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O poder judiciário no brasil e a forma de nomeação dos ministros do supremo tribunal federal: uma reflexão crítica

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

TIAGO ALMEIDA DORNELES

O PODER JUDICIÁRIO NO BRASIL E A FORMA DE NOMEAÇÃO DOS MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: UMA REFLEXÃO CRÍTICA

Ijuí (RS) 2018

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TIAGO ALMEIDA DORNELES

O PODER JUDICIÁRIO NO BRASIL E A FORMA DE NOMEAÇÃO DOS MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: UMA REFLEXÃO CRÍTICA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Dr. Gilmar Antônio Bedin

Ijuí (RS) 2018

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Dedico o presente trabalho a meus pais, esposa e filhos, que, com amor incondicional me auxiliaram na construção desta jornada acadêmica, pautada, especialmente, na dedicação, respeito e valorização da educação.

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AGRADECIMENTOS

Agradecer, antes de qualquer definição prévia, como significado de reconhecimento e gratidão, para mim, é uma forma de asseverar em nossa memória, o quanto de amor, carinho e apresso foram a nós aferidos em determinado momento de nossas vidas.

É sempre importante e agradável lembrar que sim, somos amados. Amados de forma incondicional. Ainda que, por vezes não pareça, mas assim o somos.

Assim, sou sabedor que Deus é bom a todo o tempo. A todo o tempo Deus é bom. A ele todo o agradecimento por sempre sustentar e guiar os passos de seus filhos, e assim, como filho, aqui estou. Agradecido a ele, pois de tudo cuidou com o devido apreço. De tudo soube esperar e orientar no caminho acertado. A ti Senhor, obrigado!

Agradecer a Deus nos faz transcender em seu amor e agradecer também àqueles que são seus instrumentos. A meu pai, José Claito Santos Dorneles e a minha mãe, Judite Almeida Dorneles, agradeço por me escolherem como filho, por me educarem com seus valores e com todo o carinho e cuidado. A Essa etapa devo-lhes todo o agradecimento, pois, com toda a humildade, sempre, desde os primeiros passos na escola, já no distante ano de 1996, foram taxativos e ao mesmo tempo encorajadores de que pela educação são abertas as portas para o crescimento profissional, e, ao mesmo tempo, são construídas pontes para que possamos nos interligar como pessoas em busca de um mundo fraterno.

À minha avó Dalva dos Santos Dorneles e a meus irmãos Claito Almeida Dorneles e Vívia Almeida Dorneles, minha gratidão por serem, juntos com meus pais, o núcleo familiar

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que me proporcionou viver e conviver em um ambiente de amor e carinho recíprocos. Nossas histórias se confundem.

À minha esposa, Jéssica de Lima Leindecker, agradeço pelo amor, carinho e companheirismo no transcurso dessa etapa. Lembro-me do ano de 2011, momento que, com muita dedicação e afinco, foI suporte e incentivadora principal para o ingresso no ensino acadêmico. O ingresso foi uma etapa vencida e, desde, 2015, ano de nosso casamento, vem sendo imprescindível e fortaleza para mim, Este trabalho que aqui é desenvolvido, tem a sua colaboração, como esposa amável e dedicada que é.

De forma muito especial, presto meu profundo agradecimento ao professor, Dr. Gilmar Antônio Bedin, exímio mestre, que com seu profundo conhecimento e elegância na arte de educar, foi um grande exemplo no curso da graduação, a quem sempre tive profunda admiração. Tê-lo como orientador, vem coroar a mesma impressão que tive lá em 2011, no primeiro semestre de curso, ao ministrar aulas da disciplina de Teoria Geral do Estado e da Constituição. Sua tranquilidade, segurança e orientação, foram fundamentais para que pudesse lograr êxito na elaboração do presente trabalho.

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―Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição‖ (2 Timóteo, 4, 7).

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RESUMO

No trabalho de conclusão de curso aqui desenvolvido, busca-se fazer uma análise acerca da forma de nomeação dos ministros do Supremo Tribunal Federal, disposta no art. 101 da Constituição Federal, § 1º, com ênfase na problemática acerca da possibilidade de interferência nas decisões daquele Tribunal, por vinculação política ou pessoal dos ministros nomeados ao Presidente da República, ou a seu grupo dominante. Neste sentido, realiza-se o estudo a cerca da estrutura do Poder Judiciário, à luz da Constituição Federal, adentrando-se, posteriormente, na história da Suprema Corte Brasileira, a Supremo Tribunal Federal, ao longo dos diversos períodos históricos de poder e das constituições até então vigentes, ao passo, que, ao final, expõe-se uma análise mais criteriosa cerca do processo de nomeação, com exemplos práticos, propostas de emenda constitucional e referências ao direito comparado, no sentido de vislumbrar se o modelo vigente é o mais adequado para a composição do Supremo Tribunal Federal ou consolida, de forma preocupante, a politização da justiça. Para tanto, como metodologia utilizada, adotou-se a pesquisa bibliográfica, do tipo exploratório, utilizando para seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores.

Palavras Chave: Supremo Tribunal Federal. Ministros. Constituição Federal. Poder Judiciário. Política.

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ABSTRACT

In the work of conclusion of course developed here, it is sought to make an analysis about the form of appointment of the ministers of the Federal Supreme Court, disposed in art. 101 of the Federal Constitution, paragraph 1, with emphasis on the problem of the possibility of interference in the decisions of that Court, by political or personal connection of ministers appointed to the President of the Republic, or its dominant group. In this sense, the study of the structure of the Judiciary is carried out, in the light of the Federal Constitution, and later on, in the history of the Brazilian Supreme Court, the Supreme Federal Court, during the various historical periods of power and constitutional amendments and references to comparative law, in the sense of glimpsing whether the current model is the more suitable for the composition of the Federal Supreme Court or consolidates, in a worrisome way, the politicization of justice. For this purpose, as a methodology, we adopted the bibliographic research, of the exploratory type, using for its delineation the collection of data in bibliographic sources available in physical media and in the computer network.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... .9

1 O PODER JUDICIÁRIO E A CONSTITUIÇÃO DE 1988 ... 11

1.1 A Constituição Federal ... 11

1.2 O papel do Poder Judiciário ... 14

1.3 A estrutura do Poder Judiciário brasileiro ... 17

2 O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ... 23

2.1 A história da Suprema Corte - STF ... 23

2.1.1 A Casa de Suplicação do Brasil e o Supremo Tribunal de Justiça ... 23

2.1.2 A criação do Supremo Tribunal Federal ... 25

2.1.3 A nova denominação do STF em 1934 – Corte Suprema ... 26

2.1.4 O Estado Novo e o Supremo Tribunal Federal ... 27

2.1.5 O Supremo Tribunal Federal na redemocratização e Constituição de 1946 ... 28

2.1.6 O Supremo Tribunal Federal no Regime Militar de 1964 ... 28

2.1.7 A nova Constituição Federal de 1988 e o Supremo Tribunal Federal ... 30

2.2 O papel do Supremo Tribunal Federal na sociedade brasileira ... 31

2.2.1 As competências constitucionais do STF ... 32

2.2.2 A função política do STF ... 34

3 A NOMEÇÃO DE MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ... 36

3.1 Os critérios e forma de nomeação ... 36

3.2 Possíveis disfunções do modelo vigente de escolha ... 38

3.3 Considerações do Direito Comparado ... 44

3.4 Possíveis mudanças no sistema de escolha de ministros do STF ... 46

CONCLUSÃO ... 50

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INTRODUÇÃO

Ao Supremo Tribunal Federal, Corte máxima do Poder Judiciário, é conferido o mais relevante poder de decisão do país. Assim, as decisões judiciais, oriundas daquele Tribunal, especialmente, de cunho constitucional, são vetores fundamentais no âmbito do Direito brasileiro, com consequências jurídicas, sociais e políticas.

Neste viés, a escolha de um ministro do Supremo Tribunal Federal é um momento determinante, haja vista que, além de preencher os requisitos formais previstos constitucionalmente, deverá tal encargo ser conferido àquele que, além de conhecimentos técnicos acerca do Direito, tenha um senso de justiça intrínseco a sua personalidade.

Há requisitos subjetivos a serem analisados pelo Presidente da República, que por livre convicção realiza a nomeação, contudo tais requisitos devem ser pautados por valores fundamentais de ética e comprometimento com a justiça, a fim de que sejam tomadas as decisões mais justas que se esperam do Supremo Tribunal Federal.

Contudo, desde a origem da Suprema Corte, muito se questiona a forma de escolha e nomeação de seus ministros. Atualmente, preenchidos os requisitos do artigo 101 da Constituição Federal, a escolha é feita de forma hegemônica, pelo Presidente da República.

Neste sentido, especialmente, em um contexto de exacerbada crise política, com predominância de desmedidos escândalos de corrupção, por parte parlamentares, ministros de Estado e até mesmo do Presidente da República, questiona-se o fato da possibilidade de haver algum tipo de vinculação seja politica ou pessoal, entre os ministros nomeados e o Executivo, na figura do Presidente da República, bem como de sua base de sustentação política, sendo ele - ministro do Supremo Tribunal Federal - responsável pelo julgamento de diversas demandas, que, não raro, envolvem políticos em caso de crimes comuns e crimes de reponsabilidade, por exemplo.

A partir de então, realiza-se o estudo na perspectiva da Estrutura do Poder Judiciário e do Supremo Tribunal Federal, especificamente, sobre a forma de nomeação de seus ministros, com análise da dogmática constitucional da redação do artigo 101 da Constituição Federal e das críticas e justificativas doutrinárias advindas de pesquisas bibliográficas, do tipo

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exploratório, em meio físico e através da rede de computadores, acerca do que dispõe o mesmo dispositivo, quanto às suas implicações e consequências no âmbito da Suprema Corte, especialmente no que tange à imparcialidade dos ministros e possíveis interferências políticas em seus julgados.

Neste diapasão, buscou-se desenvolver a pesquisa do tema a partir de três capítulos, com ênfase na estrutura do Poder Judiciário, no Supremo Tribunal Federal e na forma escolha de seus ministros.

Então, primeiramente desenvolve-se o estudo do Poder Judiciário, com seu papel relevante perante a sociedade, especialmente a partir da concepção da Constituição Federal de 1988, que proporciona o advento também de fenômenos como a judicialização e o ativismo judicial. Adiante, passa-se a análise da estrutura administrativa e jurisdicional do Poder Judiciário.

No segundo capítulo, de posse das considerações do Poder Judiciário, como um todo, estuda-se a origem do Supremo Tribunal Federal, suas competências; seu aspecto jurídico-político na solução de conflitos, com suas alterações no decorrer da história e das constituições.

Por fim, no terceiro capítulo faz-se uma análise crítica sobre as forma de como se dão as nomeações dos ministros do Supremo Tribunal Federal, a partir de uma perspectiva dogmática e política, bem como as possíveis disfunções existentes no modelo vigente, conforme justificativas de preposta de emenda constitucional e subsídios do Direito comparado e exemplificações de casos concretos.

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1. O PODER JUDICIÁRIO E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Com a intenção de deslindar e situar o Poder Judiciário dentro da organização estatal no Brasil, de forma abrangente e, ao mesmo tempo, genérica, o presente trabalho busca relacionar o referido Poder com a Constituição Federal promulgada em 1988, com suas normatizações, prerrogativas, ideais e valores.

A partir da Constituição Federal, busca-se uma exposição acerca das funções do Poder Judiciário, com ênfase na sua função social ativa dentro do Estado, e seu destaque como sendo, muitas vezes, um ―poder- regulador‖, considerando-se, inclusive, que, por vezes, se sobrepõe aos demais poderes, ainda que se tenha a separação e harmonia dos poderes, de forma expressa na Constituição.

Posteriormente, com base, fundamentalmente no artigo 92 da Constituição Federal, busca-se fazer um estudo acerca da estrutura do Poder Judiciário, no que tange seus órgãos, com exposição, especialmente, das divisões de tarefas dos Tribunais Superiores, notadamente chamados de órgãos de cúpula, de forma a culminar no Supremo Tribunal Federal, corte suprema do ordenamento jurídico brasileiro, que é objeto de nosso estudo.

1.1 A Constituição Federal

O ano de 1988 é marcado na história recente do Brasil com advento de uma nova ordem jurídica no país, a Constituição Federal, que foi promulgada em 05/10/1988.

Trata-se de um marco importante, uma vez que faz transcender na carta magma uma série de mudanças e de novos ideais implementados, tanto no âmbito social como político, que já se fazia latente frente as mais diversas transformações científicas, tecnológicas, sociais, políticas e econômicas que se estabeleciam naquele momento histórico, decorrente da dinâmica dos processos sociais, conforme menciona Rocha (1995, p.109):

Essas transformações nos distintos setores da realidade, como não poderia deixar de ser, repercutiram na Constituição Federal de 1988, que, buscando adaptar o direito e o Estado ao contexto histórico emergente dessas transformações, deu-lhes nova estrutura e função.

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Como percebe-se, a vigência da ―nova‖ Constituição traz, inequivocamente, a necessidade de que haja também uma mudança tanto no direito como no Estado. Isto, logicamente, se dá pelas novas concepções da época.

Segundo Rocha (1995), na esteira das demais constituições brasileiras, originárias da doutrina liberal clássica, a Constituição Federal de 1988 mantém a característica de garantidora do funcionamento regular dos poderes públicos e da liberdade dos cidadãos, no entanto, ela não se restringe a esses dois aspectos, de forma a se distinguir quanto à sua dimensão ideológica e quanto ao seu valor normativo.

Quanto ao aspecto ideológico é bem clara a lição de Rocha (1995, p. 110) ―A Constituição se configura [...] como um sistema de valores a serem realizados pelos poderes públicos, em especial, pelo Judiciário‖. Ou seja, o Estado tem um papel valorativo dos anseios e das demandas da sociedade. Não se trata tão somente de conceber aos poderes e órgãos públicos uma função organizacional e garantidora de direitos. E necessário, para além dessas funções, um Estado que tenha um papel ativo, como agente das transformações sociais, de forma que alcance seus cidadãos nos objetivos mais concretos possíveis, pautados especialmente pela concepção da dignidade da pessoa humana, que, assim, como em outras constituições democráticas, é um dos principais pontos de referência na esfera dos direitos fundamentais e sociais expressos.

Ainda, quanto ao valor normativo da Constituição, destaca Rocha (1995, p. 111) ―trata-se de uma concepção própria do constitucionalismo contemporâneo, segundo o qual os preceitos constitucionais têm efetiva força vinculante, inclusive podendo ser exigidos por vias jurisdicionais.‖.

Como se observa, a citação acima nos mostra o quão relevante se torna a Constituição no ponto de vista jurídico do país, de forma a ter uma força normativa preponderante em todo o ordenamento, sendo ela, tanto a referência máxima para a elaboração e interpretação de normas infraconstitucionais, como a própria norma a ser considerada em determinadas situações.

Assim, tem-se que jurisdição é pautada pela Constituição, de forma ser uma norma cogente a ser invocada por aqueles que tiverem seus interesses a ela vinculados. Neste caso

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temos o exemplo das questões relativas a litígios de direito privado, onde as partes, em um determinado momento poderão alegar em seu favor dispositivo constitucional que, neste caso, terá efeito inter partes.

Outro exemplo importante acerca do caráter normativo da Constituição Federal é a previsão existente no seu art. 5º, inciso LXXI, quanto ao mandado de injunção. Vejamos que, neste caso, a constituição assegura um determinado direito, no caso de inexistência de uma determinada norma, ou seja, ela atua como a própria norma específica em relação àquele fato que lhe originou.

Do ponto de vista social, tem-se que a Constituição Federal, assim como as demais constituições democráticas latino-americanas, busca ter uma maior efetividade no que tange à previsão de inúmeros ―novos direitos‖, individuas e coletivos, que emergem, em suma, do contexto histórico de tentativa de maior equilíbrio na distribuição de renda em favor de classes mais populares, em contraposição às políticas de dominação, bastante enraizadas no país na segunda metade do século XX, chegando, por certo, ao Judiciário, o responsável direto e essencial na solução de diversas demanda.

Acaba o judiciário por ser um dos pontos essenciais no processo de rivalização entre antigos grupos dominantes e aqueles que pregam a soberania da vontade popular, pois é nas cortes que surge a interpretação das normas, que pode se dar de forma libertária e avançada ou dentro do conservadorismo, que interessa às castas dominantes. (TASSE, 2001, p. 86).

Não há dúvidas que o novo ordenamento vigente (Constituição), provoca uma crescente busca por direitos e garantias, aumentando consideravelmente o número de litígios e, consequentemente, a busca pela jurisdição, uma vez que há essa perspectiva, esse anseio por deliberação e solução das mais diversas situações fáticas que se apresentam. Isto porque, a Constituição Federal de 1988 traz expresso uma gama gigantesca de normatizações que até então cabiam tão somente aos processos políticos majoritários e às leis ordinárias.

A Carta brasileira é analítica, ambiciosa, desconfiada do legislador (BARROSO, 2009). Busca-se, ao constitucionalizar matérias, trazer a elas um efeito jurídico, de forma a se exigir através do Judiciário o seu cumprimento. São, muitas vezes, matérias de cunho político do qual o seu cumprimento até então se dava por vontade da administração, sem que lhe fosse, muitas vezes, exigidos o cumprimento de forma efetiva.

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Neste viés, um exemplo bem claro a ser lembrado é a questão do fornecimento de medicamentos, de consultas e cirurgias pelo poder público através do SUS (Sistema único de Saúde). Ao prever no artigo 196, que a saúde é direito de todos e dever do Estado, várias questões, que não houve fornecimento do atendimento de saúde por parte do ente público, foram parar no Judiciário, onde lá, na sua grande maioria, o poder público é obrigado a fornecê-los.

Somadas as novas perspectivas trazidas pela Constituição Federal, como acima exposto, tanto do ponto de vista ideológico, como do ponto de vista normativo, é evidente a nova perspectiva que o Poder Judiciário tem no Estado, sendo um poder extremamente importante para a consecução dos objetivos expressos constitucionalmente, sendo a ele – Poder Judiciário - garantido, na própria Constituição Federal, de forma clara e efetiva, garantias que lhe asseguram a devida independência e autonomia.

1.2 O Papel do Poder Judiciário

A Constituição Federal de 1988 trouxe de forma explícita, em seu art. 2º, o princípio da separação dos poderes, de forma que o Estado, com suas atribuições e objetivos, busca através desses três poderes, realizar suas atividades com o maior êxito possível.

Pode-se dizer que cada um dos poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, são unos no sentido de realizar uma função estatal, mas independentes entre si no sentido de que possuem funções diferentes neste sistema.

Assim, suas funções são bem distintas, ainda que não taxativamente, de sorte que o Executivo, basicamente, é responsável pelos atos de administração; o Legislativo pela elaboração das leis e o Judiciário pela jurisdição, como se menciona Rodrigues et al (2003, p. 14 ), ao se referir ao Estado.

Classicamente, tem-se entendido que três são as suas funções: administrativa, legislativa e jurisdicional. Para o exercício de cada uma delas se criou um conjunto de órgãos, denominado de Poder. Têm-se então os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

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Torna-se perceptível que, em verdade, os poderes, independentes e harmônicos entre si, são uma extensão do Estado, de forma a realizarem as funções estatais essenciais para seu funcionamento.

Nesta perspectiva, a função precípua do Judiciário é ser, de fato, um juiz imparcial na solução de conflitos. Além disso, a Constituição Federal, ao atribuir ao Judiciário uma autonomia, tanto, administrativa como financeira, deixa clara a ideia de que, sendo ele - Poder Judiciário -, o responsável pela jurisdição, tem uma função de destaque, de sorte a ser, de certa forma, um ―poder – agente‖ na realização das atividades estatais, inclusive, em certa medida sobrepondo-se aos demais poderes, como explica Rodrigues et al (2003, p. 16):

A estruturação formal dos poderes do estado brasileiro, presente no texto constitucional, leva à percepção de que é atribuída ao Poder Judiciário uma superioridade hierárquica em relação aos demais – é a ele que compete o controle da constitucionalidade das leis e dos atos administrativos.

Sendo uma instituição de tamanho destaque, o Judiciário, em verdade, tem a preocupação de ser, de fato, efetivo e especialmente célere na promoção da justiça e da equidade.

Destarte, busca-se, cada vez mais, o aprimoramento do Poder Judiciário, no sentido de ser o garantidor efetivo das demandas, uma vez que estas estão cada vez mais crescentes, em decorrência do senso de justiça que todos os cidadãos passaram a ter, especialmente após a Constituição de 1988, como explica Barroso (2009, p. 19) ―Por outro lado, o ambiente democrático reavivou a cidadania, dando maior nível de informação e de consciência de direitos a amplos segmentos da população, que passaram a buscar a proteção de seus interesses perante juízes e tribunais.‖

Nitidamente, o caráter social da Constituição de 1988 faz com que o Judiciário tenha uma posição de destaque na implementação de mudanças, tanto econômicas quanto sociais, visto que o direito, em si, ocupa uma posição também de destaque. A constituição é o direito e a própria norma em evidência, como agente também do Estado.

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assumindo o Estado a função de transformador da realidade, mudou também a função do direito, que deixou de ser apenas uma técnica de medição de comportamentos para transformar-se também em técnica de planificação e planejamento, ou seja, as normas jurídicas passaram a enunciar não só regras contendo hipóteses de incidência e consequências jurídicas, mas também fins a alcançar.

Ainda, referente ao papel de destaque do Poder Judiciário frente aos novos desafios e transformações que transcendem na sociedade, destaca Sifuentes (1999, pg. 336) ―Nesse mundo de mudanças, o Poder Judiciário se revela como o Poder do futuro, apto a resgatar o cidadão, efetivar-lhe os direitos e dar-lhe garantias, acentuando, em suma, o seu papel ativo no seio de uma sociedade que se pretende democrática.‖

Esses novos desafios e mudanças que mencionamos provocam a ocorrência de fenômenos como a judicialização e o ativismo judicial, que já são temas de bastante debate entre a doutrina.

No que se refere ao ativismo judicial, afirma Barroso (2009, p. 22):

A ideia de ativismo judicial está associada a uma participação mais ampla e intensa do Judiciário na concretização dos valores e fins constitucionais, com maior interferência no espaço de atuação dos outros dois Poderes.

A interferência citada por Luís Roberto Barroso, mostra-se com frequência, por exemplo, na carência muitas vezes da regulamentação de inúmeras questões que têm responsabilidade do Poder Legislativo, que, motivado por questões políticas e interesses financeiros, deixa de legislar questões de relevância, como é o caso de diversas previsões constitucionais de regulamentação de matérias através de leis complementares, que desde o advento da constituição até o momento ainda não houve legislação.

Quanto ao Poder Executivo, ocorre o chamado ativismo judicial, por vezes, na falta de realização de políticas públicas em áreas como, por exemplo, de educação e saúde, que são deveres primordiais do Estado.

Ainda, num sentido muito parecido em relação ao ativismo judicial, Barroso (2009, p. 20) prevê a questão da judicialização:

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Judicialização significa que algumas questões de larga repercussão política ou social estão sendo decididas por órgãos do Poder Judiciário, e não pelas instâncias políticas tradicionais: o Congresso Nacional e o Poder Executivo — em cujo âmbito se encontram o Presidente da República, seus ministérios e a administração pública em geral.

O Judiciário, na ocorrência de situações como mencionadas acima, deverá realizar o julgamento da demanda, não tendo outra escolha a não ser tentar dar solução ao caso concreto. Por isso a ideia que se tem, muitas vezes de ser o Poder judiciário um poder, de certa forma ―regulador‖, responsável pela estabilidade das instituições e do Estado de forma geral e, além disso, de garantidor e instrumento para a perfectibilização da justiça no seio da sociedade, o que exige - e não é para menos – a necessidade de uma reflexão constante dos seus desafios e quanto à necessidade de reformas na busca da plena realização de sua função, com o aperfeiçoamento de questões relevantes como o acesso à justiça, da celeridade processual e da segurança jurídica.

1.3 A Estrutura do Poder Judiciário Brasileiro

Como se pode vislumbrar no decorrer do presente trabalho, o Poder Judiciário assumiu um papel expressivo dentro da organização do Estado a partir da Constituição Federal de 1988. Esse papel, pode-se dizer, com toda a certeza, se tratar de um protagonismo dentro da organização de Estado constitucionalmente previsto.

Havendo esse protagonismo depositado junto ao Poder Judiciário, por conseguinte, também se tem uma expectativa de que o mesmo, de fato, possa dar uma resposta à altura dos anseios da sociedade, e nessa perspectiva, o constituinte originário de 1988 buscou dar ao Judiciário os meios adequados para que, de fato, ele pudesse se organizar enquanto Poder para fins de satisfação de suas necessidades matérias e estruturais para que a Justiça fosse realizada de maneira a prestar um serviço jurisdicional adequado.

Destaca-se que a estrutura do Poder Judiciário pode ser considerada a partir de dois pontos de vista: uma estrutura que poderíamos chamar de funcional e outra que poderíamos chamar de administrativa. Neste sentido, leciona Rocha (1995, p 41):

O Judiciário, sendo uma organização, desenvolve duas atividades a que correspondem duas estruturas: a jurisdicional possibilitando o cumprimento

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de suas atividades institucionais de julgar e, por conexão, executar o julgado; e a administrativa ou de governo do pessoal e gestão dos recursos materiais e financeiros.

Neste viés, há de se destacar a importância da autonomia administrativa e financeira estabelecida na Constituição Federal, tornando-se, com toda a certeza, um passo importante na estrutura do Poder Judiciário, de forma a concretizar nu m âmbito prático, e não meramente formal, o princípio da separação dos poderes.

Assim prevê o artigo 99 da Constituição Federal:

Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e

financeira.§ 1º Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro

dos limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias.§ 2º O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados, compete:I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais;II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais.§ 3º Se os órgãos referidos no § 2º não encaminharem as respectivas propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 1º deste artigo. § 4º Se as propostas orçamentárias de que trata este artigo forem encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na forma do § 1º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. § 5º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais. (BRASIL, 2016).

Como se observa na redação constitucional supramencionada, a autonomia financeira expressa-se de maneira bem definida, inclusive com a prerrogativa dos tribunais na elaboração de suas respectivas propostas orçamentárias, dentro dos limites da lei de diretrizes orçamentárias, sendo que o encaminhamento de tais leis orçamentárias é de responsabilidade dos presidentes do STF e dos Tribunais Superiores, no âmbito da União, e dos presidentes dos Tribunais de Justiça, no âmbito dos Estados.

Outrossim, merece destaque, dentro da Reforma do Judiciário (E.C. n.45/2004), a instituição do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), nos termos do artigo 103-B da

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Constituição Federal, com várias prerrogativas a ele expressas, devendo-se enaltecer seu caráter de controle administrativo e financeiro de todos os tribunais, o que reafirma a autonomia das questões administrativas do Poder Judiciário.

Percebe-se, portanto, que, embora sendo um órgão constituído, dentro da estrutura do Poder Judiciário, o CNJ não tem a prerrogativa jurisdicional, e sim, como ressaltado anteriormente, tão somente de controle administrativo e financeiro, como bem ressalta Lenza (2009, p. 575):

Conforme visto, a competência do CNJ se restringe ao âmbito administrativo, não podendo adentrar na análise dos atos jurisdicionais, nem rever o conteúdo da decisão judicial. Para tanto, a parte deve se valer dos meios processuais estabelecidos pelo sistema recursal.

Assim também dispõe o § 4º do art. 103-B da Constituição Federal, ao mencionar que, ao Conselho Nacional de Justiça, compete o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura.

Por outro lado, a partir das considerações tecidas, percebe-se que, ao ser autônomo, de fato, o Poder Judiciário, que tem a função precípua de dirimir conflitos, garantir direitos sociais e individuas, entre outros, sub-roga-se, digamos assim, na realização de funções ditas atípicas, ou seja, que não são sua função principal (típica), como controle administrativo (função típica executiva) e elaboração de leis orçamentárias (função típica legislativa).

Trata-se de uma espécie de abrandamento da teoria da separação de poderes de Montesquieu, conforme ensina Lenza (2009, p. 338):

A teoria da ―tripartição de Poderes‖, exposta por Montesquieu, foi adotada por grande parte dos Estados modernos, só que de maneira abrandada. Isso porque, diante das realidades sociais e históricas passou-se a permitir maior interpenetração entre os Poderes, atenuando a teoria que pregava uma separação pura e absoluta dos mesmos.

Ao dizer que se trata de atenuar a teoria da tripartição dos Poderes, em virtude das realidades sociais e históricas, Pedro Lenza expõe que, em verdade, a maneira abrandada da

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tripartição dos Poderes é, sem qualquer duvida, muito salutar à democracia, desde que, por óbvio, haja o devido equilíbrio nas competências típicas e atípicas

A jurisdição, diferentemente dos atos de administração, que vimos anteriormente, é a atividade típica do Poder Judiciário, de sorte que, para fins do estudo aqui proposto, passaremos à análise de sua estrutura.

Assim, no que tange à estrutura jurisdicional, o Poder Judiciário, enquanto organização, tem como objetivo a prestação da jurisdição, ou seja, a jurisdição é o trabalho a ser realizado. Como toda organização, para que se tenha um bom funcionamento, é necessário que se tenha uma distribuição das tarefas a serem realizada. Trata-se de uma distribuição de tarefas, que no caso do Poder Judiciário se dá através de seus órgãos, que são os responsáveis pela realização do trabalho (Jurisdição), e que estão elencados na Constituição Federal, na forma do artigo 92:

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A o Conselho Nacional de Justiça; II - o Superior Tribunal de Justiça; II-A - o Tribunal Superior do Trabalho; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. § 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional. (BRASIL, 2016)

Nessa estrutura elencada no artigo 92 da Constituição Federal de 1988, podemos dizer que sua organização pode ser considerada de diferentes formas, em estrutura horizontal e estrutura vertical, de maneira que a estrutura horizontal é caracterizada pela ―divisão de tarefas‖ no que se refere à especialização, seja quanto à matéria a ser processada e julgada (Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho e Justiça Militar), seja pelo critério da qualidade da parte litigante (Justiça Federal), sendo assim, esses órgãos desempenham sua função no que chamamos de justiça especializada. Já outros órgãos, que não processam e julgam matérias especializadas, têm a competência para processamento e julgamento de matérias, ditas comuns. Assim, temos a Justiça comum, que é residual, e abrange os estados. Nesse sentido, explica Rodrigues et al (2003, p. 22):

O texto constitucional cria quatro justiças especializadas, todas no nível da União: Uma pelo critério da qualidade dos titulares dos interesses em

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conflito (Justiça Federal) e três pelo critério da matéria (Justiça do trabalho, Eleitoral e Militar). A competência residual fica para a Justiça Comum no nível dos estados-membros. Nesses também há a possibilidade da criação de pelo menos uma justiça especializada, com competência fixada em razão da matéria: a justiça militar estadual. Entre essas justiças não há hierarquia, mas sim distribuição de competências.

No que se refere à estrutura vertical, assim explica Rodrigues et al (2003, p. 22):

[...] para que se possa melhor compreendê-la, é necessário realizar duas classificações: (a) separar órgãos das justiças dos órgãos das justiças da União; (b) diferenciar o que são órgãos de primeiro grau e de segundo grau e órgãos de cúpula.

Nesse contexto, tem-se, referente aos órgãos da União, os órgãos de primeiro e segundo grau das Justiças do Trabalho, Eleitoral, Federal e Militar, além dos órgãos de cúpula específicos, da Justiça Eleitoral e do Trabalho. Já quanto aos órgãos da Justiça estadual, temos os de primeiro e segundo graus, sendo os juízes dos estados (substitutos ou de Direito) e o Tribunal de Justiça, respectivamente. Cumpre ainda destacar o Tribunal do Júri, competente para julgar crimes dolosos contra a vida, os juizados especiais e a Justiça Militar, quando existente, como órgãos da Justiça Estadual.

Seguindo, passa-se à diferenciação de órgãos de primeiro grau, de segundo grau e órgãos de cúpula. Especialmente, quanto aos órgãos de primeiro e segundo grau, de maneira que podemos considerar os órgãos de primeiro grau como o chamado juízo natural, onde há a competência ―originária‖ para o processamento e execução de determinada demanda, que é determinada pela lei e pela constituição. Já os órgãos de segundo grau são responsáveis pela revisão dos julgados quando houver insurreição de uma das partes ou até mesmo das duas, referente à determinada sentença proferida. Os órgãos de segundo grau advêm do princípio do duplo grau de jurisdição, assim explicado por Pedra (2008, p. 2):

O princípio do duplo grau de jurisdição, além de satisfazer a inconformidade que é própria do ser humano com decisões desfavoráveis, mormente em se tratando de julgamento único, proporciona-lhe, no mínimo, um novo julgamento sobre a mesma questão, constituindo assim uma garantia fundamental de justiça. Dessa forma o vencido tem, dentro de certos limites, a possibilidade de obter uma nova manifestação do Poder Judiciário.

No que se refere aos órgãos de cúpula (especiais), explica Tavares Filho (2016, p.5), ao considerá-los como uma terceira instância recursal:

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Finalmente, a Constituição de 1988 estabelece, acima dos tribunais de apelação, uma terceira instância recursal, composta pelos Tribunais Superiores, a saber: o Supremo Tribunal Federal (STF), o Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Tribunal Superior do Trabalho (TST), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Organizados e mantidos pela União, esses órgãos colegiados ocupam um lugar de topo na hierarquia judiciária brasileira, cada um respondendo por um ramo específico do Poder Judiciário da União. Sua composição e funcionamento obedecem a uma lógica própria, e cada um deles foi concebido para adaptar-se a funções específicas ligadas às competências peculiares que lhes são atribuídas pela Constituição.

É interessante o destaque para os órgãos de cúpula no sentido de situá-los acima dos Tribunais que asseguram ao princípio do duplo grau de jurisdição. Possuem uma função acima na estrutura judiciária, no sentido de conferir ao sucumbente do processo a possibilidade de contraditar as decisões, nos termos e competências estipulados constitucionalmente, cumpridos determinados requisitos processuais, que se dão, tanto de ordem legal, como constitucional.

Destaca-se, no que se refere aos órgãos de cúpula do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal, órgão de cúpula do Judiciário, com sua competência elencada na forma do artigo 102 da Constituição Federal, com função substancial de guarda e defesa da Constituição, que será objeto de estudo no próximo capítulo.

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2. O Supremo Tribunal Federal

O presente capítulo apresenta o Supremo Tribunal Federal, com o objetivo de vislumbrar, a partir de aspectos históricos, jurídicos e políticos, a forma como o referido órgãos se constitui e como se firmou historicamente instância superior do Poder Judiciário. Além disso, se preocupará em apresentar as suas atribuições e competências para a resolução de litígios.

O estudo de tais aspectos permitirá a compreensão, de forma efetiva e precisa, da atuação do Supremo Tribunal Federal como órgão de controle de constitucionalidade. Essa abordagem dará ênfase em sua competência constitucional, com análise de sua atuação, não só do ponto de vista técnico-jurídico, mas também do ponto de vista interpretativo do texto constitucional..

2.1 A história da Suprema Corte – STF

Trazer à memória as origens do Supremo Tribunal Federal, desde sua gênese, que nos remete ao período de colonização portuguesa, permite-nos verificar, dentro deste período histórico, a evolução de como se foi estruturando o tribunal, suas mudanças e características que, com o passar dos anos, foram nos remetendo para o que temos hoje enquanto estrutura jurídica.

Trata-se de uma importante análise, no sentido de perceber que, à medida que as estruturas do Estado brasileiro foram se alterando, foi se alterando, na mesma medida, a atuação do poder judiciário. Assim, desde o período colonial, que tinha suas características próprias, tanto políticas como sociais, até o momento atual, que somos regidos pela Constituição Federal de 1988, constatamos que o poder judiciário, em verdade, não se trata de um poder inerte no que concerne à sua atuação social, muito pelo contrário, é, cada vez mais, um instrumento fundamental no Estado de Direito.

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Partindo da premissa de que a criação e instalação do Supremo Tribunal Federal são decorrentes de uma evolução histórica, anterior à denominação atual - que se deu tão somente em 1891, já no período republicano -, verifica-se que o primeiro órgão de cúpula, instituído no Brasil, foi a ―Casa de Suplicação do Brasil‖, em 1808, a partir da vinda da família real portuguesa para o Brasil, neste mesmo ano, segundo Lenza (2009, p. 536):

Passando D. João a residir no Brasil e, na medida em que, diante dessa situação, encontrava-se interrompida a comunicação com Portugal, o Príncipe Regente, mediante Alvará Régio de 10.05.1808, instituiu a ―Casa de Suplicação do Brasil‖, que se caracterizou como o primeiro órgão de cúpula da Justiça no Brasil, marca da fase colonial.

Observa-se que a vinda da família real foi o marco para a instituição da Casa de Suplicação do Brasil, instituindo, segundo Martins Filho (1999), um Tribunal de Cúpula, como instância recursal derradeira, composta por 23 desembargadores, o que até então não se tinha, uma vez que as instâncias recursais eram instaladas em Portugal.

Pode-se inferir, portanto, que, em verdade, a instituição de um Tribunal de Cúpula no Brasil, ainda no período colonial, não foi algo pensado, ou até mesmo estruturado, com um fim de prestar aos brasileiros uma jurisdição mais específica, mas sim, uma necessidade do reino de Portugal, ante a suas dificuldades políticas enfrentadas na época, necessitando, inclusive, que se mudasse de maneira abrupta, a sede política do reino. Aliás, a vinda da família real portuguesa, de maneira geral, promoveu uma série de transformações, que se tornariam alguns anos após, irreversíveis, culminando com a independência do Brasil.

Em prosseguimento, a partir da independência do Brasil no ano de 1822 e da Constituição Imperial de 1824, foi extinta a Casa de Suplicação do Brasil, sendo criado o Supremo Tribunal de Justiça, conforme explica Martins Filho (1999, p. 92):

O Supremo Tribunal de Justiça foi efetivamente criado pela lei de 18 de setembro de 1828, compondo-se de 17 ministros (ao mesmo tempo em que foi extinta a Casa de Suplicação, o Desembargo do Paço e a Mesa da Consciência e Ordens).

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Ainda segundo Martins Filho (1999, p. 92), o Supremo Tribunal de Justiça não exercia o controle de constitucionalidade, na forma como hoje vislumbramos:

A Constituição de 1824 não contemplou qualquer sistema semelhante aos modelos atuais de controle de constitucionalidade. A influência francesa ensejou que se outorgasse ao Poder Legislativo a atribuição de ―fazer leis, interpretá-las, suspendê-las e revogá-las‖, bem como ―velar na guarda da Constituição‖.

Denota-se, de maneira bastante clara, o quanto o momento histórico-político da independência do país refletia na atuação dos poderes constituídos, que, via de regra, estavam sucumbidos ao Poder Moderador. E, neste caso, o Poder Judiciário tinha uma atuação ainda mais limitada, sendo o Supremo Tribunal de Justiça um órgão judicial sem qualquer relevância no sentido de construção de jurisprudência, controle e guarda da constituição, papel este conferido ao próprio Poder Legislativo.

Ainda, nesta mesma perspectiva, destaca-se que, segundo Direito (2012), muito embora o Supremo Tribunal de Justiça e a Casa de Suplicação fossem considerados órgãos de cúpula, os mesmos ainda não eram considerados uma Corte Constitucional, semelhante a Corte Constitucional Americana, contudo, já no período imperial havia movimento nesse sentido, o que acabou por se concretizar através da República e da criação do Supremo Tribunal Federal.

2.1.2 A criação do Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal, com a nomenclatura que temos hoje, foi criado através do Decreto nº 848 de 11 de Outubro de 1890, sendo, segundo Lenza (2009), reservado ao STF a posição de órgão de cúpula de todo o Poder Judiciário e, especialmente, a guarda e defesa da Constituição.

Por isso, muito embora a história remeta as origens do Supremo Tribunal Federal ao período colonial e imperial, considerando a Casa de Suplicação e Supremo Tribunal de Justiça, respectivamente, observa-se que, de fato, foi a partir da Constituição Republicana de 1891 que se deu a criação e instalação do STF, como explica Paixão (2007, p.114 ):

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De Inicio, cabe registrar que não se aceita, neste trabalho, que o Supremo Tribunal Federal, seja continuação do Supremo Tribunal de Justiça do Império. Embora ambos tenham sido em suas épocas, a mais alta corte do Poder Judiciário e, embora a transição tenha sido feita com o aproveitamento da maior parte dos juízes do Tribunal imperial, foram atribuídas ao Tribunal republicano, responsabilidade de relevância muito maiores do que as conferidas a seu antecessor.

Na época, sua criação foi inspirada no modelo americano, conforme assevera Ribeiro (2015, p. 10) :

É notório o fato de ter o referido decreto sido o marco responsável por representar, oficialmente, a inspiração brasileira nas instituições estadunidenses, estampando essa influência no direito positivo brasileiro, conforme asseveram as palavras de Ruy Barbosa: ―[de agora em diante], nossa lâmpada de segurança será o direito americano.‖

Na mesma perspectiva aduz Direito (2012, p. 260) ―O STF nasce, sob a inspiração da Corte Suprema Americana, com a missão de proteger os direitos fundamentais individuais dos cidadãos brasileiros contra os eventuais abusos do Poder Executivo‖.

Nasce, portanto, já na ótica de um Estado Republicano, uma função de destaque do Supremo Tribunal Federal, não vinculada ao poder do império, mas sim, com uma perspectiva de garantir direitos e ser protagonista da construção do Estado. Contudo, tal mister, ainda que idealizada, sob influência americana, passa a encontrar dificuldades ante aos vínculos ainda existentes do antigo regime, como explica Direito (2012, p. 260):

Surge, pois, o Supremo Tribunal com a missão principal — em um primeiro momento — de atuar como freio ao desmedido poder exercido pelo Executivo e, ao mesmo tempo, proteger a federação dos arroubos descentralizadores daqueles que haviam defendido a República. Essas tarefas, como se pretende demonstrar, não serão facilmente exercidas pelos membros que compõem o novo Tribunal. Os ministros possuíam vínculos históricos com o Antigo Regime e não estavam acostumados a enfrentar questões de Estado

.

Todavia, conforme Paixão (2007), nos primeiros anos, que, por sinal, foram bastante tumultuados, a nova corte, recém-instalada, foi chamada a demonstrar sua relevância, na prática, para o bom funcionamento das instituições republicanas.

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Com a ascensão de Getúlio Dornelles Vargas ao poder, a partir da revolução de 1930, o poder judiciário, de forma muito ampla, sofre várias alterações, como por exemplo, a criação da Justiça Eleitoral e da Justiça Trabalhista. No âmbito do STF, tal situação também se verificou, inicialmente com alterações em sua composição e na sua denominação, nos termos da lição de Martins Filho (1999, p. 97) ―O Supremo Tribunal Federal, que teve sua composição diminuída para 11 ministros pelo Decreto 19.656, de 3 de fevereiro de 1931, passou, com a Constituição de 1934, a ser denominada de Corte Suprema‖.

2.1.4 O Estado Novo e o Supremo Tribunal Federal

Em 1937, Getúlio Vargas, com a instituição do Estado Novo, a partir de um golpe de Estado, seguindo um contexto mundial da época, outorga uma nova constituição, com grande concentração do poder nas mãos do presidente.

O Supremo Tribunal volta a ter sua denominação de outrora, que havia sido substituída por Suprema Corte, não sendo, posteriormente, em nenhum momento alterada a sua nomenclatura.

Todavia, o período do Estado Novo teve muitas mudanças no plano jurídico do país, inclusive com o ―apequenamento‖ das instituições jurídicas, entre elas do Supremo Tribunal Federal, com explica Martins Filho (1999, p. 98):

O chefe do Poder Executivo deixou claro que a atividade de controle de constitucionalidade das leis, exercida pelo Supremo Tribunal Federal, não seria respeitada pelo governo, se este considerasse que a decisão do STF contrariasse o interesse nacional (Decreto – Lei 1.564, de 5 de setembro de 1939, cassando declaração de inconstitucionalidade de lei tributária proferida pelo STF).

Assim, observa-se um retrocesso nas funções do Supremo Tribunal Federal, que deixa de ter protagonismo nas suas decisões, à medida que o regime do Estado Novo, fundado na perspectiva do poder concentrado no Executivo, passa a acatar suas decisões tão somente no que tange seus interesses. Por óbvio, o poder deveria ser resguardado em todas as suas esferas, inclusive em relação ao Supremo Tribunal Federal, uma vez que se tratava da Corte Constitucional do país, com incumbência do controle de constitucionalidade e guarda texto constitucional, que, nesse caso, tinha sido outorgado pelo Poder Executivo.

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2.1.5 O Supremo Tribunal Federal na redemocratização e Constituição de 1946

Depois da renúncia de Getúlio Vargas, em 1945, passa-se à redemocratização do país, com revogação provisória de vários dispositivos constitucionais outorgados até a promulgação de uma nova constituição, com o resgate de vários dispositivos previstos na Constituição de 1934, Paixão (2007).

Ainda, segundo Paixão (2007, p. 169), o Supremo Tribunal Federal passa por um momento de autocontenção, com predomínio de uma função mais legalista e de forma contida quanto a sua função política:

Após o governo Vargas, seguiu-se um período durante o qual a contenção foi voluntária. Um Supremo Tribunal Federal integrado por ministros com postura mais legalista e a redemocratização do País - com a revitalização dos Poderes Legislativo e Executivo, tanto nacionais quanto estaduais - levaram a Corte a assumir uma postura mais contida, deixando o protagonismo político para os representantes do povo, eleitos pelo voto direito.

No que se refere à nova Constituição de 1946, merece destaque a emenda constitucional nº 16/65 com a instituição da ação direta de inconstitucionalidade, outorgando assim, ao Supremo Tribunal Federal, o controle de constitucionalidade de forma concentrada, sem, contudo, abrir mão do controle de constitucionalidade difuso, aplicado ao caso concreto, Martins Filho (1999).

2.1.6 O Supremo Tribunal Federal no Regime Militar de 1964

O regime militar de 1964 instaurou no Brasil uma série de mudanças nas estruturas do Estado e de suas instituições políticas. Tais mudanças tiveram um cunho, de forma exponencial, bastante autoritário, com poder vinculado às forças armadas, sem participação popular e democrática.

Assim como no período do Estado Novo, o Supremo Tribunal Federal sofre uma série de limitações na sua autonomia enquanto Corte Constitucional, a partir da imposição de normas supra constitucionais, os atos institucionais, que, de maneira considerável, buscaram conter, digamos assim, o Supremo, na tentativa de legitimar seus atos.

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Ressalta-se, segundo Paixão (2007), o caráter de resistência do Supremo Tribunal Federal aos atos de autoritarismo do regime militar, como por exemplos na apreciação de pedidos de habeas corpus e salvo-condutos, e também em casos de expulsão do Poder Legislativo Federal e até mesmo de governadores, que fossem contrários á ideologia imposta, sendo proferidas algumas decisões em favor dos governadores.

Neste contexto de resistência, através do Ato Institucional nº 02, de 1965, várias alterações atingem diretamente o Supremo, como demonstra Paixão (2007, p. 190), com uma intenção bastante evidente, de enfraquecimento e também de alinhamento do Supremo Tribunal Federal ao regime:

Em 27 de outubro o presidente Castelo Branco editou o AI-2. Em relação ao Supremo Tribunal Federal, foram três as alterações trazidas de maior impacto por esta norma: a ampliação do número de ministros, de onze para dezesseis; a suspensão das garantia de vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade; e a proibição de apreciação, pelo Poder Judiciário, dos atos praticados pelo comando do regime militar para a construção da nova ordem.

Dentre estas imposições, com a ampliação do número de ministros, busca-se fazer uma mudança substancial na composição do Tribunal, com a nomeação de ministros ideologicamente vinculados ao regime militar. Nesta perspectiva, no ano de 1969 é editado o AI 6, que atinge, novamente o Supremo Tribunal Federal, desta com vez com a aposentadoria compulsória de ministros e a redução do número de ministros, voltando o tribunal a ser composto por 11 ministros, o que, por derradeiro, praticamente acabou por alterar todo o quadro do Supremo Tribunal Federal, como explica Pegoraro (2006, p. 37).

Em 1969 é editado o AI6, que atingiu diretamente o Supremo, reduzindo o número de ministros de dezesseis, para onze. Foram aposentados compulsoriamente os ministros Evandro Cavalcanti Lins e Silva, Hermes Lima e Victor Nunes Leal. Em solidariedade aos colegas demitidos, o ministro Antônio Gonçalves de Oliveira renuncia ao cargo. Também o ministro Antônio Carlos Lafayette de Andrada aposenta-se. A modificação no número de ministros, de 16 para onze, fez com que o Supremo praticamente renovasse seu quadro.

Neste contexto do regime militar, pode-se inferir, de maneira bastante incisiva, que o Supremo Tribunal Federal sofreu várias limitações quanto a sua atuação, mas também, segundo Pegoraro (2006), percebe-se que, nesse período, os ministros nomeados pertenciam

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ao regime, o que podemos caracterizar como uma politização do Judiciário, uma vez que as nomeações pelo presidente da república eram subjetivas, com base, tão somente, nos seus interesses e nos do regime.

2.1.7 A nova Constituição Federal de 1988 e o Supremo Tribunal Federal

Como consequência natural de um processo de redemocratização do país, que se construiu durante os últimos anos do regime militar, surge em 1988, uma nova constituição federal, que possui vigência até os dias de hoje.

Produto de uma sociedade ávida por novos direitos e garantias, contrapondo-se ao período militar, que deixou marcas profundas de autoritarismo e de ausência de democracia, a nova Constituição abarca uma série de prerrogativas ao poder judiciário, em especial ao Supremo Tribunal Federal, que, agora, passa a ter funções amplas como um tribunal constitucional, e, simultaneamente, ordinário, Paixão (2007).

Merece destaque na nova Constituição a criação do Superior Tribunal de Justiça – STJ, que vem, dentro da justiça ordinária, ser um Tribunal Recursal, com prerrogativa de uniformização da aplicação do Direito Federal pelos Tribunais Estaduais, Paixão (2007), o que vem a descongestionar, digamos assim, as pautas do Supremo Tribunal Federal. Contudo, mesmo com a criação do STJ, a Constituição, por ser muito analítica, e, até mesmo, pelas novas competências estabelecidas ao Supremo, faz como que sua demanda aumente consideravelmente, Paixão (2007).

É mantido, quanto à composição, o número de onze ministros, com procedimento de escolha previsto, na forma do art. 101 da Constituição Federal:

Art. 101 - O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. (BRASIL, 2016)

Nesta perspectiva, caminha-se para a análise do papel do Supremo Tribunal Federal, enquanto órgão de cúpula, fundamental dentro da estrutura do Poder Judiciário e do Estado.

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Assim, vislumbramos sua relevância na prestação jurisdicional dentro da perspectiva jurídica, política e social.

2.2 O papel do Supremo Tribunal Federal na sociedade brasileira

Percebe-se, ao adentrar-se na análise do papel do Supremo Tribunal Federal, o tamanho de sua relevância, na perspectiva do Estado Democrático de Direito, exercendo função fundamental de corte máxima do poder judiciário brasileiro, responsável pela apreciação final de matérias provenientes da jurisdição ordinária, mas com destaque para sua função de guardião da Constituição, conforme se denota da afirmação de Tavares Filho (2006, p .6):

Órgão competente para exercer o controle de constitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal ocupa posição central no quadro institucional brasileiro, sendo capaz de influir em profundidade no exercício do governo e na prática democrática do País.

Percebe-se como competência fundamental do Supremo Tribunal Federal, a jurisdição constitucional, a qual é entendida por Diana Soares Machado (2007, p.36 apud SILVA, 1985, p. 504) no sentido de que ―consiste na entrega, aos órgãos do poder judiciário, da missão de solucionar os conflitos entre as normas jurídicas ordinárias e a constituição.‖

Ainda, segundo Diana Soares Machado (2007, apud SILVA, 1985), jurisdição constitucional se dá através de dois critérios, os quais também podem ser chamados de métodos, quais sejam, jurisdição difusa e jurisdição concentrada, sendo que na jurisdição difusa todos os órgãos do Poder Judiciário são competentes para tal função e na jurisdição concentrada temos uma suprema sorte, um tribunal constitucional, que defere as atividades jurisdicionais constitucionais, que, no caso brasileiro, é o Supremo Tribunal Federal.

Entretanto, a jurisdição ordinária, ou seja, que não tem caráter constitucional, também é competência do STF, especialmente, pela série de funções conferidas à suprema corte, através do texto de 1988, como explica Paixão (2007, p. 205), ao se referir ao Supremo:

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Todas essas competências fazem dele um tribunal de jurisdição ordinária e, simultaneamente, uma corte constitucional. Essa dualidade - que já existia antes de 1988, e que é comum a todos os sistemas em que não há uma corte encarregada única e exclusivamente da guarda da Constituição - foi acentuada pela nova Constituição, pelos motivos vistos acima. Como consequência, o espaço para exercer função política também foi consideravelmente aumentado.

Denota-se, como pressuposto para o exercício de tantas funcionalidades, a altivez da suprema corte o que, por certo, lhe confere o compromisso de ratificá-la através de uma prestação jurisdicional comprometida com o ordenamento jurídico e com o interesse social.

2.2.1 As competências constitucionais do STF

A Constituição Federal elencou as competências do Supremo Tribunal Federal:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas

data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos

Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território; f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro; i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados; l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais; n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados; o) os conflitos de competência entre o Superior

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Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal; p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade; q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal; r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público; II - julgar, em recurso ordinário: a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; b) o crime político; III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição; d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (BRASIL, 2016)

Já no caput está estabelecida a maior função constitucional do Supremo, qual seja a guarda da constituição. O advérbio ―precipuamente‖ aqui tem o significado de ―modo principal‖, ou seja, a guarda da constituição é a sua função por excelência, ainda que não exclusiva.

A partir desta competência, podemos dizer que está o uso da expressão ―tribunal constitucional‖. Embora haja algumas divergências quanto o uso da terminologia, sendo esta expressão, para alguns, designada tão somente para cortes com função exclusivamente constitucionais, fora da estrutura do poder judiciário, como na Alemanha e na Itália; e a expressão ―corte suprema‖ para tribunais, como no Brasil e nos Estados Unidos, que possuem função constitucional precípua. Contudo, tais divergências na terminologia são superadas, no sentido de que, tanto as expressões ―corte suprema‖ quanto ―tribunal constitucional‖ podem ser consideradas sinônimas no sentido de serem, precípua, ou exclusivamente, guardiães da constituição, Paixão (2007).

As competências, que aqui chamamos também de funções, do Supremo Tribunal Federal são estabelecida de formas diversas, sendo elas funções originária, recursais ordinárias e recursais extraordinárias, na forma dos incisos I, II e III.

Segundo Paixão (2007, p.204), a partir da constituição de 1988, a competência originária do Supremo Tribunal Federal aumentou de forma significativa, com a criação de determinados institutos:

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A competência originária, que o STF exerce como única instância, foi ampliada com a criação da Ação Declaratória de Constitucionalidade, a ampliação do rol de legitimados para propor a Ação Direta de Inconstitucionalidade, a criação do Mandado de injunção e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, entre outas medidas.

Na própria redação do art. 102 é notável o quanto é denso o rol de competências do Supremo Tribunal Federal, seja pela previsão de competência originária, recursal ordinária e recursal extraordinária, como vimos, seja pelo grande número de ações que são de sua responsabilidade, como o julgamento de ações diretas de constitucionalidade, de ações penais comuns e de reponsabilidade, de habeas corpus, de extradições, entre outras, seja também pela enorme abrangência de pessoas a serem julgadas pelo Supremo, como presidente e vice-presidente da república, membros do Congresso Nacional, ministros de Estado, ministros do próprio tribunal e de tribunais superiores, entre tantos outros. Trata-se do chamado ―foro privilegiado‖.

2.2.2 A função política do STF

Como maior órgão de cúpula do judiciário, as decisões provenientes do Supremo Tribunal federal se tornam relevantes no âmbito de toda a nação, e com interferência direta nas relações humanas e dinâmicas da sociedade brasileira. São questões jurídicas e técnicas de regulamentação do Direito. Nessas decisões o Supremo Tribunal Federal tem o condão de ajustar e interpretar a Constituição naquilo que não está nela expresso, por meio de princípios, de costumes ou de outras fontes do Direito. Tem o condão também de deliberar sobre leis infraconstitucionais, quanto à sua constitucionalidade ou não, enfim, tem a incumbência principal no âmbito da estrutura de todo o Judiciário de solucionar conflitos mais relevantes, inclusive na falta de legislação que regulamente determinadas matérias, sendo por vezes propulsor e definidor de políticas públicas como se extrai a partir da seguinte citação:

[...] em verdade, defendemos que, como um dos principais atores constitucionais, o STF não só tem competência e independência para tanto – como veremos em momento próprio deste trabalho - , mas, também, tornou-se um dos principais ―executores‖ ou ―definidores‖ de políticas públicas do brasil, pois que proferiu decisões sanando omissões executivas e legislativas em áreas como: saúde, educação, relações internacionais, eleitoral, entre outras. (MIRANDA, DALTON CESAR CORDEIRO DE, 2011, p. 358.)

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