• Nenhum resultado encontrado

O ENSINO DE BOTÂNICA EM UMA ABORDAGEM CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "O ENSINO DE BOTÂNICA EM UMA ABORDAGEM CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

488 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p. 488-498, 2012

O ENSINO DE BOTÂNICA EM UMA ABORDAGEM CIÊNCIA,

TECNOLOGIA E SOCIEDADE

THE TEACHING OF BOTANY IN A PERSPECTIVE OF SCIENCE, TECHNOLOGY AND SOCIETY

José Arimatéa Figueiredo

PUCMinas/ Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde/ Ciências Biológicas/ professorarimatea@yahoo.com.br

Francisco Ângelo Coutinho

UFMG/ Educação/ Faculdade de Educação/ http://www.fae.ufmg.br/site-novo/

Fernando Costa Amaral

PUCMinas/ Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde/ Ciências Biológicas/fcamaral@pucminas.br

Resumo

Na visão dos professores, o ensino de Botânica apresenta muitas terminologias, distanciando-se da realidade dos alunos. Os currículos e práticas pedagógicas utilizadas no ensino de Botânica são reproduções do ensino acadêmico ocorrido na formação dos professores. Na busca de soluções para os problemas levantados desenvolveu-se e testou-se uma estratégia para o estudo das flores no curso de Ciências Biológicas, por meio de uma abordagem Ciência, Tecnologia e Sociedade. A estratégia utilizada constou de pesquisa bibliográfica, elaboração e apresentação em grupos dos diversos trabalhos propostos sobre o tema: “O estudo de flores numa abordagem ecológica, evolutiva, sócio-cultural e econômica.” Constatou-se que os problemas do ensino de Botânica nos níveis fundamental e médio são os mesmos relatados anteriormente pelos professores. A partir dessas constatações, utilizou-se como estratégia uma abordagem morfofuncional, com aulas teóricas e práticas, sobre flores em ambiente antrópico e natural, favorecendo uma melhor relação e integração dos alunos com o estudo de Botânica. Ao final desses trabalhos, os alunos relataram que as estratégias utilizadas possibilitaram o aprendizado de uma maneira mais eficaz e prazerosa, contribuindo para o desenvolvimento de um novo perfil na formação dos futuros professores de biologia.

Palavra-Chave: Ensino de Ciências, Ensino de Botânica, Biologia das flores.

Abstract

In the opinion of teachers, the teaching of Botany has many terminologies, away from the reality of students. The curricula and teaching practices used in teaching Botany are

(2)

489 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p. 488-498, 2012 reproductions of academic teaching occurred in teacher training. In seeking solutions to the problems it was developed and tested a strategy for the study of flowers in the Biological Sciences course, in a perspective of Science, Technology and Society. The strategy consisted of literature review, preparation and presentation of the various groups in the proposed work on the theme: "The study of flowers in an ecological approach, evolutionary, socio-cultural and economic." We found that the problems in the teaching of Botany primary and secondary levels are the same as previously reported by teachers. From these findings, it was used as a strategy a morpho-functional approach, with theoretical and practical lessons on flowers in natural and man-made environment, fostering a better relationship and integration of students with the study of Botany. At the end of these studies, students reported that enabled learning strategies used in a more efficient and enjoyable, contributing to the development of a new profile in the training of future teachers of biology

Key-words: Science Education, Teaching of Botany, Biology of flowers.

Introdução

O estudo de Botânica é muitas vezes realizado sem referências à vida do aluno. O que se aprende na escola normalmente é útil para se fazer provas, e a vida fora da escola é outra coisa. Dessa forma o que se estuda na escola, mesmo aparecendo e podendo ser exemplificado na rua onde o aluno passa ou mora, ou nas notícias veiculadas diariamente, dificilmente será percebido por ele.

Um aluno se esforçava em estudar o fenômeno da fotossíntese, decorava todos os nomes dados a uma série de reações químicas complexas sem jamais perceber que os produtos finais deste fenômeno representavam para ele, ser vivo, o ar que respirava e a energia que adquiria ao se alimentar todos os dias (CUNHA, 1988, p.136).

Segundo Chassot (2003) quando os conteúdos são meramente conjuntos de símbolos e conceitos distantes da realidade, o ensino não cumpre sua função de compreensão e transformação da realidade e nem educa para a cidadania. Este quadro não é motivador do ensino-aprendizado e não favorece uma visão integradora que relacione as experiências escolares com as realidades locais e planetárias. É em parte por isso que nós, professores de biologia, devemos nos preocupar e buscar práticas pedagógicas e currículos de botânica contextualizados com as realidades sociais, culturais, políticas, econômicas, ambientais locais e globais.

Durante a elaboração do Projeto de Pesquisa, buscando apoio formal para minhas percepções, advindas dos muitos anos de prática de ensino de botânica na educação básica e superior, e da coleta informal de opiniões de muitos colegas da área e de alunos, confirmaram minhas suposições sobre as dificuldades para o ensino-aprendizado de Botânica.

(3)

490 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p. 488-498, 2012 Meu interesse foi despertado no sentido de elaborar estratégias que pudessem auxiliar professores secundaristas e professores universitários do curso de Ciências Biológicas, responsáveis pela formação de futuros professores de Ciências, Biologia e Botânica, a se apropriarem de uma abordagem diferente da tradicional e, para isso, optei pela proposta de utilizar para o ensino de Botânica uma abordagem CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), respaldada nas propostas curriculares dos PCNEM (Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio) para o ensino de Biologia (BRASIL,1999), que propõem a compreensão do conhecimento científico e tecnológico como resultados de construções humanas, inseridos em um processo histórico e social.

Na década de 80, motivada pela dinâmica social, dos meios de comunicação e de diretrizes e orientações educacionais governamentais, a escola incorporou a pratica da utilização de diversos ambientes, substituindo práticas tradicionais existentes por trabalhos de campo e educação para conservação, nos diversos níveis de ensino. (BALDANI; TOZONI-REIS, 2005). Essa tendência pedagógica tem orientado muitas atividades de ensino-aprendizado em ciências, em espaços não formais como, parques, jardins, hortos-florestais, matas e mesmo reservas ecológicas. Sendo uma estratégia freqüentemente utilizada para tornar o ensino de botânica pelo menos mais motivador, agregando valores à temática ambiental e mostrando ao aluno uma realidade complementar tão importante quanto à do ambiente formal em sala de aula. (PIVELLI, 2006; TOZONI-REIS, 2002; VIEIRA; BIANCONI; DIAS, 2005).

Fundamentação Teórica

O ensino formal e não-formal de Botânica: história das relações entre homens e plantas

Outro aspecto importante para o aprimoramento do ensino da botânica é desenvolver estratégias educativas a partir dos conhecimentos trazidos pelos alunos e por suas comunidades de origem, para tornar-lo mais significativo e eficaz do que o saber científico desvinculado da realidade do indivíduo. Além disso, o saber puramente científico normalmente é privilégio de poucos e não tem tanta relevância ou significado para a sociedade como um todo.

A contribuição da maioria dos livros didáticos merece reflexão, pois trazem exemplos, atividades e concepções aplicados ao País todo, generalizando o currículo escolar para todas as regiões do Brasil, dissociando com a realidade de cada região, e cada estudante. Por isso é necessário que professores sejam capazes de adequar e acrescer as informações contidas nos livros a partir das realidades e potencialidades locais e globais.

Com a urbanização a interação planta-homem foi distanciada cada vez mais das pessoas. As informações foram apenas registradas, armazenadas em livros e outros documentos. O arquivo, e não mais a natureza, passou a ser a fonte de informação para os muitos interessados.

(4)

491 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p. 488-498, 2012 Cada vez mais o homem vive em um mundo de concreto, recebendo informações por livros, jornais, revistas, televisão e computador. Cada vez mais diminui o contacto direto com a natureza, com a diversidade de formas de vida que existem em nosso planeta. O contacto com a natureza é fundamental para nosso desenvolvimento emocional (WILSON, 1994. p.327).

A sociedade co-responsabiliza os cientistas pelas agressões sociais e ambientais. Santos e Mortimer afirmam:

O movimento CTS surgiu, então, em contraposição ao pressuposto cientificista, que valoriza a ciência por si mesmo, depositando uma crença cega em seus resultados positivos. A ciência era vista como uma atividade neutra de domínio exclusivo de um grupo de especialistas, que trabalhava desinteressadamente e com autonomia na busca de um conhecimento universal, cujas conseqüências ou usos inadequados não eram de sua responsabilidade. A crítica a tais concepções, responsabilidades e cumplicidades dos cientistas, enfocando a ciência e tecnologia como processos sociais (SANTOS; MORTIMER, 2001, p. 95)

Assim, na década de 70 surge o movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade como uma proposta de educação para a cidadania, baseada em abordagens e práticas de ensino capazes de integrar o conhecimento científico com as realidades sócio-culturais, econômicas e políticas locais e globais. Este movimento, que se intensifica no Brasil a partir da década de 80, trouxe uma mudança no ensino de ciências com o objetivo de preparar melhor os estudantes para atuarem no controle social da ciência.

A implantação do movimento CTS, com a intenção de propiciar um ensino com caráter interdisciplinar e contextualizado, solicitou a adequação de materiais didáticos e principalmente a formação de um novo perfil de educador preocupado com a pesquisa didática e com interação entre ensino, cidadania e desenvolvimento sustentável.

Os trabalhos curriculares em CTS surgiram, assim, como decorrência da necessidade de formar o cidadão em ciência e tecnologia, o que não vinha sendo alcançado adequadamente pelo ensino convencional de ciências. Santos e Mortimer (2001) argumentam que a necessidade de se estabelecer controle social da ciência e da tecnologia foi fator determinante das mudanças nos objetivos do ensino de ciências, que passa a buscar a preparação dos estudantes para que possam atuar como cidadãos capazes de acompanhar a dinâmica social e atender às demandas relacionadas ao desenvolvimento científico-tecnológico.

A ciência não é uma atividade neutra e o seu desenvolvimento está diretamente imbricado com os aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais e ambientais. Portanto a atividade científica não diz respeito exclusivamente aos cientistas e possui fortes implicações para a sociedade. Sendo assim, ela precisa ter um controle social que, em uma perspectiva democrática, implica em envolver uma parcela cada vez maior da população nas tomadas de decisão sobre Ciência e Tecnologia (SANTOS; MORTIMER, 2001, p. 96).

(5)

492 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p. 488-498, 2012 Devido às interações existentes entre a abordagem CTS e o cotidiano dos alunos, o ensino de ciências nesta perspectiva passa a representar importante estratégia de inclusão dos indivíduos na sociedade, como agente ativo de mudanças e não simplesmente como espectador.

É fundamental transformar a educação científica num processo que permite aos alunos a leitura do mundo e a interpretação / reflexão sobre os acontecimentos presentes em nossa dura realidade. Não faz sentido concebermos uma educação científica que não contemple os problemas dessa sociedade se fechando num compartimento isolado onde só existem conceitos, fórmulas, algoritmos, fenômenos e processos, a serem memorizados acriticamente pelos educandos (TEIXEIRA, 2002, p. 101). O papel da escola é fazer essa transposição do acadêmico para a realidade da vida. O ensino de ciências pode facilitar em muito essa perspectiva. Segundo Santos e Mortimer (2001, p. 107) “[...]Não basta fornecer informações atualizadas sobre questões de ciências e tecnologia para que os alunos de fato se engajem ativamente em questões sociais. Como também não é suficiente ensinar ao aluno passos para a tomada de decisão. Se desejamos preparar os alunos para participar ativamente de decisões da sociedade, precisamos ir além do ensino conceitual, em direção a uma educação voltada para a ação social responsável, em que haja preocupação com a formação de atitudes e valores.”

Esta concepção expandida por Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007), ao sugerir que o enfoque CTS deve ser inserido nos currículos com a função primordial de despertar no aluno a curiosidade, o espírito investigador, questionador e transformador da realidade, com o intuito de que ele possa vir a assumir essa postura questionadora e crítica num futuro próximo. Isso implica dizer que a aplicação de uma postura CTS deve ocorrer não somente dentro da escola, mas, também, fora dela e para a vida toda.

No entanto, o ensino baseado na abordagem CTS exige, não apenas, a oferta de propostas curriculares multidisciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares orientando novas estratégias de ensino de ciências inter relacionadas com a tecnologia e a sociedade, mas um investimento constante na formação acadêmica e na formação continuada de professores e na pesquisa e preparação de recursos didáticos.

Neste sentido, Santos e Mortimer (2000) sugerem que, para introdução do enfoque CTS em sala de aula, particularmente no Ensino Médio, precisamos considerar alguns problemas como, por exemplo, a utilização excessiva dos modelos curriculares de outros países sem a devida contextualização local e a deficiente formação de professores capazes de implementar um ensino adequado a esta abordagem.

Muitos autores, como Auler e Delizoicov (2006), relatam o pouco conhecimento dos professores em relação à abordagem CTS, evidenciando a necessidade de inclusão de temas CTS na formação inicial e continuada dos professores, para que estes possam contribuir mais adequadamente para melhorar e inovar o ensino das ciências, visando conseguir uma alfabetização científica e tecnológica mais ajustadas às necessidades de formação dos cidadãos reflexivos, críticos, responsáveis e éticos. Mais recentemente,

(6)

493 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p. 488-498, 2012 para garantir as abordagens CTS considerem e dêem destaque às questões ambientais surge a designação Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA).

Segundo Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007) apenas uma pequena parcela das instituições brasileiras que trabalham com formação de professores apresenta linha de pesquisa no enfoque CTS, fazendo com que a grande maioria de professores não tenha acesso a esse tipo de abordagem, mais de trinta anos após sua implementação no País. Além disso, a formação dos professores é eminentemente disciplinar, o que não condiz com a necessidade interdisciplinar do enfoque CTS.

Com base nos dados acima e com o intuito de contribuir para a superação destes problemas, propomos elaborar uma unidade didática de botânica, para o estudo de flor, numa abordagem CTS em espaços formais e não-formais, de ensino, trabalhando na formação de professores de Ciências e Biologia. Nesta Unidade Didática a flor será estudada em seus aspectos morfofuncionais, sociais, econômicos, industriais, medicinais, ecológicos e evolutivos.

Desenvolvimento da unidade didática

A Unidade Didática constou do “Estudo de Flores” nos seus aspectos morfofuncionais, evolutivos, ecológicos, sociais, culturais e econômicos. Os conteúdos foram desenvolvidos em seis aulas de 100 minutos na disciplina Morfologia Vegetal, com 64 alunos do 2º período do Curso de Ciências Biológicas da PUC Minas no primeiro semestre de 2008.

As atividades desenvolvidas constaram de:

 Sondagem do conhecimento prévio dos alunos sobre flores.  Aula expositiva sobre aspectos gerais das flores.

 Pesquisa e apresentação de trabalhos sobre flores numa abordagem CTS.  Com primeiro questionário sobre o ensino de botânica.

 Apresentação e discussão de um filme e aula prática sobre polinização

 Aulas teóricas e práticas enfocando características morfofuncionais das flores coletadas em ambiente antrópico e natural.

 Avaliação Teórica e prática e questionário comparativo sobre ensino tradicional frente às atividades CTS desenvolvidas

Dentre as atividades listadas acima destacamos e exemplificamos, neste trabalho, três delas:

1. Aula expositiva: Estudo morfofuncional das flores

Esta atividade constou de uma aula expositiva e dialogada sobre os verticilos florais enfocando: a relação entre eles e suas variações adaptativas para o sucesso da reprodução vegetal e da formação dos diversos tipos de frutos. Esquemas e desenhos

(7)

494 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p. 488-498, 2012 ilustrativos foram utilizados para melhor compreensão do assunto e possibilitar melhor percepção do exemplar natural nas futuras aulas práticas.

No final da aula o Professor explicou o significado do movimento CTS e orientou uma pesquisa com esta abordagem, a ser desenvolvida pelos alunos, sobre flores. Os grupos puderam escolher os temas a serem pesquisados dentre os seguintes enfoques:

1. Flor e misticismo 6. Flores medicinais 2. Flor na alimentação 7. Flor e tecnologia.

3. Flores e ornamentação 8. Flor, polinização e co-evolução. 4. Flor na indústria 9. Flor, evolução e biodiversidade 5. Flor e banhos 10. Flor e evolução dos grupos

vegetais.

2. Pesquisa e apresentação de trabalhos sobre flores numa abordagem CTS

Em grupo, os alunos foram orientados a pesquisar sobre as flores nos seus aspectos morfofuncionais, evolutivos, ecológicos, sociais, culturais e econômicos, conforme escolha entre os temas indicados no item anterior. Estes trabalhos poderiam ser baseados apenas no conhecimento popular e, não sendo de natureza científica, não representariam resultados de pesquisa sobre os princípios ativos, o preparo e a eficácia de produtos derivados de flores.

Foi solicitado que produzissem uma apresentação “Multimídia” para a socialização dos temas entre os diversos grupos, bem como a produção de outros materiais de divulgação, como cartilhas e “banners”, para a Mostra de Trabalhos Acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas da PUCMinas que ocorre a cada semestre.

3. Avaliação Teórica e Prática

Como parte de nossa estratégia para discutir as questões propostas na sondagem dos conhecimentos prévios dos alunos, aproveitei este momento para explicar que a Botânica poderia ser estudada numa abordagem diferente da tradicionalmente utilizada nas escolas, introduzindo conceitos e significados da abordagem CTS.

Para comparar a abordagem que consideramos tradicional com a abordagem CTS elaboramos e apresentamos aos alunos dois esquemas como mostra a seguir, a Figura 1.

(8)

495 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p. 488-498, 2012 Figura 1 - Esquemas elaborados para análise comparativa entre uma abordagem

considerada tradicional e a uma possível abordagem CTS no estudo de flor.

A Avaliação Teórica foi elaborada a partir dos conteúdos estudados na Unidade abordando os diversos aspectos as flores e os processos de polinização. A Avaliação Prática foi realizada em grupos de até quatro alunos. Esta avaliação constou de:

 Coleta de três flores diferente cultivada em ambiente antrópico, sendo uma monocotiledônea e duas dicotiledôneas. Os grupos deveriam ainda coletar uma folha de cada planta escolhida.

 Secagem das estruturas coletadas em prensa com jornal.

 Corte das folhas em ápice, base e bordos, e separação dos verticilos forais.  Montagem e colagem dos verticilos florais entre as quatro partes das flores.

ABORDAGEM TRADICIONAL

(9)

496 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p. 488-498, 2012  Identificação das estruturas florais em quadro anexo à direita das colagens com

base no roteiro de aula prática.

 Apresentação oral para os demais colegas e avaliação oral, simultânea, dirigida pelo professor a todos os membros de cada grupo.

Análise crítica parcial de atividades desenvolvidas

A boa qualidade dos trabalhos desenvolvidos se deveu em grande parte, segundo relato dos próprios alunos, ao tipo de enfoque, que permitiu estudar a flor para além de seus aspectos puramente acadêmicos. Ainda segundo os próprios alunos, esta nova abordagem proporcionou uma melhor identificação com os conteúdos acadêmicos de Botânica.

Percebe-se que pelo empenho e declarada satisfação, que as atividades desenvolvidas no estudo das flores numa abordagem CTS, num contexto antrópico ou natural, podem se constituir numa modalidade de ensino-aprendizagem que, trazendo curiosidades além dos conteúdos programados para estudo, proporcionou um afetivo e efetivo enriquecimento teórico-prático.

Destacamos ainda a grande importância de apresentar a futuros professores de Biologia uma estratégia didática capaz de enriquecer e diversificar suas práticas pedagógicas, dentro de uma fundamentação teórica que precisa ser mais difundida.

Muitos destes futuros professores relataram a satisfação em perceber que se pode ultrapassar o conteúdo específico da disciplina como forma de contextualizar e tornar o estudo de Botânica mais atraente e significativo. É opinião de muitos dos alunos que outras disciplinas, poderiam usar dessa abordagem didática numa perspectiva transdisciplinar.

Esse salto no modo de perceber o enriquecimento que o trabalho trouxe para a maioria alunos está destacado a seguir no relatado de um dos alunos:

“[...] tornei-me um pouco mais sensível às flores e descobri a grande variedade do uso delas.”

E ainda acrescentou:

“[...] nós estamos acostumados a ver a flor somente como órgão reprodutor e foi bastante interessante pesquisar sobre suas variadas funções e tirar proveito do conhecimento do dia-a-dia”.

Considerações finais

Conclui-se que a modalidade proposta para o estudo de Botânica, na abordagem CTS e vivenciado nas realidades da natureza atingiu a meta proposta, com confirmação de modo generalizado nos questionários respondidos.

Refletindo sobre os resultados obtidos nesse trabalho, concluímos que é preciso pensar melhor na formação dos professores nas Universidades, onde a proposta de

(10)

497 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p. 488-498, 2012 ensino-aprendizagem seja desenvolvido através de aulas práticas que fundamentem, apóiem e re-signifiquem a teoria e, sempre que possível, se utilize a natureza como laboratório real de suas aulas. É importante que os professores de Botânica procurem equilibrar o ensino teórico com o prático, uma vez grande parte do que está nos livros, na internet, foi um dia pesquisado na natureza e que essa volta ao real e ao histórico deva acontecer mais frequentemente. Perceber as adaptações, as curiosidades, a interação entre planta e natureza, é uma recomendação que fazemos aos professores para que possam oferecer aos seus alunos atividades pedagógicas mais atraentes e significativas.

Recomendamos também que a abordagem CTS seja mais conhecida, difundida, e utilizada de modo mais freqüente, para que o futuro licenciado tenha uma visão mais crítica dos conteúdos estudados na ênfase social, cultural, ambiental e ética. A sociedade precisa de professores educadores com uma visão mais ampla do que do simples conteúdo específico de cada matéria.

Para o professor já formado gostaríamos que houvesse espaço em sua prática profissional para formações continuadas que enfocassem a abordagem CTS, com o objetivo de melhorar suas práticas pedagógicas na perspectiva de formação de cidadãos críticos na visão social, ambiental, cultural e ética.

Referências

AULER, D.; DELIZOICOV, D. Alfabetização Científico-Tecnológica para quê? Ensaio. Belo Horizonte: v. 3, n.1, p. 105-115, 2001. Disponível em: www.fae.ufmg.br/ensaio/v3_n2/deciodemetrio.PDF - Acesso em: 22 Set. 2006.

BALDANI, R. C.; TOZONI-REIS, M. F. C. Desenvolvimento de Atividades de Campo

Fundamentadas pelos Pressupostos da Educação Ambiental. Atas do V ENPEC,

Bauru, 2005.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei no. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

_______. Ministério da Educação. Secretária da Educação Mídia e Tecnológica.

Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio: ciências da natureza, matemática e

suas tecnologias. Ministério da Educação/Secretária da Educação Média e Tecnológica, Brasília, 1999.

CHASSOT, A. I. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 3. ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003. 436 p.

CUNHA, R. M. M. Ensino de biologia no 2º grau: da competência “satisfatória” a nova competência. Educação e Sociedade 30, p.134-153, 1988.

PINHEIRO, Nilcéia A. M.; SILVEIRA, R. M. C. F.; BAZZO W. A. Ciência, Tecnologia e Sociedade: a relevância do enfoque CTS para o contexto do Ensino Médio. Ciência &

(11)

498 Anais do II Seminário Hispano Brasileiro - CTS, p. 488-498, 2012 PIVELLI, S. P.; KAWASAKI, C. S. Análise do Potencial Pedagógico de Espaços

Não-Formais de Ensino para o Desenvolvimento da Temática da Biodiversidade e sua Conservação. Atas do V ENPEC, Bauru, 2005.

SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Tomada de Decisão para ação social responsável no ensino de ciências. Ciência & Educação, Bauru, v.7, n.1, p.95-111, 2001.

TEIXEIRA, P. M. M. Educação Científica e Movimento CTS no Quadro das Tendências Pedagógicas no Brasil. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v.3, n.1, p.88-102, ago. 2003.

TOZONI-REIS, M. F.C. Formação dos educadores ambientais e paradigmas em transição. Ciência & Educação, Bauru, v. 8, n. 1, p. 83-96, 2002.

VIEIRA V., BIANCONI M. L.; DIAS M.. Espaços Não-formais de Ensino e o Currículo de Ciências. Ciência e Cultura, v. 57 n. 4, 2005.

WILSON, E.O. Diversidade da vida. Tradução Isa Mara Lando. São Paulo, Companhia de Letras, 1994, 359 p.

Imagem

Figura 1 -  Esquemas elaborados para análise comparativa entre uma abordagem  considerada tradicional e a uma possível abordagem CTS no estudo de flor

Referências

Documentos relacionados

Mesmo que as emissões de combustíveis fósseis fossem reduzidas drasticamente, por exemplo, não é possível afirmar que a atmosfera regressaria ao comportamento anterior ao

A Psicologia, por sua vez, seguiu sua trajetória também modificando sua visão de homem e fugindo do paradigma da ciência clássica. Ampliou sua atuação para além da

No final, os EUA viram a maioria das questões que tinham de ser resolvidas no sentido da criação de um tribunal que lhe fosse aceitável serem estabelecidas em sentido oposto, pelo

Mistura 3: Substituição de 7% em massa do agregado graúdo por areia. Os resultados obtidos na mistura M1 se enquadram na faixa proposta para o topo e o meio da mistura, a

[r]

(2008), o cuidado está intimamente ligado ao conforto e este não está apenas ligado ao ambiente externo, mas também ao interior das pessoas envolvidas, seus

Por outro lado, a heterogeneidade constitutiva da enunciação da autora, pensada a partir de seus exteriores: o dialogismo de Bakhtin e a psicanálise lacaniana,

No universo infantil, os conhecimentos prévios podem ser considerados como o resultado das concepções de mundo das crianças, estruturado a partir das interações sensoriais, afetivas e