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Horiz. antropol. vol.4 número8

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Academic year: 2018

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Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 4, n. 8, p. 8-10, jun. 1998 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71831998000100001

APRESENTAÇÃO

Ao publicar este número de Horizontes Antropológicos trazemos aos nossos leitores um conjunto de artigos que acreditamos refl etir ênfases e ques-tões que neste momento estão presentes nos estudos sócio-antropológicos da religião.1

Os artigos apresentam uma sequência que poderia ser demarcada por três grandes tópicos: 1) a religião como um instrumento de refl exão sobre a rea-lidade moderna globalizada e a elaboração do pensamento antropológico; 2) as religiões afro-americanas: suas relações com a mídia, suas transformações históricas e suas formas de resistência; e 3) o evangélico, nas versões da Igreja Universal do Reino de Deus e do televangelismo nos Estados Unidos. Em Espaço Aberto, apresentamos um ensaio sobre os estudos étnicos no contexto de globalização, reproduzindo uma comunicação de Lívio Sansone, apresen-tada na mesa redonda “Antropologia brasileira face ao pensamento con tempo-râneo”, da XXI Reunião da ABA, em Vitória, ES, em 1998.

Peter Beyer (Universidade de Toronto, Canadá) abre o primeiro tópico discutindo a questão da religião em contextos de migração, na sociedade glo-balizada. Ao enfocar as transformações no âmbito das culturas que recebem os migrantes e das que os perdem, busca romper com lugarcomuns nos es-tudos das ciências sociais que enfatizam o papel da religião como mecanismo de ajuste à nova cultura ou de continuidade em processos de integração. Para o autor, a migração age no sentido de redefi nir as religiões e como espaço privilegiado de construção da religião dos migrantes.

A partir de um diálogo que estabelece com Harold Bloom, e com ou-tros autores que discutem a gnose na atualidade, enquanto um fenômeno que transcende limites institucionais, Otávio Velho (UFRJ/Museu Nacional, Rio de Janeiro) aponta para a importância deste conceito para se pensar não ape-nas os novos movimentos religiosos, mas também a produção antropológica.

José Jorge de Carvalho (UnB, Brasília) apresenta o esoterismo e a an-tropologia como duas correntes de pensamento que são ao mesmo tempo

1 A organização deste volume contou com a colaboração dos membros do Núcleo de Estudos da Religião

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herdeiras do projeto da modernidade e críticas do seu sistema de valores. Três conceitos: tradição, iniciação e ciência sagrada são discutidos como parte da experiência religiosa e como manifestações etnográfi cas, numa perspectiva de reintegração dos saberes humanos.

No seu artigo, A irmã da bruxa, Maria Amélia S. Dickie (UFSC, Florianópolis) mostra que é possível, “desde um ponto de vista do nativo”, as-sociar a experiência esotérica da atualidade (Nova Era) com uma experiência religiosa do século XIX (o movimento Mucker), descobrindo, assim, pontos de identifi cação entre o esoterismo e o messianismo, enquanto movimentos que se opõem ao projeto racionalista moderno ou cristão institucional.

Ao trabalhar sobre a literatura espírita, sua produção e consumo, Bernardo Lewgoy (UFRGS, Porto Alegre) traz para o debate questões de ponta da an-tropologia pós-moderna sobre autoria e verossimilhança. As tensões existen-tes entre mediunidade e psicografi a, ou seja, entre o médium que “codifi ca” a mensagem e o espírito que a “dita”, permitem ao autor jogar um pouco de luz sobre a autoria em contextos etnográfi cos.

No conjunto de textos que tratam das religiões afro-americanas, Alejandro Frigerio (UCA, Buenos Aires) e Ari Pedro Oro (UFRGS, Porto Alegre) ana-lisam um evento – amplamente divulgado pela mídia brasileira e argentina, qual seja, o suposto assassinato ritual de um menino por parte de um pai-de--santo de uma cidade do litoral paranaense – para pensar a especifi cidade dos contextos religiosos destes países e as representações mútuas que brasileiros e argentinos mantêm entre si.

Reginaldo Prandi (USP, São Paulo) retraça a démarche das religiões afro-brasileiras, destacando três fases: sincretização, branqueamento e afri-canização, detendo-se especialmente sobre a última. Tendo como referência o Candomblé, analisa as condições sociais e culturais que estão na base de um processo de afi rmação de uma identidade exclusiva pela negação do sincre-tismo, da incorporação da escrita na transmissão religiosa e da defi nição cada vez mais precisa de um corpus ritual e doutrinário.

Roberto Motta (UFP, Recife) parte do conceito durkeimiano do sagrado para discutir os processos de iniciação, o sacrifício, a festa, o transe, a comu-nhão emocional do grupo e a identidade pessoal no Xangô de Pernambuco.

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constitui tanto pela resistência simbólica ao catolicismo, enquanto religião dominante, quanto pela experiência armada dos quilombos.

Os textos concernentes ao campo evangélico centram suas análises so-bre o milagre na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e o espetácu-lo mediático no televangelismo norte-americano. Com efeito, André Corten (Universidade de Montreal, Canadá) vê no uso que a IURD faz do milagre uma banalização que estaria em contradição com uma defi nição clássica de milagre, onde este aparece como um fato extraordinário que não se explicaria por causas naturais. Para o autor, o milagre, no contexto da IURD, se banali-zou pela repetição, retirando sua verossimilhança do próprio relato, e não mais de uma autoridade externa.

Jacques Gutwirth (CNRS, França), em seu artigo sobre o televangelis-mo, discute as relações dos televangelistas com seu público e com as redes te-levisivas, ao mesmo tempo que busca associar o televangelismo com os traços dominantes do modo de vida americano.

Em Espaço Aberto, Livio Sansone (Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro) traz um importante debate sobre as questões levantadas hoje pelos estudos étnicos no Brasil, tendo como contexto o processo de globalização e a internacionalização das culturas negras. O autor aponta para novas formas de negritude que estariam questionando o prisma interpretativo das relações raciais, defi nido dentro do mundo anglo-saxônico.

Referências

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