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Métodos alternativos de resolução de conflitos e o CEJUSC da Comarca de Ijuí/RS

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CATIA DA SILVA

MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E O CEJUSC DA COMARCA DE IJUÍ/RS

Ijuí (RS) 2016

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CATIA DA SILVA

MÉTODOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E O CEJUSC DA COMARCA DE IJUÍ/RS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão do Curso - TCC. Curso de Graduação em Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Maristela Gheller Heidemann

Ijuí (RS) 2016

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Dedico este trabalho à minha família, em especial ao meu filho Matheus, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus que me deu forças para enfrentar as dificuldades vivenciadas durante a minha jornada acadêmica, não permitindo que eu desistisse.

Ao meu grande incentivador, meu pai, que sempre me apoiou, me sinto honrada em realizar seu sonho de ter uma filha formada em Direito.

A minha mãe e irmãs Carina e Ana Cláudia que não mediram esforços me auxiliando sempre que necessário, em especial por cuidarem do meu filho, permitindo que eu pudesse estudar.

Ao meu amado filho Matheus, peço desculpas e compreensão por todas as vezes que estive ausente e não lhe dei a atenção merecida, mas todo meu esforço é dedicado a você meu amor.

Ao meu companheiro Magnus que sempre esteve presente e me incentivou com apoio e confiança nas batalhas da vida.

À minha orientadora Maristela Gheller Heidemann, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me incentivando pelos caminhos do conhecimento.

Aos meus colegas de trabalho do Escritório Juris pela oportunidade de aprendizado, em especial minha grande amiga Itamara Gonzalez e aos colegas conciliadores do CEJUSC de Ijuí, que colaboraram sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado.

Enfim, à todos aqueles que de alguma forma colaboraram com minha caminhada e me incentivaram para que concluísse esse ciclo com sucesso.

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“Nunca poderemos ter um impacto na sociedade se não nos mudarmos primeiro. Parece impossível antes de ser feito. ” Nelson Mandela.

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O presente trabalho de conclusão de curso estuda a nova política pública de resolução adequada de disputas tendo como objetivo a análise dos mecanismos constantes no Código de Processo Civil de 2015 e na Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça. Partindo-se da criPartindo-se do Poder Judiciário, a conciliação e a mediação foram inPartindo-seridas dentro da jurisdição como base para princípios transformadores, que buscam a solução pacífica dos conflitos, e, assim, cumprindo com o almejado pelo Conselho Nacional de Justiça, qual seja, solucionar os conflitos com eficácia e maior celeridade. O estudo traz os procedimentos alternativos para a solução dos conflitos, seus princípios, técnicas e características, além de analisar o perfil e a postura dos auxiliares da justiça, do advogado e do Judiciário como um todo, diante dessa nova perspectiva, finalizando com a análise do trabalho realizado no CEJUSC da comarca de Ijuí e quais as contribuições dos métodos alternativos, incentivando o diálogo para que estes sejam utilizados de forma efetiva no contexto jurídico.

Palavras-Chave: Alternativas à jurisdição. Conciliação. Mediação. Métodos Autocompositivos. Solução de conflitos.

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This study completes a new public policy for the adequate resolution of disputes, with the objective of analyzing the mechanisms included in the Civil Procedure Code of 2015 and Resolution 125/2010 of the National Council of Justice. Starting from the crisis of the Judiciary, conciliation and mediation were inserted within the jurisdiction as a basis for transformative principles, which seek the peaceful resolution of conflicts, and thus fulfilling what the National Council of Justice, that is, Resolve disputes effectively and expeditiously. The study provides alternative procedures for the resolution of conflicts, their principles, techniques and characteristics, as well as analyzing the profile and position of the auxiliaries of the justice, the lawyer and the Judiciary as a whole, facing this new perspective, ending with the analysis Of the work carried out in the CEJUSC of the region of Ijuí and what are the contributions of the alternative methods, encouraging the dialogue so that these are used effectively in the legal context.

Keywords: Alternatives to jurisdiction. Conciliation. Mediation. Autocompositivos methods. Conflict resolution.

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INTRODUÇÃO ... 08

1. POLÍTICAS PÚBLICAS EM RESOLUÇÃO ADEQUADA DE DISPUTAS ...10

1.1 Histórico dos métodos autocompositivos no direito... 10

1.2 Formas de composições alternativas de conflitos...13

1.3 Objetivos dos métodos autocompositivos de solução de conflitos...17

2. A CONCILIAÇÃO COMO FORMA DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS E HARMONIA SOCIAL...20

2.1 A conciliação judicial à luz dos princípios transformadores...20

2.2 A função do conciliador ... 24

2.3 O rapport: Estabelecendo uma relação com os jurisdicionados ... 26

2.4 A função do advogado na conciliação ... 28

3 CONCILIAÇÃO NO CEJUSC IJUÍ/RS ... 33

3.1 Aspectos da conciliação na Comarca ... 34

3.2 Aspectos positivos da conciliação ... 35

3.3 Aspectos negativos da conciliação ... 37

CONCLUSÃO ... 41

REFERÊNCIAS ... 43

ANEXOS Anexo I - Formulário da Pesquisa de Satisfação dos usuários do CEJUSC ... 45

Anexo II - Estatísticas Colhidas por meio da Pesquisa de satisfação dos usuários - Ijuí. .. 46

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta uma análise das mudanças ocorridas a partir do Novo Código de Processo Civil de 2015 e a nova Política Pública de Resolução Adequada de Conflitos com a criação dos Centros Judiciários de Resolução de Conflitos e Cidadania – CEJUSCs, os quais buscam uma mudança cultural da sociedade brasileira incentivando a utilização dos métodos alternativos de soluções de conflitos.

Para a realização deste trabalho foram desenvolvidos três capítulos, nos quais se fez uso de pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, analisando os dispositivos de leis pertinentes, em especial a Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento do conhecimento em relação aos métodos alternativos de solução de conflitos, com o objetivo de demonstrar a importância do diálogo na construção da paz social e apontar novas perspectivas para a problemática crise do Judiciário brasileiro.

Inicialmente, no primeiro capítulo, foi feita uma abordagem histórica dos métodos alternativos de solução de conflitos, apresentando as diferentes formas de autocomposição, em especial a mediação e a conciliação, que são os principais focos deste trabalho. Ainda, explicita-se os objetivos dos métodos consensuais de solução de conflitos, quais sejam, a pacificação social por meio da solução autocompositiva das controvérsias e a mudança cultural existente no Poder Judiciário.

No segundo capítulo é estudado mais profundamente a Conciliação judicial à luz dos princípios transformadores, sua estrutura e a função do conciliador como auxiliar da justiça, o estabelecimento do rapport entre o Judiciário e o jurisdicionado e a função do advogado na conciliação.

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No terceiro capítulo é analisado como se estruturou o Centro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania – CEJUSC da comarca de Ijuí, abordando os aspectos positivos e negativos da utilização da conciliação como método autocompositivo na comarca.

A partir desse estudo se verifica que os métodos autocompositivos se apresentam como métodos alternativos a função jurisdicional do Estado, contribuindo dessa forma para a construção de novos paradigmas para a Justiça brasileira, em razão de utilizar o método onde as partes são levadas a encontrar uma solução construída conjuntamente, através do diálogo, buscando uma solução efetiva para o conflito, e por fim visando a paz social.

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1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM RESOLUÇÃO ADEQUADA DE DISPUTAS

Vivemos em uma década em que muitas instituições da sociedade estão em descrédito, entre elas o Poder Judiciário brasileiro. O excesso de litígios, o aumento dos processos, a falta de servidores e o excesso de trabalho, culminaram na crise por que passa hoje o Judiciário.

Somado a isto, tem-se ainda a morosidade e a dificuldade de acesso à justiça, especialmente devido ao seu alto custo, foi necessário que se buscassem alternativas para a crise, tendo por base os métodos alternativos, entre eles, a mediação e a conciliação.

Ada Pellegrini Grinover (2013, p.1), sobre a crise do Judiciário expõe que:

A morosidade dos processos, seu custo, a burocratização na gestão dos processos, certa complicação procedimental; a mentalidade do juiz, que nem sempre lançam mão dos poderes que os códigos lhe atribuem; a falta de informação e de orientação para os detentores dos interesses em conflito; as deficiências do patrocínio gratuito, tudo leva a obstrução das vias de acesso à justiça e o distanciamento entre o judiciário e seus usuários. O que não acarreta apenas o descrédito na magistratura e nos demais operadores do direito, mas tem como preocupante consequência a de incentivar a litigiosidade latente.

Assim, os métodos autocompositivos apresentam-se como instrumentos para a política judiciária, compreendida como “Política Pública em resolução adequada de Disputas - RAD”, desenvolvida pelo Conselho Nacional Justiça e institucionalizada pela Resolução nº 125 de 2010.

Para entender melhor como se desenvolveram os métodos autocompositivos, é necessário buscar na história como foi a participação e a evolução destes métodos na ciência do direito.

1.1 Histórico dos métodos autocompositivos no direito.

Os conflitos entre as pessoas e o Estado existem desde a antiguidade, e são marcados pelo poder de coerção estatal. A eliminação dos conflitos da sociedade moderna é realizada através da jurisdição, no entanto, outra solução possível existe desde os sistemas primitivos: a autocomposição.

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Na autocomposição, ao contrário da autotutela e da jurisdição, não há uma imposição de decisão, mas sim uma das partes ou ambas abrem mão de um interesse ou de parte deste para chegar a um entendimento. A autocomposição apresenta-se basicamente de três formas: por meio da desistência, da submissão e da transação.

A autocomposição é tão antiga quanto a autotutela e com o passar dos tempos houve uma evolução deste sistema, em especial no direito internacional. Antônio Carlos de A. Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco (2013, p. 15), fazem um comparativo quanto aos sistemas autocompositivos e de autotutela no âmbito internacional, assim dizendo:

A autotutela, no plano internacional, é representada pela agressão bélica, pelas ocupações, invasões, intervenções (inclusive econômicas), ou ainda pelos julgamentos de inimigos por tribunais de adversários; mas coexiste com a autotutela a autocomposição (através de tratados internacionais), sendo de certa frequência a arbitragem facultativa. Ninguém é capaz de indicar, com precisão, quando começou a prática dessa arbitragem obrigatória, e muito menos se existirá um super-Estado que venha a impor a todas as nações o seu poder (criando, então, uma verdadeira jurisdição supra- estatal).

Pode-se perceber que internacionalmente os sistemas autocompositivos se desenvolveram mais rapidamente do que no sistema brasileiro, se fazendo presente nos tratados internacionais e negociações entre as nações, sendo a forma utilizada para resolução de conflitos, comparável a uma jurisdição.

Os Estados Unidos é um dos principais incentivadores do uso e desenvolvimento dos Métodos Alternativos de Solução de Conflitos – MASCs, o que fazem por meio de projetos de pesquisa e de centros comunitários pré-processuais de soluções autocompositivas, merecendo destaque para o Programa de Negociação da Escola de Direito de Harvard, que conforme explicam, Roger Fisher e William Ury (2014, p. 194), o projeto trabalha com métodos de negociações com base em princípios, desenvolvendo ideias úteis e práticas, com a missão de “melhorar a teoria, o ensino e a prática da negociação e da Resolução de disputas.”

No Brasil, a história dos métodos alternativos de solução de conflitos está presente desde o império, quando inserido na Constituição de 1.824 um artigo que privilegiava a “reconciliação”. Nas demais Constituições brasileiras, havia previsão somente quanto aos

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conflitos internacionais. Já na Constituição de 1988 o legislador volta a privilegiar os métodos alternativos no âmbito do direito interno privado, inserindo artigos que incentivam a negociação, a arbitragem e a conciliação, merecendo destaque para o artigo 114, que prevê a solução dos conflitos coletivos de trabalho, por meio das MASCs, (GUERRERO, 2015, p. 4).

No entanto, os métodos alternativos de solução de conflitos só passaram a ter um destaque em no país a partir da década de 70, quando do período conhecido como “Movimento de Acesso à Justiça”, o qual buscava alterações no sistema jurisdicional, visando a melhoria no acesso à justiça.

A legislação brasileira teve avanços significativos em relação aos MASCs, nas últimas décadas, a exemplo da Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307, de 1996), da Lei dos Juizados Especiais Civis (Lei nº 9.099, de 1995), da Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça, que instituiu a Política Nacional em Resolução Adequada de Disputas – RAD e as recentes novidades do Código de Processo Civil (Lei nº 13.256, de 2016), quanto à obrigatoriedade da conciliação ou da mediação.

O Conselho Nacional de Justiça tem realizado diversas ações que visam a estruturação dos métodos consensuais de solução de controvérsias, lançando recentemente o “ Movimento pela Conciliação”, o qual busca motivar os operadores do Direito a promover e implementar a cultura da conciliação no Judiciário brasileiro.

Nessa conjuntura, as considerações acerca dos métodos alternativos de solução de conflitos vêm se transformando ao longo dos anos. O debate em torno da formulação de uma política pública de resolução adequada de disputas judicializadas, vem sendo constante e busca desenvolver uma cultura de paz na sociedade.

Tais transformações, porém não são suficientes para a mudança cultural existente no ordenamento jurídico pátrio, onde, segundo Kazuo Watanabe (2013, p.8), “ os juízes preferem proferir sentença ao invés de tentar conciliar as partes para obtenção da solução amigável dos conflitos, ” caracterizando a chamada “cultura da sentença”.

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A sociedade brasileira está acostumada e acomodada ao litígio e ao célebre pressuposto básico de que a justiça só se alcança a partir de uma decisão proferida pelo juiz togado. Decisão esta muitas vezes restrita à aplicação pura e simples de previsão legal, o que explica o vasto universo de normas no ordenamento jurídico nacional que buscam pelo menos amenizar a ansiedade do cidadão brasileiro em ver aplicadas regras mínimas de regulação da sociedade.

Diante dessa cultura da sentença, é necessário que haja uma mudança não apenas na legislação brasileira, mas também na mentalidade dos operadores do direito, que conforme o autor é:

O grande obstáculo, no Brasil, à utilização mais intensa da conciliação, da mediação e de outros meios alternativos de resolução de conflitos, está na formação acadêmica dos nossos operadores do direito, que é voltada, fundamentalmente, para a solução contenciosa e adjudicada dos conflitos de interesse. Vale dizer, toda ênfase é dada à solução dos conflitos por meio de processo judicial, onde é proferida uma sentença, que constitui a solução imperativa dada pelo juiz como representante do Estado. (WATANABE, 2013, p. 6).

Nesse sentido, é importante o debate acerca da matéria dentro das universidades com a criação de disciplinas obrigatórias voltadas aos métodos alternativos autocompositivos, incentivando grupos de pesquisa e a realização de projetos pilotos, com o fim do profissional do direito estar capacitado para utilizar os MASCs na fase pré-processual, indicando aos seus clientes qual o método a ser adotado de acordo com a solução desejada para determinado conflito.

1.2 Formas de composições alternativas de conflitos

Os métodos alternativos de solução de conflitos apresentam-se de diversas formas, entre as mais conhecidas estão a negociação, a conciliação, a mediação e a arbitragem. Esta última, segundo a doutrina dominante, não se trata exatamente de um método autocompositivo, pois se diferencia das demais por haver uma adjudicação, sendo considerada de natureza sui generis ou mista, pois “é uma instituição pela qual um terceiro julga as diferenças que opõe duas ou mais partes, no exercício da função jurisdicional que a ele foi confiada por elas” (JARROSSON apud GUERRERO, 2015, p. 32).

Portanto, na arbitragem assim como ocorre na jurisdição, existe um terceiro que julga o conflito, um árbitro, que é escolhido pelas partes para decidir e decide de acordo com sua livre escolha. A arbitragem é uma das mais antigas técnicas de resolução de conflitos e conserva seus fundamentos:

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A arbitragem surgiu, historicamente, como uma forma de obter solução aos conflitos pela eleição de um terceiro, frequentemente um ancião ou líder religioso da comunidade, com prestígio entre as partes, a quem caberia a tomada de decisão. (MOURÃO, 2014, p. 33).

A arbitragem manteve duas características essenciais: A escolha pelas partes de uma pessoa de confiança que decidirá o conflito; e a outra, que essa decisão é impositiva, resolvendo o conflito independentemente da vontade das partes.

Ao contrário do que ocorre na arbitragem, na negociação, na mediação e na conciliação não existe uma decisão impositiva, e sim um entendimento obtido pelas próprias partes. O terceiro é apenas um facilitador que irá intermediar o diálogo no intuito de melhorar a comunicação e permitir que as partes cheguem a um entendimento satisfatório para ambas, autocompositivo. Porém, não há que se confundir a negociação com a conciliação e a mediação.

A negociação está presente no dia-a-dia das pessoas, pois sempre que se realiza um acordo se está agindo como um negociador. A negociação é um método muito utilizado no direito internacional, mas enfrenta algumas barreiras no direito brasileiro.

Pode-se conceituar a negociação como sendo “o processo pelo qual duas ou mais pessoas se comunicam buscando chegar a algum acordo sobre valores escassos e/ou ações controladas, total ou parcialmente, por ambas as partes, ou ainda, por qualquer das partes envolvidas”. (BURBRIDGE apud MOURÃO, 2014, p.24).

Os professores William Ury e Roger Fischer (2014, p. 27), desenvolveram na década de 1980 na Escola de Harvard um método de negociação, conhecida como negociação fundamentada em princípios, que visa abandonar o conceito de que, na negociação, uma das partes ganha e a outra perde, com foco nos interesses comuns gerando opções de ganhos mútuos.

Os princípios utilizados na negociação desenvolvida em Harvard são aplicáveis à mediação e a conciliação, pois se baseiam nos interesses reais dos envolvidos e não em suas

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posições, buscando obter da negociação resultados sensatos e justos, colaborando para o bom relacionamento dos envolvidos.

No Brasil a negociação é totalmente negligenciada pelos operadores do direito, Alessandra Nascimento S. F. Mourão (2014, p. 30), enfatiza que:

A negociação ainda não é vista em todo o seu potencial e tem sido esquecida como efetiva alternativa ao Judiciário.

Os profissionais do ramo jurídico, em especial o advogado na sua atuação proativa na defesa dos interesses de seus clientes, podem e devem contribuir para a alteração dessa realidade, valendo-se da negociação (e das demais ADR) para resolver uma série de conflitos que sequer precisariam ser encaminhados ao Judiciário.

Em resumo, a negociação é uma técnica que utiliza mecanismos coordenados para obtenção de resultados de ganhos mútuos, baseada em princípios, sendo um método alternativo de solução de conflitos muito utilizado no campo internacional, porém pouco aproveitado no direito interno brasileiro.

Dos métodos alternativos, os que mais receberam destaque no direito brasileiro interno foram a conciliação e a mediação, sendo estes o foco deste trabalho. A mediação e a conciliação possuem poucas diferenças, sendo em sua estrutura idênticas e possuindo os mesmos objetivos e princípios.

A mediação é uma técnica autocompositiva na qual um terceiro imparcial media as negociações entre as partes para que estas cheguem a um acordo. Nas palavras de Douglas E. Yarn (apud AZEVEDO, 2013, p.85), mediação é:

Um processo autocompositivo segundo o qual as partes em disputa são auxiliadas por uma terceira parte, neutra ao conflito, ou um painel de pessoas sem interesse na causa, para auxiliá-las a chegar a uma composição. Trata-se de uma negociação assistida ou facilitada por um ou mais terceiros na qual se desenvolve processo composto por vários atos procedimentais pelos quais o (s) terceiro (s) imparcial (is) facilita (m) a negociação entre pessoas em conflito, habilitando-as a melhor compreender suas posições e a encontrar soluções que se compatibilizam aos seus interesses e necessidades.

Portanto, na mediação o terceiro não julga, não há uma imposição de vontade, mas sim o mediador é um facilitador do diálogo entre as partes, contribuindo para que as partes cheguem a um entendimento sozinhas, ou seja, sem nenhuma indicação ou intervenção do mediador.

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Como dito anteriormente, a conciliação é muito semelhante a mediação e “alguns autores distinguem a conciliação da mediação indicando que naquele processo o conciliador pode apresentar uma apreciação do mérito ou uma recomendação de uma solução tida por ele como justa. ” (AZEVEDO, 2013, p.86).

Fernanda Tartuce (2008, p. 66-69), esclarece que:

[...] a mediação e a conciliação são as duas técnicas de autocomposição, sendo a conciliação aquela na qual o terceiro imparcial, mediante atividades de escuta e investigação, auxiliará as partes a celebrarem um acordo, até mesmo expondo pontos fortes e fracos de suas posições e o propondo.

Evidente que a estrutura da mediação e da conciliação são idênticas, sendo o diferencial, a postura do terceiro, ou seja, na mediação o terceiro é apenas um ouvinte que facilita o diálogo, ao passo que na conciliação o papel do terceiro é instigar, influenciar, sugerir um acordo para as partes.

Desta forma, a diferença entre a conciliação e a mediação está presente no momento em que as partes buscam o entendimento, assim, o conciliador tem o “dever-poder” de sugerir possibilidades, bem como o dever da decisão informada, auxiliando as partes a chegarem a um entendimento justo, não podendo permitir que as partes se sintam influenciadas ou forçadas a realizar um acordo, mas pode e deve sugerir possibilidades das quais entende ser justas e benéficas para ambas as partes, baseando-se principalmente no princípio da imparcialidade.

1.3 Objetivos dos métodos autocompositivos de solução de conflitos

Em relação a conciliação e a mediação, o Conselho Nacional de Justiça teve importante papel para a inserção destes métodos no processo judicial, com o objetivo de dar celeridade ao processo resolvendo o conflito na sua raiz. O grande marco desta mudança se deu por meio da Resolução nº 125 de 29 de novembro de 2.010, que colocou a conciliação e a mediação como instrumentos da função judiciária.

Tal resolução tem objetivos taxativos, expressos nos artigos 2º, 3º e 4º, que são: disseminar a cultura da pacificação social e estimular a prestação de serviços autocompositivos de qualidade; incentivar os tribunais a se organizar e planejar programas

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amplos de autocomposição; e reafirmar a função de agente apoiador da implantação de políticas públicas do CNJ. (AZEVEDO, 2013, p. 28).

A partir desta política pública, conclui o autor que “o acesso à justiça passa a ser concebido como um acesso a uma solução efetiva para o conflito por meio de participação adequada – resultados, procedimento e sua condução apropriados – do Estado. ”

Assim, com todas essas técnicas de soluções alternativas para os conflitos em crescente desenvolvimento, surge na justiça brasileira um novo paradigma de acesso à justiça, na esperança de que todos possam se utilizar de um Judiciário eficiente que pode ser facilmente acessado.

Neste sentido, Luis Fernando Guerrero (2015, p.4), esclarece que “Processo efetivo é aquele que propicia o equilíbrio entre segurança e celeridade, permitindo às partes o resultado desejado por elas e previsto no ordenamento jurídico.

Assim, a conciliação e a mediação nos moldes propostos pelo novo Código de Processo Civil têm como objetivo facilitar o diálogo entre as partes, para que estas, de forma cooperativa, possam compor um entendimento que seja benéfico para ambas, encerrando-se o litígio na origem e possibilitando a segurança jurídica por meio do termo de entendimento homologado judicialmente.

Os métodos autocompositivos possuem como objetivo o desenvolvimento da comunicação entre as partes, permitindo a aproximação dos litigantes para que de forma eficiente encontrem um caminho para o “processo”.

Importante salientar que ao contrário do que muitos pensam, o foco dos métodos autocompositivos não é a busca de um acordo processual, mas sim de um entendimento entre as partes, mesmo que isso não coloque fim ao processo. Por essa razão os conciliadores e os mediadores não possuem compromisso com o resultado, ou seja, não visam o acordo processual.

A ideia é disseminar a cultura da paz, buscar interação e cooperação entre as partes, por meio do uso de técnicas que são desenvolvidas e introduzidas no processo conciliatório

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através do terceiro, que tem como papel auxiliar as partes para que sozinhos possam chegar a uma solução satisfatória para o conflito.

Para se alcançar esses objetivos faz-se necessário que o terceiro possua certas habilidades, como a comunicação eficiente e clara e ainda, que desenvolva as técnicas de mediação e conciliação de forma adequada, de acordo com o litígio.

“Por fim, pode-se concluir que a Resolução n. 125, do Conselho Nacional de Justiça, tem como principais objetivos a adequada formação dos mediadores, a responsabilidade social e a pacificação da sociedade como um todo. ” (SPENGLER; SPENGLER NETO, 2012, p.89).

E continuam expondo que a mediação possui quatro objetivos, assim elencados:

Os objetivos da mediação são eminentemente quatro: a solução dos conflitos, a prevenção da má administração dos conflitos, a inclusão social e a paz social. A prioridade imediata é a própria solução do conflito, aparente e oculto, levado à mediação. O que é preciso se destacar é que somente se chega à solução do conflito com o estabelecimento de um diálogo. Não há, como já amplamente explicitado, qualquer imposição de decisão. (SPENGLER; SPENGLER NETO, 2012, p. 92).

É inquestionável que os objetivos principais dos métodos autocompositivos, são a prevenção e a solução dos conflitos por meio do diálogo, buscando uma mudança cultural e social, na qual se substitua a cultura da sentença por uma cultura de cooperação e paz social.

Em linhas gerais:

A análise dos objetivos dos métodos de solução de controvérsias, nesse sentido, demonstra de modo claro que a pacificação social é o liame que une todos os métodos de solução de controvérsias que se utilizam de diferentes instrumentos, poder estatal, acordo de vontade das partes e determinação legal para que a sua decisão tenha os mesmos efeitos de uma decisão judicial, vínculo contratual, persuasão etc. (GUERRERO, 2015, p. 167).

Nesta seara, dada a importância dos métodos autocompositivos, em especial a mediação e conciliação, no segundo capítulo a pesquisa seguirá analisando os princípios destes métodos e como estes se estruturaram dentro do Poder Judiciário como uma nova forma de exercício da jurisdição por parte do Estado.

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2 A CONCILIAÇÃO COMO FORMA DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS E HARMONIA SOCIAL.

A partir de uma análise do conflito como um elemento inerente às relações humanas das sociedades, faz-se necessária uma busca de alternativas à prestação jurisdicional do Estado, a fim de regular essas relações de forma construtiva e solucionadora.

Dentre as várias formas dos métodos alternativos de resolução de controvérsias, quais sejam: a negociação, a mediação e a conciliação, esta última será abordada de forma mais aprofundada, face à sua peculiaridade de procedimento que pode ser utilizada nos mais diversos casos da seara civil, solucionando de forma eficiente e rápida questões que muitas vezes se arrastam por anos, até que haja uma sentença final de mérito. Como exemplos, podem ser citadas situações que versem sobre direitos do consumidor, direito de vizinhança, contratos em geral, propriedade, entre outros.

A conciliação visa analisar e tratar a causa do conflito, possuindo uma ampla abrangência de aplicação, proporcionando às partes dialogarem e solucionarem as questões de forma autocompositiva, sem que haja a imposição de uma decisão.

Assim se revela o principal fundamento da conciliação: O fundamento social das vias conciliativas, consistentes na função de prestar à sociedade um serviço eficiente, voltado para a satisfação dos seus usuários.

Parece ainda ser uma utopia pensar que se possa alcançar no Judiciário uma solução que agrade aos jurisdicionados e que ao mesmo tempo se observem os princípios do Direito, ou seja, poder falar de função social da conciliação dentro do Poder Judiciário. Mas o que se evidencia é que, aos poucos está ocorrendo uma mudança, tanto no Judiciário quanto nos operadores do direito, o que acabará por se refletir na sociedade, que poderá, no futuro, visualizar o Judiciário como um órgão de soluções de conflitos e harmonia social.

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Para que se alcancem os objetivos da conciliação faz-se necessário uma infraestrutura básica e uma boa formação do conciliador, devendo o processo de desenvolvimento da conciliação, bem como a conduta do conciliador se pautar nos princípios norteadores dos procedimentos autocompositivos.

O conciliador tem como dever desenvolver as técnicas de conciliação dentro dos limites estabelecidos, de tal forma que a conciliação proposta pelo Novo CPC seja desenvolvida de acordo com os princípios transformadores propostos pelo Conselho Nacional de Justiça.

Nas palavras de Antônio Carlos Ozório Nunes (2016, p. 58):

A palavra princípio dá ideia de início, do ponto de partida, e também de norte para orientar a aplicação da norma. Os princípios ajudam a entender o espírito da lei, a sua aplicação, a integração com outras normas, e norteiam as condutas do mediador.

Seguindo o raciocínio do autor, a conduta do terceiro imparcial deve seguir os princípios e integrar-se com a norma jurídica posta. Inclusive é neste sentido que o artigo 166 do Código de Processo Civil dispõe que “A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada”

O princípio da neutralidade ou imparcialidade refere-se à postura que o conciliador deve adotar nos momentos em que intervir na conciliação. A partir deste princípio, o conciliador tem o dever de ser imparcial, não privilegiando nenhum dos conciliandos, se despindo de pré-conceitos, sejam eles raciais, étnicos, religiosos, social etc. A imparcialidade deve ser percebida pelas partes durante a intervenção do conciliador.

Por este princípio o conciliador não pode expor suas opiniões pessoais nem mesmo se sensibilizar diante de determinadas situações, sob pena de ser parcial e privilegiar alguma das partes, ou mesmo intervir de modo que prejudique o resultado útil da conciliação.

Outro princípio relevante aos métodos autocompositivos, é o princípio da consciência relativa ao processo. De acordo com este princípio, as partes devem entender as consequências relativas à sua participação no processo autocompositivo. Por meio dele, cabe

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ao conciliador estimular a participação das partes, para que estas aproveitem a oportunidade de se comunicar e buscar um entendimento.

Assim, é dever do conciliador explicar como funciona a sessão de conciliação, esclarecendo possíveis dúvidas às partes e possibilitando a estes inclusive encerrar a sessão sem dialogar. Neste ponto específico reside outro princípio dos métodos autocompositivos: O princípio da voluntariedade das partes.

Tal princípio é também conhecido como consensualismo processual, sendo fundamental aos métodos autocompositivos e consistindo na autonomia de vontade das partes. Por meio deste princípio se estimula a participação voluntária das partes, ou seja, a conciliação só irá ocorrer se as partes concordarem em participar da conciliação.

Salienta-se que o Código de Processo Civil estabelece em seu artigo 334, § 8º, quanto à aplicação de multa em caso de ausência injustificada das partes na sessão de conciliação, sendo considerado ato atentatório a dignidade da justiça.

Destarte, a obrigatoriedade do comparecimento das partes à sessão de conciliação, não quer dizer que as partes estejam obrigadas em conciliar, mas sim, em comparecer à sessão na data e hora agendada.

A maior parte da doutrina especializada entende que a participação obrigatória é necessária, em especial em países que ainda não desenvolveram uma cultura autocompositiva adequada, para obtenção de resultados legítimos, como é o caso do Brasil. (AZEVEDO, 2013, p. 236).

Neste ponto, a legislação tem recebido muitas críticas, pois há entendimentos no sentido de que a obrigatoriedade de comparecimento à sessão de conciliação imposta sobre a ameaça de fixação de multa, de certa forma fere o princípio da voluntariedade das partes.

Outro princípio intrinsecamente ligado é o da decisão informada. Este princípio trata da consciência das partes quanto aos seus direitos, assim, caso abram mão de algum direito, as partes devem ter plena consciência.

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Cabe, neste ponto, ao conciliador aplicar técnicas específicas, como o teste de realidade, possibilitando às partes terem consciência dos seus direitos na relação em que se encontram.

Pode ainda o conciliador, vislumbrando uma situação de desigualdade entre as partes, intervir, esclarecendo aos conciliandos os seus direitos. Ainda, caso as partes não estejam acompanhadas de advogado, pode o conciliador sugerir um reagendamento, possibilitando que possam se informar melhor quanto aos seus direitos.

Talvez entre os princípios norteadores dos métodos alternativos destaca-se como o mais importante, o princípio da confidencialidade. Tal princípio está presente no Código de Ética dos Conciliadores e estabelece que o terceiro imparcial deve guardar sigilo de tudo o que for dialogado, sendo que a única exceção se refere a comunicação de um crime. Ao contrário, o conciliador não pode comentar nenhum fato que fora revelado durante a sessão de conciliação.

A confidencialidade estabelece que os fatos relatados na conciliação não podem ser utilizados como prova no curso do processo judicial. Ainda, o conciliador não pode servir como testemunha em processo judicial, garantindo-se o sigilo profissional e podendo o conciliador ser responsabilizado, civil e penalmente, caso sua conduta ferir o princípio da confidencialidade.

O princípio do empoderamento por sua vez, consiste num componente educativo no desenvolvimento do processo, que pode ser utilizado pelas partes em relações futuras. Aqui reside a utopia dos métodos autocompositivos, qual seja, transmitir para parte um aprendizado, uma cultura de paz, mostrando que há formas alternativas para solucionar as disputas, além do litígio.

Já pelo princípio da validação busca-se uma maior humanização do processo, reconhecendo o mútuo interesse e sentimentos visando uma aproximação entre as partes.

O último princípio aqui citado, mas não menos importante, é o princípio da informalidade ou simplicidade. Deste princípio se colhe a necessidade de deixar as partes à vontade para dialogar, despindo-se do formalismo utilizado no Judiciário brasileiro.

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De acordo com André Gomma Azevedo (2013, p. 238), o “procedimento deve ser simples, natural, sem aparato, franco e espontâneo, a fim de deixar os interessados à vontade para exporem seus objetivos”.

Por este princípio é que se deve pautar não apenas a postura do conciliador, mas também o ambiente como um todo. Por esta razão, importante que a sala esteja adequadamente preparada para sessão, para que as partes se sintam à vontade.

A ideologia de local adequado, consiste naquele que apresenta uma infraestrutura ampla, com sala de espera a seus jurisdicionados, deixando-os próximos mesmo antes de iniciada a sessão, e a presença da mesa redonda, para que as partes sejam posicionadas à mesa, lado a lado, diminuindo a animosidade entre os conciliandos.

Poderiam ainda ser citados muitos outros princípios, como o da economia processual, celeridade, oralidade, flexibilidade, dentre outros. No entanto, foram analisados apenas aqueles que inovaram a conciliação em relação às audiências tradicionais.

2.2 A função do conciliador

O conciliador tem um papel reconhecido como auxiliar da justiça, que exerce uma função de relevante importância social, tendo como exercício facilitar o diálogo entre as partes.

Sua função está ligada aos princípios dos métodos alternativos de resolução de conflitos, facilitando o entendimento entre os cidadãos na busca de alternativas para o conflito, conduzindo o processo e adequando as técnicas de outros campos além do direito.

Por esta razão, não há necessidade que o conciliador possua formação em direito, podendo este ser de outras áreas como a psicologia e a comunicação, entre outras, o que possibilita a criação de uma equipe multidisciplinar.

Cabe ao conciliador judicial recepcionar as partes, convidá-las a entrar no CEJUSC e aguardar o início da sessão. No momento da sessão o conciliador é parte fundamental,

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devendo ele direcionar a sessão, desde a posição das partes à mesa e as demais intervenções necessárias.

O conciliador deve iniciar a sessão de conciliação apresentando-se e explicando os procedimentos da sessão, os princípios da conciliação, a possibilidade de reagendamento ou de realização de sessões individuais, bem como, os objetivos gerais da conciliação e ao final da apresentação deve o conciliador confirmar a vontade das partes em participar.

Neste momento, caso uma das partes não concorde em participar da sessão, esta deve ser encerrada pelo conciliador. Havendo a concordância das partes em participar da sessão, o conciliador deve passar a palavra às partes, para que estas relatem o motivo de estarem litigando, sempre iniciando pelo autor.

É função do conciliador intervir quantas vezes forem necessárias, para controlar a comunicação entre as partes de forma eficiente, estimulando o respeito entre os conciliandos, o comportamento produtivo e cooperativo destes e seus advogados.

Ao final, deve o conciliador redigir a termo se houve ou não entendimento entre as partes. Em não havendo acordo, não pode constar em ata o que foi dialogado durante a sessão, sob pena de ferir o princípio da confidencialidade.

Havendo entendimento entre as partes, o termo deve ser redigido com clareza, contendo tudo o que foi ajustado entre as partes, devendo o termo de acordo ser submetido à homologação do Juiz togado.

Como já citado anteriormente, o conciliador é terceiro imparcial, sendo sua função a de restabelecer a comunicação entre as partes, auxiliando-os a buscar um entendimento, ainda que este entendimento não resulte no término do processo.

Neste sentido, “é importante ressaltar que a conciliação é mais qualidade do que quantidade e a pacificação social exige que os conflitos sejam bem resolvidos”. (NUNES, 2016, p. 104).

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Por esta razão é que o conciliador não busca como resultado da sessão um acordo, mas sim, a possibilidade de uma comunicação entre as partes, ainda que não haja entendimento naquele momento.

O conciliador deve ser um bom ouvinte e comunicador por excelência, sabendo perceber as entrelinhas do conflito buscando a origem e tratando a causa. Como a conciliação é das partes e para as partes, é muito importante que o conciliador estimule as partes para falar e passe a ouvi-las atentamente.

Muito bem esclarece Antônio Carlos Ozório Nunes, ao dizer que:

Produzir entendimento significa compreender que no processo de comunicação há outros fatores muitas vezes mais relevantes que as próprias palavras. A palavra dá forma aos pensamentos e ao que pretendemos transmitir, mas comunicamos principalmente através das emoções, do sorriso, do timbre de voz, do olhar, do vestuário, do aperto de mão, do gesto, da postura corporal, da vontade de ouvir e até mesmo do brilho no olhar. (2016, p. 168).

Assim, para que haja uma boa conciliação é necessário que o conciliador tenha habilidade para conduzir o diálogo, transmitindo às partes e aos advogados segurança, fazendo com que os mesmos se sintam à vontade para discutir o conflito.

Esta relação de segurança e confiança que deve haver entre o conciliador e partes, é denominada de rapport, que será melhor explicado no próximo item.

2.3 O rapport: Estabelecendo uma relação com os jurisdicionados

O rapport consiste na construção de uma relação de confiança entre o conciliador/mediador e seus jurisdicionados. O objetivo do rapport é demonstrar às partes que seus sentimentos e emoções estão sendo compreendidos pelo conciliador que deve passar aos jurisdicionados segurança do que está fazendo e assim fazer com que estes confiem no processo de conciliação.

Essa construção de confiança em todo o processo de conciliação, entre vários significados, traz uma concepção ampla de harmonia, sensação de positividade, cuidado mútuo, compreensão e empatia ao processo. (NUNES, 2016, p. 224).

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Assim, o rapport deve ser “construído” desde a chegada dos conciliandos ao local da sessão. Por esta razão, os Tribunais sugerem que os locais de conciliação sejam acolhedores e informais, para que a parte já sinta um clima de inclusão, quando da sua chegada.

Desta forma, para que haja um bom rapport, devem ser levados em consideração alguns aspectos. O primeiro deles: O ambiente. Como já dito, o ambiente deve ser acolhedor e simples.

A decoração deve ser sem muito luxo, possuir uma sala de espera com café, chá e água, para que os mesmos se sintam à vontade enquanto aguardam. As salas em que se realizam as sessões devem ser confidenciais e com a mesa redonda, para que os conciliandos não fiquem em posições antagônicas.

Outro aspecto importante é o tempo. O tempo da sessão é um diferencial em relação as audiências tradicionais, portanto, a conciliação deve ter um tempo médio de 30 minutos para que se possa trabalhar com calma as questões em conflito. Muitas vezes, o conflito é tão complexo que há necessidade de haver um reagendamento, para que se possa dar continuidade a construção do entendimento.

Quanto a este aspecto, devemos ter um cuidado especial para que as conciliações não sejam feitas no mesmo formato das audiências tradicionais ou das conciliações realizadas no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, conforme expõe:

É preciso tomar cuidado para que as conciliações não se transformem em atos mecânicos da corriqueira expressão: “tem acordo ou não? ”, pois esse não é o meio adequado de se buscar uma autocomposição e será fazer o mais do mesmo, afastando o potencial criativo das pessoas, na construção de acordos interessantes para elas. (NUNES, 2016, p. 227).

Quando o conciliador demonstra para as partes que está disposto a ouvi-las pelo tempo que for necessário, elas sentem-se atendidas pelo processo de conciliação, o que muitas vezes por si só já causa a satisfação do jurisdicionado.

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Ainda, o conciliador deve apresentar condições gerais para as partes, possibilitando a elas entenderem o procedimento e as regras da conciliação. Antônio Carlos Ozório Nunes, explica que é preciso que as partes fiquem conscientes das seguintes condições:

- Aceitar as divergências e respeitar as opiniões e experiências dos demais; - aceitar as regras da mediação (conciliação); - aceitar eventuais críticas e sugestões e apreender a compartilhar ideias, com capacidade criativa; - saber ouvir os outros, sem interromper; - ser respeitoso, não ser irônico e não ofender o outro; - exibir humildade, generosidade e honestidade. – Disposição para o aprendizado de novas experiências e - respeito pela diversidade e para isso é preciso afastar os preconceitos. (2016, p. 228).

Assim, se o conciliador conseguir estabelecer uma relação de confiança com as partes, transmitindo a estes, a segurança e os valores necessários para um bom diálogo, o sucesso da conciliação estará garantido e seu objetivo será atingido.

2.4 A função do advogado na conciliação

Os advogados são fundamentais na condução da justiça. Com seu conhecimento abrangente, possuem um importante papel nas mais diversas áreas. Seu subsídio abalizado pode, em diversas situações, minimizar problemas e evitar futuros conflitos.

Portanto, extremamente importante que o profissional advogado tenha conhecimento do procedimento da conciliação e compreenda a importância dos métodos alternativos para a busca da paz social pelo poder jurisdicional do Estado.

O artigo 2º, inciso VI, do Código de Ética e Disciplina da OAB dispõe que deve o advogado “estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a instauração de litígios”. O advogado como profissional do direito deve sempre primar pela autocomposição, evitando o litígio judicial.

Sobre o tema, assim expõe Alessandra Nascimento S. F. Mourão (2014, p. 37 e 38), acerca do papel do advogado:

Faz-se urgente que o advogado veja a si mesmo e se apresente ao seu cliente como um verdadeiro facilitador e ferramenta ativa e efetiva de solução do problema que lhe é trazido para solução, seja por que meio for. Ao contrário do que tradicionalmente poderia se pensar, ter o domínio de instrumentais técnicos outros além do conhecimento dos meandros processuais faz do advogado um profissional

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mais completo e preparado para as necessidades da contemporânea sociedade da informação. Ademais é função precípua do advogado a boa orientação e a defesa dos interesses de seu cliente, o que não significa, necessariamente, buscar a solução junto ao Poder Judiciário.

Deve ainda, explicar ao seu cliente como funciona a conciliação e o quanto esta pode ser importante para o resultado do processo, identificando o seu papel na conciliação, ao entender que o protagonismo nas conciliações é das partes, ou seja, deve o advogado deixar seu cliente expor seus interesses.

O advogado deve ter consciência dos objetivos da conciliação e assim cooperar para o trabalho em equipe na busca de um entendimento, deixando seu cliente à vontade para tomar decisões com autonomia.

Um advogado cooperativo é aquele que sabe perceber as vantagens da conciliação, dentre os quais se destacam o comprometimento dos acordos, uma vez que acordados pelas próprias partes, a chance de não serem cumpridos por estes é menor. Ainda, a maximização dos ganhos com o tempo, já que havendo um entendimento o processo acabará antes e com menos custos.

Essencial ainda que o advogado entenda que a informalidade da conciliação é um elemento fundamental para a celeridade do processo, o que não causa nenhuma vulnerabilidade para o procedimento da conciliação, visto que este é coberto de segurança.

Desta forma, a função do advogado na conciliação é a de colaborar positivamente, intervindo durante o diálogo somente quando necessário, assessorando juridicamente seu cliente e colaborando na construção do termo de entendimento e adotando uma postura autocompositiva em sua atuação profissional.

Apesar do advogado possuir um importante papel, sua participação não é obrigatória para a validade da sessão, sendo uma faculdade da parte estar ou não acompanhada de um advogado.

Sobre a dispensa do advogado, recentemente o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, julgou por unanimidade, que a participação do advogado e do Ministério Público são

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dispensáveis na sessão de mediação quando ausente defeito no termo de entendimento e satisfeitos os requisitos legais:

APELAÇÃO CÍVEL. DIVÓRCIO. SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA DE

ACORDO. MEDIAÇÃO PRɬPROCESSUAL. IMPUGNAÇÃO DO

MINISTÉRIO PÚBLICO. 1. Cabível a mediação em procedimento préprocessual atinente a Direito de Família (no caso, divórcio), com base nos arts. 8º, caput e § 1 º, e 1 0 da Resolução nº 1 25/201 0 do CNJ e no art. 4º da Resolução 1 .026/201 4 do COMAG. Ademais, o art. 3º da Lei 13.140/2015 admite que podem ser objeto de mediação até mesmo “direitos indisponíveis que admitam transação”, o que é bem o caso do divórcio. 2. Embora ausente o Ministério Público ao ensejo da audiência préprocessual, a posterior intervenção, antes da homologação do ajuste, sanou qualquer irregularidade. 3. No que diz respeito à não participação de advogado, conta com autorização expressa na Lei 13.140/2015, que, em seu artigo 10, estabelece a intervenção do advogado como uma FACULDADE, não uma OBRIGATORIEDADE. 4. Ausente defeito no termo de entendimento de sessão de Mediação préprocessual quanto à satisfação dos requisitos legais, impõe-se manter hígida a sentença homologatória. No caso, houve, em anterior ação de separação judicial com sentença transitada em julgado, definição dos temas relativos à guarda dos filhos menores, alimentos e visitas, na época presentes partes, advogados e representante do Ministério Público, e que foram ratificadas na sessão de Mediação. 5. Outrossim, tratou¬-se, em verdade, de conversão de separação judicial consensual em divórcio, sendo que decisões do STJ, que suplantam entendimento do Quarto Grupo deste Tribunal, dispensam a realização de audiência de ratificação mesmo em caso de divórcio direto. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível. Oitava Câmara Cível. Nº 70069073765, relator Des. Luiz Felipe Brasil Santos, 28/07/2016).

Em seu voto o relator, o Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos se reporta a outras decisões acerca do tema, sendo que o Desembargador Rui Portanova dá seu voto em concordância com o voto do relator e acresce dizendo que, “[...] pouco resta por acrescentar, a não ser o desejo de que, a presente decisão seja útil na superação da “cultura da sentença” que, pouco a pouco deve ceder passo na mentalidade dos juristas, nestes novos tempos processuais. ”

O referido Desembargador ainda colaciona uma notícia retirada do site do Superior Tribunal de Justiça, na qual o Professor Kazuo Watanabe fala a respeito da cultura da sentença e finaliza dizendo:

A cultura de buscar as soluções no Judiciário ainda é muito estimulada nos cursos de direito, já que são poucas as escolas jurídicas que estimulam métodos alternativos, como negociação, mediação e conciliação. Além disso, há um componente histórico que faz com que os jurisdicionados busquem a solução judicial. “Isso decorre em parte da formação histórica de nosso povo, que sempre foi dependente do paternalismo da autoridade pública. Mesmo quando a nossa primeira Constituição, que é de 1824, adotou uma inteligente política judiciária, de exigência de prévia tentativa de conciliação para a admissibilidade de qualquer demanda judicial, a

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implementação dela ficou a cargo de juiz de paz, que era na prática uma autoridade estatal”.

Com base em tal decisão, observa-se que cabe ao advogado mudar sua postura para que continue inserido no mercado de trabalho e saiba como atuar diante dessa nova realidade jurídica, vislumbrando novas possibilidades e utilizando-se dos benefícios dos métodos alternativos de solução de conflitos.

E futuramente, abre-se um novo mercado profissional para o advogado, sendo que aquele que for mais preparado para a solução consensual dos conflitos, terá um diferencial em seu portfólio, e assim será comum a existência de escritórios especializados em métodos alternativos de solução de conflitos. (NUNES, 2016, p. 38).

O advogado poderá ser um agente transformador da justiça brasileira, colaborando para a diminuição dos processos judiciais. Alessandra Nascimento S. F. Mourão leciona em seu livro “Fundamentos da Negociação para o Ambiente Jurídico”, (2014, p. 31), quanto à importância da atuação do advogado:

Os profissionais do ramo jurídico, em especial o advogado na sua atuação proativa na defesa dos interesses de seus clientes, podem e devem contribuir para a alteração dessa realidade, valendo-se da negociação (e das demais ADR) para resolver uma série de conflitos que sequer precisariam ser encaminhados ao Judiciário.

A contribuição do advogado para o êxito da conciliação é inquestionável. Contudo, mostra-se indispensável uma adaptação comportamental em sua postura, com intuito de potencializar as chances de sucesso da conciliação, por meio de um comportamento positivo, diminuindo a litigiosidade entre as partes.

Para que haja essa mudança comportamental do profissional advogado, faz-se necessário que as Faculdades de Direito ensinem seus alunos a negociar para poderem sair preparados para buscar soluções para os conflitos, usando da criatividade e não mais da litigiosidade como era no passado.

Talvez este seja o maior obstáculo para o Brasil: Mudar a cultura do litígio entre os operadores do direito. Caetano Lagrasta Neto, Desembargador do Tribunal de Justiça de São

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Paulo, comenta acerca do dilema da cultura da sentença proposto por seu colega, o Desembargador aposentado Kazuo Watanabe, e afirma que:

Se não houver mudança na estratégia na solução de conflitos, com intensa utilização de meios alternativos, previsto o engajamento de todos os lidadores do Direito, incluídos os servidores da Justiça, e o treinamento dos estudantes, desde os bancos acadêmicos, dificilmente se conseguirá alcançar o objetivo de amplo e irrestrito acesso a uma ordem jurídica justa, que nos encaminhe à mudança de mentalidade. (2013, p. 11).

Por esta razão, acredita-se que haverá um fortalecimento dos métodos alternativos de resolução de conflitos, após a implementação, em todas as comarcas, da política pública de resolução adequada de conflitos, obrigando as Faculdades de Direito a qualificarem os profissionais, através da inclusão de disciplinas voltadas para a solução pacífica dos conflitos.

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3 CONCILIAÇÃO NO CEJUSC IJUÍ/RS

A resolução nº 125 de 2010 do Conselho Nacional de Justiça instituiu a Política Judiciária Nacional de Tratamento dos Conflitos, descrevendo em seu artigo 1º, o objetivo, qual seja, de assegurar a todos “o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade”.

Com o intuito de desenvolver esta Política Pública, a Resolução nº 125 do CNJ, em seus artigos 8º ao 11, criou os Centros Judiciários de Soluções de Conflitos e Cidadania, CEJUSCs, para o fim de que neles se realizassem as sessões de conciliação e mediação dos Juízos, Varas e juizados.

Tal órgão também está previsto no artigo 165 do Código de Processo Civil e no artigo 24 da Lei de Mediação, ambos com redação semelhante:

Os tribunais criarão Centros Judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação, pré- processuais e processuais, e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.

Antônio Carlos Ozório Nunes (2016, p. 47), esclarece que:

Os CEJUSCs são verdadeiros centros de cidadania à disposição do cidadão, para onde ele poderá ir e registrar os seus pedidos de resolução de conflitos. O órgão vai receber as demandas que poderão ser pré-processuais, dos casos que ainda não chegaram ao sistema processual adversarial, daqueles que já são processos em andamento na Justiça.

Tais órgãos fazem parte da estrutura dos Tribunais e são supervisionados pelo Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos- NUPEMEC, criado de acordo com o art. 7º da Resolução nº 125/2010 do CNJ, com o objetivo principal de desenvolver a política judiciária local de RAD, pois a este núcleo, compete promover a capacitação de magistrados e servidores nos processos autocompositivos, bem como, capacitar mediadores e conciliadores.

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A composição e organização dos CEJUSCs e dos NUPEMECs são definidos pelos Tribunais, sendo que cabe a cada um, organizar a estrutura e os recursos para a criação destes órgãos seguindo as regras gerais do Conselho Nacional de Justiça.

A instalação dos CEJUSCS ainda vai demandar um tempo, visto que a instalação depende da destinação de recursos financeiros e de treinamentos para capacitação de profissionais. Nas palavras do autor, este é um desafio:

A implantação dos CEJUSCS em todos os recantos do Brasil é um desafio, assim como será desafiadora a tarefa de estruturação e composição dos conciliadores e mediadores, organizações de parcerias, formas de remuneração dos profissionais envolvidos, descentralização das unidades para atingir as comunidades, entre outras. (NUNES, 2016, p.48).

No Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, inicialmente foram instalados CEJUSCs nas comarcas de instâncias finais e intermediárias, sendo que a pretensão do Tribunal era instalar até o final do ano CEJUSCS em todas as comarcas do Estado.

No entanto, o prazo não será cumprido, visto que o Tribunal precisa formar mais conciliadores e ainda não instalou os centros em todas as comarcas de instâncias intermediárias.

Os CEJUSCS já instalados, ainda não estão operando de forma plena, pois, faltam profissionais, e na maioria dos Centros são realizadas apenas conciliações processuais, não prestando os serviços de mediação e pré-processuais, a exemplo da Comarca de Ijuí. Essa deficiência dos Centros, caso não seja suprida, poderá prejudicar o desenvolvimento da Política Pública de Resolução Adequada de Conflitos.

3.1 Aspectos da conciliação na Comarca

O Centro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania – CEJUSC da Comarca de Ijuí, iniciou suas atividades em 15 de maio de 2016, sendo instalado oficialmente pelo Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em 27 de julho de 2016.

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O órgão é coordenado pela Juíza Dra. Maria Luiza Polo Gaspary e conta com o excelente trabalho da Oficiala Liane Bernardo Benke e uma estagiária. Em nossa comarca, contamos com 10 conciliadores, sendo 4 servidores da justiça e os demais trabalham em regime voluntário, tendo em vista que ainda não houve aprovação por parte do Tribunal acerca da remuneração dos conciliadores e mediadores judiciais.

A estrutura física do CEJUSC é composta de uma sala de espera integrada com o cartório, na qual não há balcões que impedem a visualização dos servidores, ao contrário do que se verifica nos cartórios das Vara Judiciais.

Ainda, na sala de espera é disponibilizado café, chá e água aos jurisdicionados e advogados, buscando a integração e o estabelecimento do rapport.

Nosso CEJUSC conta ainda, com três salas para realização das sessões, sendo duas delas no formato exigido pelo CNJ, com a utilização da mesa redonda.

Em nossa comarca, como já citado, ainda não está em funcionamento os serviços de sessões pré-processuais e mediação, devido ao déficit de profissionais devidamente capacitados para desempenhar as funções.

Portanto, atualmente o CEJUSC realiza sessões de conciliações em processos civis, que tramitam nas três varas da comarca, excluindo-se as que versam sobre direito de família, face a ausência de mediadores.

O volume processual é bastante significativo, sendo que o órgão possui uma média mensal de 105 sessões realizadas, havendo em média 200 sessões agendadas, no entanto, apesar da aplicação de multa em face da ausência injustificada das partes, o número de ausências é bastante significativo, restando prejudicadas quase metade das sessões previamente agendadas.

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Os aspectos positivos dos métodos alternativos já são bastante significativos, sendo que os principais, dizem respeito a satisfação do jurisdicionado em ter a possibilidade de dialogar e buscar uma solução pacifica e eficaz para o seu problema.

Esse aspecto é percebido por meio de uma “Pesquisa de Satisfação dos Usuários do CEJUSC”, em anexo. Tal pesquisa foi desenvolvida pelo CNJ e é utilizada pelos Tribunais com o intuito de verificar a efetividade do trabalho realizado nos CEJUSCS.

A pesquisa de Satisfação dos usuários questiona o andamento da audiência de conciliação e a forma como o jurisdicionado foi atendido, oferecendo uma escala dicotômica com alternativa parcial (“sim”, “não” e ”em parte”). A pesquisa é distribuída as partes ao final da conciliação e estes de forma anônima respondem e a depositam em uma urna.

Os dados obtidos com as respostas aos formulários, são organizados e apresentados em forma de tabelas periódicas, servindo como subsídios para os gestores dos CEJUSCs analisarem, aprimorarem e ampliarem a dinâmica dos métodos alternativos de solução de conflitos.

No CEJUSC de Ijuí, conforme dados que seguem no anexo II, entre março e setembro deste ano, 277 usuários preencheram a pesquisa de satisfação, sendo que o percentual de satisfação é de aproximadamente 80%. Já o percentual de insatisfação com o Resultado foi de 18,42%. Do número total de usuários que preencheram a pesquisa, apenas 7 usuários informaram que se sentiram pressionados a formalizar um acordo, o que representa um percentual de 1,79%. (Fonte CEJUSC/Ijuí).

Tais números em tão pouco tempo, já demonstram um percentual bastante positivo, pois quase 80% dos usuários aprovam o trabalho realizado no CEJUSC por meio da nova Política Judiciária.

Quanto aos números, na Justiça Estadual, ainda não há estatísticas oficiais sobre o número de controvérsias solucionadas através da conciliação. Os números extraoficiais, foram colhidos por meio de pesquisa junto ao CEJUSC da Comarca de Ijuí, e traz resultados que vêm crescendo positivamente, acerca da efetividade da conciliação.

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Conforme se verifica no anexo III, as estatísticas demonstram um percentual médio de 31.6% de acordos, sendo que os números passaram de 13%, no mês de junho, para 45% no mês de setembro.

Como podemos ver, as conciliações têm solucionado inúmeros processos e o percentual de acordos vêm aumentando significativamente, na medida em que os jurisdicionados estão participando de forma mais efetiva das conciliações, e assim alcançando o objetivo de dar celeridade aos processos judiciais.

Inicialmente, as ações que tinham como parte pessoas jurídicas, apresentavam uma certa resistência em trazer uma proposta de acordo, de forma que prejudicavam a efetividade e a possibilidade de diálogo, porém, na prática temos observado que as partes aos poucos estão entendendo o objetivo das conciliações e estão vindo mais “abertos” a dialogarem e buscarem um “caminho para o processo”.

Outro ponto de estimulo à autocomposição feito pelo CPC foi no pagamento de custas processuais. Se houve acordo antes da sentença, as partes ficarão dispensadas das custas processuais remanescentes, caso existam. É o que diz o art.90, § 3º do CPC, que premia as partes no caso de acabar com o litigio antes da decisão judicial. (NUNES, 2016, p. 49-50).

Assim, para as partes que não estão cobertas pelo Benefício da Assistência Judiciária Gratuita, (na maioria dos casos, empresas), este benefício de isenção das custas é bastante positivo e pode se apresentar, principalmente para as estas, como um fator propulsor na buscar pela solução consensual dos conflitos.

O dia-a-dia do CEJUSC tem-se mostrado positivo, primeiro: pela simplicidade pela forma como as partes são tratadas; segundo: porque abre um caminho para o diálogo entre as partes, possibilitando que ainda que não haja acordo durante a sessão, posteriormente realizar um acordo.

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Ainda existe muito o que se melhorar na política Judiciária proposta pelo CNJ, a proposta é boa, porém necessita ser desenvolvida de forma séria e efetiva por todos os Tribunais para que se alcance todos os objetivos por ela almejados.

Para isto é necessário que haja um investimento financeiro e a capacitação dos conciliadores e mediadores, possibilitando levar aos jurisdicionados o melhor serviço possível, para que estes hajam como terceiros imparciais e para que não ocorra uma simples busca por acordos. Nesse ponto, Luis Fernando Guerrero (2015, p.17), aponta algumas críticas aos métodos autocompositivos:

Há crítica aos denominados métodos autocompositivos na medida em que eles, supostamente, tornariam as partes que deles fazem uso suscetíveis a imposições causadas por desequilíbrio de poder e pressões para a celebração de acordos. Não se oferece orientação para a sociedade na medida em que a utilização dos métodos autocompositivos é especifica para o caso concreto, não se formando precedentes e que dependem da vontade das partes.

Portanto é necessário que haja um conhecimento dos conciliadores e mediadores, para que estes não pressionem as partes a formalizar um acordo e por parte do Tribunal é necessário que haja um investimento em estrutura e campanhas educativas para preparar a sociedade para esta nova realidade.

Caetano Lagrasta Neto (2013, p.14), elenca os requisitos para a criação da política Judiciária:

a) Infraestrutura adequada, de material e pessoal, garantida pela CF/88, que, em seu art. 99, menciona a independência financeira do Poder Judiciário;

b) Investimentos na educação (capacitação, treinamento e aperfeiçoamentos dos conciliadores e mediadores), com a necessária adaptação dos currículos das Escolas de Direito e de Profissionais, visando atingir verdadeira mudança na mentalidade; c) Capacitação obrigatória dos conciliadores/mediadores; e

d) Busca de parcerias (com setores universitário e privado, como a FIESP, alheias a interesses subalternos no Judiciário).

Estes pontos citados pelo autor, devem ser considerados como algo negativo na realidade das Conciliações, visto que não houve por parte do Judiciário esta organização e preparação para a instalação dos CEJUSCS de forma adequada.

Ao contrário, o que aconteceu foi a imposição e a necessidade de realização de conciliações, após a entrada em vigor do Código de Processo Civil, em março do corrente

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