203 Psicologia:TeoriaePesquisa
Mai-Ago2004,Vol.20n.2,pp.203-204
1 Endereço:PontifíciaUniversidadeCatólicadeMinasGerais,Instituto dePsicologia,Av.DomJoséGaspar500,BeloHorizonte,MG,Brasil 30535-610.E-mail:jinga@uol.com.br
Resenha:Psico
patho
logiaII–SemiologiaClínica:
InvestigaçãoTeórico-ClínicadasSíndromesPsicopatológicasClássicas
JoséNewtonGarciadeAraújo1
PontifíciaUniversidadeCatólicadeMinasGerais
BookReview:Psico
patho
logyII–ClinicalSemiology:
Theoretical-ClinicalInvestigationoftheClassicPsychopathologicalSyndromes
antropólogo,dopsicanalista,dossociólogos,historiadores efilósofos,todoselesemdiálogocomasartes,amitologia, aculturapopular.
Oprimeirocapítulo,intituladoAsemiologiamédica,é umarevisãodaliteraturaclássica,quedápassagem,nocapí-tuloseguinte,àdiferenteordemdefenômenospsiquiátricos, ouseja, Aespecificidadedasemiologiapsiquiátricasindrô-mica.Segue-seumaessencialdistinçãoquefundamentaa perspectivacríticadoautor:deumlado, Assíndromespsi-copatológicasdominadasporsignosunívocos(capítuloIII); deoutrolado,Assíndromespsicopatológicaspermeadaspor signosequívocos(capítuloIV).Nestasúltimas,oleitortoma contatojustamentecomocomplexoterrenodassíndromes psicoafetivas,sejamelasneuróticas,perversas,delirantesou alucinatórias,passandopelasdoençaspsicossomáticas,pelas drogadições,alcoolismoemesmopelosuicídio.
Naconclusão,FranciscoMartinsreafirmaasuapostura crítica, através da qual concebe a atividade semiológica, comoindependentedaregionalizaçãodosabercentradana semiologia médico-psiquiátrica. Aponta também para os limitesdasemiologiaapoiadaapenasnossignosunívocos, dadaasobreposiçãoentreossignos,ditosobjetivos,eosnão objetiváveis.Daíanecessidadedeseentenderaclínicacoti-diananumaóticaquecontemplea“injunçãocomunicacional simbólica”.Trata-se,aqui,deumapráticaclínicaquelevao própriopacienteaelaborarseussignos,retirando-odeum lugarpassivo.Issoexigequeserealizematoscomalingua-gem,desdequeopacientenãosejaapenasmeronarradorde algoocorrido,àmercêdodiagnósticodomédico.Afinal,em todoprocessoterapêutico,éessencialqueosujeito“possa participarcomsuapoesia,comseusaber”.
Oautormostratambémque,paraalémdasemiologia médicaclássica,asdemaispráticassemiológicasseocupam nãosóemcolherossignos,masemprocurarsabercomo elessãoproduzidos.Eisaíarupturaentreasemiologiados signosunívocos,própriadocampobiológicooudasciências da natureza, e a outra dos signos equívocos, inerente aos campospsíquicoecultural,ouseja,umarupturaquemarca apassagemdohomonaturaaohomocultura.Nãosetrata maisdebuscar,naperspectiva“causalista”umafidedignidade entresintomasedoenças,vistascomoumreferentereal,mas detomarossignoscomoportadoresdesentidoedehistória. Francisco Martins encerra o seu texto com um “final em forma de esperança”, uma vez que a prática semiológica quepropõe-maiscompleta,complexaehumana-fundada naheterogeneidadefenomenológicadossignos,possibilita umaefetivaexpansãodouniversoclínico.
Naintroduçãodesuaobra,FranciscoMartinsnosad-vertequeapsicopatologiaclínicaé“umaespéciedeenfant terribledasuamãe,aMedicina”,umacriançaqueencantae inferniza,aumsótempo,dadaasuacomplexidadeerebeldia aosditameslógicosadotadospelamãe.Porissomesmo,o temanosremeteaumarealidademinadadeagressividade, visitadapelaviolênciaepelamorte,um“inimigo”difícil de se combater, pois com sua “tendência para camaleão” nãosedeixalocalizarfacilmente.Afinal,apsicopatologia éocampodosfenômenosmultifacetadosquesemostram oracomosinalousintoma,oracomosíndromeouqueixa. Oautorentranessecampoinvestigativocomnovasarmas, fugindoàmeracaçadossignosclínicos,comonaabordagem clássicadosfenômenospatológicos.Eleoptapela“descrição deconstelações”,antesdeiraossintomas,aossinaisoua possíveiscausalidades.Suaopçãometodológicaseancora numconjuntodeinformaçõesquevãoalémdasemiologia tradicional,dandovezaumreferencialqueeledenomina semiologiaclínicasindrômica.
Se a síndrome é um complexoexpressivo quepode desvelaroserdopaciente,FranciscoMartinspropõequea atividadesemiológicadevaseinteressarnãopropriamente poraquiloquealguémtem,maspeloquealguémé.Esse tipodepensarclínicosabequeacausalidadebiológicatem “outrasirmãs”.Daíelesevalerdeoutralógica,deoutras práticas, nascidas das ciências humanas e sociais. Assim, mesmoreconhecendoopsiquiatracomo“oprincipalcriador, usuárioepropagador”destesaber,oautor,psicólogoetam-bémpsiquiátricadeformação,propõequeotermopsiquiatra seja extensivo a todos os profissionais que compartilham esebeneficiamdasemiologiasindrômica.Paratanto,ele lançamãodediversasteoriassemióticas,comoadePeirce, afenomenologiadeHusserl,alingüísticaestruturaleoes-truturalismo,ahermenêuticadeRicoeur,aneopragmática erigidasobasinfluênciasdeHusserl,AustineSearle.Esse lequedeferramentasteóricasseria,então,umaalternativa àslimitaçõesefracassosdo“absolutismosemiológico”ou deuma“semiologiageral”petrificada.
204 Psic.:Teor.ePesq.,Brasília,Mai-Ago2004,Vol.20n.2,pp.203-204
J.N.G.Araújo
Seaabordagemdoautor,fundadaemdensidadeteóricae erudição,discuteosconceitosclínicosnumaóticaeminente-mentecrítica,elanãodeixadeser-eaíestámaisummérito essencialdestaobra-umtextodidático.Chamaaatençãoa concepçãográficadolivro,comsuaprofusãodevinhetas, tabelas,diagramaseilustrações,oqueevidenciaocuidadodo autoremtorná-loacessívelaoalunoouatodoprofissionalda área.TalzeloécompletadoporumricoGlossáriodetermos psiquiátricosclássicosedeumaimportanteferramentade aprendizagem:Estudos dirigidos e instrução programada comrespostas.
SenãosoubéssemosqueFranciscoMartinslançará,bre-vemente,umnovovolumedesuaColeçãoPsicopathologia, poderíamosafirmarqueapenasestetomoseriasuficientepara sefirmarcomoumaobradereferência,ouseja,umtratado depsicopatologiaquejánascecomoclássico.
Referência
Martins, F. (2003).Psicopathologia II – semiologia clínica: Investigação teórico-clínica das síndromes psicopatológicas clássicas. Brasília: ABRAFIPP/Laboratório de Psicanálise e Psicopatologia,UnB.
Recebidoem31.07.2004
Aceitoem13.08.2004
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