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71 Revista da Escola Superior de Guerra, v. 32, n. 66, p. 71-89, set./dez. 2017

MEMóRIAS DE GUERRA: ENtRE COMEMORAR OU ESQUECER

O IMAGINÁRIO DA GUERRA DA tRÍPLICE ALIANçA CONtRA O PARAGUAI (1864-1870) COMO DIFICULtADOR DO PROCESSO DE INtEGRAçãO DO MERCOSUL

Edgley Pereira de Paula* Raquel dos Santos Souza Lima** RESUMO

Hoje em dia, não restam dúvidas de que o pensamento de curto-prazo (curtoprazismo) é desafiado pelo, cada vez maior, acesso à tecnologia de informação de nossa época: os big data. É justamente a capacidade de utilizar qualitativamente esses conjuntos de dados, organizados, seriados no tempo e espaço, que os pesquisadores podem apresentar novas análises e novos caminhos a seguir. Essa temporalidade da longa duração histórica, pode sugerir um ponto de vista diferenciado das antigas análises antropológicas, econômicas ou de outros árbitros de nossa sociedade. Não que os historiadores detenham a

priori o monopólio da longa duração (longue durée), mas, sensíveis que são a essa

análise, de antemão, serão necessariamente os mais preparados para contribuir e operar nessa perspectiva. Um novo pensar a guerra, o patrimônio cultural e a história militar inserem-se nesse momento histórico. Nesse sentido, este artigo se propõe, a partir do maior conflito bélico que já se registrou na América do Sul, ____________________

* O Autor é Oficial do Exército Brasileiro do Quadro Complementar (Historiador), possui Bacharelado e Licenciatura Plena em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Pós-graduação em História Militar Brasileira pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Mestrado em História Política pela UERJ (PPGH). Ex-professor do Colégio Militar de Brasília, serve na Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx), é sócio titular da Academia Brasileira de História Militar Terrestre (ABHMT) – Seção Brasília, sócio honorário do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB) e pesquisador associado do Centro de Estudos e Pesquisas em História Militar do Exército (CEPHIMEx). Atualmente é Doutorando em História Contemporânea na Universidade de Coimbra (UC), Portugal, investigando o tema “Guerra e Imprensa”. Contato: <edgleydepaula@hotmail.com> ** Doutora em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de

Janeiro (2014) (bolsa do CNPq). Mestre em História Social (2006) pela Universidade Federal Fluminense, Especialista em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1998) e Licenciada em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1996). Realizou doutorado-sanduíche (com Bolsa da FAPERJ) na École Pratique des Hautes Études (França, 2011-2012). Desde 1998 é professora do Cap-COLUNI- Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa. É pesquisadora do GPAD- Grupo de Pesquisa em “Antropologia da Devoção” (Museu Nacional-CNPq) e colaboradora do projeto “Devoções e formas de sociabilidade nas festas e no cotidiano” (FAPERJ). É membro dos Grupos de Pesquisa “Desenvolvimento da Pesquisa no Colégio de aplicação - Coluni da Universidade Federal de Viçosa” e “Religião, sociedade e novas demandas por reconhecimento”, ambos registrados no CNPq-UFV. Tem experiência em ensino de História e em programas de formação e aperfeiçoamento de docentes. http://lattes.cnpq. br/4280118201590328. Contato: <raquelssousalima@gmail.com>.

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refletir sobre as práticas e representações que caprichosamente se perpetuam em nosso imaginário coletivo dificultando o processo de integração regional.

Palavras-chave: Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Guerra. Produção

historiográfica. Curtoprazismo.

MEMORIES OF WAR: BETWEEN CELEBRATING ANd FORGETTING THE TRIPLE ALLIANCE IMAGINARY WAR AGAINST PARAGUAY (1864-1870) AS A dETERRENT TO

THE SOUTHERN COMMON MARKET (MERCOSUR) INTEGRATION PROCESS ABStRACt

Today, there is no doubt that the “short-term” thinking is challenged by the increasing access to information technology of our time, the big data. It is precisely the ability to qualitatively use these organized and serial data sets, in time and space, that researchers can present new analyses, and new paths to follow. This temporality of may long historical duration suggest a different point of view from the ancient anthropological, economic, or other arbitration analyses of our society. It is not that historians hold a priori a long-term monopoly (longue durée), but sensitive to this analysis, in advance, they will necessarily be the most prepared to contribute and to operate in this perspective. A new thought about war, cultural heritage and military history is part of the current historical moment. In this sense, this article proposes, from the greatest war conflict that has already been registered in South America, to reflect on the practices and representations that, particularly, perpetuate in our collective imaginary which hinder the regional integration process.

Keywords: The Southern Common Market (MERCOSUR). War. Historiographic

production. Short-term.

MEMORIAS dE GUERRA: ENTRE COMEMORAR O OLVIdAR EL IMAGINARIO dE LA GUERRA dEL TRÍPLICE ALIANZA CONTRA EL PARAGUAY (1864-1870) COMO

dIFICULTAdOR dEL PROCESO dE INTEGRACIóN dEL MERCOSUR RESUMEN

Hoy en día, no hay duda de que el pensamiento de corto plazo (cortoplacismo) es desafiado por el cada vez mayor acceso a la tecnología de información de nuestra época, los big data. Es justamente la capacidad de utilizar cualitativamente estos conjuntos de datos, organizados, seriados en el tiempo y espacio que los investigadores pueden presentar nuevos análisis y nuevos caminos a seguir. Esta temporalidad de la larga duración histórica, puede sugerir un punto de vista diferenciado de los antiguos análisis antropológicos, económicos o de otros árbitros de nuestra sociedad. No es que los historiadores detengan a priori el monopolio de la larga duración (longue durée), pero, sensibles que son a ese análisis, serán necesariamente, los más preparados para contribuir y operar en esa perspectiva.

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Un nuevo pensar la guerra, el patrimonio cultural y la historia militar se inserta en ese momento histórico. En este sentido, este artículo propone, desde el mayor conflicto bélico que ya se ha registrado en Sudamérica, reflexionar sobre las prácticas y representaciones que se perpetúan en particular en nuestro imaginario colectivo obstaculizando el proceso de integración regional.

Palabras clave: Mercado Común del Sur (MERCOSUR). Guerra. Producción

historiográfica. Cortoplacismo.

1 INtRODUçãO

O assunto guerra, por ser de valor capital, ponto de inflexão de toda sociedade, geralmente, conta com uma considerável produção de documentos, de fontes que envolvem tal fato histórico.Contudo, em nenhum outro tema de pesquisa, opiniões são tão diversas, tão apaixonadas e tão discrepantes sobre o mesmo assunto, principalmente quando analisamos documentos produzidos nos países envolvidos, como é o caso deste trabalho.

O conflito armado por muito tempo foi estudado dissociado de seus múltiplos aspectos econômicos, sociais e, mais ainda, culturais. Privilegiavam-se análises políticas, diplomáticas ou puramente de caráter militar em seus aspectos estratégicos e táticos (a chamada “História Batalha”), esvaziando as possíveis discussões mais aprofundadas do acontecimento “guerra” para se entender a história dos povos, particularmente no que se refere às dificuldades de integração decorrentes de imaginários e representações coletivas de si para com o outro, perpetuadas em diferentes formas e “lugares”.

A perspectiva desse artigo é contribuir para essa reflexão, pois acreditamos que as imagens remotas do maior conflito da história do continente sul-americano ainda possam influenciar o presente de brasileiros e paraguaios, tanto quanto nossos “hermanos” argentinos e uruguaios. Os efeitos das representações do passado projetam-se sobre o cotidiano latino-americano, dos bancos escolares às disputas esportivas disseminadas pelos meios de comunicação.

Segundo Baczko (1985), e nos períodos de crise que há uma explosão da imaginação social:

Cada sociedade produz um sistema de representações que legitima tanto a ordem estabelecida quanto as atividades contra esta dirigidas. Entre essas representações ocupam um lugar à parte os símbolos e as imagens [...]. Podem-se encontrar imagens [...] nos vários tipos de representação que as nações, os grupos e as classes sociais, os partidários de uma religião ou de uma crença dão tanto de si quanto dos outros. Este papel das imagens manifesta-se, sobretudo, nas situações de crise social e em particular durante revoluções que são sempre acompanhadas de

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uma explosão da imaginação social que conduz a modificações nas instituições. (BACZKO, 1985, p. 332).

As representações construídas na Guerra da Tríplice Aliança, possivelmente, não teriam prosperado sem a participação das imagens que circularam na imprensa de época nos países contendores. Principalmente focando os dois protagonistas, verifica-se que a irreverência foi a chave utilizada, tanto pelo lado paraguaio, quanto pelo brasileiro, para retratar o inimigo a ser vencido. Percebe-se que por trás dessa crítica despudorada evidenciava-se uma gama de preconceitos existentes entre as nações em conflito.

Ao transpor para o papel a imagem do “outro”, os periódicos validaram e desmascararam, por meio de instrumentos de corrosão da imagem do inimigo, juízo de valores no imaginário coletivo daquelas populações.

A influência dos imaginários sociais sobre as mentalidades depende em larga medida da difusão destes e, por conseguinte, dos meios que asseguram tal difusão. Para garantir a dominação simbólica, é de importância capital o controle destes meios, que correspondem a outros tantos instrumentos de persuasão, pressão e inculcação de valores e crenças. (BACZKO, 1985, p. 313).

Apesar de o Estado Brasileiro não ser, por si só, o demiurgo da nação, as guerras externas, em que este Estado se envolveu, contribuíram para a formação da nacionalidade. Por toda sua dimensão, tem-se a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1864-1870) como importante ponto de inflexão no contexto do final do século XIX, principalmente no que se refere à formação de uma identidade própria do que seria ser brasileiro, ser paraguaio, ser oriental (uruguaio) e ser argentino. Percebe-se que os periódicos da época foram os mass media dessa formação nacional em negação ao outro, na construção e desconstrução como indivíduo.

É através destes que se articula a antinomia entre “nós” e “eles”, isto é, duas representações que traduzem e esquematizam, simultaneamente, as recusas, os conflitos e os ressentimentos:

eles querem matar-nos a fome; eles querem roubar-nos; eles

vêm instalar-se em nossa casa para nos tirar o lar. (BACZKO, 1985, p. 316, grifos nossos).

Ao estudar a imagem como representação do inimigo a ser derrotado, observa-se não apenas o discurso de quem produziu as ideias-imagens, mas, também de quem as viu e como as viu.

As representações, segundo Chartier (1990, p. 87-88), inserem-se “em um campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de

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poder e de dominação”. Em outras palavras, são produzidas aqui verdadeiras “lutas de representações”. E estas lutas geram inúmeras “apropriações” de acordo com os interesses sociais, com as imposições e resistências políticas, com as motivações e necessidades que se confrontam no mundo humano.

Figura 1 – Os aliados (Brasil, Argentina e Uruguai) sendo retratados como animais

(o gato, o cachorro e a raposa) em constantes desavenças e rodeados pela morte e pelo diabo

Fonte: EL CENTINELA (Jornal Paraguaio),1868.

Nesse sentido, o relato de um oficial subalterno do exército imperial, o 1º Tenente Dionísio Cerqueira, ao comentar sobre a utilização dessas imagens como armas de guerra, faz-se revelador:

Para exaltar o espírito dos seus soldados, cuja valentia, obediência e abnegação dispensavam, aliás, estímulos. López nos mandava injuriar pela sua imprensa (...). Às vezes, sem sabermos como, apareciam exemplares, cobertos de injúrias aos aliados, nos nossos acampamentos. De alguns sabíamos a origem: eram encontrados nos bolsos dos mortos e feridos. Os outros haviam sido deixados provavelmente pelos espiões, que não eram raros e passavam facilmente por orientais no acampamento argentino,

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por argentinos no oriental e por orientais ou argentinos no brasileiro. (CERQUEIRA, 1980, p.121-122).

É relevante, portanto, verificar como as imagens veiculadas nos periódicos à época disseminaram e gravaram na memória, preconceitos até hoje perceptíveis nos países platinos e como contribuíram para consolidar estigmas, que revestem a Guerra da Tríplice Aliança de importante atualidade.

2 A HIStORIOGRAFIA DA GUERRA DA tRÍPLICE ALIANçA

A Historiografia é a História da escrita da História. De fato, ela nos revela como em diferentes épocas nosso objeto, no caso a Guerra da Tríplice Aliança ou Guerra do Paraguai, foi analisado em cada período. Apresentaremos algumas considerações e possibilidades de se analisar e esquematizar a historiografia sobre este conflito, focando a produção brasileira em particular.

2.1 As narrativas épico - memorialistas: do fim da guerra a meados do século XX

A produção historiográfica brasileira a respeito da Guerra da Tríplice Aliança, do fim do conflito até meados do século XX é constituída, de uma maneira geral, de relatos de ex-combatentes sobre as dificuldades e heroísmos de quem viveu uma experiência terrivelmente marcante em suas vidas. Estas experiências, fundamentais nas suas maneiras de ver o mundo a partir de então, fizeram com que a abordagem dos horrores das batalhas e das vitórias militares fossem realizadas de uma forma bastante apaixonada.

Esta produção é composta por muitos diários de guerra, cartas, ordens do dia e fés-de-ofício, é uma fase marcadamente, pela proximidade temporal do conflito, memorialista. Entre estes autores, encontram-se: Madureira (1982), Taunay (2002), Cerqueira (1980), muitos deles efetivamente participaram das campanhas militares, tanto no teatro de operações sul, a Bacia Platina, quanto no teatro de operações norte, em Mato Grosso.

Inserem-se, também, nessa perspectiva, autores que foram contemporâneos desses heróis de guerra. Como exemplo, temos Gustavo Barroso (1939) em A Guerra

do López e Tasso Fragoso (1956), autor da clássica obra escrita em cinco volumes: História da guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai.

Ponto comum nessas obras são os relatos pormenorizados de batalhas, atos de heroísmo e de situações vividas nos acampamentos ou nas marchas do Exército Aliado:

Osório multiplicou-se; não houve soldado brasileiro que combatesse nesse dia, que não o visse passar como um raio por entre os maiores perigos da batalha, e que no exemplo sublime,

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que lhe dava o chefe, não sentisse o coração pulsar-lhe de entusiasmo e de valor invencível! (MADUREIRA, 1982, p. 24). Sua Alteza, ao som das salvas e vivas partidos da canhoneira Mearim aí ancorada, saltou em terra, sendo recebido pelo Coronel Antônio Augusto de Barros Vasconcelos, que o esperava rodeado de toda a oficialidade e de grande quantidade de povo, cuja alegria era manifesta. (TAUNAY, 2002, p. 277).

2.2 o revisionismo crítico – de 1960 a 1980

A partir das décadas de 60 e 70 da segunda do século XX, uma nova “corrente historiográfica” ficou marcada por uma visão que tratou o Paraguai como grande vítima de uma conspiração comandada pela Inglaterra, seria uma espécie de resposta/negação ao nacionalismo exacerbado da abordagem anterior.

Pregando um pretenso “revisionismo”, autores como León Pomer (1968) e Júlio José Chiavenatto (1983), procuraram privilegiar aspectos econômicos nos motivos que levaram ao início da guerra, sendo esse o tema central na abordagem de seus trabalhos, focando nas causas que determinaram a eclosão do conflito. Esses autores defenderam a ideia de que o Paraguai foi destruído de forma premeditada devido ao fato de ter se tornado um “mau exemplo” para as economias periféricas do capitalismo que se desenvolvia. Logo, seria capitaneado pelo imperialismo inglês que detinha o poder sobre os aliados a partir de uma política de “cruel” dominação econômica, baseada não mais, como antes, no poder de sua marinha de guerra, mas na corrupção e venalidade das elites que se sustentavam no poder nos países subordinados.

Para os revisionistas da “esquerda” da década de 60 e 70 do século passado, envolvidos em lutas contra vários regimes militares, apoiados pelos Estados Unidos, Solano López seria um líder protossocialista, tentando criar uma nação independente do imperialismo da principal potência capitalista da época, o Reino Unido – mais ou menos o que os americanos estariam fazendo na América Latina na época em que os livros estavam sendo escritos. O Paraguai seria uma Cuba derrotada do século XIX. Chiavenatto refere-se aos episódios da guerra como demonstração da crueldade criminosa da atuação da Tríplice Aliança, sob ordens inglesas:

A assinatura do Tratado da Tríplice Aliança em 1° de maio de 1865 é uma farsa. Um ano antes ele já estava pronto, esperando apenas que os representantes do imperialismo inglês o assinassem, assim que chegasse a hora da guerra. (CHIAVENATTO, 1983, p. 103).

O argentino León Pomer, no seu livro de 1968, La Guerra del Paraguay! Gran

negócio!, foi um dos marcos desse revisionismo. Embora voltado principalmente

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mais se aproveitou dela foi o imperialismo britânico. Interessante notar que essa abordagem tem repercutido até os nossos dias nos livros didáticos no ensino de História.

2.3 O Revisionismo Acadêmico – de 1990 aos nossos dias

Contudo, no final do século XX, uma terceira visão tem estado presente na produção historiográfica sobre o conflito em questão. Bóris Fausto (1998), ao comentar essa vertente, a descreve da seguinte forma:

Nos últimos anos, a partir de historiadores como Francisco Doratioto e Ricardo Salles, surgiu uma nova explicação. Não se trata da última palavra no campo da História, mas de uma versão menos ideológica, mais coerente e bem apoiada em documentos. Ela concentra sua atenção nas relações entre os países envolvidos no conflito. Tem a vantagem de procurar entender cada um desses países a partir de sua fisionomia própria, sem negar a grande influência do capital inglês na região. Chama a atenção, assim, para o processo de formação dos Estados nacionais da América Latina e da luta entre eles para assumir uma posição dominante no continente. (FAUSTO, 1998, p. 209).

Importante notar que, em suas abordagens, tais autores focalizam principalmente, as implicações da guerra na sociedade brasileira, procurando minimizar as anteriores revisões históricas propostas nas obras de autores como Pomer (1968) e Chiavenatto (1983). Ricardo Salles (1990), como exemplo, trata o processo histórico da Guerra do Paraguai como ponto de inflexão, o momento de apogeu do Império e início de seu declínio, devido à principal contradição exposta na guerra: a escravidão do negro:

O final da guerra do Paraguai coincide com o começo dos anos 70, a partir dos quais se inicia todo um processo de transformações econômicas, sociais e políticas que vão culminar na queda do Império. Entretanto, em determinado sentido, a guerra do Paraguai é justamente o último grande acontecimento do período anterior, de apogeu do Império. (SALLES, 1990, p. 39). Esta nova geração de historiadores que trabalha a guerra como categoria analítica, fugindo da dita “História-batalha”, calca-se principalmente na pesquisa de documentos, procurando aprofundar o olhar para os aspectos culturais e sociais em jogo.

A consolidação das democracias no Cone Sul; a melhor organização e facilidades de acesso a arquivos e a maior

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profissionalização da figura do historiador, renovaram o interesse pela História do Paraguai. Essa recente historiografia se caracteriza pela preocupação em transcender simplificações dicotômicas, pelo respeito às normas científicas e pela valorização da pesquisa documental. (DORATIOTO, 2005, p. 79).

Segundo tal visão, o Paraguai não se constituía como exemplo de modernidade econômica e social às vésperas da Guerra, como queriam os anteriores “revisionistas”. As causas do conflito estariam, principalmente, no desenvolvimento dos Estados Nacionais da região e suas necessidades de auto-afirmação, negando inclusive a suposta influência britânica para a deflagração do conflito.

Essa nova perspectiva já repercute, inclusive, em livros não específicos sobre a Guerra do Paraguai, que tratam do século XIX como um todo. Como exemplo, temos o livro Império do Brasil de Lucia Bastos e Humberto Machado (1999) que, ao abordar o tema, aponta para as questões coloniais como raízes das disputas platinas. Especificamente, tal vertente tem na obra de Francisco Doratioto: Maldita

Guerra (2002), o material mais completo e citado na atualidade, o qual, apoiado

em vasta e diversificada documentação, parte dela inédita, busca explicar as origens da guerra e o seu desenvolvimento de forma fidedigna e comprometida, levantando a importância de que haja novas e contundentes pesquisas buscando “desmascarar” os mitos que foram construídos e consolidados como verossímeis ao longo da história não só no Brasil como nos outros países envolvidos na guerra.

Doratioto afirma que a teoria conspiratória, proposta pelo anterior revisionismo de 1960-70, vai contra a realidade dos fatos e não tem provas documentais; ao contrário, tanto a historiografia conservadora como o revisionismo simplificaram as causas e o desenrolar da Guerra do Paraguai, ao ignorar documentos e anestesiar o senso crítico. Ambos substituíram a metodologia do trabalho histórico pelo “emocionalismo” fácil e pela denúncia indignada. (DORATIOTO, 2002)

3 GUERRAS DE REPRESENtAçÕES

O imaginário é composto de imagens que transmitem a ideia, opinião, imaginação de quem as criou sob efeito de várias influências: sociais, culturais, afetivas. O preconceito não é só o que se mostra, mas principalmente o que se esconde, o que se mascara, gravado no interior, na memória; difícil de se dissociar do que o ser humano é.

Mesmo aliados naquele episódio, Brasil e Argentina mantiveram suas diferenças, aprofundando visões desfavoráveis um sobre o outro, por meio da imprensa, que subsistem no novo milênio; o Uruguai, em particular, quase que desaparece na eterna função de Estado “tampão” entre dois gigantes.

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No entanto, recaem sobre o Paraguai as imagens mais fortes construídas durante o longo embate bélico. As representações prejudiciais ao país guarani continuam vigorando com intensidade nos meios de comunicação de seus antigos oponentes da Tríplice Aliança, com muito mais força no Brasil do que na Argentina e no Uruguai, sedimentando ideias propaladas no e pelo imaginário latino-americano como o país do falsificado e de tudo que não dá certo.

Quem nunca ouviu a expressão do “cavalo paraguaio”? Que avança no começo e depois perde? Não seria uma alusão ao início do conflito amplamente favorável ao povo guarani que depois vai minguando até a derrota final? Poderíamos pensar também no sentido contrário, em apropriações brasileiras de denominações pejorativas paraguaias que sobrevivem em práticas atuais, como a expressão de “cambada”, que vem de “cambás”, macaco em guarani, nome utilizado pelos paraguaios em referências aos soldados brasileiros.

Figura 2 – A imagem do soldado brasileiro generalizada como negro e escravo:

Dizia a manchete de época: “Así se cazan los negros”

Fonte: CABICHUÍ (Jornal Paraguaio), 1867

O tema guerra e todas as suas possibilidades potencializam e perduram certas práticas que, na intenção de auxiliarem como motivação no esforço de uma nação num conflito de alguns anos, sedimentam e mantêm certas imagens por séculos.

Nesse sentido, levando a discussão para se estudar a Guerra da Tríplice Aliança pela importância que esse conflito tem na formação da identidade comum dos países do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), percebe-se a premência de estudos

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sobre os fenômenos de fragmentação e integração de comunidades, possibilidades de cooperação internacional e a necessidade de uma maior reflexão e estudos sobre esse importante período, afastando-se de análises descontextualizadas e anacrônicas que beiram o ufanismo simplista, como foi o caso da historiografia memorialista que se seguiu após o término do conflito e principalmente na historiografia revisionista das décadas de 1960 e 1970 que tem nos autores León Pomer e o J. J. Chiavenatto, exemplos e ícones dessas abordagens nas obras La

Guerra del Paraguay !Gran negócio! e Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai,

obras já comentadas no presente artigo.

Figura 3 – López como um assassino sanguinário, imagem fartamente disseminada

nos periódicos brasileiros

Fonte: A VIDA FLUMINENSE (Jornal Brasileiro), 1869

Logo, faz-se necessário voltar ao conceito de cultura internacional para entender os possíveis processos de cooperação entre países com um passado comum. O tratamento dado pode enfatizar a gestação de uma sociedade regional do Cone Sul integrada ou mesmo problematizar o fenômeno, assinalando a contradição entre o processo de universalização de um conjunto de ideias e as particularidades

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de diferentes grupos socioculturais, para, a partir daí, desconstruir preconceitos arraigados em nossas culturas locais que, muitas vezes estão sendo reproduzidos em nossos bancos escolares, perpetuando práticas e representações de geração em geração, que dificultam em última análise nossa integração.

É importante notar que a influência de novas perspectivas sobre os conceitos de cultura e identidade se faz presente na recuperação dessa temática pelos especialistas de diferentes áreas: História, Ciências Sociais, Relações Internacionais, entre outros pesquisadores.

4 A CULtURA E O MERCOSUL: IDENtIDADES E PERtENCIMENtO

O tema da cultura e da formação de identidades em um cenário internacional progressivamente globalizado, composto de atores crescentemente reflexivos, não pode ser marginalizado, e o estudo da Guerra da Tríplice Aliança perpassa essa questão. Temas diversos e perspectivas teóricas distintas interagem hoje com essa problemática tornaram o estudo das Relações Internacionais, da História e Ciências Sociais pelo viés cultural mais interdisciplinar.

A identidade cultural na pós-modernidade afirma que as culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre a nação, com os quais podemos nos identificar, acabam construindo as identidades. Esses sentidos estão contidos nas histórias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seu presente com seu passado e imagens que dela são construídas. A questão é que essas memórias, para serem representativas da construção de uma nação, precisavam ser escritas. A nação muda de acordo com o envolvimento entre os grupos culturais que permeiam sua história, daí a importância da contínua produção acadêmica do conhecimento histórico.

A memória é, primeiramente, individual e, em seguida, é submetida a uma construção coletiva; em outras palavras, ela é constituída de episódios intensamente vividos pelo indivíduo e os outros por meio da experiência de outrem. Ao longo dos tempos, a relação entre estes dois tipos de memória entrou em conflito, pois a coletiva ou a nacional, que se forma com os fatos, os símbolos que narram a origem da nação, seu caráter nacional e regional e que enfatiza a ideia de perpetuação e de tradição, ao ser construída, não leva em conta todos os elementos que contribuíram para sua formação.

No caso da Guerra da Tríplice Aliança, suas abordagens ou mesmo o silêncio que se perpetuou a respeito do tema (por diversos fatores que não são objeto desse trabalho) mostram-nos a necessidade presente de se visitar o passado, passado comum dos povos do Cone Sul, passado que marca inegável momento histórico desses Estados-Nações, na construção de suas identidades nacionais (sempre em negação ao “outro”) e na disputa pelo poder regional, seja na forma de disputas comerciais, na questão da livre navegação dos principais rios, seja nas delimitações geográficas das fronteiras desses países.

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Muito embora o estudo da guerra tenha longa tradição, iniciando-se com Heródoto e Tucídides, há alguns anos é possível verificar um novo incremento nas pesquisas relativas à História Militar no Brasil e nos vizinhos platinos. Por exemplo, importantes pesquisadores têm direcionado seus enfoques para a produção acadêmica nesse sentido, bem como centros de referência têm produzido dissertações e teses nesse campo do saber, como é o caso do Curso de Especialização em História Militar Brasileira da UNIRIO, o Programa de Pós Graduação em História Política da UERJ, a própria Fundação Getúlio Vargas (FGV), a UFMS e a Universidade de Brasília (UnB), entre outras Universidades. Como amostra, também acontece há mais de 10 anos um seminário internacional de História sobre a Guerra da Tríplice Aliança, com pesquisadores dos quatro países, em que a cada ano alterna-se o país-sede do evento. O próprio mercado editorial indica o crescimento do interesse acerca da área. Em razão das aproximações que a própria História como disciplina estabeleceu, principalmente com as Ciências Sociais e com a Antropologia, novas abordagens têm sido aplicadas similarmente à historiografia militar.

No que se refere ao estudo da guerra como fenômeno, é possível reter atenção aos espaços de conflito, nas opções geoestratégicas, na logística, nos recursos tecnológicos, nas relações entre líderes e liderados, nas culturas políticas, imaginários, identidades e sentimentos dos combatentes etc. Enfim, multifacetados enfoques temáticos refinam a produção textual e o debate decorrente.

Atualmente, a história militar procura estudar o acontecimento militar sob uma nova ótica, em que os diversos aspectos relacionados à guerra são integrados em uma compreensão analítica, contrapondo-se a um modelo tradicional que privilegiava o estudo técnico das grandes batalhas, narradas de forma descritiva e memorialista, centrado no culto aos grandes heróis.

Segundo os críticos, a historiografia militar tradicional não concebia o militar e as instituições militares dentro dos contextos social, cultural, psicológico e geográfico. Não eram entendidos como receptores e agentes de transformação social. Desconsiderava ainda o diálogo constante com as correntes de um todo social, sem qualquer problematização. (CASTRO; IZECKSOHN; KRAAY, 2004).

Por isso, a história militar, tal como a história política, foi durante algum tempo marginalizada em função de seu rótulo de história meramente factualista. Não seria justo entender que a história militar foi a única que produziu (ou que deu origem) à história factual; logo não é também correto afirmar que suas mudanças hoje são singulares em relação aos outros campos da história.

Tais renovações metodológicas do conhecimento histórico e, inclusive, da história política e social, estão sendo aplicadas aos estudos militares, o que nos permite renovar as investigações neste campo de saber, resultando em novas produções. Em outras palavras, atualmente os esforços estão voltados para analisar o fenômeno militar sob novas perspectivas, a partir de novos objetos e reflexões. Obviamente, procura-se aprofundar a visão sobre objetos já analisados, levando-se

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em consideração todos os fatores da sociedade e do tempo em que está inserido o objeto de pesquisa.

A partir dessa concepção, as batalhas se tornam um dos objetos (grifo nosso) da história militar. A história militar não se esgota na batalha; e a batalha não perde importância, já que não é possível pensar no soldado e não pensar na batalha, na “guerra” em todas as suas conotações no tempo e espaço (PARENTE, 2006). São objetos da história militar hoje os desdobramentos da guerra nas estruturas sociais, políticas, culturais etc.; os diferentes significados da guerra em diferentes culturas no tempo; a relação do fenômeno militar na organização sócio-cultural; as tradições (símbolos, imagens, canções etc); o estudo das instituições militares; enfim, há um campo fértil para o desenvolvimento de pesquisas. (ALBUQUERQUE JUNIOR, 2007).

O retorno a esse passado comum com um olhar de hoje possibilita relativizá-lo e estudá-relativizá-lo de uma maneira menos superficial, menos maniqueísta, mas, nem por isso, menos apaixonante. E a que se propõe o MERCOSUL? A Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai assinaram, em 26 de março de 1991, o Tratado de Assunção, com vistas a criar o Mercado Comum do Sul.

O objetivo primordial do Tratado de Assunção é a integração dos quatro Estados Partes por meio da livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC), da adoção de uma política comercial comum, da coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais, e da harmonização de legislações nas áreas pertinentes. Em dezembro de 1994, foi aprovado o Protocolo de Ouro Preto, que estabelece a estrutura institucional do MERCOSUL e o dota de personalidade jurídica internacional.

O aperfeiçoamento da união aduaneira é um dos objetivos basilares do MERCOSUL. Como passo importante nessa direção, os Estados Partes concluíram, em 2010, as negociações para a conformação do Código Aduaneiro do MERCOSUL. Visando ao aprofundamento do processo de integração, o tratamento das assimetrias ocupa posição relevante na agenda interna.

O aperfeiçoamento institucional do bloco e o fortalecimento de sua dimensão jurídico-institucional também têm papel fundamental na agenda. Em consonância com esses objetivos, foi aprovado, em 2002, o Protocolo de Olivos para a Solução de Controvérsias entre os Estados-Partes. A partir da aprovação desse Protocolo, foi criado o Tribunal Permanente de Revisão com o objetivo de garantir a correta interpretação, aplicação e cumprimento do conjunto normativo do Bloco. Ainda no âmbito institucional, o Parlamento do MERCOSUL, constituído em dezembro de 2006, representa importante avanço, conferindo maior representatividade e transparência ao processo de integração.

No entanto, ao estudar as ações e preocupações do Ministério das Relações Exteriores percebem-se vários aspectos que não contemplam a dimensão “cultural” ou de “patrimônio cultural”, no sentido de se pensar essa dimensão como um

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possível aspecto dificultador da integração entre os povos, sem esquecer de que quem pensa e executa todas essas políticas públicas de aproximação são homens e mulheres sujeitos e objetos desse “imaginário coletivo comum” a cada sociedade envolvida no processo de integração. No entanto, o próprio Itamaraty revela que:

[...] as relações culturais no campo internacional objetivam proporcionar maior compreensão (grifo nosso) e aproximação entre os povos. No campo da diplomacia, a cultura constitui uma maneira de criar um ambiente propício ao entendimento por meio do intercâmbio de ideias, experiências e patrimônios. (BRASIL, 2016, p. 122).

Inúmeras são as provas que nos possibilitam observar práticas e representações preconceituosas dos países do MERCOSUL, no entanto, cremos que as mais importantes são as reproduzidas em livros didáticos nos diferentes países no conflito.

Sabendo que um assunto de extrema importância no ensino da História de qualquer país é explicar como se deu a formação de sua nacionalidade que perpassa a noção de identidade e de pertencimento, tem-se uma questão fundamental a resolver, pois, como salientamos, a formação desses Estados-Nação do MERCOSUL surge um em negação ao outro…

5 CONSIDERAçÕES FINAIS

No presente artigo procuramos nos amparar principalmente na mais recente produção historiográfica brasileira que busca uma renovação da História Política e sua articulação com a Nova História Cultural. Nesse contexto, buscou-se ampliar a discussão acerca do conflito da Guerra do Paraguai inserindo autores que trabalham conceitos fundamentais para a análise da imagem e do discurso como possibilidade de se refletir sobre uma pretensa comunidade de sentidos existentes no quotidiano das populações desses países, uma espécie de circularidade cultural (GINZBURG, 1987).

A análise dos discursos imagéticos no período de 1864 a 1870, particularmente, a utilização de imagens produzidas em periódicos de época, permitem observar esse conflito sob outro viés, possibilitando assim, uma abordagem do tema “Guerra da Tríplice Aliança” menos comprometida com as vertentes ufanistas ou a chamada revisionista de uma História Militar, evidenciando em última análise práticas e representações existentes até os dias de hoje daquele conflito que marcou a construção da nacionalidade dos países envolvidos.

Como experiência histórica, pode-se observar a formação da União Europeia, em especial o caso da França e da Alemanha, que tinham suas histórias nacionais reproduzidas nos bancos escolares, uma em negação à outra, devido às diferentes

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guerras em que elas, entre si, se envolveram. É preciso lembrar que a Alemanha se unificou, em 1870, após uma guerra que venceu contra a França, isso somado às experiências da 1ª e 2ª Guerra Mundial. De fato, sabe-se que uma das primeiras preocupações desses países foi revisar a história que se reproduzia nos bancos escolares da mocidade, isso nas décadas de 1950 e 1960.

Em nosso caso, em particular, temos no Paraguai o caso mais emblemático: Solano López ultrapassa a figura de um herói militar, para ser uma espécie de símbolo da própria pátria paraguaia e da identidade nacional. Somado a isso, tem-se nos paítem-ses da Tríplice Aliança, Argentina, Brasil e Uruguai, uma forte influência nos livros didáticos da produção do chamado “revisionismo crítico de 1960-1970”, que criticava fortemente a guerra ou em outros casos, o intencional ou não esquecimento do conflito.

Figura 4 - Panteão Nacional dos Heróis – Assunção, Paraguai

Foto: OS AUTORES, 2014.

Acreditamos que o aprofundamento da discussão das dificuldades de integração do Brasil com seus países vizinhos pelo viés da “cultura”, no caso no MERCOSUL, traz uma importante questão ainda pouco estudada.

Nessa perspectiva, procuramos demonstrar assim que, concomitantemente a uma integração de legislação, de logística, econômica ou mesmo política, deve-se compreender como deve-se processou a formação de cada um desdeve-ses povos como integrante de uma nação e como, por intermédio do estudo e da pesquisa, podem ser encontrados “caminhos” teórico-metodológicos, análises que permitam produzir

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explicações contextualizadas e multidisciplinares sobre a formação dos países que compõem o atual MERCOSUL, levando-se em conta conceitos fundamentais do campo dos estudos das ciências humanas que ajudem um melhor entendimento do fato histórico.

Podemos então nos perguntar: por que e para que esse revisitar? Qual seria a utilidade prática (para sermos bem atuais) nesses estudos de uma guerra nesse tão longínquo oitocentos? Devemos comemorar nossas vitórias? Envergonharmo-nos de Envergonharmo-nossas derrotas? Ou o contrário, devemos Envergonharmo-nos envergonhar Envergonharmo-nossas vitórias? Bem, acreditamos que esse olhar menos apologético da história, particularmente, da história militar, possa colocar esses homens e mulheres que viveram e morreram essa grande guerra na sua real dimensão, na sua época, no seu contexto histórico, para que a partir daí, entendendo-os em suas fraquezas, em seus altruísmos, em suas humanidades, em seus “lugares de fala”, através do conhecimento, possamos fazer, todos juntos uma “catarse” intelectual e construir, juntos, um futuro melhor, uma História que não separa, antes, aproxima.

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Recebido em: 10 jun. 2017 Aceito em: 20 dez. 2017

Imagem

Figura 1 – Os aliados (Brasil, Argentina e Uruguai) sendo retratados como animais  (o gato, o cachorro e a raposa) em constantes desavenças e rodeados pela morte e
Figura 2 – A imagem do soldado brasileiro generalizada como negro e escravo:
Figura 3 – López como um assassino sanguinário, imagem fartamente disseminada  nos periódicos brasileiros
Figura 4 - Panteão Nacional dos Heróis – Assunção, Paraguai

Referências

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