Contribuições do manual do professor para o ensino de citologia e formação
continuada de professores em escolas públicas de ensino médio no município de
Serra Preta, Bahia
Contributions of the teacher's manual to the teaching of cytology and continuing
training of teachers in public schools in Serra Preta city (Bahia, Brazil)
DOI:10.34117/bjdv6n5-028
Recebimento dos originais: 08/04/2020 Aceitação para publicação: 04/05/2020
Natalina Souza Silva Macedo
Mestre em Recursos Genéticos Vegetais pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Colégio Estadual Edna Moreira Pinto Daltro, Capim Grosso – BA.
Endereço: Avenida Antônio Carlos Magalhães, s/n, Centro- Capim Grosso- BA. E-mail: natalina.uefs@yahoo.com.br
Francisco Fábio Pinheiro de Vasconcelos
Doutor em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Alagoas. Universidade Estadual de Feira de Santana.
Endereço: Av. Transnordestina, s/n, Novo Horizonte, Feira de Santana –BA. E-mail: ffabiovasc@gmail.com
Francisco de Assis Ribeiro dos Santos
Doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade de São Paulo. Universidade Estadual de Feira de Santana.
Endereço: Av. Transnordestina, s/n, Novo Horizonte, Feira de Santana–BA. E-mail: f.a.r.santos@gmail.com
RESUMO
Diante da prática pedagógica cotidiana percebe-se que os estudantes do Ensino Médio de Escolas Públicas apresentam grandes dificuldades de aprendizagem no componente curricular de Biologia, principalmente em Citologia. Buscando superar tais limitações boa parte dos professores da Educação Básica recorre ao livro didático para o planejamento das aulas, elaboração de atividades bem como para estudar e se atualizar em relação às novas descobertas científicas nas diferentes áreas da Biologia. Desta forma, o livro didático interfere significativamente na qualidade do trabalho pedagógico desenvolvido pelo professor na sala de aula. E por assim ser, o livro didático e o manual do professor devem ser foco de análises e investigações científicas, possibilitando que tais ferramentas estejam em consonância com o Projeto Político Pedagógico das unidades escolares e contribuam efetivamente no desenvolvimento de competências e habilidades dos educandos e na formação continuada dos professores. Esta pesquisa busca analisar as diferentes perspectivas metodológicas para o ensino de citologia observando-se as possíveis contribuições para a formação continuada dos professores a partir das sugestões de leituras, propostas e estratégias de ensino sugeridas. A metodologia adotada fundamenta-se na análise documental de metodologias e estratégias para o ensino de citologia presentes no manual do professor, adotado como recurso didático pelos professores da disciplina de Biologia da Rede Estadual de Educação Básica, no município de Serra Preta (Bahia).
ABSTRACT
In view of the daily pedagogical practice, it is noticed that high school students from public schools have great learning difficulties in the curricular component of Biology, mainly in Cytology. Seeking to overcome such limitations, most of the Basic Education teachers resort to the textbook for planning classes, preparing activities as well as studying and updating themselves concerning new scientific discoveries in different areas of Biology. In this way, the textbook significantly interferes with the quality of the pedagogical work developed by the teacher in the classroom. And so, the textbook and the teacher's manual should be the focus of scientific analysis and investigations, enabling such tools to be in line with the Pedagogical Political Project of the school units and effectively contribute to the development of skills and abilities of students and training continuing education of teachers. This research seeks to analyze the different methodological perspectives for the teaching of cytology, observing the possible contributions to the continuing education of teachers from the suggestions of readings, proposals and suggested teaching strategies. The adopted methodology is based on the documentary analysis of methodologies and strategies for teaching cytology present in the teacher's manual, adopted as a didactic resource by the teachers of Biology at the State Basic Education Network, in the municipality of Serra Preta (Bahia).
Keywords: Teaching; cell; learning; diversified methodologies, Public School.
1 INTRODUÇÃO
Os cidadãos dependem de uma base de conhecimento de educação científica, que deve ser fornecida pela escola, para se posicionar diante de questionamentos fornecidos pelos avanços científicos e tecnológicos das diferentes áreas da Biologia, a exemplo da transgenia, clonagem, células troncos, terapia gênica e teste de paternidade (Lorenzetti, 2000).
Mas é sabido que os conteúdos de citologia apresentam termos complexos, os quais podem dificultar o entendimento e a compreensão dos alunos (SILVEIRA, 2013), além de exigir alto grau de abstração cognitiva por partes dos educandos no processo de aprendizagem. Para superar tal dificuldade, os professores de Biologia podem recorrer a diferentes metodologias e estratégias de ensino, possibilitando que os estudantes estabeleçam relações entre o conteúdo trabalhado em sala de aula e fenômenos observados em seu entorno e cotidiano, facilitando o processo de aprendizagem.
Desta forma, a adoção de metodologias diversificadas para o ensino de citologia torna-se uma necessidade pois criará ambientes favoráveis a aprendizagem do aluno. Conforme, Bazzo (2000), certamente, não há um método ideal para ensinar nossos alunos a enfrentar a complexidade dos assuntos trabalhados, mas sim haverá alguns métodos potencialmente mais favoráveis do que outros.
Considerando-se a realidade da educação brasileira, com superlotação nas salas de aula, desvalorização do profissional,defasada estrutura física, metodologia e didática ineficientes nas escolas obriga o docente a (se) questionar “como” fazer e “com que” fazer educação, adequando-se à proposta projetada pelos Parâmetros curriculares Nacionais, Base Nacional Comum Curricular e
pelo mercado de trabalho. Afinal, as escolas– especialmente da rede pública – constituem-se de alunos marcantemente heterogêneos cultural e socialmente, o que requer do professor de Ciências o uso equilibrado de conceitos, de técnicas (competências) adequadas à comunidade; e uso de metodologias diversificadas nas aulas de ensino (LIMAe VASCONCELOS2006).
O ensino de citologia é pouco abordado no Ensino Fundamental II (BARBOSAet al., 2016). Assim, os alunos egressos do Ensino Fundamental II, muitas vezes, não têm domínio dos conceitos básicos da citologia, apresentando dificuldades profundas em compreender temas complexos que são abordados nessa área da Biologia. Conforme os alunos avançam em seu nível de escolaridade maior será a quantidade de informação e termos científicos que lhes serão apresentados, sem que os alunos, muitas vezes, sejam capazes de associá-los correta e adequadamente em sua estrutura cognitiva (SELVEIRA, 2013).
Segundo Moreira (2012), a construção do conhecimento da área de Ciências da Natureza deve ter relação histórico-social e a aprendizagem deve ser significativa. De acordo com esse mesmo autor a aprendizagem significativa ocorre quando novos conceitos, ideias e proposições interagem com outros conhecimentos relevantes, claros e disponíveis na estrutura cognitiva do sujeito, sendo por ele assimilado, contribuindo para sua diferenciação, elaboração e ampliação do conhecimento.
À abstração cognitiva exigida para a compreensão dos temas abordados em citologia está associada a dificuldade de aproximar tais conteúdos ao cotidiano do aluno, considerando que os conhecimentos adquiridos nessa área das Ciências Biológicas são construídos através investigações microscópicas e bioquímicas, as quais não fazem parte do quotidiano dos alunos (SILVEIRA, 2013).
A dificuldade em explicar fenômenos a partir de processos que não são visíveis ao olho humano, contribui para a falta de entusiasmodo estudo dos fenômenos celulares e moleculares por parte dos alunos. Para superartais dificuldades os fenômenos biológicos devem ser apresentados dentro de uma abordagem interdisciplinar, ligado à saúde, ao ambiente, além do aspecto histórico da Ciência (CRASILCHIK, 1995). O ensino de ciências deve constituir um meio para ampliar a compreensão do estudante sobre a realidade, fornecendo-lhe instrumentos para orientar suas decisões e intervenções no mundo que o cerca (SARMENTOet al., 2013), estimulando o aluno a desenvolver uma visão crítica-reflexiva.
Na tentativa de estimular o desenvolvimento de uma visão-crítica dos alunos e tornar as aulas mais dinâmicas e atraentes, boa parte dos professores da Educação Básica recorre ao livro didático (LD) para o planejamento das aulas, elaboração de atividades e avaliações bem como para estudar e se atualizar em relação as novas descobertas científicas nas diferentes áreas da Biologia.
A centralidade do livro didático no processo de ensino e aprendizagem confere a este recurso funções privilegiadas na medida em que é através dele que o professor organiza, desenvolve e avalia seu trabalho pedagógico de sala de aula (CARNEIROet al., 2005). Desta forma, o livro didático contribui significativamente na qualidade do trabalho pedagógico desenvolvido pelo professor na sala de aula.
A escolha do livro didático e consequentemente do manual do professor (MP) a ser adotado nas escolas é um momento crucial que deve ser composto por discussões e análises aprofundadas por parte do corpo docente e a coordenação pedagógica das escolas, considerando-se que o livro didático é o principal recurso utilizado pelos professores e alunos nas Escolas Públicas brasileiras nos processos de ensino e aprendizagem, caracterizando-se como uma importante ferramenta para alcançar uma educação de qualidade.
Para Rosa e Silva (2010), um importante passo dado na direção de uma avaliação criteriosa do livro didático foi a implementação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) pelo Ministério da Educação no ano de 1985, esse programa visa coordenar a aquisição gratuita de livros didáticos para os alunos das escolas públicas brasileiras. Inicialmente, não era um direito garantido a todos os estudantes da Educação Básica, estando restrito apenas ao Ensino Fundamental, a universalização da distribuição de livros didáticos para o Ensino Médio, pelo Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) só ocorreu em 2006. Em 2007, pela primeira vez, foram distribuídos os livros de Biologia a todos os alunos e professores do Ensino Médio das Escolas Públicas de todo o País.
Assim, o objetivo da presente pesquisa é analisar o conteúdo de citologia apresentado no manual do professor na primeira série do Ensino Médio adotado em escolas públicas da Rede Estadual do município de Serra Preta, Bahia. Foram analisadas as diferentes perspectivas metodológicas para o ensino de citologia e as possíveis relações existentes entre as orientações dadas no manual do professor com o livro didático do aluno, adotado nas escolas desse município. Buscou-se verificar se as propostas e estratégias sugeridas no manual e se eles contribuem para a formação continuada docente.
2 METODOLOGIA
Esta pesquisa alicerça-seem uma análise documental que, segundo Lakatos e Marconi (2003), tem como característica a coleta de dados restritos a documentos, escritos ou não, sendo bem diversas as fontes de pesquisa como livros, relatórios, cartas, filmes, vídeos, roteiros, provas.
O trabalho foi desenvolvido no munícipio de Serra Preta (Bahia), nas escolas da rede estadual de educação. Trata-se de uma pequena cidade localizada a 170 km de Salvador, com
população de 15.401 habitantes (Brasil, 2010), faz parte da expansão da Área Metropolitana de Feira de Santana. Diante do cenário demográfico do município, existem apenas duas escolas estaduais de Ensino Médio que atendem a aproximadamente 800 alunos nos três turnos com média de 35 alunos por turma. São escolas de pequeno porte que recebem alunos, majoritariamente da zona rural.
O objeto de estudo da pesquisa foi o manual do professor da “Coleção Ser Protagonista. Biologia”, primeiro ano do Ensino Médio. Previamente, foi realizado um levantamento junto à coordenação pedagógica das unidades escolares para coletar informações sobre quais os manuais do professor foram adotados nas escolas. Nesse momento, verificou-se que as unidades escolares em estudo adotaram o mesmo manual do professor (MP), que se configurou como o objeto de nosso estudo.
Em seguida, foi realizada uma análise exploratória do manual do professor, com a leitura flutuante, que é o estabelecimento de contato com os documentos da coleta de dados, momento em que se começa a conhecer o texto em que foi observada a organização geral dos conteúdos e sua relação com o livro didático do aluno. Na sequência ocorreu a exploração do material com a definição de categorias que vai possibilitar a riqueza das interpretações e inferências, o momento da descrição analítica (BARDIN, 2011). A partir desse levantamento foi elaborada uma ficha de avaliação com 12 critérios gerais a serem observados ao longo das análises do manual do professor. A confecção da ficha de avaliação foi baseada nos principais aspectos adotados pela comissão do PNLD. Foram criados critérios gerais os quais foram classificados em uma escala gradativa (ótimo, regular e insatisfatório) para melhor análise do texto.
Em seguida, foram criadas categorias de análise do manual, com o intuito de facilitar a discussão dos resultados, utilizando-se a ficha de avaliação foram avaliados os diferentes aspectos da obra e em seguida foi comparada e discutida com a literatura específica.
Quadro 1- Ficha de avaliação-guiaempregada na análise do manual do professor.
Critérios Escala
1. Oferece uma descrição da estrutura
geral da obra, explicando a articulação entre suas partes/unidades e os objetivos específicos de cada uma
delas
ótimo - o MP apresenta a descrição da estrutura geral da obra,
explicando a articulação entre suas partes/unidades e os objetivos específicos de cada um deles;
regular - o MP apresenta a descrição da estrutura geral da obra,
explicando a articulação entre suas partes/unidades, mas não dispõem dos objetivos específicos de cada um deles;
insatisfatório - MP não apresenta a descrição geral da obra. 2. As orientações para a abordagem do
conteúdo em sala de aula são claras e precisas
ótimo - o MP apresenta orientações claras e precisas para a abordagem
do conteúdo em sala de aula. Possui sugestão de discussões que despertem o interesse e curiosidade dos estudantes. Disponha de
metodologias diversificadas;
regular - o MP apresenta orientações claras e precisas para a
abordagem do conteúdo em sala de aula. Não possui sugestão de discussões que despertem o interesse e curiosidade dos estudantes.
Disponha de metodologias diversificadas;
insatisfatório - o MP apresenta orientações claras e precisas para a
abordagem do conteúdo em sala de aula. Não possui sugestão de discussões que despertem o interesse e curiosidade dos estudantes.Não dispõe de metodologias diversificadas.
3. Atividades e leitura
complementares
ótimo - propõem atividades e leituras complementares com referências
atualizadas que contribuem para a formação continuada/permanente do professor.
regular - propõem atividades e leituras complementares, mas possui
referências desatualizadas.
insatisfatório - propõem apenas atividades e respostas, tornando o MP
apenas um recurso usado na correção de exercício.
4. Apresenta bases para a correção e a
discussão de exercícios e atividades conceitualmente consistentes
ótimo - apresenta bases para correção e discussão contextualizada de
atividades conceitualmente consistentes com aumento progressivo do nível de dificuldade dos exercícios;
regular - apresenta bases para correção discussão contextualizada de
atividades conceitualmente consistentes sem aumento progressivo do nível de dificuldade dos exercícios;
insatisfatório - apresenta atividades que propõem apenas memorização
dos conteúdos.
5. Apresenta discussão crítica sobre
processo avaliativo
ótimo - apresenta discussão crítica sobre o processo avaliativo que deve
ocorrer durante todo processo de aprendizagem dos estudantes, que deve ocorrer de forma continuada e processual que estimulam
pensamento autônomo e crítico dos estudantes;
regular - apresenta discussão superficial sobre o processo avaliativo,
tratada de forma pontual que acontece em determinado período ao longo do processo de ensino e aprendizagem;
insatisfatório - não apresenta discussão sobre a importância da
avaliação no processo de ensino e aprendizagem.
6. Detalhamento de
atividades práticas
ótimo - apresenta sugestão de leitura complementar de artigos
científicos, documentários, sites e trabalhos científicos que apresentam informações sobre o tema abordado no capítulo que
contribuam para atualização do professor;
regular - apresenta sugestão de leitura complementar dissociada dos
temas discutidos no capítulo, mas desatualizados, desconsiderando novos estudos e descobertas científicas;
insatisfatório - não apresenta sugestão de leitura complementar. 7. Materiais acessíveis. ótimo - as atividades experimentais e propostas de metodologias
diversificados utilizam material de fácil acesso e baixo preço de custo;
regular - as atividades e propostas de metodologias diversificadas
utilizam material de fácil acesso, mas com alto preço de custo;
insatisfatório - as atividades e propostas de metodologias
Critérios Escala
saúde.
8.Apresenta referências
bibliográficas
ótimo - apresenta as referências bibliográficas que foram utilizadas com
base na produção de cada capítulo;
regular - apresenta as referências bibliográficas que foram utilizadas
como base na produção da obra;
insatisfatório - não apresenta as referências bibliográficas utilizadas na
produção da obra.
9. Integração entre temas e capítulo
(LDe MP)
ótimo - observou-se integração entre temas abordados no LD e MP em
todos os capítulos;
regular - observou-se integração apenas em alguns capítulos; insatisfatório - não foi observado integração apenas em alguns
capítulos.
10. Valorização da experiência de vida
do aluno
ótimo - as leituras complementares e atividades valorizam a experiência
de vida do aluno;
regular - em momentos pontuais os autores valorizam a experiência de
vida do aluno;
insatisfatório - as leituras complementares e atividades desconsideram
a experiência de vida do aluno.
11. Oferece informações relevantes além
daquelas do livro do aluno
ótimo - o MP oferece informações relevantes além daquelas do livro do
aluno;
regular - o MP oferece as mesmas informações relevantes além
daquelas do livro do aluno em momentos pontuais;
insatisfatório - MP oferece as mesmas informações presentes no livro
do aluno.
12. História e Filosofia da Ciência ótimo- o MP apresenta a ciência dentro de contexto histórico; regular- o MP apresenta a ciência como um fenômeno isolado; Insatisfatório- o MP apresenta apenas a biografia dos cientistas
Verificou-se também a formação dos autores da obra e as referências bibliográficas (livros artigos, sites, revistas) utilizadas pelos autores para fundamentar a sua obra.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O MP em estudo é apresentado em duas partes perfazendo o total de 94 páginas. Na parte 1, com 16 páginas, são apresentados aos professores os pressupostos teórico-metodológicos em que são abordados temas essenciais para o ensino de Biologia, referenciados por documentos nacionais norteadores para a educação básica como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica (DCNEB). Os autores discutem a importância do processo de ensino ser baseada no desenvolvimento das competências e habilidades dos alunos, atendendo as orientações dos PCNs. Os autores trazem uma abordagem superficial sobre as discussões atuais sobre a reformulação do currículo do Ensino Médio, ressaltando que de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) o ensino deve ser pautado numa perspectiva contextualizada e interdisciplinar. Essa parte é específica para os livros de cada uma das três séries do Ensino Médio.
Apresentam as principais generalizações da Biologia atual como, a teoria da evolução, teoria celular, conceito de gene, princípio da homeostase e o aproveitamento da energia pelos sistemas vivos. Traz um recorte sobre os processos avaliativos, apresentando alguns tópicos de como podem contribuir para a aprendizagem do aluno, ressaltam a importâncias das aulas experimentais e aulas de campo para a construção do conhecimento significativo, auxilia o professor na montagem de laboratórios de ciências, apresentam as instruções gerais para os alunos em laboratório e as instruções gerais para os alunos durante as saídas a campo.
Na parte 2 do manual do professor, com 78 páginas, os autores fornecem subsídios, orientações e propostas de atividades que podem auxiliar o trabalho pedagógico do professor, com propostas de leituras complementares de artigos científicos, livros, sugestões de jogos didáticos, de sites, aulas experimentais e as respostas das atividades propostas no Livro do Aluno. Além de sugestões sobre o processo avaliativo dos alunos, ressaltando a importância do desenvolvimento integral do sujeito que deve ser alcançado através dos trabalhos em grupo, avaliação pelos pares, estimulando assim a troca de experiências, produção de portfólio, possibilitando o desenvolvimento de habilidades relacionadas à competência de comunicação e representação de informação. Há um resumo da distribuição e organização dos conteúdos programáticos no manual do professor.
Nas orientações didáticas para a introdução ao conteúdo de citologia, os autores sugerem um recorte histórico de forma que os professores orientem os alunos a compreender como o contexto econômico, social e cultural de determinado período histórico interfere na produção de determinados conhecimentos. Os autores fazem uma discussão em que relacionam a construção dos primeiros microscópios com as Grandes Navegações, período que foi propício para o desenvolvimento de tecnologias pois havia investimento dosestados europeus e trabalho de diferentes cientistas,que contribuiu para o surgimento de uma nova área de estudos dentro da Biologia, a citologia fundamental para a proposição da Teoria Celular em 1838.
De acordo com Vidal & Porto (2012), a caracterização mais adequada do empreendimento científico deveria incluir seu caráter coletivo, procurando fazer com que os alunos compreendessem que o conjunto de conhecimentos, procedimentos, ferramentas e costumes característicos do fazer científico atual resultaram da dinâmica da comunidade de pesquisadores.
A História e a Filosofia da Ciência (HFC)compõem um conjunto de conteúdos importantes para a compreensão da construção do conhecimento cientifico, sendo critério essencial na avaliação dos livros didáticos e manuais do professor. É uma orientação que está presente em documentos norteadores para o ensino da Biologia, como os PCNs. Os autores alertam para a construção de uma visão de que a ciência é fruto de um processo social coletivo, dinâmico, interdisciplinar e, assim sendo, o conhecimento é construído a partir da contribuição de diferentes cientistas, de distintas
áreas de conhecimento superando a ideia equivocada de muitos autores de livros didáticos que apresentam, em suasobras, a Ciência como uma evoluçãoisolada, monodisciplinar.
Desta forma, observa-se que aHFC deve ser um critério a ser considerado no processo de escolha do LD e consequentemente do MP.
Na categoria Atividades Complementares, a obra apresenta uma grande diversidade de propostas metodológicas, pautadas no desenvolvimento de habilidades e competênciasatravés de abordagens interdisciplinares, de aulas experimentais, capacidade de trabalha em grupo.Para abordar a variedade morfológica de células humanas, os autores propõem a realização de um jogo intitulado “jogo de cartas celular”. Seu objetivo éanalisar asinformações referentes a diferentes tipos de células do organismo humano e relacionar a descrição da morfologia de cada uma delas com sua função. Esse jogo foi elaborado pelo Centro de Estudos do Genoma Humano (São Paulo - SP).
Os jogos didáticos são uma alternativa viável e interessante ao ensino de Citologia que pode aprimorar as relações entre professor-aluno-conhecimento, considerando-se que a realização de jogos na sala de aula pode proporcionar aos alunos um ambiente agradável, motivador, prazeroso e rico em possibilidades, que torna o processo de aprendizagem mais simples e propicia o desenvolvimento de várias habilidades (CASTRO&COSTA, 2011).
Mas, apesar dessa proposta,“jogo de cartas celular”, ser uma metodologia alternativa para o ensino de Citologia, no MP, os autores não apresentam o jogo, apenas disponibilizam o link que o professor pode acessar e fazer o download do material. É importante ressaltar que, de acordo com Bittencourt e Albino (2017), um dos locais em que menos se utiliza as mídias digitais são as escolas, principalmente pelos docentes na rotina do processo ensino-aprendizagem e no processo educacional.Problema que precisa ser enfrentado, afinal é na escola contemporânea em que o atrativo para o aprendizado dos estudantes deve ser o uso do LD e das Novas tecnologias de informação e Comunicação (TICs).
AsTICs fazem parte, desde cedo, da vida dos educandos e precisam ser incorporadas nas salas de aulas. Nunes et al. (2014), afirmam que as políticas de qualificação voltadas para os professores são estratégias essenciais para que a utilização das TICs se efetivem na realidade escolar. Esses mesmos autores sinalizam para a necessidade de políticas públicas que auxiliem na formação continuada dos professores que possibilite a inclusão digital e obviamente disponibilizar internet de alta velocidade nas escolas públicas, democratizando não apenas o acesso a ela, mas também possibilitando que os estudantes e professores ampliem sua formação e informações a partir dos conhecimentos disponibilizadosna rede.
Na primeira seção das Atividades complementares do MP, há sugestão para realização de aula prática com a temática microscopia básica em que o objetivo principal é que os alunos se
familiarizem com o aparelho e percebam as partes que o constitui bem como seu funcionamento, principalmente a formação das imagens que se dá de forma invertida. Os autores, reconhecendo as dificuldades encontradas nas escolas públicas brasileiras, recomendam que se a escola não dispuser de microscópios, os professores juntamente com os alunos podem construir um microscópio “caseiro”, que permite observações semelhantes aos primeiros microscopistas.
Para sua construção os alunos necessitam de conhecimentos e habilidades do componente curricular Física, tratando-se de uma proposta de atividade interdisciplinar, uma abordagem temática envolvendo situações amplas e complexas, pois os alunos precisam compreender como as lentes funcionam e como a luz interage com esses instrumentos ópticos para a formação da imagem, superando assim a mera discussão isolada em apenas um componente curricular, atividade relevante visto que as disciplinas passam a dialogar entre si, e os professores podem trocar informações acerca de suas disciplinas e do andamento do processo de ensino/aprendizado de seus estudantes.
Essa atividade se mostra ainda mais relevante quando de se consideraa realidade das escolas públicas brasileiras, especialmente de Serra Preta, que de acordo com dados do Censo Escolar 2016, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), apenas 51,3% das Escolas Públicas possuem laboratório de ciências e consequentemente microscópios. Desta forma apenas 48,7% das Escolas Públicas dispõem de laboratórios que possibilitam a realização aulas experimentais.Atividades como essa podem minimizar a falta de equipamentos sofisticados nessas escolas, bem como promover a interdisciplinaridade e troca de informações/saberes entre os professores e educandos.
Chame-se ainda a atenção para o fato de que as aulas experimentais no contexto da educação básica podem ser empregadas com diferentes objetivos e fornecer variadas e importantescontribuições ao processo de ensino e aprendizagem de ciências, podendo motivar e despertar a atenção dos alunos, desenvolver a capacidade de trabalhar em grupo, aprimorar a capacidade de observação e registro de informação, aprender a analisar dados e propor hipóteses para os fenômenos e alicerçarconceitos científicos (Oliveira, 2010). Também é preciso salientar a importância de atividades em grupo, interdisciplinar e de confecção de material didático-pedagógico uma vez quea maioria dos estudantes brasileiros não tem acesso a aulas experimentais em ambientes adequando, fator que dificulta a aprendizagem dos discentes. No entanto, observou-se que em vários momentos os autores do MP apresentamsugestões de atividades com a realização de aulas experimentais. Mas é preciso que eles se atentem para as dificuldades enfrentadas pelas escolas brasileiras, principalmente aquelas distantes dos grandes centros urbanos e, em sua maioria, sem acesso a internet, o que inviabiliza tais atividades.
Para auxiliar a compreensão da membrana plasmática, seus componentes e principais funções os autores sugerem a confecção de mapas conceituais. Os mapas conceituais se apresentam como uma estratégia pedagógica alternativa para uma possível melhoria na compreensãode conteúdos complexos, pois cria um ambiente desafiante, motivador e estimulante para os alunos, sendo considerada uma metodologia ativa, situação pedagógica em que o aprendiz assume o papel ativo no processo de aprendizagem, o aluno torna-se protagonista dentro do processo de ensino e aprendizagem. Atividades importantes porque não silenciam o professor, mas o colocam na posição de facilitador do conhecimento. Além disso o objetivo dos mapas conceituais é promover ambientes de aprendizagem significativa e a colaboração entre os alunos (ROSA&LANDIM, 2015). É metodologia de fácil execução e pode ser realizada em grupos estimulando, assim, o trabalho colaborativo e a interação social entre os alunos e com o professor, gerando e fortalecendo laços efetivos, quebrando a tradição de colocar o professor como elemento central da sala, o aproxima de seus estudantes e o faz perceber as dificuldades e avanços de seus alunos. Essa interação entre professor/aluno, teoria/prática, abstrato/realidade circundante do estudante é um dos melhores caminhos para um aprendizado significativo.
Outra seção bastante significativa é quando os autores abordam os conteúdos citoplasmáticos e as organelas celulares, Atividades complementar, os autores propõem a construção de modelos (3D) de células e a representação esquemática estimulando a produção de ilustrações a partir de imagens microscópicas reais.A construção do modelo de células proposto pelos autores é de simples elaboração, utilizando-se material de fácil acesso os quais não oferecem risco à integridade física dos alunos. A sugestão é que a atividade seja realizada em grupo, estimulando o diálogo, compartilhamento de ideias e o respeito às diferentes opiniões. Os modelos didáticos, utilizados em sala de aula, têm a função de facilitar a transposição didática de conteúdos que exigem alto grau de abstração para o contexto da sala de aula.
Segundo Ferreira et al. (2007), a utilização de modelos em sala de aula é uma das ferramentas que, se bem utilizadas, propicia, não só o aprendizado de conhecimentos científicos como também a reflexão sobre as formas de representação e desenvolvimento de tais conhecimentos.Mais uma vez a cooperação entre os pares, professor como facilitador do conhecimento, alternativa a aula expositiva e respeito aos diferentes tempos de aprender são bem costurados nessa atividade além de tornar o discente protagonista do ato de aprender e elaborar material didático-pedagógico que pode ser aproveitado mais à frente para uma atividade maior, a exemplo de exposição numa feira de ciências.
Na temática metabolismo energético, os autores apresentam como principal sugestão pedagógica o trabalho interdisciplinar com os professores de Química, Física e Educação Física,
propondo assim um ensino contextualizado, interdisciplinar relacionando-se os processos biológicos com processos físicos e químicos que ocorrem dentro das células, a nível microscópico, os quais são responsáveis pela manutenção e movimento do corpo. A interdisciplinaridade se apresenta nesse contexto como uma estratégia para superar as dificuldades inerentes ao conteúdo metabolismo energético, buscando-se aproximar o tema abordado ao cotidiano do aluno.Cotidiano que faz com que o aluno possa relacionar sua vida cotidiana aos conteúdos abstratos que perpassam essas disciplinas, tornando a aprendizagem não apenas prazerosa e mais significativa, o que concorre para uma melhor efetivação dos conteúdos apresentados.
Para que os alunos consigam perceber os processos biológicos no seu cotidiano, os autores propõem uma discussão sobre a importância do metabolismo energético na indústria alimentícia e de bebidas. Portanto, como dito, há uma aproximação entre o conhecimento científico e o cotidiano do aluno. Além da proposta de debater a relação dependência entre a respiração celular e a fotossíntese.
Na seção sobre o núcleo da célula, os autores apresentam propostas metodológicas para abordar as informações referentes às descobertas sobre o núcleo, sua estrutura e função. Para isto, os pressupostos metodológicos sugeridos são a História e Filosofia da Ciência, produção de mapas conceituais com socialização dos trabalhos. As propostas metodológicas dos autores visam superar o alto nível de abstração cognitiva exigida para a compreensão dos conceitos introdutórios da Biologia Molecular como a cromatina, cromossomo, cromátides, DNA, gene e genoma, que são os fundamentos da Genética.Essa proposta está de acordo com as propostas da BNCC que é fazer com que as disciplinas dialoguem, torna significativo a produção dos discentes que deixam de produzir textos, materiais didáticos apenas para a correção do professor e as transformam em construções que podem e devem circular em outros espaços educativos, a exemplo das feiras de ciências e exposições na escola.
Como sugestão de atividade para o fechamento de tema do núcleo celular os autores propõem a elaboração de histórias em quadrinhos, sugerem o desenvolvimento de um trabalho em grupo que ilustre a descoberta do núcleo celular e suas funções, os cientistas envolvidos e as mais recentes descobertas sobre o núcleo celular. Para Lavarda (2017), as histórias em quadrinhos, aliadas a um enredo de conteúdo cientifico, podem levar o aluno a compreender inclusive conteúdos abstratos, muitas vezes considerados difíceis, fazendo-o gostar e se interessar por eles, tornando-se assim um material potencialmente significativo.
Quanto à contribuição do MP para a formação continuada e atualização do professor, na seção leitura complementar a obra apresenta artigos atuais sobre diferentes temas de citologia. Os autores apresentam discussões interessantes e aprofundadas sobre conhecimentos recentes
referentes aos avanços no entendimento da composição e funcionamento da membrana celular, relacionado com fato de que quaisquer distúrbios nas funções desses canaispodem acarretar doenças sérias. Desta forma, tais propostas metodológicas para o ensino dos conteúdos celulares podem contribuir efetivamente com a atualização de conhecimentos e a formação continuada dos professores, até porque faltam políticas públicas de formação continuada dos professores, laboratórios de ciências e também os baixos salários dos professores os impedem de adquirir livros, participar de congressos, visitar feiras o que lhes possibilitaria uma atualização constante na sua área de formação.
Para Lima e Vasconcelos (2006), a rapidez com que os conceitos e conhecimentos dessa área se ampliam e surgem novas tecnologias faz com que a formação do professor no período da licenciatura torne-se obsoleta em pouco anos após sua graduação, necessitando do processo de formação continuada. Assim, o livro didático do professor deve estar bem informado teoricamente eincorpore as atualizações de seu campo de conhecimento para auxiliá-lo na incorporação de novos saberes e consequente na formação continuada.
Observa-se que a obra apresenta referencial teórico atualizado para embasar as discussões, apresentam artigos científicos com descobertas recentes sobre as diferentes áreas da Citologia. Disponibilizam grande variedade materiais que possibilitam a diversificação de atividades e metodologias para o ensino de Citologia.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observou-se que o MP encontra-se atualizado, bem informado teoricamente e incorpora atualizações recentes na área do objeto de investigação. Também se notou que os autores disponibilizam informações e sugestões de atividades que auxiliam no processo de formação continuada dos professores, sendo, portanto, instrumento de grande utilidade para a formação docente e um aliado para a sua prática pedagógica.
O MP apresenta metodologias de ensino diversificadas que contribuem para um ensino pautado no desenvolvimento de competências de modo mais dinâmico, há também, uma grande preocupação dos autores em auxiliar os professores em tornar as aulas de citologia menos abstratas com participação ativa dos alunos.
É importante ressaltar que apesar de o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) em 2018 através de uma comissão formada por trinta profissionais diretamente ligados ao ensino de Biologia, os quais trabalham em escolas e universidades de várias regiões do país e atuaram nas funções de avaliador, coordenador, revisor ou leitor crítico, ter aprovado e recomendado dez coleções para o ensino de biologia nas escolas públicas de Ensino Médio, os
professores das duas unidades escolares serrapretenses optaram ambas pelo mesmo título. Certamente foi a material que mais se aproximou dos anseios do corpo docente das instituições de ensino.
Contudo, o manual apresenta alguns problemas. Apesar de apresentar a organização dos conteúdos por capítulos os autores não dispõem os objetivos a serem alcançados pelos estudantes a cada tema abordado, os quais podem orientar os professores na tomada de decisão quanto à seleção de estratégias, recursos didáticos e metodológicos para montar suas aulas e auxiliar os alunos na compreensão de conteúdos de elevada complexidade em uma gradação de níveis partindo de aspectos mais simples para aspectos mais complexos.
Considerando que segundo o Programa Nacional do Livro Didático o MP é “corresponsável pela coerência e pela adequação metodológicas” (2010, p.19) tais falhas precisam ser reparadas. Foi verificado que ao longo dos capítulos que abordam diferentes aspectos da citologia existem poucas propostas de atividades, principalmente com nível progressivo de dificuldades, e há poucaexploração de atividades problematizadoras, situações pedagógicas que auxiliama consolidação da aprendizagem do aluno.
Diante de um material tão bem avaliado e com grande potencial para auxiliar o professor tanto no processo de formação continuada/permanente quanto nas propostas de ensino inovadoras para abordar conteúdos tão complexo e muitas vezes difíceis de se relacionar com o cotidiano dos alunos, como a citologia, os professores precisam explorar esse recurso. Não o adotando comoúnico instrumento de ensino/pesquisa/atualização, mas que seja consultado juntamente com outros recursos como revistas de divulgação científica, artigos científicos, filmes, documentários, buscando a atualização dos seus conhecimentos e consequentemente aulas mais dinâmicas, atrativas, com participação dos educandos como sujeito ativo da sua aprendizagem.
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