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O papel da poupança externa

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28 DE JANEIRO DE 2010, 08H15

O papel da poupança externa

ANTONIO CORRÊA DE LACERDA

A questão do financiamento do crescimento e do desenvolvimento econômico é uma das mais relevantes para o futuro da economia brasileira. Os investimentos requeridos para melhorar a infraestrutura econômica e social, assim como suportar um crescimento robusto implicam fontes sustentáveis de financiamento de longo prazo. Para sustentar um crescimento de longo prazo seria fundamental elevar o nível de investimentos, a formação bruta de capital fixos, da média atual dos últimos cinco anos de 18% para, pelo menos, 22% do PIB (Produto Interno Bruto).

Historicamente o Brasil sempre complementou as suas necessidades de financiamento com poupança externa, às vezes na forma de investimentos estrangeiros, e outras na forma de divida. A diferença é que no primeiro caso temos um sócio, que compartilha dos riscos, no segundo um credor.

Portanto, não tenho dúvida que a primeira opção é a mais adequada ao desenvolvimento, especialmente se for conduzida de forma a atrair os investimentos que desejamos, ou seja, aqueles voltados para suprir carências, sejam de infraestrutura, ou de portfolio industrial e de serviços não viabilizados internamente. É aí que reside a questão principal que é mais de ordem qualitativa do que quantitativa. Ou seja, a poupança externa deve ter caráter complementar e ser formada por capitais de risco de longo prazo, direcionados aos setores nos quais não há viabilidade econômica interna ou não temos domínio tecnológico.

Para uma corrente de economistas o ideal é gerar poupança interna, que, nesse caso representaria um pré-requisito para o investimento e o crescimento. Ela seria obtida pela contração dos gastos correntes do governo e pela criação de instrumentos de incentivo à poupança das famílias. Essa é uma visão que, especialmente no caso brasileiro, esbarra em problemas estruturais graves, como a concentração de renda, por exemplo. A maior parte das famílias mal ganha o suficiente para sobreviver e qualquer aumento da renda, como tem ocorrido nos últimos cinco anos, tende a ser carreada para o consumo.

Mas, num ponto a preocupação com a geração de "capital caseiro" é pertinente. A dependência de recursos externos torna o país mais vulnerável às variações cíclicas do mercado internacional, fazendo com que a autonomia de crescimento do país seja afetada toda vez que surgem crises e/ou movimentos especulativos. Portanto, corroboro da visão de que o Brasil deve evitar déficits nas transações correntes do balanço de pagamentos.

A outra vertente, considera que a poupança é gerada no processo econômico, portanto não é um pré-requisito. Um cenário promissor e a disponibilidade de fontes de financiamento seriam impulsionadores das decisões de investir, gerando produção, emprego e renda, sendo a poupança gerada em consequência.

A segunda visão me parece mais adequada ao caso brasileiro, pois não podemos nos dar ao luxo de abrir mão do crescimento, ou dos programas sociais, por exemplo, para acumular poupança para financiar um possível salto futuro. Ou seja, temos que continuar a utilizar os instrumentos de fomento ao financiamento e paralelamente crescer e ir criando condições de gerar mais poupança interna.

Quanto à poupança externa, ela deve ser qualitativamente viabilizada, primeiro porque não temos condições de financiarmos com as próprias pernas; e, segundo, porque podemos ter o privilegio da escolha e atrair investidores para desenvolver projetos naquelas áreas que demandem mais investimentos.

Fonte:

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14 DE DEZEMBRO 2015. ALTERADA ÀS 21H53MIN

Déficit em conta-corrente deve cair em 2016

JORNAL DO COMÉRCIO

No fim de 2014, uma das preocupações dos economistas era de que o Brasil viveria, em 2015, o problema dos déficits gêmeos, ou seja, rombos perigosos nas contas externas e internas. O que ninguém contava, no entanto, é que o câmbio se desvalorizaria cerca de 40% neste ano. E este é um dos principais fatores que explica a brusca retração no déficit em conta-corrente em 2015 e nas projeções para 2016, tendo em vista o impacto que a valorização do dólar tem na redução das importações.

Após o déficit de US$ 104,08 bilhões em 2014 - que foi o recorde desde o início da série histórica, em 1947 -, as projeções da Focus apontam para um rombo de US$ 64,40 bilhões, neste ano, e de US$ 39,68 bilhões em 2016 - o menor nível desde 2009.

"O Brasil ficou 10, 11 anos com o consumo doméstico crescendo acima do PIB, então é óbvio que haveria uma expansão do déficit em conta-corrente. Agora, vemos uma reversão brusca desse consumo desmedido", aponta o economista Bruno Lavieri, da 4E Consultoria. Ele afirma que a redução deste rombo representa a diminuição de um fator de risco. Mas lembra que o déficit em conta-corrente nunca foi um grande problema, já que era financiado, em boa parte, pelo Investimento Estrangeiro no País (IDP, ex-IED).

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, diz que o déficit em conta-corrente é uma característica clássica dos países desenvolvidos, que consomem mais do que produzem. No caso dos emergentes, para analisar se o déficit é bom ou não, é preciso verificar a origem desse saldo. "Se o país tem uma balança comercial deficitária e uma balança de rendas e serviços também deficitária, isso pode até ser bom, pois indicaria um aumento da negociação com os mercados internacionais. Hoje, o déficit está caindo em termos absolutos, mas porque as importações estão perdendo muito terreno. Eu não gosto desse quadro", diz.

Agostini lembra que a redução no déficit em transações correntes, por um lado, significa que não há risco na questão da solvência em moeda estrangeira. "Quando se tem uma crise nas contas externas, ou você queima reservas internacionais ou ocorre uma desvalorização da moeda. E é importante que parte desse ajuste seja feita pela moeda, pois melhora a competitividade via preço e protege o capital de curto prazo."

A Austin projeta que o déficit em conta-corrente deve passar de 3,3%, do PIB deste ano, para 3,7% em 2016. Apesar da redução do rombo em valores absolutos, o tamanho da economia brasileira também está caindo fortemente, especialmente o PIB em dólares. A 4E estima déficit de 3,9%, neste ano, e 3,5% no próximo. Já o Credit Suisse disse que o saldo em relação ao PIB deve ficar em zero em 2016, de -3,3% em 2015. "Pela primeira vez desde 2007, o resultado não será deficitário. Como aconteceu no começo da década passada, a melhora na balança comercial será a principal justificativa para a rápida reversão na conta-corrente, já que serviços e renda são mais rígidos", diz o banco suíço.

O ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira tem uma visão bastante crítica do déficit em conta-corrente. Para ele, esse rombo reflete uma taxa de câmbio apreciada e se constitui em um mal maior a que países em desenvolvimento se submetem. "A minha visão é diametralmente oposta à posição corrente, de que o déficit seria uma coisa boa, uma forma de absorver poupança externa", afirma.

Na visão do economista, essa "poupança externa" não é usada para financiar investimentos, e sim consumo. Bresser argumenta que há uma elevada taxa de substituição da poupança interna pela externa.

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apenas 0,1%. Isso confirma solenemente minha tese, porque tudo foi para consumo. Se tivesse ido para investimento, o PIB teria crescido."

Bresser acredita que a queda no déficit externo reflete um ajuste mais importante do que o fiscal: o ajuste nos preços relativos, que tornou as exportações brasileiras mais competitivas. Ele acredita que o Brasil deveria ter um resultado zerado nas transações correntes, que refletiria a taxa de câmbio no patamar chamado de "equilíbrio industrial", calculado por ele atualmente em torno de R$ 3,80.

Fonte:

http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2015/12/economia/472073-deficit-em-conta-corrente-em-2016-deve-cair.html

17 DE DEZEMBRO DE 2017 02H00

Novo desenvolvimentismo é resposta para a crise, escreve Bresser Pereira

(adaptado)

FOLHA DE SÃO PAULO

Depois de três anos de dura recessão, a economia brasileira vai aos poucos saindo da crise. Isso não significa, porém, que retome o desenvolvimento e volte a seguir a rasto dos países ricos. É que ainda não se resolveram as causas fundamentais do baixo crescimento desde que, em 1994, a inflação foi controlada. Essas causas são. essencialmente a armadilha de juros altos e taxa de câmbio apreciada (real valorizado diante do dólar), que estimula o consumo em vez do investimento na Indústria.

Muita gente pensa que a taxa de câmbio só é importante para determinar importações e exportações, mas ela é fundamental para a inflação e, segundo o novo desenvolvimentismo, também determina investimento e poupança e, assim, o desenvolvimento econômico.

Uma taxa de câmbio apreciada no longo prazo torna a indústria do país não competitiva e desestimula seus investimentos, tornando-se um obstáculo ao crescimento. Além disso, o correspondente déficit em conta corrente acaba levando o país à crise de balanço de pagamentos. Não obstante, a grande maioria dos economistas não dá a importância devida aos déficit em conta corrente.

Uma teoria é boa se, além de verdadeira, for contra intuitiva. Repetir o senso comum não é fazer ciência. A macroeconomia novo-desenvolvimentista parte de um princípio contra intuitivo: países de renda média como o Brasil não precisam de capitais externos. Déficit em conta corrente, necessariamente financiados por recursos externos, dificultam o desenvolvimento econômico, em vez de promove-lo.

O argumento a favor do endividamento externo é o de que déficit em conta corrente é poupança externa, e de que a poupança externa e a poupança interna são iguais à poupança total, que sempre é igual ao investimento.

Esse, porém, é um raciocínio de contador, baseado em identidades, não de economista, que pensa em termos de relações de causa e efeito. Quando o país entra em déficit em conta corrente, (1) sua taxa de câmbio se aprecia, (2) os rendimentos do trabalho (salários) e do capital (juros, aluguéis e dividendos) aumentam em termos reais, (3) os lucros dos empresários caem e, assim, (4) empresas são desestimuladas de investir, enquanto trabalhadores e rentistas são estimulados a consumir.

Dessa forma, a entrada no país dos recursos externos resulta na substituição da poupança interna pela externa, que geralmente é alta. Ela só não é alta nos raros momentos em que o país já está crescendo muito fortemente, as oportunidades de investimento aumentam e a propensão a investir se eleva. A última vez que isso aconteceu no Brasil foi no "milagre" de 1968-1973.

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a taxa de câmbio que torna competitivas as empresas industriais competentes, de R$ 4 por dólar, corresponde a um superávit em conta corrente de 1% do PIB. Nesse mesmo país, um déficit em conta corrente de 4% do PIB corresponde a uma taxa de câmbio mais apreciada, de R$ 2,80 por dólar.

Quando o governo decide tentar crescer com poupança externa e, portanto, incorrer em déficit em conta corrente, ele toma uma decisão auto derrotante, porque o aumento do déficit em conta corrente implica uma taxa de câmbio apreciada no longo prazo, que transforma empresas competitivas do ponto de vista tecnológico (usam a melhor tecnologia disponível) em empresas não competitivas do ponto de vista monetário. Ao tomar essa decisão ou ao se acomodar com um déficit em conta corrente consumista, o governo está incorrendo em populismo cambial —o país está incorrendo em déficit em conta corrente que apenas atrasam seu desenvolvimento.

No nosso exemplo, a taxa de câmbio que equilibra ou zera a conta corrente (R$ 3,30 por dólar) é a taxa de câmbio "de equilíbrio corrente". Por que a taxa de câmbio competitiva ou "de equilíbrio industrial" é diferente, flutuando em torno de R$ 4 por dólar? Porque nesse país há a doença holandesa, que, nesse momento, é de R$ 0,70 por dólar (a diferença entre equilíbrio industrial e corrente).

A doença holandesa é uma sobre apreciação de longo prazo da taxa de câmbio de um país causada pela exportação de commodities que, devido a vantagens competitivas, podem ser vendidas com lucro a uma taxa de câmbio substancialmente mais apreciada do que aquela que torna competitivas as empresas industriais que utilizam tecnologia no estado da arte.

Neutralizar a doença holandesa é elevar o equilíbrio corrente até que se iguale ao industrial. Como o equilíbrio industrial é menos valorizado que o corrente, isso significa que, para neutralizar a doença holandesa e garantir competitividade para suas boas empresas, o país terá necessariamente um superávit em conta corrente. Os dois equilíbrios variam no tempo. Basta aqui saber que o equilíbrio industrial varia principalmente com o aumento da produtividade e o aumento dos salários na indústria, ao passo que o equilíbrio corrente varia mais de acordo com o preço das commodities.

Segundo a macroeconomia novo-desenvolvimentista, nos países em desenvolvimento, sobretudo naqueles com doença holandesa, existe uma tendência à sobre apreciação cíclica e crônica da taxa de câmbio, de maneira que a economia vai de crise em crise financeira, entremeadas por períodos longos de sobre apreciação cambial. Os picos correspondem a crises financeiras, nas quais a taxa de câmbio se deprecia fortemente.

No nosso exemplo, isso aconteceu em 2002 e 2014, quando a taxa de câmbio se tornou por um breve período mais alta do que o equilíbrio industrial. Depois, a taxa de câmbio volta a se apreciar, cruza o equilíbrio industrial, cruza o equilíbrio corrente, entra na área do déficit em conta corrente (a área entre a taxa de câmbio e o equilíbrio corrente) e afinal se estabiliza por alguns anos em um piso que, mesmo para as commodities, não é bom, mas é suficiente para manter as exportações.

São duas as causas que levam a taxa de câmbio a novamente se apreciar depois da crise: a doença holandesa e taxas de juros muito altas. Vimos que a doença holandesa "puxa" a taxa de câmbio só até o equilíbrio corrente. O que explica que ela continue a cair é a taxa de juros alta, que atrai capitais externos. Afinal, a taxa de câmbio atinge o referido piso, no qual permanece alguns anos, e o resultado é desindustrialização e quase estagnação.

Enquanto a taxa de câmbio continua flutuando em torno do piso, os déficit em conta corrente, incorridos ano a ano, vão aumentando o endividamento em moeda estrangeira das empresas e, portanto, do país. Como o regime é de câmbio flutuante, os déficit deveriam causar a depreciação da moeda do país, mas isso não acontece porque se forma uma bolha de crédito.

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endividadas, ficam sem crédito e suspendem os investimentos e, assim, a crise financeira se instaura e encerra o ciclo cambial.

No último ciclo de câmbio no Brasil, a taxa de câmbio permaneceu valorizada por sete anos, de 2007 a 2014, período em que flutuou em torno de R$ 2,80 por dólar. Nesse caso, o empresário, ao fazer seus cálculos de investimento, considera essa taxa de câmbio, verifica que com ela não será competitivo, embora use a melhor tecnologia disponível, e não investe.

A teoria, portanto, é simples. Explica que países em desenvolvimento crescem pouco porque enfrentam grande desvantagem competitiva: uma taxa de câmbio apreciada no longo prazo. Em consequência, não conseguem se industrializar, ou então já se industrializaram, mas depois foram convencidos pela ortodoxia liberal a desmontar os mecanismos que realizavam essa neutralização (altas tarifas de importação e subsídio à exportação de manufaturados) e se desindustrializaram, como é o caso do Brasil.

Fonte:

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