• Nenhum resultado encontrado

Estudos sobre o cuidado à famíla do cliente hospitalizado : contribuições para enfermagem

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Estudos sobre o cuidado à famíla do cliente hospitalizado : contribuições para enfermagem"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

ESTUDOS SOBRE O CUIDADO À FAMÍLA DO CLIENTE HOSPITALIZADO:

CONTRIBUIÇÕES PARA ENFERMAGEM

STUDIES ON THE CARE OF THE HOSPITALIZED CLIENT’S FAMILY: CONTRIBUTIONS TO

NURSING

ESTUDIOS SOBRE LA ATENCIÓN A LA FAMILIA DEL CLIENTE HOSPITALIZADO:

CONTRIBUCIONES PARA LA ENFERMERÍA

GLAUCIA VALENTE VALADARES1 RAQUEL SILVADE PAIVA2

Trata-se de um estudo de revisão bibliográfi ca que teve como objetivos: caracterizar os estudos que versam sobre o cuidado de enfermagem à família do cliente hospitalizado, publicados no período de 2003 a 2008 e destacar as principais difi culdades da relação enfermagem-família. Para tal, foram utilizados artigos, teses e dissertações, disponíveis na biblioteca eletrônica online Scielo, nas bases de dados BIREME e LILACS e no Portal Capes, publicadas no período de 2003 a 2008. A abordagem metodológica escolhida foi a análise quantiqualitativa. Os artigos abordam a relação da equipe de enfermagem com os familiares, ressaltando que esta relação é permeada por diversos confl itos. A análise dos artigos permitiu concluir que há trabalhos voltados para a relação enfermagem e família no entanto, ainda são incipientes os estudos que traçam estratégias de como a família pode ser um instrumento terapêutico no período da hospitalização.

DESCRITORES: Enfermagem Familiar; Hospitalização; Cuidados de Enfermagem.

This is a bibliographic review which had the following aims: characterize the studies that focus on nursing care to the hospitalized client’s family, published from 2003 to 2008 and discuss the main diffi culties of the relationship nursing-family. For so, we used articles, thesis and dissertations available in the electronic online library: Scielo, data basis BIREME and LILACS as well as Capes, published from 2003 to 2008. The methodological approach chosen was a quanti-qualitative-analysis. The articles address the relationship between the nursing team and family members, emphasizing that this relationship is permeated by various confl icts. The article analysis showed that there are works turned to nursing and family however, there are still preliminary studies that map strategies like how the family can be a therapeutic tool in the hospitalization period.

DESCRIPTORS: Family Nursing; Hospitalization; Nursing Care.

Es un estudio de revisión bibliográfi ca cuyos objetivos fueron: caracterizar los estudios que tratan del cuidado de enfermería a la familia del cliente hospitalizado, publicados en el período del 2003 al 2008, y destacar los principales problemas de la relación enfermería-familia. Para ello, se utilizaron artículos, tesis y disertaciones, disponibles en la biblioteca electrónica online Scielo, en las bases de datos BIREME y LILACS y Portal Capes, publicadas del 2003 al 2008. El enfoque metodológico elegido fue el análisis cuantitativo. Los artículos abordan la relación del equipo con los familiares, haciendo hincapié en que esta relación está rodeada de diversos confl ictos. El análisis de los artículos mostró que hay trabajos encaminados hacia la relación enfermería y familia, sin embargo, los estudios que esbozan estrategias de cómo la familia puede ser un instrumento terapéutico durante la hospitalización, aún son incipientes.

DESCRIPTORES: Enfermería Familiar; Hospitalización; Atención de Enfermería.

1 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora do Curso de Enfermagem Campus Macaé. Professora da Pós-Graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN). Membro do Núcleo de Pesquisa Fundamentos do Cuidado de Enfermagem/ EEAN. Membro do Núcleo Temático Computação Científi ca — Campus Macaé. Endereço para correspondência: Rua Aluísio da Silva Gomes, 50. CEP 27930-560 Granja dos Cavaleiros — Macaé/RJ/Brasil. E-mail: glauciavaladares@ig.com.br

(2)

INTRODUÇÃO

A realização das pesquisas de enfermagem, abordando a satisfação dos sujeitos do cuidado, seja ele hospitalizado ou não, geram conhecimentos que facilitam as ações de enfermagem por expandir as ideias dos profissionais de enfermagem, favorecendo na qualidade da assistência prestada e credibilizando cada vez mais a profissão.

Neste sentido, reconhecendo que a família faz parte do processo de cura do cliente hospitalizado, ao proporcionar bem-estar e agir como interceptora entre cliente e equipe de saúde, estudos de enferma-gem têm sido realizados com o intuito de demonstrar como a enfermagem relaciona-se com estes familiares e quais as suas estratégias para tornar a presença do familiar um momento terapêutico.

A hospitalização tende a ser uma situação com-plicada e delicada na vida de qualquer ser humano visto que há diversos fatores envolvidos neste proces-so. Dentre as principais dificuldades encontradas por um cliente hospitalizado, está a falta de um ambiente acolhedor — em seus aspectos físico, psicológico e social e a mudança de sua rotina que implica no dis-tanciamento do convívio familiar.

Toda e qualquer vivência interfere e altera o fun-cionamento de uma família, que busca sempre uma forma de reestruturação e rearranjo, para continuar visando seus ideais, sejam eles novos e/ou antigos. Assim, a família possui capacidade de adaptabilidade para manter e perpetuar o seu contínuo movimento de almejar o bem viver(1). Nesta perspectiva,

observa--se que há por parte dos membros de uma família a necessidade de atingir metas semelhantes e, tais me-tas tendem a sofrer grandes interferências quando um dos membros encontra-se debilitado ou fragilizado.

Sendo assim, entende-se que a família pode agir como uma peça chave no processo de cura do cliente hospitalizado uma vez que ela traduz-se como principal fonte de informações e vínculo afetivo com o cliente, ajudando-o a enfrentar a insegurança e o

provável sentimento de solidão que permeiam este pe-ríodo. Esta relação terapêutica pode ser maximizada quando há um interesse, por parte dos profissionais de saúde, de valorizar a relação afetiva entre familiar e cliente hospitalizado.

É importante considerar que o familiar visitante/ acompanhante também sofre com o período de hos-pitalização, diante de tanta impotência, insegurança, ansiedade e incertezas. Isto nos faz pensar na necessi-dade de cuidado que este familiar carece no período em que um ente querido encontra-se hospitalizado e na falta de capacitação dos profissionais em conside-rar o familiar como sujeito do cuidado, tanto quanto aquele que está hospitalizado. Portanto, este cuidado não pode ser fragmentado, centrado na patologia e aparatos tecnológicos, mas visto como um momento de interação com a equipe de enfermagem, a fim de se estabelecer uma relação de ajuda e confiança com os visitantes(2).

No entanto, quando o trabalho está focado em executar tarefas, a aproximação entre equipe, clien-tes e familiares fica cada vez mais perdida em meio o estresse e a sobrecarga de trabalho. As rotinas dos setores também tendem a afastar, de alguma forma, o familiar do cliente hospitalizado e o momento da visita hospitalar perde seu real valor, quando as equipes não estão preparadas para este período do dia.

A convivência durante a hospitalização é faci-litada quando os familiares colaboram na assistência e, em contrapartida, pode ser dificultada quando os mesmos desconhecem e acabam por romper as re-gras da instituição. Há necessidade de investimento na capacitação de profissionais além da troca e integra-ção de saberes entre clientes, familiares, profissionais de saúde, equipe de apoio e gestores(3).

(3)

en-fermagem deve refletir sobre o significado da família como potencializadora no processo de recuperação e bem-estar do cliente hospitalizado, reservando mo-mentos onde seja possível inserir o familiar no cuida-do tornancuida-do-o um participante ativo e facilitancuida-do as relações interpessoais.

As relações entre os sujeitos acontecem segun-do as expectativas de ambos os polos: o que espera o profissional do acompanhante e, em contrapartida, o que o acompanhante julga que seja responsabilidade do profissional. Quando há convergência de expecta-tivas entre ambos, a relação se dá de forma positiva, viabiliza a cordialidade, constrói-se uma relação de cuidado. Quando há divergência e não se estabelece um encontro de cuidado, instalam-se relações con-flituosas, aplicam-se dispositivos disciplinadores por meio de técnicas e práticas de exercício de poder(5).

Muitas estratégias podem ser levadas em consi-deração e devem ser abordadas e implementadas na tentativa de tornar a visita hospitalar algo mais pro-veitoso para o cliente hospitalizado, para o familiar e para as equipes que prestam o cuidado. Já foi obser-vado que alguns familiares acham interessante a rea-lização de grupos de convivência, onde seja possível a troca de experiências e a realização de outras ativida-des que amenizem o sofrimento(6).

Para que os familiares possam realizar tais grupos de convivência, há uma necessidade de rees-truturação dos setores tanto na sua estrutura física, quanto no que se refere a recursos humanos. O que encontra-se, na maioria das instituições hospitalares, é o acompanhante dividindo o espaço com o familiar hospitalizado e com as equipes de saúde, não existin-do um espaço propício para que os familiares possam conviver ou sentir-se acolhidos.

A inserção da família no cuidado faz parte do processo de humanização que cada vez está mais pre-sente nas instituições de saúde. Sabendo que os ser-viços de saúde são influenciados pela qualidade fator humano e relacionamento que se estabelece entre profissionais e usuários no processo de atendimento,

o Ministério da Saúde lança no ano 2001 o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar cujo objetivo fundamental é aprimorar as relações entre profissionais de saúde e usuários, dos profissio-nais entre si e do hospital com a comunidade(7).

A humanização representa um conjunto de ini-ciativas que visa a produção de cuidados em saúde, capaz de conciliar a melhor tecnologia disponível com promoção de acolhimento, respeito ético e cul-tural ao paciente, espaços de trabalho favoráveis ao bom exercício técnico e a satisfação dos profissio-nais de saúde e usuários(8). No entanto, o conceito

de humanização só pode ser visualizado na prática quando todos os profissionais envolvidos na assis-tência conseguem entender que é preciso se colocar no lugar do outro, observando suas necessidades e fragilidades. A partir de então, poderemos dizer que as instituições de saúde desenvolvem a assistência humanizada, onde se respeita a individualidade de cada indivíduo.

Os seguintes objetivos foram traçados: caracte-rizar os estudos que versam sobre o cuidado de enfer-magem à família do cliente hospitalizado, publicados no período de 2003 a 2008 e destacar as principais dificuldades da relação enfermagem-família.

METODOLOGIA

(4)

associa-ção dos seguintes descritores: “enfermagem familiar”, “hospitalização” e “cuidados de enfermagem”.

O levantamento de dados ocorreu durante o mês de janeiro do ano de 2009 e a escolha dos referenciais foi realizada mediante leitura dos resumos conside-rando os objetivos e os resultados dos estudos, com a intenção de confirmar a temática proposta. Conside-rou-se apenas artigos nacionais para fazer parte deste estudo. Os estudos foram dispostos de acordo com os seguintes critérios: região, ano de publicação (publi-cados entre os anos de 2003 e 2008), faixa etária da clientela abordada nos estudos, setor de internação onde o estudo foi realizado e resultados obtidos. Foi possível observar como ocorre o cuidado de enferma-gem à família do cliente hospitalizado, bem como as principais dificuldades encontradas nesta relação.

RESULTADOS

Considerando os descritores utilizados, obtive-mos 18 artigos, sendo excluídos da aobtive-mostra aqueles que versassem sobre a satisfação do cliente hospita-lizado a respeito do cuidado de enfermagem ao seu familiar, que não respondem aos objetivos da presente revisão bibliográfica. A partir dos 15 artigos selecio-nados, foi possível discutir quais as principais possi-bilidades e tendências para o conhecimento de enfer-magem. Abaixo os artigos estão dispostos de acordo com o título, ano e região brasileira de publicação (Quadro 1).

Quadro 1 — Distribuição dos artigos de acordo com título, ano e estado brasileiro onde foram publicados

Título do periódico Ano de

publicação

Estado Brasileiro Estudo sobre familiares dos pacientes internados

no hospital geral e suas necessidades.

Mobilizando-se para a família: dando um novo sentido à família e ao cuidar.

As famílias dos pacientes da UTI do hospital A.C Camargo: suas necessidades e compreensão.

Criança hospitalizada: mãe e Enfermagem com-partilhando o cuidado.

Fatores que favorecem a participação do acom-panhamento no cuidado ao idoso hospitalizado.

Uma tentativa de humanizar a relação da equipe de Enfermagem com a família de pacientes inter-nados.

O estar-só e o estar-com um ente querido durante a quimioterapia.

Percepção dos profissionais de saúde sobre a co-municação com familiares de pacientes em UTI’s.

A dialética das relações entre a equipe de enfer-magem e familiares acompanhantes no hospital: implicações para o cuidado de enfermagem

A família do paciente em situação crônica de vida: a visão de enfermeiros de um hospital de ensino.

A família vivenciando a internação de um filho na UTI neonatal — uma contribuição para o cuidar em Enfermagem.

Concepções da equipe de Enfermagem acerca do processo de trabalho no cuidado à criança hospi-talizada e à sua família.

Cuidando de pacientes em situação de terminali-dade, internados na unidade de terapia intensiva.

Enfermagem e família de crianças com Síndrome Nefrótica: novos elementos e horizontes para o cuidado.

Familiares visitantes e acompanhantes de adultos e idosos hospitalizados: análise da experiência na perspectiva do processo de trabalho em En-fermagem. 2003 2003 2004 2004 2005 2005 2006 2006 2007 2007 2007 2007 2007 2007 2007 São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo Santa Catarina Paraná São Paulo Espírito Santo São Paulo Rio de Janeiro Paraíba São Paulo Mato Grosso São Paulo

No que tange ao local onde as pesquisas foram realizadas teve-se como resultado uma maior concen-tração de tais estudos nas regiões sul-sudeste, como mostra o quadro 1. Verificamos que 9 (60%) artigos são do estado de São Paulo; 1 (6,7%) do estado do Rio de Janeiro e os demais 5 (33,3%) artigos estão distribuídos, igualmente, nos estados do Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso e Paraíba.

Observa-se que os fatores faixa etária da clien-tela e a especificidade do setor também foram levadas em consideração por alguns autores. Quanto à faixa

(5)

relação de cuidado com familiares de crianças hos-pitalizadas (crianças com mais de 28 dias de vida); 1 (6,7%) estudo aborda a família de neonatos e 2 (13,3%) artigos em questão trabalham com familiares de idosos hospitalizados, considerando todos aqueles maiores de 65 anos de idade.

Figura 1 — Principais setores hospitalares onde os estudos foram realizados

Em relação ao setor do hospital, foi possível constatar que 6 (40%) dos autores não focaram um setor específico do hospital; 5 (33,3%) dos artigos privilegiam o cuidado com familiares de clientes in-ternados em unidades de terapia intensiva (UTI), 3 (20%) dos estudos tiveram foco no setor de pediatria e 1 (6,7%) estudo ocorreu no setor de quimioterapia. Apresenta-se graficamente (figura 1) a distribuição dos artigos selecionados de acordo com os principais setores hospitalares abordados pelos autores.

Dos artigos selecionados, foi possível notar que a convivência durante a internação é marcada por mo-mentos de dificuldades e que somente com estratégias e planejamento é possível suprimi-las. A maioria dos conflitos que ocorre durante a hospitalização, entre equipes e familiares, ocorre principalmente devido a falta de comunicação e interação. Este dado pode ser percebido em 8 (53,3%) artigos. Os autores ressaltam ainda que entre as necessidades mais importantes está no recebimento de informações do prognóstico e dos riscos que determinados procedimentos oferecem.

Os autores apontam que há uma falta de cone-xão e articulação dificultando o período de

hospita-lização, pois o familiar deixa de ser um instrumen-to terapêutico e instrumen-torna-se um familiar visitante com tendência a modificar o ambiente de hospitalização, interferindo no trabalhos da equipe. Seguindo este mesmo pensamento, que aborda a presença do fami-liar nas unidades de internação, 13,3% dos estudos (2 artigos) destacam que diante da presença do familiar visitante, alguns profissionais de enfermagem sentem--se vigiados e, consequentemente, inseguros, quando o familiar está presente e acabam evitando qualquer vínculo com estes para evitar que lhe façam perguntas ou interfiram no seu trabalho.

DISCUSSÃO

Dentre as demais profissões da área da saúde, a enfermagem é historicamente considerada aquela que mais convive com a família. Diante deste apontamento e considerando a família um elemento fundamental no cuidado de seus membros, observa-se uma considerá-vel disseminação de temas relacionados à atuação da enfermagem junto à família(9).

No que diz respeito à análise das referências selecionadas, identificamos como ocorre a relação entre a equipe de enfermagem e os familiares de clientes hospitalizados, enfatizando quais as princi-pais dificuldades e facilidades presentes nesta vivên-cia. Os estudos mencionam ainda, a maneira como a família atua oferecendo suporte psicológico ao fami-liar que encontra-se hospitalizado e que tem seus as-pectos físicos, psicológicos e sociais afetados. Nesse momento, o apoio da família torna-se indispensável, auxiliando a superar este obstáculo, visando um futu-ro mais estável(10).

A enfermagem pediátrica brasileira vem con-tribuindo, expressivamente, com o desenvolvimento de estudos sobre a relação enfermagem-família que passa por um processo de reorganização desde a im-plantação do Alojamento Conjunto Pediátrico (ACP) no país, através da regulamentação do Estatuto da Criança e do Adolescente que garante, em seu artigo

33,3% 20% 6,7%

40%

Setor Não Específico

UTI

Pediatria

(6)

11, a permanência em período integral de um acom-panhante durante a hospitalização infantil(11).

O estudo selecionado nesta revisão, que aborda a vivência de ter um filho prematuro hospitalizado em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), apontou a forma como a família que encontra-se neste setor do hospital, é pouco reconhecida como sujeito do cuidado. Na UTIN o modo como o profissional de enfermagem se apresenta disponível à mãe, influencia a percepção dela em relação a ele, determinando ou não o estabelecimento de uma interação que possa vir a facilitar o enfrentamento da experiência materna de ter um prematuro hospitalizado(12).

Desta maneira, quando o cuidado de enfer-magem está voltado a clientes neonato e pediátricos, observa-se um relacionamento mais conturbado en-tre familiar e enfermagem, quando comparado às demais faixas etárias. Este conflito está pautado na dificuldade em perceber quais as regras que exis-tem, a quem e como se aplicam. Trata-se da relação complexa estabelecida entre os processos de nego-ciação diária, potencialmente geradores de confli-tos e tensões, e as regras e políticas de atenção à saúde da criança presentes no hospital(13). Diante desta relação conturbada e pautada em procedimen-tos percebe-se que as necessidades do binômio não têm sido consideradas nas suas singularidades pelos profissionais(11).

Seguindo uma linha de pensamento semelhante a do Estatuto da Criança e do Adolescente, temos em vigor desde 2003 o Estatuto do Idoso que, em seu ar-tigo 16 assegura ao idoso internado ou em observação o direito a acompanhante, devendo o órgão de saú-de proporcionar as condições asaú-dequadas para a sua permanência em tempo integral, segundo o critério médico(14). Além da vontade de participar o familiar

do idoso hospitalizado refere que competência emo-cional e paciência são qualidades indispensáveis no processo de acompanhamento e cuidado(15).

Quando a clientela hospitalizada não enquadra--se na faixa dos clientes amparados pela legislação e

seus estatutos específicos, o familiar visitante fica na dependência das normas de cada instituição, com horários previamente determinados. O que ocorre nestes casos é que, são poucos aqueles que recebem a concessão de ter um acompanhante em tempo in-tegral. Neste caminho, o familiar visitante, durante o processo de internação de um ente, fica exposto às regras norteadoras da modalidade de apoio que irá oferecer, anexadas às portas de acessos principais das unidades de internação(16).

O enfermeiro é o profissional que mais tempo permanece ao lado do doente e, portanto, vivencia, de maneira muito próxima, a tristeza e o medo de pacientes e familiares(17). Então, considerando esta

relação próxima pode-se entender que o profissio-nal de enfermagem é dentre os demais, o mais apto a perceber as necessidades de familiares e clientes. No entanto, a equipe de saúde encontra-se inserida em uma organização de trabalho que acaba por dificultar o estabelecimento de relações satisfatórias com a fa-mília. Assim, o acompanhante sente-se impotente por não saber como agir e desprezado pelos profissionais que negam informações podendo manifestar seus sen-timentos por meio de atitudes agressivas, de revolta e insatisfação(18).

Um dos elementos considerados essenciais no cuidado é a comunicação entre a equipe de enferma-gem e o familiar, elemento este que tende a facilitar o relacionamento entre profissional, cliente e família. A dificuldade na comunicação, muito destacada nos ar-tigos estudados, ocorre porque, muitas vezes, as infor-mações não são bem compreendidas pelos familiares e além disso há também casos em que o profissional tem pouco conhecimento sobre o grau de evolução clínica do cliente o que aumenta a angústia do familiar e torna as relações mais conflituosas(19).

(7)

ne-cessidade de estimular e preparar a família para que ela seja parceira do tratamento(20).

É preciso ressaltar, cada vez mais, a importân-cia fundamental de a equipe de enfermagem ter uma ótica mais ampla, compreendendo a sua ação para além do cliente, abrangendo, também, o familiar, em seu planejamento e processo de cuidar, para que ele tenha participação mais efetiva nesse processo e que passe a ser um momento de interação pessoal entre equipe e familiares, possibilitando informações que orientem o estabelecimento de ações centradas no seu entendimento como sujeito do processo(15).

Os estudos apontam que há uma grande vontade por parte dos familiares em participar do cuidado de forma positiva e terapêutica no entanto, essas famílias se veem impedidas devido às regras e rotinas dos seto-res e principalmente devido à falta de integração com a equipe de saúde. A família não pode ser vista apenas como aquela que deve cumprir as determinações dos profissionais de saúde, mas deve reconhecer e assu-mir a responsabilidade pela saúde de seus membros. Precisa ter dúvidas esclarecidas e opinião considera-da, além da participação incentivada no processo de cuidar(21).

O familiar, como sujeito fundamental no pro-cesso de recuperação, por vezes, é desconsiderado pela equipe de enfermagem que assume uma postura de total controle e poder, fortalecendo a perpetuação de alguns mitos e preconceitos em relação ao fami-liar, que veicula a ideia de que a “família atrapalha”, é “ansiosa” e “fiscaliza os serviços”(5). Podemos

ob-servar que a saúde institucionalizada estabelece re-lações de hierarquia onde os familiares do sujeito--enfermo possuem pouca autonomia para pleitear sua presença(16).

Neste momento, cabe enfatizar que a tecnologia é essencial para a boa recuperação dos doentes, no entanto torna-se imprescindível humanizar as ações de enfermagem, tornando os enfermeiros mais afeti-vos, compreensiafeti-vos, sensíveis e solidários(22). Porém,

não basta que a equipe esteja capacitada e os setores

adaptados, em suas normas e rotinas, é preciso que haja diálogo, pois este é a primeira condição para a compreensão e para o cuidado e que somente através da interação entre familiares, clientes e profissionais é possível compor um diálogo positivo e favorável(23).

Independente da instituição ser pública ou pri-vada, da clientela ser pediátrica, adulta ou idosa, o familiar não pode ser considerado uma complemen-tação dos recursos humanos, ele age como parceiro da equipe com o propósito de ofertar melhoria ao seu ente hospitalizado. Nesta perspectiva, os momen-tos de diálogo e parceria são essenciais para a viabili-zação da relação de cuidado no qual, compartilha-se a preocupação e o sofrimento do outro. Nesta rela-ção, o enfermeiro pode perceber o familiar com ou-tro olhar, passando a considerar suas necessidades, vontades, desejos e questionamentos, facilitando seu entendimento sobre o que pode ou não fazer no es-paço hospitalar, para melhor confortar seu familiar adoecido(24).

CONCLUSÃO

O estudo possibilitou identificar o cuidado que a enfermagem presta aos familiares de cliente hospita-lizados assim como, quais são as principais caracterís-ticas desta relação enfermagem e família. Compreen-demos que valorizar a experiência do outro contribui para o desenvolvimento de uma relação mais humana. Contemplar a família no cuidado de enfermagem tem sido um desafio observado na prática assistencial e destacado nos estudos científicos. O profissional de enfermagem, devido a sua maior disponibilidade e acessibilidade é aquele que possui mais capacidade para identificar e compreender as necessidades e di-ficuldades do cliente hospitalizado e daqueles que o acompanham.

(8)

informações. Deve-se considerar que a hierarquiza-ção presente nas instituições de saúde acaba por fazer com que o profissional tenha que cumprir regras e rotinas, comportando-se como aquele que detém o poder.

Os estudos apontam a necessidade do familiar em obter informações claras sobre o estado de saú-de do ente hospitalizado que os familiares. Acreditam que ao entenderem melhor o quadro clínico, podem auxiliar na minimização dos fatores negativos que per-meiam este período e também na recuperação. Iden-tificamos que, além da regras e rotinas institucionais, o tipo de clientela que está sob os cuidados da enfer-magem também é um fator relevante para o estabele-cimento de uma relação harmônica.

Os profissionais que lidam com neonatos e crianças são aqueles que apresentam maior dificulda-de em inserir o familiar no cuidado, dificulda-de forma cons-ciente pois sentem-se vigiados e obrigados a dividir o cuidado com a família. A implementação do estatuto do idoso, que permite a presença permanente de um familiar junto ao idoso hospitalizado, auxilia na manu-tenção emocional deste cliente.

Existe por parte da enfermagem uma vontade de incluir cada vez mais o familiar em seu cuidado, acreditando que este indivíduo é peça fundamental para a recuperação. Para tal, é preciso sensibilizar-se com a experiência da família e reconhecê-la como um elemento facilitador ao processo de recuperação do cliente hospitalizado.

Sendo assim, considerando que cuidar da fa-mília é uma responsabilidade do enfermeiro, deve-se pensar na necessidade de ampliar esta discussão nos cenários acadêmicos e assistenciais bem como, pro-porcionar um ambiente de cuidado que auxilie cliente e familiares no enfrentamento das dificuldades ine-rentes ao período de adoecimento. Nestes termos, ao produzir uma pesquisa, seja de abordagem qualitativa ou quantitativa, sobre assistência ou educação, contri-buímos para definir o papel da enfermagem enquanto promotor de bem-estar e qualidade de vida.

REFERÊNCIA

1. Wernet M, Ângelo M. Mobilizando-se para a famí-lia: dando um novo sentido à família e ao cuidar. Rev Esc Enferm USP. 2003; 37(1):9-25.

2. Sousa SROS, Chaves SRF, Silva CA. Visita na UTI: um encontro entre desconhecidos. Rev Bras En-ferm. 2006; 59(5):609-13.

3. Moreno V. A família do paciente em situação crôni-ca de vida: a visão de enfermeiros de um hospital de ensino. Acta Paul Enferm. 2007; 29(2):91-8. 4. Silveira R, Lunardi VL, Lunardi Filho WD,

Olivei-ra AMN. Uma tentativa de humanizar a relação da equipe de enfermagem com a família de pacientes internados. Texto & Contexto Enferm. 2005; 14(n. esp.):125-30.

5. Squassante ND. A dialética das relações entre a equipe de enfermagem e familiares acompanhan-tes no hospital: implicações para o cuidado de enfermagem [dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2007.

6. Souza TGF. A família vivenciando a internação de um filho na UTI neonatal — uma contribuição para o cuidar em Enfermagem [dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): Faculdade de Enfermagem, Uni-versidade Estadual do Rio de Janeiro; 2007. 7. Ministério da Saúde (BR). Secretaria da

Assistên-cia à Saúde. Programa nacional de humanização da assistência hospitalar. Brasília: Ministério da Saúde; 2001.

8. Deslandes FS. Análise do discurso oficial sobre a humanização da assistência hospitalar. Ciênc Saú-de Coletiva. 2004; 9(1):7-14.

9. Pinto JP, Ribeiro CA, Pettengill MM, Balieiro MMFG. Cuidado centrado na família e sua aplica-ção na enfermagem pediátrica. Rev Bras Enferm. 2010; 63(1):132-5.

(9)

11. Pimenta, EAG, Collet, N. Dimensão cuidadora da enfermagem e da família na assistência à criança hospitalizada: concepções da enfermagem. Rev Esc Enferm USP. 2009; 43(3):622-9.

12. Wernet M, Ângelo M. A enfermagem diante das mães na UTIN. Rev Enferm UERJ. 2007; 15(2):229-35. 13. Collet N, Rocha SMM. Criança hospitalizada: mãe

e enfermagem compartilhando o cuidado. Rev Latino-am Enferm. 2004; 12(2):191-7.

14. Ministério da Saúde (BR). Estatuto do idoso. Bra-sília: Ministério da Saúde; 2003. (Série E. Legisla-ção de Saúde).

15. Pena SB, Diogo MJDE. Fatores que favorecem a participação do acompanhante no cuidado do idoso hospitalizado. Rev Latino-am Enferm. 2005; 13(5):663-9.

16. Bocchi SCM, Silva L, Juliani CMC, Spiri WC. Fa-miliares visitantes e acompanhantes de adultos e idosos hospitalizados: análise da experiência na perspectiva do processo de trabalho em enferma-gem. Rev. Latino-am Enferm. 2007; 15(2):304-10. 17. Fernandes MEN, Fernandes AFC. A morte em uni-dade de terapia intensiva: percepções do enfer-meiro. Rev Rene. 2006; 7(1):43-51.

18. Milanesi K, Collet N, Oliveira BRG, Vieira CS. Sofri-mento psíquico da família de crianças hospitaliza-das. Rev Bras Enferm. 2006; 59(6):769-74. 19. Santos KM, Silva MJ. Percepção dos profissionais

de saúde sobre a comunicação com familiares de pacientes em UTI’s. Rev Bras Enferm. 2006; 59(1):61-6.

20. Casanova EG, Lopes GT. Comunicação da equipe de enfermagem com a família do paciente. Rev Bras Enferm. 2009; 62(6):831-6

21. Brito DMS. O cuidado de enfermagem em uma criança com diabetes mellitus tipo 1: um relato de experiência. Rev Rene. 2006; 7(1):98-102. 22. Moreira ML, Castro ME. Percepção dos pacientes

em unidade de terapia intensiva frente à interna-ção. Rev Rene. 2006; 7(1):75-83.

23. Ribeiro RLR, Rocha SMM. Enfermagem e família de crianças com síndrome nefrótica: novos ele-mentos e horizontes para o cuidado. Texto & Con-texto Enferm. 2007; 16(1):112-9.

24. Squassante ND, Alvim NAT. Relação equipe de enfermagem e acompanhantes de clientes hospi-talizados: implicações para o cuidado. Rev Bras Enferm. 2009; 62(1):11-7.

RECEBIDO: 17/09/2009

Imagem

Figura 1 — Principais setores hospitalares onde os estudos  foram realizados

Referências

Documentos relacionados

Tendo em vista que não é conveniente em um veículo de competição aumentar a massa do sistema, pois isso levaria ao aumento da transferência de carga, conforme apresentado

Outras possíveis causas de paralisia flácida, ataxia e desordens neuromusculares, (como a ação de hemoparasitas, toxoplasmose, neosporose e botulismo) foram descartadas,

A placa EXPRECIUM-II possui duas entradas de linhas telefônicas, uma entrada para uma bateria externa de 12 Volt DC e uma saída paralela para uma impressora escrava da placa, para

Segundo a literatura, a deiscência de uma ferida cirúrgica criada para remoção de terceiros molares inferiores inclusos junto à face distal do segundo molar adjacente é

El objetivo del artículo es analizar y describir las estrategias que la Asociación Evangélica de la Misión Israelita del Nuevo Pacto Universal, un movimiento mesiánico milenarista

The structure h Ω, Σ, Π i is a particular case of a paraconsistent algebra of sets, as investigated in [ 32 ], and the results therein (particularly Theorems 4 and 5) can be adapted

Distinção entre Apêndice de Comentário, Comentários Ligados e Inciso, três unidades informacionais, em final de enunciado à luz da Teoria da.. Língua

A ludicidade do jogo propicia o contato do aluno consigo através da pesquisa da corporeidade da voz, de um olhar para dentro que investiga a si na relação com o meio para