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Estudo da diversidade genética de raças caprinas do norte da Itália pela análise de polimorfismos no gene do hormônio de crescimento - GH.

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Academic year: 2017

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I. Introdução

Com o objetivo de conservar a diversidade de espécies de interesse zootécnico, tais como ovinos, bovinos e caprinos, diversos países da União Européia, dentre os quais, França, Alemanha, Holanda e Itália, estão elaborando, em conjunto, um banco de dados genômicos de espécies de animas de produção alimentar. Na Itália este trabalho está sendo desenvolvido desde o ano de 2003 por um Consórcio formado pelas seguintes entidades: os departamentos de Ciências Veterinárias e Ciências Agrárias da Universidade de Milão; o Instituto de Biologia e Biotecnologia Agrária (IBBA) do Conselho Nacional de Pesquisa (CNR) e a Fundação Parque Tecnológico Padano (FPTP) do Centro de Pesquisa Agropecuária (CERSA). O projeto onde foi desenvolvida a seguinte pesquisa foi estabelecido com o respaldo da Food and Agricultural Organization of the United Nations (FAO) e da European Association of Animal Production (EAAP), e o financiamento da Regione Lombardia, com os objetivos claros do estabelecimento de parâmetros básicos para a elaboração dos programas de conservação de germoplasma das raças caprinas criadas exclusivamente no Norte da Itália. Segundo Scherf (1995), como resultado da progressiva diminuição mundial do número de raças animais criadas e a conseqüente erosão da diversidade do conjunto de genes disponíveis para o melhoramento genético, o conhecimento da variabilidade genética intra e inter racial raças é fundamental para a escolha das populações a serem conservadas com maior prioridade.

I.1. Conservação da biodiversidade

Em 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92), que contou com a participação de 170 países, entre eles o Brasil, foi assinada a Convenção da Diversidade Biológica - CDB que versa o seguinte:

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tais recursos e tecnologias, e mediante financiamento adequado” (CDB, Ministério do Meio Ambiente).

A preservação da biodiversidade e dos recursos genéticos, assim como a necessidade de se traçar planos e estratégias para o uso sustentável dessa diversidade, é uma meta de grande importância para pesquisadores e entidades públicas e privas de todo o mundo. A FAO, na qual o Brasil participa como membro do Conselho, define diversidade como o nível de polimorfismo genético. O pensamento de Crossa et al (1993) reflete essa realidade quando diz que a diversidade genética intra populações depende do número e da freqüência dos alelos de todos os loci. Esse conceito é difícil de ser expresso com precisão, podendo ser definido como “Variedade”, “Diferenças entre”, e ”Dissemelhanças entre indivíduos e populações”. Na natureza essa variedade é visível pelas ações dos genes sobre os indivíduos, somadas ao meio ambiente - o perfeito conceito de fenótipo.

As estratégias de conservação são classificadas como in situ ou ex situ. In situ refere-se à manutenção de rebanhos de raças diferenciadas nos próprios locais de criação e populações selvagens. Já a conservação ex situ se dá quando são realizadas atividades de crio-preservação de material genético (sêmen, embriões e óvulos, p ex.) e manutenção de rebanhos em fazendas experimentais ou zoológicos. Como citado por Azevedo e Young (2003), a preservação in situ envolve estratégias de conservação da população em seu ambiente natural, enquanto a preservação ex situ trata da conservação das espécies fora do ambiente natural, em cativeiro. As estratégias de conservação in situ e ex situ são complementares; indivíduos de populações cativas podem ser periodicamente soltos na natureza, aumentando em número de indivíduos das populações naturais e reduzindo, a princípio, as chances de extinção daquela espécie. Ambos possuem como objetivo a manutenção do maior número possível de alelos nas populações que compõem a espécie, entretanto, a conservação ex situ mostra ser a forma mais confiável de manutenção da variabilidade, devendo seu uso ser aliado e suplementado com as técnicas in situ (Oldenbroek, 1999).

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I.2. Conservação da diversidade de espécies de interesse zootécnico

No que se refere a animais de interesse zootécnico, a manutenção de diversas raças, com baixo nível de endogamia, é um passo importante para a conservação de alelos e de suas ações sobre o indivíduo, o que é essencial para o sucesso a longo prazo dos programas de melhoramento animal. As populações/raças diferenciadas são bancos de reserva genética de alelos diversos, proporcionando uma reserva estratégica para que se possa atender a novos direcionamentos na produção animal e/ou reagir no caso do surgimento de novas doenças infecciosas. Além disso, a preservação de raças locais é importante para a manutenção de tradições culturais, como a fabricação de produtos típicos, por pequenos produtores, associados aos costumes regionais (Oldenbroek, 1999).

I.3. A origem da espécie caprina

A origem exata da cabra doméstica ainda permanece uma incógnita, mas tudo indica que tenha sido originária das cabras selvagens do Período Quaternário, o qual teve início a 1,8 milhões de anos e se estende até hoje. As principais espécies selvagens ainda existentes são: Capra prisca, Capra falconeri e Capra aegagrus, sendo que esta última exerce uma maior influência na origem da cabra doméstica, a Capra hircus (Milanesi et al, 2001). Os descobrimentos de diversos registros fósseis revelam indícios do surgimento da espécie caprina na era Neolítica (por volta de 6.000 a 4.000 de anos A.C.) em regiões como a Palestina e o Irã (Rubino, 1996). Uma peça em exposição no museu do Louvre em Paris, França mostra a imagem de um desenho impresso em pedra oriunda da região Mesopotâmia datada do terceiro ou quarto século A.C. e retrata o desenho de um homem carregando um exemplar animal da espécie caprina (Figura I.1).

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Figura I.1: Imagem de um desenho impresso em pedra oriunda da região Mesopotâmia datada do terceiro ou quarto século A.C. Retrata o desenho de um homem carregando um exemplar animal da espécie caprina. Peça em exposição no museu do Louvre em Paris, França.

No Brasil a espécie caprina foi introduzida, principalmente na região Nordeste, pelos colonizadores portugueses no século XVI (Maia et al, 1997). Foram trazidas ao país principalmente raças oriundas da região Ibérica - Portugal e Espanha. Contudo introduções de raças da região dos Alpes também foram feitas. Aproximadamente 93% do rebanho nacional de caprinos se encontra no Nordeste, como mostra a tabela I.1 (dados disponíveis do censo de animais domésticos extraídos do site do IBGE).

Tabela I.1: Tamanho dos rebanhos caprinos no Brasil e na região nordeste em 2003. Valor em número de animais. Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal.

Região Geográfica Número de animais Brasil (total) 9.581.653

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I.4. A criação da espécie caprina

As mais diversas espécies animais são criadas para consumo humano em todo o mundo, seja para a produção de carne, leite e derivados, utilização de seu couro e outros. Entretanto, existem regiões onde a criação de animais de grande porte (i.e. bovinos) é prejudicada por condições climáticas e/ou geográficas desfavoráveis. Além disso, em algumas regiões raças comerciais selecionadas para alta produtividade não se adaptam bem, sofrendo a ação de intempéries das condições locais e não alcançando todo seu potencial produtivo. Nessas situações, existe a possibilidade de fazer-se uso de raças locais, já adaptadas a condições adversas que, mesmo não possuindo a capacidade de alta produção das raças comerciais, fornecem produtos com baixo custo de manutenção dos animais.

A caprinocultura é difundida em todo o mundo, existindo desde criações familiares para subsistência, até fazendas com grandes rebanhos caprinos para a produção em larga escala, principalmente de leite e derivados. Historicamente, a criação de cabras no Brasil tem sido realizada de modo extensivo com pouco direcionamento para o melhoramento de qualidades específicas das raças. Como descrito em Araújo et al (2002), atualmente no Brasil ainda não existem programas nacionais amplos e consistentes de melhoramento genético para caprinos, seja para a produção de carne ou leite.

A cabra doméstica já chegou a ser classificada de "gado do homem pobre" (Rubino, 1996) e teve sua produção ampliada com base na sua capacidade de adaptação a ambientes hostis com extremos de temperatura, escassez de água, terrenos acidentados e ausência de pastagem abundante e de boa qualidade. Tal característica é elemento essencial no que se refere à sua produção, principalmente em regiões com essas características. Esses animais mantiveram sua rusticidade ao longo do processo de domesticação e tornaram-se extremamente adaptados à baixa oferta alimentar. A grande maioria das raças produz bem em pastagens naturais, de baixa qualidade nutricional, sem suplementação. Apresentam seletividade aos tipos de vegetais quanto ao paladar, às concentrações de nitrogênio, de cálcio, de ferro e de fósforo (Fedele, 1996) e possuem uma capacidade de aproveitamento nutricional elevada. Estudos mostram que caprinos alimentados com vegetais de baixo teor protéico demonstram uma adaptação na composição salivar que permite uma maior absorção de nutrientes (Skjeldal, 1971 e Harmeyer et al, 1980).

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um alimento alternativo de muita importância para a alimentação de crianças subnutridas e/ou que não podem ser amamentadas com leite materno. Citado em Desjeux et al (1993), o leite de cabra, quando comparado ao leite bovino, possui uma maior quantidade de ácidos graxos de cadeia curta, os quais são digeridos mais facilmente que os de cadeia longa. O aproveitamento digestivo do leite de cabra chega ser de 90-95% do total ingerido, o que o torna muito indicado como alimento para crianças que não podem fazer uso de leite materno ou de outras fontes animais. Um outro fator que contribui para a melhor digestão do leite caprino se deve à dimensão reduzida dos glóbulos de gordura (Chandan et al, 1992). Além disso, o coágulo formado pelo leite de cabra quando em contato com o sistema digestivo humano é menos consistente e sofre mais facilmente a ação das proteases presentes no estômago, sendo então melhor absorvido (Jenness, 1980).

I.4.1. A produção caprina na Itália

A Itália é dividida em 20 regiões administrativas pertencentes a três grandes regiões geográficas: Norte, Centro e Sul (Figura I.2). Possuindo um território de cerca de 30 milhões de hectares, o norte da Itália é caracterizado por um relevo acidentado recortado por montanhas e colinas (anexo I). A produção animal desenvolvida de forma intensiva se limita às regiões de planície e utiliza raças melhoradas e de alta produtividade. No entanto, em regiões de geografia desfavorável, o uso dessas raças pode não alcançar todo o potencial de produção, uma vez que se afrontam problemas de ordem de adaptação dos animais às condições locais, tais como o clima, o terreno, a vegetação local, parasitas eventuais, etc. O uso de raças locais, por sua vez, mostra-se a melhor opção por tratar-se de animais já naturalmente adaptados às condições existentes.

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O norte da Itália apresenta em grande parte de sua extensão condições adversas à produção de animais de grande porte. É uma região montanhosa e de vegetação escassa com um clima com extremos de temperatura e constantes variações pluviais. A utilização de espécies de pequenos ruminantes, como os ovinos e os caprinos, permite um aproveitamento dos recursos disponíveis com uma produtividade razoável. Esses rebanhos são utilizados para a subsistência de pequenos produtores, na comercialização de leite e derivados, especialmente de queijo e também na produção de cabritos. O povo italiano possui fortes tradições regionalistas no que diz respeito à produção e consumo de produtos alimentícios de origem vegetal e animal. Com isso, a utilização de raças locais, tradicionais de cada região, é amplamente difundida e associada à fabricação de produtos típicos, contribuindo para a riqueza de diversas tradições e costumes regionalistas.

I.4.2. A produção caprina no Brasil

No Brasil a produção de caprinos desempenha um importante papel econômico, por sua importância como fonte de leite, carne e fibra. A caprinocultura no nosso país tem estado em constante expansão nos últimos anos. De acordo com os dados do Centro Nacional de Pesquisa de Caprinos (CNPC) da EMBRAPA, na década de 70 havia em torno de 15 mil animais e hoje esse número encontra-se na casa dos oito milhões (http://www.cnpc.embrapa.br/artigo8.htm). A maior região produtora se localiza no Nordeste Brasileiro, onde a atividade é realizada principalmente por pequenos e médios produtores.

Vasconcelos e Vieira já afirmavam "A região Nordeste do Brasil tem sido escolhida como área de exploração à criação de pequenos ruminantes desde o início da entrada de rebanhos caprinos

no Brasil. A área de criação de rebanhos caprinos na região nordeste abrange uma área total de

166,2 milhões de hectares, dos quais 95,2 milhões (57 %) estão inseridos na zona semi-árida. As

microrregiões geográficas de Juazeiro (BA), Euclides da Cunha (BA), Alto Médio Canindé (PI),

Campo Maior (PI), São Raimundo Nonato (PI), Petrolina (PE) destacam-se como principais

produtoras de caprinos. No aspecto de densidade, as microrregiões Cariri Ocidental (PB) e Itaparica

(PE) destacam-se como as mais importantes. Cerca de 50 % do rebanho de caprinos do Nordeste

estão localizados em propriedades com menos de 30 ha." (retirado do site CNPC - EMBRAPA

http://www.cnpc.embrapa.br/artigo8.htm em dezembro/2004).

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ao desenvolvimento da produção caprina no Brasil. Habituados a se alimentar de forma difusa e não específica, os caprinos também requerem pouca suplementação nutricional e se adaptam bem à escassez hídrica.

Uma outra importante característica dos caprinos é referente à sua capacidade reprodutiva. As fêmeas da espécie caprina, assim como as da espécie ovina, são poliéstricas estacionais, tendo a primavera como época mais favorável para os nascimentos (Amoah, 1984; Meredith, 1996). Reguladas pela intensidade luminosa, as fêmeas são estimuladas a entrarem no cio em estações de pouca luminosidade do dia e inibidas em estações de alta intensidade (Cole, 1979; Meredith, 1996). Em regiões de clima temperado, as fêmeas não apresentam cio durante a primavera e o verão (anestro). Já em zonas tropicais a intensidade luminosa praticamente não apresenta variação durante o ano, o que leva a uma condição poliéstrica não estacional, podendo ocorrer o cio mais vezes ao ano (Hafez, 1995).

Todos os fatores citados contribuem para o desenvolvimento da caprinocultura no Brasil. E mais, programas de conservação de germoplasma e melhoramento estão sendo implementados e melhor estruturados, utilizando além das ferramentas tradicionais, as metodologias mais modernas (marcadores moleculares, etc). As principais raças desenvolvidas e criadas no Brasil são: Moxotó, Canindé, Repartida e Marota. Existe também uma população de animais "Sem Raça" ou "Undefined Breed" (UDB), que representa o maior grupo encontrado no Nordeste. Nesse grupo estão os animais que não podem ser encaixados em nenhuma definição racial específica. Compreende todos aqueles animais com diferentes colorações de pelagem assim como os diversos cruzamentos com raças importadas (Igarashi et al, 2000).

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pode vir a melhorar a condição financeira dos pequenos produtores e fazendeiros de áreas desfavorecidas economicamente.

A meta de conservar os recursos genéticos e melhorar as condições dos pequenos produtores rurais tem sido foco de programas nacionais e internacionais, não só em países em desenvolvimento, mas também em países da Comunidade Européia. A produção animal local vem perdendo espaço no mercado produtor devido à alta competitividade dos grandes criadores, os quais utilizam raças selecionadas e de alta produtividade (Rubino, 1996). Além de gerar problemas sociais, como o desemprego e o êxodo rural, esse fenômeno contribui para erosão da variabilidade genética e até a extinção de raças locais de animais importantes para a pecuária.

I.5. O estudo da diversidade genética de populações

Entre as metodologias disponíveis para o estudo de populações a utilização de marcadores moleculares é amplamente aplicada para caracterizar a variabilidade genética e a estrutura de populações/raças. As aloenzimas (Murphy et al, 1996) e a tipagem sangüínea (Bowling, 1994 e Blott, 1998) foram inicialmente utilizados como ferramentas para avaliar a variabilidade genética intra e inter populacional de animais de interesse pecuário. Com o desenvolvimento das ferramentas de biologia molecular e marcadores genéticos com base no DNA, surgiram novas metodologias para a realização desses estudos. Em humanos, os polimorfismos de microssatélites e da inserção Alu e YAP são os exemplos mais significativos (Hammer e Horai 1995; Thomas et al. 2000; Tarazona-Santos et al. 2001).

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co-dominante, os denominados RFLP (Restriction Fragment Length Polymorphism) (Botstein et al, 1980) e SSCP (Single Strand Conformation Polymorphism) (Orita et al, 1989) podem estar baseados também em regiões codificantes, em genes de cópia única e função conhecida e descrita, e caracterizam polimorfismos na ocorrência da troca de um único nucleotídeo conhecido como SNP (Single Nucleotide Polymorphism) (Wang et al, 1998).

Para a realização desse estudo, foram selecionadas as técnicas de SSCP e Sequenciamento direto dos produtos de PCR para obtenção de dados moleculares de diversidade genética. O SSCP é gerado a partir da associação da variação na mobilidade de um fragmento de DNA de aproximadamente 400 pb em gel de poliacrilamida não desnaturante devido a polimorfismos nas seqüências nucleotídicas. Em condições não desnaturantes, fitas simples de DNA interagem entre si e assumem conformações determinadas por interações intramoleculares de acordo com sua composição nucleotídica. Fragmentos do mesmo comprimento (número de bases) podem assumir diferentes conformações devido a mutações pontuais em suas seqüências. O gel de poliacrilamida possui um alto poder de resolução que permite a diferenciação de fragmentos polimórficos com substituição de uma única base (Orita et al, 1989). Esse tipo de marcador é utilizado em amostras amplificadas por PCR a partir de genes conhecidos ou até mesmo a partir de regiões aleatórias do genoma.

A maior parte dos estudos utilizando-se a técnica de SSCP se limitam a descrição dos polimorfismos naturalmente presentes. Ainda que em alguns estudos de caracterização genética de populações naturais ou domesticadas tenham utilizado essa técnica (Koichiro et al, 2004; Rubio et al, 2001; Kong et al, 2000 e Diaz-Almela et al, 2004), a mesma não é a mais usualmente aplicada a estudo de genética de populações. A grande vantagem dessa ferramenta é a possibilidade de uma rápida varredura em busca dos polimorfismos na região estudada em questão e os baixos custos e simplicidade dos equipamentos necessários para sua geração.

I.5.1. O estudo da diversidade genética da espécie caprina

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et al, 2001). Entre os estudos direcionados para a população caprina italiana, destacam-se os trabalhos de Ajmone-Marsan et al (2001), investigando a variação genética em sete populações caprinas com a análise de marcadores AFLP, e o de Crepaldi et al (2001), correlacionando marcadores moleculares AFLP com medidas de traços morfométricos.

I.6. Genes relacionados a características de produção

Genes candidatos são aqueles que possuem função fisiológica conhecida e exercem controle sobre características de interesse como o crescimento, desenvolvimento e reprodução dos animais domésticos. Os estudos sobre os efeitos de genes candidatos sobre as características de produção animal (Rothschild & Soller, 1997) são baseados na relação entre os polimorfismos na seqüência de DNA com a variação fenotípica observada nos animais estudados. Vários estudos foram publicados com resultados da avaliação da correlação de polimorfismos encontrados em genes relacionados a características de produção em diferentes espécies de interesse zootécnico. Entre os vários estudos publicados podemos citar alguns genes já identificados, tais como: o gene da kappa-caseína (Medrano & Aguilar-Cordova, 1990) uma proteína responsável pela coagulação do leite e que está relacionada ao rendimento e a qualidade do queijo (Lin et al., 1992) e o gene da miostatina (GDF-8) que tem efeito sobre o crescimento e composição muscular e os estudos realizados já associaram os polimorfismos nesse gene com a típica musculatura dupla encontrada em bovinos das raça Belgian Blue e Piemontese (Mcpherron et al, 1997). Além desses, pode-se citar também o gene IGF-I (fator de crescimento-I semelhante à insulina) que foi relacionado à composição corporal animal, em murinos (Horvat e Mendrano 1995) e suínos (Yu et al. 1995).

I.6.1. O gene do hormônio do crescimento – GH

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hormônio liberador do GH (GHRH) (Spagnoli, 1996). Ainda de acordo com Spagnoli (1996), os efeitos do hormônio do crescimento são basicamente na formação dos ossos e crescimento dos orgãos, mediados pela ação endócrina do I. E ainda, o GH regula a atividade de IGF-I e aumenta a produção de proteínas específicas.

O nível de polimorfismo do gene do hormônio de crescimento já foi descrito em várias espécies de interesse zootécnico, inclusive no frango comercial - Gallus gallus (Stephen, 2001). Estudos anteriores descreveram os polimorfismos naturalmente encontrados na seqüência do gene do hormônio do crescimento e a correlação dos mesmos a diversos fatores relacionados às características de produção. Os polimorfismos já foram associados à quantidade de gordura do leite (Hoj et al., 1993 e Yao et al, 1996), ao peso ao nascimento (Rocha et al, 1992) e também à composição e qualidade da carne (Taylor et al, 1998) todos na espécie bovina. Além disso, existem estudos mostrando efeitos em relação à taxa de crescimento e à produtividade de leite também em bovinos (Wallis, 1989).

Um estudo com o GH bovino pelo método RFLP (Restriction Fragment Lenght Polimorphism) em machos da raça Nelore mostrou uma associação dos polimorfismos encontrados à variabilidade de peso dos animais ao nascer, na época do desmame e dos 10 aos 16 meses de idade (Unanian, 2000). A relação entre o sítio de restrição da enzima MspI localizado no íntron 3 do gene do hormônio do crescimento bovino e a quantidade de gordura no leite foi demonstrada por Lagziel et al (1996, 1999) e por Dybus et al (2002). A associação dos polimorfismos do GH bovino com parâmetros da curva de crescimento foi descrita por Paro de Paz et al (2004). O trabalho relatado por Falaki e colaboradores (1996) mostrou as relações entre polimorfismos do gene GH e do Receptor do GH com características de produção do leite em bovinos.

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I.7. Metodologias utilizadas

No estudo realizado, a prospecção de polimorfismos no gene GH foi efetuada com duas metodologias distintas. Primeiramente utilizou-se a técnica de SSCP - Single Strand Conformation Polymorphism (Orita et al, 1989) para uma rápida varredura das amostras coletadas. O padrão esperado de uma banda polimórfica SSCP está representado na figura I.3 onde o homozigoto para a mutação é representado por duas bandas e os heterozigotos por três ou mais.

Figura I.3: Diagrama esquematizando o padrão esperado das bandas polimórficas SSCP em um gel de poliacrilamida. http://delfran.free.fr/Xchange/cours/SSCP.gif.

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estudos de associação dos polimorfismos observados em genes e seus efeitos no fenótipo (Rasfalki, 2002 e Bhattramakki, 2002).

A utilização do sequenciamento direto de produtos de PCR de vários indivíduos como método de busca dos SNPs é a maneira mais simples de busca pelos polimorfismos pontuais (Shattuck-Eidens, 1990). Na reação utilizam-se os próprios iniciadores usados para amplificação do fragmento. Com o auxílio de ferramentas da Bioinformática é possível comparar as seqüências de DNA de inúmeras amostras, geradas para o gene escolhido, em busca de variabilidade entre elas.

Para a estimativa de distância genética entre as raças, um número representativo de animais de cada população/raça é escolhido e genotipado com certos marcadores, bioquímicos ou moleculares. Baseados nas frequências alélicas encontradas, as distâncias genéticas entre as raças podem ser estimadas e utilizadas na construção de árvores filogenéticas. Esse tipo de dados permite a identificação genética de raças únicas (Ruane, J. 1999). O cálculo de distância genética entre as raças a partir dos métodos de detecção de SNPs pode ser baseado na freqüência da variabilidade genética dos animais é realizada utilizando-se a freqüência do SNP ocorre intra e entre as populações / raças.

I.8. As raças estudadas

No presente projeto foram estudas seis raças locais originárias do norte da Itália - Bionda dell'Adamello, Ciavenasca, Frisa, Orobica, Valdostana, e Val Passiria; duas populações de raças comerciais - Camosciata dell'Alpi e Saanen e ainda amostras de duas populações distintas de cabras consideradas de uma raça "primitiva", de nome Trentina (da região de Trento) e Lariana (da região de Pianello Lario). Essas raças locais são definidas como autóctones, ou seja, são populações que apresentam características típicas bem evidentes e são criadas em zonas geográficas específicas.

I.8.1. Bionda dell'Adamello

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mediano (peso de animal vivo adulto chegando a 56kg e altura de 73cm), orelhas eretas, cabeça pequena, perfil fronto nasal retilíneo, nunca côncavo, chifres aplanados de comprimento não muito longo e freqüentemente ausente. A pelagem é uniformemente longa de coloração clara caracterizada por áreas de pêlos brancos - focinho, contorno das orelhas, extremidade das patas, zona períneo-escrotal (cauda e abdômen). Curiosamente em italiano a palavra "Bionda" significa "Loira". Na figura I.4 está representada uma foto de um exemplar dessa raça.

Os produtos típicos dessa raça são: "Fatulì", um queijo defumado, originariamente com ramos de zimbro (Juniperus communis). É o único exemplo na Lombardia de produto caseiro relacionado exclusivamente a uma raça, hoje inserido na relação de produtos alimentares tradicionais (DM n°130 de 18.7.2000).

Imagem

Figura I.1: Imagem de um desenho impresso em pedra oriunda da região Mesopotâmia  datada do terceiro ou quarto século A.C
Figura I.2: Mapa da Itália evidenciado as principais regiões geográficas. Norte em cinza  claro, Centro em branco e Sul em cinza escuro
Figura I.3: Diagrama esquematizando o padrão esperado das bandas polimórficas SSCP em  um gel de poliacrilamida
Figura I.4: Foto de uma cabra da raça Bionda. Foto extraída do site  www2.unipr.it/~sabbioni/limitdif/locali.htm.

Referências

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