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Upgrading no cluster de rochas ornamentais do Espírito Santo, Brasil

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Academic year: 2023

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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING PROGRAMA DE MESTRADO EM GESTÃO

INTERNACIONAL

MARIA LAURA FERRANTY MAC LENNAN

UPGRADING NO CLUSTER DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL

São Paulo

2012

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MARIA LAURA FERRANTY MAC LENNAN

UPGRADING NO CLUSTER DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL

Dissertação de mestrado apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração, com ênfase em Gestão Internacional, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM.

Orientador: Prof. Dr. Ilan Avrichir

São Paulo

2012

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Maria Laura Ferranty Mac Lennan

UPGRADING NO CLUSTER DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO ESPÍRITO SANTO, BRASIL

Dissertação de mestrado apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração, com ênfase em Gestão Internacional, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM.

Aprovado em 20 de dezembro de 2012.

BANCA EXAMINADORA

Presidente: Prof. Ilan Avrichir, Doutor – Orientador, ESPM

Membro: Prof. Marcos Amatucci, Pós doutor, ESPM

Membro: Prof. Afonso Carlos Corrêa Fleury, Livre docente, USP

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Olivia Tirello, superintendente do Centro Rochas, e sua equipe pelo apoio na realização da presente pesquisa. Seu auxilio foi fundamental no acesso às empresas participantes do estudo. Também aos entrevistados que gentilmente nos receberam em suas empresas e nos cederam seu tempo e informações que possibilitaram a elaboração deste trabalho.

À minha família que sempre acreditou em mim.

Aos meus colegas de mestrado. Sua companhia foi um prazer. Em especial à amiga Viviane Yamasaki pela parceria em diversos trabalhos e apoio sempre.

Aos queridos amigos, em especial Helio Vogel, Lívia Moura, Daniel Silva, José Tiago Cardoso, Gabriel Chueke e Alcione Messa.

À Elisabeth Dau, Jeffer Lee Ariosa e Luis Alfredo P. Pessoa que me apoiaram muito em minhas atividades profissionais. Seria impossível concluir este trabalho sem a generosidade e o suporte de vocês.

À biblioteca da escola sempre solicita e pronta a ajudar. Débora Aquarone e time, muito obrigada.

E finalmente aos professores da ESPM. Ao prof. Ilan Avrichir pelo convite a me juntar à sua pesquisa. Ao professor Cleber Figueiredo por toda a orientação na análise dos dados estatísticos, e em especial aos professores do PMGI que sempre me desafiaram a ir além.

Recebam meu carinho e admiração.

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RESUMO

A presente dissertação verifica os efeitos da governança das cadeias de valor no upgrading das empresas do cluster de rochas ornamentais do Espírito Santo, Brasil. A metodologia quantitativa foi utilizada para atingir os objetivos propostos e responder ao problema de pesquisa. Mais especificamente foi conduzida uma survey com 32 empresas filiadas ao Centro Rochas, localizadas nas regiões de Cachoeiro do Itapemirim e Serras, Espírito Santo. Os dados foram analisados com o uso de técnicas estatísticas paramétricas e não paramétricas, dado o tipo de distribuição amostral. Os resultados indicam que as empresas do cluster estão inseridas em cadeias de valor de governança do tipo mercado, o desempenho exportador não apresenta relação direta com os percentuais exportados e finalmente que o upgrading das empresas e seus investimentos em marketing impactam na competitividade de suas vendas para o mercado externo.

Palavras-Chave: Cadeia Global de Valor, Upgrading, Cluster, Competitividade da Indústria, Indústria de Rochas Ornamentais, exportação.

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ABSTRACT

This research explores the effects of value chains governance for upgrading in the cluster of ornamental rocks in Espírito Santo, Brazil. The quantitative methodology was used to achieve the proposed objectives and respond to the research problem. More specifically, a survey of 32 companies affiliated to the Centro Rochas was conducted. Those are located in the regions of Cachoeiro do Itapemirim and Serras, at the State of Espírito Santo. Data were analyzed using parametric and nonparametric statistical techniques, given the type of sampling distribution. The results show that firms in the cluster are embedded in market type value chains governance, export performance has no direct relationship with the percentage exported and, finally, the firm’s upgrading and their marketing investments impact on their competivity in export sales.

Key words: Global Value Chain, Upgrading, Cluster, Industrial competition, Ornamental Rock Industry, exports.

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LISTA DE FIGURAS:

Figura 1: Distribuição dos clusters de rochas ornamentais e minerais do Brasil ...38

Figura 2: Etapas de industrialização das rochas ornamentais. ...41

Figura 3: Acabamentos. ...42

Figura 4: Fontes de Interação do cluster de rochas ornamentais. ...47

LISTA DE TABELAS: Tabela 1: Perfil da produção brasileira por tipo de rocha – 2011 ...37

Tabela 2: Distribuição regional da produção bruta de rochas no Brasil – 2011 ...38

Tabela 3: Cargo dos entrevistados ...57

Tabela 4: Teste T (médias) - Mercado Externo ...63

Tabela 5: Teste T (médias) - Mercado Interno ...64

Tabela 6: Resumo dos resultados da regressão linear simples ...66

Tabela 7: Mediana do percentual de vendas no mercado externo, percentual de faturamento investido em promoção e marketing, tamanho da empresa e upgrading ...70

Tabela 8: Cálculo do teste Mann-Whitney dos indicadores de upgrading das empresas da amostra ....71

LISTA DE QUADROS: Quadro 1: Clusters x GVC ...24

Quadro 2: Indicadores de upgrading ...27

Quadro 3: Indicadores de governança da cadeia de valor ...30

Quadro 4: Índice de referência dos testes estatísticos ...52

Quadro 5: variáveis de controle ...55

Quadro 6: variável GOV e sua composição ...58

Quadro 7: variável upgrading de processos e sua composição ...59

Quadro 8: variável upgrading de produtos e sua composição ...60

Quadro 9: variável upgrading funcional e sua composição ...61

Quadro 10: variável desempenho exportador e sua composição ...61

Quadro 11: Análise de consistência dos indicadores da pesquisa ...62

Quadro 12: Empresas filiadas ao Centro Rochas ...77

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LISTA DE SIGLAS:

ABICALÇADOS: Associação Brasileira das Indústrias de Calçados ABIMÓVEIS: Associação Brasileira das Indústrias de Móveis

ABIROCHAS: Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais APL: arranjo produtivo local

BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

Centro Rochas: Centro das Indústrias Exportadoras de Rochas Ornamentais CETEM: Centro de Tecnologia Mineral

CV: concentração de vendas ES: Espírito Santo

EUA: Estados Unidos da América IC: inteligência competitiva

IDS: Institute of Development Studies

GCC: global commodity chain ou cadeia de commodity global GOV: indicador governança da cadeia de valor

GVC: global value chain ou cadeia global de valor MCT: Ministério de Ciência e Tecnologia

ME: mercado externo MI: mercado interno

ONG: organização não governamental PIB: produto interno bruto

PMEs: pequenas e médias empresas P&D: pesquisa e desenvolvimento

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RE: desempenho exportador

SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequena Empresas SKU: stock keeping unit

UD: upgrading de produtos UF: upgrading funcional

UNCTAD: United Nations Conference on Trade and Development UP: upgrading de processos

LISTA DE GRÁFICOS:

Gráfico 1: Evolução das exportações brasileiras de rochas ornamentais ...39

Gráfico 2: Perfil da amostra por porte da empresa ...56

Gráfico 3: histograma upgrading de processo ...68

Gráfico 4: histograma upgrading de produto ...69

Gráfico 5: histograma de upgrading funcional ...70

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Sumário

1 INTRODUÇÃO ...12

1.1 O tema e sua justificativa ...12

1.2 Relevância da pesquisa ...13

1.3 Problema de pesquisa e objetivos específicos ...14

1.4 Vinculação à linha de pesquisa ...15

1.1 Contribuições previstas do estudo ...15

1.2 Estrutura da dissertação ...16

2 REFERENCIAL TEÓRICO ...17

2.1 Estudos de cadeia global de valor...17

2.2 Clusters ...18

2.3 Influência dos clusters e suas vantagens ...21

2.4 Clusters e GVC ...23

2.5 Cadeia de valor - de global commodity chain à global value chain ...25

2.6 Upgrading ...26

2.7 Governança ...28

2.8 Upgrading e governança ...31

3 O CLUSTER DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. ...34

3.1 Contexto internacional de produção e comércio de rochas ornamentais ...35

3.2 Contexto brasileiro em que o cluster esta inserido ...36

3.3 Exportações e importações brasileiras e considerações sobre o mercado interno ...39

3.4 Industrialização de rochas ornamentais do Espírito Santo ...40

3.5 Logística da cadeia de rochas ornamentais ...42

3.6 Principais aplicações do granito ...43

3.7 O cluster de rochas ornamentais do Estado do Espírito Santo, sua história na extração e beneficiamento de rochas. ...44

3.8 Entidades ligadas ao setor ...46

3.9 Feiras ...48

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4 METODOLOGIA ...49

4.1 Método de pesquisa e coleta de dados. ...49

4.2 Integridade dos resultados ...51

4.3 Construção das variáveis de pesquisa ...52

5 RESULTADOS ...56

5.1 Caracterização da amostra pesquisada ...56

5.2 Consistência dos dados e análise da sua distribuição amostral ...58

5.3 Análise das hipóteses de pesquisa ...62

5.3.1 Hipóteses H1 e H2 ...62

5.3.2 Hipótese H3 ...65

5.3.3 Hipótese H4 ...67

6 CONCLUSÕES ...74

6.1 Limitações da pesquisa ...75

APÊNDICE 1: Empresas filiadas ao Centro Rochas ...77

ANEXO 1: Instrumento de pesquisa de campo. ...79

REFERÊNCIAS: ...83

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1 INTRODUÇÃO

A pesquisa apresentada nesta dissertação resume um estudo do cluster de rochas ornamentais do Espírito Santo, Brasil, a partir da perspectiva teórica da Cadeia Global de Valor (GVC). Este estudo aplica a análise da GVC para examinar a relação entre o desempenho das vendas das empresas no mercado externo (ME) e o upgrading alcançado pelas mesmas. As teorias sobre clusters também são utilizadas para auxiliar a compreensão do ambiente de negócios em que esta indústria opera.

As indústrias exportadoras de países em desenvolvimento vivem um dilema. Estas podem se especializar em atividades produtivas e delegar as atividades ligadas à comercialização, promoção e marketing para os parceiros internacionais ou podem se envolver nessas atividades e ir além da manufatura (HANH, 2008). Diversos autores tem estudado a relação entre a internacionalização da empresa e como esta favorece o seu crescimento (KUMAR &

SING, 2008, LEONIDOU et. al, 2007), porém várias questões permanecem em aberto. Por isso é relevante pesquisar quais tipos de capacidades podem ser desenvolvidos, em especial os tipos de upgrading, para que as empresas aumentem seus resultados econômicos e competitividade nos mercados internacionais.

1.1 O tema e sua justificativa

A indústria de rochas ornamentais do ES apresenta características que propiciam o estudo da inserção das empresas em cadeias globais de valor (GVC) e seus impactos no upgrading das mesmas. Trata-se de uma indústria organizada em cluster, exportadora e fundamentada em recursos naturais, por ser do setor extrativista (AVRICHIR & CHUEKE, 2012, CASSIOLATO & SZAPIRO, 2002).

A literatura sobre o comércio internacional é ampla e variada. Nela, pesquisas que apontam relação positiva entre aprendizado e exportação são recorrentes (SILVENTE, 2005, BIGSTEN et al., 2004, FAFCHAMPS et al., 2007, BERNARD & JENSEN, 1999, CLERIDES et al., 1998). Este processo de aprendizagem é conhecido como “learning by exporting” (CLERIDES et al., 1998). Bernard e Jensen (1999), por exemplo, argumentam que as empresas exportadoras são mais eficientes do que as empresas que não exportam, pois são mais produtivas, pagam salários mais elevados, possuem tamanho maior e apresentam uso mais intensivo de tecnologia.

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Outro exemplo de pesquisa que enfatiza a importância da exportação para o desenvolvimento é a de Dhungana (2003). Esta aponta que, para economias emergentes, o processo de crescimento da indústria é fundamental na promoção do crescimento econômico e da estabilidade politica do país. E o mercado externo (ME) representa ampla possibilidade de vendas e desenvolvimento para a indústria nacional. Todavia, nem tudo é favorável quando se trata de exportação e desenvolvimento. Lall et al. (2004) demonstram que as indústrias da América Latina (AL) enfrentam competição severa ao ingressar nos mercados globais, com resultados nem sempre positivos.

Nesse mercado (AL), cabe pesquisar o cluster de rochas ornamentais do ES, pois este representa o principal centro de extração e exportação de rochas ornamentais brasileiras (AVRICHIR & CHUEKE, 2012, CHIODI, 1995). As rochas ornamentais, por ser recurso natural, poderiam ser tratadas como commodity, mas devido a grande variedade geológica e a diferenciação entre os produtos são altamente influenciadas pelas estratégias de marketing (AVRICHIR & CHUEKE, 2012).

Central para a pesquisa é a questão do upgrading. Aqui foi definido como o desenvolvimento de habilidades, capacidade de inovar e aumentar o valor agregado de produtos e processos que permitam que a empresa obtenha margem de lucro superior e incorporar diferenciação em sua cadeia produtiva (NAVAS-ALEMÁN, 2011, GIULIANI et al., 2005).

1.2 Relevância da pesquisa

A escolha da indústria do cluster de rochas ornamentais é relevante para a literatura de GVC porque, comumente nesta, as pesquisas foram conduzidas em indústrias situadas à jusante da cadeia produtiva. As pesquisas nas indústrias de eletrônicos, vestimentas, frutas e vegetais, suco de frutas, serviços offshore, turismo, produtos de limpeza, móveis, calçados e roupas são exemplos desse viés de pesquisa (NAVAS-ALEMÁN, 2011, GEREFFI et al.

2005, GEREFFI et al., 2011, AVDASHEVA, 2007, POLLICE & FLEURY, 2007, SCHMITZ, 2006, SOUZA & AMATO NETO, 2005). Estudos como o de Pinnamantag-Tutu e Armah (2011) sobre a indústria de cacau de Gana e a indústria de móveis da África do Sul de Kaplinsky et. al (2001), são das poucas exceções a esta regra encontrada na revisão da literatura feita para esta pesquisa. A pesquisa de Pinnamantag-Tutu e Armah (2011) verificou se o upgrading gera retornos superiores aos produtores, ao avaliar se a exportação de cacau industrializado gera maiores lucros em relação à venda de matéria prima bruta. Já Kaplinsky

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et al. (2001) avalia as vulnerabilidades competitivas da indústria de móveis africana, que, no momento da pesquisa, era dependente de aspectos macroeconômicos situacionais (como a taxa de câmbio depreciada). Ambos os estudos sugerem o upgrading como meio para que estas indústrias, advindas de países em desenvolvimento, adquiram capacidades competitivas para atuar nos mercados globais.

Não se pode assumir que o comportamento exportador das empresas à jusante da cadeia produtiva seja semelhante ao que ocorre à montante. Bloodgood et al. (1996) sustentam que empresas situadas à jusante tem maior propensão à internacionalização. Portanto, é necessário entender e validar as conclusões em indústria situada à montante da cadeia produtiva a fim de verificar sua possibilidade de expansão e generalização dos resultados obtidos para empresas à jusante (PHILLIPS e PUIG, 1985).

O entendimento do termo cadeia produtiva seguirá a interpretação de Dantas et al. (2002, p. 37): “Cadeia produtiva é um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos”, o que possibilita entender que “cada etapa [da cadeia produtiva empresarial] representa uma empresa (ou um conjunto de poucas empresas, que participam de um acordo de produção)”. O início da cadeia produtiva, chamado de montante, é formado por setores dos quais se demandam insumos (DUTRA &

MONTOYA, 2005). Os mesmos autores se referem à jusante como setores aos quais se ofertam produtos, ou seja, o final da mesma.

O estudo de upgrading em países em desenvolvimento compara as experiências de aprendizado das indústrias locais ao analisar se a empresa realiza aprimoramento em seu processo produtivo, elabora melhorias nos seus produtos ou ingressa em atividades antes não desempenhadas (HUMPHREY & SCHMITZ, 2002). As relações de governança da cadeia de valor e seus efeitos no upgrading das empresas é tema central na literatura de GVC.

1.3 Problema de pesquisa e objetivos específicos

Uma vez que se delimitou o tema do trabalho e o campo a ser estudado, propõe-se o problema de pesquisa e os objetivos específicos. O problema de pesquisa da dissertação é verificar se a participação das exportações no mix de vendas das empresas é influenciada pelos diferentes tipos de upgrading; e se a relação entre upgrading e exportação é mediada pelo tipo de governança da cadeia de valor em que a empresa está inserida.

Nesse contexto, apresentam-se os objetivos específicos: (i) verificar, nas empresas do cluster de rochas ornamentais do ES, situado à montante da GVC, se estas estão inseridas em

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cadeia de valor com relação de governança do tipo quase hierárquica ou mercado, e (ii) o impactos dos diferentes tipos de upgrading na participação percentual das vendas das empresas no mercado externo.

1.4 Vinculação à linha de pesquisa

Frente às discussões sobre internacionalização de empresas brasileiras e as transformações no contexto local e regional, a dissertação: Upgrading no cluster de rochas ornamentais do Espírito Santo, Brasil vincula-se ao eixo de pesquisa Competitividade de Indústrias, linha de Estratégia. A pesquisa é parte do Programa de Mestrado em Gestão Internacional da Associação Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM, São Paulo.

1.1 Contribuições previstas do estudo

Além da contribuição ao conhecimento sobre upgrading e exportação, a pesquisa contribui para o entendimento do funcionamento de um importante aglomerado brasileiro. Muito já foi escrito sobre o cluster de rochas ornamentais do ES (AVRICHIR & CHUEKE, 2012;

MACLENNAN, 2012; CHIODI, 2012, 2012a, 2012b e 1995; VIDAL et al., 2009;

ZANQUETTO FILHO et al., 2007; FERNANDES, 2006; CHIODI et al., 2004; CARDOSO et al., 2004; CASSIOLATO & SZAPIRO, 2002; BASTOS, 2001; VILLASCHI &

SABADINI, 2000), sob diferentes perspectivas.

A pesquisa de Avrichir e Chueke, (2012), por meio da abordagem comportamental identifica os fatores que influenciaram as estratégias de marketing e exportação de empresas do cluster analisadas em três casos. Chiodi (2012 e 2012b) elabora balanço das exportações e importações brasileiras do setor. Chiodi (2012b) mostra o panorama do setor internacional.

MacLennan, (2012), Zanquetto Filho et al., (2007) e Fernandes (2006) tratam sobre as inovações tecnológicas no cluster e a sua disseminação. Vidal et al., 2009 investigaram as ações do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), unidade de pesquisa do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Já Chiodi et al., (2004) e Chiodi (1995) estudam o assunto sob a perspectiva técnico-econômica. Cardoso et al., 2004 analisam as demandas de financiamento das indústrias do Estado. Cassiolato e Szapiro (2002) apresentam uma caracterização do aglomerado nas condições específicas do ambiente brasileiro, ao estudar as redes de relacionamento do cluster de rochas ornamentais entre vários outros exemplos.

Bastos (2001) analisa a gestão da logística em duas empresas de rochas ornamentais. Villaschi

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e Sabadini (2000) estudam a dinâmica de aprendizagem na promoção de inovações de produto e de processo no aglomerado.

Como se percebe, o cluster foi objeto de diversos estudos. Porém, ainda não se investigou, sob a perspectiva da GVC, os impactos do upgrading na inserção em cadeias globais de valor no cluster da indústria de rochas ornamentais do ES. As pesquisas sobre clusters abordam as fontes locais de competitividade que geram eficiência coletiva. Como o cluster da indústria de rochas ornamentais do ES participa dos mercados local e global, o estudo deste permite analisa-lo sob as perspectivas teóricas de cluster e GVC.

1.2 Estrutura da dissertação

A dissertação esta estruturada da seguinte maneira. Após esta introdução, segue-se o desenvolvimento do referencial teórico, baseado na literatura de clusters (CASSIOLATO &

LASTRES, 1999, SCHMITZ & NADVI, 1999, KRUGMAN, 1991, PORTER, 1990, BECATTINI, 1990) e GVC (BAIR, 2009, STURGEON, 2009, GEREFFI et al., 2005, GIULIANI et al., 2005, HUMPHREY & SCHMITZ, 2002). O conceito de GVC é apresentado e a partir do mesmo se definem os conceitos de upgrading e governança da cadeia de valor. Os indicadores de cada um desses são classificados de modo a operacionalizar sua medida em etapa posterior da pesquisa. Na medida em que o referencial teórico é revisado, as hipóteses de pesquisa são desenvolvidas.

No capítulo 3 é abordado o referencial teórico sobre o contexto da indústria nacional e da indústria brasileira de rochas ornamentais (AVRICHIR & CHUEKE, 2012, CHIODI, 2012, VIDAL et al., 2009, CHIODI et al., 2004, VARGAS et al., 2001, VILLASCHI F. &

SABADINI, 2000, CHIODI, 1995). No capítulo 4 é apresentada a metodologia que balizará a pesquisa. A dissertação acaba com a apresentação dos resultados e conclusões.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

O capítulo apresenta as teorias de GVC (Cadeia Global de Valor) e clusters conforme usadas na pesquisa. As fontes de competitividade local e global serão conceituadas e articuladas. Logo se desenvolve o referencial teórico de clusters e seus impactos na geografia das organizações a partir da classificação de cinco principais vertentes teóricas. A seguir se demonstra a evolução da literatura a partir de clusters a GVC, por meio de análise comparativa das duas abordagens. Esse tópico versa sobre a relevância da visão conjunta das duas perspectivas na relação do ambiente local vs. global, upgrading e governança. Dado que afinidades entre upgrading e governança são essenciais para a competitividade das empresas.

Por fim são construídas as relações entre upgrading, mercados e desempenho exportador.

A segunda seção finalmente situa a indústria de rochas ornamentais do ES e explica suas características. Para isto se aborda o contexto da indústria de rochas nacional em que o cluster do Espírito Santo esta inserido, além do mercado internacional. Segue com a apresentação de suas características, histórico, as etapas do processo de industrialização, entidades ligadas ao cluster no ES e as feiras promovidas pelo setor.

2.1 Estudos de cadeia global de valor

Os estudos de GVC possuem uma história relativamente curta e recente. Estudos teóricos e práticos a este respeito começaram em Sussex, no início da década de 90, primeiramente no Institute of Development Studies, no Reino Unido, com grupos e conferências focados neste tópico (AVDASHEVA, 2007).

No outono de 2000, um grupo de pesquisadores, com extensa experiência de campo, na observação da indústria internacional em vários setores, inicia encontros em uma série de workshops para desenvolver a teoria da governança, que hoje é chamada de Global Value Chain ou Cadeia Global de Valor. A iniciativa foi patrocinada pela Fundação Rockefeller e pela Fundação Alfred P. Sloan (STURGEON, 2009). Os participantes deste grupo tinham formações variadas: Economia, Geografia, Sociologia, Planejamento Regional, Ciências Políticas, Administração, entre outras. O primeiro resultado deste trabalho foi o relatório do Institute of Development Studies chamado “O valor das cadeias de valor: espalhando os ganhos da globalização”, o qual consolidou as terminologias “governança” da cadeia e

“upgrade” da indústria.

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A Cadeia Global de Valor engloba todas as atividades necessárias para a produção de um bem ou serviço, incluindo desde a concepção, etapas produtivas, materiais, componentes, produção, montagem do produto acabado, até a entrega ao consumidor final, além do descarte após a utilização (CATTANEO et al., 2010). A análise da cadeia de valor é importante para se compreender quais atividades devem ser internalizadas pela empresa, por agregarem valor, e quais atividades devem ser delegadas a terceiros (KAPLINSKY & MORRIS, 2000). O foco da análise deixa de ser a manufatura e passa a abranger outras atividades envolvidas no processo de produção, como distribuição e marketing. A habilidade de identificar as atividades que proporcionam retornos superiores na cadeia de valor é um ponto chave no entendimento da apropriação global de valor (GIULIANI et al., 2005).

O conceito de GVC reconhece que o design, a produção e o marketing de vários produtos envolvem uma cadeia de atividades situadas em locais diferentes. Segundo McCormick (1998) a cadeia de valor descreve as atividades necessárias para trazer um produto da sua concepção até o consumidor final.

As três principais análises sobre uma indústria na abordagem de GVC são: (a) a geografia e as características das relações entre os estágios de agregação de valor e as tarefas distribuídas na cadeia; (b) a forma como o poder está compartilhado entre as empresas e os outros participantes da cadeia de valor; e (c) o papel das instituições na estruturação de relacionamentos comerciais nas localidades industriais (STURGEON, 2009). A ideia de GVC faz sentido a partir da premissa de globalização da cadeia de suprimentos (SANTOS et al., 2004).

A próxima seção trata da importância da localização das empresas, primeiramente citado por Marshall, ao analisar as economias externas no final do século XIX (MARSHALL, 1982).

2.2 Clusters

As pesquisas sobre clusters foram inicialmente abordadas por Marshall (1982), na abertura do capítulo dedicado às vantagens da aglomeração produtiva. O autor, neste capítulo, discute quais são as vantagens que as empresas obtêm ao estar próximas de seus concorrentes, já que, racionalmente, o afastamento faria mais sentido. A conclusão de Marshall é a de que locais especializados atraem fornecedores e clientes. Estes locais são os primeiros a incorporar inovações em maquinários, processos e matérias primas e geram um ambiente propenso a economias externas. Em 1916, Marshall identificou três razões favoráveis aos clusters: (i) existência de mercado para trabalhadores especializados, (ii) provisão de serviços e

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fornecedores especializados e (iii) rápido fluxo da informação entre as empresas (MARSHALL, 1982). O autor destacou a necessidade das iniciativas de cooperação entre empresas para melhorarem seus desempenhos.

O interesse pelo estudo de clusters ganhou impulso a partir do fenômeno denominado de Terceira Itália (VASCONCELOS et al., 2005), citado na maior parte dos exemplos da literatura. Pequenas e médias empresas (PMEs) aglomeradas em pequenos espaços, no final dos anos 70, provenientes de setores maduros da economia italiana, como sapatos, móveis, têxteis e cerâmicos, se destacaram por seu desempenho e sua maior inserção internacional, em relação às grandes empresas do Triângulo Industrial Italiano (Milão – Turim – Gênova).

Becattini (1990), a partir da ideia de distrito industrial que se desenvolveu na Itália e em outras partes do mundo, define um aglomerado industrial. Para o autor, distrito industrial é uma entidade sócia territorial caracterizada pela presença ativa da comunidade e de conjunto de empresas em área ligada pela natureza e pela história.

Além dos fatores sociais e históricos, chama a atenção o impulso no desenvolvimento de tecnologias advindos das aglomerações de empresas. Segundo Amato-Neto (2009), PMEs organizadas em clusters começam a incorporar tecnologias de ponta nos processos produtivos, formar redes com o entorno socioeconômico e alterar estruturas organizacionais internas, de modo a competir em alguns setores com grandes empresas. O fenômeno se observa em aglomerados na Itália, na França, Alemanha, Reino Unido, no Vale do Silício nos Estados Unidos (EUA) e em redes de empresas no Japão, Coréia e Taiwan, a partir dos anos 70. O foco das análises, a partir desta década, deixa de ser a empresa individual e passa a ser a maneira como as empresas e as demais instituições se relacionam em um espaço geograficamente delimitado (CASSIOLATO & LASTRES, 2003).

Em artigo recente, Lubeck et al. (2012) ponderam sobre a interdisciplinaridade das abordagens sobre clusters, ao classificarem os estudos do tema em cinco vertentes:

a) A primeira abordagem consiste em estudos da nova teoria do crescimento e comércio internacional, com destaque para as pesquisas de Krugman (1991). Nesta visão, as aglomerações produtivas são oriundas das economias locais, fruto das relações econômicas de mercado e há pouco espaço para políticas públicas.

b) A segunda vertente é representada principalmente pela obra “Vantagem Competitiva das Nações”, de Porter (1990). Nela o autor propõe o modelo do diamante como modo a identificar as razões que justificam a habilidade de um país em criar e manter um ambiente favorável para determinadas indústrias. Ele relaciona os clusters à competitividade da indústria. Enfatiza os vínculos

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provenientes das relações entre os agentes locais: condição de fatores, condição de demanda, indústrias correlatas e estratégia, estrutura e rivalidade das empresas.

c) A terceira é a da economia da inovação. Ela consolida teorias que abordam a formação de sistemas de inovação e o desenvolvimento tecnológico por meio da articulação das organizações e empresas do cluster. Chamam a atenção os estudos de Cassiolato e Lastres (1999) e Cassiolato e Szapiro (2002) sobre os sistemas de inovação regionais e locais, nesta vertente. Cassiolato e Lastres, em sua definição, destacam claramente esta visão:

Sistemas produtivos e inovativos locais são aqueles arranjos produtivos em que interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local. Assim, consideramos que a dimensão institucional e regional constitui elemento crucial do processo de capacitação produtiva e inovativa (CASSIOLATO & LASTRES, 2003, p. 5).

d) A quarta abordagem compreende os estudos em economia regional e desenvolvimento de distritos industriais. Esses estudos se desenvolveram a partir de investigações realizadas na Itália, principalmente a respeito de pequenas e médias empresas. Nessa linha de pesquisa Becattini (1990), Brusco (1990), Becchetti e Rossi (2000), entre outros autores, buscam ressaltar como os locais com grande intensidade de transações tendem a formar clusters, ao estimularem os vínculos entre os agentes. Brusco (1990) caracteriza o cluster como pequena região com até 300 empresas. Segundo o autor, um produto central unifica a região. Outra característica importante é a intensidade de relacionamento entre as empresas. Essa interdependência entre as firmas resulta em necessidade de coordenação e adoção de políticas públicas, de modo a conquistar vantagens competitivas.

e) Finalmente, na quinta vertente se encontram os trabalhos de Schmitz e Nadvi (1999), Humphrey e Schmitz (2002), que abordam a eficiência coletiva na relação dos clusters e seus mercados. Os estudos sobre clusters focam as fontes de competitividade local, ou seja, os relacionamentos verticais e horizontais dentro do cluster que geram eficiência coletiva. Os autores enfatizam a cooperação entre empresas, associações e entidades ligadas ao governo, em que a combinação de ações espontâneas com ações coordenadas encadeiam o aumento de eficiência e eficácia das empresas integrantes do cluster.

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Os autores Belussi e Samarra, (2010) apontam que, enquanto na literatura anglo-saxônica os termos distrito industrial e cluster têm sido usados como sinônimos, no contexto italiano o conceito marshallino de distrito industrial é predominante, implicando em concentrações de firmas similares que operam no mesmo setor em áreas delimitadas e com interações sociais de cooperação decorrentes da proximidade. Porter (1998) define clusters como concentrações geográficas de empresas e instituições em setor específico. Portanto neste sentido, cluster é algo mais indistinto, cuja identificação depende das hipóteses de pesquisa e não necessariamente implica em forte aglomeração. A importância das externalidades positivas para os produtores, o acesso ao conhecimento, sinergias, redução de custos e melhoria produtiva permeiam o trabalho dos autores das diversas perspectivas teóricas citadas.

Alguns autores consideram que “arranjo produtivo local” (APL), “cluster”, “distrito industrial” ou mesmo “concentração geográfica” são sinônimos (LIMA & CARVALHO, 2011, CARDOSO & GUIMARÃES, 2011, VASCONCELOS et al., 2005, PAIVA, 2005, CASSIOLATO & LASTRES, 2003). Outros como Lubeck et al. (2012) estabelecem uma diferenciação entre as expressões clusters, arranjo produtivo local (APL), distrito industrial e sistemas locais de produção e inovação (SLPIs). Portanto, não há consenso sobre o tema.

Nesta dissertação, para fins de clareza, os termos cluster e aglomeração de empresas serão tratados como sinônimos. Não se adota outro nome, de modo a facilitar o entendimento do assunto. Utiliza-se, no presente estudo, a quinta vertente apresentada. Esta enfatiza a eficiência coletiva na relação entre as empresas participantes do cluster e os mercados (locais e globais) de atuação das mesmas.

2.3 Influência dos clusters e suas vantagens

De forma geral a pesquisa aponta que a associação de empresas em clusters gera uma série de efeitos positivos. A teoria marshallina, por exemplo, aponta que quando ocorre a concentração de atividades econômicas em um espaço geográfico tendem a ocorrer

“externalidades positivas próximas” (MARSHALL, 1982).

Os autores Amato Neto, (2009) e Vasconcelos et al. (2005) citam algumas vantagens da localização em clusters empresariais. O ambiente institucional favorável, a organização dos aglomerados, suas instituições formais e informais possuem papel crítico na redução de incertezas nas relações entre as empresas. As redes de relacionamento reduzem custos de transação dos negócios no cluster.

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De uma maneira geral, as aglomerações locais são importantes para o seu crescimento e sua capacidade de inovação (CASSIOLATO & LASTRES, 2003). Os estudos a este respeito relacionam os clusters a partir da perspectiva das interações, tanto competitivas como cooperativas, com ênfase para as instituições de apoio, aprendizado coletivo e difusão do conhecimento.

Outra característica importante é a rápida difusão do conhecimento ao longo do cluster.

Essa se dá normalmente por meio de contato pessoal de colaboradores de empresas ou de empresários. (AMATO NETO, 2009; GIULIANI et al., 2005; THOMPSON, 2005;

VASCONCELOS et al., 2005; BECATTINI, 1990).

As PMEs, quando inseridas em clusters, são capazes de superar desafios comuns, como dificuldade de contratação de mão de obra especializada, dificuldades de acesso à tecnologia, aos mercados, às informações, ao crédito e aos serviços externos (WENG & MCELROY, 2010, AMATO NETO, 2009; GIULIANI et al., 2005), em países desenvolvidos e em países em desenvolvimento (SCHMITZ & NADVI, 1999). A combinação entre as economias externas e o efeito da cooperação ativa entre as empresas localizadas no cluster delimita o potencial de alavancagem que o arranjo produtivo exerce nas pequenas e médias empresas (GIULIANI et al. 2005). Em comparação com as transações entre compradores e vendedores dispersos e aleatórios, as transações e as repetidas trocas realizadas por empresas e instituições que se encontram em um mesmo local promovem uma maior coordenação e confiança. Assim, clusters mitigam problemas inerentes a relações puramente comerciais, sem impor as inflexibilidades da integração vertical e dos desafios de gestão presentes na criação e manutenção de vínculos formais, tais como redes, alianças e parcerias.

De acordo com Schmitz (1998), pesquisas sobre clusters exportadores em países em desenvolvimento são recentes (dado que tradicionalmente essas abrangem os países desenvolvidos). Mesmo com múltiplos resultados a literatura identifica dois pontos em comum: (i) clusters são relevantes em países em desenvolvimento. Esses podem ser identificados em diversos países e setores; e (ii) aglomerações de empresas auxiliam PMEs a superar desafios ao crescimento e atingir novos mercados no exterior.

Thompson (2005) também aponta que os clusters podem ser considerados um fator facilitador para o desempenho das PMEs. A presença de associações locais e a promoção de feiras podem ocorrer especialmente em clusters mais maduros. O papel das associações é assistir as empresas participantes do aglomerado, no sentido de promover e facilitar a busca dos interesses do grupo. A intensidade da cooperação de PMEs influencia a intensidade da exportação das mesmas. Adicionalmente, a autora destaca que empresas organizadas em

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clusters atraem maior atenção de compradores, quando comparadas a empresas que estão fora dessa forma de organização empresarial, o que pode alavancar as vendas de cada uma das empresas integrantes.

Boehe (2011) verificou, por meio de survey no Brasil, que a participação de empresas em associações favorece diretamente a sua propensão para exportar. Bair e Gereffi (2001), em linha com este argumento, citam que o desempenho das empresas, a trajetória de crescimento e o resultado do desenvolvimento local são, em alguma extensão, dependentes das relações que conectam os clusters às empresas e mercados estrangeiros. Por essas razões, desenvolveremos, a seguir, uma discussão sobre a relação entre clusters e a GVC.

2.4 Clusters e GVC

Como vimos acima, os estudos sobre clusters estão focados nas fontes locais de competitividade, que vêm dos relacionamentos intracluster (horizontais) e geram eficiência coletiva. A partir da década de 1980, principalmente em função da intensificação do processo de globalização, vários autores começam a chamar a atenção para a importância de se entender como as empresas isoladamente ou em clusters estão posicionadas nas cadeias globais de valor. Esses trabalhos apontam que os estudos sobre cluster negligenciam os relacionamentos externos (GIULIANI et al., 2005). A conexão entre os produtores locais e os compradores globais vem a ser a questão central na abordagem da GVC.

O estudo da GVC analisa o papel dos sistemas globais de produção e distribuição e enfatiza as fronteiras globais entre empresas nos sistemas, ao invés de privilegiar os aglomerados locais. As duas perspectivas (clusters e GVC) podem ser analisadas conjuntamente ao se verificar como a inserção em cadeias globais afeta as estratégias de upgrading local (HUMPHREY & SCHMITZ, 2002). A habilidade de identificar as atividades que geram maiores retornos é ponto chave para o entendimento do processo de apropriação de valor ao longo da cadeia (GIULIANI et al., 2005).

Bair e Gereffi (2001) observam que (a) nos países em desenvolvimento há heterogeneidade no tamanho das empresas que compõe o cluster, e, no mix entre pequenas e grandes empresas, o peso dado às grandes empresas é desproporcional; (b) no contexto da liberalização comercial, a integração vertical tende a crescer nos clusters, (c) apesar da ênfase dada à cooperação competitiva na literatura de clusters, a cooperação é baixa e tende a diminuir e (d) o desempenho das empresas, a trajetória de crescimento e o resultado do desenvolvimento local são, em alguma extensão, dependentes das relações que conectam os clusters às

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empresas e mercados estrangeiros (BAIR & GEREFFI, 2001). No quadro 1, abaixo, apresentamos uma comparação das visões de cluster e de GVC.

Quadro 1: Clusters x GVC

Fonte: Humphrey e Schmitz,(2002) (tradução nossa).

Humphrey e Schmitz (2002) destacam que as interações são centrais tanto nos estudos dos clusters como nos estudos de GVC. Os estudos sobre clusters focam nas interações entre as empresas e instituições locais e as pesquisas de GVC dão maior relevância às interações com os compradores globais. A abordagem de GVC chama a atenção para o envolvimento das empresas em relacionamentos comerciais em que o poder do comprador e do vendedor não é simétrico. Essas assimetrias nas relações de poder impactam o upgrading das empresas e serão explicados adiante na seção sobre governança na cadeia de valor.

Vários autores abordam a ligação entre as literaturas a respeito de upgrading e de clusters (GIULIANI et al, 2005, HUMPHREY & SCHMITZ, 2002). Giuliani et al. (2005) sumariza a questão ao argumentar que há evidências, na América Latina, de que ambas as dimensões, local e global, são relevantes e que as empresas comumente participam de clusters e de GVCs simultaneamente.

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2.5 Cadeia de valor - de global commodity chain à global value chain

A cadeia produtiva é também chamada de cadeia de valor. Ela consiste no arranjo das fases necessárias à produção de bens ou serviços. Kaplinsky e Morris (2000) apontam três razões para a crescente importância da análise da cadeia de valor: (i) a relevância da compreensão da competitividade sistêmica, dada a maior divisão do trabalho e dispersão global das atividades produtivas; (ii) o fato de a eficiência produtiva consistir em apenas uma condição necessária para o ingresso nos mercados globais; e (iii) o fato de o crescimento dos rendimentos provenientes da entrada no mercado global depender do entendimento dos fatores de toda a cadeia de valor.

Os trabalhos relativos à GVC evoluíram dos estudos realizados sobre a cadeia de commodity global (GCC), desenvolvidos por Gereffi (1999) e Gereffi e Korzeniewicz (1994).

Gereffi e Korzeniewicz (1994) definem GCC como uma rede interorganizacional agrupada em função da produção de uma commodity. Estes trabalhos delimitam quatro estruturas base que moldam os GCCs: entradas, saídas, governança geográfica e institucional. A estrutura de governança é a dimensão que recebeu mais atenção dos pesquisadores que utilizaram este modo de análise (STURGEON, 2009). Essa rede une empresas, sociedade e a economia local com os mercados globais.

Kaplinsky e Morris (2000) definem cadeia de valor como todas as atividades envolvidas necessárias para viabilizar um produto, desde a sua concepção, passando pelas diversas etapas produtivas (transformação física e input de serviços) e pela entrega ao consumidor final, até o descarte, após o uso. A partir dessa definição, GVC pode ser entendida como a sequência de atividades necessárias ao processo de criação de valor, com o envolvimento de um ou mais países.

O conceito de cadeia de valor já foi previamente abordado por Porter (1990), que o define como a reunião das atividades da empresa que são executadas para projetar, produzir, entregar e sustentar o seu produto. O modo como a organização executa as suas atividades reflete a sua história e a sua estratégia. Interessa ressaltar que Porter (1990), como destaca Kaplinsky (1998), chama a atenção não apenas para os diferentes elos da cadeia, mas também para a interconexão entre os mesmos. Essa ideia expande o conceito dos envolvidos diretamente na produção à todos os participantes do processo, que pode ser chamado de sistema produtivo.

Em seus trabalhos, Gereffi (1990) afirma que a abertura comercial não aumenta por si só a capacidade das indústrias. A liberalização permite o aumento do comercio internacional, mas sem o estímulo das empresas dos países desenvolvidos, voltados à exploração das capacidades

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e mercados de países em desenvolvimento, o fluxo comercial internacional seria mais modesto, em termos de volume e de conteúdo tecnológico. Como estas empresas contribuíram para criar competências em países em desenvolvimento, elas continuam a controlar e a guiar recursos na economia global, mesmo sem a sua propriedade (STURGEON, 2009). Nas pesquisas mais recentes foi observada a tendência de migração da produção para redes externas. Como consequência, ativos (como fábricas) e fatores de risco migraram para os fornecedores (GUTHMAN, 2009).

A GCC também tem sido usada para se descrever a globalização, já que as commodities e seus componentes podem ser analisados não apenas no que tange à maneira como são transportados geograficamente, mas também no que diz respeito à forma como o consumo, a produção e a regulação são influenciados pela localização da produção e seus espaços (GUTHMAN, 2009).

O termo commodity da expressão “cadeia de commodity global” (GCC) foi substituído por valor, o que resultou na criação do conceito de cadeia global de valor (GVC). A definição de commodity como produto sem diferenciação, especialmente advindos de produtos primários da agricultura, é substituída pela ideia de valor agregado, que foca na fonte principal de valor econômico: a aplicação do esforço humano, aliado às maquinas, para gerar retorno ao capital investido (STURGEON, 2009).

2.6 Upgrading

Toda cadeia de valor tem atividades melhor remuneradas do que outras, e é do interesse das empresas de países em desenvolvimento adquirirem as competências que possibilitam o upgrade da sua posição atual para outra, de retornos maiores e mais sustentáveis (NAVAS- ALEMÁN, 2011). Para tanto, faz-se necessário identificar os fatores determinantes da competitividade, por meio da compreensão de todas as atividades e relações presentes na GVC, e não somente dos fatores produtivos.

Vale ressaltar que o produto que chega ao consumidor final é resultado da adição de valor de cada um dos participantes da cadeia produtiva. Contudo as diversas atividades da cadeia de valor não agregam valor ao produto de modo equilibrado. Diversos estudos sustentam a ideia de que as margens de lucro do processo manufatureiro são muito inferiores às margens obtidas pelas empresas líderes em design, marketing e propaganda (GIULIANI et al., 2005;

KAPLINSKY, 1998; SCHMITZ & KNORRINGA 2000). A transição de atividades de

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margens inferiores para processos com maior complexidade e retornos mais elevados é nomeada como upgrading.

No presente estudo, utilizaremos a tipologia definida por Humpfrey e Schmitz (2002):

Upgrade de processo: é definido por melhorias no processo de produção. Este upgrade envolve a aquisição de novas máquinas, implantação de programas de controle de qualidade, redução de perdas, diminuição do prazo de entrega e, de forma geral, a melhoria da eficiência do processo de produção.

Upgrade de produto: definido pela introdução de novo produto, alterações no design, aumento da qualidade e produção de produto mais sofisticado.

Upgrade funcional: consiste no avanço na cadeia de valor, de modo a migrar para atividades de maior valor agregado, como design, marketing e marcas.

Navas-Alemán (2011) sugere uma forma de operacionalizar a avaliação e medida dos tipos de upgrading que está resumida no quadro 2:

Quadro 2: Indicadores de upgrading

Fonte: Navas-Alemán (2011) (tradução nossa).

Gereffi (1999) sugere a existência de uma hierarquia de upgrading, baseado nos retornos crescentes de cada atividade. Esta hierarquia se inicia no upgrading de processo, avança para o upgrading de produto, até finalmente alcançar o upgrading funcional. O upgrading funcional é o mais importante, pois é aquele em que a organização adquire capacidades que possibilitam a geração de retornos mais elevados para a empresa. Esse tipo de upgrade permite migrar para atividades com maior valor agregado em relação ao estágio em que a empresa se encontrava anteriormente.

Tipo de upgrading Explicação Indicadores

Processo Desempenha melhor a atividade

investimentos em máquinas,

treinamento de mão de obra, mudanças no lay-out, novas técnicas de gestão, programa de qualidade total, práticas sociais e ambientais

Produto Produto de melhor qualidade, mais sofisticado ou de menor preço.

Novos modelos, novas linhas, maiores preços, novos materiais.

Funcional Adquirir capacidades em atividade da cadeia que a empresa não possuia antes.

Um produtor que começa a desenhar seus produtos ou lança marca própria, coordena sua rede de fornecedores, ingressa em novos mercados, etc.

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Em linha com essa preposição, Hanh (2008) verifica que o upgrading funcional e o desenvolvimento de habilidades ligadas a design e marketing (upgrading de produto) impactam positivamente no sucesso das empresas exportadoras. Esse resultado corrobora com as pesquisas de GVC, que relacionam o upgrading funcional com retornos econômicos mais elevados para as empresas.

2.7 Governança

A literatura sobre GVC dá grande destaque ao conceito de governança. Várias definições surgiram para descrever o processo de governança da cadeia de valor e o modo como essas formas de coordenação podem estar entre o total anonimato das transações de mercado e o modelo da integração vertical (GEREFFI et al., 2005). Na abordagem de GVC, governança é definida como “coordenação da cadeia de valor” (BAIR, 2009). As cadeias de valor comumente tem um coordenador, que é uma empresa que lidera e determina os parâmetros produtivos e as relações de poder com as outras empresas ao longo da cadeia. A literatura de GVC sugere que a governança da cadeia estrutura as possibilidades de upgrading das empresas locais e dos clusters (SCHMITZ, 2006; BAZAN & NAVAS-ALEMÁN, 2003).

O conceito de governança na cadeia de valor tem como foco o entendimento das relações de poder da cadeia produtiva, no ambiente global. Gereffi et al. (2005) propõe tipologia de governança composta por cinco modelos de coordenação na cadeia de valor, quais sejam: (i) Relação de mercado, governada pelo preço; (ii) Relação modular, em que as informações complexas das transações são codificadas e digitalizadas antes de serem transmitidas aos fornecedores; (iii) Conexão relacional, em que a informação tácita é trocada entre compradores e fornecedores especializados; (iv) Relação cativa, em que fornecedores menos qualificados recebem instruções detalhadas; (v) Relação hierárquica na mesma empresa.

Gereffi et al. (2005) sustenta que a governança é dinâmica e pode evoluir ao longo do tempo. Os quatro determinantes centrais da abordagem são: a complexidade das transações, as capacidades na base de fornecedores, o grau de coordenação explícita e as assimetrias de poder entre os participantes. A perspectiva dinâmica abre a possibilidade de que, por meio da aquisição de capacidades, a empresa possa evoluir para uma posição mais favorável na cadeia de valor.

Humphrey e Schmitz (2002) apresentam quatro tipos de relacionamentos que podem ocorrer na cadeia de valor, aos quais chamaremos de modelo de governança:

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(a) Mercado (relacionamento Arm’s lengh): o produto é padronizado ou facilmente adaptado, uma série de empresas pode atender os requisitos do fornecedor. Não há necessidade de processo produtivo exclusivo ou certificação independente.

(b) Network: empresas cooperam com relacionamento intenso, há dependência recíproca.

O comprador pode especificar alguns atributos do produto ou do processo, e deve confiar na capacidade do fabricante em atendê-los. As diferenças de poder entre as empresas não são acentuadas e as empresas compartilham competências na cadeia.

(c) Quase hierárquica: uma empresa exerce alto grau de controle sobre as outras empresas da cadeia, frequentemente especificando as características dos produtos a ser fabricados e algumas vezes o processo de fabricação que será submetido, além dos mecanismos de controle. O comprador exerce controle desde a especificação do produto, até a perspectiva do comprador aos riscos do fabricante não atender as encomendas. O comprador exerce controle não apenas do fabricante, mas pode seguir a outros estágios da cadeia de valor.

(d) Hierárquica: a empresa líder absorve as operações e processos do restante da cadeia.

Neste trabalho será utilizada a tipologia proposta por Humphrey e Schmitz (2002), de acordo com o quadro 3. Esse quadro resume também como indicadores de governança da cadeia de valor foram operacionalizados no estudo:

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Quadro 3: Indicadores de governança da cadeia de valor Tipo de governança

da cadeia:

Explicação: Indicadores:

Mercado Relacionamento comercial entre as empresas. Não se observa governança.

Baixa concentração de compradores e vendedores.

Não se observa relação de dependência. O comprador não participa do desenvolvimento do produto. Repetir transações comerciais é possível, mas o fluxo da informação é limitado. Não há assistência técnica.

Network Coordenação das atividades entre

as empresas com

interdependência. As empresas desempenham atividades complementares.

Não há dependência dos fabricantes ou de compradores (fabricantes devem ter vários compradores, mas se os fabricantes tiverem poucos compradores, os compradores terão poucos fornecedores).

Quase-hierárquica O fabricante esta subordinado à um ou poucos compradores. Há forte assimetria de poder nas negociações e relacionamentos de longo prazo.

Uma empresa tem alto grau de controle sobre outras empresas, mesmo que sejam formalmente independentes.

Alta dependência do comprador (representa mais de 30% das vendas da fabricante).

Alta concentração dos compradores.

O comprador desenvolve o produto a ser produzido pelo fabricante.

Poucas vendas diretas entre fabricantes e clientes. Os intermediários mantêm os fabricantes afastados do mercado consumidor.

O desempenho do fabricante é auditado / monitorado pelo comprador.

O fabricante possui menos opções de saída do negócio se comparado ao comprador.

O comprador fornece a assistência técnica ao cliente.

Assimetria de informação (o comprador detém mais informação sobre os custos e tecnologias de fabricação que o fabricante possui sobre o comprador).

O comprador possui competências essenciais na cadeia que não são absorvidas pelo fabricante.

Hierárquica integração vertical da empresa. Observa-se a propriedade de uma empresa (ou participação) por outra.

Não abordada nesta pesquisa, que visa entender o relacionamento entre empresas independentes.

Fonte: Navas-Alemán (2011) (tradução nossa).

(31)

2.8 Upgrading e governança

A literatura sobre GVC relaciona fortemente a governança da cadeia com o upgrading da empresa. De acordo com Bair (2009) e Kaplinsky (1998), a governança das cadeias é um dos fatores mais relevantes na sua possibilidade de upgrading. Cadeias quase hierárquicas estão associadas às melhorias nos produtos e processos (GIULIANI et al., 2005), devido, principalmente, à influência de compradores locais, ao assegurarem que os fornecedores atendam as especificações propostas, dado o ambiente competitivo global. Por sua vez, empresas em cadeias com governança do tipo mercado são comuns no mercado interno, e este tipo de governança esta associado ao upgrade funcional (NAVAS-ALEMÁN, 2011).

Ao estudar o cluster exportador de calçados do Vale dos Sinos, caracterizado nas vendas ao mercado externo por governança quase hierárquica, verificou-se que as empresas avançaram consideravelmente no upgrade de processos, frente às demandas do mercado exportador, embora isso não tenha garantido o aumento dos volumes (SCHMITZ & NADVI, 1999). A autora Navas-Alemán (2011), ao expandir os estudos no mesmo cluster, encontrou, em empresas que operam em múltiplos canais e expostas a mais de um tipo de governança, evidências de incidência de upgrading funcional, além do upgrading de produtos e processos.

Segundo Humphrey e Schmitz (2002), cadeias caracterizadas por networks uniformes oferecem condições ideais de upgrading. Entretanto essas cadeias tendem a ser raras em países em desenvolvimento, dado que as empresas desses países são solicitadas a desenvolver alto nível de competências complementares para que ocorra este nível de cooperação. Já em cadeias caracterizadas por relacionamentos do tipo mercado, o upgrading de produtos e processos tende a ser mais lento. Contudo, esta relação proporciona a possibilidade de ocorrer o upgrading funcional.

De modo a avançar no entendimento das relações de governança nos diferentes mercados de atuação das empresas, especificamente no cluster de rochas ornamentais, são propostas as seguintes hipóteses:

H1: empresas que vendem predominantemente no mercado externo tendem a estar inseridas em cadeias de valor do tipo quase hierárquicas.

H2: empresas que atuam predominantemente no mercado interno tendem a estar inseridas em cadeias de valor do tipo mercado.

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Ao ingressar no mercado externo, as empresas de países em desenvolvimento enfrentam desafios para atender os novos mercados. Isso porque as economias globais estão cada vez mais integradas, interdependentes e especializadas (CATTANEO et al., 2010). Faz-se necessário notar que o acesso aos mercados internacionais não garante, por si só, o crescimento sustentável dos retornos financeiros para as empresas (KAPLINSKY et. al., 2001).

Zou e Stan, (1998) em revisão da literatura sobre exportação, destacam que as medidas mais usadas para se avaliar o desempenho exportador são índices formados pelo percentual de vendas para o mercado externo e a lucratividade do mercado externo. Mas os autores lembram que a literatura recente recomenda que sejam aplicadas métricas ligadas à percepção do exportador, como, por exemplo, verificar se objetivos de vendas da empresa para o mercado externo foram atingidos. Especificamente, ao se analisar a trajetória das empresas do cluster no período de 2008 a 2011, observa-se como o posicionamento frente aos diferentes mercados resultou em variações no mix de vendas das empresas. Com o objetivo de se comparar a percepção do exportador com os dados coletados, formulou-se a hipótese:

H3: empresas que, de 2008 para 2011, aumentaram suas vendas percentuais no mercado externo alcançaram desempenho exportador superiores em relação às outras empresas.

As empresas, ao se organizarem em clusters, obtêm incrementos de competitividade, acessam conhecimentos e habilidades técnicas particulares ao setor, obtêm redução de custos e consequentes melhorias produtivas (AMATO NETO, 2009; THOMPSON, 2005;

VASCONCELOS et al., 2005; SCHMITZ & NADVI, 1999; PORTER, 1998). Os estudos sobre clusters focam as fontes de competitividade local, ou seja, os relacionamentos verticais e horizontais dentro do cluster que geram eficiência coletiva e, consequentemente, aumento nos lucros das empresas.

Giuliani (2005) argumenta que a recente inserção nos mercados globais, devido às mudanças nos canais de distribuição, acesso aos recursos tecnológicos e aos mercados consumidores levam os clusters a se integrarem nas redes chamadas de GVC, que operam em diferentes países e mercados. A globalização trouxe a descentralização dos centros produtivos manufatureiros e a migração destes para países em desenvolvimento (KAPLINSKY &

MORRIS, 2000). Todavia, a descentralização produtiva não levou à distribuição equitativa das riquezas, pois há incoerência entre os altos níveis de integração econômica dos mercados e a distribuição de riqueza advinda da globalização. A partir desta observação, podemos

(33)

questionar como os fatores e processos que auxiliam o upgrading de atividades produtivas dispersas podem prover a distribuição de valor mais equitativa.

Observa-se que a análise da cadeia de valor dá enfoque à dinâmica dos relacionamentos do setor produtivo, especialmente ao modo como empresas e países se integram mundialmente, além de enfocar análises econômicas e sociais tradicionais (KAPLINSKY & MORRIS, 2000). Além dos setores produtivos, a análise da cadeia de valor incorpora atividades corporativas e de suporte, como pós-vendas e atendimento ao cliente. A sua análise tornou-se importante ferramenta teórica para se compreender o upgrading de nações e produtores locais, setores e indústrias (BAIR, 2009), tema relevante principalmente no caso das pequenas e médias empresas da América Latina.

De modo a atender às necessidades demandadas pelos novos mercados e garantir retornos econômicos satisfatórios para as empresas, essas devem almejar upgrading em suas atividades. De acordo com Humphrey e Schmitz, (2002), o processo de absorção de funções que geram retornos superiores e a consequente delegação de funções de menor valor agregado, torna-se crítico na estratégia de upgrading das empresas. Bartlett e Ghoshal (2000) descrevem a smilling curve da criação de valor, em que as atividades no inicio e no final são as de maior valor agregado. Entre estas estão as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e marketing. As atividades de menor valor agregado são as ligadas à manufatura. A mecanização e automação criaram processos de fácil imitação, enquanto a inovação, marketing e design geram diferenciação e consequentemente maior valor agregado.

A partir dessas questões formulou-se a hipótese:

H4: as vendas percentuais das empresas no mercado externo e seus investimentos em marketing são influenciados positivamente pelo upgrading alcançados pelas mesmas (upgrading de produtos, processos e funcional).

(34)

3 O CLUSTER DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.

Para verificar a validade das hipóteses escolheu-se pesquisar a indústria de rochas ornamentais do ES. Esta permite tal verificação, pois existem no mesmo cluster empresas para as quais o percentual exportado vai de zero ou quase zero até as que exportam a totalidade da sua produção. Além disso, o aglomerado é baseado em recursos naturais. Para tanto será necessário abordar o contexto da indústria de rochas ornamentais brasileira.

Segundo Bresser-Pereira et al. (2010), observa-se, desde o começo dos anos 90, uma redução da participação percentual de produtos manufaturados em relação às commodities na balança comercial brasileira. Isso para o autor é um problema porque o incremento da exportação de produtos manufaturados contribui para o desenvolvimento brasileiro por (a) exercer impacto positivo ao estimular a produção do setor e (b) gerar externalidades que podem ser aproveitadas, pois favorecem aprimoramentos no processo de produção os quais podem ser incorporados aos demais setores econômicos.

Segundo o mesmo autor, setores como o de extração de produtos minerais, decorrentes da existência de recursos naturais abundantes, podem levar a economia do país a não se industrializar e, por consequência, inibir o seu desenvolvimento econômico (BRESSER- PEREIRA et al., 2010). Essa ameaça é agravada pelo fato da indústria nacional se encontrar em condições macroeconômicas desfavoráveis devido aos fatores: (a) moeda brasileira apreciada em termos reais; (b) aumento expressivo de preços das commodities exportadas; e (c) modelo fiscal com alta carga tributária e incidência em cascata, cumulatividade que penaliza cadeias longas, como ocorre com os bens industrializados, entre outros (BRESSER- PEREIRA et al., 2010; NASSIF, 2008).

O cluster de rochas ornamentais do ES passou, ao longo de duas décadas, por um processo em que foi da simples extração de recursos naturais ao seu processamento e beneficiamento.

Desenvolveu-se na região uma indústria nesse período que agrega valor ao produto exportado e gera maior renda para o ES. Especificamente no setor de rochas ornamentais, as empresas enfrentam ainda dificuldades extras com a regulação ambiental (VARGAS et al., 2001).

Alguns autores argumentam que a estratégia de desenvolvimento brasileiro deveria ser baseada na ampliação das exportações de produtos industrializados. Esta estratégia, segundo Bresser-Pereira (2010), é apropriada à medida que se almeje ampliar a renda per capita e

Referências

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