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Notas sobre um método de estudo da circulação xilémica

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Recebido em, 15 de Novembro de 1962

Notas sobre um método de estudo

da circulação xilémica (1)

pelo

Prof. Ext. MIGUEL PEREIRA COUTINHO

com a colaboração da aux. Lab. 31. LOURDES DOS SANTOS

I — INTRODUÇÃO

Ê grande a importância do conhecimento da circulação xilémica para o estudo de diversos problemas fisiológicos, particularmente no que respeita ao mecanismo de deslocamento da água, considerado perante o sistema: solo-planta-atmosfera.

Embora se saiba actualmente que o conteúdo das colunas líqui­ das xilémicas inclui, a par da água e dos iões, substâncias orgânicas, assim como, além destas, se encontram iões e sais minerais nas corren­ tes floémicas, continuam a considerar-se bem distintos os 2 mecanis­ mos circulatórios, em especial pela acentuada diferença das causas determinantes de cada um, sendo este ainda o critério seguido por

Bollard (1960) e por Zimmermann (1960) ao fazerem recentemente

a revisão do problema.

Mesmo no caso da circulação xilémica têm sido estudados muitos aspectos do transporte de nutrientes (Bollard, 1960), mas muitos deles tratam primeiro da fase «solo-raiz» e portanto do fenómeno

i') Comunicação apresentada ao XX Congresso Luso-Espanhol para o Pro­ gresso das Ciências (Porto, 1962).

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da absorção mineral, de que já anteriormente nos ocupámos (Cou-

TINHO, 1957).

Por isso e porque ainda actualmente se considera que as substân­ cias são transportadas nos vasos ou traqueídos sob a influência directa do movimento da corrente líquida que aí se encontra, consideramos o transporte xilémico expresso pela circulação da água que, embora clássico, continua a ser um problema actual da fisiologia vegetal, importante até em certos aspectos patogénicos (Dimond, 1955) e aliás favorável para ser matemàticamente estudado numa análise quantitativa (Bonner, 1959).

A noção mais comum sobre o movimento da água na planta ainda é a teoria da «tensão-coesão», apresentada por Dixon (1924) e ba­ seada na subida das colunas líquidas, em virtude da coesão das suas moléculas e do aumento da força de sucção das células foliares

(Philip, 1958) que perdem água por transpiração; apesar de várias objecções tem sido muito comprovada e mantem-se perfeitamente válida (Bonner, 1959).

Um dos assuntos que tem sido investigado é a relação do fenó­ meno circulatório com as condições exteriores, e com os tecidos por onde ele se realiza e a localização destes, entre si e no que respeita aos órgãos a que pertencem.

Quanto às condições ambientes, há a considerar, em especial, a sua influência na transpiração que por sua vez regula o transporte da água e das substâncias minerais e orgânicas da raiz para as folhas, excepto em casos anómalos, de excessiva humidade atmosférica e se­ cura do solo, em que a corrente pode ter um sentido contrário.

O problema da natureza dos tecidos relacionados com o trans­ porte reveste-se da maior importância, pois contribui largamente para esclarecer outros aspectos, como o mecanismo do fenómeno, factores influentes na intensidade do movimento e condições que de­ terminam o seu sentido.

O estudo dos tecidos de transporte no caule, rastros e folhas, feito através da observação microscópica de cortes, não só não per­ mite pràticamente seguir os feixes, em toda a extensão, como impede que o fenómeno seja observado «in vivo».

O emprego de substâncias radioactivas tem sido muito utilizado para este fim, mas apresenta algumas dificuldades, pois não só obriga a instalações especiais destinadas a evitar contaminações, a proceder a contagens, etc. como também, no caso mais comum do exame ser feito por meio de autoradiografias, não permite facilmente

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aeompa-NOTAS SURRE O ESTUDO DA CIRCULAÇÃO XÍLÉMÍCA 109

nhai o movimento ascensional num só indivíduo, mas apenas deduzir o fenómeno pela reunião dos aspectos colhidos nas diferentes plantas autoradiografadas, em diversas fases.

Em material favorável pode constituir um método simples a in- jecção de corantes na corrente circulatória.

É muito antigo o processo de injectar nas plantas substâncias estranhas, tendo até sido utilizado como tentativa para ministrar fungicidas (Rumbold, 1920).

Nas plantas lenhosas foram feitos numerosos ensaios para intro­ duzir, geralmente em orifícios no lenho, sob a forma sólida ou em soluções, vários sais minerais, ainda hoje se utilizando essa técnica para determinar a natureza de deficiências de oligoelementos (Wal-

lace, 1961).

As soluções de corantes também foram usadas para o estudo da circulação (Arndt, 1929), mas na maior parte dos casos eram utili­ zadas, mergulhando nelas o sistema radicular das plantas ou a base cortada do caule ou ramos.

Os dados obtidos por injecção de soluções coradas de que temos conhecimento são apenas qualitativos e ainda em 1935 Curtis afir­

mava: «é pouco provável que os materiais possam ser injectados em quantidades suficientes para constituir grande ajuda no estudo da circulação».

É o facto de julgarmos de interesse alguns aspectos encontrados na aplicação do método, que justifica o apresentar destas notas.

II — MATERIAL E MÉTODOS

A vantagem do fenómeno poder ser acompanhado visualmente ^ a maior facilidade de injectar, aconselham a escolha de material herbáceo, sendo preferíveis plantas de caule relativamente longo para serem mais acentuados os deslocamentos.

Nas estruturas em que os feixes têm uma disposição estelar, verifica-se o inconveniente de não se identificar bem o feixe injec- tado, além de que pela sua proximidade, no caso de esteias contínuas, são geralmente atingidos vários feixes, pela pontada agulha.

Por este motivo escolhemos para material de trabalho a Vicia

Faba L., visto que o caule tetracostado da faveira apresenta 4 feixes

em correspondência com as «costas», sendo dois destacados da esteia.

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Os outros dois, embora proeminentes, estão incluídos no con­ junto central.

A localização bem definida dos 2 feixes laterais permite que, ao injectar o caule, haja a garantia de se atingir apenas um feixe, desde que a agulha seja apoiada na parte interna da «costa», a cerca de 1/3 da sua altura e disposta em ângulo muito fechado com a face do caule.

O método porém pode ser generalizado a muitas outras plantas, de preferência com as características já referidas e em particular a de possuírem feixes supra estelares, como é frequente nos caules costados e alados, para permitir a injecção unifascicular.

Assim, por exemplo, também utilizámos com bons resultados o

Lathyrus Ochrus (L.) DC. e o Lathyrus angulatus L.

As injecções foram feitas com três tipos de aparelhos: seringa graduada de 1 cc., dividida em 80 partes, seringa de 5 cc. dividida em 25 partes e com «blindagem» metálica para fixação e uma adap­ tação de agulha a tubo de vidro, com dispositivo regulador, para saída gradual do líquido.

Foi a primeira seringa que se mostrou mais adequada, em in­ jecções instantâneas de cerca de 65 mm:i,

Dos corantes experimentámos o «azul de algodão», a «violeta genciana» e a «eosina», sendo este o que proporcionou melhores re­ sultados, em especial no que respeita à visibilidade da ascensão. De­ pois de ensaiadas diferentes concentrações, usámos a solução a 3%,

Salienta-se no entanto que a eosina é tóxica e mata ao fim de algum tempo, ao longe do percurso nos vasos, as células vivas que com estes contactam e as do mesófilo, se a concentração no seu inte­ rior está em desequilíbrio com a da solução do xilema. Este facto, porém, não impede a utilização do método, porque o tempo do ensaio é geralmente curto e só cerca de dois dias depois de atingidas, as zonas começam a acusar a morte dos tecidos provocada pela eosina.

lio ANAIS DO INSTITUTO SUPEKIOK DE AGKONOMIA

III — OBSERVAÇÕES A) Localização dos tecidos de transporte

A marcha do corante na corrente circulatória pode ser seguida, em regra, à medida que se vai verificando, por se assinalar a colo­ ração levemente avermelhada, ao longo do feixe, quando os tecidos

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NOTAS SOBRE O ESTUDO DA CIRCULAÇÃO XILÉMICA 111

sejam convenientemente iluminados. A trajectória percorrida torna- -se, ao fim de algumas horas, bem delineada pela coloração adqui­ rida pelas células parenquimatosas que rodeiam os vasos; ao apro­ ximar-se o segundo dia, estas células vão morrendo, desaparecendo o carácter semi-permiável da sua membrana plásmica, o que faz com que ainda se difunda mais a solução corada.

Fica assim, perfeitamente determinada, ao longo da planta, a localização de um feixe e de todas as suas ramificações o que é do maior interesse para o estudo da anatomia fascicular.

Vejamos como exemplo o caso particular da faveira. As folhas são dísticas e se considerarmos um entrenó basilar, os feixes situados nas geratrizes laterais, isto é que definem um plano perpendicular ao plano definido pelas geratrizes de inserção das folhas, correspon­ dem aos restros foliares. Antes da zona de curvatura, o feixe apre­ senta uma l.a ramificação que se estende ao longo da costa, indo constituir o rastro da folha do nó imediatamente superior.

Logo depois sofre 2.a ramificação que, subdividindo-se vai cons­ tituir o sistema fascicular que irriga a estipula.

O feixe continua lateralmente ao longo do eixo da folha, rami­ ficando-se na zona dos pecíolulos, de forma a constituir a base do sistema nerval de cada folíolo; no entanto, na base do pecíolo, há também uma ramificação que vai confluir com o sistema fascicular proveniente da outra «costa» e que irriga a margem oposta da folha. Desta forma, embora a corrente circulatória dum dos feixes laterais se dirija principalmente para os folíolos duma das «abas» da folha, há confluência na base do pecíolo com o sistema da outra «aba», de forma a poder ser atingida por uma só das correntes, toda a área foliar.

B) Natureza dos tecidos de transporte

Além da localização dos feixes, a injecção de soluções coradas permite determinar a natureza dos tecidos que participam nesse tipo de circulação, o que tem interesse, para o estudo deste fenómeno e das suas relações com o transporte floémico, uma vez que presente­ mente ainda existem aspectos por esclarecer, apesar das revisões feitas sobre o assunto (Crafts, 1956; Esau, 1957; Zimmermann, 1958, 1960).

Nas observações que efectuámos em cortes realizados, de cima para baixo, a vários níveis da planta, sempre encontrámos a pre­

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sença do corante nos vasos e ligeiramente no tecido parenquimatoso que os acompanha, especialmente na parte mais interna do feixe, nunca tendo observado qualquer vestígio de pigmentação na zona liberina, colateral.

C) Aspectos da circulação

Para que o método da injecção fascicular de corantes possa for­ necer elementos sobre os fenómenos circulatórios, é necessário que o movimento ascensional observável corresponda a um deslocamento da coluna líquida e não a um fenómeno de difusão do corante dentro desta.

Ao efectuar-se a injecção, há evidentemente uma difusão inicial que, segundo as leis físicas, se faz mais ou menos igualmente nos dois sentidos, o que se traduz pela observação externa da presença do corante acima e abaixo do ponto injectado, trajectória que fica assinalada, como atrás referimos.

Depois, enquanto a descida se mantém pràticamente estacioná­ ria, continua a observar-se a subida gradual do corante o que já não poderia ser explicado sem o deslocamento da coluna líquida. Este fenómeno verificou-se quaisquer que fossem os entrenós injectados, mesmo tratando-se dos superiores, e nas três plantas estudadas

(Vicia Faba L., Lathyrus Ochrus (L.) DC. e Lathyrus angulatus L.).

Efectuaram-se 11 ensaios em Vicia Faba, 3 em Lathyrus Ochrus e 3 em Lathyrus angulatus, geralmente com 4 repetições cada um.

Os resultados foram anotados qualitativamente em esquemas, traduzindo os órgãos atingidos pela marcha da circulação, e quanti­ tativamente em gráficos representativos dos valores do desloca­ mento, nos tempos correspondentes aos intervalos das observações. Como simples exemplificação apresentamos alguns desses gráficos. No sentido de utilizar o método para apreciação da influência das condições externas na circulação, estabelecemos um ensaio com oito plantas, reunidas em 2 grupos de 4, permanecendo um grupo (c) nas condições atmosféricas do Laboratório e sendo o outro sujeito durante 3 horas à acção duma corrente de ar seco, produzida por um aparelho eléctrico.

Embora nalgumas plantas dos 2 lotes as diferenças fossem pouco significativas, em todas as submetidas à corrente de ar, a cir­ culação foi mais rápida do que nas restantes, mostrando a influência do ar seco na velocidade circulatória.

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NOTAS SOBRE O ESTUDO DA CIRCULAÇÃO XILÉMICA 113

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Pelo que apresentámos, julgamos poder concluir que a injecção fascicular de soluções coradas, e em particular da eosina, em plantas herbáceas apropriadas, permite:

a) determintar a localização desses feixes e o traçado dos «ras­ tros» das folhas;

b) avaliar a velocidade da circulação xilémica;

c) depois de ensaios suficientemente verificados, apreciar a in­

fluência das condições externas no decorrer da circulação;

d) ser considerada um método expedito, de observação «in vivo»,

susceptível de ser aplicado no campo.

SOMMAI RE

L’ A. a effectué des essais d’injection unifasciculaire, avec des Solutions d’éosine: onze en Vicia Faba, trois en Lathyrus Ochrns et trois en Lathyrus angulatus.

La solution entre vitement dans la circulation xylémique et l’A. a fait des déterminations quantitatives, présentant des graphiques representatifs du phénomène.

L’injection de Solutions colorées, surtont d’éosine, dans un seul faisceau de plantes herbacées à faisceaux épars ou surnuméraires, permet:

a) Déterminer la course dans les faisceaux.

b) Déterminer la vitesse de la circulation dans le xylème.

c) Étudier, d’après des «tests» signifiants, 1’action des facteurs

externes sur la circulation.

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114 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Vicia faba

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