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JONLANG-CRIANDOATEORIADAARQUITETURA-CAP.5

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CRIANDO TEORIA DA ARQUITETURA: O

PAPEL DAS CIÊNCIAS

COMPORTAMENTAIS NO PROJETO

AMBIENTAL (LIVRO)

(CREATING ARCHITECTURAL THEORY: THE ROLE OF THE BEHAVIORAL SCIENCES IN THE ENVIRONMENTAL DESIGN1)

JON LANG

TRADUÇÃO DE FREDERICO FLÓSCULO PINHEIRO BARRETO

PROFESSOR DA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CAPÍTULO 5

ATIVIDADES DE

INTELIGÊNCIA E A FASE DE

INTELIGÊNCIA

O objetivo de qualquer atividade de inteligência na práxis do projeto é identificar e compreender os problemas que se está confrontando. O projetista se envolve em ações básicas de inteligência em resposta às questões que vão surgindo ao longo do processo de tomada de decisões. A fase de inteligência, no entanto, inicial o processo como um todo. Ela diz respeito à identificação preliminar dos problemas, ao estabelecimento dos objetivos a serem atingidos através do projeto, e os condicionantes sob os quais o projeto executado irá operar, no futuro. Na práxis profissional esta fase é freqüentemente referida como sendo a programação arquitetônica (facility programming). O produto da fase de inteligência, contudo, nem sempre é um programa arquitetônico; em vez disso pode ser um programa educacional, por exemplo. Os procedimentos para o processo de programação já foram muito habilmente estabelecidos (ver

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Peña, 1977, Sanoff, 1977, Preiser, 1978, Palmer, 1981, Zeisel, 1981). Cada uma das referências ou documentos produzidos oferece uma diferente perspectiva acerca do processo de projeto, e tende a ser uma norma, ou uma declaração normativa. O objetivo aqui é descrever as questões teóricas envolvidas, mais do que descrever os procedimentos específicos que os projetistas ambientais utilizam.

Atividades de Inteligência

Inteligência consiste de análise, projeto, avaliação e escolha. Fundamentalmente é, contudo, uma atividade analítica. A análise que faz parece envolver os dois processos básicos de questionar e comparar (Koberg e Bagnall, 1974); o projeto envolve os processos de pensamento divergente e pensamento convergente; a avaliação consiste na aplicação de valores; e a escolha, na tomada de decisões. Esses processos ocorrem repetidamente através da práxis de projeto. A pesquisa nas ciências comportamentais também envolve todas essas atividades, mas seu objetivo é diferente. O objetivo da pesquisa científica é fazer generalizações acerca dos fenômenos; o propósito das atividades de inteligência no projeto é poder entender melhor a específica situação com que nos defrontamos.

Processos analíticos, em qualquer fase da práxis de projeto, implicam na fragmentação de uma entidade ou de um problema em componentes, no esforço de perceber a ordem subjacente que os relaciona. Isso requer que se discirna as ligações entre as partes e, possivelmente, seu padrão de hierarquia. Se a ordem é difícil de perceber dedutivamente, podemos, em alguns casos, impor uma ordem arbitrária e conveniente, de modo que possamos ir adiante com o projeto. Don Koberg e Jim Bagnall (1974) sugeriram que os processos de questionamento e de comparação apresentam um conjunto de objetivos:

- descobrir relacionamentos;

- examinar as partes em relação com os todos; - dissecar o problema;

- decompor o problema;

- descobrir mais coisas sobre o problema; - tornar-se familiar com o problema;

- comparar o problema com outras situações; - levantar questões ou interrogar o problema; - alargar o escopo do problema;

- dar seqüência ou ordenar o problema; - classificar os elementos do problema; - expor as entranhas do problema;

- buscar por novas idéias dentro do problema; - buscar uma fórmula para o problema;

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Há muitas técnicas para a análise de situações. Essas técnicas são usadas através da práxis de projeto porque cada fase envolve algumas atividades analíticas.

Projetar implica na geração de idéias e em colocar os seus

componentes juntos, para que formem um todo. Isso envolve simultaneamente o pensamento divergente e o pensamento convergente, ou sintético. Ambos carreiam muito pensamento analítico, seja no trabalho de desenvolvimento do programa arquitetônico de um edifício, seja no projeto desse edifício, pois cada uma dessas modalidades de pensamento é, em si mesma, um processo decisório. De forma similar, avaliar idéias, seja objetivamente, seja subjetivamente, envolve processo de questionamento e de comparação. Assim, a fase de escolha, da práxis, também envolve atividades de inteligência. A fase de inteligência, por sua vez, consiste de atividades de inteligência, de projeto e de escolha. O foco de interesse na fase de inteligência é, entretanto, no estabelecimento do que o problema é - como algo que parece requerer nada menos que um projetista para que seja resolvido.

A Fase de Inteligência

Como foi mencionado acima, há diversas declarações normativas a serem consideradas na programação do projeto ambiental, bem como excelentes descrições dos métodos das ciências comportamentais à disposição do projetista comportamental para a sua aplicação em muitos aspectos da práxis (Michelson, 1975; Zeisel, 1981), e ainda ensaios acerca de abordagens específicas para a pesquisa associada ao projeto. Contudo, também se registra certa carência de pesquisas que estudem o modo de os projetistas efetivamente analisarem os problemas em sua prática profissional – ou como a fase de inteligência é efetivamente desenvolvida.

Nós sabemos que há procedimentos bem estabelecidos que usam os “tipos construtivos” – uma classificação dos edifícios de acordo com as atividades que abrigam e, em alguns casos, com suas características estéticas -, tanto para atalhar o procedimento exploratório que visa identificar a natureza do problema, quanto para gerar uma solução para ele. Certamente, a definição dos problemas a serem trabalhados durante a fase de inteligência é muito afetada pelos preconceitos e pelas imagens pré-existentes na mente do programador. Muito do pensamento mais recente acerca dos modelos normativos do processo de projeto deveria ser mais incisivo quanto à eliminação de preconceitos, mas isso parece ser simplesmente impossível, intelectualmente (Conforme Nangara, no prelo).

Também sabemos que a fase de inteligência é tremendamente política, mas num modo informal. Isso tem vindo à tona através de pesquisas feitas acerca da prática do projeto ambiental – como é exemplificado pelo estudo do projeto da St. Francis Square, em São Francisco (por Clare Cooper e Phyllis Hackett, 1968), e pelo estudo do desenvolvimento do World Trade Center, em Nova Iorque (por Leonard Ruchelman, 1977). Esses estudos dão uma boa descrição de como as decisões são tomadas na prática e, de um modo geral,

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na natureza altamente argumentativa e política das atividades de inteligência que resultam em programas de edifícios e nos seus projetos. São políticos porque há muitos participantes diferentes no processo - cada um deles com um conjunto de valores que, mesmo apresentando sobreposições com os conjuntos de valores dos demais, portam visões idiossincráticas. Essas visões são baseadas nas experiências individuais passadas, nas suas capacitações, e no modo que ela ou ela relacionam-se com os outros participantes no processo, bem como nas conseqüências que diferentes apresentações do problema podem ter para si. Os estudos revelam que muitas decisões são tomadas caprichosamente, e que o produto final é moldado por muitas pessoas diferentes, ainda que o edifício (ou outro objeto produzido) resultante tenha uma aparência inegavelmente associada ao estilo dos projetistas à frente dos trabalhos.

Qualquer modelo da fase de inteligência da prática do projeto é ainda especulação. No entanto, é possível oferecer uma síntese das idéias da atualidade acerca de seus elementos constituintes e como eles se relacionam. Esse modelo é baseado em estudos empíricos realizados (tais como os de Cooper e Hackett, 1968; Ruchelman, 1977; Moleski, 1978), e numa variedade de modelos existentes que têm caráteres positivo e normativo (Swinburne, 1967; Studer, 1969; Nadler, 1970; Koberg e Bagnall, 1974; Hack, 1979). Esses modelos estão amplamente baseados na análise introspectiva que o próprio projetista opera.

Há, implícito em qualquer fase de inteligência, um certo conjunto de atividades. Essas atividades têm como objetivo entender as questões que surgem, e desenvolver soluções parciais para elas. Um modelo conceitual da fase é apresentado na figura 5-1 (pg. 5). Os objetivos da fase são: estabelecer metas baseadas na percepção do que o problema é; especificar ou projetar um sistema de comportamentos, e identificar valores estéticos que se ajustam a metas estabelecidas; e identificar as características dos sistemas físicos que tornarão possível o alcance das metas sociais e estéticas. Se o sistema físico existente torna possível o alcance desses objetivos, então o problema não é exatamente arquitetural, ou de urbanismo, ou paisagístico, mas relacionado à educação das pessoas – implicando em se chamar a sua atenção sobre o modo como o ambiente deve ser usado. Mas se o sistema físico não tem esse desempenho, então temos que uma decisão deve ser tomada, no sentido de se propor mudanças no sistema comportamental, no sistema estético, ou no sistema físico. Se essa ação mencionada por último for escolhida, então um programa capaz de especificar as mudanças deve ser desenvolvido. Isso, novamente, envolve o estabelecimento de objetivos, e de meios para alcançá-los. Todas essas atividades dizem respeito não apenas ao presente, mas também ao futuro. Desse modo, a fase de inteligência envolve a produção de muitas predições acerca do futuro contexto no qual o projeto (também no futuro) deverá funcionar. A cada vez que um projeto ou uma especificação é feita, tem-se no ato uma hipótese sobre o que efetivamente funciona – ou o que efetivamente funcionará no futuro.

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A v al iaçã o d o Amb ient e Pre se n te A N atu re za d o C o n tex to Fu tu ro : S o ci al , E co n ô m ic o e F ís ic o A P OR TE ( ) DA CI ÊNC IA CO MPO R T A MENT AL INPUT Pe rc ep ção d o s Pro b le m as F or m ul açã o d e Objetivos Pr og ra ma C o mpo rta ment al S is te m as de A tiv id ad es S ist ema s F is iol óg ic o s V al o res Estéticos Le ia ut e: Ca ra ct er ís ti ca s q ue permi tem o a lc an ce dos Objeti vos O Ambi en te Pre sent e P o ss u i t ais Ca ra ct er ís ti ca s? Si m Nã o N ão se t ra ta d e um P rob lem a de P ro je to Am b ie n ta l In ício d a Pr ogr am açã o de C o n str uç ão ()bu il di n g pr o g ra m T eoria Sub sta n tiva e P rinc ípios P ro je tua is F ig. 5 -1. Um Mo de lo da F ase de Int eligê ncia da P rax is P ro je tual

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Tais operações não ocorrem numa ordem seqüencial auto-evidente. Os resultados de cada passo podem ser alterados por uma nova informação e/ou percepção do problema, o que pode atingir até mesmo fases tão adiantadas quanto a de implementação. Os problemas que surgem durante as fases de projeto de e de avaliação, com freqüência necessitam de alguma reprogramação. O processo de inteligência como um todo é basicamente argumentativo, embora implícita ou explicitamente siga a seqüência geral de eventos que descrevemos na figura 5.1. Tal como Horst Rittel (1972) notou, os problemas mais ariscos (wicked problems) ou enviesados, não se apresentam muito claramente definidos, mas uma definição preliminar do problema deve ser feita para que a fase de projeto se inicie. Para que isso ocorra, há uma seqüência de atividades que é completada, mesmo que não seja realizada em uma ordem linear, ou que cada uma das atividades tenha sido terminada até que a próxima atividade na seqüência venha a iniciar-se. Uma breve descrição dessas atividades e seqüências deve deixar clara a potencial contribuição das ciências comportamentais à criação de uma teoria de procedimentos.

Identificação da Situação-Problema

A fase de inteligência da práxis pode ser declarada iniciada quando alguém percebe uma discrepância entre o estado presente do ambiente social e/ou físico e algum outro estado, desejado, conhecido, ou mesmo presumido, passível de existência. O ambiente está sob constante monitoramento pelas pessoas. Alguns grupos, como as agências públicas, recebem da sociedade esse papel de monitores; outros, como os empresários, estão em busca de oportunidades para investir lucrativamente; e ainda outros, como no caso das sociedades profissionais, têm um papel semi-público, no qual elas monitoram o ambiente, apontando aquilo que elas percebem ser problemas, do ponto de vista de sua prática profissional e de seus interesses disciplinares. Um grupo que trabalhe o serviço social à comunidade pode estar preocupado com o provimento de serviços públicos; os arquitetos podem levantar questões sobre a qualidade estética do ambiente urbano; os historiadores e as pessoas preocupadas com a preservação do patrimônio cultural podem apontar as perdas no acervo público, na sua memória, tal como a percebem. Assim, muitas pessoas diferentes podem dar início a um processo de tomada de decisões que resultará na realização de edificações, ou em alguma outra mudança no ambiente social ou físico.

Os projetistas ambientais são contratados para trabalhar em muitos tipos diferentes de problemas ambientais, mas a eles raramente se oferece uma tarefa integral, de solução de problemas. As pessoas que os contratam já definiram a natureza geral do problema, a natureza geral da solução, já vêm operando através de um processo decisório construído por elas, ou herdado. Essas pessoas já chegaram à conclusão, por exemplo, de que uma mudança no ambiente construído é necessária, a fim de que novos padrões de atividades sejam abrigados, ou de que os padrões de atividades existentes

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sejam melhor acomodados, ou de que o ambiente melhore esteticamente. Eles chegaram a essas conclusões por si mesmos, ou com a ajuda de consultores profissionais. Seymour Sarason (1972) observa que os edifícios podem tornar-se uma “distração” quanto à questão central de como os tornar-serviços sociais poderiam ser melhor oferecidos. Muitas pessoas, como ele nota ironicamente, têm um “complexo do edifício” – no sentido de acreditarem que um edifício é a solução de todos os problemas (sobretudo se o edifício leva alguma denominação que sugere essa solução). De modo algum a crença no determinismo arquitetônico se restringe aos arquitetos.

A percepção de uma situação problemática envolve: um ambiente sócio-físico presente, operativo em um determinado nível; o reconhecimento e a avaliação de seu desempenho em algumas dimensões importantes para o indivíduo e para o grupo; e a percepção de que esse desempenho se encontra desviado de uma condição aceitável, situação que persistirá indefinidamente, a não ser que alguma ação seja empreendida. Esse processo é altamente carregado de valorações, nele os problemas são percebidos pelas pessoas, que tomam como referência seus próprios valores – ou os valores de outros, por adoção.

Identificação dos Grupos de Pessoas Envolvidos

Diferentes grupos de pessoas com interesses bem definidos, provavelmente estarão envolvidos em qualquer processo que leve a uma decisão que implique na mudança da configuração física do ambiente físico em que orbitam. Na medida em que a escala de uma dada intervenção é ampliada, e a multiplicidade de atividades que se pretende realizar aumenta, também o número de pessoas com objetivos conflituosos e com diferenças em seus valores também aumenta. Esses grupos quase sempre incluem os seguintes:

• O cliente e/ou o patrocinador do projeto; • O projetista e seus profissionais associados;

• Instâncias reguladoras (dos contratos, do direito de construir, do padrão ambiental mínimo, etc.);

• Construtores e fornecedores.

Cada um desses grupos também se vê submetido a pressões de seus “pares” (de seu grupo social, empresarial, profissional, que testemunha seu desempenho profissional, embora nada possa ter a ver com o trabalho em exame), de modo que o grupo dos “pares” – peer-group – pode ser compreendido como participante indireto ou oculto (Montgomery, 1966).

Ao longo das duas últimas décadas, o grau em que outros dois grupos deveriam ser envolvidos tem sido objeto de muito debate. São eles:

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• Os não-usuários, mas que são afetados pela mudança ambiental pretendida.

Freqüentemente o patrocinador age como um filtro com relação às necessidades dos usuários, e os não-usuários são vistos como antagonistas, competidores por recursos escassos. Tem-se registrado expressões de preocupação acerca da falta de consideração para com os usuários dos espaços construídos (como em Zeisel, 1974), e pelo menos um pequeno grupo de projetistas tem adotado uma abordagem de projeto claramente orientada para as necessidades dos usuários. Mas muitos outros projetistas vêem isso como um modismo, que não perdurará.

Alguns dos participantes detêm mais poder que outros, devido à sua posição central no problema. Há uma diversidade de posições normativas acerca de quem deveria estar especialmente responsável em pensar nos objetivos e meios de desenvolvimento do projeto e, em particular, acerca de como essa relação entre cliente e profissional deve ser (ver, por exemplo, Goodman, 1971; Rittel, 1972; H. Mitchell, 1974). Os participantes e a relativa importância de cada um deles transforma-se, na medida em que o processo de projetação prossegue. Aqueles que inicialmente perceberam o problema podem ceder seu lugar a outros mais diretamente envolvidos; os projetistas controlam a fase de projeto, os construtores e fornecedores controlam a fase de implementação. Naqueles projetos que são desenvolvidos por longos períodos, o próprio patrocinador pode mudar, entre o início do projeto e as fases de tomada de decisão mais intensivas. Isso freqüentemente segue em paralelo com mudanças no processo decisório, podendo resultar no abandono do projeto, ou em revisões fundamentais em sua concepção.

Identificação de Restrições

Apesar de nenhuma tarefa de projeto ocorrer em um ambiente totalmente livre de restrições, o nível de condicionamento varia de projeto a projeto. As restrições também variam em sua natureza. Leis como os códigos de edificações representam o interesse público; os condicionamentos de prazos e de orçamento são, em geral, impostos pelo patrocinador, proprietário ou empreendedor; as condições do solo são impostas pelo próprio ambiente. As restrições comportam-se como se fossem “objetivos”: devem ser necessariamente atendidos. Os objetivos de um projeto, no entanto, são fins que se tenta atingir de forma maximizada ou minimizada.

Há alguma controvérsia sobre onde, exatamente, as restrições da fase de inteligência devem ser introduzidas, para que as pessoas envolvidas na projetação possam considerá-las. O argumento favorável à introdução das restrições ainda no começo da fase se inteligência do problema isso eliminaria a perda de tempo e esforços em busca de soluções impossíveis. O argumento contra uma introdução desde o início é que, por outro lado, isso eliminaria prematuramente possibilidades que parecem ser impossíveis, mas que não o são, necessariamente (ver Nadler, 1970).

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A Formulação de Objetivos

Objetivos são declarações gerais de intenções, de propósitos – são fins para os quais o projeto tenderá. Objetivos são projetados. Freqüentemente eles são definidos de um modo tão genérico que todos concordam com eles. Traduzi-los em definições específicas é que vai exigir muita argumentação. Mesmo quando os objetivos gerais de um projeto permanecem constantes, os objetivos específicos provavelmente apresentação mudanças, na medida em que o processo de projetação se desenvolva (ver Ruchelman, 1977).

Há um objetivo básico implicitado na identificação da situação-problema: mudar a presente situação. Também está implícita uma certa pré-concepção sobre o que pode ser a solução mais adequada. Nesse sentido, há estudiosos que têm defendido uma visão de todo o processo de projetação como de “adaptações tipológicas” (ver, por exemplo, Eisenman, 1977).

A especificação do que, num projeto, todos os envolvidos estão lutando para atingir, dificilmente é alcançado de uma forma metódica. Os diferentes participantes no processo provavelmente portam objetivos específicos que diferem dos objetivos dos demais; seus valores podem também diferir, mesmo que associados aos mesmos objetivos gerais com que todos concordam. Os projetistas ambientais, caso estejam envolvidos neste estágio do processo decisório, adoram acreditar que estão a fazer o melhor trabalho para todos os envolvidos – mas inevitavelmente eles se tornam advogados de interesses específicos, de alguns dos lados em confronto ou concorrência.

Não há algo como um “algoritmo” que os projetistas usem para o estabelecimento dos objetivos do projeto. Há, no entanto, alguns passos que são usuais. O primeiro deles é o estabelecimento dos “perímetros de interesse”: quais as áreas em que os objetivos devem ser estabelecidos? Um segundo passo busca resolver a questão: “Qual é a amplitude dos objetivos dentro de cada uma destas áreas?” Um terceiro envolve um exame dos objetivos em definição, para verificar se eles são ou não mutuamente compatíveis e consistentes. Um quarto envolve o estabelecimento de uma escala (de importância, de impacto) dos objetivos; um quinto, a aceitação dos objetivos estabelecidos como a base a partir da qual o projeto será desenvolvido (ver Young, 1966; Chadwick, 1978). Todo esse processo é, em geral, interativo.

Esses passos envolvem vários processos. Os estados presentes do ambiente são avaliados, os estados futuros são preditos, os objetivos são formulados ou escolhidos, e uma decisão é tomada. O processo é argumentativo, mas devido ao nível de generalização envolvido, pode-se alcançar um alto grau de concordância de forma relativamente fácil. Será no processo de efetivamente projetar para que sejam atendidas as necessidades comportamentais e físicas que as controvérsias emergem.

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Projetando o Programa Comportamental

O processo de adaptação ambiental envolve mudanças nos cenários físicos, em resposta a mudanças nas atividades, ou nos critérios estéticos, ou por demandas ocasionadas pela aspiração de congruência entre atividades e critérios estéticos, e os aspectos físicos envolvidos. Assim, os objetivos do projeto ambiental dependem da especificação dos padrões de comportamento necessários ao alcance, pelas pessoas, de seus objetivos. Quem faz esse projeto? Provavelmente especialistas na área problematizada, desde os expertos em tempos e movimentos até – como se tem visto crescentemente – programadores arquitetônicos: pessoas que entendem tanto a natureza do sistema de atividades em questão, como a natureza dos efeitos que os espaços construídos têm sobre tais sistemas.

Boa parte desse processo é desenvolvida de forma altamente subjetiva; boa parte é processada subconscientemente, quando se trata de espaços e compartimentações. Como Constance Perin (1970) observou, os nomes dos compartimentos se tornam substitutos de definições articuladas acerca das atividades que se espera abrigar. Cada vez mais os arquitetos e os programadores estão usando técnicas originalmente desenvolvidas nas ciências comportamentais, para que o processo de programação se torne mais objetivo.

A consideração explícita de questões estéticas ou de conforto tem sido tradicionalmente transladada para a fase de projeto, dado que se tem considerado que tais questões caem, de forma estrita, dentro do campo de prerrogativas do projetista. A consideração explícita dessas questões somente vai ocorrer quando elas são centrais, essenciais para o caso. Até que uma teoria positiva, explícita e externamente válida tanto da estética quanto dos métodos de analisar valores estéticos, visando os propósitos do projeto, essa situação permanecerá assim. Embora se constatar que uma compreensão positiva da estética tem sido consideravelmente desenvolvida nos últimos anos, ainda está insuficientemente madura, para que desempenhe o papel de base teórica para a criação métodos analíticos, ou de projeto.

Projetando os Condicionantes da Configuração Física

Um dos mais importantes objetivos da fase de inteligência é a especificação dos padrões ambientais que são necessários para que os requisitos das atividades, assim como as necessidades fisiológicas e estéticas, sejam atendidas. Esse passo não pode ser dado de uma forma determinista. O programador se apóia em seu conhecimento substantivo, seu conhecimento de como os padrões ambientais parecem funcionar em alguma outra instância – como em outros edifícios, em realizações do urbanismo, da arquitetura, do paisagismo -, visando elaborar algo que é, essencialmente uma hipótese acerca de quais padrões ambientais permitirão o alcance de objetivos, na situação existente. Isso envolve a elaboração de uma série de predições acerca do que funcionará, e do que não funcionará. Estudos tipológicos são

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geralmente usados como base para essa manipulação do repertório de padrões ambientais.

Uma das maiores razões para o desenvolvimento de um corpo de conhecimento positivo acerca do ambiente construído, e o que ele torna possível para as pessoas, é aumentar a probabilidade de que os programadores venham a elaborar boas previsões acerca dos padrões ambientais. Foi nessa atividade, mais que em qualquer outra, que os arquitetos mestres do Movimento Moderno cometeram seus maiores erros. Eles fizeram predições erradas acerca dos padrões futuros, bem como sobre a capacidade de o ambiente construído causar comportamentos específicos. Eles basearam suas decisões, como já notamos anteriormente, em modelos inadequados do comportamento humano e do que as pessoas são.

Em geral, esse passo é dado em parte, ainda está em curso, quando o próximo passo já se inicia. Daí se completa com a apresentação de uma detalhada especificação - que visa a desejada mudança no ambiente. Assim, a elaboração de programas arquitetônicos e a investigação acerca do ambiente existente (para verificar em que medida esse ambiente atende ou não aos requisitos expressos) são trabalhos freqüentemente envolvidos um no outro, ou em algo que aparenta ser uma só e mesma atividade, que consistiria em estágios interativos.

Avaliando o Ambiente Existente

Esse é um passo conceitualmente importante, que em geral para ser incluído implicitamente na prática profissional. Algumas vezes é obviamente desnecessário dar esse passo explicitamente, mas em outros momentos, é importante fazer essa explicitação, para que se evite o desperdício de determinados recursos. É desnecessário quando um conjunto completamente novo de atividades passa a requerer abrigo em um lugar em que não há condições para que isso aconteça no momento. Ao lidar com instalações existentes, os patronos de um projeto freqüentemente concluem que, como resultado dessa avaliação da situação com que se defrontam, podem efetivamente usar essas instalações existentes, ou podem modificá-las, de modo que as atividades pretendidas venham a ser abrigadas adequadamente; assim, recursos existentes podem continuar a satisfazer as necessidades de seus usuários.

Se o ambiente construído consiste de padrões que abrigam satisfatoriamente o programa comportamental, então não existe aí qualquer problema de projeto ambiental. Pode haver, no entanto, um problema educacional a envolver o projetista. Nem sempre é óbvio para as pessoas como um espaço deve ser usado. Se o ambiente existente não apresenta as características que irão dar condições ao pleno desempenho do programa comportamental, e/ou ao sistema de valores estéticos, de modo que a presente configuração os viabilize, então uma decisão deve ser tomada, tanto: (1) no sentido de mudar o programa comportamental, e/ou o sistema de valores estéticos, de modo a que a presente configuração se mostre condicionalmente

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apta, ou (2) no sentido de especificar como o ambiente deve ser mudado. Essa especificação é denominada programa arquitetônico (building program).

Elaborando Programas Arquitetônicos

Um programa arquitetônico é uma solução parcial para o problema. O ambiente construído que resulta dela é a “solução”, seja por bem ou por mal. A qualidade do resultado final é muito dependente da qualidade do programa arquitetônico, mas não é determinada por ele, a não ser num sentido negativo: se o programa é deficiente, o edifício não poderá atender aos requisitos da situação, a não ser que isso ocorra por pura coincidência.

A elaboração de programas arquitetônicos varia consideravelmente em sua abrangência e natureza. Tradicionalmente, os programas arquitetônicos têm consistido em um pouco mais que listagens dos compartimentos que um edifício deve apresentar, e seus tamanhos. Tais programas são declarações incompletas acerca das intenções do projeto, e requerem uma contínua análise para que especifiquem um conjunto bem mais abrangente de intenções, em outras dimensões do ambiente. Na práxis profissional, os programas arquitetônicos vêm se tornando cada vez mais elaborados, ao longo dos anos.

Os programas arquitetônicos, na atualidade, freqüentemente especificam aspectos do desempenho desejado para o edifício, mais que apenas a área de seus compartimentos. Também tem sido adotada a especificação de seu mobiliário que deverá ser utilizada, e outros requisitos relacionados à privacidade, ao controle territorial, a aspectos estéticos associados com as atividades que ocorrerão na edificação. Esses programas incluem diretrizes acerca do fluxo de materiais, de informação, e de pessoas, através do sistema ambiental da edificação. Eles podem ainda especificar as ligações requeridas entre os espaços internos e os espaços externos, o simbolismo que seja desejado para os acessos, e para a aparência externa dos edifícios.

Tais programas arquitetônicos são muito mais detalhados e compreensivos na especificação dos objetivos do projeto, do que os programas arquitetônicos do passado. Está, sem dúvidas, no pleno alcance do projetista a capacidade de resolver os conflitos entre os requisitos, e de síntese da solução de projeto. Programas arquitetônicos compreensivos, abrangentes são um pré-requisito para um bom projeto. Mas não asseguram que o projetista tomará decisões igualmente bem qualificadas.

LIDANDO COM A INCERTEZA NO PROGRAMA DO PROJETO (PROGRAM DESIGN)

A fase de inteligência é obviamente bastante complexa, durante a qual muitas decisões são tomadas sob considerável incerteza acerca de seus resultados. Na prática do projeto ambiental, lida-se com a incerteza de vários modos. O modo pelo qual os projetistas usualmente lidam com problemas complexos é pela simplificação da definição do problema, pela eliminação das

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variáveis “difíceis de considerar”. Sua solução, portanto, será uma resposta parcial a um problema apenas parcialmente definido. Na medida em que os mais importantes aspectos do problema tenham sido respondidos, esse tipo de abordagem ainda leva a soluções aceitáveis, em muitos casos. De um modo geral, as pessoas toleram algumas discrepâncias entre uma solução idealizada e o que eles realmente acabam obtendo, com base nas condições a que já estão acostumadas, na sua cultura de tolerância, e nos custos envolvidos. Mas nem sempre se pode contar com essa tolerância.

As tentativas de simplificação do problema pela limitação de sua abrangência ou magnitude, é algo que pode ser empreendido de diversas formas. Muitos empresários visam determinado segmento do mercado quando decidem construir algo novo, um segmento familiar a eles. Os arquitetos podem especializar-se em tipos específicos de edifícios, ou nos mesmos materiais e soluções construtivas, ao longo de sua vida de trabalho; eles podem concentrar-se na satisfação das necessidades de um determinado grupo da população de potenciais clientes. Cada uma dessas abordagens reduzem a complexidade do problema com que se defrontam profissionalmente.

Muitos projetistas também reduzem os limites de suas preocupações profissionais ao decidirem não se envolver na fase de programação arquitetônica. Seu trabalho inicia-se a partir de um “programa pronto”. Sua prática, nesse caso, se concentra na geração de soluções e na avaliação e na implementação de rotinas tipicamente “profissionais”. Outros arquitetos são fortes advogados da sua plena participação nas atividades de programação (ver Griffen, 1972). Eles reconhecem que é nessa fase que são produzidas as decisões que provavelmente truncarão e condicionarão os desenvolvimentos do projeto.

O melhoramento da teoria de procedimentos e da teoria substantiva no projeto ambiental, particularmente na última década, resultou no desenvolvimento de um conjunto de técnicas e num corpo de conhecimento que vêm se tornando parte da prática mais aceita do projeto ambiental. Nas áreas em que a teoria substantiva é rica, as técnicas de análise também são fracas, e os projetistas devem se apoiar (como muitos preferem fazer) na intuição e no conhecimento subjetivo. Isso cria uma atmosfera de incerteza. Uma das características das pessoas criativas é que elas se dispõem a lidar com as incertezas, respeitando-as, mas não sendo reprimidos por elas.

A incerteza acerca do melhor curso de ação a tomar não tem seus fundamentos apenas na diversidade de valores que converge para o projeto, mas também do fato elementar de que os edifícios terão um futuro: quais serão as forças sociais e econômicas que operarão em um determinado tempo, no futuro? Como ocorrerão as mudanças que levam as essas novas forças, e além? As pessoas favorecerão formas mais simples ou mais complexas? Há alguma utilidade em se tentar prever o futuro, de forma sistemática? Há técnicas para que tais previsões sejam feitas, e que se apóiam pesadamente na observação do desenvolvimento de tendências no passado, e no conhecimento das forças efetivas na produção de mudanças (Bross, 1953). A aplicação dessas técnicas pode ampliar as possibilidades de se ter mais

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acurácia na produção de predições, mas elas não especificarão esses futuros com certeza. Ter que lidar constantemente com a incerteza também leva a essa arrogância que muitas pessoas notam nos arquitetos (T. Wolfe, 1981).

OBTENDO INFORMAÇÃO PARA A PROGRAMAÇÃO ARQUITETÔNICA

As ciências comportamentais, como já observamos, oferecem um considerável número de técnicas básicas para a observação das situações à nossa volta, obtendo informações e formulando objetivos para o projeto. Muitas dessas técnicas vêm se incorporando na práxis do projeto ambiental, modelando os pontos de vista que o projetista sustenta sobre a natureza do problema com que se defronta. Algumas dessas técnicas simplesmente sistematizam os modos pelos quais os projetistas sempre trabalharam; outras são novas. Algumas das técnicas se destinam à obtenção de informações diretamente da fonte, outras usam instâncias mediadoras – como na obtenção de informações com o auxílio de uma outra pessoa, que é encarregada de reportar suas observações. Essas abordagens podem ser mais ou menos discretas, intrusivas ou distantes. Elas são guiadas pelo que se busca compreender, ou seja, por teorias substantivas acerca das pessoas e do ambiente. Essas técnicas já foram mencionadas anteriormente, mas a preocupação aqui diz respeito a como elas são usadas – e como poderiam vir a ser usadas – durante a fase de inteligência da práxis de projeto.

Técnicas Intrusivas

Técnicas intrusivas (obtrusive techniques) são aquelas que são claramente expostas à pessoa ou ao grupo que está sendo examinado. A experimentação é um exemplo clássico de abordagem observacional intrusiva, assim como as entrevistas e as surveys são exemplos de abordagens mediacionais para a obtenção de informações, que também são intrusivas. Em ambas as abordagens, os sujeitos podem não saber o que está sendo investigado, mas sabem que estão sob escrutínio.

Técnicas observacionais intrusivas são mais úteis na condução de pesquisas que pretendem construir teorias de caráter básico, ou no teste de produtos, do que no estabelecimento das questões que serão examinadas na práxis do projeto ambiental. Entrevistas e surveys, por outro lado, são amplamente utilizadas nos trabalhos profissionais.

Ao trabalharmos com patrocinadores ou com usuários dos projetos, os arquitetos tendem a usar as entrevistas pessoais para obter informações sobre as necessidades dos clientes, em detrimento do uso de outras abordagens mais estruturadas. No período recente, os projetistas ambientais e os programadores de edificações passaram a utilizar abordagens mais sistemáticas para delimitar amostras e para conduzir entrevistas e surveys da população que seus projetos envolveriam. Quando os potenciais usuários de um projeto em potencial não estavam disponíveis (como num projeto para uma

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edificação inteiramente nova ou um loteamento de um novo bairro residencial), os projetistas escolhem uma população “substituta” (com características assemelhadas àquelas dos usuários ou dos residentes em potencial). Tais técnicas são vitais para a compreensão, por parte dos projetistas, das aspirações e esperanças de seus clientes, quanto ao seu futuro. São também úteis no trabalho de coleta de dados acerca dos sistemas de atividades. É mais fácil e rápido obter informação desse modo do que proceder a observações sistemáticas. As técnicas de entrevistas e de survey, no entanto, também apresentam alguns problemas básicos – o que é bem sabido pelos projetistas ambientais que as têm utilizado. Esses problemas colocam limites na expectativa de validade dos resultados obtidos, e devem ser reconhecidos por aqueles que usam essas técnicas (Goodrich, 1974; Marans, 1975).

É fácil produzir falsas conclusões a partir dos resultados de surveys e entrevistas. Os respondentes nem sempre acham possível verbalizar seus sentimentos; muitas vezes eles têm uma experiência muito limitada quanto aos assuntos que o entrevistador traz para o exame, podem mesmo não ter a menor idéia das possibilidades abertas para eles mesmos [pelo menos segundo a teoria em mãos do entrevistador], e muito menos entendem qual a relação entre o presente estado do ambiente e suas preferências e ações. As respostas que podem dar às elaboradas questões provavelmente falarão mais delas próprias, e favorecerão os aspectos do assunto com que têm familiaridade. Há um bom número de novas técnicas que foram concebidas para superar essas limitações. Enquanto algumas delas foram usadas na prática profissional, não se tornaram, ainda, parte integrante, cotidiana, das rotinas de pesquisa de muitos projetistas.

Algumas dessas técnicas envolvem o uso de desenhos, para sejam obtidas respostas não-verbais (ver Van der Ryn e Silverstein, 1967); outras envolvem o registro das ações pelos respondentes, pedindo-lhes que mantenham anotações acerca dos tempos e tipos de suas atividades, bem como dos lugares e situações em que as iniciam e finalizam (time budgets) (Michelson & Reed, 1975), ou ainda indicar suas atividades na vizinhança, anotando-as em fotos aéreas (Michelson, 1970). Uma outra técnica simples, na base do papel-e-lápis, que tem sido usada para descobrir informações essenciais para os objetivos do projeto são os jogos semi-projetivos, como o que os respondentes são solicitados a tomar decisões com respeito a opções oferecidas a eles (Sanoff, 1968). Apesar de todas essas inovações, as técnicas tradicionais de survey continuam a ser usadas generalizadamente, porque são relativamente fáceis de administrar. Os projetistas estão reconhecendo as limitações dessas técnicas, e as estão suplementando com outras abordagens.

A qualidade da teoria substantiva que os projetistas usam como base para levantar questões afeta tremendamente a qualidade da informação obtida. Isso explica por que mesmo as mais sofisticadas técnicas para a obtenção de informação não irão, por si mesmas, produzir informações que levarão a resultados bem sucedidos em termos de projeto, seja qual for o critério de sucesso que utilizemos. A habilidade para elaborar boas questões de projeto depende crucialmente do domínio de um bom conhecimento substantivo

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Medidas não-intrusivas

Técnicas não-intrusivas são aquelas em que o sujeito não tem conhecimento de que está sendo estudado. Essas técnicas se prestam a gerar informação para o projetista ambiental acerca de como o ambiente em estudo é usado, sobre as tendências que as pessoas apresentam para comportar-se de determinadas formas, e sobre os desajustes entre os padrões de comportamento e os aspectos físicos do ambiente construído. As técnicas são usadas quando uma organização existente está sendo re-projetada, assim como para se poder estudar outras organizações assemelhadas, como forma de dar apoio à concepção de uma nova forma de organização (por exemplo, no projeto de uma nova área residencial, usando-se informação de projetos de áreas residenciais existentes). Há uma grande variedade de técnicas de observação que são não-intrusivas por natureza, assim como uma variedade de técnicas mediacionais – como a pesquisa bibliográfica, estudos de tipologias de edificações -, que são usadas pelos projetistas para corroborar a natureza dos problemas que estão trabalhando, sem que contatem diretamente os interessados ou os usuários do objeto a ser projetado. Isso levanta questões de ordem metodológica e de ordem ética. As questões metodológicas têm a ver com a habilidade que o pesquisador tenha em ser não-intrusivo nos estudos observacionais, e com a validade dos dados obtidos através de técnicas mediacionais; as questões éticas têm a ver com o direito dos pesquisadores de invadir a privacidade das outras pessoas. Um exame dos procedimentos envolvidos clarificará essas questões.

As técnicas observacionais não-intrusivas incluem experimentos naturais, a observação simples, a observação participante, e a observação de evidências físicas (Patterson, 1974). Experimentos naturais são aqueles em que o observador pode manipular alguns elementos do ambiente (por exemplo, erguendo barreiras para observar o comportamento de formação de filas), mas os seus sujeitos são simplesmente quem estiver no ambiente naquele momento. Observações simples envolvem o registro sistemático e rigoroso do comportamento que se manifesta, sem que haja tentativa alguma por parte do observador de manipular o ambiente ou de selecionar os sujeitos. “Observação simples” não é sinônimo de observação “fácil”. A observação participante envolve o observador, ele toma parte do sistema sob estudo (como em Gans, 1967). A observação de evidências físicas envolve o registro daquelas partes do ambiente que apresentam as marcas, os desgastes do uso, seus vestígios, ou que receberam partes novas, adições feitas com a intenção de satisfazer às necessidades dos usuários. Alguns projetistas deduzem o que é importante para as pessoas pela observação, por exemplo, de trilhas e marcas de passagem no piso, no gramado, ou do mobiliário, de adaptações feitas nos objetos, nas máquinas, nos compartimentos, em partes do edifício (Cooper, 1975).

Há um conjunto de técnicas observacionais “simples”, algumas com notável especificidade, que foram desenvolvidas para a pesquisa em ciências

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comportamentais, estão sendo usadas com freqüência crescente na programação do projeto ambiental, em particular no estudo dos ambientes públicos de vizinhanças e de espaços urbanos. Estas técnicas incluem a

survey de Cenários de Comportamento (Barker, 1968; LeCompte, 1974,

Bechtel, 1977; Wicker, 1979) e o mapeamento comportamental (Ittelson, Rivlin, e Proshansky, 1970). A primeira envolve o registro de todos os padrões de comportamento que existam em um dado lugar ou organização; esse último envolve o registro em um mapa ou malha (caso, por exemplo, se esteja lidando com uma sala) dos lugares onde as atividades ocorrem. Novas tecnologias ampliaram o potencial das técnicas observacionais. Alguns pesquisadores lançaram mão de filmagens (Carr & Schissler, 1969), enquanto outros usaram fotografias (Davis & Ayers, 1975) e a televisão (Helmreich, 1974; Scheflen, 1976) para o registro de eventos tão diversos quanto o modo de usar os espaços de apartamentos padronizados, por diferentes grupos étnicos, ou o uso de escadas, ou ainda o convívio em um habitat submarino.

É muito difícil, nas muitas situações estudadas para os propósitos da programação do projeto, ser sempre um observador não-intrusivo. É difícil ser não-intrusivo ao observar, por exemplo, como um escritório ou como uma casa é usada, apesar de técnicas que permitem a observação remota, como a televisão, chegarem perto disso; de modo geral as pessoas sabem que há um aparato de observação em volta delas. Na observação participante, a pessoa que se imiscui no comportamento cotidiano de uma organização ou de uma residência pode, certamente, afetar esses sistemas. O arquiteto Richard Neutra (1954) declarou que usava esse procedimento para ganhar uma melhor compreensão das famílias para as quais estava a projetar novas habitações, mas sua presença dificilmente se fez obstrusiva. Pode-se ser não-obstrusivo no exame de aspectos do ambiente físico, mas é fácil derivar conclusões errôneas acerca do que causa, do que está por detrás de tais aspectos.

Conclusões Acerca das Técnicas de Coleta de Informações

Não deve haver a menor dúvida de que todas as técnicas de coleta de informações associadas com as atividades analíticas possuem pontos fortes e pontos fracos. Não existe um método à prova de erros, que assegure que a informação que se vai coletando é totalmente confiável e válida. Para que se conquiste uma boa compreensão do envolvimento das pessoas com o ambiente, de seus sentimentos acerca da condição presente do ambiente, e de suas aspirações para o futuro, deve-se lançar mão de uma variedade de técnicas de coleta de informações. Na prática, o uso da técnica mais apropriada para uma tarefa particular é freqüentemente relegado em favor das técnicas mais fáceis de implementar, mais baratas, mais rápidas de usar e obter resultados. Qualquer que seja a combinação de técnicas que se use, se esta combinação implicar em exame da situação problematizada, isso acaba por mostrar que, em essência, trata-se de um ambiente disfuncional, ao qual as pessoas adaptaram-se. Isso é particularmente verdadeiro se examinarmos uma

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organização existente em uma localidade física determinada. Ao passo que os projetistas estão, em geral, buscando as inadequações entre o comportamento e o ambiente, como sua base para desenvolver a programação arquitetônica, eles também buscam reconhecer os aspectos de ajustes bem sucedidos. Discernir esses aspectos é bem mais difícil.

Há também que considerar os aspectos éticos. Ao projetarmos para uma organização específica, abrem-se oportunidades para que se desenvolvam estudos que serão diretamente benéficos para a organização. Ainda assim, pode se tornar necessário que determinados estudos não sejam preliminarmente explicitados, com a finalidade de não criar dificuldades para a obtenção de informações pertinentes, e de importância para as pessoas. Tal conduta é aceita, em muitos casos. Se a maioria das pessoas é cientificada da condição de observação a que estão submetidas, de que estão a ser examinadas inobstrusivamente através de câmaras, por um lado, não está, em definitivo, solucionado o questionamento da legitimidade dessa mesma conduta, por outro lado.

ANALISANDO A INFORMAÇÃO

Há uma tendência entre arquitetos, paisagistas, planejadores e desenhistas urbanos, a realizarem a coleta de dados por sua própria conta e risco. Disso resulta uma interessante “estilização” do processo analítico. O projetista acredita que há determinados dados que devem ser expostos mesmo que não tenham impacto no processo de projetação, em seu raciocínio mais elementar. Há custos a considerar nesses hábitos mentais, pois já se tem observado que o trabalho não-criativo embaraça os esforços criativos (Simon, 1960). O modo como os projetistas lidam com a informação e geram idéias é, assim, uma parte importante do esforço de inteligência através de todas as fases da práxis de projeto ambiental.

Muitas vezes chega-se a confundir o registro de dados com sua interpretação. Um modo básico de análise de informação por parte dos projetistas ocorre pela comparação de uma situação com outra. Nesse sentido, o uso da estatística é obviamente útil (ver Ferguson, 1966; Broadbent, 1973), mas a estatística raramente é usada pelos projetistas. Os dados que vêm a interessar na programação e no projeto são freqüentemente intratáveis através da análise estatística – ainda que algo parecido com o uso de estatísticas descritivas e inferenciais podem passar pela cabeça do projetista.

Alguns projetistas têm achado as técnicas usadas pelas ciências comportamentais – como a análise sociométrica e a análise de conteúdo – úteis como instrumental analítico. A análise sociométrica (Lindzey & Borgetta, 1959) preocupa-se com a distribuição especial do comportamento social. Este tipo de análise é útil para que se compreendam as organizações sociais, tanto as formais quanto as comunitárias, e como elas usam o ambiente construído. É útil identificar a localização física de indivíduos dentro de um grupo maior, bem como realizar testes sobre a posição social de uma pessoa (e sobre os valores estéticos associados e essa posição social) e os padrões de uso do ambiente.

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A análise de conteúdo (Fellman & Brandy, 1970; Krippendorf, 1980) é usada no estudo das atitudes das pessoas pela análise do que elas dizem sobre o sujeito em observação.

Várias técnicas são utilizadas pelos projetistas para apoiar a sua percepção das relações entre variáveis. Técnicas envolvendo matrizes (ver, por exemplo, Sanoff, 1968) permitem a exposição de relações entre os componentes de um problema. A “análise morfológica” (Zwicky, 1948) é usada para o mesmo propósito, essencialmente. Trata-se de uma técnica que os projetistas usam para forçar-se a pensar sobre possíveis relações entre variáveis, através da elaboração de listagens de atributos dos problemas, de sua categorização, e da determinação de todas as combinações possíveis que podem ser derivadas das ligações estabelecidas entre seus atributos. Isso é possível apenas para problemas que possuem poucas dimensões-chave, realmente importantes, dado que as combinações possíveis entre atributos crescem exponencialmente na medida em que o número de variáveis cresce. A “sinética” (synectics), assim como a análise morfológica, é entendida de modo geral como um método de gerar projetos, mas também é usado como um método de analisar as relações entre fenômenos. Pertence à ampla classe dos procedimentos de “tempestade cerebral” (brainstorming) que são amplamente usados pelos projetistas ambientais, ainda que isso se dê de modo muito menos sistemático que os seus defensores recomendam. A Sinética, assim como os procedimentos de brainstorming como um todo (ver Orborne, 1957) auxiliam os projetistas a examinar o seu subconsciente, seus preconceitos e intuições. A Sinética lança mão, em particular, de analogias, de metáforas e símiles, com que se tenta liberar a mente dos modos tradicionais de pensar (Broadbent, 1773, Koberg & Bagnall, 1974).

O modo como os projetistas ambientais incorporaram essas e outras técnicas nas suas práticas ordinárias não foi ainda estudado sistematicamente. Há várias referências e relatos de que o uso de técnicas auxiliares à projetação é essencialmente incremental, volitivo – em alguns casos são usados com muita freqüência, em outros casos praticamente não são usados. A novidade do nosso tempo é o crescente uso de técnicas mais sistemáticas na medida em que os problemas se tornam mais complexos. Essa complexidade se faz acompanhar, de modo geral, com uma lacuna que se amplia na mesma proporção, entre arquitetos e clientes, os projetistas identificam nas abordagens sistemáticas um instrumental útil não apenas para seus próprios esforços analíticos, mas também para expor suas informações para as outras pessoas. Enquanto essas abordagens podem auxiliar a práxis do projeto ambiental, elas não eliminam as dificuldades inerentes aos trabalhos analíticos. O processo analítico é central no projeto ambiental. O processo de decompor os problemas em seus componentes é fundamental para a programação, e tem sido descrita por muitos arquitetos (tal como Le Corbusier, 1923). O modo como isso é feito decisivamente dá forma ao produto resultante. O projetista não tem como objetivo o acúmulo de um corpo de dados não relacionados de vai se agigantando durante sua fase de inteligência, apesar de algumas apresentações dessa massa de informações poder sufocar seus clientes.

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Peças isoladas de informação dificilmente são de utilidade para o projetista; elas devem ser organizadas em um padrão discernível, inteligível. As ciências comportamentais têm oferecido uma variedade de técnicas para o aprimoramento das habilidades dos projetistas, nesse sentido. As técnicas, em si mesmas e por melhores que possam ser, de modo algum asseguram que a informação seja efetivamente organizada nos termos dos objetivos do projeto. Os projetistas devem ser capazes de levantar as questões mais apropriadas para cada caso; um corpo teórico consistente é uma importante condição para isso.

CONCLUSÃO

Os programas arquitetônicos são criados, projetados. Toda a fase de inteligência do projeto envolve uma série de decisões carregadas de valores. Baseia-se ma formulação de questões sobre o presente e o futuro. Quanto mais se compreende a situação existente e a natureza do ambiente que se experiencia, quanto mais se compreende a tecnologia disponível para a obtenção de informações e para comparar uma situação com a outra, tanto maior a confiança que o projetista tem em sua capacidade de responder bem às necessidades das pessoas envolvidas. Uma boa teoria substantiva é essencial para saber onde e o quê procurar, quais as questões a serem feitas. Se, no entanto, o projetista assume a posição normativa de que é irrelevante ser receptivo e comprometido com as necessidades dessas pessoas envolvidas, no processo de projetação como um todo, então boa parte do que se colocou neste capítulo é também irrelevante.

Leituras Adicionais

Churchman, C. West, Russel L. Ackoff, E. Arnoff, e E. Leonard. “Formulation of the Problem”, em Introductio to Operations Research. Nova Iorque: John Wiley, 1967, pp. 105-135.

Koberg, Don, e Jim Bagnall. “Introduction to Analysis”. Em The Universal

Traveler. Los Altos, Califórnia: William Kaufman, 1974, pp. 46-65.

Palmer, Mickey A. The Architect´s Guide to Facility Planning. Washington, D.C.: AIA e Architectural Records Books, 1981.

Peña, William. Problem Seeking. Chicago: Cahners Books, 1977.

Preiser, Wolfgang (editor). Facility Programming: Methods and

Applications. Stroudsburg, Pennsylvania: Dowden, Hutchinson and Ross, 1978.

Sanoff, Henry. Methods of Architectural Programming. Stroudsburg, Pennsylvania: Dowden, Hutchinson and Ross, 1977.

Zeisel, John. “Research and Design Cooperation”, em Inquiry by Design:

Tools for Environment-Behavior Research. Monterey, Califórnia: Brooks / Cole,

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PLANO DA TRADUÇÃO PARA A REVISTA ELETRÔNICA “PARANOÁ”

- São 22 (vinte e duas) “apostilas”, capítulo a capítulo do livro, com o agrupamento das introduções a cada uma das Partes e seções do livro, e seus respectivos capítulos iniciais. A presente “apostila” é mostrada em vermelho, contra o conjunto das demais “apostilas”. Com isso se pretende que o livro

Creating Architectural Theory, de Jon Lang, possa servir como livro texto em

disciplina sobre teoria da arquitetura e do projeto. Prefácio

PARTE 1. O MOVIMENTO MODERNO, TEORIA DA ARQUITETURA E AS CIÊNCIAS SOCIAIS

1.O Legado do Movimento Moderno 2.A Natureza e Utilidade da Teoria

3.As Ciências Comportamentais e a Teoria Arquitetônica

PARTE 2. TEORIA ARQUITETÔNICA EXPLÍCITA: Conceitos de Práxis e Conceitos de Ambiente

TEORIA DE PROCEDIMENTOS Metodologia de Projeto

4.Modelos de Práxis do Projeto Ambiental

5.Atividades de Inteligência e a Fase de Inteligência 6. Projetação e a Fase do Projeto

7. Decisão e a Fase da Decisão TEORIA SUBSTANTIVA

O Ambiente e o Comportamento Humano

CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE AMBIENTE E COMPORTAMENTO HUMANO

8.A Natureza do Ambiente

9.Processos Fundamentais do Comportamento Humano 10.O Ambiente Construído e o Comportamento Humano PADRÕES DE ATIVIDADES E O AMBIENTE CONSTRUÍDO

11.A Situação Física Envolvente do Comportamento: Uma Unidade para a Análise e Projeto Ambientais

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12.Antropometria e Ergonomia

13.Mapas Espaciais e Comportamento Espacial

14.Privacidade, Territorialidade e Espaço Pessoal – Teoria Proxêmica 15.Interação Social e o Ambiente Construído

16.Organização Social e o Ambiente Construído

VALORES ESTÉTICOS E O AMBIENTE CONSTRUÍDO 17.Teoria Estética

18.Estética Formal 19.Estética Simbólica

PARTE 3. TEORIA NORMATIVA DO PROJETO AMBIENTAL Polêmica e Prática

20.Compreendendo as Teorias Normativas do Projeto Ambiental

21.Questões Sócio-Físicas Contemporâneas no Projeto Ambiental – Uma Instância Normativa

Referências

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