UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Instituto de Biologia
Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal
Respostas morfofisiológicas de Miconia spp. em diferentes fitofisionomias da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG
Marília Marques
Profa. Dra. Marli Aparecida Ranal
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Instituto de Biologia
Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal
Respostas morfofisiológicas de Miconia spp. em diferentes fitofisionomias da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG
Marília Marques
Profa. Dra. Marli Aparecida Ranal
Dissertação apresentada à Universidade Federal de Uberlândia (UFU) como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Biologia Vegetal.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Instituto de Biologia
Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal
Respostas morfofisiológicas de Miconia spp. em diferentes fitofisionomias da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG
Marília Marques
AGRADECIMENTOS
A Deus, por sempre me abençoar e guiar meus caminhos. Sem Ele nada seria possível.
À minha mãe, Edna Marques, pelo amor incondicional, dedicação e por tudo que sempre fez
por mim.
Ao meu pai, Stenio Reny Portella, que sempre torceu e desejou o meu melhor.
À minha irmã, Cecília Marques, por incentivar meu sucesso.
À toda minha família e amigos que sempre me apoiaram e incentivaram.
Ao José Rosa de Paula Neto, que sempre esteve presente em todos os momentos com seu
apoio, paciência, incentivo e amor.
À Profa. Dra. Marli Aparecida Ranal, pela orientação, presença nas coletas em campo,
ensinamentos e paciência que foram fundamentais para meu crescimento, na vida profissional
e pessoal.
À Profa. Dra. Ana Paula de Oliveira, pela co-orientação, paciência, idas ao campo e por
aceitar o convite de participar da banca examinadora.
À Profa. Dra. Maria Cristina Sanches, pelos conselhos, ajuda em campo e participação como
membro da banca.
Ao Prof. Dr. Ivan Schiavini, pelas contribuições e por aceitar ser suplente da banca
examinadora.
À Profa. Dra. Rosana Romero, especialista em Melastomataceae, pela identificação das
plantas em campo.
Ao Dr. Edivane Cardoso da Silva, pela confecção do diagrama climatológico.
Ao João Paulo Ribeiro de Oliveira, pela ajuda, amizade, momentos de descontração e
À Nívia Mara Silva Rodrigues, Secretária do Programa de Pós-Graduação em Biologia
Vegetal da UFU, pela paciência, atenção e auxílio sempre que precisei.
Ao Sr. “Zé do Panga”, pela atenção e presença nas idas ao campo da Estação Ecológica do
Panga.
Aos motoristas, pela disponibilidade, prestatividade e simpatia no campo.
Aos colegas do Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal que estiveram comigo
durante todo o mestrado.
Aos Professores e todos que contribuíram com meu aprendizado durante o mestrado.
À Universidade Federal de Uberlândia e Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal,
pela oportunidade.
À Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação pela aquisição do IRGA, por meio do edital
27/2010 - Pró-Equipamentos Institucional da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior - CAPES.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG, pela aquisição do
Mini-PAM.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, por conceder a
bolsa de mestrado.
E a todos que, de alguma maneira, contribuíram para esta conquista!
SUMÁRIO
RESUMO GERAL ... 1
ABSTRACT ... 2
INTRODUÇÃO GERAL ... 3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 5
CAPÍTULO 1 ... 8
Respostas plásticas na arquitetura da planta e área foliar específica de cinco espécies de Miconia spp.(Melastomataceae): adaptações a ambientes com diferentes intensidades de luz ... 8
RESUMO ... 9
ABSTRACT ... 10
INTRODUÇÃO ... 11
MATERIAL E MÉTODOS ... 13
Local de coleta ... 13
Seleção de espécies e indivíduos ... 14
Traços funcionais ... 16
Análise estatística dos dados ... 17
RESULTADOS ... 17
DISCUSSÃO ... 22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 25
CAPÍTULO 2 ... 30
Atividade fotossintética de Miconia spp.(Melastomataceae) em vereda e borda de mata de galeria durante as estações seca e chuvosa ... 30
RESUMO ... 31
ABSTRACT ... 32
INTRODUÇÃO ... 33
MATERIAL E MÉTODOS ... 35
Local e período de coleta ... 35
Seleção de espécies e indivíduos ... 36
Características fotossintéticas ... 37
Análise estatística dos dados ... 39
RESULTADOS ... 39
Miconia chamissois ... 40
Miconia stenostachya ... 56
Miconia ibaguensis ... 71
DISCUSSÃO ... 79
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 83
CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 86
RESUMO GERAL
Miconia Ruiz & Pav. é o gênero de Melastomataceae com maior representatividade na
Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG, ocorrendo em diversas fitofisionomias
características do bioma Cerrado. Diante disto, este trabalho buscou por diferenças nos traços
funcionais e nas respostas fotossintéticas de espécies do gênero que ocorrem em ambientes
tão diversificados. No primeiro capítulo o objetivo foi avaliar a plasticidade fenotípica de
cinco espécies do gênero Miconia (Miconia albicans (Sw.) Triana, M. chamissois Naudin, M.
fallax DC., M. ibaguensis (Bonpl.) Triana e M. stenostachya DC.) que ocorrem em
fitofisionomias sujeitas a diferentes intensidades de luz (cerrado stricto sensu, cerradão, borda
e meio de vereda e borda de mata de galeria). No segundo capítulo foram avaliadas as
respostas fisiológicas de M. chamissois, M. ibaguensis e M. stenostachya ocorrentes em
vereda e borda de mata de galeria nas estações seca e chuvosa. Notou-se que, para todas as
espécies, a arquitetura e os traços foliares, além das características fotossintéticas, diferiram
entre as populações estabelecidas nos diferentes ambientes estudados. A área foliar específica
e o comprimento de entrenós foram maiores nas populações localizadas em ambientes com
maior nível de sombreamento. M. chamissois e M. stenostachya tiveram melhor desempenho
fotossintético na vereda, em relação à borda de mata de galeria, independente das estações.
Levando-se em consideração o fato de que as veredas e matas de galeria são restritas no
bioma Cerrado, além do notável processo de degradação a que esses ambientes estão
submetidos, M. chamissois e M. stenostachya encontram-se em situação de risco, uma vez
que ambas demonstraram melhor desempenho em ambiente com maior disponibilidade de
água no solo.
Palavras-chave: Mata de galeria, Melastomataceae, respostas fotossintéticas, sazonalidade,
ABSTRACT
Miconia Ruiz & Pav. is the genus of Melastomataceae with greater representation in the
Panga Ecological Station, Uberlândia, MG, occurring in various vegetation types
characteristic of the Cerrado biome. In view of this, this study sought differences in functional
traits and photosynthetic responses of five species of the genus occurring in such a diversified
environment. In the first chapter, the aim was to evaluate the phenotypic plasticity of five
species of the genus Miconia (Miconia albicans (Sw.) Triana, M. chamissois Naudin, M.
fallax DC., M. ibaguensis (Bonpl.) Triana and M. stenostachya DC.) occurring in vegetation
types subject to different light intensities (cerrado stricto sensu, cerradão, palm swamp edge
and middle and gallery forest edge). In the second chapter, the physiological responses of M.
chamissois, M. ibaguensis and M. stenostachya occurring in palm swamp and in gallery forest
edge were evaluated in the dry and rainy seasons. It was noted that, for all species, the
architecture and leaf traits in addition to the photosynthetic characteristics differed between
populations established in the different study sites. Specific leaf area and internode length
were higher in populations located in environments with higher levels of shading. M.
chamissois and M. stenostachya had better photosynthetic performance in the palm swamp
relative to the gallery forest edge, independent of the seasons. Taking into consideration the
fact that palm swamps and gallery forests are restricted to the Cerrado biome and are suffering
a remarkable process of degradation, M. chamissois and M. stenostachya are at risk, since
both perform better in environments with greater availability of water in the soil.
Key words: Gallery forest, Melastomataceae, photosynthetic responses, seasonality, functional
INTRODUÇÃO GERAL
A família Melastomataceae é constituída de 166 gêneros e aproximadamente 4.500
espécies (Renner 1993). No Brasil, é a sexta maior família de angiospermas, com 68 gêneros
e mais de 1500 espécies que se distribuem desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul
(Mendonça et al. 2008). As espécies ocorrem desde solos bem drenados até locais com
encharcamento periódico ou permanentemente alagados, apresentando grande diversidade de
hábitos, desde herbáceo até arbustivo, arbóreo e mais raramente aparecem como trepadeiras e
epífitas (Romero e Martins 2002). Em geral, as folhas das Melastomataceae são pilosas, com
lâminas inteiras, pecioladas e filotaxia oposta ou oposta-cruzada. As nervuras paralelas,
características da família, são em número de três a nove e estão ligadas entre si por nervuras
secundárias transversais (Barroso 1984).
O gênero Miconia Ruiz & Pav. é o maior da família, com aproximadamente 1000
espécies e ocorre em toda a América Latina, principalmente ao longo da Cordilheira dos
Andes, se estendendo ao Norte da América do Sul e ao Sudeste brasileiro (Goldenberg 2000).
Este gênero é representado em Minas Gerais por aproximadamente 30% das espécies
encontradas no território brasileiro (Rezende 2012). É característico de vegetação secundária
e apresenta espécies pioneiras, com frutos carnosos, pequenos e arredondados, que são
consumidos principalmente por aves, e várias sementes minúsculas (Maruyama et al. 2007).
Na Estação Ecológica do Panga, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN
localizada no Triângulo Mineiro, a família está representada por 25 espécies, ocorrendo em
diversas formações vegetacionais (Romero 1996). Miconia foi o mais bem representado nesta
área, com oito espécies, sendo que algumas fitofisionomias apresentam somente espécies
No bioma Cerrado Melastomataceae é representada por aproximadamente 32 gêneros
e 500 espécies dispersas nas várias fitofisionomias deste bioma (Mendonça et al. 2008). O
Cerrado, ambiente onde o presente trabalho foi desenvolvido, é o segundo maior bioma
brasileiro em extensão, ocupando 24% do território brasileiro e tem a mais rica flora das
espécies lenhosas da região neotropical (Castro et al. 1999). O mosaico de formações
vegetacionais e a dinâmica que as caracteriza estão associados a diversos fatores, dentre eles a
disponibilidade de água no solo, que é dependente do regime pluviométrico da região, da
sazonalidade climática e da profundidade do lençol freático, além do tipo de solo, da
topografia local e da ação do fogo (Costa e Araújo 2001; Franco 2002; Palhares et al. 2010).
As veredas são áreas úmidas que ocorrem em vales ou áreas planas, associadas a
cursos d’água e nascentes, caracterizadas pela presença da palmeira arbórea Mauritia flexuosa
L. f.(Ribeiro e Walter 1998). Os solos encontrados nesse tipo de formação são hidromórficos
e mal drenados (Araújo et al. 2002; Guimarães et al. 2002). A representatividade no bioma
Cerrado é baixa, ocupando aproximadamente 1,61% (Reatto et al. 2008), sendo que na
Estação Ecológica do Panga é superior (4,63%) (Cardoso et al. 2009).
Por outro lado, a área coberta por cerrado stricto sensu geralmente apresenta solos
profundos e bem drenados (Haridasan 1992), com a presença de árvores baixas, tortuosas,
com ramificações irregulares e retorcidas, além de arbustos e subarbustos espalhados ao longo
da comunidade vegetal (Ribeiro e Walter 1998).
Como conseqüência das alterações climáticas globais e locais e da forte ação
antrópica, o ressecamento do solo junto de nascentes, campos úmidos e veredas é cada vez
mais perceptível, ocasionando o avanço de algumas espécies comuns de áreas de cerrado, com
lençol freático mais profundo, para esses ambientes em processo de alteração (Lopes e
Schiavini 2007). É possível observar que indivíduos de espécies, como Miconia albicans
observado em levantamentos florísticos (Romero 1996), o que as torna bons representantes
para monitorar o ressecamento desses locais. É importante destacar que durante o período
seco, em especial quando este é mais prolongado, essas áreas úmidas são as fontes de água
disponíveis para a fauna local, conforme registros apresentados por Ribeiro e Walter (1998) e
Alho (2005), o que torna esses ambientes mais vulneráveis, em função do pisoteio de animais
maiores (Guimarães et al. 2002).
Em função do avanço de determinadas espécies em direção aos solos das áreas úmidas
em processo de ressecamento, torna-se importante buscar por diferenças nos traços funcionais
e no comportamento fisiológico dessas espécies que ocorrem em ambientes tão diversificados
e susceptíveis. A compreensão da dinâmica de ocupação desses locais recém modificados e a
distribuição das espécies passam então a ser de extrema importância, em especial para
direcionar projetos de manejo e conservação. Neste contexto e devido à boa
representatividade da família Melastomataceae na Estação Ecológica do Panga, o objetivo
deste trabalho foi detectar padrões nos traços funcionais e nas respostas fotossintéticas de
espécies do gênero Miconia sp., com ocorrência em diferentes fitofisionomias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alho CJR (2005) Desafios para a conservação de Cerrado, em fase das atuais tendências de uso e ocupação. In: Scarlot A, Silva JCS, Felfili JM (orgs) Cerrado: biologia, biodiversidade e conservação. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, pp 367-381
Araújo GM, Barbosa AAA, Arantes AA, Amaral AF (2002) Composição florística de veredas no município de Uberlândia, MG. Revista Brasileira de Botânica 25:475-493
Barroso GM (1984) Sistemática de Angiospermas do Brasil. Viçosa, Imprensa da Universidade Federal de Viçosa
Castro A, Martins FR, Tamashiro JY, Shepherd GJ (1999) How rich is the flora of Brazilian cerrados. Annals of the Missouri Botanical Garden 86:192-224
Costa AA, Araújo GM (2001) Comparação da vegetação arbórea de cerradão e de cerrado na Reserva do Panga, Uberlândia, Minas Gerais. Acta Botânica Brasílica 15:63-72
Franco AC (2002) Ecophysiology of woody plants. In: Oliveira PS, Marquis RJ (ed) The cerrados of Brazil. Columbia University Press, New York
Goldenberg R (2000) O gênero Miconia Ruiz & Pav. (Melastomataceae): I. Listagens
analíticas, II. Revisão taxonômica da seção Hypoxanthus (Rich. ex DC.) Hook. F. Tese,
Universidade Estadual de Campinas
Guimarães AJM, Araújo GM, Corrêa GF (2002) Estrutura fitossociológica em área natural e antropizada de uma vereda em Uberlândia, MG. Acta Botânica Brasílica 16:317-329
Haridasan M (1992) Observations on soils, foliar nutrient concentration and floristic
composition of cerrado sensu stricto and cerradão communities in central Brazil. In: Furley
PA, Proctor J, Ratter JA (ed) Nature and Dynamics of Forest-Savanna Boundaries. Chapman & Hall Publishing, London, UK, pp 171-184
Lopes SF, Schiavini I (2007) Dinâmica da comunidade arbórea de mata de galeria da Estação
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Maruyama PK, Alves-Silva EE, Melo C (2007) Oferta qualitativa e quantitativa de frutos em
espécies ornitocóricas do gênero Miconia (Melastomataceae). Revista Brasileira de
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Mendonça RC, Felfili JM, Walter BMT, Silva Júnior MC, Rezende AV, Filgueiras TS, Nogueira PE (2008) Flora Vascular do Cerrado. In: Sano SM, Almeida SP (eds) Cerrado: ambiente e flora. EMBRAPA, Brasília
Palhares D, Franco AC, Zaidan LBP (2010) Respostas fotossintéticas de plantas do cerrado nas estações seca e chuvosa. Revista Brasileira de Biociências, 8:213-220
Reatto A, Correia JR, Spera ST, Martins ES (2008) Solos do bioma cerrado: aspectos pedológicos. In: Sano SM, Almeida SP, Ribeiro JF (eds) Cerrado: ecologia e flora. EMBRAPA Informação Tecnológica, Brasília, pp 107-133
Renner SS (1993) Phylogeny and classifications of the Melastomataceae and Memecylaceae. Nordic Journal of Botany 13:519-540
Rezende AR (2012) Sistemática e conservação de Miconia seção Miconia DC.
(Melastomataceae) no Estado de Minas Gerais, Brasil. Dissertação, Universidade Federal de Uberlândia
Romero R (1996) A Família Melastomataceae na Estação Ecológica do Panga, Município de Uberlândia, MG. Hoehnea 23:147-168
CAPÍTULO 1
Respostas plásticas na arquitetura da planta e área foliar específica de cinco espécies de
Miconia spp.(Melastomataceae): adaptações a ambientes com diferentes intensidades de
RESUMO
No bioma Cerrado Melastomataceae é uma das principais famílias e é encontrada em diversas
fitofisionomias. A capacidade das plantas de ocupar diferentes ambientes é possível devido à
plasticidade fenotípica que contribui para a ocorrência das espécies em ambientes
heterogêneos. Dentre alguns fatores, a luz é o principal que influencia diretamente as
respostas plásticas nos traços funcionais, tanto na arquitetura das plantas quanto na área foliar
específica. O objetivo deste trabalho foi avaliar a plasticidade fenotípica de populações de
cinco espécies do gênero Miconia, com ocorrência em fitofisionomias do bioma Cerrado
sujeitas a diferentes intensidades de luz. Foram amostrados indivíduos adultos de Miconia
albicans (Sw.) Triana, M. chamissois Naudin, M. fallax DC., M. ibaguensis (Bonpl.) Trianae
M. stenostachya DC. nos diferentes ambientes da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia,
MG e analisadas a área foliar específica e a arquitetura da parte aérea (diâmetro do caule ao
nível do solo, altura total, área da copa, comprimento da copa e distância entre o 2º e 3º
entrenó a partir da gema apical). M. ibaguensis (Bonpl.) Trianafoi analisada apenas na mata
de galeria quanto às mesmas características. Os indivíduos das espécies de Miconia, quando
localizados em fitofisionomias contrastantes, apresentaram diferenças nas características de
arquitetura arbórea e área foliar específica. Nas fitofisionomias com menor incidência de luz,
houve maior área foliar específica e comprimento de entrenó dos indivíduos. Os indivíduos de
M. ibaguensis apresentaram área foliar específica semelhante a das demais espécies de
Miconia ocorrentes em ambientes sombreados. As características ambientais de cada
fitofisionomia influenciaram nos traços funcionais, sendo que este estudo mostrou a
importância da plasticidade fenotípica em espécies deste gênero para o sucesso adaptativo em
ambientes com diferentes intensidades luminosas.
ABSTRACT
In the Cerrado biome, Melastomataceae is one of the main families and is found in different
vegetation types. The ability of plants to occupy different environments is possible due to the
phenotypic plasticity that contributes to the occurrence of the species in heterogeneous
environments. Among other factors, light is the main one, which directly influences the
plastic responses in functional traits, both in the architecture of plants and specific leaf area.
The objective of this study was to evaluate the phenotypic plasticity of populations of five
species of the genus Miconia, occurring in different vegetation types of the Cerrado biome
subject to different light intensities. Adult individuals of Miconia albicans (Sw.) Triana, M.
chamissois Naudin, M. fallax DC., M. ibaguensis (Bonpl.) Triana and M. stenostachya DC.
were sampled in different environments of the Panga Ecological Station, Uberlândia, MG and
analyzed for specific leaf area and shoot architecture (stem diameter at ground level, total
height, crown area, crown length and distance between the 2nd and 3rd internode from the
apical bud). M. ibaguensis (Bonpl.) Triana was analyzed only in the gallery forest for the
same characteristics. Individuals of the Miconia species, when located in contrasting
vegetation types, showed differences in tree architecture characteristics and specific leaf area.
The vegetation types with lower incidence of light, there was a higher specific leaf area and
length of internode of individuals. The M. ibaguensis individuals had similar specific leaf area
to the other species of Miconia occurring in shaded environments. The environmental
characteristics of each vegetation type influenced the functional traits, and this study showed
the importance of phenotypic plasticity in species of this genus for the adaptive success in
environments with different light intensities.
INTRODUÇÃO
Melastomataceae é uma das importantes famílias de angiospermas do Cerrado, com
aproximadamente 500 espécies dispersas nas várias fitofisionomias deste bioma (Mendonça et
al. 2008). A vegetação é exposta a altas irradiâncias e temperaturas e, na estação seca, baixa
umidade relativa do ar (Franco 2002, 2004). Além disso, os solos predominantes são
latossolos geralmente muito profundos, com alta porcentagem de argila, bem drenados,
fortemente ácidos, com alta saturação de Al e baixa disponibilidade de nutrientes (Sarmiento
1984; Franco 2002).
Dentre as diversas fitofisionomias do Cerrado, com características específicas e
contrastantes, destacam-se as formações campestres (campos limpo, sujo e rupestre),
savânicas (cerrado stricto sensu, cerrado denso, cerrado ralo e cerrado rupestre) e florestais
(cerradão, matas de galeria, ciliares e secas) (Ribeiro e Walter 1998).
Algumas variáveis ambientais explicam a ocorrência dessas formações tão diversas no
Cerrado, tais como o clima, o tipo de solo, o fogo, além da disponibilidade de água no solo e a
profundidade do lençol freático (Franco 2002; Palhares et al. 2010). Dentre os ambientes com
maior disponibilidade de água no solo estão as veredas que ocorrem em vales ou áreas planas,
próximas de cursos d’água e nascentes (Ribeiro e Walter 1998), com solos hidromórficos e
mal drenados (Araújo et al. 2002; Guimarães et al. 2002). Por outro lado, a área coberta por
cerrado stricto sensu geralmente apresenta solos profundos e bem drenados (Haridasan 1992),
onde há a presença de árvores baixas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas,
além de arbustos e subarbustos espalhados ao longo da comunidade vegetal (Ribeiro e Walter
1998).
Apesar de comum a co-ocorrência de espécies em fitofisionomias contrastantes do
distintas e podem ocasionar diferenças morfofisiológicas importantes que precisam ser
mensuradas. Essa capacidade das plantas em ocupar diferentes ambientes é possível devido à
plasticidade fenotípica que é fundamental para a sobrevivência das espécies em ambientes
heterogêneos (Pearcy et al. 2004; Valladares et al. 2007). A variação fenotípica também tem
importante função na biologia evolutiva das plantas; porém, são poucos os estudos sobre o
assunto (Valladares e Niinemets et al. 2007).
Dentre alguns fatores, a luz é um dos principais que influencia diretamente as
respostas plásticas nos traços funcionais, tanto na arquitetura da planta quanto na área foliar
específica (Pearcy 2007). O grau de plasticidade fenotípica que culmina em respostas
morfofisiológicas, levando-se em consideração as relações de variação na intensidade
luminosa, é específico para cada espécie e tem papel fundamental na sobrevivência de plantas
com ocorrência em ambientes heterogêneos (Petit et al. 1996).As plantas que crescem sob
baixa disponibilidade de luz têm padrões fisiológicos e morfológicos diferentes das que
ocorrem sob alta irradiância (Givnish 1988; Reich et al. 2003). Dentre as características
morfológicas, a variação dos traços foliares tem importante papel no desempenho de espécies
quando em hábitats contrastantes, permitindo que as plantas tenham a capacidade de
responder a diferentes pressões ambientais (Valladares et al. 2006, 2007). Assim, a melhor
compreensão sobre a variabilidade das características foliares em mosaicos de vegetação pode
aumentar o conhecimento sobre o cenário de mudanças climáticas, por exemplo (Bedetti et al.
2011).
Algumas espécies do gênero Miconia têm esta capacidade de ocupar fitofisionomias
com características contrastantes, como por exemplo, Miconia albicans (Sw.) Triana e M.
fallax DC., que ocupam tanto o cerrado stricto sensu quanto as bordas de veredas, segundo
levantamento florístico realizado por Romero (1996). As alterações climáticas globais e locais
úmidos e veredas têm sido fatores importantes que interferem na ocupação destas espécies em
ambientes distintos. Este fenômeno é cada vez mais perceptível, ocasionando o avanço de
algumas espécies comuns de áreas de cerrado, com lençol freático mais profundo, para esses
ambientes em processo de ressecamento (Lopes e Schiavini 2007). Algumas espécies de
Melastomataceae como Macairea radula (Bonpl.) DC. e Trembleya parviflora (D. Don)
Cogn., encontradas em vereda e cerrado stricto sensu, mostraram plasticidade na estrutura
foliar, o que provavelmente tornou possível sua colonização em áreas de vereda (Somavilla e
Graciano-Ribeiro 2011). Uma vez que espécies do gênero Miconia são submetidas a
diferentes pressões ambientais no percurso de sua ampla distribuição geográfica, a
plasticidade fenotípica pode contribuir para seu estabelecimento e sobrevivência em
ambientes heterogêneos.
Devido à boa representatividade do gênero na Estação Ecológica do Panga, torna-se
importante buscar por diferenças nos traços funcionais dessas espécies que ocorrem em
ambientes tão diversificados. Portanto, este trabalho teve como objetivo avaliar a variação nos
traços funcionais de espécies do gênero Miconia que ocorrem em fitofisionomias sujeitas a
diferentes intensidades de luz.
MATERIAL E MÉTODOS
Local de coleta
A coleta dos dados foi realizada na Estação Ecológica do Panga (EEP), localizada ao
sul do munícipio de Uberlândia, MG (19º 09’ 20’’ S e 48º 24’ 35’’ W). A Estação ocupa
409,5 ha, com altitude média de 800 m e pertence à Universidade Federal de Uberlândia
Patrimônio Natural - RPPN (Schiavini e Araújo 1989). É uma área representativa das
fitofisionomias do bioma Cerrado, onde vários tipos florestais e savânicos podem ser
encontrados, tais como mata de galeria, cerradão, cerrado stricto sensu, campo cerrado,
campo sujo, campos úmidos e veredas (Cardoso e Schiavini 2002). O clima regional é
classificado como tropical de savana (Aw Megatérmico), segundo a classificação atualizada
de Köeppen-Geiger (Alvares et al. 2013), com duas estações bem definidas; inverno frio e
seco entre os meses de abril a setembro e verão quente e chuvoso entre os meses de outubro a
março.
Seleção de espécies e indivíduos
O estudo dos traços funcionais foi realizado em espécies de Melastomataceae
pertencentes ao gênero Miconia (Miconia albicans (Sw.) Triana, M. chamissois Naudin, M.
fallax DC., M. ibaguensis (Bonpl.) Triana e M. stenostachya DC.), ocorrentes em áreas com
diferentes intensidades de luz (cerrado stricto sensu, cerradão, borda e meio de vereda e borda
de mata de galeria do bioma Cerrado). Foram avaliados entre cinco e 15 indivíduos adultos de
cada espécie, dependendo da quantidade disponível em campo (Tabela 1). Ilustrações das
espécies e das fitofisionomias estudadas encontram-se no anexo desta dissertação.
Miconia albicans apresenta hábito arbustivo, com até 2,5 metros de altura, ocorrendo
desde o sul do México e Antilhas até o Paraguai e sul do Brasil (Goldenberg 2004). Em Minas
Gerais está presente em diversas fisionomias das formações campestres, savânicas e florestais
(Rezende 2012).
Miconia chamissois é um arbusto que ocorre desde o México até a Argentina e sul do
Brasil (Goldenberg 2000) e é preferencialmente encontrada em ambientes úmidos, veredas e
Miconia fallax também possui porte arbustivo, ocorre desde o Peru, Venezuela e
Guiana até o Paraguai e sudeste brasileiro (Goldenberg 2000) e pode ocorrer em campo
rupestre e cerrado stricto sensu (Silva e Romero 2008).
Miconia ibaguensis ocorre desde o sul do México até o Paraguai e sul do Brasil
(Goldenberg 2000), sendo encontrada em campo rupestre, mata mesofítica, ciliar, de galeria,
de encosta, cerradão e campo sujo (Rezende 2012).
Miconia stenostachya ocorre desde o sul do México até a Bolívia e sul do Brasil
(Goldenberg 2000) e é comum em áreas de cerrado, cerradão, campo úmido, vereda, campo
rupestre, mata mesofítica e de galeria (Rezende 2012).
Tabela 1: Número de indivíduos selecionados (n) de espécies de Miconia nas diferentes
fitofisionomias da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG, para a coleta dos traços funcionais - traços foliares (F) e arquitetura da planta (A).
ESPÉCIES
Mata de galeria (borda)
Cerradão Cerrado
stricto sensu
Vereda (borda)
Vereda (meio)
F A F A F A F A F A
(n) (n) (n) (n) (n) (n) (n) (n) (n) (n)
Miconia albicans - - 10 10 10 10 10 10 - -
Miconia chamissois 5 5 - - - 10 15
Miconia fallax - - - - 10 15 8 11 - -
Miconia ibaguensis 10 10 - - - -
Traços funcionais
Após a seleção dos indivíduos de cada espécie, a arquitetura foi avaliada medindo-se,
de cada indivíduo, o diâmetro ao nível do solo (DNS), a altura total (At), a altura da primeira
ramificação (Ar), o maior diâmetro da copa (D1) e sua medida perpendicular (D2) e a
distância entre o 2º e 3º nós a partir da gema apical (Ed) de cinco ramos diferentes. O
diâmetro do caule e o comprimento do entrenó foram medidos com o auxílio de paquímetro
digital; a altura do indivíduo com régua graduada e o diâmetro da copa com trena. A área da
copa (Ac) foi calculada a partir do produto entre o maior diâmetro da copa e sua medida
perpendicular, considerando-se copas elípticas (Ac = /4 x D1 x D2) (Poorter et al. 2006); o
comprimento da copa foi calculado pela diferença entre a altura total e a altura da primeira
ramificação (CC = At - Ar) (Prado Júnior 2012).
Para calcular a área foliar específica, foram coletadas folhas maduras totalmente
expandidas de indivíduos adultos, sem sintomas de agentes patogênicos ou ataque de
herbívoros. Foram coletadas entre seis e 10 folhas de cada indivíduo, dependendo da espécie e
sua abundância nas áreas. As folhas foram embaladas em sacos de plástico fechados, para não
haver perda do conteúdo de água até a medição dos traços foliares em laboratório.
Imediatamente após o retorno do campo e no mesmo dia, as folhas foram digitalizadas
juntamente com escala métrica. Posteriormente as áreas foliares (leaf area - LA) foram
calculadas, utilizando-se o programa ImageJ (Rasband 1997), especializado em análise de
imagens. As folhas foram colocadas em estufa a 70 ºC até atingir massa constante e, em
seguida, tiveram seu conteúdo de matéria seca foliar (leaf dry matter contain - LDMC)
(mm2) / LDMC (mg). O uso da unidade mm2 mg-1 para a SLA seguiu a padronização sugerida
por Cornelissen et al. (2003) e utilizada pela maioria dos estudos.
Análise estatística dos dados
Para a análise estatística foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk ou de
Kolmogorov-Smirnov para a normalidade dos dados e o teste de Levene para a homogeneidade de
variâncias, ambos a 0,01 de significância. Atendidas essas pressuposições, foi aplicado aos
dados o teste t de Student a 0,05 de significância, para comparar as médias das características
de arquitetura da planta e área foliar específica entre os indivíduos de cada espécie ocorrendo
em duas fitofisionomias. Quando necessário, os dados foram submetidos à transformação para
atender as pressuposições estatísticas. Estas análises foram realizadas utilizando-se o
programa SPSS Statistics 17.0 (SPSS Inc. 2008).
RESULTADOS
As espécies de Miconia amostradas, quando localizadas em fitofisionomias
contrastantes, tiveram diferenças nas características de arquitetura arbórea e área foliar
específica dos indivíduos (Tabelas 2-7). Em ambientes mais sombreados, Miconia albicans,
M. chamissois, M. fallax e M. stenostachya apresentaram maior área foliar específica (Figura
1) e comprimento de entrenó (Figura 2). Em locais com maior sombreamento os indivíduos
de M. albicans também tiveram maior altura, área e comprimento da copa (Tabela 2) e os de
M. fallax maior diâmetro do caule (Tabela 5). M. ibaguensis apresentou maior valor para a
área da copa em comparação com as demais espécies e a área foliar específica semelhante a
M. stenostachya apresentou maiores valores de diâmetro e área da copa em local menos
sombreado (Tabela 7).
Tabela 2: Traços funcionais de Miconia albicans (Sw.) Trianaocorrente em borda de vereda, cerrado
stricto sensu e cerradão da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG.
Traços Funcionais1
Borda Vereda Cerrado Cerradão
K-S (P)
Borda Vereda
K-S (P)
Cerrado CerradãoK-S (P)
Entrenó (cm) 2,13 ± 0,41 b 4,01 ± 0,66 a 4,12 ± 0,99 a 0,18 (0,20) 0,14 (0,20) 0,12 (0,20)
Diâmetro (cm) 2,45 ± 0,61 a 2,81 ± 1,46 a 1,91 ± 1,20 a 0,21 (0,20) 0,27 (0,04) 0,25 (0,07)
Altura (m) 1,65 ± 0,32 b 2,28 ± 0,74 a 2,38 ± 0,93 a 0,11 (0,20) 0,20 (0,20) 0,26 (0,06)
Área da copa
(m2) 0,63 ± 0,26 b 1,26 ± 0,80 a 0,61 ± 0,67 b 0,13 (0,20) 0,23 (0,14) 0,30 (0,02)
Comprimento da copa (m)
0,94 ± 0,31 b 1,51 ± 0,67 a 1,45 ± 0,70 a 0,11 (0,20) 0,20 (0,20) 0,21 (0,20)
Área foliar específica (mm2 mg-1)
6,47 ± 1,05 c 8,27 ± 1,76 b 10,05 ± 1,85 a 0,08 (0,09) 0,10 (0,02) 0,08 (0,13)
1: Médias (± desvio padrão) com letras distintas, na linha, diferem significativamente pelo teste t de Student a 0,05 de
significância; K-S: valores do teste de Kolmogorov-Smirnov para a normalidade; P: probabilidade.
Tabela 3: Valores dos testes t de Student e Levene (F) para traços funcionais de Miconia albicans
(Sw.) Triana apresentados na tabela 1. Valores entre parênteses representam a
probabilidade.
Traços Funcionais
Borda Vereda e Cerrado Borda Vereda e Cerradão Cerrado e Cerradão
t (P) F(P) t (P) F(P) t (P) F(P)
Entrenó (cm) -7,65 (0,00) 1,94 (0,18) -5,84 (0,00) 4,76 (0,04) -0,29 (0,78) 1,19 (0,29)
Diâmetro (cm) -0,70 (0,49) 2,22 (0,15) 1,28 (0,22) 1,78 (0,20) 1,50 (0,15) 0,12 (0,74)
Altura (m) -2,50 (0,03) 9,22 (0,01) -2,34 (0,03) 14,43 (0,01) -0,26 (0,80) 1,05 (0,32)
Área da copa (m2) -2,53 (0,02) 3,41 (0,08) 0,60 (0,56) 1,85 (0,19) 2,45 (0,03) 0,04 (0,85)
Comprimento da copa (m)
-2,47 (0,02) 5,91 (0,03) -2,10 (0,04) 7,19 (0,02) 0,22 (0,83) 0,04 (0,84)
Área foliar específica (mm2 mg-1)
Tabela 4: Traços funcionais de Miconia chamissois Naudin ocorrente em meio de vereda e borda de
borda de mata de galeria da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG.
Traços Funcionais1 Meio
Vereda Mata de Galeria Meio VeredaK-S (P) Mata de K-S (P) Galeria
F (P) t (P)
Entrenó (cm) 1,30 ± 0,28 b 4,23 ± 2,15 a 0,12 (0,20) 0,24 (0,20) 21,85 (0,00) -3,05 (0,04)
Diâmetro (cm) 2,11 ± 0,53 a 2,43 ± 1,79 a 0,17 (0,20) 0,27 (0,20) 28,66 (0,00) -0,40 (0,71)
Altura (m) 1,66 ± 0,22 a 2,15 ± 0,80 a 0,13 (0,20) 0,29 (0,19) 37,71 (0,00) -1,37 (0,24)
Área da copa
(m2) 0,50 ± 0,26 a 0,47 ± 0,41 a 0,20 (0,10) 0,17 (0,20) 1,08 (0,31) 0,24 (0,82)
Comprimento da copa (m)
0,82 ± 0,16 a 1,00 ± 0,41 a 0,12 (0,20) 0,29 (0,19) 19,53 (0,00) -0,10 (0,37)
Área foliar específica (mm2 mg-1)
7,34 ± 1,03 b 15,48 ± 3,03 a 0,07 (0,20) 0,09 (0,20) 72,10 (0,00) -17,19 (0,00)
1: Médias (± desvio padrão) com letras distintas, na linha, diferem significativamente pelo teste t de Student a 0,05 de
significância; K-S: valores do teste de Kolmogorov-Smirnov para a normalidade;F: valores do teste de Levene para
homogeneidade das variâncias; t: valores do teste t de Student; P: probabilidade.
Tabela 5: Traços funcionais de Miconia fallax DC. ocorrente em borda de vereda e cerrado stricto
sensu da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG.
Traços Funcionais1
Borda Vereda Cerrado
K-S (P)
Borda Vereda
K-S (P)
Cerrado F (P)
t (P)
Entrenó (cm) 3,75 ± 0,84 b 5,36 ± 0,93 a 0,38 (0,20) 0,16 (0,20) 2,33 (0,14) -4,55 (0,00)
Diâmetro (cm) 1,09 ± 0,38 b 1, 91 ± 0,54 a 0,31 (0,20) 0,21 (0,20) 1,80 (0,19) -4,29 (0,00)
Altura (m) 1,27 ± 0,27 a 1,40 ± 0,12 a 0,14 (0,20) 0,21 (0,20) 4,82 (0,04) -1,65 (0,11)
Área da copa
(m2) 0,08 ± 0,05 a 0,22 ± 0,13 a 0,33 (0,20) 0,17 (0,20) 1,96 (0,19) -1,98 (0,08)
Comprimento
da copa (m) 0,64 ± 0,33 a 0,77 ± 0,27 a 0,15 (0,20) 0,17 (0,20) 0,76 (0,39) -1,15 (0,26)
Área foliar específica (mm2 mg-1)
6,72 ± 0,64 b 7,85 ± 0,73 a 0,07 (0,20) 0,06 (0,20) 0,90 (0,34) -10,30 (0,00)
1: Médias (± desvio padrão) com letras distintas, na linha, diferem significativamente pelo teste t de Student a 0,05 de
significância; K-S: valores do teste de Kolmogorov-Smirnov para a normalidade;F: valores do teste de Levene para
Tabela 6: Traços funcionais de Miconia ibaguensis (Bonpl.) Triana ocorrente em borda de mata
de galeria da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG.
Traços Funcionais1 Mata de Galeria
Entrenó (cm) 3,65 ± 1,17
Diâmetro (cm) 2,50 ± 1,26
Altura (m) 2,40 ± 0,84
Área da copa (m2) 2,10 ± 2,61
Comprimento da copa (m) 1,41 ± 0,75
Área foliar específica
(mm2 mg-1)
13,98 ± 2,66
1: Média e desvio padrão dos dados.
Tabela 7: Traços funcionais de Miconia stenostachya DC. ocorrente em borda de vereda e
borda de mata de galeria da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG.
Traços Funcionais1 Borda Vereda Mata de
Galeria
K-S (P) Borda Vereda
K-S (P) Mata de Galeria
F (P) t (P)
Entrenó (cm) 2,81 ± 0,88 b 4,31 ± 0,79 a 0,27 (0,09) 0,31 (0,02) 21,85 (0,00) -3,83 (0,00)
Diâmetro (cm) 1,87 ± 0,58 a 1,28 ± 0,36 b 0,21 (0,20) 0,29 (0,02) 28,66 (0,00) 2,61 (0,02)
Altura (m) 1,47 ± 0,19 a 1,36 ± 0,23 a 0,18 (0,20) 0,15 (0,20) 37,71 (0,00) 1,00 (0,33)
Área da copa
(m2) 0,69 ± 0,34 a 0,40 ± 0,20 b 0,17 (0,10) 0,21 (0,20) 1,08 (0,31) 2,24 (0,04)
Comprimento da copa (m)
0,82 ± 0,17 a 0,71 ± 0,27 a 0,18 (0,20) 0,18 (0,20) 19,53 (0,00) 1,01 (0,33)
Área foliar específica (mm2 mg-1)
6,69 ± 0,84 b 12,84 ± 1,97 a 0,10 (0,04) 0,11 (0,17) 72,10 (0,00) -28,57 (0,00)
1: Médias (± desvio padrão) com letras distintas, na linha, diferem significativamente pelo teste
t de Student a 0,05 de
significância; K-S: valores do teste de Kolmogorov-Smirnov para a normalidade;F: valores do teste de Levene para
Figura 1. Valores médios da área foliar específica de espécies de Miconia ocorrentes
em diferentes fitofisionomias da Estação Ecológica do Panga, Uberlândia, MG.
Figura 2. Valores médios do comprimento de entrenó de espécies de Miconia
DISCUSSÃO
Indivíduos de todas as espécies de Miconia localizados em ambientes com baixa
disponibilidade de luz apresentaram maior área foliar específica e comprimento de entrenó,
em virtude, respectivamente, da maior área foliar por unidade de massa seca e do
estiolamento dos entrenós, regulado pela ação do fitocromo, o que maximiza a captura de luz.
Este comportamento também é observado para outras espécies cujas folhas geralmente são
mais finas e têm menos biomassa por unidade de área foliar em ambientes sombreados, o que
aumenta a interceptação de luz e, em contrapartida, em locais com restrições hídricas, as
plantas apresentam redução da área foliar a fim de minimizar a perda de água (Franco et al.
2005; Valladares e Niinemets et al. 2007, 2008; Ferreira et al. 2013).
A captura de luz por uma planta depende da quantidade e distribuição espacial de
radiação, da arquitetura da planta como um todo (Pearcy et al. 2004) e também da área foliar
específica, que é uma das características ecofisiológicas de maior importância, pois está
relacionada à estrutura e fisiologia da folha, em resposta às variações do meio ambiente
(Franco et al. 2005). O aumento da área das folhas e demais traços funcionais, como altura e
comprimento de entrenós, em áreas com maior nível de sombreamento, compensa a baixa
disponibilidade de luz causada pela densidade da vegetação e pode favorecer o crescimento e
a reprodução (Pearcy 2007).
Esta plasticidade acaba sendo uma importante estratégia utilizada pelas plantas para
superar a heterogeneidade ambiental, típica das várias fitofisionomias do bioma Cerrado
(Valladares et al. 2007). Algumas respostas plásticas colaboram para que se possa
compreender como determinada espécie consegue se estabelecer e sobreviver em locais com
condições ambientais tão discrepantes (Ferreira et al. 2013).
É possível então afirmar que os indivíduos de Miconia spp. amostrados na Estação
irradiâncias contrastantes. O mesmo foi observado para outras espécies do gênero (Marques et
al. 2000; Hoffmann et al. 2005), mas esta plasticidade também pode ser em resposta a outros
fatores ambientais como os relacionados ao gradiente de altitude (Ely et al. 2005) e às
diferentes fitofisionomias que respondem a outros fatores (Boeger et al. 2008). M. albicans
também mostrou alta plasticidade quanto à área foliar específica, variando entre diferentes
fitofisionomias e teor de nutrientes no solo, sendo os maiores valores encontrados em floresta
e os menores no cerrado (Bedetti et al. 2011).
Além dos traços foliares e comprimento de entrenós, outros atributos da arquitetura
dos indivíduos de Miconia spp. da Estação Ecológica do Panga foram diferentes de acordo
com a disponibilidade de luz no ambiente. O diâmetro do caule ao nível do solo foi maior
para os indivíduos de M. fallax com ocorrência em cerrado, comparados com os de borda de
vereda e a área da copa não apresentou diferença em ambas fitofisionomias, sendo baixos os
valores para esta característica em comparação com as demais espécies. Possivelmente isto
ocorre devido ao fato de que os indivíduos amostrados, tanto em cerrado quanto em borda de
vereda, apresentavam pequeno porte e número reduzido de ramificações.
Miconia stenostachya apresentou comportamento contrário ao de M. fallax, com maior
diâmetro para os indivíduos em borda de vereda, área com maior intensidade de luz, sendo
menor em borda de mata de galeria devido ao estiolamento do caule. Em áreas abertas, a ação
dos ventos prejudica o desenvolvimento das plantas e, consequentemente, causa modificações
na arquitetura da planta. Por outro lado, em áreas florestais a intensidade do vento é menor
(Fourcaud et al. 2008), o que justifica o maior diâmetro em borda de vereda, já que o estresse
causado pelo vento, em áreas abertas, estimula o aumento da espessura dos caules (Poorter et
al. 2006). Deve-se levar em consideração ainda que em borda de vereda o excesso de luz
representa ganho de carbono pelas plantas e os fotoassimilados podem ser revertidos para os
Para Miconia albicans, as populações ocorrentes em cerrado e cerradão tiveram
valores mais elevados das características de altura e comprimento da copa, provavelmente
como estratégia para a captura de luz, além de reduzir o auto sombreamento, já que ambas as
fitofisionomias estão sujeitas a menor incidência luminosa, em comparação com a borda de
vereda. Provavelmente, a maior área da copa dos indivíduos desta espécie em cerrado,
comparada ao cerradão foi decorrente não só da otimização na captura de luz, mas também
devido à menor densidade arbórea encontrada no cerrado. A menor densidade arbórea em
borda de vereda também justifica a maior área da copa dos indivíduos de M. stenostachya,
uma vez que o menor número de plantas no ambiente permite o melhor desenvolvimento
desta característica.
Em contrapartida, na Estação Ecológica de Pirapitinga (EEP), Três Marias, Minas
Gerais, indivíduos de Miconia albicans com ocorrência em campo sujo foram menores e
apresentaram menor complexidade arquitetural do que os de cerradão e cerrado stricto sensu
(Silveira e Oliveira 2013). É importante lembrar que o excesso de luz a que as plantas do
campo sujo estão sujeitas, pode ser tão limitante quanto a baixa disponibilidade existente nas
florestas mais adensadas, e isto depende da espécie. Além disso, a restrição física das plantas
também pode ser atribuída a outros fatores ambientais, tais como a disponibilidade de água e
o estado nutricional do solo.
Miconia stenostachya e M. ibaguensis do Parque Nacional da Serra do Cipó
apresentaram diferenças significativas nas características de área, massa, densidade e
espessura foliares entre dois ambientes com diferente disponibilidade de luz, sendo que as
folhas expostas ao sol tiveram maior densidade estomática e apresentaram-se mais espessas,
mostrando alta plasticidade foliar em relação às condições ambientais (Marques et al. 2000).
Este comportamento também foi observado em experimento realizado com indivíduos
(Ferreira et al. 2013). Dos sete traços funcionais analisados pelos autores, incluindo área foliar
específica, cinco tiveram valores significativamente maiores para os indivíduos de cerradão,
ambiente com menor disponibilidade de luz. Entretanto, várias espécies quando sujeitas à
combinação de fatores de estresse apresentam reduzida plasticidade fenotípica em resposta à
luz, como por exemplo, Ilex aquifolium L. (Aranda et al. 2008). Alta variabilidade
morfológica foliar também foi observada para espécies de Psychotria em floresta tropical do
Panamá (Valladares et al. 2000).
As características ambientais de cada fitofisionomia (cerrado, cerradão, borda e meio
de vereda e borda de mata de galeria) influenciaram a arquitetura e área foliar específica das
espécies de Miconia ocorrentes na Estação Ecológica do Panga, mostrando a importância da
plasticidade fenotípica em espécies deste gênero para seu sucesso adaptativo em ambientes
contrastantes. É importante destacar que esse tipo de estudo pode ser útil para programas de
conservação e de gestão ecológica de reservas, além de prever respostas frente às mudanças
climáticas.
Em função das informações obtidas estarem restritas a poucas espécies, com
comparações referentes a poucos ambientes e variáveis, seria interessante avaliar a
plasticidade de maior número de espécies de Melastomataceae, levando-se em consideração
maior número de variáveis, em especial pelo fato da família ser numerosa e com ampla
distribuição geográfica. Esse tipo de trabalho certamente auxiliaria os taxonomistas na melhor
delimitação dos grupos.
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CAPÍTULO 2
RESUMO
O bioma Cerrado apresenta diversas fitofisionomias com características específicas e
contrastantes, como as veredas e matas de galeria que estão associadas aos cursos de água e
nascentes. Algumas espécies do gênero Miconia são comumente encontradas nesses
ambientes úmidos e estão sujeitas às flutuações ambientais, como intensidade luminosa e
disponibilidade hídrica, que são determinantes no desempenho fotossintético das plantas. Este
trabalho visou avaliar o desempenho fotossintético de M. chamissois Naudin, M. ibaguensis
(Bonpl.) Triana e M. stenostachya DC. com ocorrência em fitofisionomias contrastantes da
Estação Ecológica do Panga, nas estações seca e chuvosa. Para o curso diário das
características fotossintéticas foram realizadas medidas em vereda e borda de mata de galeria,
em diferentes dias da estação chuvosa (janeiro e março) e seca (maio e setembro). Foram
avaliadas a radiação fotossinteticamente ativa, a temperatura da superfície da folha, a taxa de
transpiração, a condutância estomática, a taxa de assimilação de CO2, o rendimento quântico
potencial do fotossistema II e a taxa de transporte de elétrons. Os resultados mostraram que
M. chamissois e M. stenostachya tiveram melhor desempenho fotossintético na vereda,
independente da estação. As duas espécies apresentaram queda na taxa de assimilação de CO2
e fotoinibição durante a estação seca, quando ocorrentes na vereda. A sazonalidade não
influenciou no desempenho fotossintético dos indivíduos de M. ibaguensis com ocorrência em
borda de mata de galeria. Levando-se em consideração o fato de que estas fitofisionomias são
restritas no bioma, além do notável processo de degradação a que estão submetidas, M.
chamissois e M. stenostachya encontram-se em situação de risco, uma vez que ambas
demonstraram melhor desempenho em ambiente com maior disponibilidade de água no solo.
ABSTRACT
The Cerrado biome has various vegetation types, such as palm swamps and gallery forests
that are associated with rivers and springs, and these vegetation types have specific and
contrasting features. Some species of the Miconia genus are commonly found in these wet
environments and are subject to factors such as light intensity and water availability, which
are decisive in the photosynthetic performance of plants. This study evaluated the
photosynthetic performance of M. chamissois Naudin, M. ibaguensis (Bonpl.) Triana and M.
stenostachya DC. occurring in contrasting vegetation types of the Panga Ecological Station, in
the dry and rainy seasons. For the daily course of photosynthetic characteristics, samples were
taken in a palm swamp and a gallery forest edge, on different days of the rainy (January and
March) and dry (May and September) season. The photosynthetically active radiation, the
surface temperature of the leaf, transpiration rate, stomatal conductance, CO2 assimilation
rate, the potential quantum yield of photosystem II and electron transport rate were evaluated.
The results showed that M. chamissois and M. stenostachya had better photosynthetic
performance in the palm swamp, regardless of the season. The two species showed a
decreased CO2 assimilation rate and photoinhibition during the dry season, when occurring in
the palm swamp. The seasonality did not influence the photosynthetic performance of M.
ibaguensis occurring in the edge of the gallery forest. Taking into consideration the fact that
these vegetation types are restricted to the biome, and are suffering a remarkable process of
degradation, M. chamissois and M. stenostachya are at risk, since both demonstrated better
performance in environments with greater availability of water in the soil.
INTRODUÇÃO
O bioma Cerrado é constituído por uma diversidade de fitofisionomias, com
características específicas e contrastantes, que variam desde formações campestres, savânicas
e florestais (Ribeiro e Walter 1998). Apesar do alto endemismo, é um dos biomas mais
ameaçados, devido à fragmentação causada pela intensa urbanização e expansão da fronteira
agrícola, o que justifica sua posição como um hotspot de biodiversidade (Alho 2005).
A família Melastomataceae é encontrada em várias fitofisionomias deste bioma, sendo
importante representante das angiospermas, com aproximadamente 32 gêneros e 500 espécies
(Mendonça et al. 2008). O gênero Miconia Ruiz & Pav. é o maior da família, com
aproximadamente 1000 espécies, com ampla distribuição, ocorrendo em toda América Latina,
desde o norte da América do Sul até o sudeste do Brasil (Goldenberg 2000). Algumas
espécies deste gênero são comumente encontradas em ambientes úmidos, tais como veredas e
matas de galeria (Rezende 2012).
Dentre as diversas fitofisionomias encontradas no Cerrado, as veredas e matas de
galeria estão associadas a cursos d’água e nascentes (Oliveira-Filho e Ratter 2002). As
veredas são áreas úmidas, caracterizadas pela presença da palmeira arbórea Mauritia flexuosa
L. f. (Ribeiro e Walter 1998), com solos hidromórficos e mal drenados (Araújo et al. 2002;
Guimarães et al. 2002). O afloramento permanente ou sazonal e a profundidade do lençol
freático, características desta fitofisionomia, influenciam a distribuição das espécies ao longo
de um gradiente que se estabelece no ambiente (Araújo et al. 2002). Esta fitofisionomia pode
ser subdividida em três zonas distintas, com a borda considerada como a zona encontrada
próxima ao cerrado e com melhor drenagem; o meio, com solo saturado de água durante o
maior período do ano e o fundo, em que o solo está permanentemente saturado com água