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A RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS SOB A ÓTICA DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL | Anais do Congresso Rondoniense de Carreiras Jurídicas - ISSN 2526-8678

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Anais do I Congresso Rondoniense de Carreiras Jurídicas Porto Velho/RO 29 e 30 de novembro de 2016 P. 121 a 143 A RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS SOB A ÓTICA DO

NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Maria Carolina Magalhães dos Santos1 Carina Gassen Martins Clemes2 Vinicius Silva Lemos3

RESUMO

O presente artigo tem o escopo de demonstrar as alterações implementadas pela Lei 11.105/15 em relação aos recursos, mais especificamente a recorribilidade das decisões interlocutórias. Assim, o novo diploma legal adotou um sistema dúplice de recorribilidade, o qual só comportará agravo de instrumento de forma imediata se a situação estiver delineada no rol taxativo do art. 1015 CPC ou em lei extravagante enquanto as demais deverão aguardar a prolação da sentença para poderem ser impugnadas. Dessa forma, tendo em vista os reflexos, os prejuízos de uma impugnação tardia, será demonstrada, também a tendência da aplicação da interpretação extensiva como método de ampliação desse rol taxativo.

Palavras-chaves: Novo Código de Processo Civil. Agravo de Instrumento. Rol

Taxativo. Interpretação Extensiva.

ABSTRACT

This article intend to demonstrate the changes in the appeal due to Law 11.105/15, specifically the resources in interlocutory decisions. Therefore, the new law adopt a double resource method, admitting the interlocutory appeal in immediate form only if the situation was described in the numerus clausus of section 1015 of CPC (Code of Civil Procedure) or in extraordinary law, while other situations must wait for the sentence to be attacked in a appeal. By this, the reflection of the law in its prejudice in late resource, also will be demonstrated the tendency in aplicate the extensive interpretation as a way to expand this numerus clausus.

1

Acadêmica do curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. E-mail: mmcarolsantos@gmail.com

2

Docente da disciplina de Direito Processual Civil do Curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. Orientadora do presente artigo. E-mail: carinaclemes@yahoo.com.br

3

Docente e especialista em Processo Civil e co-orientador do presente Artigo. E-mail: viniciuslemos@lemosadvocacia.adv.br

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Keywords: New Code of Civil Procedure. Interlocutory appeal. Numerus clausus

Extensive Interpretation.

INTRODUÇÃO

Após inúmeros debates ocorridos no Congresso Nacional, o Novo Código de Processo Civil que foi sancionado e no dia 18 de Março de 2016 passou a ter vigência no atual ordenamento jurídico. Com várias alterações, o diploma legal diminuiu consideravelmente o formalismo processual para garantir aos litigantes o julgamento do mérito de forma célere e, por consequência, desafogar o judiciário.

Devido às alterações e aos novos institutos inseridos com a Lei 13.105/2015, o estudo do direito processual civil ganhou ainda mais relevância para os acadêmicos, bem como para os profissionais da área jurídica em geral, pois, afetará consideravelmente todo o cotidiano forense.

No âmbito recursal, uma das matérias que mais sofreu alterações foi o regime dos agravos, pois a Comissão de Juristas responsável pelo projeto de lei à época buscou uma solução para o excessivo volume de Agravos de Instrumento, que diante da livre recorribilidade das interlocutórias, congestionava os tribunais federais e estaduais.

Com a vigência da referida Lei o Agravo Retido não foi recepcionado e a interposição imediata de Agravo de Instrumento somente será cabível nas situações previstas no rol taxativo do art. 1.015 CPC/15, sob pena de preclusão. Enquanto as demais deverão aguardar a prolação da sentença para serem impugnadas em preliminar de apelação, já que não se sujeitam à imediata preclusão.

Tendo em vista os reflexos, os prejuízos de uma impugnação tardia das decisões interlocutórias a melhor doutrina estuda a possibilidade de utilização da interpretação extensiva para ampliar as hipóteses do art. 1015 CPC, como será abordado ao longo do presente artigo.

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123 1. BREVE HISTÓRICO

A recorribilidade das decisões interlocutórias sempre foi uma problemática para o ordenamento jurídico brasileiro desde as legislações portuguesas até os dias atuais. Na história do direito processual civil é possível vislumbrar variações acerca da admissão de recurso contra as interlocutórias que em alguns períodos se admitia e em outros não.

Antes do reinado de D. Afonso IV, a impugnação das interlocutórias era realizada livremente através do recurso de apelação com a remessa do processo a grau superior, o qual devido às idas e vindas que ocorriam durante a persecução processual inviabilizava o andamento normal do feito e, consequentemente o provimento final almejado.

Para tentar reduzir os efeitos indesejáveis dos excessos de recorribilidade, no reinado de D. Afonso IV, no século XVI, as decisões interlocutórias deixaram de ser recorríveis indiscriminadamente e passaram a ser limitadas a raras situações descritas pelo rei, as quais passaram a ser classificadas em recorríveis e irrecorríveis. “Não podendo apelar para que o processo subisse à instância superior, as partes reclamavam, fora dos autos, ao rei, a quem pediam a cassação das interlocutórias que lhes causavam agravo (i.e. prejuízo)”. (THEODORO, 2015). Desde então, passou a ser impugnado via agravo o que não era permitido impugnar pela apelação.

Em 1456, no reinado de D. Afonso V, foram promulgadas as ordenações Afonsinas que nas palavras de Humberto Theodoro Júnior (2015) a sistemática era a seguinte:

Nas ordenações Afonsinas, apenas se admitia apelação contra interlocutórias que extinguissem o processo e impedissem o julgamento de mérito (situação que modernamente se designa como sentença terminativa, e que hoje se submete, como outrora ao recurso de apelação) (Ord.,Liv. III, Tit. 72, §5º). As decisões terminativas só eram recorríveis quando causassem “dano irreparável”. (THEODORO, 2015).

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A partir do instituto mencionado, passou a existir também a figura da retratação do juiz, o qual lhe era autorizado revogar / revisar sua sentença interlocutória desde que antes de proferir a sentença definitiva.

Com as ordenações manuelinas, promulgadas em 1514, por D. Manuel I, os provimentos judiciais passaram a ser divididos em três espécies: “sentenças interlocutórias, sentenças interlocutórias mistas e as definitivas”. (LEMOS, 2016, p. 26). Assim, para Tereza Wambier:

Das definitivas e das interlocutórias mistas podia caber apelação (se proferida pelo juiz de primeiro grau) ou suplicação (=agravo ordinário) se fossem proferidas por autoridade hierarquicamente superior. Da sentença interlocutória cabia agravo, que podia ser de instrumento ou de petição. Cabia este ou aquele conforme critério territorial, que era o da distância entre os juízos “a quo” e “ad quem”. Sendo de menos de cinco léguas o agravo seria de petição; maior distância seria de instrumento”(LEMOS, 2016, p.26 apud WAMBIER, 1996, p. 33).

Nas ordenações manuelinas concebeu-se o agravo nos próprios autos, que era aquele cabível somente da decisão interlocutória que não recebia a apelação pelo juízo de primeiro grau (LEMOS 2016). Ressalta-se que esse método de impugnação era quase inutilizável, pois, o rol das interlocutórias era taxativo, sendo previsto em ordenamentos futuros.

Apesar de manter a mesma sistemática do ordenamento anterior em relação aos agravos e seus meios de impugnação, foi somente nas ordenações filipinas, em 1603, que houve a estabilidade dessa disciplina que instituiu, em suas ordenações, o agravo no auto do processo, agravo de instrumento e o de petição:

O agravo de petição e o de instrumento eram, de certa forma, o mesmo agravo, com diversas hipóteses delineadas, quase sempre em situações que eram muito importantes ou que tinham declarada urgência, diante de um rol taxativo. A diferença, como já vimos nas ordenações manuelinas, era somente a distancia do foro e da interposição – cinco léguas – para se saber qual seria o formato. Contudo, as hipóteses de cabimento eram as mesmas, somente com interposições diferentes. Já o agravo no auto do processo era aquele que atacava as sentenças meramente interlocutórias, sem encerrar o processo e para propiciar o efeito regressivo. (LEMOS, 2016, p. 30).

Após a independência, em 1832, houve a extinção da recorribilidade das interlocutórias via agravo de instrumento ou de petição, “no qual o próprio juiz que

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prolatou a decisão interlocutória que tinha o dever de análise recursal, no primeiro momento” (LEMOS, 2016 apud CAMPOS, 1980, p. 210).

Todavia, após nove anos em vigor, a disposição que extinguia a recorribilidade das interlocutórias foi revogada e mais uma vez passou-se a adotar a sistemática prevista nas ordenações Filipinas citadas acima.

Já no Código de Processo Civil brasileiro de 1939 continuava a existir as três espécies de agravos descritas nas ordenações filipinas, mas neste ordenamento a diferença entre o agravo de petição e instrumento deixou de ser a distância e a forma de interposição, bem como o agravo, nos próprios autos deixou de ser o recurso cabível as sentenças interlocutórias que não encerravam o processo. Dessa maneira, os três agravos passaram a ter as seguintes funções:

O agravo de petição era o recurso cabível contra as sentenças que extinguiam o processo sem resolução do mérito (se o processo fosse extinto com resolução do mérito, cabia apelação contra a sentença).

Já o agravo de instrumento era o recurso cabível contra as decisões interlocutórias expressamente indicadas, significando dizer que não era qualquer decisão interlocutória que poderia ser alvo de agravo de instrumento, mas apenas aquelas expressamente discriminadas no art. 842 do CPC-1939 ou em dispositivo de lei extravagante.

Por sua vez, o agravo no auto do processo destinava-se a evitar a preclusão de certas decisões, tais como as que rejeitassem as “exceções” de litispendência ou de coisa julgada, decisões que não admitissem a prova requerida ou cerceassem, de qualquer forma, a defesa do interessado e etc (LEMOS, 2016, p. 32-33).

Entretanto, com a limitação imposta pelo legislador à recorribilidade das decisões interlocutoras, os litigantes passaram a buscar outros meios de impugnação que pudessem garantir o efeito suspensivo do recurso que faltava a essa espécie de agravo e o meio utilizado foi o mandado de segurança e/ou correição parcial, pratica esta que levou o abarrotamento de agravos de instrumento e mandados de segurança nos tribunais.

Tendo em vista o cenário mencionado acima, o legislador, ao editar o CPC de 1973, inovou e implementou diversas mudanças em relação ao ordenamento anterior e, a partir desse período o agravo de instrumento passou a ser cabível contra qualquer decisão interlocutória. Mas também houve a extinção do agravo de

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petição e toda e qualquer sentença, extinguindo ou não o processo, passou a ser atacada por apelação.

Diante de diversas complicações advindas da interposição e andamento do agravo de instrumento, que na prática “era penosa, lenta e onerosa, de modo que o resultado era o tumulto e a paralisação de fato da sequência processual” (THEODORO, 2015), o CPC passou por diversas reformas a fim de desafogar os tribunais e garantir o andamento normal da marcha processual.

Assim, as reformas foram as seguintes:

Lei nº 9.139/1995: o recurso agravo de instrumento passou a ter denominação genérica de “agravo”, o qual passou a ter duas modalidades: agravo de instrumento e agravo retido. Este passou a ser interposto diretamente ao tribunal e não mais em primeira instância. O relator passou a poder conceder o efeito suspensivo, desde que configuradas as hipóteses descritas no art. 558 CPC-73, que, não era concedido na sistemática originária do código, dentre outras alterações.

Conforme Fredie Didier (2015, p. 204), as reformas concebidas pela Lei nº 10.352/2001:

Estabeleceu hipóteses em que o agravo retido haveria de ser obrigatório: quando interposta das decisões proferidas em audiência de instrução e julgamento e das posteriores à sentença, salvo nos casos de dano de difícil e de incerta reparação, nos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação fosse recebida.

Quanto ao agravo de instrumento, introduziu-se três regras: obrigatoriedade da petição que informava ao juiz de primeira instância a interposição do agravo no tribunal; o processamento e a conversão em agravo retido e , por fim a antecipação da tutela recursal. (DIDIER, 2015, p. 204).

Por conseguinte, houve a Lei 11.187/2005 em que o legislador passou a considerar como regra o agravo retido e, passou a dispor que o recurso de agravo de instrumento seria cabível quando se tratasse de decisão suscetível de causar à parte lesão grave ou de difícil reparação; nos casos de inadmissão da apelação e; nos relativos aos efeitos em que a apelação fosse recebida; na liquidação de sentença e na execução. Entretanto, se tal recurso fosse interposto fora das hipóteses mencionadas o relator era autorizado a convertê-lo em agravo retido.

Já no ordenamento vigente, CPC-15, o agravo retido foi excluído e voltou-se a estabelecer um rol de decisões sujeitas a agravo de instrumento. Dessa maneira,

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somente são agraváveis as decisões descritas no rol taxativo do art. 1015 NCPC e nos casos previstos em lei. |Enquanto as demais decisões passaram a ser impugnadas após a sentença por meio do recurso de apelação.

Portanto, ao longo do desenvolvimento processual, a disciplina das decisões interlocutórias sempre se mostrou como um grande desafio para os legisladores em cada uma das épocas mencionadas acima, pois, sempre houve uma grande dificuldade em equacioná-las, ou seja, quando a recorribilidade não era tão restritiva era muito ampla, dificuldade esta que perdura até os dias atuas com o Novo Código de Processo Civil.

2. CONCEITO DE DECISÃO INTERLOCUTÓRIA DIANTE DO NOVO CPC

Antes de adentrar no conceito de decisão interlocutória é necessário mencionar que o código de processo civil de 2015 manteve a classificação tripartida em relação aos atos do juiz que são: sentenças, decisões interlocutórias e despachos previstos no art. 203 CPC-15.

Sob a égide do CPC de 73 a definição dos despachos sempre foi muito tranquila e clara tanto para a doutrina como para os tribunais, mas havia certa dificuldade em classificar um ato como sentença ou decisão interlocutória, conforme menção abaixo:

Segundo o art. 162,§1º: Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta lei. Não era fácil enquadrar alguns pronunciamentos como sentença ou decisão interlocutória. Divergiam tanto a doutrina como os tribunais. Havia quem entendesse, por exemplo, que o pronunciamento que exclui uma das partes do polo passivo da demanda extinguindo o processo em relação a ela, teria natureza jurídica de sentença terminativa, sendo recorrível via apelação e não por agravo de instrumento. Havia ainda quem entendesse ser esse pronunciamento uma sentença, mas contraditoriamente, afirmasse ser o recurso cabível o agravo de instrumento, uma vez que o recurso de apelação não permitia a subida do instrumento, mas sim dos próprios autos, o que obstaria o regular prosseguimento do procedimento na parte não atingida pela decisão recorrida. (SOUZA, 2015).

Dessa maneira, pode-se concluir que houve a adoção de um sistema misto em relação ao regime de agravo de instrumento com o advento do NCPC. A respeito tem-se:

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Interlocutórias que versem sobre o mérito da causa são, de rigor, „sentenças‟ parciais, que não são sentenças, à luz do NCPC, porque este código elegeu dois critérios para identificar as sentenças: o seu conteúdo (arts. 490 e 491) e a função de por fim à fase de cognição do procedimento comum (v. arts. 203, 204 e 205). O segundo critério não autoriza que se fale, neste caso [decisões interlocutórias que se resolveram em parte o mérito do processo], em sentença. (SANTOS, 2015 apud WAMBIER, 2015, p. 1455).

Diante do exposto, registra-se que o novo código procurou solucionar o conflito entre os conceitos de sentença e decisão interlocutória, adotando o critério cronológico ontológico:

A adoção desse critério, por sua vez, traz consigo a operacionalidade recursal própria do critério cronológico, dada a facilidade de se identificar em qual categoria o ato judicial a ser analisado se enquadra e, consequentemente, o recurso cabível a ser eventualmente interposto – se sentença, apelação (art. 1.009 do CPC/15); se decisão interlocutória, agravo de instrumento ou recorribilidade conjunta em preliminar de apelação (arts. 1009, §1º, e 1.015 do CPC/15), se despacho, seria irrecorrível (art. 1.001 do CPC/15).

Por outro lado, a nova disciplina legislativa buscou evitar os problemas da adoção pura e simples do critério cronológico, conjugando-os com os benefícios do critério ontológico. Isto é, em determinados institutos, tradicionalmente vinculados à categoria de sentença, o novo código de Processo Civil optou por utilizar como critério distintivo o conteúdo do ato decisório, se de mérito ou não, pouco importando se o ato judicial for sentença ou decisão interlocutória. (SANTOS, 2015).

Assim, tendo em vista o exposto acima, decisão interlocutória no NCPC pode ser conceituada como todo pronunciamento judicial com conteúdo decisório que não põe fim a fase cognitiva do procedimento e nem a execução, ao passo que sentença é o pronunciamento judicial com ou sem resolução do mérito proferido pelo magistrado que põe fim a fase cognitiva do procedimento comum e a execução.

Logo, a definição de sentença é vista sob o aspecto do momento processual em que é prolatada e sob o aspecto do conteúdo. A partir disso, a definição de decisão interlocutória passou a ser por exclusão de „efeito‟ extensivo, uma vez que, só será considerada sentença se no provimento judicial houver os dois aspectos já mencionados anteriormente (conceito de efeito restritivo) e diante disso as

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interlocutórias passaram a não estarem vinculadas as questões incidentes resolvidas no curso processual.

2.3. AS ESPÉCIES DE DECISÕES PROPOSTAS NO NCPC NA FASE DE CONHECIMENTO

Apesar das inúmeras mudanças ocorridas na sistemática recursal, o regime de Agravo de Instrumento foi o que mais sofreu alterações, pois, com o advento da Lei 13.105/15 nem todas as decisões interlocutórias serão agraváveis de imediato, uma vez que as possibilidades de cabimento do referido recurso está adstrito a um rol taxativo, disposto no art. 1.015 NCPC:

Art. 1.015 NCPC – Cabe Agravo de Instrumento contras as decisões interlocutórias que versarem sobre:

I. Tutelas Provisórias; II. Mérito do Processo;

III. Rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica, V. Rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;

VI. Exibição ou posse de documento ou coisa; VII. Exclusão de litisconsorte;

VIII. Rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio, IX. Admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X. Concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;

XI. Redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, §1º;

XII. Vetado;

XIII. Outros casos expressamente referidos em lei (BRASIL, 2015).

Neste sentido, Tereza Wambier esclarece cada hipótese (SILVA, 2015 apud WAMBIER, 2015, p 1453-1456):

I - Tutelas Provisórias – são as decisões proferidas pelo juiz de 1.° grau, com base em cognição ainda incompleta (fumus boni

iuris), co m vistas a tutelar o direito cuja realização, no mundo dos

fatos, corre risco ou prevenir o agravamento indevido do dano (urgência) ou conceder, desde logo, a tutela (ainda que provisoriamente) de direito que se revela desde logo (quase) evidente.

II - Interlocutórias que versam sobre o mérito da causa são, de rigor, „sentenças ‟parciais, que não são sentenças, à luz do

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NCPC, porque este Código elegeu dois critérios para identificar sentenças: o seu conteúdo (arts. 490 e 491) e a função de por fim à fase de cognição do procedimento comum.

III – Trata-se, aqui, da situação em que o réu alega haver convenção arbitral –cláusula ou compromisso – que obriga ao autor (assim como a ele, réu) a resolver aquela controvérsia perante árbitro (ou painel arbitral) e não perante o Poder Judiciário.

IV – A decisão que põe fim ao procedimento incidental de desconsideração da pessoa jurídica (art. 136) que comporta contraditório e produção de provas, em respeito ao preceito constitucional de que ninguém será privado de seus bens sem antes ser ouvido, também está sujeita a agravo de instrumento.

V – Rejeição do pedido de gratuidade da justiça, ou revogação de anterior acolhimento. No direito brasileiro atual, para que se obtenha a gratuidade da justiça é necessário que as pessoas, físicas ou jurídicas sem fins lucrativos, façam a afirmação no sentido de que não têm recursos para custear o processo.

VI – A decisão que determina que certo documento seja entregue, ou seja, exibido, quer em relação à própria parte, quer em relação a terceiro.

VII – A decisão que exclui litisconsorte, que sempre consideramos ser sentença, porque põe fim à relação processual que existe entre o litisconsorte excluído e o resto dos sujeitos do processo. No entanto, à luz da nova lei, como prossegue o procedimento, embora se extinga a relação jurídico-processual antes mencionada, apesar de a hipótese estar abrangida pelo art. 485, VI, a decisão é interlocutória.

VIII – Rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio. Trata-se de proporciona ao Tribunal a possibilidade de checar Trata-se o juiz levou em conta parâmetros adequados para limitar o número de autores e/ou de réus.

IX – Decisão que admite pedido de intervenção como assistente, simples ou litisconsorcial, de denunciação à lide, de chamamento ao processo, de desconsideração da pessoa jurídica e de intervenção como amicus curiae, é,também, agravável de instrumento.

X – Este inciso de rigor seria até desnecessário, pois se trata de medida virtualmente abrangida pelo inciso I.

XI – Quando comentamos o art. 373, § 1°, dissemos em que condições pode haver alteração da regra geral de distribuição do ônus da prova.

XIII – Outros casos sobre os quais a lei disponha expressamente. Este artigo não exaure as hipóteses de cabimento do agravo de instrumento.

Dessa maneira, no novo código a recorribilidade das interlocutórias passou a ser dúplice, pois prevê duas formas de recorribilidade a depender do conteúdo da decisão interlocutória. Portanto, se determinada situação enquadrar-se em uma das onze hipóteses do artigo mencionado, bem como estiver contida em lei extravagante, caberá agravo de instrumento que é o recurso cabível para impugnar decisões interlocutórias.

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Contudo, esse regime de recorribilidade dúplice restringe-se a fase de conhecimento, não se aplicando às fases de liquidação, cumprimento de sentença, nem ao processo de execução e ao processo de inventário (BRASIL, 2015), pois, nesses casos, toda e qualquer decisão interlocutória é passível de Agravo de Instrumento.

Segundo Marinoni, Arenhart e Mitidiero, o fato das decisões de liquidação, cumprimento de sentença, processo de execução e ao de inventário não se sujeitarem a nenhuma limitação é justificável pelos seguintes motivos:

No primeiro caso, a justificativa do cabimento do agravo está em que inexiste previsão de apelação no procedimento que visa a liquidação. No segundo e no terceiro, a apelação, embora possa ter lugar, não é usual – em outras palavras, não é um ato necessário do procedimento, salvo para nele colocar fim. O quarto caso justifica-se pela necessidade de imediata revisão das decisões interlocutórias em inúmeras situações que envolvem o processo de inventário. (MARINONI, ARENHART, MITIDIERO, 2015, p. 249).

O inciso XIII do art. 1.015 prevê o cabimento do agravo de instrumento em outros casos que a lei disponha expressamente. Casos estes que não estão elencadas nas onze espécies restritas a fase de conhecimento.

Tendo em vista essa situação, Elpídio Donizetti faz menção a alguns casos. Vejamos:

Art. 354, parágrafo único. Se as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 487, II e III, forem apenas parciais, será cabível agravo de instrumento.

Art. 356, §5º. Se o juiz decidir parcialmente o mérito em relação um dos pedidos formulados ou parcela deles, será cabível agravo de instrumento.

Art. 1.037, §13, I. No julgamento de recurso especial e extraordinário repetitivos, demonstrada a distinção entre a questão a ser decidida no processo e aquela a ser julgada no recurso especial ou extraordinário afetado, a parte poderá requerer o prosseguimento do seu processo (art. 1.0137, §9º). Da decisão que resolver esse requerimento caberá agravo de instrumento caso o processo ainda esteja em primeiro grau. (DONIZETTI, 2016, p. 1443-1444).

Por conseguinte, conforme já mencionado, o sistema adotado pelo novo código corresponde a um sistema dúplice de recorribilidade das interlocutórias que, a depender de seu conteúdo, será agravável ou não agravável como será explicado adiante.

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2.3.1. DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS AGRAVÁVEIS E NÃO AGRAVÁVEIS

Nos termos da Lei 13.105/15 nem todas as decisões interlocutórias serão recorríveis de imediato, uma vez que as possibilidades de cabimento de agravo de instrumento estão adstritas a um rol taxativo. Assim, as situações que compõe o art. 1.015 do CPC/15 e as expressamente previstas em lei, como as citadas acima, são conhecidas como decisões interlocutórias agraváveis, pois, comportam impugnação imediata e se sujeitam a preclusão, caso não se interponha o recurso.

Já as decisões que não estão previstas no rol do art. 1.015 CPC/15 são conhecidas como não agraváveis, uma vez que não se sujeitam ao regime de preclusão imediata, devendo aguardar a sentença para serem impugnadas via apelação.

3. A ESCOLHA POR UMA RECORRIBILIDADE RESTRITIVA NA FASE DE CONHECIMENTO

O poder judiciário que todos os ordenamentos buscam desde os primórdios até os dias atuais é aquele que consegue atingir o maior número de jurisdicionados proporcionando um julgamento de forma célere e eficaz. Por isso, “o processo começa a ser analisado sob o prisma da eficiência da prestação jurisdicional que se dá com a identificação e a superação de obstáculos que dificultem uma atuação rápida por parte do órgão” (FILHO, 2016).

Para grande parte da doutrina, no âmbito recursal, a livre recorribilidade na fase de conhecimento do diploma passado era o grande responsável por embaraçar a efetivação do devido processo legal e, por isso, justificaram-se as grandes mudanças em relação ao cabimento do agravo de instrumento no novo diploma processual, que passou a prever um sistema dúplice de recorribilidade restringido a um rol taxativo e, em outros casos previstos, nas leis extravagantes em relação à fase de conhecimento.

Neste sentido, Elpídio Donizetti assevera que:

Antes da reformulação do sistema recursal pelo legislador no novo CPC, cogitava-se no anteprojeto a aprovação de texto que

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impedisse a recorribilidade das decisões interlocutórias, tal como se passa nos procedimentos na Justiça do Trabalho. Verificou-se, contudo, que, em face da diversidade e complexidade das questões submetidas ao juízo cível, não era possível simplesmente escorraçar a recorribilidade de tais decisões. Em certos casos, como na liquidação, no cumprimento de sentença e na execução, as questões ditas incidentais é que ordinariamente impelem a fase procedimental. É o caso, por exemplo, das decisões sobre a penhora. (DONIZETTI, 2016, p. 1439).

Tendo em vista que a recorribilidade das interlocutórias na fase de conhecimento seriam as grandes vilãs da morosidade e da burocratização processual, o legislador optou por limitar e reunir em um rol taxativo as hipóteses que segundo estatísticas, deveriam ser submetidas de imediato à apreciação do tribunal, que teve o propósito de resolver problemas, existentes de forma unânime na comunidade jurídica, bem como de simplificar as demandas judiciais, garantindo, assim, a tão efetividade da prestação jurisdicional.

3.1. O ROL TAXATIVO

Com o propósito de garantir um ordenamento promissor no sentido de proporcionar aos litigantes uma prestação jurisdicional cada vez mais eficaz, o CPC-15 implementou diversas técnicas e paradigmas para resolver o velho problema da recorribilidade das interlocutórias nos tribunais. A principal mudança nesse sentido foi a adoção de um sistema dúplice de recorribilidade restritos a uma enumeração taxativa.

A partir da enumeração taxativa imposta pelo legislador, somente as situações descritas no art. 1015 e as previstas em lei extravagantes demonstradas no item 3 vão se sujeitar ao manejo do Agravo de Instrumento. Já as demais situações deverão aguardar a prolação da sentença para serem impugnadas em preliminar de apelação.

Sendo importante mencionar, que os motivos e a técnica utilizada pelo legislador no novo diploma legal não é nova, vez que foi empreendida no CPC-39 e se mostrou ineficaz, pois, as partes buscaram outros meios para assegurar seus direitos levando ao congestionamento dos tribunais na época. Portanto, “o problema que se enfrenta é secular e restou superado inúmeras vezes em detrimento da

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realidade processual que é sempre mais rica que a imaginação do legislador”. (ROQUE et. al, 2015).

3.2. REFLEXOS DA LIMITAÇÃO LEGISLATIVA IMPOSTA PELO LEGISLADOR

Com a adoção de um sistema dúplice de recorribilidade limitada a um rol taxativo o legislador teve o intuito de simplificar, desburocratizar o andamento processual, bem como contornar a morosidade do procedimento processual ocasionada pelo descompasso entre a quantidade de ações ajuizadas e a precária estrutura judiciária.

Neste sentido, Vinicius Lemos menciona que:

Ao limitar a recorribilidade das decisões interlocutórias a um rol taxativo na fase de conhecimento há a necessidade de entender a relação entre essas espécies de decisões e a sua recorribilidade, perguntando-se também o que fazer quando não se especificou uma determinada situação para o agravo de instrumento e não há como aguardar-se a apelação (LEMOS, 2015, p. 230).

Assim, o legislador pode ter o efeito inverso do desejado com a seguinte limitação, visto que toda e qualquer decisão é passível de revisão e reforma, seja após a prolação da sentença em preliminar de apelação, seja de forma imediata por via do Agravo de Instrumento. Na primeira opção, a forma tardia de impugnação tem reflexos maiores, pois, a invalidação dos atos processuais praticados na fase de conhecimento causaria notório prejuízo à economia processual e a duração razoável do processo, já que todos os atos praticados deveriam ser refeitos, reanalisados.

Dessa forma, Vinícius Lemos assevera que: ·.

A decisão interlocutória não passível de agravo de instrumento até o momento da sentença não tem um viés definitivo, permanece com um ar de instabilidade, justamente pela possibilidade de impugnação até o momento pós-sentença. Esta situação gerará ao processo uma real sensação de provisoriedade a todo o andamento processual de conhecimento, seja em matérias processuais ou do direito material, ainda mais sobre as decisões pertinentes ao estágio probatório.

Tudo o que for decidido pelo juízo de primeiro grau tem um viés não impugnativo momentaneamente, pelo fato de que somente pode ser impugnado posteriormente, mas, em caminho contrário, tem um ar, até a prolação da sentença – independentemente do conteúdo, de uma forma quase absoluta, já que as partes não terão

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ali a possibilidade de recurso. Com isso, a decisão interlocutória não agravável tem um impacto maior ao procedimento de primeiro grau do que as decisões agraváveis, já que não podem naquele momento, serem impugnadas (LEMOS, 2016, p. 191).

Uma das hipóteses capaz de impactar de forma negativa o andamento processual seria o indeferimento para a produção de determinada prova pericial pelo juízo de primeiro grau. Insatisfeita com a decisão os litigantes devem aguardar a prolação da sentença para poder impugnar a decisão interlocutória e, no caso de provimento em segundo grau, toda a persecução processual até o momento da revisão até a instancia superior será em vão, vez que o processo voltará para o momento em que foi indeferida a prova pericial.

Portanto, limitar o cabimento do Agravo de Instrumento a um rol taxativo mostra-se um pouco arriscado, pois o direito tende a acompanhar a sociedade em demandas cada vez mais complexas. Além disso, atar a possibilidade de recurso, somente ao final do processo, poderá submeter as partes a ilegalidades, nulidades e outros vícios ocorridos no desenrolar processual ou causar prejuízo à efetividade da prestação jurisdicional quando houver casos em que será necessária a reforma da persecução processual desde onde ocorreu o vício.

4. A INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA COMO MÉTODO DE AMPLIAÇÃO AS HITÓTESES DO ROL TAXATIVO DO ART. 1015 NCPC

O fato de o legislador construir um rol taxativo não elimina a necessidade de interpretação para sua compreensão, ou seja, não elimina a equivocidade dos dispositivos e a necessidade de se adscrever sentido aos textos mediante interpretação. ((MARINONI, ARENHART, MITIDIERO, 2015). Dessa maneira, apesar das hipóteses de decisões agraváveis estarem dispostas em rol taxativo, alguns doutrinadores admitem, em suas teses, a possibilidade de ampliação de cada um de seus tipos pela via da interpretação extensiva a fim de evitar prejuízos aos litigantes. Dessa maneira, a interpretação pode ser literal ou declarativa, corretiva ou substitutiva. Havendo divergência entre o sentido literal e o genético, teleológico ou sistemático, adota-se uma das interpretações corretivas (DIDIER, 2015), entre as quais se destaca a interpretação extensiva que amplia o sentido da norma para além do contido em sua letra, considerando o autêntico significado da norma.

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Nesse sentido, a interpretação extensiva não deve ser utilizada como um meio de relativização da taxatividade imposta pelo legislador, mas como um meio de complementação do que foi imposto por este, ou seja, não se deve criar hipóteses de recorribilidade das interlocutórias que não estejam previstas no CPC, mais sim interpretar, aplicar a técnica em situações semelhantes, idênticas às determinadas no art. 1015 CPC, pois, “a interpretação do novo diploma legal deve ocorrer como ele é, como foi determinado pelo legislador e, não como nós ou outros desejássemos que ele fosse” (ROQUE et. al. apud GAJARDONI, 2015).

Logo, tendo em vista que decisões interlocutórias de suma importância não serão recorríveis de imediato, mas guardam semelhança com uma das onze possibilidades do art. 1015 CPC, mas também com o intuito de evitar invalidações posteriores, nulidades de atos processuais em decorrência do provimento de apelações, a aplicação da técnica de interpretação extensiva é o melhor caminho a ser seguido dentro de outras possibilidades, pois através dessa técnica se poderá ampliar as hipóteses do artigo mencionado, bem como evitar todos os riscos citados com a impugnação tardia das interlocutórias.

4.1. A NECESSIDADE DE PARCIMÔNIA NA UTILIZAÇÃO DA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA

Com o intuito de reduzir a complexidade recursal e garantir a celeridade processual o legislador optou por limitar o cabimento do agravo de instrumento a um rol taxativo. Entretanto, conforme já mencionado ao longo do artigo, a impugnação tardia de algumas decisões interlocutórias que não estão previstas no art. 1015 CPC ou em legislação extravagante poderá causar lesão a um dos litigantes, prejuízos a economia processual e a duração razoável do processo, levando, assim, o legislador a não atingir o seu objetivo com o novo diploma legal.

Nesse sentido, a aplicação do instituto da interpretação extensiva se mostra como a técnica mais viável a ser seguida para que o legislador atinja seu objetivo precípuo com o novo diploma legal e, evite que este seja ineficaz assim como o CPC-39, no qual as partes buscando resguardar seus direitos utilizavam-se de outros meios de impugnação (Mandado de Segurança/Correição Parcial) e que teve como consequência o congestionamento dos tribunais, vez que ocorriam a

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interposição simultânea de dois procedimentos em torno do mesmo incidente (THEODORO, 2015).

Apesar da técnica de interpretação extensiva se mostrar como o meio mais viável este instituto não deve ser utilizado indiscriminadamente com o intuito de criar novas possibilidades de recorribilidade de decisão que não estejam previstas no art. 1015 CPC ou em legislação extravagante, pois, se utilizado de maneira não parcimoniosa ao invés de auxiliar o legislador em seu objetivo precípuo, pode acarretar em efeito contrário, ensejando efeitos colaterais como a insegurança jurídica como nos casos de ampliação da preclusão de situações que não eram o desejo do legislador. Por isso, a extensividade deve ser contida, limitada somente em situações que guardem semelhança com as determinadas pelo legislador, pois, conforme mencionado no item 8 a interpretação do novo diploma “deve ocorrer como ele é, como foi determinado pelo legislador e, não como nós ou outros desejássemos que ele fosse” ((ROQUE et. al. apud GAJARDONI, 2015)).

Assim, Vinícius Lemos (2016, p. 199) comenta que:

A interpretação extensiva deve ser utilizada com a devida forma excepcional, para atribuir ao ordenamento processual uma simetria, para realizar a conjunção de situações idênticas, mas separadas por algumas fases processuais ou nomenclaturas. A melhoria do sistema passa, também, pela interpretação extensiva. Contudo, há limites para tanto. Não se pode utilizar esta interpretação para se alcançar a recorribilidade de decisões que o CPC/2015 não quis contemplar como agraváveis, somente deve-se pensar em uma extensividade para abarcar possibilidade que, numa análise profunda, são idênticas.

Portanto, o parâmetro interpretativo é a norma criada pelo legislador, não sendo possível a realização da relativização da taxatividade imposta por este, devendo, esta técnica ocorrer apenas em situações que sejam idênticas as onze possibilidades que comportam a interposição imediata do Agravo de Instrumento ou em legislação extravagante, vez que o objetivo da aplicabilidade da interpretação extensiva é salvaguardar as partes de prejuízos advindos de uma impugnação tardia e, por consequência garantir o objetivo precípuo do novo diploma legal: a eficiência da prestação jurisdicional e a celeridade. Logo, a parcimônia, a cautela é imprescindível para que essa sistematização ocorra de forma eficaz e evite a tergiversação do instituto.

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4.2. HIPÓTESES DE INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA PLAUSÍVEIS

Antes de comentar sobre as hipóteses de interpretação extensiva plausíveis é necessário comentar que alguns doutrinadores defendem em suas teses, a utilização do Mandado de Segurança como forma de salvaguardar as partes. Entretanto, conforme já mencionado, a utilização desse remédio constitucional como forma de proteger e garantir os litigantes ao invés de concretizar a celeridade proposta pelo legislador levaria ao efeito inverso do pretendido: o abarrotamento, o congestionamento dos tribunais.

Caso a impugnação das decisões interlocutórias se popularize em demasia pela via do Mandado de Segurança como ocorreu no CPC-39, mais uma vez na história estará de um lado a vontade do legislador de conceder um sistema mais célere e por consequência desafogar o judiciário e do outro lado a ineficácia do sistema proposto. Por isso, a aplicação da interpretação extensiva mostra-se como o caminho mais viável a ser seguido pelo cotidiano forense.

A decisão interlocutória que rejeitar a alegação de convenção de arbitragem nos termos do art. 1015, III, CPC comporta a interposição imediata do agravo de instrumento. Se, a decisão em que se rejeita a alegação de convenção de arbitragem é uma situação singular em que se decide, na verdade sobre competência e, convenção de arbitragem é um negócio jurídico processual, conclui-se que o inciso III, do art. 1015 CPC versa tanto sobre competência como negócio jurídico processual.

Embora a hipótese mencionada esteja elencada em um rol taxativo, entende-se que o art. 1015, III, CPC comporta a aplicação da interpretação extensiva para incluir a decisão que versa sobre competência, tendo em vista que se assemelham. Por se assemelharem e terem o mesmo objetivo (que é afastar o juízo da causa), devem as decisões sobre competência comportar a imediata interposição do Agravo de Instrumento.

Sendo importante mencionar que, por serem tão semelhantes, a alegação de convenção de arbitragem e a alegação de incompetência, logo nos primeiros dias de vigência do CPC-15, o Tribunal Regional Federal da 2º Região admitiu o recurso de agravo de instrumento nº 0003223-07.2016.4.02.0000 (Rel. Des. Luis Antônio

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Soares, Turma Espec. II, j. em 28.03.2016) que rediscutia decisão que versava sobre competência tendo como base a interpretação extensiva do art. 1015, III, CPC.

Outro tema que pode ser inserido no art. 1015, III, CPC por via da interpretação extensiva, segundo Fredie Didier (2015, p. 217) “são todas as decisões que negam eficácia ou não homologam negócio jurídico processual – seriam, também por extensão, agraváveis”.

Entretanto, há divergências no sentido da aplicação da interpretação extensiva a todas as decisões que neguem a eficácia ou não homologuem negócio jurídico processual e, por isso, entende-se, assim como Vinicius Lemos que a interpretação extensiva desse tema fica limitada à hipótese que versa sobre a rejeição de negócio jurídico sobre competência, haja vista a similitude com a situação do art. 1015, III, CPC. Tendo como exemplo a eleição de foro, cláusula muito comum em contratos. Com a rejeição da eleição e foro, tem-se a rejeição de um negócio jurídico que versa sobre competência, conforme ocorre com a convenção de arbitragem. Por conseguinte, a interpretação extensiva não é compatível a todos os casos em que se negue eficácia ou não homologuem negócio jurídico processual, pois, este não absoluto, sujeitando-se ao regime de invalidades do negócio jurídico.

O art. 1037, §13, CPC prevê a interposição do agravo de instrumento denominado por distinção quando ocorrer decisão sobre pedido de distinção de processo afetado/suspenso para julgamento por amostragem. Após essa decisão e a ciência de todos os juízes e tribunais, estes devem suspender os processos sob sua responsabilidade que contenham a matéria que será julgada por amostragem, devendo, certificar e informar as partes sobre a decisão de afetação. Havendo semelhança entre a matéria fática e material com a matéria afetada as partes devem acatar a decisão, ao passo que se o enquadramento for equivocado, suspendendo um processo com questão de direito distinta da matéria afetada, qualquer das partes pode requerer a distinção, desde que o processo encontre-se no primeiro grau.

A hipótese prevista no art. 1015, XIII, CPC comporta interpretação extensiva para incluir os casos de afetação/suspensão de decisão proveniente do incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR) tendo em vista que a sistemática se assemelha a do julgamento de recursos repetitivos. Por ser a mesma situação

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jurídica, a extensividade seria aplicada no sentido de permitir que as partes prejudicadas com a afetação no IRDR possam recorrer da decisão do pedido de distinção.

Nesse sentido, tem-se o enunciado nº 557 do fórum permanente de processualistas civis que descreve: o agravo de instrumento previsto no art. 1037, §13, I também é cabível contra decisão prevista no art. 982, I, CPC (trata sobre a suspensão dos processos admitidos em IRDR).

Outro exemplo que admite a ampliação do art. 1015, I, CPC, segundo Elpídio Donizetti, são as eventuais decisões que postergam a análise de pedido de liminar de tutela de urgência. Todavia, o art. 1015, I, CPC ao dizer que caberá agravo de instrumento no caso de tutela provisória, não trata de uma situação específica desse instituto, por isso, entende-se a decisão que defere, indefere, revoga ou modifica encontra-se protegida pelo legislador no artigo mencionado e, por isso não vejo necessidade de aplicação da extensividade para as eventuais decisões que postergam a análise de pedido de liminar de tutela de urgência, que é equiparada à decisão que nega a tutela provisória.

Logo, a interpretação extensiva será uma realidade, contida e parcimoniosa, por meio do qual se poderá adaptar a aplicação do CPC as novas tendências, realidades que vão surgindo no cotidiano forense. Sendo importante mencionar o método de utilizar a interpretação extensiva para ampliar as hipóteses de um rol taxativo que, também, é aplicada em outras searas do direito.

Dessa maneira, a aplicação da interpretação extensiva demonstra que se utilizada de forma cautelosa, parcimoniosa faria com que o novo diploma legal conseguisse equilibrar, alcançar a efetividade da prestação jurisdicional e salvaguardar as partes de prejuízos posteriores.

5. CONCLUSÃO

O agravo de instrumento surgiu da necessidade do recurso não embaraçar o andamento do processo. Por processar-se por instrumento, fora dos autos, o andamento do feito pode prosseguir seu curso na instância de origem, enquanto o que sobe para apreciação da instância superior apenas é o instrumento.

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Sendo importante mencionar que, dos meios de resistência disponíveis pelas partes, os instrumentos recursais, indubitavelmente, são dos mais importantes, vez que viabiliza dentro da mesma relação jurídica processual a reforma, anulação de decisão impugnada.

Por ter o condão de garantir a celeridade processual no novo diploma legal, a recorribilidade das interlocutórias passou a ser divida em dois grupos: o que comporta a imediata interposição do Agravo de Instrumento por estar previsto no art. 1015 CPC ou em lei extravagante e, os que devem aguardar a prolação da sentença para poderem ser impugnadas nas razões ou contrarrazões de apelação.

O propósito do legislador ao adotar esse sistema de recorribilidade é desafogar o judiciário que nas ultimas décadas ficaram sobrecarregados em decorrência do número excessivo de agravos, às vezes, superior ao número de apelações, tornando o judiciário cada vez mais moroso.

A adoção do novo sistema de recorribilidade recebe críticas por parte da doutrina que entende não ser justificável expor as partes a eventuais cerceamentos de defesa e ilegalidades no desenvolver da persecução processual por falta de estrutura judiciária em dar conta de todos os recursos disponíveis às partes.

Tendo em vista a nova sistemática das interlocutórias a doutrina começa a estudar os impactos que uma impugnação tardia poderia causar as partes se diversos processos passarem a ser anulados em decorrência de provimento de apelações envolvendo vícios ocorridos durante a persecução processual.

Assim, para parte dos estudiosos uma das maneiras de evitar que a nova sistemática tenha efeito inverso do que foi pensado pelo legislador, bem como evitar prejuízos maiores as partes, caso haja anulação de processos em decorrência de provimento de apelações pela instância superior, estuda-se a grande tendência de aplicar-se a interpretação extensiva dos incisos do art. 1015 CPC ou lei extravagante a situações semelhantes.

Portanto, a partir da pesquisa desenvolvida, pode-se concluir que o CPC baseia-se no conteúdo da decisão para verificar qual recorribilidade será aplicada a situação concreta e, apesar de considerar que o critério do risco de lesão grave e difícil reparação era mais adequado para filtrar o julgamento do agravo, para que o novo instituto possa garantir uma prestação jurisdicional de forma efetiva. Mas também, garantindo segurança aos litigantes, a utilização da interpretação extensiva

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se mostra a melhor técnica até o momento, tendo em vista que está poderá ampliar as hipóteses do art. 1015 CPC adequando-se as novas tendências do direito, desde que esta tenha o mesmo sentido da norma que está sendo interpretada.

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