ABELHAS E ENSINO SUPERIOR: PERCEPÇÃO DA IMPORTÂNCIA AMBIENTAL, ECONÔMICA E SOCIAL
Renata Valéria Regis de Sousa Gomes1*; Luciana Pereira Damas1; Hadja Lorena Rangel Uchôa Cavalcanti de Menezes Costa1; Janaina Kelli Gomes Arandas1; Maria
Norma Ribeiro1*; 1
Departamento de Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE, Brasil; *(renatav_sousa@hotmail.com)
Recebido em: 26/04/2019 – Aprovado em 23/05/2019 – Publicado em: 12/06/2019 DOI: 10.18677/TreeDimensional_2019B1
RESUMO
O objetivo dessa pesquisa foi verificar a percepção dos alunos dos cursos de graduação das áreas de Ciências Agrárias e Biológicas sobre as abelhas. Considerando as estratégias da Convenção da Diversidade Biológica para o uso e conservação da polinização e dos polinizadores foi elaborado um questionário composto de dez perguntas fechadas, com duas alternativas cada pergunta (sim ou não), relacionadas aos eixos ambiental, social e econômico. Os dados foram submetidos ao teste Qui-quadrado e realizada a análise exploratória multivariada de correspondência múltipla. Com os resultados observou-se que um grande número de discentes dos cinco cursos avaliados não conhece nenhuma espécie de abelha. Há a necessidade de uma maior interação entre a universidade e os produtores. Entre 80% a 100% dos discentes dos cursos avaliados desconhecem o risco de extinção das abelhas, bem como nunca ouviram falar na síndrome do colapso das colônias (CCD). A percepção dos discentes sobre as abelhas está mais voltada para o eixo ecológico, fazendo–se necessário ressaltar a importância econômica e social das abelhas. Bem como sugerir a adequação dos currículos dos cursos, quanto à inserção de uma abordagem interdisciplinar do tema abelhas nas disciplinas, o que certamente colaborará na formação de profissionais melhor preparados para atender as demandas do desenvolvimento sustentável, comtemplando os eixos ambiental, social e econômico.
PALAVRAS-CHAVE: apicultura, conservação, meliponicultura,
BEES AND HIGHER EDUCATION: PERCEPTION OF ENVIRONMENTAL, ECONOMIC AND SOCIAL IMPORTANCE
ABSTRACT
The objective of this research was to verify the students perception of undergraduate courses in the areas of Agrarian and Biological Sciences on the bees. Considering the strategies of the Convention on Biological Diversity for the use and conservation of pollination and pollinators, a questionnaire was composed of ten closed questions,
with two alternatives each question (yes or no) related to the environmental, social and economic axes. The data were submitted to the Chi-square test and multiple exploratory multivariate analysis was performed. With the results it was observed that a large number of students of the five evaluated courses knows no bee species. There is a need for greater interaction between the university and producers. Between 80% and 100% of the students of the evaluated courses do not know the risk of extinction of the bees, nor have they ever heard of the Colony Collapse Syndrome (CCD). The students' perception about bees is more geared towards the ecological axis, making it necessary to emphasize the economic and social importance of the bees. As well as suggesting the adequacy of the curricula of the courses, as to the insertion of an interdisciplinary approach to the subject bees in the disciplines, which will certainly collaborate in the training of professionals better prepared to meet the demands of sustainable development, contemplating the environmental, social and economic axes.
KEYWORDS: beekeeping, meliponiculture, conservation. INTRODUÇÃO
Mundialmente as abelhas encontram-se ameaçadas de extinção por múltiplas e simultâneas causas, sendo que a manutenção dos serviços ecossistêmicos requer a conservação das diversas espécies de abelhas, considerando que seu serviço de polinização é essencial para manutenção e estabilidade da biodiversidade (WINFREE et al., 2018; BLITZER et al., 2016).
As abelhas são fundamentais para a preservação ambiental, manutenção da diversidade biológica e importante polinizadora, seja de espécies de plantas nativas ou na agricultura (KERR et al., 2001; FAO, 2004). E com o desenvolvimento de técnicas de manejo e produção, a criação de abelhas no Brasil passou a ser uma atividade de importância econômica, que vem promovendo a inclusão social do homem do campo (GONÇALVES, 2006).
O modo de uso da terra com a utilização indiscriminada de agrotóxicos e o desmatamento das florestas nativas, são as principais causas da morte massiva das abelhas e pelo seu acelerado processo de desaparecimento (CASTILHOS, 2018; PIRES et al., 2016; SILVA et al., 2014). O que tem gerado grande preocupação por parte das Instituições de Ensino, Pesquisa e Extensão, assim como da Organização das Nações Unidas (ONU), considerando ser o Brasil um país de megabiodiversidade e aquele onde mais se perde diversidade, o que compromete a segurança alimentar, seja na quantidade e/ou qualidade.
A conservação, uso e valorização dos recursos genéticos no Brasil foi um compromisso assumido por todas as organizações governamentais e não governamentais na Convenção da Diversidade Biológica (CDB, 1992), criada por ocasião da Rio92 e outros acordos internacionais (FAO, 2015). E as ações para implementação da Política Nacional de Uso e Conservação da Polinização e dos Polinizadores no âmbito da Política Nacional do Meio Ambiente, devem preconizar as propostas e estratégias aprovadas na 13ª Conferência da Convenção da Diversidade Biológica (COB13, 2016).
Visando contribuir com esses acordos, as Instituições de Ensino e Pesquisa têm juntado esforços para promover estudos que abordem as lacunas no conhecimento sobre a diversidade biológica, cultural, bem como as leis que a regem (VASCONCELOS, 2016; BRASIL, 2015). O que tem mobilizado a comunidade
acadêmica ao estabelecimento de iniciativas com o propósito de desenvolver estratégias de conservação (ZAYED, 2009).
No escopo dessas iniciativas é fundamental que no processo de formação profissional, os currículos acadêmicos auxiliem aos discentes a progredirem no caminho da sustentabilidade (FIEN, 1993). Cabendo a universidade o papel de formadora de cidadãos–profissionais conscientes e atuantes na sociedade (GRAEBIN et al., 2019). Para o qual é necessário se considerar a transversalidade inerente à abordagem, o que refletirá em mudanças de paradigmas (MARCOMIN; SILVA, 2009).
O objetivo dessa pesquisa foi verificar a percepção dos alunos dos cursos de graduação das áreas de Ciências Agrárias e Biológicas sobre as abelhas.
MATERIAL E METÓDOS
Considerando as estratégias da Convenção da Diversidade Biológica para o uso e conservação da polinização e dos polinizadores e dos documentos da FAO relacionados à agricultura e segurança alimentar, surgiram as perguntas: qual a percepção dos discentes dos cursos das ciências agrárias e biológicas sobre as abelhas nos âmbitos ambiental, econômico e social? Há diferenças de percepção entre os alunos que estão iniciando os cursos de graduação e os que estão se formando? Embasado nesses questionamentos, a pesquisa buscou avaliar com uma abordagem quali-quantitativa, com respostas categórica e discreta, a percepção dos sujeitos sobre a importância das abelhas em relação aos eixos ambiental, social e econômico.
A pesquisa foi realizada na Sede da Universidade Federal Rural de Pernambuco, na cidade do Recife-PE, com os discentes das turmas do primeiro e último período da graduação dos cursos de Zootecnia, Agronomia, Medicina Veterinária (M. Veterinária), Ciências Biológicas (C. Biológicas) e Engenharia Florestal (E. Florestal). A coleta dos dados ocorreu no período de maio e junho de 2017 e o número de discentes participantes foi de 211 alunos (quadro 1).
QUADRO 1. Número de discentes entrevistados por curso de graduação e período
que estava cursando.
Curso Período Nº Discentes
Zootecnia Primeiro 24 Zootecnia Último 13 Agronomia Primeiro 27 Agronomia Último 19 C. Biológicas Primeiro 34 C. Biológicas Último 19 E. Florestal Primeiro 11 E. Florestal Último 6 M. Veterinária Primeiro 36 M. Veterinária Último 22 N = 211
Os dados foram coletados por meio de um questionário, elaborado com perguntas relacionadas à criação, causas de ameaça de extinção, doenças,
síndrome do desaparecimento das abelhas (CCD) e, sobre a importância das abelhas e sua relação com a segurança alimentar. Nenhuma atividade de sensibilização a respeito das abelhas foi realizada antes da aplicação do questionário com a finalidade de se obter as possíveis diferenças na percepção dos discentes que estão iniciando um curso de graduação com os que estão concluindo. Foram escolhidos para aplicação do questionário os cursos das áreas de ciências agrárias e biológicas, por eles apresentarem em suas matrizes curriculares, disciplinas relacionadas à conservação de espécies e sobre a produção animal e/ou vegetal.
Foram encaminhadas as coordenações dos cursos um documento com pedido de colaboração e autorização para aplicação do questionário nas turmas, o que assegurou a não identificação dos participantes e o preenchimento do questionário de forma voluntária.
O questionário elaborado e aplicado foi composto de dez perguntas fechadas, com duas alternativas cada pergunta (sim ou não), a saber: 1. Você conhece alguma espécie de abelha? 2.Você conhece alguém que trabalha ou já trabalhou com abelhas? 3.Você acha que as abelhas são importantes ecologicamente? 4.Você acha que as abelhas são importantes economicamente? 5.Você acha que as abelhas têm relação com a produção agrícola de alimentos? 6.Você sabia que as abelhas estão ameaçadas de extinção? 7.Você já ouviu falar em CCD – Síndrome do colapso das colônias? 8.Você acha que tem correlação entre agrotóxico e desaparecimento das abelhas? 9.Você conhece ou já ouviu falar de algum tipo de doença das abelhas? 10.Você acha que as abelhas representam um recurso de importância social e histórica para as populações que com elas convivem e dependem para sua sobrevivência?
Os dados foram tabulados e analisados descritivamente, submetidos ao teste não paramétrico Qui-quadrado para verificar as diferenças entre os períodos dos cursos. E realizada a análise exploratória multivariada de correspondência múltipla, que é uma técnica multivariada apropriada para verificar a associação entre variáveis categóricas. Convencionou-se nomear as questões de QnS e QnN, onde o n refere-se ao número da questão, S a resposta SIM e N a resposta NÃO. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o software Statistica 2009, versão 8.0 e Statistical Analysis (SAS, 1999).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verificou-se que 62,6%(132) dos discentes entrevistados cursavam o primeiro período e 37,4%(79) o último período da graduação. Sendo o percentual de alunos do curso de graduação em Zootecnia 17,6%, Agronomia 21,8%, Ciências Biológicas 25,1%, Engenharia Florestal 8,0% e Medicina Veterinária 27,5% (Tabela 1).
Analisando-se o gráfico de correspondência entre os cursos e os períodos, verificou-se a formação de dois clusters, observando-se no primeiro cluster uma associação entre os cursos e períodos para as respostas SIM e NÃO nas questões Q1, Q2, Q3, Q6, Q7 e Q9. E no segundo cluster verificou-se que a associação entre as questões Q4, Q5, Q8 e Q10 se deu devido a baixa frequência de respostas negativa associadas com a alternativa NÃO (Figura 1, Tabela 1).
As respostas negativas das questões Q1N, Q2N, Q6N, Q7N, Q9N, tiveram frequência alta entre os cursos e períodos, ficando junto com as respostas positivas SIM (Figura 1, Tabela 1). Observou-se que os cursos com maior frequência de
resposta negativa na questão Q1N foram: 62,3% do curso de C. Biológicas, 41,2% E. Florestal, e 55,2% M. Veterinária, declarando os discentes não conhecer nenhuma espécie de abelha. Na questão Q2N, 50% dos discentes do curso de Agronomia, 73,5% C. Biológicas, 88,2% E. Florestal e 60,3% M. Veterinária, responderam não possuir conhecimento de nenhuma pessoa que trabalha ou já trabalhou com abelhas. Na questão Q6N, 43,2% dos discentes do curso de Zootecnia, 45,3% C. Biológicas, 47% E. Florestal e 43,1% M. Veterinária, declararam não saber que as abelhas estão ameaçadas de extinção. Na questão Q7N a frequência acumulada das respostas negativa no curso de graduação em Zootecnia foi de 83,8%, Agronomia 80,4%, C. Biológicas 88,7%, E. Florestal 100% e M. Veterinária 84,5% o que demonstra o alto percentual de discentes que ainda não havia ouvido falar na síndrome do colapso das colônias – CCD. Quanto à questão Q9N, 78,4% dos alunos do curso de Zootecnia, 93,5% Agronomia, 81,1% C. Biológicas, 94,1% E. Florestal e 81% M. Veterinária, declararam não conhecer nenhum tipo de doença das abelhas.
TABELA 1. Frequência das respostas dos discentes as dez (10)
perguntas do questionário (Q) por curso de graduação e período. Período Resposta Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 %Discentes
ZOOTECNIA SIM 15 13 24 23 23 10 1 23 2 24 Primeiro NÃO 9 11 0 1 1 14 23 1 22 0 11,4% (24) SIM 12 12 13 13 13 11 5 13 6 13 Último NÃO 1 1 0 0 0 2 8 0 7 0 6,2% (13) AGRONOMIA SIM 19 11 27 27 27 19 5 25 2 27 Primeiro NÃO 8 16 0 0 0 8 22 2 25 0 12,8% (27) SIM 16 12 19 19 19 14 4 19 1 19 Último NÃO 3 7 0 0 0 5 15 0 18 0 9,0% (19) CIÊNCIAS BIOLÓGICAS SIM 9 6 34 34 32 14 2 32 3 34 Primeiro NÃO 25 28 0 0 2 20 32 2 31 0 16,1% (34) SIM 11 8 19 19 19 15 4 18 7 19 Último NÃO 8 11 0 0 0 4 15 1 12 0 9,0% (19) ENGENHARIA FLORESTAL SIM 5 0 11 11 11 5 0 10 1 11 Primeiro NÃO 6 11 0 0 0 6 11 1 10 0 5,2% (11) SIM 5 2 6 6 6 4 0 6 0 6 Último NÃO 1 4 0 0 0 2 6 0 6 0 2,8% (6) MEDICINA VETERINARIA SIM 15 10 36 35 36 20 7 32 0 32 Primeiro NÃO 21 26 0 1 0 16 29 4 36 4 17,1% (36) SIM 11 13 22 22 22 13 2 20 11 22 Último NÃO 11 9 0 0 0 9 20 2 11 0 10,4% (22)
FIGURA 1. Associação entre as respostas dos
discentes das Ciências Agrárias e Biológicas sobre abelhas. QnS e QnN referem-se: n ao número da questão, S a resposta SIM e N a resposta NÃO.
Avaliando-se as respostas entre os cursos e períodos das questões Q4N, Q5N, Q8N e Q10N, que se referem às respostas NÃO que tiveram baixa frequência, demonstra que os discentes de todos os cursos afirmam que as abelhas são importantes economicamente; que as abelhas têm relação com a produção agrícola de alimentos; que tem correlação entre agrotóxico e desaparecimento das abelhas; e que as abelhas representam um recurso de importância social e histórica para as populações que com elas convivem e dependem para sua sobrevivência. (Figura 1, Tabela 1).
A questão Q3S, que está relacionada à resposta positiva, foi a única que os 100% dos alunos dos cinco cursos, responderam SIM, afirmando que as abelhas são importantes ecologicamente (Tabela 1).
Comparando-se estatisticamente as respostas dos alunos que estão iniciando os cursos de graduação com os que estão se formando, pelo teste Qui-quadrado, observou-se diferenças significativas entre os períodos apenas nas respostas das questões Q1, Q2, Q6 e Q9 (Tabela 2). Sendo a maior frequência de respostas SIM dos discentes do último período nas questões Q1, Q2 e Q6 que está relacionada ao conhecimento de alguma espécie de abelha e de criador, e sobre as abelhas estarem ameaçadas de extinção. Na questão Q9 que era relacionada ao conhecimento de algum tipo de doença de abelha, foi elevada a frequência de respostas NÃO em ambos os períodos, sendo a frequência maior no primeiro período (Tabela 2).
TABELA 2. Frequência das respostas dos discentes e diferenças estatísticas entre
os períodos pelo teste Qui-quadrado.
Período Resposta Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 SIM 63 40 132 130 129 68 15 122 8 128 Primeiro NÃO 69 92 0 2 3 64 117 10 124 4 SIM 55 47 79 79 79 57 15 76 25 79 Último NÃO 24 32 0 0 0 22 64 3 54 0 *P-Value **0,0019 **0,0001 0,4398 0,2716 0,1772 **0,0032 0,1249 0,2693 **0,0001 0,1183 * Teste Qui quadrado; ** Significativo.
A região neotropical apresenta alta diversidade de abelhas com 5000 espécies reconhecidas, incluindo 33 gêneros, sendo a estimativa da riqueza de espécies serem três vezes maior (FREITAS et al., 2009). No Brasil, a fauna de abelhas com registros geográficos nos Estados brasileiro, são de um total de 244 espécies catalogadas, cerca de 89 espécies não descritas, incluídas em 29 gêneros, com uma estimativa de 3000 espécies (PEDRO, 2014). Sendo as abelhas Apis mellifera a espécie mais conhecida (COUTO;COUTO, 2006). Apesar da megabiodiversidade de abelhas, um grande número de discentes dos cinco cursos avaliados, declarou não conhecer nenhuma espécie de abelha.
Apicultura e meliponicultura são atividades que vem crescendo em todo o país, mas verificou-se que os criadores de abelhas ainda são desconhecidos para grande parte dos discentes que preencheram o questionário, o que revela a necessidade de uma maior interação entre a universidade e os produtores. Essa interação poderá gerar uma parceria entre produtores e os órgãos públicos e privados, com a finalidade de conservação das famílias de abelhas que venham a ser encontrado em áreas urbanas ou em locais que ofereçam riscos de acidente, o que evitaria em muitos casos que as famílias de abelhas fossem exterminadas, além de proporcionar o aumento de colmeias povoadas dos apiários e meliponários dos criadores.
Desde 2005 que no mundo todo vem sendo registrado um acentuado declínio dos polinizadores, e com isso surgiu à preocupação em se identificar as causas do desaparecimento das abelhas, sendo esse fenômeno denominado de Colony Collapse Disorder ou Síndrome do Desaparecimento das Abelhas (CCD) (GONÇALVES, 2015). As causas que ameaçam a extinção das abelhas são múltiplas e simultâneas, sendo as mudanças no modo do uso do solo com a utilização dos agrotóxicos e o desmatamento de florestas nativas, uns dos motivos para o acelerado processo de desaparecimento das abelhas (CHAGNON et al. 2015; LOPES et al., 2005). Devido a relevância do tema, é preocupante verificar que de 80% a 100% dos discentes dos cursos avaliados na pesquisa, desconhecem o risco de extinção das abelhas, bem como nunca ouviram falar na síndrome do colapso das colônias (CCD).
Os primeiros relatos de problemas com a sanidade apícola no Brasil ocorreram em meados de 1950, com o surgimento de doenças e pragas como a nosemose, acariose e cria pútrida europeia (EMBRAPA MEIO-NORTE, 2003). Sendo que a falta de programas sanitários que possam controlar apiários e orientar os criadores de abelhas, tem permitido os produtores importarem e introduzirem clandestinamente rainhas de abelhas europeias no País, no intuito de reduzir a defensividade das abelhas africanizadas (DE JONG, 1994). O que pode trazer sérias consequências para a sanidade apícola nacional, por estar sendo desconsiderada a
alta resistência genética das abelhas africanizadas a doenças (GONÇALVES; GRAMACHO, 1999). Além da falta de programas sanitários, foi possível observar nesse estudo, que um percentual acima de 80% dos discentes não conhece nenhum tipo de doença das abelhas, o que certamente deixará uma lacuna na formação do discente, que poderá refletir numa assistência técnica limitada.
Verificou-se nessa pesquisa que a percepção dos discentes das ciências agrárias e biológicas em relação as abelhas esta voltada para o eixo ecológico, fazendo-se necessário ressaltar a importância econômica e social, considerando os diversos produtos produzidos pelas abelhas, como mel, pólen, própolis, geleia real, entre outros. Além da geração de renda com o aluguel de colmeias para realização dos serviços de polinização das culturas agrícolas (SILVA, 2016). Apesar de seu potencial para contribuir substancialmente para a produção agrícola, a polinização por abelhas, até pouco tempo não era parte integrante do planejamento agronômico e uma das principais razões eram as lacunas de conhecimento da contribuição dos polinizadores para o rendimento da produção (LINDSTRÖM et al., 2016). O que sugeri a necessidade de adequação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação para a formação de profissionais que fomentem o desenvolvimento sustentável e a conservação da natureza.
CONCLUSÃO
Verificar a percepção dos alunos dos cursos de graduação das áreas de Ciências Agrárias e Biológicas sobre as abelhas faz emergir a necessidade de adequação nos currículos dos cursos, quanto à inserção de uma abordagem interdisciplinar do tema abelhas nas disciplinas, o que certamente colaborará na formação de profissionais melhor preparados, com foco de visão ampliado para atender as demandas do desenvolvimento sustentável, comtemplando os eixos ambiental, econômico e social.
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