteúdo dirigido às mulheres sejam os meios mais capazes de ajudar a criar um retrato fiel sobre como elas pensam e vivem o próprio corpo. Com o objetivo de analisar que imagem de maturidade feminina é veiculada pelos meios de comunicação, optou-se, primeiramente, por pesquisar revistas e sites voltados a mulheres acima de 45 anos. Ao longo do estudo ficou claro, entretanto, que, além do número de sites e publicações para esse público ser pequeno, são geralmente produções menores, como blogs ou revistas de pequenas editoras, de circulação local, o que não seria capaz de dar uma visão mais exata sobre o que buscamos.

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O material foi sendo colecionado com o objetivo de servir de apoio para a dissertação até o ponto em que se percebeu que a grande variedade de temas abordados – beleza, família, sexo, trabalho, comportamento etc. – já poderia dar, por si, informações preciosas sobre a mulher apresentada pelos veículos de comunicação nacionais.

Cabe observar aqui que a grande maioria dos artigos analisados pertence a sites que não focam um grupo etário específico, caso dos portais UOL e Terra. Praticamente todo o material foi coletado online, até mesmo no caso de veículos que têm versão impressa, como o jornal Folha de São Paulo ou a revista Boa Forma. Tratou-se apenas de uma opção mais prática e que em nada interferiu em termos de conteúdo.

Para ampliar o conhecimento a respeito do campo problemático e melhor situá-lo, buscou-se aprofundar o estudo em torno do levantamento bibliográfico e estabelecer ligações com outras produções já realizadas sobre temas afins.

Como poderá ser observado, este trabalho foi desenvolvido com base na abordagem metodológica qualitativa, uma vez que esta leva em consideração os conteúdos e os discursos relacionados à envelhescência feminina.

Discurso, entre uma das muitas definições possíveis, é a prática social da produção de textos. É possível dizer que todo discurso vem de uma construção social, não individual, uma vez que reflete uma visão de mundo vinculada à realidade do autor e à sociedade em que ele vive. A “Análise do Discurso” pode ser aplicada a qualquer gênero de texto, desde o narrativo

até o poético, o publicitário ou o pedagógico.

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indicações, de conjuntos de pistas nele presentes. Assim, o sentido de um texto é construído a partir dele próprio e durante o processo interativo autor-receptor. Pinto (1999) afirma que:

Os textos não surgem isoladamente num universo discursivo dado. Eles pertencem a séries ou redes organizadas por oposição ou sequencialidade. As marcas ou pistas do processo de geração de sentidos que o analista interpreta numa superfície textual são dependentes do contexto. Isto quer dizer que uma mesma marca encontrada pelo analista em duas superfícies textuais produzidas em contextos diferentes pode ter interpretações diferentes (1999: 56).

Por envolver elementos tanto da realidade do autor quanto do receptor, que compartilham identidades sociais, regionais, econômicas, culturais etc., o contexto é de fundamental importância na Análise do Discurso. A boa prática discursiva implica, portanto, a compreensão de que a linguagem não pode ser estudada independentemente de seu contexto sócio-histórico, afinal carrega os valores e a história social de diferentes grupos.

A Análise do Discurso não se restringe apenas à interpretação do texto; ao contrário, expande seus limites, seus mecanismos, como parte dos processos de significação de enunciados linguísticos. Já que não há uma verdade absoluta por trás do texto, o que ela objetiva é a compreensão de como um objeto simbólico produz sentidos, ou seja, como ele está imbuído de significância para os sujeitos e pelos sujeitos.

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trata-23

se, pois, de estratégias – palavras ou expressões – que, de acordo com a intenção do locutor, são empregadas com o intuito de convencer o interlocutor, fazendo-o chegar a uma determinada conclusão. Desta forma, fica evidente que a linguagem é um fenômeno que deve ser estudado não apenas como formação linguística, mas principalmente como formação ideológica.

A observação de fotos e ilustrações que acompanham os textos é de

grande importância para a pesquisa. As imagens “dizem sem precisar dizer”;

carregadas de informação, legitimam o que está expresso em palavras. Loizos (2002), em artigo sobre a importância de vídeo, filme e fotografias como documentos de pesquisa, afirma que

a imagem, com ou sem acompanhamento de som, oferece um registro restrito mas poderoso das ações temporais e dos acontecimentos reais – concretos, materiais.”. Além disso, prossegue o autor, “o mundo em que vivemos é crescentemente influenciado pelos meios de comunicação, cujos resultados, muitas vezes, dependem de elementos visuais. Conseqüentemente, o „visual‟ e a „mídia‟ desempenham papéis importantes na vida social, política e econômica. (...) Eles não podem ser ignorado (2002: 137).

Para o autor, os registros de imagens não estão isentos de problemas ou de manipulações, o que representa uma questão tão importante quanto polêmica para os meios de comunicação de hoje.

Devido ao fato de os acontecimentos do mundo real serem tridimensionais e os meios visuais serem apenas bidimensionais, eles são, inevitavelmente, simplificações em escala secundária, dependente, reduzida das realidades que lhes deram origem (2002: 138).

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manipuladas em diversos momentos: quando o fotógrafo escolhe a câmera e a lente; quando seleciona o que estará no centro ou fora da foto; quando prepara a luz ou escolhe filme colorido ou preto-e-branco; quando dispara o obturador da câmera ou mais tarde, na revelação do filme ou no trabalho em programas de computador específicos para edição de imagens. A questão rende debates intensos na mídia, especialmente no jornalismo, em que o

termo “manipulação” é visto com maus olhos pela possibilidade de resultar

na construção de uma realidade falsa, que engana o leitor. De qualquer forma, é preciso pensar que, mesmo em veículos que prezem por essa isenção, a manipulação existe, uma vez que depende dos fatores acima citados e de diversos outros, que vão desde o posicionamento político da empresa jornalística até a pauta dada ao fotógrafo e mesmo (ou principalmente) a sua bagagem cultural.

Este trabalho resultou, portanto, da análise de textos jornalísticos retirados, em grande parte, de sites e portais voltados ao público feminino. Isso significa que se foi levado em consideração características de linguagem próprias da imprensa feminina que se assemelham, em muitos pontos, à publicitária –como no uso de imperativos (“pratique Pilates”, “saiba quais as cores do próximo inverno”, “emagreça para o verão” etc.) e na ideologia que carrega.

Buitoni afirma que, à primeira vista, o conteúdo de suplementos femininos parece neutro: culinária, beleza, moda etc. Porém, saindo da superfície, a impressão é outra:

veremos que a imprensa feminina é mais „ideologizada‟ que a imprensa dedicada ao público em geral. Sob a aparência de neutralidade, a imprensa feminina veicula conteúdos muito fortes (2009:21).

A autora lembra que a imprensa diária também é “ideológica”, pois a

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25

interpretativo. A quase totalidade dos títulos voltados a mulheres tem periodicidade mensal ou, no mínimo, semanal. Segundo Verón,

Os semanários são uma espécie de “metalinguagem” cujo referente não é o fato em si mesmo (que é o caso da “notícia”), mas a atualidade, enquanto discurso produzido pelos diários. Esta característica dos semanários torna-os, precisamente, estratégicos para o estudo das ideologias. O que não quer dizer, de modo algum, que os semanários sejam “mais ideológicos” que os diários, e sim que simplesmente é provável que seja mais fácil para nós (dado o nível de discurso que contêm) identificar operações ideológica (apud Buitoni, 2009: 22).

Buitoni atenta para o fato de que a imprensa feminina ocidental não adota muito o jornalismo informativo, mas sim o jornalismo diversional, opinativo e de serviço. Segundo esta autora, “a periodicidade da imprensa feminina – que a faz distanciar-se do fato atual – e o não uso da categoria informativa lhe dão um caráter mais “ideológico” em relação ao que fala Verón” (2009: 22).

É essa ideologia que faz acreditar que a imprensa feminina, mais do que o jornalismo diário, pode revelar com mais apuro a forma como a mídia em geral representa a mulher envelhescente. Que modas, modelos, estereótipos, posturas e noções estão sendo transmitidas sobre e para essa mulher em uma época dominada pela mídia e pela velocidade no consumo das informações? Até que ponto a mídia – neste caso, a Internet – atua como agente cultural para a difusão de conteúdos que influem na forma como a brasileira vê seu próprio envelhecimento?

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Para fins de análise, as matérias foram agrupadas de acordo com seu tema (moda, sexo, beleza, saúde etc). A identificação dos temas facilitou a pesquisa bibliográfica, uma vez que direcionou o trabalho para autores consagrados em cada um deles. Dessa forma, a pesquisa buscou associar textos factuais, sobre comportamentos e tendências com aquilo que já foi mapeado pela literatura especializada. A intenção foi a de chegar o mais perto possível de um perfil de maturidade novo, que, conforme o que é difundido pelos meios de comunicação, une aparência, estilo e comportamentos joviais. Longe de revelar uma verdade absoluta, devido à pluralidade das imagens de envelhecimento divulgadas pela mídia, buscou-se aprebuscou-sentar uma visão abrangente. Por vezes essa abrangência parece contraditória. Como veremos, aspectos positivos e negativos sobre o envelhecimento convivem nos mesmos espaços, lado a lado, criando e desconstruindo subjetividades.

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CAPÍTULO III

A MEIA- IDADE

Considerando o tema deste trabalho, cabe definir o que é a meia-idade, fase da vida considerada nesta dissertação. Convencionou-se dizer que este período vai dos 45 aos 59 anos, conforme definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) para países em desenvolvimento. A legislação brasileira (art. 2º, lei 8.842, de 04.01.1994) acompanhou esta orientação.

A cronologização da vida é fenômeno sociocultural que, presente desde os primórdios da Humanidade, ganhou contornos mais nítidos a partir do século XIII. As crianças da Idade Média, por exemplo, não eram separadas dos adultos e assumiam as mesmas atividades que seus pais à medida que sua capacidade física aumentava. Debert aponta que a separação entre a infância e a vida adulta ocorreu gradual e lentamente, com a introdução de “roupas, jogos, brincadeiras e outras atividades” (1999: 43) que distinguissem uma faixa etária da outra. Já a adolescência, fase de transição entre a infância e a idade adulta, só foi especificada no final do século XIX, no Ocidente.

A noção de envelhecimento também se desenvolveu aos poucos. A separação de fases da vida segundo critérios de produção e reprodução da existência sempre andou lado a lado com os conceitos de velhice e degeneração. Com o tempo, fatores econômicos também passaram a ter grande influência na periodização da vida. Debert continua:

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28

O Estado Moderno orienta todas as fases de nossa vida, desde o nascimento até a morte, passando pelo sistema complexo de etapas de escolarização, entrada no mercado de trabalho e aposentadoria. Nossas diversas fases seriam, portanto, decorrência de uma organização social que obedece às fases produtivas do ser humano. A disjunção entre estágios de maturidade e idade cronológica é tendência própria da Modernidade, que precisa não apenas organizar a sociedade como criar necessidades para cada fase vivida. Debert acrescenta ainda que:

As idades tornam-se um mecanismo cada vez mais poderoso e eficiente na criação de mercados de consumo, na definição de direitos e deveres e na constituição de autores políticos, sobretudo porque perderam qualquer relação com os estágios de maturidade física e mental (1999: 58).

O início da meia-idade, no entanto, é motivo de controvérsias entre os especialistas, que não chegam a consenso sobre quais critérios devem ser usados para marcá-la. Para alguns autores, a meia-idade corresponde a um período de tempo bastante abrangente, que vai dos 30 aos 65 anos, mas ainda não está claramente definida em termos biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Fraiman (1995) chega a afirmar que uma pessoa pode ter, hipoteticamente, várias idades. Ela pode ter 58 anos (idade cronológica), sentir-se com não mais do que 45 (idade biológica), ser ativa profissionalmente como se tivesse 50 (idade social) e acumular experiências de vida que a façam sentir como se tivesse 80 anos (idade existencial). Já a escritora Martha Medeiros pensa que as múltiplas possibilidades de escolhas – profissionais, de relacionamentos afetivos ou mesmo de produtos em supermercados – que temos hoje contrastam com a vida padronizada de décadas atrás, gerando descompasso entre comportamento, idade cronológica e aparência.

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saber ao certo o que é melhor para si, surgiu o medo de crescer. Hoje, todos parecem ter 10 anos menos. Quem tem 17, age como se tivesse sete. Quem tem 28, parece 18. Quem tem 39, vive como se fossem 29. Quem tem 40, 50, 60, mesma coisa. Por um lado, é ótimo ter um espírito jovial e a aparência idem, mas até quando se pode adiar a maturidade?9

O que se vê, portanto, é que, além da idade cronológica, existe uma

“idade” relacionada diretamente a estados psicológicos e emocionais da pessoa; idade carregada de forte subjetividade. Para boa parte dos autores, a maturidade tem sido definida principalmente a partir do ciclo de mudanças biológicas enfrentadas pelos indivíduos. Mesmo com o reconhecimento de que o envelhecimento é, ao mesmo tempo, um processo biológico e social, a meia-idade foi delimitada a partir das mudanças no corpo físico, que estão associadas à idade cronológica. Dessa forma, a idade determinada pela data de nascimento acaba sendo o critério mais aceito para a inclusão das pessoas nesse período de vida.

Uma das consequências desse critério é a colocação em segundo plano de experiências de maturidade, relacionamentos, vivências e toda a bagagem emocional acumulada ao longo dos anos. Tudo isso acaba fazendo com que a maturidade feminina seja muito diferente da masculina. Nas sociedades ocidentais, por exemplo, o climatério vem sendo utilizado quase como parâmetro único para demarcar o início desse período para as mulheres; para os homens, o marco é a aposentadoria. Ou seja: para elas, o critério parece ser o biológico; para eles, o social.

Seja como for, as pessoas que se encontram atualmente na meia idade são integrantes de um grupo interessante, não só pela quantidade de indivíduos quanto pelas revoluções que fizeram em todas as etapas da vida: os baby-boomers.

9

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1. Baby-boomers ou Envelhescentes

Nos últimos 50 anos, eles acompanharam e protagonizaram transformações importantes nos âmbitos social, cultural e profissional. Viram as empresas se modernizar; a tecnologia chegar às ruas e às casas; as universidades abrindo oportunidades que suas famílias nunca tiveram; tabus rompidos, ditaduras sendo derrubadas; amigos morrendo por overdose; crises mundiais; evolução na medicina; conquista espacial... A geração dos chamados baby-boomers (nascidos entre 1945 e 1964)10, que esteve à frente de todos esses eventos, já ultrapassou a faixa dos 60 anos. E eles podem esperar viver bem mais: em média, 83 anos11, sendo que muitos terão boa saúde até depois dos 90 anos. Para um grupo que viveu e inventou a cultura de juventude, o desejo de permanecer jovem é até esperado, ainda mais quando se leva em consideração os grandes avanços da ciência e da medicina. “Os baby boomers literalmente acham que irão morrer antes de se tornarem velhos”, disse o presidente de uma empresa de consultoria à revista Newsweek. Estudo realizado por este periódico revelou que os boomers definem a “velhice” como uma idade que começa três anos depois da média da expectativa de vida dos norte-americanos12. Outro

estudo norte-americano descobriu que, à medida que a idade do indivíduo aumenta, mais avança também a idade que define a velhice. Para pessoas entre 18 e 29 anos, por exemplo, a velhice começa aos 60; entre os de 30 a 49 anos, a velhice se situa em torno dos 69. Já para quem tem 65, velho é que passou dos 74. Outro dado curioso levantado pela pesquisa é que as

10

No Brasil, o grupo etário tem sido chamado por institutos de pesquisa como “geração Bossa Nova”,

em referência ao gênero musical que fez sucesso enquanto eram jovens. No entanto, além de o termo ser recente e pouco visto em pesquisas acadêmicas, boa parte do material desta pesquisa vem de

outros países, nos quais o termo “baby-boomer” já é consagrado. 11 Nos Estados Unidos.

12 Disponível em http://www.thedailybeast.com/newsweek/2005/11/13/turning-60.html, acessado em

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mulheres tendem a considerar que a velhice começa mais tardiamente – aos 70 anos, ao passo que os homens apontam os 66 anos13.

A percepção de velhice é motivada também por aspectos físicos. Os cabelos brancos são apontados como sinônimo dela por 13% dos entrevistados. A incapacidade de realizar alguns movimentos e as limitações físicas – como o uso de cadeira de rodas ou bengalas, que diminuem a independência do idoso – são lembradas por 76% como sinal claro de velhice. Também foram citados a incapacidade de dirigir veículos (66%), o esquecimento de nomes de pessoas próximas (51%) e a dificuldade de subir escadas (45%). Os entrevistados falaram também sobre até que idade gostariam de viver. Em média, a idade foi de 89 anos: 20% disseram que 70 anos seriam suficientes e 8% gostariam de passar dos 10014.

O fenômeno do baby boom ocorreu em diversos países, mas foi nos Estados Unidos que ele teve maior impacto, devido ao contexto pelo qual o país passou na pós Segunda Guerra Mundial. Se durante a vida eles quebraram paradigmas relacionados à infância e à juventude, agora se dedicam à construção de uma nova visão de maturidade, o que inclui certo esfumaçamento das fronteiras – antes mais claras e nítidas – entre as gerações e a atribuição de novos significados aos papeis tradicionais, como os de avô e avó ou mesmo pai e mãe.

Apesar de serem tratados como uma “geração”, é impossível dizer que os boomers têm perfil homogêneo. Os primeiros boomers (chamados seniors pela indústria do marketing) cresceram de modo mais ou menos parecido nos anos que sucederam a Segunda Guerra Mundial, marcados pelo forte embate da Guerra Fria. Para eles, temas importantes que acompanharam a infância e a juventude foram a Guerra do Vietnã, a

13

Disponível em http://www.seniorscopie.com/articles/recul-de-l-age-percu-on-est-vieux-a-72-ans-pour-les-boomers. html, acessado em 07 de setembro de 2009.

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32

ditadura militar (no Brasil) e a luta por direitos civis e políticos. Já no caso dos boomers mais jovens, como o contexto social e econômico era outro, a pressão foi menor. Eles cresceram em um ambiente econômico mais favorável, puderam passar mais tempo com a família e desfrutar de lazer com os amigos. Alguns críticos referem-se a eles como “egocêntricos” em

razão de suas preferências por formas de lazer individuais e ligadas à tecnologia15 e ao conforto. Para Meucci,

esta é a primeira geração que chega à maturidade da chamada juventude tardia. São pessoas que [...] tiveram o aval das transformações promovidas pela contra-cultura, a ajuda da tecnologia – que inventou boas tintas de cabelos, cremes, intervenções cirúrgicas e novos remédios – e que conquistaram segurança financeira para adotar um novo tipo de comportamento. Eles vivem a extensão da juventude, enquanto a adolescência se prolonga para além dos 30 anos. Viramos jovens adultos pelo menos até os 60 e começamos a admitir a hipótese da velhice lá pelos 90. Exagero? Não se você pensar em Madonna, a cinquentona mais badalada do mundo pop.16

É errôneo, portanto, referir-se aos boomers tomando a idade como referência. Como bem sabem os institutos de pesquisa e empresas especializadas em marketing, os hábitos e os comportamentos são critérios muito mais certeiros:

Em um estudo [...] realizado com brasileiros acima de 55 anos, foram detectados três grandes grupos nessa faixa etária – os idosos convencionais cujo papel social ainda é cuidar dos netos; os que se recusam a aceitar a idade que têm e continuam se comportando como jovens; e os celebrators, os que aceitam com sabedoria a chegada da nova fase, usando a experiência de vida para se manterem ativos, cuidando do vigor físico e da saúde mental. Os boomers [...] estão inaugurando esse estilo de vida [...].17

15 Disponível em

http://www.lemarchedesseniors.com/Strategie_Marketing/dossier.php?numtxt=2830&idrb=2, acessado em 25 de agosto de 2004.

16

Jornal Gazeta do Povo, caderno Viver Bem, 18 de janeiro de 2009.

17

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33

A reportagem da Newsweek acrescenta:

Sozinha, a idade deles não indica em que estágio da vida estão. Eles se reinventam a cada três ou cinco anos. Um boomer pode ser tanto alguém que acabou de se tornar pai quanto um avô. Alguns boomers têm filhos aos 59 anos (apenas em 2002, os 27,5 milhões de americanos com mais de 55 anos foram responsáveis por 83 mil nascimentos, o que resulta em uma fertilidade de 0,3%).18

A paternidade é apenas uma das possibilidades de reinvenção para os boomers, o que também pode vir por meio de um hobby, uma viagem, um novo trabalho, a aquisição de um antigo desejo de consumo ou uma nova forma de olhar para o próprio corpo. Não é mais novidade, por exemplo, que estúdios de tatuagem recebem clientes acima de 50 anos. É o caso de um americano, que comemorou a chegada dessa idade com a tatuagem de uma guitarra no braço e uma motocicleta Harley Davidson novinha na garagem19. No caso desta marca de motocicletas, um estudo francês revelou que a média de idade dos seus compradores passou de 38 para 46 em apenas dez anos, de 1994 para 200420.

O mesmo estudo publicado pela Newsweek surpreende ao mostrar que muitos dos produtos relacionados a faixas etárias mais jovens são, na verdade, consumidos pelos mais velhos. É o que acontece com os álbuns musicais, que, em meados dos anos 2000, registraram variação de vendas de 22,1% para 16,4% entre o público jovem e de 16,5% para 19,1% entre os clientes acima de 40 anos. O mesmo acontece com a Internet: metade dos americanos com mais de 60 anos acessa a rede, o que significa mais de

18

Disponível em http://www.thedailybeast.com/newsweek/2005/11/13/turning-60.html, acessado em 13 de novembro de 2005.

19

Disponível em http://www.thedailybeast.com/newsweek/2005/11/13/turning-60.html, acessado em 13 de novembro de 2005.

20

Disponível em

(43)

34

80% dos boomers. Destes, cerca de 30% está online há mais de dez anos. Segundo a empresa de marketing responsável por esses dados,

as pessoas associam a Internet com os jovens, mas os primeiros computadores domésticos foram comprados pela geração que hoje já passou dos 50. [...] Em 1995, quando o navegador Netscape se tornou popular e deu visibilidade à Internet, milhões de boomers já faziam parte da revolução digital.21

Também se engana quem pensa que os mais velhos usam a Internet apenas para a checagem de emails e o download de documentos. “Uma vez que eles percebem o potencial da rede, a idade passa a ser um fator menos e menos relevante22”, conclui a pesquisa.

No campo profissional, a ideia de que a chegada aos 50 ou 60 seria marcada pela redução no ritmo e pela aposentadoria já ficou para trás. Em pesquisa divulgada pela revista IstoÉ, 65,7% dos sete mil entrevistados disseram que querem continuar no batente depois de se aposentarem23. Outra tendência é de que os aposentados até podem reduzir a jornada diária ou aumentar o período de férias, mas seus maiores desejos são fazer o que gostam e não terem escritórios luxuosos ou trabalhos mais bem remunerados. A mesma revista dá o exemplo de um empresário que, aos 45 anos, foi em busca de um antigo sonho: um curso de chef de cozinha. Já formado, reuniu amigos e organizou cursos de gastronomia na Itália, o que acabou dando a ideia de abrir uma agência de turismo especializada no tema. Histórias de empreendedorismo depois da meia-idade são cada vez mais comuns, mas não são a única saída profissional para quem atinge

“certa idade”. Ao contrário do que costumava acontecer no mercado, os mais velhos estão encontrando oportunidades – e boas – à medida que são mais qualificados em comparação aos jovens que ocupariam os mesmos cargos. A matéria da IstoÉ acrescenta: “de acordo com o Ministério do Trabalho, em

21

Disponível em http://www.allbusiness.com/marketing-advertising/market-groups-mature-market/5430521-1.html, acessado em 09 de agosto de 2006.

22 Idem.

(44)

35

2010, o número de assalariados com mais de 65 anos cresceu 12%, o dobro da média.”

O desejo de desenvolver novas atividades e hábitos demonstra que, mais do que nunca, o otimismo é característica marcante de quem se encontra na meia-idade. De acordo com estudo desenvolvido pelo Ibope Mídia em 2005, que ouviu 2,2 mil brasileiros com mais de 60 anos de todas as classes sociais e ambos os sexos, 58% dos entrevistados acham que a própria vida estará melhor nos próximos cinco anos. Quanto à situação do país, o índice de otimismo é um pouco menor: apenas 39% acreditam que o quadro político e econômico vai melhorar neste período. A maioria dos entrevistados (85%), independentemente da classe social, se diz satisfeita com a própria vida e 40% gostariam de empreender mais novidades e mudanças24.

Mais do que otimistas, os mais velhos estão mais satisfeitos com a própria vida. É o se pode dizer, ao menos, dos ingleses com mais de 55 anos, segundo pesquisa desenvolvida por empresa de marketing especializado e divulgada no jornal britânico Daily Telegraph 25. A matéria afirma que, tendo estilo de vida parecido com os mais jovens, os mais velhos são mais felizes. O estudo foi baseado em entrevistas com mais de dois mil adultos que identificaram as sensações e atividades que seriam típicas para idades específicas. O resultado foi que as pessoas com mais de 55 anos são mais ativas em suas comunidades, viajam ao exterior com mais frequência e têm menos probabilidade de se sentirem sozinhas – coisas que se esperava mais dos jovens, que praticam mais esportes e saem mais com amigos. Boa parte da explicação está na questão financeira, uma vez que os mais velhos têm mais estabilidade e filhos já criados, podendo, portanto, divertir-se sem preocupações.

24 Valor Econômico, edição 1369, 19 de outubro de 2005.

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