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TERMOS DE TROCA, PREÇO DAS COMMODITIES E O CRESCIMENTO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE SOB O PRISMA DA RESTRIÇÃO EXTERNA

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Academic year: 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE ECONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

DOUGLAS DIAS BRAZ

Matrícula: 11412ECO001

TERMOS DE TROCA, PREÇO DAS COMMODITIES E O CRESCIMENTO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE SOB O PRISMA DA RESTRIÇÃO EXTERNA

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DOUGLAS DIAS BRAZ

Matrícula: 11412ECO001

TERMOS DE TROCA, PREÇO DAS COMMODITIES E O CRESCIMENTO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE SOB O PRISMA DA RESTRIÇÃO EXTERNA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Economia.

Área de Concentração: Desenvolvimento Econômico

Orientador: Prof. Dr. Carlos Alves do Nascimento

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil.

B827t

2016 Braz, Douglas Dias, 1991- Termos de troca, preço das commodities e o crescimento brasileiro : uma análise sob o prisma da restrição externa / Douglas Dias Braz. - 2016.

115 f. : il.

Orientador: Carlos Alves do Nascimento.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação em Economia.

Inclui bibliografia.

1. Economia - Teses. 2. Desenvolvimento econômico - Teses. 3. Lei de Thirlwall - Teses. 4. Economia - Brasil - Teses. I. Nascimento, Carlos Alves do, 1967-. II. Universidade Federal de Uberlândia. Programa de Pós-Graduação em Economia. III. Título.

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DOUGLAS DIAS BRAZ

TERMOS DE TROCA, PREÇO DAS COMMODITIES E O CRESCIMENTO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE SOB O PRISMA DA RESTRIÇÃO EXTERNA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Economia.

Área de Concentração: Desenvolvimento Econômico

Uberlândia, 22 de Fevereiro de 2016.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Carlos Alves do Nascimento – IEUFU

Prof. Dr. Guilherme Jonas Costa da Silva – IEUFU

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AGRADECIMENTOS

Ao longo dos últimos dois anos, tive a oportunidade de vivenciar e completar mais uma etapa de minha vida acadêmica em uma instituição pública, tendo sido financiado pelo esforço de milhões de brasileiros. Ciente de que as dificuldades e preocupações pelas quais passei ao longo dessa caminhada são, de longe, muito mais amenas do que as daquela grande parcela da população que, ainda hoje, vive em condições sub-humanas de existência em nosso País, me sinto muito honrado e grato por essa chance, mas, também, tenho noção da tarefa, que agora me é dada, de retribuir todo o investimento público direcionado à minha formação. Espero que essa retribuição possa ser dada, em alguma medida, por meio de futuros trabalhos de pesquisa que visem o bem estar e a melhoria de vida da população brasileira, em especial, da parte mais pobre dessa nação, que clama por ajuda.

Para a concretização desse passo tão importante na minha vida, meu esforço pessoal é mero coadjuvante se comparado à importância do incentivo (emocional, moral e financeiro) dado por aqueles que caminharam ao meu lado, durante toda essa trajetória. Dentre eles,

Meus pais, Heli e Maria de Lourdes, que, com as gotas de seu suor, formaram meu caráter e me deram a possibilidade de determinar os rumos do meu próprio futuro;

Meus irmãos, Dayane e Dênisson, pelo companheirismo;

Minha querida Layenne, a quem eu admiro tanto e com quem eu quero passar o resto de meus dias;

Os amigos do peito, que fiz antes – Alex, Paulo Henrique, Romer, Matheus - e durante o mestrado – Theo, Heldrino e Julio -, além de todos os outros que, por questão de espaço, não citei nominalmente, mas que também contribuíram para que eu chegasse onde estou;

Os professores e funcionários do Instituto de Economia, em especial meu

querido orientador, Dr. Carlos Nascimento, e meu “coorientador” não oficial e amigo, Dr. Guilherme Jonas;

E a CAPES, que deu auxílio financeiro fundamental para que eu pudesse me dedicar exclusivamente à pesquisa, durante os últimos dois anos.

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RESUMO

O objetivo do presente trabalho é investigar a relação existente entre os termos de troca e o crescimento de longo prazo da economia brasileira, sob a perspectiva da restrição externa, entre o período de 1994 a 2014. Para tanto, baseia-se na contribuição original de Thirlwall (1979), no sentido de se testar empiricamente a contribuição dos termos de troca para a determinação do potencial de crescimento do produto brasileiro equivalente com o equilíbrio no Balanço de Pagamentos. Partindo-se do método de cointegração, o qual busca analisar a relação de longo prazo entre as variáveis, e subdividindo-se o referido período em dois subperíodos, 1994-2004 e 2004-2014, são estimadas e comparadas as elasticidades-renda reais e hipotéticas e as taxas de crescimento previstas e observadas, com e sem os termos de troca, para cada período. Os resultados obtidos mostram que a inclusão dos termos de troca no procedimento empírico de teste da validade da Lei de Thirlwall fez com que as taxas de crescimento obtidas pelo modelo (hipotéticas) fossem maiores, para o período total 1994-2014 e para o subperíodo

2004-2014. Esse relaxamento “teórico” da restrição externa, ocasionado pela inclusão dos

termos de troca na regra de Thirlwall tradicional, todavia, superestimou a taxa de crescimento média para esses períodos, enquanto a Lei de Thirlwall tradicional – sem os termos de troca – se adequou melhor ao comportamento real da economia brasileira. Deste modo, apesar de ter contribuído potencialmente para o relaxamento da restrição externa ao crescimento brasileiro, o efeito dos termos de troca pode ter sido contrabalançado pelo comportamento negativo de outros componentes do Balanço de Pagamentos, como fluxos de capitais e o pagamentos de juros, lucros e dividendos ao exterior.

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ABSTRACT

This study aims to investigate the relationship between terms of trade and the long-term growth of Brazilian economy, from the perspective of external constraint, between the period 1994 to 2014. For this purpose, it is based on Thirlwall's (1979) original contribution, in order to empirically test the terms of trade contribution for determining the Brazilian growth potential product equivalent with Balance of Payments equilibriun. Using cointegration method, which seeks to analyze the long-term relationship between the variables, and subdividing the period into two sub-periods, 1994-2004 and 2004-2014, we estimate and compare real and hypothetical income elasticities and predicted and observed growth rates, with and without the terms of trade, for each period. The obteined results show that the inclusion of terms of trade in the empirical procedure to test the validity of Thirlwall's Law lead to higher growth rates obtained by the model (hypothetical), for the entire period 1994-2014 and for the sub-period 2004 -2014. This "theoretical" relaxation of the external constraint, caused by the inclusion of the terms of trade in traditional Thirlwall's rule, overestimated the average real growth rate for these periods, while the traditional Thirlwall's Law - without terms of trade - has adapted better to the real behavior of Brazilian economy. Thus, despite having contributed potentially for the relaxation of external constraint on Brazilian growth, the effect of terms of trade may have been offset by the negative performance of other Balance of Payments components, as capital flows and interest, profits and dividends payments abroad.

Key-words: Economic Growth; External Constraint; Thirlwall’s Law; Terms of Trade;

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Exportações e Importações em Bilhões US$ - Brasil - Período 1994 à 2014...18

Gráfico 2 - Grau de Abertura da economia: Brasil, 1994 a 2014 (em % do PIB)....19 Gráfico 3 - Coeficiente de Exportação e de Penetração das Importações (Indústria Geral) da Economia Brasileira - Período 1996 à 2014 - em %...20 Gráfico 4 - Evolução das Exportações por Conteúdo Tecnológico: Brasil, 1994 a 2014 (Bilhões US$)...22

Gráfico 5 - Evolução da Composição das Exportações por Conteúdo Tecnológico: Brasil, 1994 a 2014 em (%)...23

Gráfico 6 - Evolução das Importações por Conteúdo Tecnológico: Brasil, 1994 a 2014 (Bilhões US$)...26

Gráfico 7 - Evolução da Composição das Importações por Conteúdo Tecnológico: Brasil, 1994 a 2014 em (%)...27

Gráfico 8 - Evolução do Saldo de Comércio por Conteúdo Tecnológico: Brasil, 1994 a 2014. (BIlhões US$)...27

Gráfico 9 - Saldo Comercial: Brasil, 1994 a 2014 (em Bilhões US$ )...28 Gráfico 10 - Saldo em Transações Correntes: Brasil, 1994 a 2014 (em US$ Bilhões)...29

Gráfico 11 - Evolução do Preço e do Quantum das Exportações: Brasil, 1994 a 2014 (Índice 2006=100)...30

Gráfico 12 - Evolução do Preço e do Quantum das Importações: Brasil, 1994 a 2014 (Índice 2006=100)...31

Gráfico 13 - Evolução do Índice Preço das Commodities Agregadas: 1994 a 2014 (2005=100)...36

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Taxa de Variação Anual do Preço e do Quantum das Importações e Exportações e Saldo Comercial: Brasil, 1994 a 2014...32 Tabela 2 – Resultado das elasticidades-renda hipotéticas da demanda por importações...87

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...11

CAPÍTULO 1 – EVOLUÇÃO DO PADRÃO DE ESPECIALIZAÇÃO COMERCIAL DO BRASIL...16

1.1 Grau de abertura da economia brasileira...17

1.2 Evolução do padrão de inserção comercial do Brasil...21

1.3 A dinâmica dos termos de troca do Brasil: histórico e perspectivas...35

CAPÍTULO 2 – CRESCIMENTO DE LONGO PRAZO E OS TERMOS DE TROCA: ABORDAGENS TEORICAS SOB O PRISMA DA RESTRIÇÃO EXTERNA...46

2.1 – Teorias do crescimento econômico...46

2.2 - Concepção estruturalista sobre os termos de troca...56

2.3 – A lei de Thirlwall e os termos de troca...61

CAPÍTULO 3 – TESTE EMPÍRICO DA LEI DE THIRLWALL: UMA CONSIDERAÇÃO SOBRE A RELEVÂNCIA DOS TERMOS DE TROCA...69

3.1 - Revisão dos testes empíricos sobre a validade da Lei de Thirlwall...69

3.2 – Método de estimação econométrica...73

3.3 – Procedimento de validação empírica: uma estimação das elasticidades-renda da demanda hipotética e real...77

3.3.1 – Teste das elasticidades de McCombie...77

3.3.2 – Fonte de dados...80

3.3.3 – Período de análise...81

3.3.4 – Estimação das elasticidades-renda reais das importações e exportações...82

3.3.4.1 – Elasticidade-renda real das importações...82

3.3.4.2 – Elasticidade-renda real das exportações...85

3.3.5 – Cálculo das elasticidades-renda hipotéticas da demanda por importações e das taxas de crescimento hipotéticas da renda...86

CONSIDERAÇÕES FINAIS...91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...95

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INTRODUÇÃO

Na última década, o comportamento singular de crescimento dos preços internacionais das commodities, relacionado à ocorrência consecutiva de fatores como o aumento expressivo da demanda mundial por esses bens, a transformação destes em ativos financeiros, como alternativa de valorização às baixas taxas de juros nos países desenvolvidos, e as vertiginosas taxas de crescimento apresentadas pela economia chinesa (CARNEIRO, 2012; PRATES, 2007), fez ressurgir a questão sobre como essa dinâmica favorável dos termos de troca1 poderia afetar a trajetória de crescimento dos países cujas exportações são concentradas nesses produtos. Essa questão se torna ainda mais importante quando se considera o caso da economia brasileira, uma vez que se observa, durante o referido período, a ocorrência simultânea de maiores taxas de crescimento do produto e a melhora nos termos de troca para o País.

Considerando-se a década anterior ao boom do preço das commodities, 1994-2004, observa-se uma taxa de crescimento média anual dos termos de troca, para o Brasil, de 1.58%, enquanto a taxa de crescimento média do produto, ao longo desse período, é de 2.95%. Na década posterior, 2004-2014, a taxa de crescimento média dos preços relativos atinge 2.07%, sendo acompanhada pelo aumento do crescimento médio do produto, que alcança 3.81%2.

Em termos teóricos, haveria, entretanto, mecanismos diferentes através dos quais a dinâmica dos termos de troca poderia afetar o crescimento do produto de uma economia. Destaca-se, primeiramente, o efeito direto que, segundo o documento da Unctad (2005), uma melhora nos termos de troca teria sobre o aumento da renda nacional. A magnitude desse efeito, por seu turno, estaria relacionada a fatores como o grau de abertura da economia e à forma como são distribuídos e utilizados os ganhos obtidos pelo aumento dos preços dos bens exportáveis. Deste modo, quanto maior a

1 Esse conceito representa a razão entre o preço dos bens exportados (Pd) e o preço dos produtos

importados (Pf) por um determinado país.

2 Resultados obtidos através de cálculos próprios feitos a partir das séries de variação anual real do PIB

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proporção do mercado externo na formação do PIB de um país, maior será o impacto sobre a renda nacional decorrente de uma melhora nos termos de troca. Por outro lado, quanto maior for a parte desses ganhos destinada à realização de novos investimentos, mais expressivas serão as taxas de crescimento do produto. Este seria, portanto, um canal de transmissão mais direto e que se daria de forma mais evidente no curto prazo.

Outro efeito a ser considerado é aquele que os termos de troca poderiam ter sobre a dinâmica de equilíbrio das contas externas do país. Neste caso, não há uma relação direta entre uma melhora (ou piora) dos preços relativos e o crescimento do produto do país. O que há, na verdade, é uma cadeia de causação no sentido do comportamento desses preços para o desempenho das contas externas e destas para a trajetória de crescimento de determinada economia. Diante dessa perspectiva, os termos de troca teriam o papel de restringir ou relaxar a restrição externa ao crescimento dada pela necessidade de haver equilíbrio, no longo prazo, do Balanço de Pagamentos (BP). Esse efeito se daria, pois, ao contrário do anterior, em períodos mais longos de tempo.

Esse último efeito está relacionado às concepções estruturalistas e pós-kenesianas de que o comportamento da demanda agregada é elemento fundamental na determinação do crescimento de longo prazo das economias capitalistas. Neste sentido, não seria o ritmo de crescimento dos fatores de produção, como propõe a teoria neoclássica, que determinariam o limite de crescimento do produto, mas as restrições dadas a partir da dinâmica dos elementos da demanda.

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Essa concepção, originalmente elaborada por Prebish (1950), é apresentada matematicamente, num momento posterior, por Thirlwall (1979). O modelo deste autor apresenta formalmente a seguinte ideia: existe uma taxa de crescimento do produto de longo prazo, equivalente com o equilíbrio no Balanço de Pagamentos, que o país não pode ultrapassar sem que haja um descompasso das contas externas. Essa taxa de crescimento de equilíbrio é resultado da taxa de crescimento dos preços relativos das exportações e importações e da razão entre as elasticidades-renda das exportações e importações multiplicada pela taxa de crescimento da renda mundial. Considerando que os preços relativos, ou termos de troca, não apresentam variações significativas no longo prazo, afirma, então, que a taxa de crescimento equivalente com o equilíbrio no BP depende exclusivamente da razão entre aquelas elasticidades e da taxa de crescimento da renda do resto do mundo.

A dinâmica particular – em termos de magnitude e durabilidade - dos termos de troca para a economia brasileira, principalmente no que se refere à última década, faz, porém, surgir a seguinte questão: não teriam, estes termos, tido efeito relevante sobre o problema da restrição externa ao crescimento do País?

A hipótese lançada por esse trabalho é de que o movimento favorável dos termos de troca, principalmente quando se trata da última década, teria contribuído para o relaxamento da restrição externa ao crescimento brasileiro.

(14)

Mesmo reconhecendo a existência de extensões ao modelo de Thirlwall3, que buscam incluir outros elementos do Balanço de Pagamentos à equação original, optou-se, neste estudo, por se tratar da controvérsia contida no modelo original, acerca da relevância ou não dos termos de troca para a determinação do crescimento econômico potencial de longo prazo.

Com o referido objetivo em mente, dividiu-se este estudo em três capítulos. O primeiro trata de um esforço no sentido de se compreender o padrão de inserção comercial brasileiro ao longo do período que se estende entre 1994 e 2014. A compreensão da natureza dessa inserção tem, aqui, importância capital, já que elucida a evolução da composição das pautas exportadoras e importadoras, apresentando quais são as principais categorias de bens responsáveis por ditar a dinâmica das contas externas brasileiras. O entendimento desse padrão tem, ainda, o papel de revelar como o movimento dos preços dos bens comercializáveis determina de forma particular a dinâmica dos termos de troca verificada para o Brasil. Além do padrão de inserção comercial, apresenta-se, ademais, a evolução do grau de abertura da economia brasileira, que representa o quanto esta seria impactada por modificações dos preços internacionais. Por último, é realizado um levantamento sobre as causas do aumento singular dos preços das commodities, ocorrido fundamentalmente no último decênio, e sobre a possibilidade de se perpetuarem essas condições favoráveis para os países exportadores desses bens.

No segundo capítulo, é realizado, inicialmente, um apanhado sobre as diferentes teorias do crescimento econômico, dando ênfase àquelas que tratam os elementos da demanda agregada como determinantes fundamentais da taxa de crescimento do produto de longo prazo. Em seguida, passa-se ao tratamento da concepção estruturalista acerca de como os termos de troca poderiam afetar o desempenho das economias periféricas, sendo essa uma das primeiras abordagens a tratar de forma específica a relevância dos preços relativos para o crescimento e desenvolvimento dos países subdesenvolvidos. Finalmente, apresenta-se o modelo de Thirlwall (1979), tratando da possibilidade, expressa no próprio modelo, de os termos de troca poderem influir na questão da restrição externa ao crescimento. Além disso, são discutidos resultados de alguns

3 Dentre elas, as desenvolvidas por Thirlwall e Hussain (1982), Barbosa-Filho (2001) e Moreno-Brid

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trabalhos que indicam a relevância de se considerar os preços relativos em testes que procuram avaliar a aderência do modelo de Thirlwall à realidade.

Em relação ao terceiro capítulo, primeiramente, são apresentadas as diversas técnicas empíricas de se testar a validade do modelo de Thirlwall. Posteriormente, sendo adotado o teste proposto por McCombie (1989), dicute-se o procedimento de cointegração, a fonte dos dados e o período de análise. Por fim, é executado o teste empírico que relaxa a hipótese de que os termos de troca seriam insignificantes para a explicação da taxa de crescimento equivalente com o equilíbrio no Balanço de Pagamentos, e são apresentados os resultados obtidos.

Um resumo dos capítulos anteriores e a articulação dos resultados obtidos através dos testes empíricos estão contidos nas considerações finais deste trabalho.

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CAPÍTULO 1 – EVOLUÇÃO DO PADRÃO DE ESPECIALIZAÇÃO COMERCIAL DO BRASIL

A inserção externa de um país se expressa a partir de duas dimensões fundamentais: a comercial e a financeira. (PRATES, 2006). A primeira se caracteriza pelos fluxos de troca de mercadorias e serviços que determinado país estabelece com o resto do mundo, enquanto a segunda se relaciona com os movimentos de capitais que se realizam entre a economia domestica e o exterior.

Entretanto, no sentido de compreender o impacto da dinâmica dos termos de troca sobre o potencial de crescimento de um determinado país, mostra-se fundamental tratar de forma mais especifica o aspecto comercial da inserção externa. Isto porque o efeito da variação dos preços internacionais, tanto de commodities como dos bens manufaturados, sobre o comportamento do saldo comercial e em conta corrente do balanço de pagamentos, depende, por um lado, da estrutura de importação e exportação que uma nação constrói ao longo de seu processo de formação econômica, e, por outro, da proporção ocupada pelo comercio exterior na formação do PIB desse país. [(UNITED NATIONS, 2005); (CARNEIRO 2012)]. Isto significa dizer que países com graus de abertura, estruturas produtivas e tipos de especialização comercial diferentes são afetados também de forma diversa pelos movimentos de preços de bens comercializáveis a nível internacional. Deste modo, ao mesmo tempo em que, por exemplo, um aumento no preço do petróleo melhora os termos de troca de países especializados na exportação deste produto, também causa uma pressão negativa para aqueles que dependem em grande medida de sua importação.

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1.1 Grau de abertura da economia brasileira

No que se refere a analise sobre a evolução da participação do comércio externo no produto agregado da economia brasileira, optou-se pela utilização dos índices de abertura que se baseiam na mensuração do volume de comércio4, quais sejam, o índice do grau de abertura da economia, que representa a razão entre a corrente de comercio (soma das exportações e importações) e o PIB5, o coeficiente de penetração, que expressa o percentual da oferta interna atendida pelas importações, e o coeficiente de exportação, o qual se traduz no percentual do valor total da produção que se destina às exportações. (VANSAN et. al.,2010). Todos esses indicadores têm, portanto, o papel de explicitar em que proporção o produto agregado da economia está relacionado ao comércio externo e, consequentemente, em que medida esta economia será impactada pelos movimentos de preços dos bens que comercializa com o resto do mundo. Nessa perspectiva, o efeito de uma modificação nos termos de troca em uma determinada economia será tanto maior quanto mais significativa for a proporção do comércio externo em relação ao Produto Interno Bruto.

É valido, porém, antes de se avaliar os indicadores de abertura, fazer uma breve análise sobre o comportamento das exportações e das importações em termos absolutos, de modo a obter os primeiros indícios sobre o comportamento da dinâmica do comércio exterior brasileiro no período em questão.

Como se pode notar a partir do Gráfico 1, o valor das exportações e das importações cresceu praticamente de forma contínua durante o período entre 1994 e 2014, tendo aumentado em 516% e 692%, respectivamente. No caso das exportações, observa-se uma tendência de forte crescimento, principalmente a partir do ano de 2003, havendo apenas uma quebra em 2009, ano em que a crise internacional começa a afetar negativamente o ritmo do comércio mundial, que logo se reverte em uma nova trajetória de crescimento positivo. As causas do boom das exportações, a partir de 2003, estão

4 Segundo o documento do CNI (2014, Pg. 2), “Os coeficientes de abertura comercial permitem analisar o grau de exposição da indústria e dos segmentos da indústria a choques externos ou o grau de integração da economia brasileira à economia mundial”. Para uma discussão mais detalhada sobre os índices de abertura comercial ver Squalli e Wilson (2006); Karski (2001).

5

Equação do grau de abertura comercial: GA = 𝐸+𝑀

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estritamente relacionadas à elevação do ritmo de crescimento da economia mundial, em particular ao forte crescimento da China, que se torna um dos principais parceiros comercias do Brasil, o que eleva a demanda mundial e o preço dos principais bens de exportação do País6. (CORRÊA, 2013; MARCONI, 2013).

Gráfico 1 - Exportações e Importações em Bilhões US$ - Brasil - Período 1994 a 2014

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE.

No que tange às importações, nota-se uma trajetória semelhante à das exportações. Como salienta Corrêa (2013), o aumento das exportações estimulou o investimento e o consumo domésticos, fazendo com que a demanda por importações fosse igualmente maior, principalmente no que se refere aos bens de maior intensidade tecnológica. O processo de valorização cambial observado a partir de 2003, também contribuiu significativamente para o aumento do valor importado pela economia brasileira.

O aumento absoluto dos valores de exportação e importação verificado nesse período nos dá um primeiro indício sobre a intensificação da relação comercial do Brasil com o resto do mundo. Todavia, para que se possa avaliar de forma mais adequada a verdadeira dimensão do comercio exterior nessa economia, é essencial tratar dos fluxos de comércio em termos relativos ao PIB. Para isso, deve-se lançar mão dos indicadores de abertura citados anteriormente.

6 Uma análise mais específica sobre o comportamento dos preços dos bens exportados e importados pelo

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Analisando-se o gráfico 2, é possível notar a evolução do grau de abertura da economia brasileira.

Gráfico 2 - Grau de Abertura da economia: Brasil, 1994 a 2014 (em % do PIB)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE.

A partir desse gráfico percebe-se claramente um aumento da participação da corrente de comércio externo em relação ao PIB, de 14%, em 1994, para 19%, em 2014. Como destaca o documento do IPEA (2010), até o final da década de 90 o grau de abertura se mantem relativamente estável. Entretanto, a partir da instituição da política de câmbio flexível, no ano de 1999, a relação comércio/PIB começa a aumentar, atingindo patamares sem precedentes na primeira década dos anos 2000, alcançando o valor mais alto (24%) no ano de 2004. No período entre 2010 e 2014, o grau de abertura sofre uma queda, estabilizando-se em torno dos 19%.

Ao se examinarem os coeficientes de exportação e de penetração da economia brasileira, com base nos dados apresentados no Gráfico 3, fica aparente que o aumento expressivo do grau de abertura do comercio brasileiro observado na primeira década de 2000 se deve ao crescimento do coeficiente de exportações, o qual gira em torno de uma média de 20% ao longo desse período. Como mostrado anteriormente, o aumento da participação das exportações no PIB se deve, em grande medida, tanto ao aumento do quantum exportado, como resultado da expansão da demanda mundial pelos bens brasileiros, como pelo crescimento do preço desses bens. Já a partir do ano de 2010, o nível de integração da economia brasileira em relação ao comércio internacional se sustenta pelo aumento do coeficiente de penetração, que alcança a média de 19% no período que se estende até o ano de 2014.

0.0% 5.0% 10.0% 15.0% 20.0% 25.0% 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 % do P IB

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Gráfico 3 - Coeficiente de Exportação e de Penetração das Importações (Indústria Geral) da Economia Brasileira - Período 1996 à 2014 - em %

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do CNI.

Como explicitado anteriormente, um impacto da variação nos termos de troca será maior em países cujo comércio externo tenha maior participação em relação ao valor do Produto Interno Bruto. Neste sentido, pode-se dizer, pois, que o Brasil, ao longo das ultimas duas décadas, se tornou mais integrado ao comércio internacional e, consequentemente, mais vulnerável ao comportamento dos preços dos bens comercializáveis. O grau dessa vulnerabilidade aos movimentos dos termos de troca, no entanto, apesar de ter se intensificado nos últimos anos, não é tão grande se comparado ao de países mais dependentes do comercio internacionalcomo o Chile, o México e a Rússia. (SARQUIS, 2011). No caso do Brasil, a dinâmica interna continua exercendo uma grande influência sobre o comportamento do crescimento de longo prazo. (CORRÊA & SANTOS, 2013).

O estudo do grau de abertura da economia brasileira constitui, entretanto, apenas o primeiro passo na direção de uma melhor compreensão sobre como a dinâmica dos termos de troca podem afetar o potencial de crescimento de longo prazo. A segunda etapa dessa análise exige um melhor entendimento sobre a estrutura de comércio erigida pelo País ao longo do período analisado.

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1.2 Evolução do padrão de inserção comercial do Brasil

Feitas as devidas considerações sobre a evolução da intensidade de integração comercial do Brasil em relação ao mundo, passa-se agora à análise sobre o desenvolvimento do padrão de inserção comercial deste país, no período entre 1994 e 2014. Essa análise explicitará a trajetória histórica da composição das exportações e das importações brasileiras, tornando possível um melhor entendimento sobre como o movimento dos preços dos bens comercializáveis afetam de forma específica a dinâmica dos termos de troca deste país.7 Além disso, empreende-se um estudo sobre a evolução do saldo comercial por conteúdo tecnológico, de modo a lançar luz sobre como o padrão de especialização comercial influi na capacidade de geração de divisas e, por conseguinte, no crescimento de longo prazo sob uma perspectiva de restrição externa.

Avaliando-se, com base no gráfico 4, a estrutura das exportações brasileiras segundo seu conteúdo tecnológico, fica evidente um aumento, em termos de valor exportado, de todas as categorias de bens. Todavia, o crescimento mais expressivo se observa nas categorias de bens primários (PP) e bens baseados em recursos naturais (RB), notadamente a partir do ano de 2003. No período em consideração, essas duas categorias apresentam um aumento de 752% e 572%, respectivamente. Outro grupo que merece destaque em relação ao crescimento do seu valor exportado é o de bens de manufaturados de média tecnologia (MT), o qual apresenta um aumento de 350%.

7 Os dados sobre a composição das exportações e importações foram extraídos das bases estatísticas do

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Gráfico 4 - Evolução das Exportações por Conteúdo Tecnológico: Brasil, 1994 a 2014 (Bilhões US$)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do COMTRADE.

Quando se considera, porém, a participação de cada uma dessas categorias no valor total das exportações (Gráfico 5), nos deparamos com algumas informações importantes. Primeiramente, é possível notar que as exportações brasileiras são dominadas, ao longo de todo o período analisado, por produtos primários e pelas manufaturas baseadas em recursos naturais, os quais representam uma participação média de 28% e 30%, respectivamente. Ademais, a presença majoritária desses bens na pauta exportadora se avoluma significativamente se considerarmos o período que se segue ao ano de 2006. Vale ressaltar, ainda, que esse movimento se dá em detrimento das categorias de maior intensidade tecnológica. A partir do primeiro quinquênio dos anos 2000, os manufaturados de baixa, média e alta tecnologia apresentam um claro movimento de queda na composição total das exportações. O movimento de queda mais expressivo se observa, porém, nos manufaturados de média tecnologia, categoria que apresenta um decréscimo de 32% entre os anos de 2005 e 2014.

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Gráfico 5 - Evolução da Composição das Exportações por Conteúdo Tecnológico: Brasil, 1994 a 2014 em (%)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do COMTRADE.

(24)

Sarquis (2011), analisando a composição das exportações por fator agregado8, no período entre 1964 e 2010, afirma que a composição das exportações brasileiras retorna ao padrão observado no ano de 1978, com os produtos básicos assumindo, em 2010, uma participação de 48% do valor total exportado. Os bens industriais, por sua vez, responsáveis, em média, por 70% do valor das exportações entre 1986 e 2006, passam a ocupar menos de 50% da pauta exportadora no final de 2011.

É visível, pois, que, na última década, existe uma clara tendência de perda de qualidade tecnológica na pauta exportadora brasileira, fato que dá peso à tese de alguns estudos que têm apontado para um movimento de reprimarização9 e de especialização regressiva10. O conceito de reprimarização se refere ao aumento da participação relativa dos produtos primários na pauta exportadora em detrimento dos produtos manufaturados. Já a especialização regressiva está relacionada à ocorrência de uma mudança estrutural caracterizada pelo deslocamento da produção de setores de média e alta tecnologia para setores de baixa intensidade tecnológica, principalmente aquelas relacionadas à produção de commodities e à extração de recursos naturais. Porém, enquanto o conceito de reprimarização se concentra no comportamento da pauta exportadora, a ideia de especialização regressiva leva em consideração “1) a evolução da participação relativa do valor agregado das atividades industriais sobre o valor bruto da produção industrial; 2) o dinamismo relativo de cada indústria em relação ao PIB industrial; 3) a evolução da pauta de exportações de produtos industriais.” (URRACA-RUIZ et al., 2013, Pg.3).

Nascimento et al.(2009), por outro lado, afirmam que a discussão sobre a

reprimarização estaria “deslocada”, já que, para eles, a análise sobre a tendência à perda de participação dos produtos de menor conteúdo tecnológico na pauta exportadora brasileira deveria ser substituída pela ideia de permanência da “dependência estrutural de commodities” para a geração de saldos comerciais que seriam suficientes para cobrir apenas uma parte do quase constante déficit em conta corrente. A noção de dependência estrutural de commodities se baseia na tese de que, independentemente da existência ou não de uma tendência à reprimarização, o Brasil, ao longo de seu processo de formação

8Por fator agregado, os produtos se classificam em: básicos, semimanufaturados e manufaturados. Os dois últimos são chamados usualmente de bens industriais.” (SARQUIS, 2011, Pg.99).

9 Ver [Gonçalves (2003); Delgado (2009)].

(25)

econômica, apesar de ter passado por um processo de diversificação produtiva a partir da industrialização por substituição de importações, jamais conseguiu superar a necessidade de gerar divisas e saldos comerciais positivos a partir da exportação de produtos primários ou manufaturados baseados em recursos naturais. Todavia, essa dependência estrutural só pode ser constatada quando se considera, além da pauta exportadora, a composição das importações e os saldos comercial e corrente do balanço de pagamentos. A investigação destes outros componentes revela outros tipos de dependência, a saber, aquela relacionada à importação de bens de maior conteúdo tecnológico e a que se refere à necessidade da entrada de capitais externos - sejam eles em forma de Investimento Direto Externo ou de Investimento em Carteira - para a cobertura dos déficits11 em conta corrente.

No que diz respeito às importações brasileiras por conteúdo tecnológico, também é possível notar um aumento significativo no valor importado de todas as categorias em consideração (Gráfico 6). Dentre elas, a que apresenta a taxa de crescimento mais expressiva é a de manufaturados de baixa intensidade tecnológica, aumentando seu valor em 892%, entre 1994 e 2014. Em segundo e terceiro lugares, aparecem as categorias de manufaturados de média e alta tecnologia, com variações de 551% e 549%, respectivamente. Dentre as menores variações, estão as categorias de manufaturas baseadas em recursos, com 485%, e a produtos primários, com 371%.

(26)

Gráfico 6 - Evolução das Importações por Conteúdo Tecnológico: Brasil, 1994 a 2014 (Bilhões US$)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do COMTRADE.

Em termos de participação de cada uma dessas categorias no total do valor importado, observa-se (Gráfico 7), no entanto, uma certa estabilidade. Ao passo que, ao longo de todo o período analisado, a pauta exportadora se concentra basicamente em produtos primários e manufaturas baseadas em recursos, as importações são compostas principalmente pelas manufaturas de média e alta tecnologia. Entre 1994 e 2014, essas duas categorias apresentam, em conjunto, uma participação média de 56% de todo o valor importado pelo País, não se desviando em mais de 5% dessa média ao longo de todo o período. As demais categorias também apresentam uma relativa continuidade quanto à proporção ocupada no total das importações. As manufaturas de baixa tecnologia e as relacionadas a recursos naturais representam, em média, uma participação de 8% e 18%, variando minimamente em torno destes valores. Com uma participação média de 16%, a categoria de produtos primários é a única que apresenta uma visível tendência de queda a partir dos anos 2008.

A análise do saldo comercial segundo o conteúdo tecnológico torna ainda mais evidente a evolução do padrão de inserção comercial brasileiro das últimas duas décadas. Conforme os dados do Gráfico 8, nota-se que ao longo de todos os anos em consideração o País configura-se, de um lado, como um exportador líquido de produtos primários e manufaturas baseadas em recursos e, de outro, como importador líquido de manufaturas de média e alta tecnologia. Isto significa dizer que o saldo dos setores relacionados às manufaturas de média e alta tecnologia foram predominantemente deficitários, e que a geração de saldos comerciais positivos (ou a diminuição dos

(27)

déficits) dependeram sobremaneira dos superávits gerados pelos setores relacionados aos bens primários e às manufaturas baseadas em recursos e de baixa tecnologia.

Gráfico 7 - Evolução da Composição das Importações por Conteúdo Tecnológico: Brasil, 1994 a 2014 em (%)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do COMTRADE

Gráfico 8 - Evolução do Saldo de Comércio por Conteúdo Tecnológico: Brasil, 1994 a 2014. (BIlhões US$)

(28)

Tratando de forma mais específica o desempenho do saldo de cada uma das categorias, é notável a intensificação, a partir de 2007, dos padrões observados ao longo do período analisado. Os setores relacionados aos produtos primários e aos manufaturados baseados em recursos, que, entre 1994 e 2000, apresentam taxas negativas de crescimento do superávit de 34% e 3%, respectivamente, já em 2001, começam a demonstrar um aumento expressivo do saldo superavitário, variando em 272% e 329% até 2007. Depois de 2008 essas duas categorias continuam aumentando seu saldo positivo, apesar do fato de que, em 2011, a categoria de manufaturas baseadas em recursos indica uma tendência de queda na geração de superávits. Outra categoria que até 2008 contribui de forma positiva para o saldo total da balança comercial brasileira é a de manufaturados de baixa tecnologia. Não obstante, nos anos subsequentes esse grupo passa a contribuir de forma cada vez mais negativa para o saldo comercial, chegando a um déficit de 9,04 US$ bilhões em 2014. Por fim, o setor de manufaturados de média tecnologia, que, mesmo apresentando um pequeno período de superávit entre 2003 e 2006, passa a ser o grupo com os déficits mais significativos a partir de 2009, alcançando um saldo negativo de 41,8 US$ bilhões em 2014, e a categoria de manufaturas de alta tecnologia, a qual, entre 1994 e 2007, apresenta um déficit que pouco oscila em torno de 7,1 US$ bilhões, mas que a partir de então incorre em uma trajetória deficitária de grandes proporções, variando 413% entre 2007 e 2014 e atingindo um saldo negativo de 32 US$ bilhões no fim do período em análise.

Gráfico 9 - Saldo Comercial : Brasil, 1994 a 2014 (em Bilhões US$ )

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Banco Central do Brasil (BCB). -10 0 10 20 30 40 50 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 B ilh

(29)

A avaliação do saldo comercial (Gráfico 9) evidencia o resultado agregado dos fluxos comerciais decorrentes do padrão de inserção comercial brasileiro. Daí fica claro que a manutenção de superávits na balança comercial do País dependem, claramente, por um lado, da continuidade de altas taxas de crescimento do valor exportado e, portanto, dos saldos positivos gerados pelos produtos primários e pelas manufaturas baseadas em recursos, e, por outro, a manutenção ou o crescimento menos que proporcional das importações e dos correspondentes déficits nos saldos dos setores relacionados aos bens de baixa, média e alta tecnologia. Os períodos marcados por déficits (1995-2000 e 2014) ou pelo decréscimo do superávit (2007-2013, exceto 2011) na balança comercial correspondem justamente àqueles em que há um aumento dos déficits observados nos grupos de manufaturas de maior conteúdo tecnológico.

Apesar do presente trabalho não tratar do outro aspecto da inserção externa brasileira, qual seja, o financeiro, o qual se refere ao fluxo de capitais e de seus rendimentos, é valido fazer uma breve investigação sobre o desempenho da conta de Transações Correntes do Balanço de Pagamentos, que, além da conta de comércio, também contém o resultado da conta de serviços (juros, viagens internacionais, transportes, seguros, lucros e dividendos, serviços diversos).

Gráfico 10 - Saldo em Transações Correntes: Brasil, 1994 a 2014 (em US$ Bilhões)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do BCB-Depec

A evolução do saldo em Transações correntes do Brasil (Gráfico 10) explicita o fato de que as exportações majoritárias em termos de bens primários e manufaturas

(30)

baseadas em recursos, ao longo de grande parte das últimas duas décadas, além de não serem suficientes para gerarem superávits perenes na balança comercial, são cada vez menos funcionais no que se refere à diminuição dos déficits em Transações Correntes, principalmente a partir de 2008. O crescimento explosivo dos déficits nessa conta expressa, por outro lado, a crescente necessidade da entrada de capitais externos para que haja um equilíbrio no Balanço de Pagamentos.

Por fim, já que o presente estudo procura lançar luzes sobre como os termos de troca influenciam o potencial de crescimento da economia brasileira sob uma perspectiva de restrição externa, mostra-se fundamental averiguar a proporção que cada um dos componentes que formam o valor das exportações e importações, a saber, o preço e a quantidade, ocupam na formação do saldo comercial deste país. Esta análise nos dá uma noção mais detalhada sobre o peso da variação de preços dos principais bens de exportação e importação do Brasil na composição dos déficits e superávits observados entre 1994 e 2014 no saldo comercial.

Gráfico 11 - Evolução do Preço e do Quantum das Exportações: Brasil, 1994 a 2014 (Índice 2006=100)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da FUNCEX

Considerando, primeiramente, a evolução do preço e do quantum das exportações (Gráfico 10), observa-se que, no período em que se verificam os maiores superávits comerciais (2004-2007), ambos apresentam uma trajetória de crescimento, o índice de preços, entretanto, se destaca, atingindo uma variação de 39%, comparada à variação de 19% do quantum exportado. No intervalo subsequente (2008-2011), o ritmo

0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0 120.0 140.0 160.0 180.0 200.0

(31)

de crescimento dos preços das exportações continuou elevado, variando positivamente em 28%, e tendo decrescido apenas entre 2008 e 2009. O quantum exportado, por sua vez, se mantem praticamente constante, sofrendo uma variação de apenas 0,58%. Nos últimos anos da série analisada, o índice de preço começa a mostrar uma pequena tendência de queda, enquanto o quantum continua apresentando uma trajetória estável.12

Gráfico 12 - Evolução do Preço e do Quantum das Importações: Brasil, 1994 a 2014 (Índice 2006=100)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da FUNCEX

No que concerne ao comportamento do preço e do quantum das importações, percebe-se um movimento de variação inverso ao das exportações, sendo, agora, o quantum a categoria em que se notam as maiores taxas de crescimento ao longo de praticamente toda a série histórica considerada. Primeiramente, entre 1994 e 2002, é possível notar um movimento divergente entre o preço e o quantum das importações, que apresentam, respectivamente, uma variação de -14% e 11%. Essa relação inversa de crescimento, todavia, se transforma a partir de 2003, de modo que essas duas categorias passam a variar positivamente. Entretanto, ao passo que o quantum importado aumenta a uma taxa de 107%, entre 2003 e 2008, e 54%, entre 2009 e 2014, os índice de preço das importações varia 72% e 16%, nestes mesmos dois intervalos de tempo.

12 Uma explicação mais detalhada sobre as razões do descolamento entre o preço e o quantum das

exportações se encontra na próxima seção. 0.0

20.0 40.0 60.0 80.0 100.0 120.0 140.0 160.0 180.0 200.0

(32)

Ao se considerar de forma conjunta a taxa de crescimento anual dos preços e do

quantum das exportações e importações e da evolução do saldo comercial brasileiro

(Tabela 1), conclui-se que: 1) Os anos em que se verificam déficits no saldo comercial (1995-2000 e 2014) estiveram, em média, mais relacionados ao aumento significativo das quantidades (12,01%) do que nos preços (-1,17%) dos bens importados, e a uma relativa constância ou decréscimo nos preços (-0,30%) e baixo crescimento do quantum (4,84%) dos bens de exportação; 2) Os períodos de saldos comerciais positivos e crescentes (2001-2006) correspondem àqueles em que tanto os preços (7,13%) quanto as quantidades dos bens exportados se encontram em trajetória média de expressiva expansão – com ênfase na variação do quantum (10,95%) -, enquanto, apesar de obterem uma variação média positiva, preços (4,60%) e quantidades (4,48%) das importações crescem em ritmos menores se comparados aos das exportações; 3) O período de saldos comerciais positivos decrescentes (2007-2013) se relaciona a um crescimento médio positivo do quantum (9,07%) e do índice de preço (4,36%) das importações, e, por outro lado, a uma taxa de crescimento média do quantum (0,70%) e dos preços (6,78), que não são suficientes para assegurar uma trajetória positiva e estável aos saldos comerciais desse último período.

Tabela 1 – Taxa de Variação Anual do Preço e do Quantum das Importações e

Exportações e Saldo Comercial: Brasil, 1994 a 2014

Ano Importações (var.%) Exportações (var.%)

Saldo Comercial

(Bi US$)

Preço Quantum Preço Quantum

1994 0% 0% 0% 0%

1995 2.29% 47.68% 13.63% -6.00% -3,466

1996 0.47% 6.20% 0.08% 2.59% -5,599

1997 -5.12% 18.23% 0.71% 10.19% -6,753

1998 -5.27% 1.80% -6.76% 3.46% -6,575

1999 0.47% -14.98% -12.79% 7.72% -1,199

2000 0.12% 13.15% 3.32% 11.10% -698

2001 -3.28% 2.94% -3.45% 9.53% 2,650

2002 -3.23% -12.18% -4.54% 8.63% 13,121

2003 6.14% -3.64% 4.67% 15.73% 24,794

2004 9.94% 18.26% 10.90% 19.08% 33,641

2005 11.18% 5.36% 12.09% 9.37% 44,703

2006 6.87% 16.13% 12.51% 3.34% 46,457

2007 8.24% 22.00% 10.51% 5.49% 40,032

2008 21.81% 17.73% 26.33% -2.46% 24,836

(33)

2010 3.90% 36.97% 20.53% 9.50% 20,147

2011 14.28% 8.92% 23.20% 2.92% 29,793

2012 0.95% -2.28% -4.94% -0.33% 19,395

2013 -1.17% 8.64% -3.18% 3.05% 2,399

2014 -1.97% -2.50% -5.29% -1.81% -3,930

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do FUNCEX

Em suma, depois de analisados os dados sobre o grau de abertura externa, na seção 1.1, e sobre o padrão de inserção comercial do Brasil, nesta seção, pode-se chegar a algumas constatações de fundamental importância para um melhor esclarecimento sobre como os termos de troca, entre 1994 e 2014, influenciaram o potencial de crescimento da economia brasileira via restrição externa exercida pelo balanço de pagamentos:

i) O grau de abertura da economia brasileira, apesar de permanecer entre os mais baixos se comparado aos países em desenvolvimento13, apresenta uma trajetória de crescimento, principalmente a partir de 1998, de modo que os fluxos de comércio externo começam a ocupar uma maior proporção em relação ao PIB. Esse aumento da interação da economia brasileira com o resto do mundo tem diversas implicações, entretanto, o que mais nos interessa, dados os objetivos do presente estudo, é o fato de que a maior participação do comércio internacional na formação do Produto Interno Bruto do Brasil culmina, de forma correspondente e em igual medida, numa maior vulnerabilidade do País em relação às variações nos preços dos bens exportados e importados, ou seja, à dinâmica dos termos de troca.

ii) No tocante ao padrão de inserção comercial do Brasil, constata-se, antes de tudo, uma permanência da dependência estrutural de commodities, como ressaltado por Nascimento et al. (2009), a qual se expressa nos seguintes aspectos: a) a pauta exportadora se mantem dominada pelos produtos primários e pelas manufaturas baseadas em recursos; b) o conteúdo das importações continua majoritariamente constituindo pelas manufaturas de média e alta tecnologia; c) A capacidade de importar e de gerar parte das divisas necessárias para honrar os compromissos externos do Brasil para com os seus parceiros permanece entrelaçada aos saldos positivos gerados, quase que exclusivamente, pela exportação de commodities e manufaturas relacionadas ao beneficiamento desses bens. Isto significa que uma diminuição no preço ou um

13 Para um estudo comparativo mais detalhado sobre o grau de abertura comercial da economia brasileira

(34)

arrefecimento na demanda mundial por bens primários coloca em cheque o processo de crescimento brasileiro, já que podem causar crises no balanço de pagamentos; d) Os superávits gerados nos setores relacionados a estes bens, em grande parte do período em análise, são suficientes apenas para cobrir o valor das importações – as quais, nos últimos anos, corroem uma parte cada vez maior desses saldos positivos - não sendo capazes, portanto, de sanar os crescentes déficits em conta corrente, gerados pelo aumento expressivo das remessas de lucros e dividendos e juros ao exterior. Este último ponto revela outro tipo de dependência da economia brasileira, qual seja, a progressiva necessidade de atrair capitais externos no sentido de equilibrar os déficits decorrentes dos vazamentos na conta de Rendas e Serviços do Balanço de Pagamentos.

iii) Esse padrão de inserção comercial baseado na exportação de bens primários e manufaturados baseados em recursos, de um lado, e na importação de bens de maior conteúdo tecnológico, de outro, não só se mantém como também se intensifica, uma vez que é claro o processo de perda de qualidade da pauta exportadora e de aumento da importância dos manufaturados de média e alta intensidade tecnológica na pauta importadora, principalmente após o ano de 2006. Essa perda de qualidade da pauta exportadora parece dar peso ao argumento de que o Brasil estaria passando por um processo de reprimarização. Ademais, este seria um dos fatores que daria peso à tese que fala sobre ocorrência de um processo de especialização regressiva no País, o qual se expressa por uma mudança na estrutura produtiva na direção de setores relacionados aos bens de menos intensidade tecnológica.

(35)

últimos sete anos do período analisado, se estagna, apresentando uma variação média de 0,70%.

v) Finalmente, pode-se fazer uma afirmação de importância crucial para o desenvolvimento deste trabalho: a dinâmica dos termos de troca do Brasil, ou da relação entre os preços dos bens exportados e importados, depende cada vez mais do comportamento do preço das commodities, quando se trata dos bens de exportação, e do comportamento do preço dos bens manufaturados de maior intensidade tecnológica, no que se refere ao que é majoritariamente importado pelo País. Em outros termos, significa dizer que os termos de troca do Brasil, que no intervalo entre 1960 e 1990 eram mais determinados pelo movimento do preço de bens manufaturados de baixa e média tecnologia, dado o maior grau de diversificação da pauta exportadora, voltam a depender do desempenho do preço das commodities, que se mostram cada vez mais importantes no que se refere ao valor das exportações totais.

Feitas todas essas considerações a respeito da evolução do grau de abertura e do padrão de inserção comercial brasileiro e acerca da influência desses elementos sobre a composição, a dinâmica e o grau de impacto sobre o PIB dos termos de troca, faz-se necessário, a partir de agora, desenvolver uma investigação mais especifica sobre o comportamento histórico desses termos de troca , entre 1994 e 2014, investigando suas causas, principalmente no que se refere à melhora desses termos na última década, e traçar um panorama sobre as suas perspectivas futuras, indagando sobre as reais possibilidades de se manter a trajetória favorável observada nos últimos anos. Este será, pois, o conteúdo da próxima seção.

1.3 A dinâmica dos termos de troca do Brasil: histórico e perspectivas

Segundo Prates (2007), alguns estudos recentes14, analisando dados referentes à segunda metade do século XX, testam empiricamente e comprovam, através de métodos econométricos diferenciados, a tese desenvolvida por Prebish (1949) e Singer (1950)15,

14 Ver Silva (2013), Ocampo & Parra (2003)(2010), Cashin e Mcdermott (2002) e Bloch e Sapsford

(2000).

15 Uma apresentação mais detalhada sobre a concepção estruturalista acerca dos termos de troca está

(36)

segundo a qual haveria uma tendência à deterioração dos termos de troca de países cuja pauta exportadora fosse concentrada em produtos primários. Todavia, uma aparente reversão na trajetória descendente dos termos de troca desses países, ocorrida principalmente na última década e causada pelo boom no preço das commodities, tem feito ressurgir a discussão sobre a validade da hipótese levantada por aqueles autores.

O referido boom no preço das commodities que, a partir de 2002, começa a afetar positivamente os termos de troca dos países exportadores desses bens, como destaca Carneiro (2012), não se assemelha a um mero choque como os que tradicionalmente afetam a cotação desses produtos. Com efeito, “a intensidade, em termos de patamar, a abrangência, quanto ao número de produtos, e a duração, em número de anos, do aumento de preços, sugere que se está diante de fatos históricos particulares a requerer uma análise e reflexão aprofundadas”. (CARNEIRO, 2012, Pg.5).

Com base no Gráfico 12, é possível notar, após o ano de 2002, uma trajetória quase contínua de expressivo aumento no índice de preço das commodities, que, sofrendo uma quebra na crise de 2009, se estende até o ano de 2011, apresentando uma pequena tendência de queda apenas no período entre 2012 e 2014. O índice de preço desses produtos, que se manteve praticamente constante no último quinquênio dos anos 90 (6,20%), apresenta um salto de 58,2 em 2002, para 171,8 em 2014, o que representa uma variação de 195%.

Gráfico 13 - Evolução do Índice Preço das Commodities Agregadas: 1994 a 2014 (2005=100)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do World Bank 0 50 100 150 200 250 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14

(37)

Antes, porém, de inquirir sobre a natureza dessa trajetória de crescimento expressiva e sustentada, faz-se necessário uma análise desagregada sobre o comportamento das diferentes categorias de commodities16, já que cada uma delas contribui em proporções diferentes para o ciclo de preços observado na última década.

Gráfico 14 - Evolução do Índice de Preço dos Alimentos, Matérias Primas Agrícolas, Metais e Combustíveis: 1994 a 2014 (2005=100)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do World Bank.

Na última metade da década de 90 e nos dois primeiros anos da década seguinte (Gráfico 13), observa-se uma relativa estabilidade e até mesmo uma pequena queda no índice de preços dos alimentos, das matérias primas e dos metais. A partir do ano de 2002, entretanto, fica claro um movimento de alta generalizada no preço de todas as categorias de commodities, que se interrompe no ano de 2009, mas se recupera no ano seguinte, atingindo patamares superiores aos do período pré-crise. Porém, é notável que esse movimento ocorre de forma mais pronunciada nos metais e combustíveis vis-à-vis os alimentos e matérias primas agrícolas. Enquanto, entre 2002 e 2011, metais e combustíveis apresentam uma taxa de crescimento de 322% e 310%, respectivamente, alimentos e matérias primas agrícolas crescem a uma taxa de 121% e 61%, nessa ordem. Nos anos seguintes à 2011 verifica-se uma leve queda nos preços dos alimentos, das

16 Quatro categorias de bens compõem o índice geral de preço das commodities: 1) Alimentos, que incluem bens como óleos vegetais, carnes, café e açúcar; 2) Matérias Primas Agrícolas, relacionadas a produtos como algodão, lã e plástico; 3) Metais, como ferro, zinco e alumínio; e, por fim, 4) Combustíveis, que estão ligados a bens como petróleo e gás natural.

0 50 100 150 200 250

(38)

matéria primas agrícolas e dos combustíveis, sendo que os metais sofrem uma queda mais acentuada de -28%, até 2014. A melhora do índice geral de preços das commodities, pois, apesar de se dever ao aumento de preço de todas as categorias de bens que o compõem, corresponde em maior proporção ao crescimento verificado nas cotações dos metais e combustíveis.

Quanto aos determinantes do comportamento do preço das commodities, pode-se destacar tanto os de caráter mais geral, que afetam a trajetória de todas as categorias relacionadas a esses bens, como as que afetam cada mercado de forma específica. Dentre os determinantes mais abrangentes, é possível destacar elementos que influenciam o lado da demanda, como, por exemplo, as condições macroeconômicas globais - de caráter mais conjuntural – e as transformações na estrutura produtiva de países em desenvolvimento, como no caso da China, que se dão ao longo de períodos mais longos de tempo. Nos últimos anos, outro elemento tem tomado importância significativa na determinação do movimento do preço dos produtos primários, a saber, a negociação desses bens como ativos financeiros. Finalmente, no que se refere aos determinantes que atuam de forma específica em cada mercado, temos elementos ligados à oferta, como o grau de incorporação tecnológica no processo produtivo de cada commoditie e a diferenciação nos seus respectivos custos de produção. [(CARNEIRO, 2012); (PRATES, 2007); (UNCTAD, 2013)].

Segundo Carneiro (2012), quando se consideram os determinantes do lado da oferta, deve-se evidenciar, primeiramente, a existência de maiores barreiras à entrada na produção de metais e combustíveis em comparação com os setores produtores de alimentos e matérias primas agrícolas, visto que as fontes de produção são mais monopolizáveis nos primeiros do que nos últimos. Ademais, o ritmo de incorporação tecnológica se deu de maneira mais intensa na produção de bens agrícolas, seguindo de perto o ritmo observado nas manufaturas. Esta seria, portanto, um dos motivos fundamentais para o comportamento divergente entre as diversas commodities, em especial na última década.

(39)

efetiva para o aumento da volatilidade do preço desses bens, podendo causar mudanças extremas nesses preços em períodos muito curtos. O aumento significativo das cotações das commodities em 2007 e na primeira metade de 2008 esteve, de forma muito provável, relacionado à formação de uma bolha especulativa que estoura com o colapso dos preços na segunda metade de 2008, seguindo o curso da crise financeira global.

No que tange aos determinantes que afetam o comportamento do preço das commodities de modo mais geral, Prates (2007) coloca em primeiro plano o ritmo da economia global. De acordo com a autora, os períodos de crescimento, de forma geral, são seguidos pelo aumento relativo do preço desses produtos, ao passo que, em momentos de arrefecimento da economia mundial, estes preços vão nessa mesma direção. Essa correlação positiva sucede, em grande medida, devido à rigidez de oferta no curto prazo relacionada, fundamentalmente, às matérias-primas agrícolas e aos metais, os quais compõem a lista de insumos utilizados na produção de bens industriais. Evidencia-se, entretanto, uma correlação mais forte entre o preço dos metais e a atividade econômica mundial, uma vez a produção desses bens responde muito mais lentamente a aumentos na demanda. Isso explicaria, pois, o descolamento evidente (2005-2008; 2009-2011) do índice de preço dos metais17 ante o índice das demais commodities.

Dentre todos esses fatores, o que, no entanto, se coloca como o mais significativo para a explicação do movimento impar de crescimento dos preços das

commodities observado da última década é a excepcional expansão econômica da

China.

O rápido crescimento da China desde meados dos anos 1980 alterou de maneira substancial a geografia econômica global, bem como o perfil de demanda por matérias primas (CEPAL, 2011). Há vários fatores que explicam esse perfil de demanda: a forma de inserção da China nas cadeias produtivas globais e no espaço do Sudeste Asiático, atuando como um hub global, proporcionou um intenso processo de industrialização acompanhado de urbanização acelerada que redundou no crescimento muito rápido da demanda por petróleo e

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metais, como mostrado por Artus (2011), num quadro de oferta de recursos naturais relativamente escasso no país e na região. Por sua vez, o crescimento da renda também deu origem a um aumento significativo da demanda por alimentos e matérias primas agrícolas. (CARNEIRO, 2012, Pg.20).

Nos últimos dez anos, a China assumiu a liderança mundial no consumo de commodities, respondendo por mais de 40% da demanda por alguns desses produtos. Apesar do aumento na produção doméstica, o país não consegue suprir grande parte da demanda crescente por bens como minério de ferro, níquel, soja, algodão e borracha. (UNCTAD, 2013).

Para mais, deve-se considerar que o efeito do crescimento chinês sobre o movimento altista das cotações de bens primários não se dá apenas pelo lado da demanda. O aumento relativo do preço desses produtos em relação às manufaturas também tem a ver com a queda nos preços desses últimos, causada, mormente, pelo aumento da participação da China na produção de bens industriais a partir de níveis salariais consideravelmente mais baixos se comparados aos demais países produtores de manufaturas. (CARNEIRO, 2012).

Enfim, mais uma vez segundo Prates (2007), é a união de fatores conjunturais e estruturais que explicam o aumento da demanda chinesa por commodities, fato este que pressiona o aumento do preço desses bens cuja produção apresenta-se relativamente inelástica a choques de demanda no curto prazo. Dentre os fatores supracitados, pode-se destacar o ingresso da China na Organização Mundial do Comercio e a continuidade do processo de industrialização e urbanização desse país.

Para a autora, a particularidade do recente super-ciclo das commodities está, portanto, justamente na ocorrência simultânea do todos os fatores apresentados anteriormente, quais sejam, o crescimento da economia mundial, a financeirização das commodities como forma alternativa de valorização em relação às baixas taxas de juros dos países desenvolvidos e o crescimento excepcional da economia Chinesa.

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constitui numa mudança estrutural permanente em favor da continuidade ou do aumento do preço relativo desses bens. Obviamente, quando se considera a complexidade dos determinantes da dinâmica desses preços e a incerteza sobre os desenvolvimentos futuros da economia global, torna-se difícil fazer projeções seguras acerca do comportamento dessa variável. No caso deste trabalho, entretanto, a resposta à essa questão tem ainda uma fundamental importância, já que, dado o processo de aumento na dependência estrutural de commodities – caracterizado pelo aumento da especialização da pauta exportadora nesses bens e pela crescente importação de bens manufaturados de maior conteúdo tecnológico - sofrido pelo Brasil nos últimos anos, a trajetória dos termos de troca do País será cada vez mais determinada pelos movimentos observados nos preços dos produtos primários.

Para Prates (2007), em se tratando do processo de crescimento chinês, pode-se afirmar, de um lado, que, apesar de se assemelhar ao processo observado em alguns países asiáticos em fases similares de integração ao comércio internacional, trata-se de um fenômeno cujos impactos sobre a oferta de bens e fatores e, consequentemente, sobre a demanda de produtos primários se dão de forma mais intensa e duradoura. Daí deriva a possibilidade de haver, de agora em diante, uma mudança positiva no patamar do preço relativo das commodities. Ademais, essa mudança para um nível superior não impede que haja uma nova tendência de queda nesses preços relativos, posto que o processo de desenvolvimento desse país implicará, no longo prazo, em uma redução de sua elasticidade-renda por esses bens; para mais, as indústrias chinesas com excesso de capacidade e que apresentam menor eficiência do investimento são justamente aquelas que utilizam as commodities metálicas como insumo principal.

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Gráfico 1 - Exportações e Importações em Bilhões US$ - Brasil - Período 1994 a  2014
Gráfico 2 - Grau de Abertura da economia: Brasil, 1994 a 2014  (em % do PIB)
Gráfico 3 - Coeficiente de Exportação e de Penetração das Importações (Indústria  Geral) da Economia Brasileira - Período 1996 à 2014 - em %
Gráfico 4 - Evolução das Exportações por Conteúdo Tecnológico: Brasil, 1994 a  2014 (Bilhões US$)
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